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Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e


implicações para uma análise funcional
Estudios empíricos de la ironía: revisión sistemática e implicaciones para un análisis
funcional
Empirical Studies of Irony: Systematic Review and Implications for a Functional
Analysis

Luciana Chequer Saraiva Messa*


Universidade Federal do Espírito Santo
Elizeu Borloti
Universidade Federal do Espírito Santo
Verônica Bender Haydu
Universidade Estadual de Londrina

Doi: https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.6132

Resumo em Psicologia, Linguística e Neurociência. Verificou-se


A ironia é um operante verbal sob controle múltiplo e, que na análise funcional da ironia deve-se atentar às:
portanto, complexo, com a função de deixar o ouvinte (a) características dos integrantes do episódio verbal
produzir uma resposta, em geral contrária ao que foi irônico e dos eventos antecedentes e consequentes da
dito e quase sempre com função de ridicularização. ironia; e (b) consequências das variáveis ambientais
O objetivo deste artigo foi, a partir de uma revisão que controlam a ironia em diferentes nuances, como
sistemática da literatura, mapear as variáveis (ou seus humor, sarcasmo, cinismo ou deboche. A descrição
indicadores) estudadas em pesquisas empíricas e indicar desses elementos em outras abordagens teóricas pode
elementos essenciais para a análise funcional da ironia. ser útil para uma análise funcional da ironia e contribuir
Buscas realizadas nas bases de dados bvs, ncbi, Science para o conhecimento e para pesquisas experimentais
Direct, PsycInfo e Ebsco, feitas por meio dos descrito- na análise do comportamento.
res ironia, ironia verbal, sarcasmo, controle múltiplo, Palavras-chave: ironia, análise do comportamento,
irônico e comportamento verbal, localizaram 43 artigos análise funcional, comportamento verbal.

* Dirigir correspondencia a Luciana Chequer Saraiva Messa: Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Correio eletrônico:
lucianasmessa@gmail.com

Para citar este artigo: Messa, L. C. S., Borloti, E., & Haydu, V. B. (2020). Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e
implicações para uma análise funcional. Avances en Psicología Latinoamericana, 38(1), 218-236. https://doi.org/10.12804/
revistas.urosario.edu.co/apl/a.6132
Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e implicações para uma análise funcional

Resumen that in the functional analysis of irony the analyst should


La ironía es un operante verbal bajo control múltiple y, be aware of: (a) the characteristics of the members of
por lo tanto, complejo, con la función de dejar al oyente the ironical verbal episode and the antecedents and con-
producir una respuesta, en general contraria a lo que sequents events of irony, and (b) consequences of the
fue dicho, y casi siempre con función de ridiculización. environmental variables that controls irony as humor,
El objetivo de este artículo es, a partir de una revisión sarcasm, cynicism, or debauchery. The description of
sistemática de la literatura, mapear las variables (o sus these empiric elements in other theoretical approach-
indicadores) estudiadas en investigaciones empíricas es can be useful for functional analysis of irony and
e indicar elementos esenciales para el análisis funcio- contribute to the knowledge and to the experimental
nal de la ironía. Búsquedas en las bases de datos BVS, researches about this in behavior analysis.
NCBI, Science Direct, PsycInfo y Ebsco, hechas por Keywords: Irony, behavior analysis, functional analysis,
medio de los descriptores ironía, ironía verbal, sarcas- verbal behavior.
mo, control múltiple, irónico y comportamiento verbal,
localizaron 43 artículos en Psicología, Lingüística y
Neurociencia. Se verificó que en el análisis funcional de O livro Verbal Behavior (Skinner, 1957) é o
la ironía se debe atentar a las: (a) características de los marco teórico da explicação do comportamento
integrantes del episodio verbal irónico y de los eventos verbal na análise do comportamento. Um programa
antecedentes y consecuentes de la ironía; y (b) conse- de estudos foi apresentado por seu autor para uma
cuencias de las variables ambientales que controlan la análise funcional do comportamento verbal que
ironía en diferentes matices, como humor, sarcasmo, muito contribuiu para o avanço dos estudos atuais
cinismo o burla. La descripción de estos elementos en desse repertório. Skinner propôs esse programa a
otros abordajes teóricos puede ser útil para un análisis partir da definição de comportamento verbal (ope-
funcional de la ironía y contribuir para el conocimiento rante mediado por um ouvinte qualificado, cujas
y para investigaciones experimentales en el análisis del consequências contribuem para a sua manutenção)
comportamiento. e de sua classificação (primários e secundários, e
Palabras clave: ironía, análisis del comportamiento, seus subtipos funcionais). Tal classificação per-
análisis funcional, comportamiento verbal. mitiu a identificação dos controles dos operantes
verbais (únicos, múltiplos ou estendidos) e do pa-
Abstract pel da audiência na sua mediação com o ambiente,
The irony is a verbal operant under multiple control, provendo seu reforço.
therefore, complex, with the function of letting the Diversos artigos de revisão sistemática da litera-
listener produce a response, usually contrary to what tura realizados por analistas do comportamento já
has been said and almost always with the purpose of se ocuparam de descrever estudos empíricos ge-
ridicule. The objective of this article is, from a sys- rados pelo Verbal Behavior. Independentemente de
tematic review of literature, to map the variables (or esses estudos serem focados em operantes verbais
their indicators) being studied in empiric researches em geral (e.g., Eikeseth, & Smith, 2013; Gross, Fu-
and indicate essential elements for a functional analysis qua, & Merritt, 2013; Kisamore, Karsten, Mann, &
of irony. A search in the data bases bvs, ncbi, Science Conde, 2013) ou em operantes verbais específicos
Direct, PsycInfo e Ebsco, using the keywords: irony, (e.g., Anastácio-Pessana, Almeida-Verdu, Bevila-
verbal irony, sarcasm, multiple control, autoclitics, and cqua, & Souza, 2015; Hübner, Austin, & Miguel,
ironical and verbal behavior, produced 43 articles in 2008; Koehler-Platten, Grow, Schulze, & Bertone,
psychology, linguistics or neuroscience. It was verified 2013), eles sempre têm o objetivo de apontar os

