You are on page 1of 80

Bioquímica

Autores: Profa. Luciana Mantzouranis


Prof. Juliano Guerreiro
Colaboradoras: Profa. Mônica Teixeira
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professores conteudistas: Luciana Mantzouranis / Juliano Guerreiro

Luciana Mantzouranis

Formou-se em Química pela Universidade de São Paulo – USP em 2003. É licenciada em Química pelas Faculdades
Oswaldo Cruz, onde formou-se em 2012. Fez doutorado em Ciências – Bioquímica, pela Universidade de São Paulo
e obteve o título em 2009, ano no qual começou a atuar na docência universitária como professora titular da
Universidade Paulista – UNIP, em São Paulo.

Desde 2014 atua como professora conteudista no curso de ensino a distância da UNIP, sendo responsável pelas
disciplinas de Química e Bioquímica. Leciona nas áreas de química, bioquímica e biologia molecular.

Juliano Guerreiro

É formado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade de São Paulo – FCF/USP (2004) e doutor em Bioquímica
pelo Instituto de Química da Universidade de São Paulo – IQ/USP (2009). Realizou pós-doutorado com ênfase em
Bioquímica de Plantas na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo – ESALQ/USP
(2012). Tem formação de especialista em Mariologia pela Universidade Dehoniana (2017).

Atualmente é coordenador do curso de Farmácia (desde 2008) e professor titular da Universidade Paulista (desde
2009), tendo sido professor auxiliar da mesma universidade de 2005 a 2009. Tem experiência nas áreas de bioquímica,
farmacologia, fisiologia, química, teologia e história; além de gerenciamento de drogarias, atuando principalmente
nos seguintes temas: estrutura de biomoléculas, bioquímica estrutural, metabólica e clínica, bioquímica e fisiologia
de plantas, interação ligante-receptor e venenos animais. É autor e coautor de 17 artigos científicos sobre venenos
animais, fisiologia e bioquímica, além de ser autor de três livros.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M293b Mantzouranis, Luciana.

Bioquímica. / Luciana Mantzouranis, Juliano Guerreiro. – São Paulo:


Editora Sol, 2020.

136 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.

1. Metabolismo. 2. Carboidratos. 3. Lipídios. I. Título.

CDU 577.4

U504.45 – 20

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor

Prof. Fábio Romeu de Carvalho


Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla Torre


Vice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo Okida


Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez


Vice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Giovanna Oliveira
Vitor Andrade
Sumário
Bioquímica

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 CARBOIDRATOS............................................................................................................................................... 11
1.1 Estrutura e função dos carboidratos............................................................................................ 11
1.2 Classificação dos carboidratos........................................................................................................ 13
1.2.1 Classificação em relação à possibilidade de hidrólise............................................................. 13
1.2.2 Classificação dos monossacarídeos quanto ao grupo funcional........................................ 20
1.2.3 Classificação dos monossacarídeos em relação ao número de carbonos....................... 21
2 DEGRADAÇÃO DOS CARBOIDRATOS....................................................................................................... 21
2.1 Introdução ao metabolismo............................................................................................................ 21
2.2 Degradação dos carboidratos......................................................................................................... 25
2.2.1 Digestão e absorção.............................................................................................................................. 25
2.2.2 Digestão anormal de dissacarídeos................................................................................................. 28
2.2.3 Intolerância à lactose........................................................................................................................... 28
2.2.4 Transporte de glicose para dentro da célula............................................................................... 29
2.2.5 Uso da glicose pelas células............................................................................................................... 30
2.2.6 Via glicolítica ou glicólise.................................................................................................................... 31
2.2.7 Glicólise aeróbica.................................................................................................................................... 31
2.2.8 Metabolismo da sacarose e lactose................................................................................................ 40
2.2.9 Glicólise anaeróbica............................................................................................................................... 42
2.2.10 Outros destinos da molécula piruvato........................................................................................ 43
2.2.11 Via das pentoses fosfato................................................................................................................... 46
2.2.12 Ciclo de Krebs........................................................................................................................................ 48
2.2.13 Cadeia de transporte de elétrons e fosforilação oxidativa................................................. 57
2.2.14 Degradação do glicogênio – glicogenólise................................................................................ 65
3 SÍNTESE DE CARBOIDRATOS....................................................................................................................... 68
3.1 Síntese e glicogênio – glicogênese............................................................................................... 68
3.2 Síntese do amido.................................................................................................................................. 70
4 GLICONEOGÊNESE.......................................................................................................................................... 70
4.1 Os substratos da gliconeogênese.................................................................................................. 71
4.2 Reações da gliconeogênese............................................................................................................. 72
Unidade II
5 LIPÍDIOS.............................................................................................................................................................. 81
5.1 Estrutura e função dos lipídios...................................................................................................... 81
6 METABOLISMO DOS LIPÍDIOS.................................................................................................................... 94
6.1 Digestão, absorção e transporte dos lipídeos........................................................................... 94
6.2 Degradação dos triacilgliceróis...................................................................................................... 96
6.3 Degradação dos ácidos graxos....................................................................................................... 98
6.3.1 Oxidação de ácidos graxos saturados com número par de carbonos.............................100
6.3.2 Oxidação dos ácidos graxos saturados com número ímpar de átomos de carbono.103
6.3.3 Oxidação de ácidos graxos insaturados......................................................................................104
6.3.4 Formação de corpos cetônicos.......................................................................................................104
6.4 Síntese de ácidos graxos e de triacilglicerol...........................................................................107
6.5 Síntese do colesterol.........................................................................................................................108

Unidade III
7 REGULAÇÃO DO METABOLISMO DE CARBOIDRATOS....................................................................113
7.1 Regulação do metabolismo de carboidratos no nível celular e enzimático..............113
7.2 Regulação da glicólise.....................................................................................................................113
7.3 Regulação da gliconeogênese......................................................................................................116
7.4 Regulação do metabolismo de glicogênio..............................................................................119
7.5 Regulação do ciclo de Krebs..........................................................................................................119
8 REGULAÇÃO DO METABOLISMO DE LIPÍDIOS...................................................................................122
8.1 Regulação da lipogenênese...........................................................................................................122
8.1.1 Regulação nutricional da lipogênese.......................................................................................... 122
8.1.2 Regulação hormonal da lipogênese............................................................................................ 123
8.2 Regulação da lipólise........................................................................................................................124
8.2.1 Regulação pelas catecolaminas..................................................................................................... 124
8.2.2 Regulação pela insulina.................................................................................................................... 125
APRESENTAÇÃO

Esta disciplina é de fundamental importância para todos os cursos da área de saúde. Ela é oferecida
nos ciclos básicos, atende a grupos muito heterogêneos de discentes e apresenta uma característica
multidisciplinar. Um indicativo da sua importância é sua aplicação nos mais diversos campos de
atuação profissional. Sabe-se que o estudo da bioquímica é apenas uma das etapas na formação de um
profissional de saúde.

Porém, existem algumas dificuldades no aprendizado da bioquímica. Apesar de ser apresentada nos
programas mais tradicionais através de disciplinas organizadas e coerentes, muitas vezes o conteúdo é
definido pelos alunos como uma coleção de estruturas químicas e reações de difícil assimilação e algo
desintegrado da prática profissional.

Nos cursos das áreas de ciências biológicas e da saúde, a bioquímica tem relevância particular. Por ser
ministrada no ciclo básico, ela serve como base para outros temas importantíssimos da grade curricular,
como farmacologia, fisiologia e patologia. De modo geral, os profissionais da saúde atuam em um
cenário no qual o domínio das potenciais reações orgânicas é imprescindível aos procedimentos diante
das mais variadas situações e patologias. O entendimento dos distúrbios metabólicos ou a interpretação
de exames clínicos demanda o uso do conhecimento discutido na bioquímica..

O livro tem como objetivo geral fornecer conhecimentos a respeito da estrutura química de
carboidratos e lipídios, bem como analisar o metabolismo desses compostos e fazer as correlações clínicas
ou biológicas pertinentes. Ao término desse curso, o aluno deverá ser capaz de reconhecer moléculas de
carboidratos e lipídios, conhecer todas as vias envolvidas com o metabolismo de carboidratos, sendo elas
a via glicolítica aeróbica e anaeróbica, o ciclo de Krebs, a cadeia respiratória, a via das pentoses-fostato,
o ciclo de Cori, a gliconeogênese, a glicogenólise e a glicogênese. Deverá também conhecer todas as
vias envolvidas com o metabolismo de lipídios, tanto da síntese quanto da degradação. Além disso,
espera-se que esteja apto também a reconhecer os processos regulatórios dessas vias, tanto em relação
ao controle alostérico quanto ao hormonal.

INTRODUÇÃO

A bioquímica é o estudo de processos químicos dentro de organismos vivos e relacionados a eles.


Ela pode ser dividida em três campos: genética molecular, ciência das proteínas e metabolismo.
Nas últimas décadas do século XX, a bioquímica conseguiu, através desses três campos de estudo, ter
sucesso na explicação e no entendimento dos processos biológicos.

As descobertas e o desenvolvimento das ciências relacionadas à vida ganharam um impulso devido à


metodologia e pesquisa da bioquímica. Isso ocorreu porque ela se concentra em entender como as moléculas
biológicas dão origem aos processos que ocorrem nas células vivas e entre as células, o que, por sua vez, se
relaciona muito com o estudo e a compreensão dos tecidos, órgãos, estrutura e função do organismo.

Em sua definição mais ampla, a bioquímica pode ser vista como um estudo dos componentes e
composição dos seres vivos e como eles se juntam para tornarem-se vida. Nesse sentido, a história da
7
bioquímica pode, portanto, remontar aos antigos gregos. No entanto, a bioquímica como disciplina
científica específica tem seu início em algum momento do século XIX.

Alguns argumentaram que o início da bioquímica seria a descoberta da primeira enzima, diastase
(hoje chamada amilase), em 1833, por Anselme Payen, enquanto outros consideraram como marco
a primeira demonstração de Eduard Buchner de um processo bioquímico complexo de fermentação
alcoólica em células. Já outros autores apontam como início o influente trabalho de Justus von Liebig,
de 1842, intitulado Química animal ou Química orgânica em suas aplicações à fisiologia e patologia, o
qual apresentou uma teoria química do metabolismo.

O termo bioquímica é derivado de uma combinação de biologia e química. Em 1877, Felix Hoppe-Seyler
o usou como sinônimo de química fisiológica no prefácio da primeira edição de Zeitschrift für Physiologische
Chemie (Jornal de Química Fisiológica), no qual ele defendia a criação de institutos dedicados a esse campo
de estudo. O químico alemão Carl Neuberg, no entanto, é frequentemente citado por ter cunhado a palavra
em 1903, embora alguns a creditem a Franz Hofmeister.

Em geral, acreditava-se que a vida e seus materiais tinham alguma propriedade ou substância essencial
(frequentemente chamada de “princípio vital”) distinta de qualquer coisa encontrada na matéria não
viva, e pensava-se que apenas os seres vivos podiam produzir as moléculas de vida. Contudo, em 1828,
Friedrich Wöhler publicou um artigo sobre a síntese de ureia, provando que compostos orgânicos podem
ser criados artificialmente.

Desde então, a bioquímica avançou, especialmente desde meados do século XX, com o desenvolvimento
de novas técnicas, como cromatografia, difração de raios-X, interferometria de dupla polarização,
espectroscopia de ressonância magnética nuclear, marcação radioisotópica, microscopia eletrônica e
simulações de dinâmica molecular. Essas técnicas permitiram a descoberta e a análise detalhada de
muitas moléculas e vias metabólicas da célula, como a glicólise e o ciclo de Krebs (ciclo do ácido cítrico),
e levaram a um entendimento da bioquímica em nível molecular.

Philip Randle é bem conhecido por sua descoberta em pesquisas sobre diabetes e pelo ciclo glicose-ácidos
graxos em 1963. Ele confirmou que os ácidos graxos reduzem a oxidação do açúcar pelos músculos. A alta
oxidação de gordura foi responsável pela resistência à insulina.

Grande parte da bioquímica lida com as estruturas, funções e interações de macromoléculas


biológicas, como proteínas, ácidos nucleicos, carboidratos e lipídios, que fornecem a estrutura
das células e desempenham muitas das funções associadas à vida. A química da célula também
depende das reações de moléculas e íons. Estes podem ser inorgânicos, por exemplo, água e íons
metálicos, ou orgânicos, como os aminoácidos, que são usados para sintetizar proteínas. O conjunto
de mecanismos pelos quais as células aproveitam a energia de seu ambiente através de reações
químicas são conhecidos como metabolismo.

Os resultados da bioquímica são aplicados principalmente na medicina, nutrição e agricultura.


Na medicina, os bioquímicos investigam as causas e o tratamento das doenças. Em nutrição, eles
estudam como manter o bem-estar da saúde e os efeitos de deficiências nutricionais. Na agricultura, os
8
bioquímicos investigam o solo e os fertilizantes e tentam descobrir maneiras de melhorar o cultivo, o
armazenamento e o controle de pragas.

É crescente a preocupação com a alimentação, a saúde e a estética, e, com isso, a veiculação


de informações sobre esses assuntos. Você já deve ter escutado, lido em revistas, visto na televisão
ou mesmo ouvido em uma conversa com os amigos as seguintes frases: “é importante comer
de três em três horas para acelerar o metabolismo”; “se você quer emagrecer, você deve cortar
carboidratos no período noturno”, “para emagrecer, você deve fazer uma alimentação baseada em
alimentos com alto conteúdo proteico”; “eliminei glúten e lactose da minha alimentação” entre
outras. Será que todas as informações mencionadas são verdadeiras?

Por um lado, a veiculação crescente dessas informações é o resultado de estudos realizados em


relação à alimentação, ao metabolismo e à saúde, o que representa uma ajuda a pacientes diabéticos, com
doença celíaca, intolerância à lactose entre outras. Por outro lado, muitas informações são transmitidas
sem estarem fundamentadas em pesquisas científicas. Será que todas as pessoas que afirmam estarem se
alimentando de três em três horas para acelerar o metabolismo realmente sabem o que significa o termo
metabolismo? Que tal aprender sobre isso e poder avaliar a veracidade das informações veiculadas?

Esta disciplina discutirá o metabolismo de carboidratos e lipídios e permitirá que você tenha uma
visão crítica sobre as informações veiculadas, além de possibilitar a aquisição de conhecimentos
importantes para as matérias subsequentes. Você verá que o livro está repleto de reações químicas, pois
a bioquímica estuda como o organismo funciona como um sistema químico; o importante é que você
tenha uma visão ampla de como essas reações estão interligadas.

9
BIOQUÍMICA

Unidade I
1 CARBOIDRATOS

1.1 Estrutura e função dos carboidratos

Carboidrato é uma biomolécula que consiste em átomos de carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O),
geralmente com uma razão de átomo de hidrogênio-oxigênio de 2:1 (como na água) e, portanto, com a
fórmula empírica Cm(H2O)n, sendo n ≥ 3 (na qual m pode ser diferente de n).

Essa fórmula é verdadeira para monossacarídeos, embora existam algumas exceções; por
exemplo, desoxirribose, um componente de açúcar do DNA, que tem a fórmula empírica C5H10O4.
Os carboidratos são tecnicamente hidratos de carbono; estruturalmente, contudo, é mais preciso
vê-los como aldoses e cetoses.

Assim, a maioria dos carboidratos pode ser representada dessa forma, mas não todos, pois alguns
contêm nitrogênio, fósforo ou enxofre, que não estão incluídos nessa fórmula.

O termo mais comum para carboidrato é sacarídeo, um grupo que inclui açúcares, amido e
celulose. Os sacarídeos são divididos em quatro grupos químicos: monossacarídeos, dissacarídeos,
oligossacarídeos e polissacarídeos. Monossacarídeos e dissacarídeos, os menores carboidratos (menor
peso molecular), são comumente referidos como açúcares. Embora a nomenclatura científica dos
carboidratos seja complexa, os nomes dos monossacarídeos e dissacarídeos terminam muitas vezes
no sufixo -ose, como é o caso dos monossacarídeos frutose (açúcar da fruta) e glicose (açúcar do
amido) e dos dissacarídeos sacarose (açúcar de cana ou beterraba) e lactose (açúcar do leite). Veja a
figura a seguir:
A. O H B. O H
C C
H C OH H C OH
HO C H H C OH
H C OH H C OH
H C OH CH2OH

CH2OH

Figura 1 – A) glicose; B) ribose

A glicose, representada do lado esquerdo da figura anterior, tem 6 átomos de carbono, 12 de


hidrogênio e 6 de oxigênio, portanto podemos representá-la como C6H12O6 ou (CH2O)6.

11
Unidade I

Observação

Em química, nas fórmulas que representam os compostos, os números


fora dos parênteses valem para todos os elementos que estão dentro deles.

Já a ribose, reproduzida do lado direito da figura anterior, tem 5 átomos de carbono, 10 de


hidrogênio e 5 de oxigênio, portanto, podemos representá-la como C5H10O5 ou (CH2O)5. Também
podemos observar que os carboidratos apresentam vários grupos hidroxilas (OH) e por isso são
considerados compostos poliálcoois.

