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TI | | Marieta de Moraes Ferreira Margarida Maria Dias de Oliveira AR ENTO HISTORIC? ESCOL HECIM cON cristiane Bereta da sity, cificidade da histéria que ensinamos ¢ o suas relagoes de aproximagao e distan. hecimento académico (ou “ciéncia de referéncia”, como preferem alguns), nao fizeram a das a de professores e pesquisadores da area. Pode-se ce que, até pelo mens a década de 1960, dominava a ideia de que 0s historiadores produziam co- nhecimento por meio de pesquisas € que, didatizado, esse conhecimento seria transmitido, formalmente, nas escolas. A escola seria, entao, lugar de recepgao de um conhecimento externo, produzido nas universidades, © 0 professor ocuparia posicao intermediaria nesse processo, atuando na reprodugio do conhecimento, cuja eficiéncia variaria “pela capacidade de aaa das condigées de adaptagao do conhecimento cientifico a0 Se ae os profissionais da area, aa aaa a va une oa edocagtobisic, ensino superior e professores 4 Essa forma de em : compro conhecimento, sua producao e divulgagi® P ia de ser hegemonic : didética da histéria, ree ees = com a emergéncia de pesquisas sobre# também de questi em suas vertent a stil es alem: mas if q namentos sobre a propria natureza d: a oa za da historia como oO” DURANTE MUITO TEMPO a espe os na escola ou mes™m aprendem histéria, como con! ciamento com a ‘ada Vez mais o papel de comp!” Digitalizado com CamScanner ender as formas, as fungGes e os usos da histéria na vida publica. Confron- tados com o desafio do papel legitimador da hist6ria na vida cultural e na educagio, os historiadores passaram ase comprometer com “uma teflexao mais profunda e ampla sobre os fundamentos dos estudos histdricos e sua inter-relagéo com a vida pratica em geral e com a educagao em particular” (Riisen, 2006:11). Nicole Tutiaux-Guillon (2011), tratando do contexto francés, indica que as pesquisas sobre a didatica da historia ali desenvolvidas se diferenciam daquelas realizadas na Alemanha, principalmente porque nao se ancoram na filosofia da historia, mas sim em referéncias da epistemologia, das cién- cias educacionais e da historia da educacao, entre outras, na construcao de suas préprias abordagens tedricas. A didatica da historia nessa perspectiva estaria mais voltada para as especificidades de ensinar e aprender historia. E, se no inicio as pesquisas baseavam-se na relacdo entre historia académica e historia ensinada nas escolas, outras passariam a analisar a distancia e até mesmo a distor¢ao entre elas, o que possibilitou afirmar “a existéncia de um conhecimento sobre o passado e de um como-fazer sobre historia criada pela escola e paraa escola” (Tutiaux-Guillon, 2031:17, grifos do original). Mesmo em suas diferengas, as perspectivas tedricas alema e francesa sobre a didatica da histéria contribuiram significativamente para a con- solidacao de uma ideia de histéria escolar qualitativamente (e nao hierar- quicamente) diferente da hist6ria académica. No Brasil, Elza Nadai (USP), Circe Bittencourt (USP/PUC-SP), Katia Abud (USP), Ernesta Zamboni (Unicamp), Selva Guimaraes (UFU), Maria Auxiliadora Schmidt (UFPR) e Lana Mara de Castro Siman (UFMG/Uemg), pesquisadoras que concluiram doutorado entre as décadas de 1980 e 1990, iriam contribuir (por meio da divulgacao de seus estudos e também orientagées na pés-graduagao) de modo importante para a conformagao do ensino de histéria como objeto e campo de pesquisa, Também a partir desse periodo, conceitos como didatica ria, transposigio didatica, mediagio didatica e interpelagao didatica, em estudos de pesquisadores alemies, ingleses, franceses, portu- leiros, somaram-se ao desafio de se enfrentar a complexidade ) escolar. o espago escolar foi reconstituido como um ecimento e nao apenas de sua repro- professor da educagiio basica Digitalizado com CamScanner CONHECIMENTO HISTORICO ESCOLAR, DICIONARIO DE ENSINO DE HISTORIA aser percebido ease perceber foi reconfigurado, ad ae pea luz, domina e mo! *P ac (Monteiro, 2007): Importante lembrar que os it fissionais tanto por meio de programas curr See er Ja adesdo, parcial ou total, a um cop especificos quanto Se fe om seu coridlan Cem de priticas e cédigos que ci Néo existe uma “correla transm eer ee tro sem que haja ir delevar conhecimentos de um local para ou a da nesse percurso (Monteiro, 2007). E nesse payee esco professor que se observa 0 conhecimento Le ae como aquele, possui uma natureza propria e um status: especie an ° as ume t que a escola é lugar de producao de Sa ee o desafio de id ficar “qual conhecimento hist6rico a escola produz” (Bittencourt, 2 O enfrentamento desse desafio implica observar a singularidade de ca escola, sala de aula, professor e estudantes. E uma observagao situa tempo e com muitas variaveis. Isso porque a