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elementos para a análise funcional empírica, e não [...] a verbal behaviour under multiple controls:
apenas interpretativa, do comportamento verbal. Multiple audience, stimuli (especially non-verbal)
Entretanto, há uma carência de revisões de estu- and motivational operations from these stimuli and
dos empíricos sobre comportamentos verbais em multiple audiences with the function of letting the
outras áreas do conhecimento que não a análise do listener produce a response (in general contrary
comportamento, cujos achados possam contribuir to what was said and almost always with ridicu-
para a análise funcional da linguagem. lous appointment)1 (Messa, Borloti, & Carmelino,
Para a análise funcional do comportamento, 2014, p. 117).
tanto o verbal quanto o não verbal, Skinner (2003)
propôs um argumento fundamental: Uma análise com o foco destacado no parágrafo
anterior tem seu mérito social, dada a função do
As variáveis externas das quais o comportamen- comportamento verbal irônico estar diretamente
to é função dão margem ao que pode ser chamado relacionada à vida em sociedade. A emissão e a
de análise causal ou funcional. Tentamos prever manutenção da ironia são vantajosas não apenas
e controlar o comportamento de um organismo para o falante, mas também para o ouvinte. Isso
individual. Esta é a nossa “variável dependente” significa, por exemplo, que a ironia pode ser emitida
- o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas em um único contexto, tendo em vista dois efeitos
“variáveis independentes” - as causas do compor- diferentes: ridicularizar e fazer rir (humor). Esses
tamento - são as condições externas das quais o aspectos dependerão de alguns fatores: (a) quem
comportamento é função. Relações entre as duas é o falante; (b) quem é (são) o(s) ouvinte(s). Uma
- as relações de “causa e efeito” no comportamento pessoa que emite ironia com o objetivo de ridicu-
- são as leis de uma ciência (p. 38). larizar alguém pode sentir o efeito humorístico da
ironia em si mesmo; então, o efeito pode ser punitivo
Portanto, a avaliação das contingências envol- para quem ouve (vítima) e de humor para quem o
vendo uma ação verbal de um indivíduo é funda- fez (falante). Essa é uma parte da complexidade
mental para que se possa fazer uma análise funcional da ironia.
dessa ação. Isso significa que características das Diferentemente da mentira, por exemplo, em
variáveis que envolvem os estímulos antecedentes que o objetivo pode ser apenas se esquivar da pu-
(ocasião em que a resposta ocorre), a resposta verbal nição, a ironia tem um rol de possibilidades, tanto
em si e suas consequências reforçadoras, mediadas de causas quanto de efeitos. No caso de a ironia
por uma audiência, devem ser a base para a análise ter função de humor, ela pode fazer com que o
funcional (i.e., empírica) no sentido do argumento ouvinte ria e amenize as contingências aversivas
skinneriano, destacado na citação apresentada no do contexto (Hübner, Miguel, & Michael, 2005).
parágrafo anterior. Emitir ironia e reagir a ela com essa vantagem ou
Em defesa desse argumento, o presente artigo com outras, está diretamente relacionado a dois
de revisão sistemática da literatura foca na análise aspectos que Skinner (2003) apontou com relação
empírica do comportamento verbal irônico feita ao comportamento operante em geral: frequência
em estudos empíricos em outras áreas do conhe-
cimento que não a análise do comportamento, de 1
[...] um comportamento verbal sob múltiplos controles:
modo a identificar funções da ironia nos dados audiência múltipla, estímulos (especialmente não verbais)
desses estudos. A análise aqui proposta foi feita e operações motivacionais advindas desses estímulos e
audiência múltipla, com a função de deixar o ouvinte pro-
considerando a ironia, de acordo com os princípios duzir uma resposta (em geral contrária ao que foi dito e
da análise do comportamento, como sendo quase sempre com função de ridicularização).