Observação

Hidroxila ligada a carbono saturado corresponde à função orgânica álcool.

A seguir estão representados outros exemplos de carboidratos:


A. O H B. O H
C C
H C OH H C OH
CH2OH OH C H
OH C H
H C OH
CH2OH
C. D.
CH2OH CH2OH
C O C O
CH2OH H C OH
H C OH

CH2OH

Figura 2 – A) gliceraldeído; B) galactose; C) diidroxiacetona; D) ribulose

Observação

A terminação ose é frequentemente utilizada na nomenclatura dos


carboidratos, mas nem todos têm o nome terminado dessa forma.

12
BIOQUÍMICA

Exemplo de aplicação

Os quatro carboidratos apresentados anteriormente podem ser representados pela fórmula geral dos
carboidratos: (CH2O)n. Conte a quantidade de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio presente em
cada um e os represente seguindo a fórmula geral.

Os carboidratos são as biomoléculas mais abundantes e constituem cerca de 60% da nossa dieta.
Através de sua oxidação, obtemos a maior parte da energia utilizada pelo nosso organismo. Além de
fonte energética, eles são componentes das membranas celulares, dos ácidos nucleicos – DNA e RNA –,
da parede celular de bactérias, fungos e vegetais e do tecido conjuntivo de animais.

1.2 Classificação dos carboidratos

1.2.1 Classificação em relação à possibilidade de hidrólise

Os monossacarídeos são os carboidratos mais simples: não sofrem hidrólise, são solúveis em água e
insolúveis em compostos orgânicos e apresentam-se em estado sólido em temperatura ambiente.

Observação

Hidrólise é a quebra na presença de água. Os carboidratos que sofrem


hidrólise originam carboidratos mais simples.

A glicose, a ribose, o gliceraldeído, a galactose, a diidroxiacetona, a ribulose e a frutose são exemplos


de monossacarídeos.

Observação

A palavra “sacarídeo” é derivada da palavra grega sakcharon, que


significa açúcar.

A frutose é o carboidrato mais doce e é encontrada principalmente nas frutas e no mel.

Os monossacarídeos, em solução aquosa, com cinco ou mais carbonos, adquirem estruturas


cíclicas devido à reação que ocorre entre o grupo carbonila e uma hidroxila. Menos de 1% de cada
monossacarídeo com cinco ou mais carbonos ocorre na forma aberta.

No processo de ciclização da glicose, são formados os anômeros α e β. As enzimas são capazes de


diferenciar essas duas estruturas e utilizar uma delas preferencialmente. O glicogênio é sintetizado a
partir de α-glicose e a celulose, a partir de β-glicose.

13
Unidade I

Observação

Anômeros são compostos com a mesma fórmula molecular, mas com


diferença apenas na configuração do carbono anomérico.
6
CH2OH
5
C O
4C OH
O H C1
1 6
C CH2OH HO C3 C2
OH
2 5
H C OH C OH OH
3 água O a - glicose
HO C H 4C OH C
4 1 6
H C OH HO C3 C2 H CH2OH
5 5
H C OH C O OH
6 OH
CH2OH 4C OH C1
HO C3 C2
OH
b - glicose

Figura 3 – Ciclização da glicose com formação dos anômeros


α-glicose (α-glicopiranose) e β-glicose (β-glicopiranose)

Compare atentamente as formas cíclicas da α-glicose e da β-glicose na figura a seguir:


6 6
CH2OH CH2OH
5 5
C O C O OH
4C OH 4C OH
C1 C1
HO C3 C2 HO C3 C2
OH
OH OH
a - glicose b - glicose

Figura 4 – Formas cíclicas da glicose. α-glicose e β-glicose.


A diferença entre as duas estruturas está destacada

No anômero α, o OH ligado ao carbono anomérico (C1) está abaixo do plano e, no anômero β, acima.
Conhecer essa diferença é importante para entender a distinção existente entre a estrutura da molécula
de glicogênio e a de celulose, por exemplo.

Essa nomenclatura α e β também é utilizada para a forma cíclica da frutose, referindo-se à


configuração do OH ligado ao carbono 2. Veja a figura a seguir:

14
BIOQUÍMICA

6 1 6
HOCH 2 O CH2OH HOCH 2 O OH
5 2 5 2

HO OH HO CH2OH
1
4 3 4 3
OH OH
a - frutose b - frutose

Figura 5 – Formas cíclicas da frutose. α-frutose e β-frutose.


A diferença entre as duas estruturas está destacada

No anômero α, o OH ligado ao carbono anomérico (C2) está abaixo do plano e, no anômero β,


está acima.

As formas estruturais lineares foram propostas por Fischer, posteriormente, Tollens propôs a
ciclização das moléculas e atualmente adotam-se as fórmulas de projeção propostas por Haworth, as
quais permitem a visualização das moléculas no espaço. Veja a figura a seguir:

H
1
C O
2 Tollens
H C OH
3 6 6
HO C H CH2OH CH2OH
4 5 5
H C OH H O H H O OH
H H
4 1 4 1
5 OH OH H
H C OH
HO OH HO H
6 3 2 3 2
CH2OH H OH H OH
Fisher Haworth

Figura 6 – Estruturas propostas por Fischer, Tollens e Haworth

Os dissacarídeos são formados pela união de dois monossacarídeos (quadro a seguir) e, portanto, sua
hidrólise gera dois monossacarídeos, os quais podem ser diferentes ou iguais.

Quadro 1 – Monossacarídeos constituintes dos dissacarídeos

Dissacarídeo → Monossacarídeo + Monossacarídeo


Sacarose → Glicose + Frutose
Maltose → Glicose + Glicose
Lactose → Glicose + Galactose

Na reação para a formação de um dissacarídeo, ocorre a formação de uma ligação glicosídica e a


liberação de uma molécula de água. Observe a figura a seguir:

15
Unidade I

6 6
CH2OH CH2OH
5 5
C O C O
4C OH 4C OH
C1 C1
HO C3 C2 HO C3 C2
OH OH
OH OH
a - glicose a - glicose

H2O
6 6
CH2OH CH2OH
5 5
C O C O
4C OH 4C OH
C1 + C1
HO C3 C2 O C3 C2
OH
OH OH
Ligação glicosídica a - 1,4
Maltose
Figura 7 – Formação da maltose através da ligação de dois monossacarídeos
α-glicose com formação de uma ligação glicosídica α-1,4 e eliminação de uma molécula de água

Observação

A ligação glicosídica é denominada α-1,4 pois é formada pelo carbono 1


de um monossacarídeo, que apresenta configuração α, e pelo carbono 4 do
outro monossacarídeo que participa da ligação.

O dissacarídeo sacarose é formado pela união entre uma molécula de glicose e uma de frutose,
conforme representado na figura a seguir:
6
CH2OH CH2OH
H 5 O H H O H
H H
4 1
OH OH H
OH OH OH
3 2
H OH H OH ligação 1,2
a-D-glicosepiranose + H2O
6 O
CH2OH CH2OH
O OH O
5 2
H OH H HO
H CH2OH H CH2OH
4 3 1
OH H OH H
b-D-frutosefuranose sacarose
Figura 8 – Formação da sacarose através da ligação entre α-glicose
(α-D-glicosepiranose) e β-frutose (β-D-glicosefuranose)

16
BIOQUÍMICA

Generalizando a reação de formação de monossacarídeos, temos:

Monossacarídeo + Monossacarídeo → Dissacarídeo + H2O

A sacarose é encontrada principalmente na cana-de-açúcar e na beterraba; a lactose é encontrada


no leite e a maltose é obtida da hidrólise do amido.

Observação

Como os bombons cujo interior é líquido são preenchidos?

Primeiramente, é feita uma pasta através da mistura de sacarose e


água, a seguir, é adicionada uma enzima chamada invertase, e essa mistura
é coberta com chocolate. A invertase hidrolisa a molécula de sacarose em
glicose e frutose. A sacarose tem 12 carbonos e tanto a glicose quanto a
frutose têm 6. As moléculas de 6 carbonos são mais solúveis e, portanto,
devido à ação da invertase, o conteúdo do bombom, que antes era de
aspecto cristalino, torna-se líquido.

A definição de oligossacarídeos varia nos livros de bioquímica, alguns consideram que, para serem
assim considerados, têm que ter de 3 a 10 monossacarídeos (FERREIRA; JARROUGE; MARTIN, 2010); outros
afirmam que, para ser um oligossacarídeo, é necessário ter entre 3 e 12 monossacarídeos (RICHARD;
DENISE, 2012). Acima de 10 ou 12 monossacarídeos, o composto é considerado um polissacarídeo.

Existem autores que consideram que os carboidratos são divididos em apenas três classes:
monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos e que, acima de 20 monossacarídeos ligados, o
composto deve ser denominado polissacarídeo. De acordo com essa definição, os dissacarídeos são
considerados oligossacarídeos (NELSON; COX, 2006).

Alguns exemplos de polissacarídeos são o amido e o glicogênio, que são formas de armazenar
energia; e a celulose e a quitina, que são componentes estruturais. Os polissacarídeos são diferentes
nos tipos de monossacarídeos que os constituem, nos tipos de ligações, nas ramificações e no
tamanho da cadeia.

O amido é a forma de armazenamento de vegetais e é constituído por dois polímeros de glicose: a


amilose e a amilopectina. A amilose é constituída por moléculas de α-glicose ligadas de maneira linear
através de ligações glicosídicas α-1,4. A amilopectina é uma cadeia ramificada, em que a parte linear é
formada através de ligações α-1,4, e as ramificações são formadas por ligações α-1,6 (figura a seguir).
As fibras de amilose e amilopectina formam duplas hélices (NELSON; COX, 2006).

17
Unidade I

A. B.
6 6 CH2OH
CH2OH CH2OH
5
5 5 C O
C O C O
4C OH
4C OH + 4C OH C1
C1 C1
C3 C2
C3 C2 O C3 C2
n OH
OH OH
O Ramificação
a-1,6

6 CH2
5
C O
4C OH C1
C3 C2
OH

Figura 9 – A) amilose; B) amilopectina

A figura anterior representa amilose e amilopectina. A primeira é formada por moléculas de α-glicose
conectadas linearmente por ligações glicosídicas α-1,4. O n representa a quantidade de moléculas de
α-glicose. A segunda também é constituída de moléculas de α-glicose conectadas linearmente por ligações
glicosídicas α-1,4; porém com ramificações nas quais as moléculas de α-glicose conectam-se através de uma
ligação glicosídica α-1,6. Nas ramificações, ou seja, as posições nas quais há ligações glicosídicas α-1,6, são
encontradas de 24 a 30 moléculas de glicose da cadeia principal, as quais são formadas por ligações α-1,4.

O amido é encontrado na batata, no trigo, no arroz, no milho, na mandioca entre outros, conforme
mostra o quadro a seguir:

Quadro 2 – Porcentagem de amido presente em alguns vegetais

Vegetais Porcentagem de amido


Batata 15
Trigo 55
Arroz 65
Milho 75

Fonte: Usberco e Salvador (2010, p. 722).

Observação

A presença de amido pode ser testada utilizando uma solução de iodo.


Na presença de amido, o iodo produz uma coloração azul-violeta (conforme
figura a seguir).
18
BIOQUÍMICA

Figura 10 – Teste com iodo em um pedaço de batata

O glicogênio, o polissacarídeo de reserva animal, é muito similar à amilopectina, porém tem um


maior número de ramificações. Uma ramificação é identificada a cada 8 a 12 unidades de glicose.

Tanto o amido quanto o glicogênio são altamente hidratados devido à interação entre os grupos
hidroxilas e a água. Essa interação é chamada ligação de hidrogênio.

O glicogênio perfaz de 4 a 8% da massa do fígado e também está presente nos músculos esqueléticos,
representando de 0,5 a 1% da massa.

A celulose é uma substância fibrosa encontrada na parede celular dos vegetais, particularmente em
troncos e galhos, perfaz quase toda a massa da madeira e quase 100% da massa do algodão (FRANCISCO
JÚNIOR, 2008). A celulose é um polímero linear constituído por moléculas de glicose, porém essas
moléculas estão na configuração β, formando ligações glicosídicas β-1,4.

Lembrete

No processo de ciclização da glicose, são formadas a α-glicose e a


β-glicose; sendo que o glicogênio e amido são formados por α-glicose, e a
celulose é formada por β-glicose.

A quitina é um polissacarídeo linear formado por moléculas de N-acetil-D-glicosamina em ligação β.


Ela é o principal componente do exoesqueleto duro de artrópodes como insetos, lagostas e caranguejos.
Veja a figura a seguir:

19
Unidade I

6
CH2OH NHCONH3
5 3 2
C O O C C
4C OH 4C OH
C1 C1
O C3 C2 5C O O
NHCONH3 6 CH OH n
2

Figura 11 – Quitina, em que n representa a quantidade de moléculas de N-acetil D-glicosamina

Lembrete

Alguns carboidratos têm nitrogênio em sua estrutura, e a N-acetil


D-glicosamina é um exemplo.

A parede celular das bactérias apresenta peptideoglicanos constituídos por um polímero com
unidades alternadas de N-acetilglicosamina e N-acetilmurâmico. Essas cadeias polissacarídicas são
ligadas por peptídeos.

1.2.2 Classificação dos monossacarídeos quanto ao grupo funcional

As funções orgânicas encontradas em carboidratos são aldeído e cetona. Aqueles que apresentam
a função orgânica aldeído são chamados aldoses e os que apresentam cetona são chamados cetoses.

Observação

Os compostos orgânicos foram agrupados conforme estruturas comuns,


esses grupos são chamados de funções orgânicas. Cada função orgânica é
caracterizada por um grupo funcional.

Denomina-se aldeído todo composto orgânico que tem o grupo carbonila ligado a 1 hidrogênio;
e cetona o que tem o grupo carbonila entre 2 carbonos (figura a seguir). O grupo funcional aldeído
está sempre em uma extremidade da cadeia; já o grupo funcional cetona está sempre em uma porção
interna da cadeia.

A. O

B. O C. O

C H C C C
Figura 12 – Grupos funcionais presentes em carboidratos. A) grupo carbonila;
B) grupo funcional da função orgânica aldeído; C) grupo funcional da função orgânica cetona

20
BIOQUÍMICA

A glicose apresenta o grupo funcional da função orgânica aldeído, sendo considerada uma aldose.
E a frutose apresenta o grupo funcional da função orgânica cetona, sendo considerada uma cetose. Veja
a figura a seguir:
A. O H B. CH2OH
C C O
H C OH HO C H
HO C H H C OH
H C OH H C OH
H C OH CH2OH
CH2OH

Figura 13 – A) glicose com o grupo funcional da função orgânica aldeído destacado em vermelho;
B) frutose com o grupo funcional da função orgânica cetona destacado em vermelho

Observação

Algumas substâncias são imagens uma da outra no espelho, elas são


chamadas de enantiômeros e denominadas com D e L. Nos seres humanos,
a substância predominante é a D.

Como os carboidratos apresentam vários grupos hidroxilas e podem ser aldeídos ou cetonas, eles são
considerados poliidroxialdeídos ou poliidroxicetonas, respectivamente.

1.2.3 Classificação dos monossacarídeos em relação ao número de carbonos

De acordo com o número de átomos de carbonos que o carboidrato tem na sua estrutura, pode ser
classificado como: triose (3), tetrose (4), pentose (5), hexose (6), heptose (7) e nonose (9).

2 DEGRADAÇÃO DOS CARBOIDRATOS

2.1 Introdução ao metabolismo

Metabolismo é o nome dado a todas as reações químicas que ocorrem no organismo.


O metabolismo pode ser dividido em várias vias, ou seja, em sequências de várias reações químicas,
como a via glicolítica ou a via de síntese do glicogênio. Nelas, o produto de uma reação química
transforma-se no substrato da próxima.

21
Unidade I

Figura 14 – Exemplo simplificado de uma via. As letras representam substâncias que


estão passando por reações químicas. A substância A é transformada na substância B, que,
por sua vez, é transformada na substância C; essa sequência de transformações
acontece até a substância F ser formada

Na via mostrada na figura anterior, a substância A é chamada de substrato; a substância F, de


produto final; e as substâncias B, C, D e E de intermediárias da via.

Observação

Nas reações químicas, as substâncias que são utilizadas como


matérias-primas da reação são chamadas de reagentes ou substratos, e as
que são produzidas, chamadas de produtos.

L Via 3 A Via 1

M B G Via 2

N C H

O D I

P E J

F K

Figura 15 – Exemplo simplificado de metabolismo. As vias 1, 2 e 3


formam conexões, estabelecendo uma rede de reações químicas

22
BIOQUÍMICA

Para que o metabolismo funcione de maneira compatível com as nossas necessidades fisiológicas, as
reações químicas precisam acontecer de maneira rápida, o que só é possível devido à ação de moléculas
catalisadoras, que são as enzimas. Elas catalisam as reações que constroem e destroem as moléculas.
A insuficiência na produção ou na remoção de substâncias pode levar a condições patológicas.