historia escolar é uma: ‘tugao social produzida por elaboracées e reelaboracdes constantes d nhecimentos produzidos a partir das relagGes e interagdes entre as cu escolar, politica e histérica; com os livros didaticos; com outros saberes g nio apenas os histéricos e muito menos circunscritos aos formais; ideias sobre a hist6ria que circulam em novelas, filmes, jogos ete.;e, menos importante, com a historia publica (historia de grande ci ou de massa). Reinventado em cada aula, no contexto cas, em que interagem professor, estu i térico escolar possui Pain prop) eee eealg conheelmeni histéria académica, Importante pe rredutiveis do conhecimento historico escolar ‘We a natureza es Anasoes ¢ distanclamentos com aistéria cate nn oe asOeS de legitimagdes entre as duas entidades” (Bity mica, “ha um interes apesar de sua natureza complexa ¢ especies g ne 20449). escolar nao abdica de aproximagées, aidloges 10 Sonhecimento h fia, com a teoria da historia etc. Ourye Ponte qo n*8 om ahi ici conote re de nna a nteira entre os 2 situam o en @MPos da histéria, nsar também Se constri educagao (Monteiro, 2007). Digitalizado com CamScanner Destaca-se também que a especificidade do conhecimento histérico esco- lar precisa considerar as diferentes etapas que constituem a educagao basica. As interlocugées ¢ desafios relativos a historia ensinada nao se restringem as relagdes estabelecidas entre os anos finais do ensino fundamental e do ensino médio. Os primeiros contatos com histérias, com passados, no am- bito da escola, acontecem ja nos anos iniciais, com professores que, em sua grande maioria, nao tém formagao na area de historia e sim em pedagogia. Os professores dos anos iniciais ensinam historia mesmo quando pensam nao ensinar. O conhecimento histérico que emerge nessa fase da escolariza- gao esta, de forma mais acentuada, imbricado a cultura histérica na qual se inserem a escola, 0 professor e os estudantes. Esse conhecimento congrega de modo mais significativo, além das prescrig6es curriculares, dos livros didaticos, entre outros materiais de apoio, os saberes e fazeres oriundos do legado cultural do grupo social do qual fazem parte professor e estudantes. Esse processo de mediagao e interacao é sutilmente demarcado por experi éncias singulares que fornecem ao presente o sentido pratico do passado. O conhecimento hist6rico privilegiado tem muito do local, das narrativas que permeiam a vida cotidiana, da historia, experiéncia que se dé aver ea ler por meio de representagdes que reacendem rastros do passado em meio a temporalidade presente, tanto de estudantes quanto de professores. A partir dos conhecimentos historicos que apreende, o estudante tem oportunidade de estabelecer relagées entre distintas temporalidades e ex- periéncias, desenvolvendo habilidades de articular e estabelecer conexdes entre os acontecimentos histéricos (locais, regionais e nacionais) ea historia vivida no tempo presente. Essas conex6es interligam uma historia articulada enarrada conforme a vida pratica para a hist6ria que vem, conscientemente, pela aprendizagem e produz narrativas plausiveis a uma realidade preexis- tente e distante temporalmente (Riisen, 2006). Essa forma mais abrangente de compreender o percurso formador da histéria ancora-se, sobretudo, nos sentidos que ela adquiriu nos iltimos anos por meio da expansio do leque de temas abordados pela historiografia, na educagio e pela forte influéncia miditica, dando nova configuragio a cultura histérica e & cultura escolar, Assumir que a escola, o professor e o estudante sao sujeitos centrais na construgio de um conhecimento histérico especifico ampliou o prépri campo do ensino de histéria, que passou a se Peete 2 _ Preocupar também co: Potencialidades da formagao do pensamento histérico de cri ‘een criangas e jovens. Digitalizado com CamScanner CONHECIMENTO HISTORICO ESCOLAR DICIONARIO DE ENSINO DE HISTORIA Nao apenas conhecer os acontecimentos passados, mas eee Oinves, timento em dotar os estudantes de instrumentos para a andlise e interpre. taco desses processos que Thes permitam construir sua propria Tepresenta. cao do passado. Conhecimento histérico que seja capaz de possibilitar aos estudantes lidar com verses contraditérias, com conflitos, que consigam contextualiz4-los, conscientes da distancia que os separa do presente, de suas crencas, de suas perspectivas do lugar que ocupam no mundo. Afinal, estranhar as temporalidades passadas e também as do presente fornece as condigées para que possamos nos conhecer, conhecer 0 outro e o “nds” (Lee, 2012). Exercicio irrenunciavel para a construgao de alternativas para o fu- turo que sejam democraticas, de tespeito as pluralidades e, qui¢a, com mais condigées de igualdade. Digitalizado com CamScanner

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