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e probabilidade da emissão de acordo com a taxa partes do episódio (falante e ouvinte) ao controle
de reforço. aversivo, em geral, do comportamento do ouvinte.
Com relação ao ouvinte, tem-se a mesma ex- O conceito de ironia foi estudado a fundo por
plicação: um ouvinte reage positivamente ou ne- Paiva (1961), definindo-a como aquilo que é o
gativamente a uma ironia, respectivamente, como contrário do que se diz, e ampliando o conceito em
estímulo apetitivo ou aversivo. Como estímulo cinco subtipos de ironias, a partir dessa definição
apetitivo tem-se o humorismo em geral. Como es- básica. Os cinco subtipos são: ironia pura, satíri-
tímulo aversivo pode-se citar o seguinte exemplo: ca, disfemística, restritiva e contornante. A ironia
se um trabalhador costuma ouvir ironias sarcásticas pura ocorre quando a função verbal é produzir
(as com função de crítica e deboche) de um mesmo como efeito apenas a compreensão do contrário
colega de trabalho com relação às suas competências do que se diz. A satírica é quando se produz como
profissionais, existe grande probabilidade de o com- consequência a ridicularização pelo cômico. A dis-
portamento dele diante desse colega de trabalho se femística é a ironia com a função de ridicularizar
manter por reforço negativo (fuga-esquiva). Além pelo menosprezo. Na restritiva, a função é a de
disso, existe também uma grande probabilidade ridicularizar pela restrição e na contornante, pela
de que a ironia do colega, emitida com intenção de indiferença. As funções que os diferentes subtipos
criticar e debochar, elicie sentimentos negativos de ironia têm sobre o comportamento do ouvinte
nesse trabalhador, que tenderá a se afastar ou a suscita a importância de análises dos efeitos das
minimizar a aversão do colega irônico. Do ponto consequências, de tal forma a justificar a análise
de vista prático, em geral, quando não é possível funcional da ironia pela ótica da análise do com-
o afastamento da estimulação aversiva, reações portamento. Assim, o objetivo deste artigo foi, a
negativas são minimizadas com piadas (Hübner et partir de uma revisão sistemática da literatura, ma-
al., 2005). Assim, a relevância social do presente pear as variáveis (ou indicadores de variáveis) que
estudo se soma à científica, ao propor condições estão sendo estudadas pelas pesquisas empíricas
para melhorar o diálogo dos analistas do compor- sobre ironia em outras áreas e indicar elementos
tamento com outras áreas do conhecimento. essenciais para a análise funcional da ironia.
Analistas do comportamento não têm utilizado
achados de outras áreas para o estudo da ironia; nem
mesmo têm estudado o tema ironia especificamente Método
e internamente à análise do comportamento (uma
exceção é o artigo de Messa et al., 2014). O con- A seleção das fontes de dados para a revisão
trário ocorre na Linguística, área na qual o estudo partiu da definição de estudo empírico de Demo
da ironia é comum, devido às suas variadas faces (2000), em que o estudo selecionado deveria
(diferentes formas e funções da ironia), sendo elas o ser o que mostra a “face empírica e fatual da
principal interesse de investigação nessa área (e.g., realidade; produz e analisa dados, procedendo
Brait, 1996; Machado, 1995; Nishiwaki, 2015). A sempre pela via do controle empírico e fatual”
partir de variados contextos de aprendizagem, ge- (p. 21). Nessa definição de empírico, delimita-
rando efeitos diversos, tanto de compreensão quanto ram-se quais aspectos dos estudos de outras áreas
de manipulação do episódio verbal, os linguistas, poderiam interessar em uma análise funcional,
mesmo não usando termos analítico-comporta- no sentido skinneriano. Esses aspectos são os
mentais, têm apontado o “poder” que a ironia pode mesmos pontos centrais da análise funcional da
gerar pelos efeitos que produz, que podem variar pesquisa comportamental tradicional: previsão
do reforço positivo (e.g., “ganhos”) para ambas as de resposta a partir da ocorrência de variáveis