A maior parte das enzimas é de natureza proteica, ou seja, formada por aminoácidos que, no nosso
organismo, estão em constante processo de síntese e degradação. Existem também moléculas de RNA
que exercem a mesma função das enzimas e que são chamadas de ribozimas.

As enzimas são sintetizadas pelo nosso próprio organismo através das informações contidas na
molécula de DNA, portanto o funcionamento adequado do nosso metabolismo está diretamente ligado
ao nosso material genético.

Uma característica importante das enzimas é a sua especificidade, ou seja, elas são específicas para
o seu substrato. De maneira geral, pode-se dizer que, para cada reação química do metabolismo, há uma
enzima. Veja a figura a seguir:

A
enzima 1

B
enzima 2
C
enzima 3
D
enzima 4

E
enzima 5
F

Figura 16 – Cada reação química requer uma enzima diferente

Os aminoácidos constituintes das enzimas interagem através de forças hidrofóbicas, interações


iônicas entre outras, formando na cadeia polipeptídica dobramentos que definem a estrutura terciária.
Para o processo de catálise, a totalidade da molécula enzimática é necessária; porém existe uma região
chamada centro ativo (ou sítio ativo), onde ocorre a ligação do substrato. Ela é importante pois forma
uma cavidade à qual o substrato se liga. Por isso, ele deve ter uma conformação adequada para se alojar
no centro ativo da enzima. O processo explica a especificidade da enzima pelo seu substrato. Observe a
figura a seguir:

23
Unidade I

A.

+ +
substrato
enzima
B.

Não ocorre a reação

substrato
enzima
C.
+ Não ocorre a reação

enzima

Figura 17 – Especificidade enzima-substrato. A) o substrato aloja-se perfeitamente


no sítio ativo da enzima, possibilitando que a reação química aconteça.
B) e C) as estruturas dos substratos não são compatíveis com o centro
ativo da enzima, assim, as reações não ocorrem

Saiba mais

O texto a seguir mostra a importância das enzimas no metabolismo


para a indústria e a pesquisa:

MUSSATO, I. S.; FERNANDES, M.; MILAGRES, A. M. F. Enzimas, poderosa


ferramenta na indústria. Ciência Hoje, São Paulo, v. 41, n. 242, out. 2007.
Disponível em: http://cienciahoje.org.br/artigo/enzimas-poderosa-ferramen
ta-na-industria/. Acesso em: 3 dez. 2019.

As vias podem ser classificadas como catabólicas ou anabólicas.

As vias catabólicas, também chamadas de vias de degradação, são as que quebram moléculas
complexas nos seus constituintes, ou seja, em moléculas mais simples. Nelas, ocorre a liberação
de energia. Por exemplo, os carboidratos, os lipídios e as proteínas, que são compostos com
alto conteúdo energético, são quebrados em CO2, H2O e NH3, que são produtos de excreção com baixo
conteúdo energético.

As vias anabólicas, conhecidas também como vias de síntese, são as que formam moléculas
complexas a partir de moléculas simples e, nesse processo, há consumo de energia. Por exemplo,
as proteínas, os polissacarídeos, os lipídios e os ácidos nucleicos; todos são considerados moléculas
complexas formadas por aminoácidos, monossacarídeos, ácidos graxos e bases nitrogenadas,
respectivamente (figura a seguir).

24
BIOQUÍMICA

Macronutrientes Macromoléculas
– carboidratos – proteínas
– lipídios – polissacarídeos
– proteínas – lipídios
– ácidos nucleicos
catabolismo energia anabolismo

Produtos de excreção Moléculas precursoras


(pobres em energia)
– aminoácidos
– CO2
– açúcares simples
– H2O
– ácidos graxos
– NH3
– bases nitrogenadas

Figura 18 – Relação entre catabolismo e anabolismo

O catabolismo pode ser dividido em três estágios:

• no primeiro, as macromoléculas, que constituem os macronutrientes, são digeridas no tubo


digestório, gerando moléculas menores que serão absorvidas, ou seja, passarão para a corrente
sanguínea e serão distribuídas para as células;

• no segundo, que ocorre dentro das células, as moléculas serão quebradas em moléculas ainda
menores e haverá produção de pequena quantidade de energia;

• no terceiro, essas moléculas serão transformadas em produtos de excreção e haverá grande


produção de energia.

A energia química fica armazenada principalmente em um composto intermediário chamado ATP


(adenosina trifosfato). A energia proveniente dos nutrientes é utilizada para ligar um grupo fosfato a
uma molécula de ADP (adenosina difosfato), formando assim o ATP que, por sua vez, se decompõe em
ADP e grupo fosfato, transferindo a energia para as atividades celulares.

2.2 Degradação dos carboidratos

2.2.1 Digestão e absorção

Os polissacarídeos da dieta são o amido e o glicogênio, e os sítios de digestão são a boca e o intestino.

Para que a digestão ocorra em velocidade compatível com as nossas necessidades, são utilizadas as
enzimas, que aceleram a velocidade das reações químicas.

25
Unidade I

Observação

A digestão é quebra das moléculas presentes nos alimentos; a absorção


é passagem de moléculas à circulação.

A digestão dos polissacarídeos é iniciada na boca através da enzima α-amilase salivar, também
chamada de ptialina. Essa enzima é uma endoglicosidase que hidrolisa as ligações glicosídicas
α-1,4 (figura a seguir).

O O

1 4

Ligação glicosídica
a - 1,4

glicosidase

H 2O

O O

OH HO

Figura 19 – Esquema simplificado da ação de uma glicosidase.


Essa enzima atua na hidrólise da ligação glicosídica α-1,4

Como o glicogênio apresenta ramificações que têm ligações glicosídicas α-1,6; o resultado da
digestão pela α-amilase salivar são dissacarídeos e oligossacarídeos, ou seja, fragmentos menores que
podem ter ramificações ou não (figura a seguir). Os oligassacarídeos são chamados de dextrinas.

Lembrete

A diferença entre o amido e o glicogênio é que o último apresenta


um maior número de ramificações; a digestão de ambos acontece da
mesma maneira.

26
BIOQUÍMICA

A α-amilase salivar hidrolisa apenas ligações glicosídicas α-1,4 e, portanto, como resultado dessa
digestão, são gerados dissacarídeos, como a maltose ( ) e a isomaltose ( ) e oligossacarídeos
ramificados ou não.

Glicogênio

Ligação glicosídica
a - 1,4

Ligação glicosídica
a - 1,6

a - amilase salivar

maltose isomaltose

Figura 20 – Digestão do glicogênio, que apresenta tanto ligações glicosídicas α-1,4 quanto ligações α-1,6

A digestão que ocorre na boca é breve, pois o alimento permanece nela apenas durante a mastigação.
Quando o bolo alimentar, juntamente com a enzima α-amilase salivar, chega ao estômago, ela é
inativada devido à acidez nele presente.

O conteúdo do estômago chega ao intestino delgado, o qual recebe do pâncreas o bicarbonato de


sódio (responsável por neutralizar a acidez proveniente do estômago) e a enzima α-amilase pancreática,
que continua o processo de digestão quebrando as ligações glicosídicas α-1,4.

A digestão do glicogênio continua no jejuno superior pela ação das enzimas sintetizadas pelas
células da mucosa intestinal, as dissacaridases e as oligossacaridases. As dissacaridases são a isomaltase,
que hidrolisa a isomaltose; e a maltase, que hidrolisa a maltose.

Dois carboidratos que estão bastante presentes na nossa alimentação são a sacarose (açúcar da
cana-de-açúcar ou açúcar comum) e a lactose (açúcar do leite). A digestão desses dois carboidratos
acontece no intestino por meio das enzimas sacarase e lactase, respectivamente.

27
Unidade I

Observação

A sacarase hidrolisa a sacarose em seus constituintes glicose e frutose,


e a lactase hidrolisa a lactose em glicose e galactose.

Como resultado da digestão dos carboidratos da dieta, são formados monossacarídeos – apenas eles
podem ser absorvidos pela mucosa intestinal.

Existem dois processos para a absorção de monossacarídeos. Um deles é dependente de íons sódio e
de uma classe de proteínas cuja sigla é SGLT –transportadora de glicose dependente do íon sódio. Esse
transporte envolve o gasto de ATP, sendo, portanto, um transporte ativo.

O outro processo é um transporte que não envolve gasto de energia, mas uma classe de proteínas
transportadoras de glicose designadas pela sigla GLUT – transportador de glicose. Como não envolve
gasto de energia, e sim uma proteína carreadora, ele é chamado de difusão facilitada.

A glicose é captada do lúmen intestinal para dentro do enterócito por meio do transportador SGLT1.
A ligação de sódio a essa proteína ocasiona uma mudança conformacional na proteína, tornando
possível a ligação de glicose. Para cada molécula de glicose, dois íons sódio são transportados para o
interior do enterócito. A glicose então passa do interior do enterócito para a corrente sanguínea ou por
meio de difusão facilitada pelo GLUT-2 ou por meio de vesículas.

O SGLT1 também transporta a galactose para o interior do enterócito, e essa é transportada para a
corrente sanguínea por meio do GLUT-2.

A frutose é transportada para o interior do enterócito pelo transportador GLUT-5 e para a corrente
sanguínea por meio do GLUT-2.

2.2.2 Digestão anormal de dissacarídeos

Como o processo de absorção só ocorre para os monossacarídeos, qualquer defeito nas dissacaridases,
ou seja, nas enzimas que transformam os dissacarídeos em monossacarídeos, causa problemas.

O dissacarídeo não digerido passa para o intestino grosso e, como consequência disso, ocorre a
passagem de água para o órgão, causando diarreia. Além disso, as bactérias presentes no intestino
fazem a fermentação utilizando o dissacarídeo como substrato. Nesse processo de fermentação, são
formados ácido lático, CO2 e H2, causando cólicas abdominais, diarreia e flatulência.

2.2.3 Intolerância à lactose

A mais comum das deficiências de enzimas digestivas é a intolerância à lactose, ocasionada pela
ausência da enzima lactase. As causas que podem culminar na ausência da lactase são várias.

28
BIOQUÍMICA

Lembrete

A lactase hidrolisa a lactose, açúcar do leite, em glicose e galactose.

A maioria das crianças apresenta atividade máxima da lactase até os 2 anos. Depois desse
período, podem-se distinguir dois grupos: o dos que digerem a lactose, apresentando a chamada
lactose persistente ou normolactasia; e o dos que apresentam uma má digestão da lactose:
a lactose não persistente ou hipolactasia. O grupo que não digere a lactose corresponde a,
aproximadamente, 75% da população mundial (MATTAR; MAZO; CARRILHO). O mecanismo pelo qual
a enzima é perdida ainda não é claro.

A doença também pode ser congênita, ou seja, afetar a criança desde seu nascimento. Isso, porém,
ocorre com raridade e tem caráter autossômico e recessivo.

A intolerância à lactose também pode estar relacionada a doenças intestinais como a doença de
Crohn ou a drogas que danifiquem a mucosa do intestino delgado.

O diagnóstico da intolerância à lactose pode ser realizado de duas maneiras. A primeira envolve a
realização de uma curva glicêmica em que se coleta uma amostra de sangue do paciente em jejum, que
depois recebe uma dose de lactose. Então, novas amostras de sangue são coletadas após 15, 30, 60 e
90 minutos. Um pequeno aumento na quantidade de glicose sugere má digestão da lactose. A segunda
maneira é medir o gás hidrogênio no hálito, uma vez que a lactose não degradada é metabolizada pela
flora intestinal gerando gás hidrogênio.

O tratamento para essa deficiência é a remoção da lactose da dieta ou a ingestão de pílulas de


lactase antes da ingestão de lactose.

Vários produtos foram gerados pela indústria alimentícia visando ao bem-estar das pessoas com
essa deficiência.

Exemplo de aplicação

Quando você for a um supermercado, observe se é fácil encontrar alimentos que atendam às
pessoas com intolerância à lactose e com outras doenças que necessitem restringi-la no organismo.
Observe também quais alimentos têm lactose em sua composição e compare os preços daqueles que a
apresentam com aqueles que não a contêm. Reflita sobre o acesso e a disponibilidade desses produtos.

2.2.4 Transporte de glicose para dentro da célula

A glicose entra nas células através dos transportadores de glicose (GLUTs). Quatorze transportadores
de glicose são conhecidos; eles são numerados de 1 a 14. Essa numeração indica a ordem de descoberta.
O GLUT-1 foi o primeiro a ser descoberto, e o GLUT-14 foi o último.
29
Unidade I

Os GLUTs atuam por meio de mudança conformacional. Com a ligação da glicose extracelular, ocorre
uma mudança na conformação do transportador, o que permite a entrada da glicose para o meio
intracelular. Observe a figura a seguir:

Glicose
Meio extracelular

Permease
Meio intracelular

Figura 21 – Representação esquemática do transporte facilitado de glicose através de uma membrana celular

Os GLUTs apresentam especificidade tecidual: O GLUT-1 é abundante nos eritrócitos e no encéfalo;


o GLUT-2 é encontrado no fígado, no rim e nas células β do pâncreas; o GLUT-3 está presente nos
neurônios; o GLUT-4 é abundante no tecido adiposo e no músculo esquelético e o GLUT-5 é o principal
transportador de frutose no intestino delgado.

O GLUT-4 é extremamente importante, pois esse transportador é dependente do hormônio insulina.


A insulina promove o recrutamento dos transportadores de glicose presentes no músculo esquelético e
nos adipócitos, os GLUT-4. Estes ficam armazenados em vesículas intracelulares e com a ação da insulina
são encaminhados para a membrana plasmática. Com isso, a insulina aumenta o transporte da glicose.

2.2.5 Uso da glicose pelas células

Dentro das células, a glicose pode ter vários destinos, dependendo da condição fisiológica do
organismo e da disponibilidade de oxigênio.

Caso o organismo necessite de energia e tenha oxigênio disponível, a glicose pode ser quebrada
liberando CO2, H2O e energia. Essa quebra envolve cinco etapas: a via glicolítica, também chamada de
glicólise; a conversão de piruvato em acetil-CoA; o ciclo de Krebs; a cadeia de transporte de elétrons e a
fosforilação oxidativa. Todos esses processos são chamados de respiração celular.

Caso o organismo não necessite de energia, a glicose pode ser armazenada na forma de glicogênio,
utilizado nos momentos de necessidade. Ele é armazenado no fígado e nos músculos. Quando necessário,
por exemplo, nos períodos entre as refeições ou no jejum noturno, o glicogênio hepático é degradado
gerando glicose, a qual é utilizada na manutenção da glicemia – concentração de glicose no sangue –,
portanto a glicose proveniente do glicogênio hepático pode ser utilizada como fonte de energia para todas
as células do corpo. Já o glicogênio muscular é utilizado como fonte de energia somente para as células
musculares. O organismo consegue armazenar aproximadamente 350 g de glicogênio, distribuídos em
250 g como glicogênio muscular e 100 g como glicogênio hepático.

30
BIOQUÍMICA

Em condições de anaerobiose, ou seja, de carência de oxigênio, a glicose é convertida em lactato.


Esse processo é utilizado por algumas bactérias, pelas hemácias, por fibras musculares de contração
rápida – fibras brancas – e pelas fibras em geral quando submetidas a esforço intenso. Ele é denominado
fermentação láctica.

2.2.6 Via glicolítica ou glicólise

A glicólise pode acontecer tanto na presença de oxigênio (e nessa condição é chamada de glicólise
aeróbica) quanto na ausência de oxigênio (quando é denominada glicólise anaeróbica).

A glicólise aeróbica tem como produto final o piruvato, porém ele é convertido em acetil-CoA, passando
posteriormente pelo ciclo de Krebs, pela cadeia de transporte de elétrons e pela fosforilação oxidativa.
Portanto, na presença de oxigênio, a glicólise é apenas o primeiro passo da degradação da glicose.

A glicólise anaeróbica tem como produto final o lactato, que vai para a corrente sanguínea.

2.2.7 Glicólise aeróbica

A conversão de glicose em duas moléculas de piruvato (glicólise aeróbica) depende de dez reações
químicas e de duas fases. A glicólise aeróbica ocorre no citosol das células, pois nele encontram-se todas
as enzimas necessárias para esse processo.

