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UMA PROJEÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO DE EQUILÍBRIO DA

BALANÇA DE TURISMO NO BRASIL

Fernando Marcondes de Mattos


Costão do Santinho Resort
fmarcondes@costao.com.br

O rombo na Balança de turismo brasileira atingiu US$ 8,47


bilhões em 2016 e já responde por 36% do déficit de transações
correntes do país. Enquanto o número de turistas internacionais
no mundo atingiu a marca de 1,186 bilhões de pessoas em 2015,
o Brasil recebeu 6,3 milhões de turistas no mesmo período,
0,53% do total - participação no turismo mundial desprezível e
praticamente estagnada há mais de uma década. Estima-se que
um número de turistas internacionais de 10 milhões, no lugar
dos atuais 6, possa criar aproximadamente 100 mil novos
empregos diretos, e 300 mil empregos indiretos. Nesse
contexto, o presente estudo buscou correlacionar a taxa de
câmbio no Brasil com o déficit da balança de turismo, chegando
a conclusão que a taxa de câmbio que equilibraria a balança de
turismo, atualmente, deveria ser de R$ 3,82.
Panorama macroeconômico do turismo de lazer no Brasil

O Brasil deveria receber não menos de 10 milhões de turistas/ano, contra os 6,3 milhões atuais e
obter, como consequência, uma receita aproximada de US$ 10 bilhões. Com essa receita
adicional de US$ 4 bilhões, geraria
TABELA 1 - em US$ milhões
possivelmente 100 mil novos empregos diretos e
  RECEITA DESPESA BALANÇO
300 mil indiretos, com predominância em
1994 1.051 2.232 -1.181
regiões onde o turismo é a principal – senão a 1995 972 3.391 -2.420
única – atividade econômica possível, como é o 1996 840 4.438 -3.598
caso do litoral nordestino. 1997 1.069 5.446 -4.377
1998 1.586 5.732 -4.146
O governo brasileiro vem há muito tempo com
1999 1.628 3.085 -1.457
os números trocados. Em 2006, o Ministério do 2000 1.810 3.894 -2.084
Turismo lançou o documento intitulado 2001 1.731 3.199 -1.468
2002 1.998 2.396 -398
“Turismo no Brasil 2007/2010” que previa, no
2003 2.479 2.261 218
cenário conservador, uma entrada de 12 milhões 2004 3.222 2.871 351
de turistas em 2010 com uma respectiva receita 2005 3.861 4.720 -858
2006 4.316 5.764 -1.448
de US$ 9 bilhões. Lamentavelmente a previsão
2007 4.953 8.211 -3.258
não aconteceu. 2008 5.785 10.962 -5.177
Em dezembro de 2009, o Ministério do Turismo 2009 5.305 10.898 -5.594
revisou suas projeções e estimou para 2020 uma 2010 5.261 15.965 -10.704
2011 6.095 20.802 -14.707
entrada de 11 milhões de turistas internacionais.
2012 6.378 22.039 -15.661
Tudo indica que o Ministério do Turismo não 2013 6.474 25.028 -18.554
acertará mais uma vez. 2014 6.843 25.567 -18.724
2015 5.844 17.357 -11.513
Mais dramático que a estagnação no número de
2016 6.024 14.497 -8.473
turistas internacionais é o resultado da Balança
de Turismo no Brasil. PARTICIPAÇÃO DO TURISMO NO DÉFICIT DAS
TRANSAÇÕES CORRENTES
A tabela 1 ao lado apresenta, na coluna 1, a
Fonte: BaCen
receita do turismo internacional (estrangeiros que 36%
25%
21% 18% 19%

2012 2013 2014 2015 2016


nos visitam); na coluna 2, a soma das despesas (de brasileiros em viagens ao exterior) e, na
coluna 3, o balanço entre receita e despesa.
Conforme se pode observar, em 1994 (criação do Real) o déficit foi de US$ 1,2 bilhão, em 1997
de US$ 4,4 bi, em 2012 de US$ 15,6 bi e em 2016 de US$ 8,5 bi.
Com o déficit de US$ 23,5 bilhões em 2016 nas Transações Correntes do país, o turismo foi
responsável pelo alarmante percentual de 36%.