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específicas e confirmação dessa ocorrência nos dade de estudos sobre o tema nas áreas específicas
dados, o repertório do participante. (Linguística, Psicologia e Neurociência) indexados
Assim, na busca dos elementos úteis à análise nas mesmas. A localização dos artigos foi realizada
funcional na bibliografia de outras áreas que não de maneira livre, ou seja, o trabalho foi localizado
a análise do comportamento foram estabelecidas e separado de acordo com os descritores indicados,
como categorias de análise: (a) conceito de ironia; independentemente da localização deles no texto
(b) características dos participantes; (c) objetivo (se no resumo, no título ou no corpo do texto).
da análise da ironia (produção, compreensão ou Os critérios de inclusão dos artigos foram:
ambas); (d) tipo de estímulos discriminativos para (a) palavra ironia estar em qualquer lugar no texto,
a produção e/ou compreensão da ironia (e.g., (b) serem estudos de natureza empírica, e (c) os
sentenças, situações, histórias); e (e) resultados, estudos serem das áreas de Psicologia, Linguística
efeitos ou consequências obtidos (as). Essas cate- e Neurociência. Os critérios de exclusão foram:
gorias foram tidas como úteis por poderem indicar (a) artigos abordarem a ironia como previsão situa-
itens da tríplice contingência, contribuindo para uma cional (a famosa “ironia do destino”); (b) artigos
análise funcional do comportamento verbal irônico. serem da Medicina (que, em geral, objetivaram
mapear o funcionamento cerebral enquanto pessoas
ouvem ironias); e (c) artigos conterem explicações
Fontes de Dados e Procedimento psicanalíticas, filosóficas ou literárias da ironia.
A análise dos resultados foi realizada a partir da
Os descritores selecionados para a busca de leitura inicial do resumo do artigo para confirma-
artigos foram: ironia, ironia verbal, sarcasmo, ção da seleção dentro dos critérios anteriormente
controle múltiplo, irônico e comportamento verbal descritos. Em seguida foi feita a leitura do artigo
(irony, verbal irony, sarcasm, multiple control, na íntegra e registradas as seguintes informações:
ironic, verbal behavior). Inicialmente eles foram autores, ano de publicação, características dos par-
combinados um a um ou uns aos outros por inter- ticipantes. Dado o contexto de análise da ironia em
seção pelo operador booleano and. Cada descritor cada artigo, foram registrados: os objetivos dos
foi localizado individualmente até se esgotar a ne- estudos, os tipos de antecedentes utilizados pelos
cessidade de localização daquele termo; só então autores (estímulo discriminativo), o tipo de efei-
foi utilizado um novo descritor para a busca de to (consequência) e o foco da análise, isto é, se a
novos artigos. Em seguida, realizou-se uma busca compreensão (com especificação das características
com os operadores booleanos de combinação de do ouvinte) ou a produção da ironia (com especi-
termos por união (or) e, depois, por exclusão (not). ficação das características do falante). Depois de
Tanto na bibliografia da análise do comporta- registradas, essas informações (dados) foram or-
mento quanto na das outras áreas, a localização ganizadas em uma planilha em ordem alfabética,
dos artigos ocorreu por meio das bases de busca e a partir dos nomes dos autores.
recuperação disponíveis via Internet e dos descri-
tores citados anteriormente. A busca foi realizada
nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde Resultados e discussão
(bvs), da National Center for Biotechnology In-
formation (ncbi); da Science Direct, da PsycInfo A partir da busca feita nas bases de dados foram
e da EBSCO, sem restrição do período de busca. encontrados 211 artigos. Desse total, com base na
A partir de uma busca prévia, estas bases de dados leitura dos títulos dos artigos e aplicando-se os cri-
foram escolhidas em função da quantidade e quali- térios especificados no método, foram excluídos,