A primeira fase é chamada de fase de investimento ou fase preparatória; nela os compostos


intermediários são fosfosforilados por intermédio do grupo fosfato obtido do ATP. Ela compreende as cinco
primeiras reações da glicólise e são gastas 2 moléculas de ATP. As cinco reações subsequentes fazem parte da
fase de produção ou fase de pagamento; nela são produzidas 4 moléculas de ATP e 2 moléculas de NADH
(nicotinamida adenina dinucleotídeo). Em termos de produção de energia, a glicólise aeróbica contribui com
2 moléculas de ATP, pois 4 moléculas de ATP são produzidas na fase de produção, mas 2 moléculas foram
consumidas na fase de investimento. Assim, o saldo final é de 2 moléculas de ATP (figura a seguir).
glicose

Fase de investimento ou
preparatória
5 reações
Gasto de duas moléculas
de ATP

Fase de produção ou
5 reações pagamento

Produção de quatro
moléculas de ATP e duas
2 moléculas de moléculas de NADH
piruvato

Figura 22 – As fases da glicólise aeróbica: fase de investimento e fase de produção

31
Unidade I

As dez reações que compreendem a glicólise aeróbica serão detalhadas a seguir:

Reação 1: fosforilação da glicose

Na primeira reação da glicólise, ocorre sua fosforilação, ou seja, a adição de um grupo fosfato
adquirido por intermédio de uma molécula de ATP. Essa reação é catalisada por duas enzimas, a
hexoquinase, que atua na maioria dos tecidos, e a glicoquinase, que atua no fígado e nas células β do
pâncreas. O grupo fosfato é adicionado ao carbono de número 6 da glicose e, por isso, após a reação, é
obtida a glicose 6-fosfato (figura a seguir).

Observação

Quinases são enzimas que transferem grupo fosfato de um composto


de alta energia para outro composto.
6 6
CH2OH CH2O P
Hexoquinase
5 ou 5
C O glicoquinase C O
4 C OH C1 4 C OH C1

OH C3 C2 HO C3 C2
OH OH
OH OH
ATP ADP
Glicose Glicose 6-fosfato

Figura 23 – Reação de fosforilação da glicose

A reação de fosforilação da glicose utiliza ATP como molécula doadora de grupo fosfato e, como
catalisador, a enzima hexoquinase ou glicoquinase. O P representa PO32-. A seta para cima indica que
o ATP está entrando na reação – ou seja, nessa reação, ocorre o consumo de ATP – e a seta para baixo
indica que o ADP está sendo formado pela reação

Essa reação é irreversível, ou seja, com a utilização dessas enzimas, a glicose só pode formar glicose
6-fosfato. A realização do contrário, glicose 6-fosfato funcionado como reagente e gerando o produto
glicose, necessitaria de outra enzima.

Observação

As reações irreversíveis são representadas com uma única seta (→).


Já as reações reversíveis podem ser representadas das seguintes maneiras:
↔ ou .

32
BIOQUÍMICA

A membrana plasmática das células é impermeável à glicose 6-fosfato, pois não há proteínas
carreadoras específicas para esse composto. Assim, depois dessa reação, a glicose 6-fosfato não consegue
sair da célula, o que garante a continuação da glicólise.

A reação de fosforilação da glicose é considerada uma forma de ativá-la. A partir dela, é possível
continuar o processo de degradação da glicose.

A hexoquinase é uma das enzimas regulatórias da glicólise, juntamente com a fosfosfrutoquinase e


a piruvato quinase. Essas enzimas serão estudadas mais adiante.

Reação 2: isomerização da glicose 6-fosfato

A reação de glicose 6-fosfato para frutose 6-fosfato é catalisada pela enzima fosfoglicoisomerase,
também chamada de fosfohexose isomerase (figura a seguir).

Observação

Isomerases são enzimas que convertem um isômero no outro. Isômeros


são substâncias que têm a mesma fórmula molecular, mas diferentes
fórmulas estruturais.
6
1
CH2OH P 6
P OCH2 O CH2OH
5
C O Fosfoglicoisomerase 5 C C 2
4 C OH C1 HO
HO OH
HO C3 C2
OH 4 C C
3
OH
OH
Glicose 6-fosfato
Frutose 6-fosfato

Figura 24 – A reação que transforma a glicose 6-fosfato em frutose


6-fosfato é catalisada pela enzima fosfoglicoisomerase

Essa reação é reversível, sendo que tanto a glicose 6-fosfato pode formar frutose 6-fosfato quanto
o inverso pode acontecer. O que dita qual reação ocorrerá é a quantidade de cada substância. Caso
exista grande quantidade da primeira, esta será convertida na segunda e caso haja grande quantidade
da segunda, esta será convertida na primeira.

Há sempre uma maior quantidade de glicose 6-fosfato em relação à frutose 6-fosfato, pois esta é
consumida pela próxima reação da glicólise e, portanto, a reação ocorre no sentido da conversão de
glicose 6-fosfato em frutose 6-fosfato.

33
Unidade I

Reação 3: fosforilação da frutose 6-fosfato

A fosforilação da frutose 6-fosfato é similar à da glicose. A frutose 6-fosfato recebe um grupo


fosfato, que é transferido da molécula de ATP através da ação de uma quinase: a fosfofrutoquinase. Essa
reação é irreversível e é considerada a segunda ativação da glicólise (figura a seguir).
6 1 6 1
P OCH2 O CH2OH P OCH2 O CH2OH P

5 C C 2
Fosfofrutoquinase
5 C C 2
HO HO
HO OH HO OH
4 C C 4 C C
3 ATP ADP 3

OH OH
Frutose 6-fosfato Frutose 1,6-difosfato

Figura 25 – A frutose 6-fosfato é fosforilada utilizando ATP e a fosfofrutoquinase


como enzima. A seta para cima indica o consumo de ATP e a seta para baixo indica a produção de ADP

O produto formado nessa reação, a frutose 1,6-difosfato, também pode ser chamado de frutose
1,6-bifosfato ou frutose 1,6-bifosfato.

Observação

O nome frutose 1,6-difosfato indica que ela apresenta dois grupos


fosfatos, um próximo ao carbono 1 e outro ao carbono 6.

Reação 4: quebra da molécula frutose 1,6-difosfato

A próxima reação da glicólise é a quebra da frutose 1,6-difosfato em duas moléculas: gliceraldeído 3-fosfato
e diidroxiacetona fosfato. Essa reação é catalisada pela enzima aldolase e é reversível (figura a seguir).

H C O

6 1 H C OH
P OCH2 O CH2O P
Aldolase CH2OH P
5 C C 2
HO Gliceraldeído 3-fosfato
HO OH +
4 C C P
3 CH2O
OH C O
Frutose 1,6-difosfato
CH2OH
Diidroxiacetona fosfato

Figura 26 – A frutose 1,6-difosfato é quebrada em gliceraldeído 3-fosfato


e diidroxiacetona fosfato pela ação da enzima aldolase

34
BIOQUÍMICA

Observação

Nessa reação, uma molécula que contém 6 carbonos é quebrada em


2 moléculas, cada uma com 3 carbonos.

Reação 5: conversão de gliceraldeído 3-fosfato em diidroxiacetona fosfato

A diidroxiacetona fosfato é transformada em gliceraldeído 3-fosfato por meio da enzima triose


fosfato isomerase. A enzima que faz essa conversão é uma isomerase, pois gliceraldeído 3-fosfato e
diidroxiacetona fosfato são isômeros (figura a seguir).

CH2O P Triose fosfato H C O


isomerase
C O H O OH

CH2OH CH2O P
Diidroxiacetona fosfato Gliceraldeído 3-fosfato

Figura 27 – A diidroxiacetona fosfato é transformada em


gliceraldeído 3-fosfato por intermédio da ação da triose fosfato isomerase

Essa reação é de extrema importância para a continuação da via glicolítica, pois apenas o gliceraldeído
3-fosfato é substrato para a próxima enzima.

Juntando as reações 4 e 5, pode-se dizer que a frutose 1,6-difosfato gera 2 moléculas de gliceraldeído
3-fosfato e que, portanto, cada molécula de glicose gera 2 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato. Após
essa reação, todos os outros intermediários da glicólise serão duplicados.

As cinco primeiras reações da glicólise são: fosforilação da glicose, isomerização da glicose


6-fosfato, fosforilação da frutose 6-fosfato, quebra da molécula frutose 1,6-difosfato e conversão de
diidroxiacetona fosfato em gliceraldeído 3-fosfato. Essas reações fazem parte da primeira etapa da
glicólise, que é a de investimento ou preparatória. Nela, há consumo de energia na forma de ATP para a
preparação da molécula glicólise, permitindo que ela seja degradada e que a energia nela presente seja
obtida (figura a seguir).

35
Unidade I

Glicose
Hexoquinase ou glicoquinase
Gasto de ATP
Glicose 6-fosfato

Fosfoglicoisomerase

Frutose 6-fosfato Fase de investimento


Fosfofrutoquinase ou preparatória
Gasto de ATP
Frutose 1,6-difosfato
Gasto de 2 moléculas
aldose de ATP

Diidroxiacetona Gliceraldeído
fosfato 3-fosfato
Triose fosfato
isomerase

Gliceraldeído
3-fosfato

Figura 28 – Na fase de investimento ou fase preparatória, são formadas duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato.
Nessa fase, há um gasto de duas moléculas de ATP. Apenas duas reações dessa fase são irreversíveis

As próximas reações fazem parte da fase de pagamento ou fase de produção da glicólise, na qual
ocorre a produção de moléculas de ATP e de NADH, que posteriormente serão transformadas em ATP.

Reação 6: transformação de gliceraldeído 3-fosfato em 1,3-difosfoglicerato

A primeira reação da fase de produção é a transformação das duas moléculas de gliceraldeído


3-fosfato, geradas na fase de investimento, em duas moléculas de 1,3-difosfoglicerato.

O
H C O
Gliceraldeído 3-fosfato C O P
H C OH desidrogenase
H C OH
CH2OH P CH2O P

Gliceraldeído 3-fosfato Pi NAD+ NADH 1,3-difosfoglicerato

Figura 29 – Transformação de giceraldeído 3-fosfato em 1,3-difosfiglicerato

A reação da figura anterior é catalisada pela enzima gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase e depende
de NAD+ e fosfato inorgânico (Pi). A seta para cima indica as substâncias que estão sendo consumidas,
Pi e NAD+; e a seta para baixo indica a substância que está sendo formada, NADH.

Muitas enzimas precisam associar-se a outras moléculas para poderem exercer a função de
acelerar as reações químicas. Quando se associam a moléculas orgânicas não proteicas, recebem o
36
BIOQUÍMICA

nome de coenzimas. Elas podem atuar de duas maneiras: associando-se no momento da catálise
ou encontrando-se covalentemente ligadas à enzima. As coenzimas que se associam somente no
momento da catálise podem atuar como coenzimas de várias outras enzimas.

NAD+ é um exemplo de coenzima que só se associa à enzima no momento da catálise. Ela é derivada
da vitamina nicotinamida (B5).

Essa é a primeira reação de oxidorredução da glicólise.

Observação

Reações de oxidorredução são aquelas que envolvem transferência de


elétrons. A espécie que recebe elétrons sofre redução, e a que perde elétrons
sofre oxidação.

NAD+ representa a forma oxidada, e NADH representa a forma reduzida, portanto, para a coenzima
NAD+ se transformar em NADH, ela precisa ganhar elétrons; para a reação inversa, ou seja, para NADH
se transformar em NAD+, ela precisa perder elétrons.

A figura anterior mostra que NAD+ é transformado em NADH e que, portanto, trata-se de uma
reação de redução. Como uma reação de redução está sempre acoplada a uma de oxidação, pode-se
dizer que a molécula de gliceraldeído 3-fosfato sofre uma reação de oxidação.

A molécula de NADH é extremamente importante, pois ela armazena parte da energia contida na
glicose. Posteriormente essa molécula será transformada em ATP.

O NAD+ está em quantidade limitante na célula, portanto o NADH produzido deve voltar à forma
de NAD+, para que ele possa ser utilizado novamente por intermédio de uma reação de oxidação.
O mecanismo de oxidação do NADH depende da disponibilidade de oxigênio. Na ausência de oxigênio,
o piruvato é reduzido, sendo convertido em lactato, e o NADH é oxidado, sendo convertido em NAD+.
Na presença de oxigênio, o NADH é oxidado por meio da cadeia de transporte de elétrons.

Lembrete

Como são formadas duas moléculas de gliceraldeído 3-fosfato na


fase de investimento na reação 6, são formadas duas moléculas de
1,3-difosfoglicerato e duas moléculas de NADH.

Reação 7: transformação de 1,3-difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato

A segunda reação da fase de produção é a transformação de 1,3-difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato


através da ação da enzima fosfoglicerato quinase. Nessa reação, ocorre a produção de uma molécula de
ATP por molécula de 1,3-difosfoglicerato (figura a seguir).
37
Unidade I

O
Fosfoglicerato COO-
C O P quinase
H C OH H C OH

CH2O P CH2O P
ADP ATP
1,3-difosfoglicerato 3-fosfoglicerato

Figura 30 – Transformação de 1,3 difosfoglicerato em 3-fosfoglicerato


graças à ação da enzima fosfoglicerato quinase

Observação

A fosfoglicerato quinase catalisa uma reação reversível, diferentemente


da maioria das enzimas quinases.

Reação 8: transformação de 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato

A terceira reação da fase de investimento é a transformação de 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato


(figura a seguir).

COO- Fosfoglicerato COO-


mutase
H C OH H C O P

CH2O P CH2OH
3-fosfoglicerato 2-fosfoglicerato

Figura 31 – Transformação de 3-fosfoglicerato em 2-fosfoglicerato pela ação da enzima fosfoglicerato mutase

Nessa reação, observa-se a troca do grupo fosfato de um carbono para o outro.

Reação 9: transformação de 2-fosfoglicerato em fosfoenolpiruvato

A quarta reação da fase de produção é a transformação de 2-fosfoglicerato em fosfoenolpiruvato


(figura a seguir).

COO- COO-
Enolase
H C O P C O P

CH2OH CH2
2-fosfoglicerato Fosfoenolpiruvato

Figura 32 – Transformação de 2-fosfoglicerato em fosfoenolpiruvato pela ação da enzima enolase

38
BIOQUÍMICA

Reação 10: transformação de fosfoenolpiruvato em piruvato

A quinta e última reação da fase de produção é a transformação de fosfoenolpiruvato em piruvato.


Nessa reação, ocorre a formação de uma molécula de ATP para cada molécula de fosfoenolpiruvato
(figura a seguir).

COO- COO-
Piruvato quinase
C O P C O

CH2 CH3
ADP ATP
Fosfoenolpiruvato Piruvato

Figura 33 – Transformação de fosfoenolpiruvato em piruvato por meio da ação da piruvato quinase

As reações de 6 a 10 fazem parte da fase de produção da glicólise e têm como principais produtos
a formação de quatro moléculas de ATP, duas moléculas de NADH e duas moléculas de piruvato
(figura a seguir).

2 (Gliceraldeído 3-fosfato)
Gliceraldeído 3-fosfato
desidrogenase

Produção de 2 NADH
2 (1,3-Difosfoglicerato)
Fosfoglicerato
quinase

Produção de 2 ATP

2 (3-Fosfoglicerato)
Fase de produção
Fosfoglicerato ou pagamento
mutase
Produção de 2 moléculas de ATP
e de 2 moléculas de NADH
2 (2-Fosfoglicerato)

Enolase

2 (Fosfoenolpiruvato)
Piruvato
quinase

Produção de 2 ATP

2 (Piruvato)

Figura 34 – Fase de produção ou pagamento

39
Unidade I

Resumindo as reações da glicólise aeróbica, temos:

• Reação 1: glicose + ATP → glicose 6-fosfato + ADP.

• Reação 2: glicose 6-fosfato ↔ frutose 6-fosfato.

• Reação 3: frutose 6-fosfato + ATP → frutose 1,6-difosfato.

• Reação 4: frutose 1,6-difosfato ↔ gliceraldeído 3-fosfato + diidroxiacetona fosfato.

• Reação 5: diidroxiacetona fosfato ↔ gliceraldeído 3-fosfato.

• Reação 6: 2 (gliceraldeído 3-fosfato) + 2 NAD+ + 2 Pi ↔ 2 (1,3-difosfoglicerato) + 2 NADH.

• Reação 7: 2 (1,3-difosfoglicerato) ↔ 2 (3-fosfoglicerato).

• Reação 8: 2 (3-fosfoglicerato) ↔ 2 (2-fosfoglicerato).

• Reação 9: 2 (2-fosfoglicerato) ↔ 2 (fosfoenolpiruvato).

• Reação 10: 2 (fosfoenolpiruvato) → 2 (piruvato).

Existem pessoas que apresentam deficiência na enzima piruvato quinase, que causa a anemia
hemolítica, ou seja, a baixa quantidade de eritrócitos devido à sua destruição. Os eritrócitos maduros
obtêm energia apenas da glicólise, pois as próximas fases da respiração celular acontecem nas
mitocôndrias, e essas células não as possuem. Sem energia, os eritrócitos não conseguem manter sua
forma bicôncava e flexível, o que causa sua destruição. A gravidade dessa doença depende do grau de
deficiência; sua forma mais grave requer transfusões regulares de sangue.

2.2.8 Metabolismo da sacarose e lactose

Lembrete

A sacarose é hidrolisada em glicose, e a frutose e a lactose são


hidrolisadas em galactose e glicose.

O destino da glicose já foi discutido; agora examinaremos o da frutose e o da galactose.