Correção da taxa de câmbio pela inflação desde o início do plano Real

A tabela 2, abaixo, correlaciona a taxa de câmbio desde o início do plano real (1994) com a
inflação no Brasil, medida pelo IGP-M, descontada a inflação americana no período.
  COL 1 COL 2 COL 3 COL 4 COL 5 COL 6 COL 7 COL 8
US$ x R$
BALANÇO CÂMBIO
RECEITA DESPESA US$ x R$ CORRIGIDO
TURISMO MÉDIO INFLAÇÃO INFLAÇÃO
ANO US$ US$ CORRIGIDO PELO IGPM -
US$ NO ANO IGPM USA
MILHÕES MILHÕES PELO IGPM INFLAÇÃO
MILHÕES R$ x US$
EUA
1994 1.051 2.232 -1.181 0,87   0,87 2,67% 0,87
1995 972 3.391 -2.420 0,92 15,25% 1,00 2,54% 0,98
1996 840 4.438 -3.598 1,01 9,20% 1,09 3,32% 1,03
1997 1.069 5.446 -4.377 1,08 7,74% 1,18 1,70% 1,09
1998 1.586 5.732 -4.146 1,16 1,78% 1,20 1,61% 1,10
1999 1.628 3.085 -1.457 1,82 20,10% 1,44 2,68% 1,28
2000 1.810 3.894 -2.084 1,83 9,95% 1,59 3,39% 1,36
2001 1.731 3.199 -1.468 2,35 10,38% 1,75 1,55% 1,48
2002 1.998 2.396 -398 2,93 25,31% 2,19 2,38% 1,81
2003 2.479 2.261 218 3,07 8,71% 2,38 1,88% 1,94
2004 3.222 2.871 351 2,93 12,42% 2,68 3,26% 2,11
2005 3.861 4.720 -858 2,43 1,21% 2,71 3,42% 2,06
2006 4.316 5.764 -1.448 2,18 3,83% 2,82 2,54% 2,09
2007 4.953 8.211 -3.258 1,95 7,75% 3,03 4,08% 2,16
2008 5.785 10.962 -5.177 1,84 9,81% 3,33 0,09% 2,37
2009 5.305 10.898 -5.594 1,99 -1,72% 3,28 2,72% 2,27
2010 5.261 15.965 -10.704 1,76 11,32% 3,65 1,50% 2,49
2011 6.095 20.802 -14.707 1,67 5,10% 3,83 2,96% 2,54
2012 6.378 22.039 -15.661 1,91 7,82% 4,13 1,74% 2,69
2013 6.474 25.028 -18.554 2,16 5,51% 4,36 1,50% 2,80
2014 6.843 25.567 -18.724 2,35 3,69% 4,52 0,76% 2,88
2015 5.844 17.357 -11.513 3,33 10,54% 5,00 0,73% 3,16
2016 6.024 14.497 -8.473 3,49 7,17% 5,35 2,07% 3,32
Tabela 2 – câmbio inflacionado pelo IGP-M descontada inflação EUA
FONTE: BaCen; FED; Costão do Santinho
A correção do valor do câmbio pela inflação resultaria em uma taxa de câmbio teórica de R$
3,32 por 1 US$.
Deve-se observar que a mera correção da taxa de câmbio pela inflação não reflete uma taxa de
câmbio de equilíbrio para a balança de turismo, pois 1994 (início do plano real e também do
estudo) produziu um déficit na balança de turismo da ordem de R$ 1,18 bilhões de reais.
Com o intuito de aferir uma taxa de câmbio de equilíbrio da balança comercial, duas visões
adicionais foram elaboradas no estudo.

Correção da taxa de câmbio pela inflação a partir de uma paridade cambial

A tabela 3, listada a seguir, correlaciona a taxa de câmbio desde o início do plano real (1994)
com a inflação no Brasil, medida pelo IGP-M, descontada a inflação americana no período, a
exemplo da tabela 2, com a diferença da premissa de partir de uma paridade cambial em 1994 (1
US$ = R$ 1; no lugar de 1 US$ = R$ 0,87).