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inicialmente, 167. A partir da leitura dos resumos et al., 2016); e (b) a produção e compreensão de
dos artigos e com a aplicação dos critérios de in- crianças quando expressões irônicas são utilizadas
clusão, foram selecionados os 43 artigos dos quais em situações comunicativas familiares (Angeleri, &
os dados estão organizados na tabela 1. Airenti, 2014; Filik et al., 2014; Recchia et al., 2010).
Os artigos analisados são em sua maioria, da Quanto ao que concluíram, alguns estudos de-
Psicologia (33). Em seguida, são os da Neurociên- monstraram que a emissão de ironia vem acompa-
cia (6) e da Linguística (4). O foco dos estudos nhada de “pistas” verbais e não verbais emitidas
foi, em grande parte, a análise da compreensão pelo falante com a função de se fazer compreender
da ironia; alguns analisaram tanto as condições pelos ouvintes (Anolli et al., 2000; Baptista et al.,
de compreensão quanto as de produção da ironia 2015; Bruntsch, & Ruch, 2017a). Outros, que a ironia
em contextos que permitiam ao participante ver, é uma forma de comunicação prevalecente entre
ouvir ou ler situações em que tipos diferentes de adolescentes usuários de substâncias psicoativas
ironia estavam presentes em frases/sentenças e/ou com função de aproximação social e humor (Brum,
em situações do cotidiano. Esses contextos tiveram & Siniak, 2011). Alguns estudos apresentaram dados
função de estímulos antecedentes (discriminativos) que demonstram uma tendência ao uso de ironia
para emissão da compreensão ou para estimular a por pessoas que costumam utilizar o humor com
emissão de uma resposta irônica pelo participante. frequência (Calmus, & Caillies, 2014; Dews et al.,
Os estudos analisados eram bastante diversi- 1996; Jorgensen et al., 1984). Em outros, a com-
ficados em seus objetivos gerais, alguns deles se preensão do elogio irônico e seus benefícios além da
propuseram a investigar: (a) os efeitos emocionais crítica foram discutidos (Bruntsch, & Ruch, 2017b;
que a ironia gera nos ouvintes em situações distintas, Dennis et al., 2012; Bruntsch, & Ruch, 2017b). Adi-
por exemplo, em situações comunicativas comple- cionalmente, houve estudos que demonstraram que
xas, em relações familiares e não familiares, bem pessoas com determinados diagnósticos psiquiátri-
como a função social do uso da ironia (Akimoto & cos compreendem observações irônicas, enquanto
Miyazawa, 2011; Amenta et al., 2013; Campanella, as com outros tipos mais graves de diagnóstico têm
2013; Dennis et al., 2012; Filik et al., 2015; Filik dificuldades em compreender essas observações.

Tabela 1.
Autores e ano, objetivo geral, número de participantes, características dos participantes, tipos de antecedentes (SD),
tipo de efeito (consequências) da emissão de ironia e se envolvia compreensão e/ou produção da ironia (ouvinte e/ou
falante) de acordo com as publicações revisadas
Características Tipo de Compreensão
Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Investigar que fatores
Akimoto, &
desempenham um papel nos Sentenças Risada, prazer e
Miyazawa 30 Adultos típicos Compreensão
sentimentos de um ouvinte positivas humor
(2011)
evocados pela ironia.
Decodificar componentes
emocionais em situações
Amenta, Noël,
comunicativas complexas
Verbanck, & Sentenças Convencimento
44 (efeito emocional da ironia) e Adultos típicos Compreensão
Campanella positivas e atenção
sua relação com habilidades
(2013)
empáticas em alcoolistas
crônicos.
Continuar

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Características Tipo de Compreensão


Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Investigar se crianças
mostram um entendimento
anterior de expressões Convencimento
Angeleri, & irônicas em situações Crianças Situações e atenção/
100 Compreensão
Airenti (2014) comunicativas familiares, típicas cotidianas risada, prazer e
e investigar relações entre humor
habilidades de compreensão,
linguagem e teoria da mente.
Convencimento
e atenção/
Anolli, Ciceri, Analisar as funções sociais
Sentenças Risada, prazer
& Infantino 50 da ironia e seus efeitos sobre Adultos típicos Compreensão
positivas e humor/
(2000) adultos.
crítica, deboche,
constrangimento
Investigar por meio do
padrão de movimento dos
olhos como as pistas da
Baptista, ironia são integradas diante
Situações Convencimento Compreensão/
Macedo, & 20 de declarações irônicas Adultos típicos
cotidianas e atenção produção
Boggio (2015) e a maneira pela qual a
integração dessas pistas
pode afetar homens e
mulheres.
Compreender a comunicação
Brum, & utilizada por adolescentes, Sentenças Risada, prazer,
12 Adolescentes Produção
Siniak (2011) usuários de substâncias positivas humor
psicoativas.
Avaliar quais traços de
Risada, prazer
personalidade relacionados Sentenças
Bruntsch, & e humor/
648 ao humor positivo ou Adultos típicos positivas e Compreensão
Ruch (2017a) convencimento e
negativo podem prever o uso negativas
atenção
da ironia.
Risada, prazer e
Investigar se a compreensão
Bruntsch, & Situações humor/ crítica,
153 do elogio irônico pode Adultos típicos Compreensão
Ruch (2017b) cotidianas deboche,
beneficar além de criticar.
constrangimento
Investigar a dificuldade
Caillies,
de crianças com tdah
Bertot, Motte, Crianças Situações Convencimento Compreensão/
10 compreenderem falsas
Raynaud, & atípicas cotidianas e atenção produção
crenças de segunda ordem e
Abely (2014)
observações irônicas.
Caracterizar as habilidades
pragmáticas de crianças
Caillies, Hody, francesas com paralisia
Crianças Situações Convencimento
& Calmus 2 cerebral, por meio da Compreensão
atípicas cotidianas e atenção
(2012) compreensão da ironia e dos
estados mentais de outras
pessoas.
Continuar