Como a frutose e a galactose são monossacarídeos, são absorvidas e metabolizadas, em sua maior
parte, pelo fígado.

No fígado, a frutose é convertida, por três reações, em diidroxiacetona fosfato e gliceraldeído


3-fosfato; no músculo e no tecido adiposo, a frutose é convertida em frutose 6-fosfato. A galactose é
convertida, por quatro reações, em glicose 6-fosfato (figura a seguir).

40
BIOQUÍMICA

Glicose

Galactose Glicose 6-fosfato

músculo
Frutose 6-fosfato Frutose

Frutose 1,6-fosfato
fígado

Diidroxiacetona Gliceraldeído
3-fosfato

Figura 35 – Metabolismo da frutose e galactose.


Ambos os monossacarídeos formam intermediários da glicólise

Uma das reações do metabolismo da galactose é catalisada pela enzima galactose 1-fosfato uridil
transferase. A deficiência hereditária dessa enzima provoca uma doença chamada galactosemia, que
se manisfesta após o nascimento e leva a um retardo no desenvolvimento físico e mental. Devido a
essa deficiência, a galactose é transformada em galactitol por meio da ação da enzima aldose redutase.
O acúmulo dessa substância no cristalino leva à catarata. Os efeitos dessa doença podem ser evitados se
ela for diagnosticada precocemente e se a lactose for suprimida da dieta.

Saiba mais

Você pode obter mais informações sobre o assunto no seguinte texto:

CAMELO JÚNIOR, J. S. et al. Avaliação econômica em saúde: triagem


neonatal da galactosemia. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, n. 4,
p. 666–676, abr. 2011.

A frutose é convertida em diidroxiacetona fosfato e gliceraldeído 3-fosfato por meio das reações
mostradas a seguir:

• Reação 1: frutose + ATP → frutose 1-fosfato + ADP + H+.

• Reação 2: frutose 1-fosfato ↔ diidroxiacetona fosfato + gliceraldeído.

• Reação 3: gliceraldeído + ATP → gliceraldeído 3-fosfato + ADP + H+.

As reações 1, 2 e 3 são catalisadas, respectivamente, pelas enzimas: frutoquinase, triose fosfato


aldolase e triose quinase.

41
Unidade I

Existem pessoas que têm deficiência na enzima triose fosfato aldolase, o que resulta em intolerância
à frutose, também chamada de frutosemia. Essa doença é um erro inato do metabolismo e é uma
herança autossômica recessiva. O tratamento consiste em uma dieta isenta de frutose.

Exemplo de aplicação

Será que é fácil seguir uma dieta isenta de frutose? Quais alimentos têm frutose em sua composição
e quais uma pessoa que tem frutosemia não poderá comer? Será que haverá deficiência em algum outro
nutriente devido à dieta isenta de frutose?

Faça uma pesquisa e reflita sobre isso.

Saiba mais

O vídeo a seguir mostra o relato de uma mulher com frutosemia:

MULHER de 30 anos não consegue comer absolutamente nenhum


doce. Produção de Rede Globo de Televisão. Rio de Janeiro: Globo.com,
2011. Disponível em: http://g1.globo.om/globo-reporter/noticia/2011/05/
mulher-de-30-anos-nao-consegue-comer-absolutamente-nenhum-doce.
html. Acesso em: 2 dez. 2019.

2.2.9 Glicólise anaeróbica

Em algumas células (como nos eritrócitos e leucócitos), no cristalino e na córnea do olho, na


medula renal, nos testículos e nas células com quantidades limitadas de oxigênio, ocorre a glicólise
anaeróbica, também chamada de fermentação láctica. A glicólise anaeróbica é idêntica à aeróbica, ou
seja, transforma uma molécula de glicose em duas moléculas de piruvato, porém nela existe uma etapa
adicional em que o piruvato é reduzido a lactato. Essa é uma reação de oxidorredução na qual o piruvato
é reduzido a lactato e o NADH é oxidado a NAD+. A reação é reversível e é catalisada pela enzima lactato
desidrogenase. Observe a figura a seguir:

COO- Lactato COO-


desidrogenase
C O P H C OH

CH3 CH2
NADH NAD+
Piruvato Lactato

Figura 36 – Redução do piruvato a lactato com a oxidação de


NADH e a ação da enzima lactato desidrogenase

42
BIOQUÍMICA

Nessa reação, o NAD+ é regenerado e pode ser utilizado novamente na reação de oxidação do
gliceraldeído 3-fosfato. Veja a figura a seguir:

Glicose

2 (Gliceraldeído
3-fosfato) 2 (NAD+)

2 (NADH) 2 (NAD+)

2 (1,3-Difosfoglicerato)

2 Piruvato 2 Lactato

Figura 37 – Relação entre o NAD+ consumido na reação de oxidação do


gliceraldeído 3-fosfato e o NAD+ produzido na reação de redução do piruvato

O lactato é lançado na corrente sanguínea e, em condições normais, pode ser utilizado, por exemplo,
como substrato da gliconeogênese – síntese de nova glicose – que ocorre no fígado ou no músculo.
O lactato pode ser oxidado, formando piruvato. Em condições como um colapso do sistema circulatório,
infarto do miocárdio, embolia pulmonar ou hemorragia não controlada, existe uma falha em levar
quantidades suficientes de oxigênio para todos os tecidos, com isso, aumenta a produção de lactato.
Esse excesso de lactato supera a capacidade que o fígado e o músculo têm de utilizá-lo, causando o
aumento da substância no plasma. Essa condição é denominada acidose láctica.

2.2.10 Outros destinos da molécula piruvato

O piruvato pode ser convertido em oxaloacetato, intermediário do ciclo de Krebs, por meio da reação
catalisada pela enzima piruvato carboxilase (figura a seguir).

COO- COO-
Piruvato
carboxilase C O + 2H+
C O + H2O + CO2
CH2
CH3
ATP ADP COO-
Piruvato Oxaloacetato

Figura 38 – Conversão de piruvato em oxaloacetato pela ação da enzima piruvato carboxilase

Essa reação é de carboxilação, pois envolve a entrada de uma molécula de dióxido de carbono (CO2).
Ela é extremamente importante, pois repõe o oxaloacetato do ciclo de Krebs. As reações que têm essa
função de reposição são chamadas de anapleróticas.

43
Unidade I

Outro destino para o piruvato, que não ocorre em humanos, mas em alguns fungos e em certos
micro-organismos, é a conversão de piruvato em etanol. Esse processo é chamado de fermentação
alcoólica e ocorre em duas etapas: a primeira é a descarboxilação do piruvato formando acetaldeído, e
a segunda é a redução de acetaldeído em etanol (figura a seguir).

A.
COO- H
Piruvato
descarboxilase
C O + H+ C O + CO2
TPP
CH3 CH3
Piruvato Acetaldeído

B.
H Álcool OH
desidrogenase
C O + NADH + H+ H3C C H + NAD+

CH3 H
Acetaldeído Etanol

Figura 39 – Transformação de piruvato em etanol

Na primeira etapa da transformação de piruvato em etanol, ele é convertido em acetaldeído por


meio da ação da enzima piruvato descarboxilase e da coenzima TPP (tiamina pirofosfato). Na segunda,
o acetaldeído é reduzido a etanol, tendo como coenzima o NADH, que é oxidado a NAD+; essa reação é
catalisada pela enzima álcool desidrogenase.

As conversões do piruvato em lactato e em etanol ocorrem em condições anaeróbicas e, por isso, são
processos chamados de fermentação láctica e fermentação alcoólica, respectivamente.

Saiba mais

Para ter mais informações, consulte:

RODRIGUES, J. R. et al. Uma abordagem alternativa para o estudo da


função álcool. Química nova na escola, Rio de Janeiro, n. 12, p. 20-23,
nov. 2000. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc12/v12a05.
pdf. Acesso em: 3 dez. 2019.

Em condições aeróbicas, o piruvato pode ser transformado em acetil-CoA. Essa conversão ocorre no
interior da mitocôndria, na matriz mitocondrial. Existe uma translocase específica que faz o transporte
do piruvato para o interior da mitocôndria.

Na matriz mitocondrial, o piruvato é convertido em acetil-CoA pelo complexo multienzimático da


piruvato desidrogenase (figura a seguir).
44
BIOQUÍMICA

COO- Coenzima A
Complexo
multienzimático
C O + Coenzima A + NAD+ C O + NADH + CO2

CH3 CH3
Piruvato Acetil-CoA

Figura 40 – Conversão de piruvato em acetil-CoA. O piruvato é transformado em


acetil-CoA por intermédio de um complexo multienzimático e da redução de NAD+

Esse complexo é composto por três enzimas, a piruvato desidrogenase (E1, também chamada
descarboxilase), a diidrolipoil-transacetilase (E2) e a diidrolipoil-desidrogenase (E3). Cada uma dessas
enzimas atua numa etapa da catálise. Esse complexo multienzimático necessita de cinco coenzimas: a
E1 necessita de tiamina-pirofosfato, a E2 necessita de ácido lipoico e coenzima A e a E3 necessita de FAD
(flavina adenina dinucleotídeo) e NAD+.

A causa bioquímica mais comum de acidose láctica congênita é a deficiência do complexo


mutienzimático da piruvato-desidrogenase. Essa deficiência impede a conversão de piruvato em
acetil-CoA. Assim, o destino do piruvato é ser transformado em lactato. A principal consequência
ocorre para o encéfalo, que é extremamente sensível à acidose. A forma grave dessa doença causa
morte neonatal. A forma moderada pode causar morte no início da infância, já a forma mais leve
causa ataxia – incapacidade de controlar movimentos voluntários – episódica, induzida por refeições
ricas em carboidratos.

Como vimos anteriormente, o piruvato pode ter quatro destinos: formação de lactato (fermentação
láctica), formação de oxaloacetato (reação anaplerótica), formação de etanol (fermentação alcoólica) e
formação de acetil-CoA (substrato do ciclo de Krebs).

Piruvato
Reação Respiração
anaplerótica celular

Oxaloacetato Acetil-CoA
Fermentação Fermentação
láctica alcoólica
Ciclo de Krebs

Lactato Etanol Cadeia de transporte


de elétrons

Fosforilação
oxidativa

ATP, CO2 e H2O

Figura 41 – Destinos do piruvato

45
Unidade I

2.2.11 Via das pentoses fosfato

A via das pentoses é uma via anaeróbica alternativa de oxidação da glicose. Nesse processo, duas moléculas
importantes são formadas: a ribose 5-fosfato, relevante para a biossíntese de nucleotídeos; e a coenzima
reduzida NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato), que atua como agente redutor na biossíntese
dos ácidos graxos, dos esteróis (como o colesterol) e da glutationa, nas hemácias. Nessas reações de redução,
a coenzima passa à forma NADP+ e volta à sua forma reduzida, NADPH, na via das pentoses fosfato.

Observação

As coenzimas NAD+ e NADPH têm papéis opostos: NAD+ é utilizada quando


o substrato está sendo oxidado e NADPH, quando está sendo reduzido.

Na via das pentoses fosfato, a energia é armazenada sob a forma de poder redutor, ou seja, da
coenzima NADPH.

A via das pentoses fosfato é dividida em duas fases: a oxidativa e a não oxidativa. Ela ocorre no
citoplasma, é anaeróbica e é bastante ativa no fígado, nas glândulas mamárias, no tecido adiposo e nas
hemácias. No fígado, cerca de 30% do total de oxidação da glicose ocorrem pela via das pentoses fosfato.

A seguir serão representadas as reações da fase oxidativa.

Reação 1: ativação da glicose

A primeira reação da via das pentoses fosfato é igual à primeira da via glicolítica, em que a glicose é
transformada em glicose 6-fosfato à custa de uma molécula de ATP.

Reação 2: conversão de glicose 6-fosfato em 6-fosfogliconolactona

A conversão de glicose 6-fosfato em 6-fosfogliconolactona é catalisada pela enzima glicose


6-fosfato desidrogenase, que é a enzima-chave dessa via. Nessa reação, o NADP+ é reduzido e forma
NADPH. Trata-se de uma reação reversível (figura a seguir).
6 6
CH2O P CH2O P
5 Glicose 6-fosfato 5
C O desidrogenase C O
1
4 C OH C1 4 C OH C 0

HO C3 C2 HO C3 C2
OH
OH NADP+ NADPH OH
Glicose 6-fosfato 6-fosfogliconolactona

Figura 42 – Conversão de glicose 6-fosfato em 6-fosfogliconolactona


por meio da ação da enzima glicose 6-fosfato desidrogenase

46
BIOQUÍMICA

Reação 3: conversão de 6-fosfogliconolactona em ácido 6-fosfoglicônico

A 6-fosfogliconolactona é convertida em ácido 6-fosfoglicônico por intermédio da enzima lactonase


(figura a seguir).
6
CH2O P COOH
5
C O H C OH
1 Lactonase
4 C OH C 0
H C OH
HO C3 C2
H C OH
OH H2O H C OH
6-fosfogliconolactona
CH2O P
Ácido 6-fosfoglicônico

Figura 43 – Conversão de 6-fosfogliconolactona em ácido 6-fosfoglicônico pela ação da enzima lactonase

Reação 4: conversão de ácido 6-fosfoglicônico em D-ribulose-5-fosfato

A conversão do ácido 6-fosfoglicônico em D-ribulose-5-fosfato é uma reação de oxidação em


que o NADP+ é reduzido formando NADPH. Ela é reversível e catalisada pela enzima 6-fosfogliconato
desidrogenase. Nessa reação ocorre a liberação de CO2 (figura a seguir).

COOH H2C OH

H C OH 6-fosfoglicônico C O
desidrogenase
H C OH H C OH
H C OH H C OH
H C OH NADP+ NADPH CO2 CH2O P
CH2O P
Ácido 6-fosfoglicônico D-Ribulose 5-fosfato

Figura 44 – Conversão de ácido 6-fosfoglicônico em D-ribulose-5-fosfato


pela ação da enzima 6-fosfogliconato desidrogenase

Observação

A ribulose apresenta cinco carbonos, por isso é classificada como


uma pentose.

Na fase oxidativa da via das pentoses fosfato, a partir de uma molécula de glicose, são formadas:
uma molécula de D-ribulose 5-fosfato, duas moléculas de NADPH e uma molécula de CO2.

47
Unidade I

O NADPH é oxidado em reações de redução, como na síntese de ácidos graxos, formando NADP+, que
pode ser reutilizado na via das pentoses.

A próxima fase é não oxidativa. Sua primeira reação é a transformação de D-ribulose 5-fosfato em
ribose 5-fosfato, pela ação de uma isomerase, ou a transformação em xilulose 5-fosfato, pela ação de
uma epimerase. Tanto a ribose 5-fosfato quanto a xilulose 5-fosfato têm cinco carbonos e, portanto, são
pentoses. Essas pentoses são convertidas em açúcares fosforilados com número de carbono que varia
entre três e sete. Todas as reações dessa fase são reversíveis.

A cada três moléculas de ribose 5-fosfato, são formadas duas moléculas de frutose 6-fosfato e
uma molécula de gliceraldeído 3-fosfato. Essas moléculas são intermediárias da via glicolítica e são
consumidas por ela.

Existe uma patologia relacionada à deficiência da enzima glicose 6-fosfato desidrogenase, a principal
enzima da via das pentoses fosfato. A ausência dessa enzima gera falta de NADPH, o que ocasiona
anemia hemolítica devido à deficiência no processo de redução da glutationa, a qual é importante para
a manutenção da integridade da membrana das hemácias. Na maioria dos casos, existe apenas uma
deficiência da enzima glicose 6-fosfato desidrogenase, e não sua ausência; com essa atividade residual,
as pessoas afetadas conseguem levar uma vida normal.

Essa patologia causa uma vantagem em relação à contração da malária, doença causada pelo
parasita Plasmodium falciparum, o qual tem parte do seu ciclo de vida nas hemácias. Os portadores
dessa deficiência são incapazes de abrigar esses parasitas em suas hemácias e, portanto, interrompem
o ciclo de vida do parasita.

2.2.12 Ciclo de Krebs

O acetil-CoA proveniente da descarboxilação do piruvato é oxidado até CO2 por meio do ciclo de
Krebs, também chamado de ciclo do Ácido Cítrico ou ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos.

O ciclo de Krebs é formado por uma sequência de oito reações, pois o oxaloacetato, um intermediário
do ciclo de Krebs, é uma molécula que faz parte da primeira reação como substrato, mas também da
última, como produto. O ciclo de Krebs ocorre na matriz mitocondrial. As oito reações que o integram
serão detalhadas a seguir:

Reação 1: síntese do citrato a partir de acetil-coA e oxaloacetato

Na primeira reação do ciclo de Krebs, o acetil-CoA, proveniente da descarboxilação do piruvato,


reage com oxaloacetato pela ação da enzima citrato sintase. Essa reação é irreversível (figura a seguir).