  COL 1 COL 2 COL 3 COL 4 COL 5 COL 6 COL 7 COL 8


US$ x R$
BALANÇO CÂMBIO
RECEITA DESPESA US$ x R$ CORRIGIDO
TURISMO MÉDIO INFLAÇÃO INFLAÇÃO
ANO US$ US$ CORRIGIDO PELO IGPM -
US$ R$ x IGPM USA
MILHÕES MILHÕES PELO IGPM INFLAÇÃO
MILHÕES US$
EUA
1994 1.051 2.232 -1.181 1,00 - 1,00 2,67% 1,00
1995 972 3.391 -2.420 0,92 15,25% 1,15 2,54% 1,12
1996 840 4.438 -3.598 1,01 9,20% 1,26 3,32% 1,19
1997 1.069 5.446 -4.377 1,08 7,74% 1,36 1,70% 1,26
1998 1.586 5.732 -4.146 1,16 1,78% 1,38 1,61% 1,26
1999 1.628 3.085 -1.457 1,82 20,10% 1,66 2,68% 1,47
2000 1.810 3.894 -2.084 1,83 9,95% 1,82 3,39% 1,57
2001 1.731 3.199 -1.468 2,35 10,38% 2,01 1,55% 1,70
2002 1.998 2.396 -398 2,93 25,31% 2,52 2,38% 2,09
2003 2.479 2.261 218 3,07 8,71% 2,74 1,88% 2,23
2004 3.222 2.871 351 2,93 12,42% 3,08 3,26% 2,42
2005 3.861 4.720 -858 2,43 1,21% 3,12 3,42% 2,37
2006 4.316 5.764 -1.448 2,18 3,83% 3,24 2,54% 2,40
2007 4.953 8.211 -3.258 1,95 7,75% 3,49 4,08% 2,49
2008 5.785 10.962 -5.177 1,84 9,81% 3,83 0,09% 2,73
2009 5.305 10.898 -5.594 1,99 -1,72% 3,76 2,72% 2,61
2010 5.261 15.965 -10.704 1,76 11,32% 4,19 1,50% 2,86
2011 6.095 20.802 -14.707 1,67 5,10% 4,40 2,96% 2,92
2012 6.378 22.039 -15.661 1,91 7,82% 4,75 1,74% 3,10
2013 6.474 25.028 -18.554 2,16 5,51% 5,01 1,50% 3,22
2014 6.843 25.567 -18.724 2,35 3,69% 5,20 0,76% 3,31
2015 5.844 17.357 -11.513 3,33 10,54% 5,74 0,73% 3,63
2016 6.024 14.497 -8.473 3,49 7,17% 6,15 2,07% 3,82
Tabela 2 – câmbio inflacionado pelo IGP-M descontada inflação EUA; iniciando em 1 US$ = R$ 1 em 1994
FONTE: BaCen; FED; Costão do Santinho

A paridade inicial entre o real e o dólar resultaria em uma taxa de câmbio de R$ 3,82 por 1 US$
ao final de 2016, corrigindo a cotação inicial pela inflação brasileira (IGP-M), descontada da
inflação americana.
A taxa de câmbio resultante, de R$ 3,82 por 1 US$, apesar de melhorar inequivocamente a
situação do turismo (vide gráfico 2) não garante um equilíbrio da balança de turismo, uma vez
que o déficit observado em 2016 (R$ 8,4 bilhões) corresponde a 140% das receitas apuradas no
exercício, apesar da taxa cambial média para o ano (R$ 3,49) ter sido a maior em termos
nominais desde o advento do plano Real.
O gráfico a seguir correlaciona os dados da balança do turismo do mês de janeiro dos anos de
2014 a 2017 com a taxa de câmbio média do mês de janeiro dos respectivos anos.

Déficit da Balança de Turismo para o mês de Janeiro 2014 a


2017 x taxa de câmbio - em milhões de reais
0
-1503 -1671 -914
-200
-400
-600 -190
3.19
-800
2,63
-1000 2.38
-1200
-1400
-1600
-1800
2014 2015 2016 2017

Déficit Janeiro Balanço Turismo R$ x US$ média mensal

Gráfico 2 – déficit balança turismo x taxa de câmbio para o mês de Janeiro de 2014 a 2017
FONTE: BaCen; Costão do Santinho

Observa-se que uma taxa de câmbio mais elevada (R$ 4,05 em JAN/2016) resulta em expressiva
redução do déficit da balança de turismo.
Projeção para a taxa de câmbio de equilíbrio da balança de turismo no Brasil

Para apurar a taxa de câmbio de equilíbrio, a partir dos dados expostos, foram observados o
comportamento das transações correntes e também do resultado da balança de turismo
correlacionado à taxa de câmbio do respectivo exercício (gráficos 3 e 4, respectivamente).