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Características Tipo de Compreensão


Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Investigar se o grau
de contraste da ironia
Calmus, & Sentenças Risada, prazer e
30 está relacionado com o Adultos típicos Compreensão
Caillies (2014) positivas humor
humorístico percebido dos
comentários irônicos.
Avaliar se a indução de
Cornejol,
estratégias holísticas
Simonetti,
ou analíticas influencia
Aldunate, Situações Risada, prazer e Compreensão/
35 a compreensão e o Adultos típicos
Ibáñez, López, cotidianas humor produção
processamento de expressões
& Melloni
altamente contextualizadas
(2007)
da linguagem comum.
Determinar se os
participantes privados de
sono são tão capazes como Crítica,
Deliens et al. Sentenças Compreensão/
30 participantes descansados Adultos típicos deboche e
(2015) negativas produção
de adotar outra perspectiva constrangimento
na avaliação de declarações
sarcásticas.
Investigar compreensão
da crítica irônica e elogios
Dennis et al. empáticos, em tarefa que Crianças Situações Convencimento
71 Compreensão
(2012) exige identificação da crença atípicas cotidianas e atenção
e da intenção do falante em
conversas diretas e indiretas.
Investigar a compreensão Risada, prazer e
Sentenças
Dews et al. da ironia e a sensibilidade à Crianças / humor/ crítica,
224 positivas e Compreensão
(1996) mesquinharia e humor como típicas deboche,
negativas
funções da ironia. constrangimento
Investigar o embotamento
da emoção examinando a
Risada, prazer e
Filik, Hunter, relação entre a compreensão Sentenças
humor/ crítica,
& Leuthold 48 de um discurso escrito Adultos típicos positivas e Compreensão
deboche,
(2015) irônico e da realização de negativas
constrangimento
ações motoras relacionadas
ao afeto.
Filik,
Investigar as diferenças no
Leuthold, Sentenças Risada, prazer e
38 processamento de ironias Adultos típicos Compreensão
Wallington, & positivas humor
familiares e não familiares.
Page (2014)
Filik, Țurcan,
Análise da compreensão do
Thompson, Situações Convencimento
144 sarcasmo e do seu impacto Adultos típicos Compreensão
Harvey, Davies, cotidianas e atenção
emocional em adultos.
& Turner (2016)
Descrever o
Filippova, desenvolvimento do
Crianças e Sentenças Risada, prazer e Compreensão/
& Astington 96 raciocínio social em crianças
adultos/ típicos positivas humor produção
(2008) em idade escolar durante
uma interação verbal.
Continuar

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Características Tipo de Compreensão


Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Analisar a compreensão de
aspectos sóciocognitivos e
Filippova, Crianças/
72 sóciocomunicativos da ironia Situações Risada, prazer e Compreensão/
& Astington típicas/
24 no discurso de crianças cotidianas humor produção
(2010) Adultos típicos
comparados com os de
adultos.
Gaudreau,
Monetta, Examinar a compreensão da
Macoir, ironia verbal em adultos com Adultos típicos Sentenças Convencimento
64 Compreensão
Laforce, e sem comprometimento e atípicos positivas e atenção
Poulin, & cognitivo leve.
Hudon (2013)
Investigar o desenvolvimento Sentenças
Glenwright, & Crianças/ Risada, prazer e
143 da compreenção da diferença positivas e Compreensão
Pexman (2010) típicas humor
entre ironia e sarcasmo. negativas
Risada, prazer e
González-
humor/ crítica,
Fuente, Investigar as diferentes
Situações deboche,
Escandell- 46 formas de se compreender a Adultos típicos Compreensão
cotidianas constrangimento/
Vidal, & Prieto ironia.
convencimento e
(2015)
atenção
Análise da compreensão
Hanke, & Ibe de estruturas semânticas Situações Convencimento
3 Adultos típicos Compreensão
(2016) conflituosas a partir de cenas cotidianas e atenção
de um filme.
Relatar linguagem não literal
Hur, & Caixeta Adultos Sentenças Convencimento
2 (incluindo ironia) em casos Compreensão
(2013) atípicos positivas e atenção
de demência semântica.
Examinar se a vítima é
Ishida, & Abe Situações Convencimento
2 identificada na ironia por Adultos típicos Compreensão
(2010) cotidianas e atenção
menção ecóica.
Jacob,
Examinar como as pistas Crítica,
Kreifelts,
verbais e não verbais Sentenças deboche e
Nizielski,
20 da ironia são integradas Adultos típicos positivas e constrangimento/ Compreensão
Schütz, &
(compreendidas) negativas risada, prazer e
Wildgruber
por percebedores (ouvintes). humor
(2016)
Analisar se alunos de
Jorgensen, graduação compreendem
Situações Convencimento
Miller, & 24 sentenças com anedotas com Adultos típicos Compreensão
cotidianas e atenção
Sperber (1984) ironia quando omitidas dicas
ecoicas.
Investigar as assimetrias
Kreuz, & Link Situações Convencimento
32 (expectativas falhas) do uso Adultos típicos Compreensão
(2002) cotidianas e atenção
da ironia.
Continuar