48
BIOQUÍMICA

COO-
Coenzima A
C O H2C COO-
C O + Citrato sintase
CH2 HO C COO-
CH3
H2C COO-
Acetil-CoA COO- H2O Coenzima A
Oxaloacetato Citrato

Figura 45 – Condensação do acetil-CoA com oxaloacetato através da ação da enzima aconitase

Nessa reação, pode-se observar que o acetil-CoA tem dois átomos de carbono, o oxaloacetato tem
quatro e o produto, citrato, tem seis.

Lembrete

Um dos destinos do piruvato é a formação do oxaloacetato, um


importante intermediário do ciclo de Krebs.

Reação 2: conversão do citrato no seu isômero isocitrato

Na segunda reação do ciclo de Krebs, ocorre apenas a troca de posição de um grupamento hidroxila
pela ação enzima aconitase. Como o citrato e o isocitrato são isômeros, essa é uma reação de isomerização
(figura a seguir).

H2C COO- H2C COO-


Aconitase
HO C COO- H C COO-

H2C COO- H C COO-

OH

Citrato Isocitrato

Figura 46 – Conversão de citrato em isocitrato pela ação da enzima aconitase

Reação 3: descarboxilação oxidativa do isocitrato

Na terceira reação do ciclo de Krebs, o isocitrato é transformado em α-cetoglutarato pela ação da


enzima isocitrato desidrogenase. Essa é uma reação de oxirredução que envolve a coenzima NAD+ e a
liberação de CO2 (figura a seguir).

49
Unidade I

H2C COO- Isocitrato H2C COO-


desidrogenase
H C COO- H C H

H C COO- C COO-
CO2 NAD+ NADH
OH O
Isocitrato a-cetoglutarato

Figura 47 – Descarboxilação oxidativa do isocitrato por intermédio da ação da enzima isocitrato desidrogenase

O isocitrato tem seis átomos de carbono. Para a formação do α-cetoglutarato, ocorre a perda de um
átomo de carbono na forma de CO2, sendo assim, o α-cetoglutarato ficará com cinco átomos de carbono.

Reação 4: descarboxilação oxidativa do α-cetoglutarato

A transformação de α-cetoglutarato em succinil-CoA é catalisada por um complexo multienzimático


chamado de complexo α-cetoglutarato desidrogenase.

Lembrete

A reação de descarboxilação do piruvato também é catalisada por um


complexo multienzimático da piruvato desidrogenase.

Esse complexo necessita das coenzimas tiamina pirofosfato, ácido lipoico, FAD, NAD+ e coenzima A.

Nessa reação, ocorre a redução do NAD+ e a produção de CO2 (figura a seguir).

H2C COO- Isocitrato H2C COO-


desidrogenase
H C COO- H C H

H C COO- C COO-
CO2 NAD+ NADH
OH O
Isocitrato a-cetoglutarato

Figura 48 – Conversão do α-cetoglutarato em succinil-CoA por intermédio


da ação do complexo isocitrato desidrogenase

Reação 5: clivagem do succinil-CoA

A reação de quebra do succinil-CoA formando succinato é catalisada pela enzima succinil-CoA


sintetase, também chamada de succinato tiocinase (figura a seguir).

50
BIOQUÍMICA

H2C COO- Succinil-CoA H2C COO-


sintetase
H C H H C H

C Coenzima A C COO-
Coenzima A GDP GTP
O
Succinato
Succinil-CoA

Figura 49 – Conversão de succinil-CoA em succinato por meio


da ação da enzima succinil-CoA sintetase

Essa reação está acoplada à fosforilação e à GDP (guanosina difosfato) com a consequente produção
de GTP (guanosina trifosfato). O GTP e o ATP são energeticamente interconversíveis pela reação da
nucleosídeo difosfato quinase:

GTP + ADP↔ GDP + ATP

Reação 6: oxidação do succinato

O succinato é oxidado a fumarato pela enzima succinato desidrogenase. A coenzima utilizada nessa
reação é a molécula FAD que é reduzida a FADH2 (figura a seguir).

H2C COO- Succinato COO-


desidrogenase
H C H H C

C COO- H C
FAD FADH2 COO-
Succinato Fumarato

Figura 50 – Conversão de succinato em fumarato pela ação da enzima succinato desidrogenase

Reação 7: hidratação do fumarato

A hidratação do fumarato por meio da ação da enzima fumarase, também chamada de fumarato
hidratase, resulta na formação de malato (figura a seguir).

COO- COO-

H C Fumarase H C H
+ H2O
H C H C OH

COO- COO-
Fumarato Malato

Figura 51 – Conversão de fumarato em malato pela ação da enzima fumarase

51
Unidade I

Reação 8: oxidação do malato

O malato é oxidado a oxaloacetato por meio da ação da enzima malato desidrogenase. Nessa reação,
a molécula reduzida é NAD+ (figura a seguir).

COO- COO-
Malato
H C desidrogenase C O

H C CH2

COO- COO-
NAD+ NADH
Fumarato Oxaloacetato

Figura 52 – Conversão de fumarato em oxaloacetato graças à ação da enzima malato desidrogenase

Resumindo as reações do ciclo de Krebs, temos:

• Reação 1: acetil-CoaA + oxaloacetato → citrato

• Reação 2: citrato ↔ isocitrato

• Reação 3: isocitrato + NAD + ↔ α-cetoglutarato + NADH + CO2

• Reação 4: α-cetoglutarato + coenzima A + NAD+ → succinil-CoA + NADH + CO2

• Reação 5: succinil-CoA + GDP + Pi ↔ succinato + coenzima A + GTP

• Reação 6: succinato + FAD ↔ fumarato + FADH2

• Reação 7: fumarato + H2O ↔ malato

• Reação 8: malato + NAD + ↔ oxaloacetato + NADH

Observação

Na reação 1, tem-se o consumo de oxaloacetato e na 8, a formação de


oxaloacetato, por isso a série de reações do ciclo de Krebs forma um ciclo.

As reações do ciclo de Krebs foram representadas separadamente para melhor compreendê-las,


porém a notação mais comum para o ciclo de Krebs é a representação das reações de maneira que
forme um círculo (figura a seguir).

52
BIOQUÍMICA

Acetil-CoA

Oxaloacetato Citrato

Isocitrato
Malato

a-cetoglutarato

Fumarato

Succinil-CoA

Succinato

Figura 53 – Ciclo de Krebs

Na presença de oxigênio, a glicose proveniente da digestão dos polissacarídeos da dieta passa pela
glicólise aeróbica, na qual ocorre a formação de duas moléculas de piruvato, que são transformadas em
duas de acetil-CoA; estas últimas, por sua vez, são oxidadas pelo ciclo de Krebs. Como são obtidas duas
moléculas de acetil-CoA, todos os outros intermediários do ciclo de Krebs são duplicados.

Segue uma visão geral do processo que ocorre na presença de oxigênio (figura a seguir).

53
Unidade I

Glicose

Glicose 6-fosfato

Frutose 6-fosfato

Frutose 1,6-fosfato

Diidroxiacetona + Gliceraldeído
3-fosfato

Gliceraldeído
3-fosfato

2 (Gliceraldeído 3-fosfato)

2 (1,3-Difosfoglicerato)

2 (3-Fosfoglicerato)

2 (Fosfoenolpiruvato)

2 (Piruvato)

2 (Acetil-CoA)

2 oxaloacetato 2 citrato

2 malato
2 isocitrato

2 fumarato
2 a-cetoglutarato

2 succinil-CoA
2 succinato

Figura 54 – Intermediários da via glicolítica e do ciclo de Krebs

54
BIOQUÍMICA

Essa via também pode ser representada evidenciando a quantidade de átomos de carbono e a
liberação de dióxido de carbono (figura a seguir).

6C

6C

6C

6C

3C + 3C

3C

3C

3C

3C

3C

3C
Liberação de CO2
2C

4C 6C

4C 6C
Liberação de CO2

5C
4C

Liberação de CO2
4C
4C

Figura 55 – Variação da quantidade de átomos de carbono na glicólise aeróbica e no ciclo de Krebs

55
Unidade I

Em relação à produção de energia, é importante conhecer a quantidade de moléculas de ATP, NADH


e FADH2 que são produzidas ou consumidas nesse processo. A figura a seguir mostra essa quantidade:

Glicose
Gasto de ATP
Glicose 6-fosfato

Frutose 6-fosfato

Frutose 1,6-fosfato
Gasto de ATP
Diidroxiacetona + Gliceraldeído
3-fosfato

Gliceraldeído
3-fosfato

2 (Gliceraldeído 3-fosfato)
Produção de 2 NADH
2 (1,3-Difosfoglicerato)

Produção de 2 ATP
2 (3-Fosfoglicerato)

2 (Fosfoenolpiruvato)
Produção de 2 ATP
2 (Piruvato)

Produção de 2 NADH
2 (Acetil-CoA)

2 oxaloacetato 2 citrato

Produção de 2 NADH
2 malato 2 isocitrato

Produção de 2 NADH

2 fumarato 2 a-cetoglutarato

Produção de 2 NADH
Produção de 2 FADH2
2 succinato 2 succinil-CoA

Produção de 2 GTP

Figura 56 – Produção de moléculas importantes para a obtenção de energia na glicólise aeróbica e no ciclo de Krebs

56
BIOQUÍMICA

Pode-se observar que da energia total disponível na molécula de glicose, uma pequena parte
foi utilizada para gerar energia na forma de ATP. Apenas um saldo final de duas moléculas de ATP é
produzido na glicólise e no ciclo de Krebs. O restante da energia permanece conservado nas coenzimas
que foram reduzidas. Elas serão oxidadas na cadeia de transporte de elétrons, e a energia armazenada
por elas será transformada em ATP num processo chamado de fosforilação oxidativa.

Lembrete

O GTP é convertido em ATP por meio da enzima nucleosídeo difosfato


quinase.

2.2.13 Cadeia de transporte de elétrons e fosforilação oxidativa

No processo de oxidação da glicose, ocorre a redução de várias coenzimas NAD+ e FADH, formando-se
NADH e FADH2, respectivamente. As coenzimas NADH precisam ser oxidadas para voltar à forma de
NAD+ a fim de que possam ser reutilizadas na oxidação de outras moléculas de glicose e também para
que a energia nelas armazenada possa ser utilizada na síntese de ATP.

Para a transformação das coenzimas em energia, a célula se utiliza de um gradiente de prótons


conseguido por meio da transferência dos elétrons das coenzimas para compostos inseridos nas cristas
mitocondriais. A transferência dos elétrons por esses compostos constitui a cadeia de transporte de
elétrons. Os elétrons são transferidos por esses compostos até o oxigênio, que é reduzido e produz água.
Através da energia potencial do gradiente de prótons, ocorre a síntese de ATP pela fosforilação de ADP
num processo chamado de fosforilação oxidativa.

Os compostos que fazem parte da cadeia de transporte de elétrons agrupam-se em quatro complexos
designados: I, II, III e IV. Existem dois componentes que não fazem parte de complexos, a coenzima Q
(CoQ), também conhecida como ubiquinona, que conecta os complexos I e II com o complexo III, e o
citocromo c, que conecta o complexo III com o complexo IV (figura a seguir).
Espaço intermembranas
C
I III IV

CoQ Membrana
interna
II

Matriz mitocondrial
Figura 57 – Distribuição dos complexos I, II, III e IV, da coenzima Q e do citocromo c na membrana interna da mitocôndria

Os elétrons presentes no NADH são transferidos para o complexo I, para a coenzima Q, para o
complexo III, para o citocromo c, para o complexo IV e, por fim, para o oxigênio (figura a seguir).
57
Unidade I

e- C e-
I III IV

e- e-
CoQ
e-
e- II

NADH O2

Figura 58 – Transporte dos elétrons a partir do NADH. As setas indicam


a trajetória dos elétrons, que estão representados por e-

Os elétrons presentes no succinato são transferidos para o complexo II, para a coenzima Q, para o
complexo III, para o citocromo c, para o complexo IV e, por fim, para o oxigênio (figura a seguir).

e- C
e-
I III IV

CoQ e-
e-
e-
II

e-
succinato O2

Figura 59 – Transporte dos elétrons a partir do succinato. As setas indicam


a trajetória dos elétrons, que estão representados por e-

O complexo I é formado por cerca de 26 cadeias polipeptídicas. A essas cadeias estão associados
1 molécula de flavina mononucleotídeo (FMN) e de 6 a 7 centros ferro-enxofre, os quais são formados
por íons de ferro e de enxofre.

A primeira transferência de elétrons ocorre do NADH para FMN. Nessa reação, o NADH fornece
elétrons para a redução do FMN, o qual é transformado em FMNH2:

NADH + H+ + FMN → NAD+ + FMNH2

Observação

Nessa reação, o NAD+ é regenerado e pode ser utilizado novamente na


glicólise aeróbica e no ciclo de Krebs.

Os íons de ferro e enxofre estão associados a resíduos de cisteína. Eles irão transportar os elétrons
da molécula FMN para a coenzima Q. Uma característica importante é que os centros de ferro e enxofre
58
BIOQUÍMICA

não recebem prótons e, portanto, os prótons são transferidos para o espaço intermembranas. Começa,
então, a formação do gradiente de prótons (figura a seguir).

2H+ Espaço
intermembranas
Fe2+- S

Fe3+- S e- Membrana
CoQ
interna
FMNH2

FMN
Matriz
NADH + H+ NAD+

Figura 60 – Complexo I e o transporte de elétrons. A seta vermelha indica a trajetória dos elétrons
provenientes de NADH. Os prótons são liberados no espaço intermembranas

No complexo II, está presente a enzima succinato desidrogenase, alguns centros Fe-S e o citocromo b560.

Lembrete

A enzima succinato desidrogenase faz parte do ciclo de Krebs e é a


única enzima que está associada à membrana, e não à matriz mitocondrial.

A enzima succinato desidrogenase tem como coenzima o FAD. Na reação catalisada por essa enzima,
o succinato é oxidado a fumarato, e o FAD é reduzido a FADH2. Os elétrons são transferidos primeiro para
os centros Fe-S e depois para a coenzima Q. Nem os centros Fe-S nem o citocromo b560 recebem prótons
e, portanto, os prótons presentes no FADH2 retornam à matriz mitocondrial, não contribuindo para o
gradiente de prótons (figura a seguir).
Espaço intermembranas

citb560
e-
Membrana
Fe2+- S CoQ interna

Fe3+- S

FADH2 Matriz

2H+ FAD

succinato fumarato

Figura 61 – Transporte de elétrons pelo complexo II. A seta vermelha indica a trajetória dos elétrons pelo complexo II.
Os elétrons do succinato são transferidos para o FAD, depois para os centros Fe-S, depois para o citocromo b560 e deste para a coenzima Q

59
Unidade I

A coenzima Q, também conhecida como ubiquinona ou simplesmente Q, pode receber um elétron


e um próton, originando o radical semiquinona, ou formar o ubiquinol, se receber dois elétrons e dois
prótons (figura a seguir).

O CH3

CH3O (CH2 CH C CH2)16 H


Ubiquinona

CH3O CH3
O

H+ + e-
O CH3

CH3O (CH2 CH C CH2)16 H


Semiquinona

CH3O CH3
OH

H+ + e-

OH CH3

CH3O (CH2 CH C CH2)16 H


Ubiquinol

CH3O CH3
OH

Figura 62 – A ubiquinona recebe um elétron e um próton e origina a semiquinona.


Esta última, por sua vez, recebe um elétron e um próton e origina o ubiquinol

A coenzima Q tem um papel muito importante no acoplamento da transferência de prótons e


elétrons, já que transporta as duas espécies.

60
BIOQUÍMICA

O complexo III é constituído por dois citocromos b, um centro Fe-S e pelo citocromo c1. Os elétrons
são transferidos da coenzima Q para os componentes do complexo III e deste para o citocromo c.
Na transferência de elétrons para o complexo III, prótons presentes na coenzima Q são liberados no
espaço intermembranas, contribuindo para o gradiente de prótons.

O citocromo c é uma proteína periférica e pequena que transporta elétrons do complexo III para o
complexo IV.

O complexo IV tem dois citocromos a – a e a3 –, que têm íons de cobre associados. O transporte exato
dos elétrons que esse complexo faz ainda não está bem definido, mas se conhecem algumas de suas
características: o transporte de elétrons por esses íons faz com que eles mudem do estado de oxidação
Cu2+ para Cu1+; o complexo IV doa quatro elétrons para a molécula de oxigênio e este capta prótons da
matriz mitocondrial, formando duas moléculas de H2O.

Em relação à contribuição do complexo IV para o estabelecimento do gradiente de prótons, pode-se


dizer que ele contribui de duas maneiras: liberando prótons no espaço intermembranas e captando
prótons da matriz mitocondrial para a formação de água (figura a seguir).

C Espaço
intermembranas

cita - Cu

Membrana
interna
cita3 - Cu

Matriz

O2
+ 2H2O
4H+

Figura 63 – Transporte de elétrons pelo complexo IV. Os elétrons saem do citocromo c,


são transferidos pelos citocromos presentes nesse complexo até reduzirem
o O2 que capta H+ da matriz mitocondrial, formando água

É importante esclarecer que, por meio de experimentos feitos isoladamente com os complexos,
descobriu-se a existência do transporte de prótons, porém o mecanismo exato desse transporte ainda
não foi totalmente elucidado.