Saldo das Transações Correntes - em US$ bilhões

11.3 13.5 13.0


3.8 0.4

-8.1
-23.7 -26.3 -23.5
-30.6

-59.4
-75.8 -77.0 -74.2 -74.8

-104.2

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Gráfico 3 – Saldo das transações correntes
Fonte: BaCen

Evolução da Balança de Turismo e do Câmbio R$ x US$


desde o início do Plano Real
2.5 4.00
0.2 0.4
0.0 3.50
-0.4 -0.9 3.49
-2.5 -1.2 -1.5
-2.1
-1.5 -1.4
-2.4 3.07 3.00
-3.6 2.93 2.93 -3.3 3.33
-5.0 -4.4 -4.1
-5.2 -5.6 2.50
2.43
US$ bilhões

-7.5
R$ por US$

2.35 2.35
2.18 1.76 2.16 2.00
1.99 -8.5
-10.0 1.95 1.91
1.821.83 1.84
-10.71.67 1.50
-12.5 -11.5
1.16 BALANÇO 1.00
-15.0 1.011.08 -14.7
0.870.92 CAMBIO -15.7
-17.5 0.50

-18.6-18.7
-20.0 0.00
94 95 96 97 98 99 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Gráfico 4 – Saldo da balança do turismo x câmbio médio de cada exercício


Fonte: BaCen
O gráfico acima demonstra a evolução da balança de turismo x a taxa de câmbio média de cada
exercício desde 1994. Observa-se que a taxa média de 2016, de R$ 3,49 por 1 US$, resultou em
um déficit na balança de turismo de 8,4 bilhões de reais. Deve-se ressaltar que 2016 encerrou
com uma forte redução do déficit em transações correntes (gráfico 3), o que não se traduziu na
balança de turismo.
A partir do gráfico 4 observa-se, também, que o último ano que contou com superávit na balança
de turismo foi 2004 (superávit de R$ 351 milhões). Com base nisso, o estudo utilizou como
ponto de partida o ano de 2004 para apurar a taxa de câmbio que equilibraria a balança de
turismo (tabela 4).

  COL 1 COL 2
COL 3 COL 4 COL 5 COL 6 COL 7 COL 8
BALANÇ US$ x R$
CÂMBIO
RECEITA DESPESA O US$ x R$ CORRIGIDO
AN MÉDIO INFLAÇÃO INFLAÇÃO
US$ US$ TURISMO CORRIGIDO PELO IGPM
O R$ x IGPM USA
MILHÕES MILHÕES US$ PELO IGPM - INFLAÇÃO
US$
MILHÕES EUA
200
3.222 2.871 351 2,93 12,42% 2,93 3,26% 2,93
4
200
3.861 4.720 -858 2,43 1,21% 2,97 3,42% 2,87
5
200
4.316 5.764 -1.448 2,18 3,83% 3,08 2,54% 2,90
6
200
4.953 8.211 -3.258 1,95 7,75% 3,32 4,08% 3,01
7
200
5.785 10.962 -5.177 1,84 9,81% 3,64 0,09% 3,30
8
200
5.305 10.898 -5.594 1,99 -1,72% 3,58 2,72% 3,16
9
201
5.261 15.965 -10.704 1,76 11,32% 3,99 1,50% 3,46
0
201
6.095 20.802 -14.707 1,67 5,10% 4,19 2,96% 3,53
1
201
6.378 22.039 -15.661 1,91 7,82% 4,52 1,74% 3,74
2
201
6.474 25.028 -18.554 2,16 5,51% 4,77 1,50% 3,89
3
201
6.843 25.567 -18.724 2,35 3,69% 4,94 0,76% 4,00
4
201
5.844 17.357 -11.513 3,33 10,54% 5,46 0,73% 4,39
5
201
6.024 14.497 -8.473 3,49 7,17% 5,85 2,07% 4,61
6
Tabela 4 – câmbio inflacionado pelo IGP-M descontada inflação EUA a partir de 2004
FONTE: BaCen; FED; Costão do Santinho
A tabela acima empregou os mesmos critérios das tabelas anteriores: corrigindo a cotação do
dólar pela inflação no Brasil, medida pelo IGP-M, e descontando a inflação dos EUA; com a
diferença de iniciar o estudo a partir de 2004, ano do último e maior entre os dois superávits da
balança de turismo desde o advento do plano real. O resultado afere uma taxa de câmbio de R$
4,61 por US$, sugerindo ser esta a taxa de câmbio teórica que, hoje, equilibraria a balança de
turismo.

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