226 Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515
Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e implicações para uma análise funcional

Características Tipo de Compreensão


Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Investigar como os ouvintes
reconhecem o sarcasmo Risada, prazer e
Kreuz, & Sentenças
e a ironia ao interagir humor/ crítica,
Glucksberg 30 Adultos típicos positivas e Compreensão
com falantes que aludem deboche,
(1989) negativas
situações passadas em constrangimento
comum.
Testar a teoria alusiva que
Kumon-
afirma que as observações
Nakamura, Situações Convencimento
4 irônicas têm seus efeitos Adultos típicos Compreensão
Glucksberg, & cotidianas e atenção
aludindo a uma expectativa
Brown (1995)
fracassada.
Investigar se adultos
Langdon,
esquizotípicos apresentam Adultos Sentenças Convencimento
& Coltheart 36 Compreensão
dificuldades de reconhecer atípicos positivas e atenção
(2004)
metáforas e ironias.
Investigar o uso de dicas
prosódicas na compreensão
Li, Law, Lam, Crianças Situações Convencimento
13 de ironia em crianças de Compreensão
& To (2013) atípicas/típicas cotidianas e atenção
língua cantonense com e sem
tea.

Explorar a compreensão
da metáfora e ironia na
Mo, Su, Chan, esquizofrenia durante a Adultos/ Situações Convencimento
29 Compreensão
& Liu (2008) remissão e examinar o papel atípicos cotidianas e atenção
do qi à luz da Teoria da
Mente.
Analisar um grupo de
pacientes com e sem
Monetta, parkinson com relação à
Adultos Situações Convencimento
Grindrod, & 11 capacidade de interpretar Compreensão
típicos/atípicos cotidianas e atenção
Pell (2009) intenções comunicativas
subjacentes à ironia verbal e
mentiras.
Investigar se a apreciação e
o processamento da ironia
estão relacionados com
Nicholson, habilidades de acordo com
Crianças Situações Convencimento Compreensão/
Whalen, & 30 o sexo e se o processamento
típicas cotidianas e atenção produção
Pexman (2013) da criança é maior do que
o sentido da fala que pode
explicar a Teoria Molecular
ou Interativa.
Crítica,
Rapp, Langohr, Investigar a compreensão Sentenças deboche e
Adultos
Mutschler, & 47 de ironia e de provérbio em positivas e constrangimento/ Compreensão
atípicos
Wild (2014) mulheres com esquizofrenia. negativas risada, prazer e
humor
Continuar

Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515 227
Luciana Chequer Saraiva Messa, Elizeu Borloti, Verônica Bender Haydu

Características Tipo de Compreensão


Tipo de efeito
Autores/ano N Objetivo geral dos antecedente ou produção
participantes (SD) da ironia
Como crianças usam e
Recchia, Risada, prazer e
compreendem várias formas Sentenças
Howe, Ross, Crianças humor/ crítica, Compreensão/
39 de ironia em conversas positivas e
& Alexander típicas deboche, produção
familiares positivas e negativas
(2010) constrangimento
negativas.
Analisar como e quando
Regel, os ouvintes compreendem
Sentenças Convencimento
Coulson, & 2 a ironia, tendo informação Adultos típicos Compreensão
positivas e atenção
Gunter (2010) extralinguística e linguística
do locutor.
Investigar se a compreensão Risada, prazer e
Sentenças
Spotorno, & da leitura de histórias com humor/ crítica,
42 Adultos típicos positivas e Compreensão
Noveck (2014) ironia demora mais para ser deboche,
negativas
processada do que as literais. constrangimento
Explorar a apreciação da
Stratta et al. Adultos Sentenças Risada, prazer e Compreensão/
20 ironia em pessoas com
(2007) atípicos positivas humor produção
esquizofrenia.
Investigar se a ironia
verbal é utilizada como
Convencimento
um comportamento
Adolescentes Situações e atenção/ Compreensão/
Yonge (2007) 15 comunicativo proeminente
atípicos cotidianas risada, prazer e produção
entre equipe e pacientes em
humor
uma unidade de cuidados
psiquiátricos.
Zalla,
Investigar a existência de
Amsellem,
dificuldades na compreensão Compreensão
Chaste, Ervas, Adultos Situações Convencimento
70 do discurso não literal,
Leboyer, & atípicos cotidianas e atenção
como a ironia em pacientes
Champagne-
autistas.
Lavau (2014)