61
Unidade I

A teoria quimiostática de Mitchell explica como o transporte de elétrons e o gradiente de prótons


estão acoplados à síntese de ATP. Segundo essa teoria, o transporte de elétrons acontece juntamente
com o de prótons para o espaço intermembranas. Como consequência desse processo, ocorre uma
concentração diferente de prótons no espaço intermembranas e na matriz mitocondrial. Como prótons
têm carga positiva, o espaço intermembranas fica carregado positivamente, e a matriz mitocondrial,
negativamente. Essa diferença de carga gera um potencial elétrico. A energia conservada nesse
gradiente eletroquímico é chamada de força próton-motriz. Os prótons voltam espontaneamente
para a matriz mitocondrial, sendo que a energia associada à força próton-motriz leva à síntese de ATP.
Como a membrana é impermeável aos prótons, eles retornam por meio da ATP sintase (figura a seguir).
+ + + + + + +
C +
I III IV Espaço
intermembranas
CoQ
+
II

- - - - - - +

-
Matriz ADP + Pi +
-

mitocondrial

H+ H+

ATP
-

ATP sintase +
-

Figura 64 – Diferença de cargas entre o espaço intermembranas e a matriz mitocondrial


e retorno dos prótons, por intermédio da ATP sintase, para a matriz mitocondrial
com aproveitamento da força próton-motriz para a síntese de ATP

Para cada NADH que transporta seus elétrons pelos complexos I, III e IV, há síntese de três moléculas
de ATP e, para cada succinato que reduz FAD a FADH2, há síntese de duas moléculas de ATP.

Sabendo quantas moléculas de ATP são produzidas a partir de NADH e FADH2, e sabendo o quanto
dessas moléculas é gerado na cadeia respiratória, pode-se calcular a quantidade total de ATP formado
(figura a seguir).

62
BIOQUÍMICA

Glicose
Gasto de ATP
Glicose 6-fosfato

Frutose 6-fosfato
Gasto de 2 ATP
Frutose 1,6-fosfato
Gasto de ATP
Diidroxiacetona + Gliceraldeído
3-fosfato

Gliceraldeído
3-fosfato

2 (Gliceraldeído 3-fosfato)
Produção de 2 NADH x 3 = 6 ATP
2 (1,3-Difosfoglicerato)

Produção de 2 ATP
2 (3-Fosfoglicerato)
Produção
de 4 ATP
2 (Fosfoenolpiruvato)
Produção de 2 ATP
2 (Piruvato)

Produção de 2 NADH x 3 = 6 ATP


2 (Acetil-CoA)

2 oxaloacetato 2 citrato
Produção de 2 NADH
x 3 = 6 ATP
2 malato 2 isocitrato

Produção de 2 NADH x 3 = 6 ATP

2 fumarato 2 a-cetoglutarato

Produção de 2 NADH x 3 = 6 ATP


Produção de 2 FADH2
x 2 = 2 ATP 2 succinil-CoA
2 succinato
Produção de 2 GTP = 2 ATP

Figura 65 – Conversão das moléculas de NADH e FADH2 em moléculas de ATP

Somando todas as moléculas de ATP produzidas e subtraindo as duas moléculas de ATP que foram
gastas na fase de investimento, obtém-se um rendimento de 38 moléculas de ATP.
63
Unidade I

A equação geral deste processo pode ser descrita da seguinte maneira:

C6H12O6 + 6 O2 + 38 ADP + 38 Pi → 6 CO2 + 6 H2O + 38 ATP

Na primeira etapa da oxidação da glicose, que compreende a conversão de glicose em duas moléculas
de piruvato, existe a produção de duas moléculas de NADH, porém esse NADH produzido está no citosol, e
a cadeia de transporte de elétrons ocorre na membrana interna da mitocôndria, que é impermeável tanto a
NADH quanto a NAD+. Para que o NADH produzido no citosol possa ser oxidado pela cadeia de transporte de
elétrons, há a necessidade de sistemas chamados de lançadeiras. Neles, os elétrons do NADH são transferidos
para um composto que pode atravessar a membrana interna da mitocôndria ou os elétrons são
transferidos para um composto que posteriormente pode retransferi-los para um componente da cadeia de
transporte de elétrons. Existem dois tipos de lançadeiras conhecidas que serão descritas a seguir:

• Lançadeira malato-aspartato: o NADH citosólico doa elétron para o oxaloacetato reduzindo-o a


malato. Essa reação é catalisada pela enzima malato desidrogenase presente no citosol. O malato
formado é permeável à membrana interna da mitocôndria, portanto entra nela carregando o
elétron fornecido pelo NADH. Dentro da mitocôndria, o malato transfere o elétron para o NAD+
formando NADH, e é oxidado a aspartato. Temos, portanto, a entrada do NADH na mitocôndria,
porém de maneira indireta. O oxaloacetato recebe um grupo amino do glutamato formando
aspartato, o qual sai da mitocôndria regenerando o oxaloacetato no citosol (figura a seguir).

Aspartato Aspartato

Oxaloacetato Oxaloacetato
-
e e-

NADH NADH

NAD+ NAD+

Malato Malato
Matriz
Citosol mitocondrial

Figura 66 – Lançadeira malato-aspartato

64
BIOQUÍMICA

Na lançadeira malato-aspartato, o elétron proveniente do NADH é transferido para o oxaloacetato e


origina o malato, que atravessa a membrana interna da mitocôndria e transfere o elétron para o NAD+,
formando o NADH. Esse processo gera NADH mitocondrial a partir de NADH citosólico. Esse sistema
atua nas células hepáticas, cardíacas e renais de mamíferos.

• Lançadeira do glicerol 3-fosfato: o NADH citosólico doa seu elétron para a diidroxiacetona
fosfato formando glicerol 3-fosfato. Essa reação é catalisada pela enzima glicerol 3-fosfato
desidrogenase. O glicerol 3-fosfato difunde-se até a face externa da membrana interna, em que
se localiza outra enzima glicerol 3-fosfato desidrogenase que contém FAD. O glicerol 3-fosfato
regenera a diidroxiacetona fosfato, produzindo FADH2, que, por meio de um centro Fe-S, entrega
seus elétrons à coenzima Q (figura a seguir).
Glicerol 3-fosfato
e- Glicerol 3-fosfato
desidrogenase
FAD
Fe-S
e-

CoQ

Figura 67 – Lançadeira do glicerol 3-fosfato. O glicerol 3-fosfato transfere seus elétrons


pela coenzima FAD da enzima glicerol 3-fosfato desidrogenase, passando pelo centro
Fe-S e depois os elétrons são transferidos para a coenzima Q

Esse sistema atua no músculo do voo dos insetos, em seu músculo esquelético (provavelmente) e no
cérebro de mamíferos. Nele, cada NADH gera apenas duas moléculas de ATP.

2.2.14 Degradação do glicogênio – glicogenólise

O glicogênio fica armazenado principalmente no fígado e nos músculos esqueléticos. A função do


glicogênio muscular é gerar ATP exclusivamente para a contração muscular. O glicogênio hepático tem
como função a manutenção da glicemia, ou seja, a quantidade de glicose na corrente sanguínea.

Quando o corpo necessita dos depósitos de glicogênio, ele passa por uma série de reações chamadas
de glicogenólise.

Lembrete

O amido é formado por moléculas de α-glicose conectadas linearmente


por ligações glicosídicas α-1,4 com ramificações em que as moléculas
estabelecem ligações glicosídicas α-1,6.

65
Unidade I

A degradação do glicogênio consiste na remoção dos resíduos de glicose. A primeira enzima que
atua nessa remoção é a glicogênio fosforilase, a qual catalisa a fosforólise da ligação glicosídica α-1,4;
resíduos de glicose 1-fosfato resultam dessa reação (figura a seguir).

CH2OH CH2OH
5 5
C O C O
4C OH 4C OH
C1 + C1
C3 C2 O C3 C2 O...
HO
OH OH

Ligação glicosídica a-1,4


Glicogênio com n resíduos
Pi
Glicogênio fosforilase
6 6
CH2OH CH2OH
5 5
C O C O
4C OH + 4C OH
C1 C1
C3 C2 C3 C2
HO O P HO O...
OH OH
Glicose 1-fosfato Glicogênio com n-1 resíduos

Figura 68 – Fosforólise do glicogênio gerando glicose 1-fosfato e


uma molécula de glicogênio com um resíduo a menos de α-glicose

A remoção dos resíduos de glicose acontece até o quarto resíduo antes de uma ramificação (figura
a seguir).

Glicogênio Glicogênio
fosforilase fosforilase
+ +
Glicose Glicose
a-1,6 a-1,6 1-fosfato a-1,6 1-fosfato

Figura 69 – A enzima glicogênio fosforilase retira resíduos de glicose até o quarto


resíduo antes da ramificação, que é feita por meio da ligação glicosídica α-1,6.
Os resíduos liberados são glicose 1-fosfato

O próximo passo é feito pela enzima desramificadora. Essa enzima apresenta dois domínios: um com
atividade de transferase e outro com atividade de glicosidase.

O domínio com atividade de transferase transfere três dos quatro resíduos de glicose deixados pela
enzima glicogênio fosforilase, formando uma nova ligação glicosídica α-1,4 (figura a seguir).

66
BIOQUÍMICA

Transferase

a-1,6 a-1,6

Figura 70 – Por meio da atividade de transferase da enzima desramificadora, três resíduos


da ramificação são transferidos para a parte linear da molécula de glicogênio

Os resíduos transferidos podem ser retirados pelo glicogênio fosforilase, pois apresentam ligações
glicosídicas α-1,4 entre eles (figura a seguir).

a-1,6 Glicogênio a-1,6


fosforilase
+
Glicose
1-fosfato

Figura 71 – Os resíduos que foram transferidos liberam glicose 1-fosfato


por intermédio da ação da enzima glicogênio fosforilase

Os resíduos de glicose conectados por ligações glicosídicas α-1,6 são liberados pela segunda atividade
da enzima desramificadora α-1,6 glicosidase. Essa é uma reação de hidrólise.

a-1,6 a-1,6
glicosidase
+
H2O Glicose

Figura 72 – A atividade de α-1,6 glicosidase quebra a ligação glicosídica α-1,6


presente nas ramificações do amido. Os resíduos liberados são moléculas de glicose

No músculo, a glicose 1-fosfato é transformada em glicose 6-fosfato pela enzima fosfoglicomutase,


podendo ser convertida a lactato, ou seja, gerar energia através da glicólise anaeróbica. No fígado, a
glicose 6-fosfato é transformada em glicose por meio da ação da enzima glicose 6-fosfatase e enviada
para a corrente sanguínea para a manutenção da glicemia (figura a seguir).

A. B.
Músculo
Glicogênio
Fígado
Glicogênio
Glicose 6-fosfato

Glicose Glicose 6-fosfato

Energia

Corrente sanguínea

Figura 73 – A) no fígado, o glicogênio é convertido principalmente em glicose 6-fosfato,


esta é transformada em glicose e enviada para a corrente sanguínea a fim de manter a glicemia;
B) no músculo, o glicogênio é convertido em glicose 6-fosfato, o qual gera energia através da glicólise anaeróbica

67
Unidade I

A primeira parte da figura mostra que, no fígado, o glicogênio é convertido principalmente em


glicose 6-fosfato, que é transformada em glicose e enviada para a corrente sanguínea a fim de manter
a glicemia. Já a segunda parte mostra que no músculo, o glicogênio é convertido em glicose 6-fosfato,
que gera energia por intermédio da glicólise anaeróbica.

Observação

No músculo, a glicose 6-fosfato não forma glicose devido à ausência de


glicose 6-fosfatase.

A degradação do glicogênio é um processo rápido devido a dois fatores:

• ele fica armazenado em grânulos citoplasmáticos que contêm a maioria das enzimas necessárias
para a síntese e para a degradação do glicogênio;

• devido às ramificações presentes no glicogênio, várias extremidades são produzidas e nelas as


enzimas podem atuar e liberar moléculas de glicose 1-fosfato, as quais serão convertidas em
glicose 6-fosfato e transformadas pelo fígado e pelo músculo.

Observação

Na maioria das vezes, a degradação do glicogênio não é completa e a


parte do glicogênio que sobra é utilizada como ponto de partida da síntese.

3 SÍNTESE DE CARBOIDRATOS

3.1 Síntese e glicogênio – glicogênese

O glicogênio é sintetizado a partir da adição de moléculas de α-glicose. Nessa via, a glicose deve
ser primeiramente ativada, sendo que essa ativação depende de ATP e UTP (uridina trifosfato). A seguir
estão representadas as reações para a ativação da glicose:

• Reação 1: glicose + ATP → glicose 6-fosfato + ADP + H+

• Reação 2: glicose 6-fosfato ↔ glicose 1-fosfato

• Reação 3: glicose 1-fosfato + UTP ↔ UDP- glicose + PPi

A reação 3 é catalisada pela enzima glicose 1-fosfato uridil transferase.

A molécula UDP-glicose é a forma ativada da glicose e é adicionada ao núcleo de glicogênio por


meio da enzima glicogênio sintase. Segue a reação catalisada por essa enzima:
68
BIOQUÍMICA

(glicogênio)n resíduos + UDP-glicose → (glicogênio)n + 1 resíduos + UDP

A enzima glicogênio sintase catalisa apenas a formação de ligações glicosídicas α-1,4. Outra enzima
chamada de ramificadora forma ligações glicosídicas α-1,6 através da transferência de seis a sete
resíduos de glicose da molécula linear para a parte mais interna da molécula, formando, assim, as
ramificações (figura a seguir).

Enzima
ramificadora

a-1,6

Figura 74 – Esquema da formação das ramificações da molécula de glicogênio.


A enzima ramificadora transfere de 6 a 7 resíduos e forma a ramificação

O UDP produzido na reação de síntese do glicogênio é reconvertido em UTP e reutilizado na ativação


da glicose por meio do consumo de uma molécula de ATP.

Pode-se observar que são consumidas duas moléculas de ATP por resíduo de glicose incorporado na
molécula de glicogênio. Uma das moléculas é consumida na conversão de glicose em glicose 6-fosfato,
e a outra é consumida na conversão de UDP em UTP.

A síntese do glicogênio apresentada anteriormente pressupõe a existência de um núcleo de


glicogênio formado quando ele não é degradado totalmente, o que acontece na maioria das vezes.
Porém, quando for necessário iniciar a síntese do glicogênio sem a existência de um núcleo, uma
proteína chamada glicogenina serve de apoio para o início da síntese. O primeiro resíduo de glicose é
adicionado pela enzima glicosil transferase, e a glicogenina catalisa a incorporação de novos resíduos
até formar uma pequena cadeia de seis a sete resíduos.

Existem algumas doenças hereditárias relacionadas à deficiência de enzimas do metabolismo do


glicogênio como mostra o quadro a seguir:

Quadro 3 – Doenças hereditárias do metabolismo do glicogênio

Tipo Enzima deficiente Consequência


Acúmulo de glicogênio hepático e aumento do fígado,
I von Gierke Glicose 6-fosfatase inabilidade de corrigir a glicemia no jejum
Acúmulo generalizado de glicogênio, insuficiência
II Pompe α - 1,4 glicosidase cardiorrespiratória e morte precoce

69
Unidade I

Tipo Enzima deficiente Consequência


Glicogênio com ramificações curtas, resultante da
III Cori Enzima desramificadora glicogênio fosforilase
Glicogênio com cadeias muito longas não ramificadas,
IV Andersen Enzima ramificadora morte precoce
V McArdie Glicogênio fosforilase muscular Incapacidade de realizar exercícios intensos
VI Hers Glicogênio fosforilase hepática Semelhante à do tipo I, mas menos intensa
VII Fosfofrutoquinase muscular Diminuição do glicogênio hepático
VIII Tarui Fosforilase quinase hepática Semelhante à do tipo I, mas menos intensa
IX Glicogênio sintase hepática Diminuição do glicogênio hepático

Fonte: Marzzoco e Torres (2011, p. 68).

3.2 Síntese do amido

Lembrete

O amido é constituído por amilose e amilopectina. A amilose é


constituída por α-glicose vínculada por ligações α-1,4. A amilopectina
contém a parte linear e as ramificações formadas por ligações α-1,6.

A síntese do amido e a do glicogênio são muito semelhantes. A diferença que existe entre as duas é
a forma ativada da glicose. Na síntese de glicogênio, a forma ativada da glicose é a UDP-glicose e, na
síntese do amido, é a ADP-glicose.

Segue a reação de ativação da glicose:

glicose 1-fosfato + ATP ↔ ADP-glicose + PPi

A adição da glicose ativada é catalisada pela enzima ADP-glicose sintase. Segue a reação de formação
do amido:

(amido)n resíduos + ADP-glicose → (amido)n+1 resíduos + ADP

4 GLICONEOGÊNESE

Podemos obter glicose de três maneiras: pela dieta, pelo glicogênio hepático (que consegue gerar
glicose por cerca de oito horas) e pela gliconeogênese.

A gliconeogênese é uma via que forma glicose a partir dos precursores glicerol, lactato e aminoácidos;
ela ocorre no fígado e nos rins. A contribuição do fígado para esse processo é maior, porém, dependendo
do tempo de jejum, a dos rins pode chegar até a 40%.

70
BIOQUÍMICA

A existência do estoque de glicogênio e de uma via para obter glicose a partir de outros compostos
mostra a importância desse composto no nosso organismo. A maioria dos tecidos é capaz de obter
energia a partir de vários compostos, como açúcares e ácidos graxos, porém alguns tecidos utilizam
exclusivamente glicose como fonte de energia, conforme mostra o quadro a seguir:

Quadro 4 – Tecidos e fontes de energia

Tecido Glicose Ácidos graxos Corpos cetônicos


Cérebro +
Hemácias e leucócitos +
Medula renal +
Retina +
Mucosa intestinal +
Fígado + +
Adiposo + +
Músculos esquelético e + + +
cardíaco
Córtex renal + + +

Fonte: Marzzoco e Torres (2011, p. 172).

4.1 Os substratos da gliconeogênese

O glicerol é obtido pela hidrólise de triacilglicerol, estocado no tecido adiposo, e levado até o fígado
pela corrente sanguínea.

O lactato é liberado pelo músculo esquelético em exercício e pelas células que não têm mitocôndrias.
Ele é liberado na corrente sanguínea, captado pelo fígado, transformado em piruvato e posteriormente
transformado em glicose, que retorna à corrente sanguínea e pode novamente ser utilizada pelo
músculo, formando o lactato. Essas transformações são chamadas de ciclo de Cori (figura a seguir).

A. B.
Fígado Músculo
Glicose
Glicose
Glicose

Lactato
Lactato
Lactato

Sangue

Figura 75 – Ciclo de Cori. O lactato proveniente do músculo é liberado na corrente sanguínea,


captado pelo fígado, transformado em glicose e liberado na corrente sanguínea,
sendo utilizado novamente pelo músculo

71
Unidade I

Os aminoácidos são provenientes da degradação de proteínas endógenas, principalmente as


musculares. Durante o jejum, elas podem originar glicose, com exceção dos aminoácidos lisina e leucina.
Os aminoácidos são convertidos em alanina e transportados para o fígado, no qual ela é transformada
em piruvato (por meio da ação da enzima alanina aminotransferase) e, posteriormente, em glicose.

4.2 Reações da gliconeogênese

No fígado, o glicerol é fosforilado pela ação da enzima glicerol quinase. O glicerol-fosfato é oxidado
pela glicerol-fosfato-desidrogenase, produzindo diidroxiacetona fosfato, um intermediário da glicólise,
que é fosforilado, formando glicerol.

Observação

O glicerol não é fosforilado nas células adiposas devido à ausência da


enzima glicerol quinase.

Os substratos da gliconeogênese são transformados em intermediários da glicólise; o lactato e os


aminoácidos, em piruvato; e o glicerol, em diidroxiacetona fosfato. Portanto, para sintetizar a glicose, as
reações da glicólise devem ser processadas no sentido oposto. Porém, das dez reações da glicólise, três
são irreversíveis, ou seja, só se processam no sentido de formação do piruvato. Na gliconeogênese,
elas são substituídas por quatro novas reações. As outras reações (as reversíveis) são utilizadas tanto
na glicólise quanto na gliconeogênese.

Lembrete

Na glicólise, a conversão de fosfoenolpiruvato em piruvato, catalisada


pela enzima piruvato quinase, é uma reação irreversível e deve ser
substituída na gliconeogênese.

As reações que são exclusivas da gliconeogênese serão discutidas a seguir:

Etapa 1: conversão de piruvato em fosfoenolpiruvato

Essa etapa é realizada por duas reações: primeiramente, o piruvato é carboxilado pela ação da enzima
piruvato carboxilase, produzindo oxaloacetato, que então é convertido em fosfoenolpiruvato pela ação
da fosfoenolpiruvato carboxiquinase. A seguir estão representadas essas reações:

piruvato + CO2 + H2O + ATP → oxaloacetato + ADP + Pi + 2H+

oxaloacetato + GTP ↔ fosfoenolpiruvato + CO2 + GDP

72
BIOQUÍMICA

A piruvato carboxilase é uma enzima mitocondrial, portanto, para o piruvato citosólico ser
transformado em oxaloacetato, ele deve entrar na mitocôndria. A entrada na mitocôndria é feita pela
ação da piruvato translocase. Uma vez formado o oxaloacetato, este passa para o citosol por meio da
lançadeira malato-aspartato.

O oxaloacetato é transformado em fosfoenolpiruvato, o qual, por sua vez, é transformado em


frutose 1,6-bifosfato pelas mesmas reações da glicólise, já que entre o fosfoenolpiruvato e a frutose
1,6-bifosfato, todas as reações são reversíveis.

Observação

A conversão de frutose 6-fosfato em frutose 1,6-bifosfato, catalisada


pela fosfofrutoquinase, é uma reação irreversível e deve ser substituída na
gliconeogênese.

Etapa 2: conversão de frutose 1,6-bifosfato em frutose 6-fosfato

A conversão de frutose 1,6-bifosfato em frutose 6-fosfato é uma hidrólise catalisada pela enzima
frutose 1,6-bifosfatase. Segue a representação dessa reação:

frutose 1,6-bifosfato + H2O → frutose 6-fosfato + Pi

No próximo passo, a conversão de frutose 6-fosfato em glicose 6-fosfato é realizada pela mesma
enzima da glicólise, a fosfoglicoisomerase, já que essa enzima catalisa uma reação reversível.

Observação

A conversão de glicose 6-fosfato em glicose 1,6-bifosfato, catalisada


pela glicoquinase, é uma reação irreversível e deve ser substituída na
gliconeogênese.

Etapa 3: conversão de glicose 6-fosfato em glicose

Essa reação é semelhante à anterior. A conversão de glicose 6-fosfato em glicose é uma hidrólise
catalisada pela enzima glicose 6-fosfatase. Segue a representação dessa reação:

glicose 6-fosfato + H2O → glicose + Pi

Todas as reações da gliconeogênese estão representadas a seguir:

73
Unidade I

Alanina

Lactato Piruvato

Piruvato carboxilase

Oxaloacetato

Fosfoenolpiruvato carboxiquinase
Fosfoenolpiruvato

3-Fosfoglicerato

1,3-Difosfoglicerato

Gliceraldeído
3-fosfato + Diidroxiacetona

Frutose 1,6-fosfato

Frutose 1,6-fosfatase

Frutose 6-fosfato

Glicose 6-fosfato
Glicose 1,6-fosfatase

Glicose

Figura 76 – Gliconeogênese. As reações exclusivas da gliconeogênese estão representadas


com a seta vermelha. As enzimas que catalisam essas reações estão representadas

74
BIOQUÍMICA

A figura a seguir destaca as enzimas que são diferentes na glicólise e na gliconeogênese:

Glicólise Gliconogênese

Glicose Piruvato

Glicoquinase Piruvato carboxilase

Glicose 6-fosfato Oxaloacetato


Fosfoenolpiruvato
carboquinase
Frutose 6-fosfato Fosfoenolpiruvato

Fosfofrutoquinase

Frutose 1,6-fosfato

Frutose 1,6-fosfato

Frutose 1,6-fosfatase

Fosfoenolpiruvato Frutose 6-fosfato

Piruvato quinase

Piruvato Glicose 6-fosfato

Glicose 1,6-fosfatase

Glicose

Figura 77 – Diferenças entre a glicólise e a gliconeogênese

75
Unidade I

Resumo

Os carboidratos são os hidratos de carbono cuja fórmula geral é


(CH2O)n. Para a bioquímica, os carboidratos são importantes, pois é por
meio da oxidação da glicose que obtemos a maior parte da energia.
Eles podem ser classificados em relação à possibilidade de hidrólise
em: monossacarídeos, dissacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos.
Os monossacarídeos são os carboidratos mais simples, são aqueles que
não sofrem hidrólise. Os dissacarídeos são formados pela união de dois
monossacarídeos e, portanto, podem sofrer hidrólise. Os polissacarídeos
são formados pela união de mais de 12 monossacarídeos. Os mais
importantes polissacarídeos, do ponto de vista da bioquímica, são o
amido e o glicogênio. O glicogênio tem mais ramificações do que o amido.
Os carboidratos são poliidroxialdeído ou poliidroxicetona.

O metabolismo é o conjunto de reações que ocorrem dentro do


organismo. Ele só funciona de maneira compatível com as nossas
necessidades devido à ação de moléculas catalisadoras chamadas de
enzimas. Além disso, ele é dividido em catabolismo, que é a degradação
de compostos, e anabolismo, que é a síntese de compostos. O catabolismo
gera energia para as funções vitais do organismo. A energia química fica
armazenada na molécula adenosina trifosfato (ATP). O ATP se decompõe
em ADP e grupo fosfato, transferindo a energia armazenada nas ligações
químicas para as atividades celulares.

Os sítios de digestão dos polissacarídeos são a boca e o intestino.


A enzima que atua na boca é a α-amilase salivar, e as enzimas que atuam
no intestino são a α-amilase pancreática, a isomaltase, a maltase, a
sacarase e a lactase. A digestão resulta na formação de monossacarídeos,
os quais são absorvidos pela mucosa intestinal. A glicose e a galactose
são captadas do lúmen intestinal para dentro do enterócito através do
transportador SGLT-1 e chegam à corrente sanguínea por intermédio
do GLUT-2 ou de vesículas. A frutose é transportada para o interior do
enterócito pelo transportador GLUT-5 e para a corrente sanguínea através
do GLUT-2. Existem pessoas que têm deficiência nas dissacaridases,
sendo que a mais comum é a deficiência da enzima lactase, o que gera a
intolerância à lactose.

A glicose entra nas células por meio de transportadores de glicose


(GLUTs). Os GLUTs apresentam especificidade tecidual. O GLUT-4 é
um transportador extremamente importante, pois é dependente do
hormônio insulina.

76
BIOQUÍMICA

A degradação da glicose em condições de aerobiose é denominada


respiração celular. Esse processo envolve cinco etapas: a glicólise, a conversão
de piruvato em acetil-CoA, o ciclo de Krebs, a cadeia de transporte de
elétrons e a fosforilação oxidativa. A degradação da glicose em condições
de anaerobiose é denominada fermentação láctica.

A glicólise ocorre no citosol da célula. A glicólise aeróbica


produz duas moléculas de piruvato, e é dividida em duas fases:
a de investimento ou preparatória, na qual são gastas duas
moléculas de ATP; e a de produção, na qual são produzidas quatro
moléculas de ATP e duas de NADH. Em termos de produção
de energia, a glicólise contribui com duas moléculas de ATP.
A glicólise anaeróbica, também chamada de fermentação láctica,
produz duas moléculas de lactato e duas de ATP como saldo final.
O lactato pode ser utilizado como substrato da gliconeogênese ou
transformado em piruvato no músculo. O piruvato pode ser convertido
em oxaloacetato (reação anaplerótica), em lactato (fermentação
láctica), em acetil-CoA (substrato do ciclo de Krebs) ou em etanol
(fermentação láctica), dependendo da disponibilidade de oxigênio e
do tipo celular.

A via das pentoses é uma via considerada anaeróbica alternativa de


oxidação da glicose. Nesse processo, duas moléculas importantes são
formadas: a ribose 5-fosfato, importante para a biossíntese de nucleotídeos,
e a coenzima reduzida NADPH, a qual atua como agente redutor na
biossíntese de ácidos graxos e dos esteróis, como colesterol e da glutationa
nas hemácias.

O acetil-CoA é proveniente da descarboxilação do piruvato até


CO2 através do ciclo de Krebs. Ele é uma sequência de oito reações que
envolve a produção de NADH, FADH2 e GTP. Apenas um saldo final de duas
moléculas de ATP é produzido na glicólise e no ciclo de Krebs, o restante da
energia permanece conservada nas coenzimas que foram reduzidas. Essas
coenzimas são oxidadas na cadeia de transporte de elétrons, e a energia
armazenada por elas é transformada em ATP pelo processo denominado
fosforilação oxidativa. Nesse processo, cada molécula de NADH forma três
moléculas de ATP; e cada molécula de FADH2 forma duas moléculas de
ATP. Somando todas as moléculas de ATP produzidas e subtraindo as duas
moléculas de ATP gastas na fase de investimento, obtém-se um rendimento
de 38 moléculas de ATP.

O glicogênio fica armazenado principalmente no fígado e nos músculos


esqueléticos. A função do glicogênio muscular é gerar ATP exclusivamente para
a contração muscular, e o glicogênio hepático tem como função a manutenção
77
Unidade I

da glicemia. A degradação do glicogênio consiste na remoção dos resíduos de


glicose. O glicogênio é sintetizado a partir da adição de moléculas de α-glicose.

A gliconeogênese é uma via que forma glicose a partir de glicerol,


lactato e aminoácidos.

Exercícios

Questão 1. (Udesc 2016, adaptada) Na composição química das células, um constituinte de extrema
importância são os glicídios, também chamados de açúcares ou carboidratos. Analise as afirmativas a
seguir com relação a essas moléculas.

I – Algumas são a fonte primária de energia para as células, e outras atuam como reserva dessa energia.

II – Alguns glicídios são importantes para a formação dos ácidos nucleicos.

III – Como exemplo dessas moléculas podemos citar a glicose, o amido, o glicogênio e a celulose.

IV – Além de função energética, elas podem ter papel estrutural em algumas células.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I, II e III.

B) I e III.

C) II e IV.

D) III e IV.

E) I, II, III e IV.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a glicose, por exemplo, é fonte primária de energia, enquanto o amido é uma
reserva energética.

78
BIOQUÍMICA

II – Afirmativa correta.

Justificativa: é o caso da ribose e da desoxirribose, que entram na composição do RNA e do


DNA, respectivamente.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: os glicídios são moléculas orgânicas constituídas fundamentalmente por átomos


de carbono, hidrogênio e oxigênio, também conhecidos como açúcares, samarídeos, carboidratos ou
hidratos de carbono, tendo como exemplos a glicose, o amido, o glicogênio e a celulose.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: é como a celulose, que é integrante da parede celular dos vegetais.

Questão 2. (PUC/PR 2007) Analise as afirmativas em relação ao processo do metabolismo energético:

I – Fermentação, respiração aeróbica e respiração anaeróbica são processos de degradação das


moléculas orgânicas em compostos mais simples, liberando energia.

II – Todos os processos de obtenção de energia ocorrem na presença do oxigênio.

III – A energia liberada nos processos do metabolismo energético é armazenada nas moléculas de ATP.

IV – No processo de fermentação, não existe uma cadeia de aceptores de hidrogênio que está
presente na respiração aeróbica e anaeróbica.

V – Na respiração aeróbica, o último aceptor de hidrogênio é o oxigênio, enquanto na respiração


anaeróbica é outra substância inorgânica.

VI – Na fermentação, a energia liberada nas reações de degradação é armazenada em 38 ATPs,


enquanto na respiração aeróbica e anaeróbica é armazenada em 2 ATPs.

É correto apenas o que se afirma em:

A) I, III, IV, V.

B) I, III, V, VI.

C) I, IV, V, VI.

D) I, II, IV, V.

E) I, II, III, IV.


79
Unidade I

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a quebra de moléculas orgânicas mais complexas, como a glicose, para a liberação de
energia e consequente formação de moléculas mais simples, como o CO2, ocorre na fermentação, na
respiração celular aeróbia e na respiração celular anaeróbia.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: nem todos os processos de obtenção de energia ocorrem na presença de oxigênio.


Organismos desprovidos de mitocôndria realizam respiração celular anaeróbia e formam ATP. Organismos
com mitocôndria, mas que estão privados de oxigênio, também fazem respiração celular anaeróbia.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: a quebra das ligações das moléculas de glicose resulta em liberação de energia, por
exemplo, que ficarão armazenadas em moléculas de ATP para quando a célula precisar utilizá-las.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: a cadeia de aceptores de hidrogênio está presente na respiração aeróbica e anaeróbica.


No caso da respiração aeróbica, ela se encontra na cadeia de elétrons da mitocôndria, sendo o aceptor
final o oxigênio. Já na respiração anaeróbia, o aceptor de hidrogênio é o piruvato formado na glicólise,
oxidando o NADH.

V – Afirmativa correta.

Justificativa: na respiração aeróbica, o último aceptor de hidrogênio é o oxigênio, formando a


molécula de água, enquanto na respiração anaeróbica é outra substância inorgânica, o ácido pirúvico.

VI – Afirmativa incorreta.

Justificativa: na fermentação são formados somente 2 ATPs, enquanto na respiração aeróbia são
formados em média 38 ATPs.

80

You might also like