Estudar a ironia compreendida discriminativos não verbais (incluindo o corpo do


ou a produzida? ouvinte e suas ações não verbais) e a dos estímulos
discriminativos verbais. Como afirmou Skinner
Foram analisados 43 estudos dos quais 32 ana- (1957), audiências diferentes podem controlar
lisaram o comportamento verbal de compreensão diferentes repertórios verbais. Isso significa que
da ironia pelo ouvinte, um (1) estudo analisou a a probabilidade de um comportamento verbal
produção de ironia e 10 estudos analisaram a tanto irônico ser emitido e a maneira como ele será
a compreensão quanto a produção da ironia. Tais emitido, ou seja, sua topografia e função (se como
dados sugerem que o papel do ouvinte (audiência) humor, sarcasmo, sátira), dependerão das carac-
provavelmente é extremamente importante para terísticas da audiência na relação com o falante.
a manutenção de um repertório verbal irônico. A A isso Skinner deu o nome de audiência múltipla,
audiência tem o papel de controlar o comporta- conceito-chave da definição skinneriana de ironia
mento do falante por duas vias: a dos estímulos (Messa et al., 2014).

228 Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515
Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e implicações para uma análise funcional

Diferentes audiências/ouvintes (como “causas” do falante; ou seja, compreender o que os ouvintes


ou funções diferentes) geram diferentes tipos de re- fazem levará à compreensão do porquê os falantes
pertório verbal irônico: na presença de uma criança, se comportam de determinada maneira, seja ela
um adulto pode emitir um comportamento verbal irônica ou não.
irônico com função de produzir riso na criança O tipo de estímulo antecedente utilizado nos
(isso vai depender do quanto o falante conhece estudos revisados pode ser verificado na tabela 1
a criança, e se já foi irônico antes com essa criança, (Coluna 5). Em 12 estudos, esses estímulos foram
e finalmente, se sua ironia foi reforçada por ela); apenas sentenças “positivas” (que incluíam ironia
na presença de um estagiário que acabara de en- com função de humor e com função de apenas dizer
trar na empresa, um adulto pode emitir uma ironia o contrário dos fatos, a ironia pura). Em nove deles,
sarcástica para seus antigos colegas de trabalho, utilizaram-se tanto sentenças “positivas” quanto
com a função de debochar do estagiário (isso po- “negativas” (que incluíam deboche e sarcasmo:
de significar que a ironia emitida pelo falante é função de ridicularização com escarnecimento e
direcionada aos colegas de trabalho e também crueldade, respectivamente). Por fim, 21 estudos
depende do conhecimento e do reforço prévios apresentaram situações cotidianas (histórias; e não
que dão sentido ao episódio verbal). apenas sentenças isoladas) com ironia com função
O objeto de estudo “compreensão da ironia de humor e de apenas dizer o contrário dos fatos
pelo ouvinte” nas investigações empíricas revisa- (ironia pura).
das, em sua maioria, tem relação com o conceito A especificação desses antecedentes reforça a
comportamental de ironia centrado no conceito premissa de que todo comportamento verbal, ain-
de audiência múltipla (Messa et al., 2014). Ela é da que seja emitido apenas no nível privado, tem
parte essencial para a compreensão de um episódio sua origem no ambiente e modifica esse ambiente.
verbal total irônico, uma vez que nele tem-se um Assim, de acordo com os princípios da análise do
ouvinte que faz parte da comunidade verbal do comportamento (cf. Skinner, 1957), a comunida-
falante (não somente no sentido linguístico, mas de verbal instala e mantém os comportamentos
também no sentido de conhecer as contingências verbais irônicos do falante por processos básicos
que favoreceram a emissão da ironia) e outro que de aprendizagem: reforço, discriminação, mode-
seria a “vítima” da ironia. Quanto a isso, os estu- lagem, imitação etc. Entre os 42 estudos analisa-
dos de Kreuz, & Gluksberg (1989), Ishida, & Abe dos, verificou-se, por exemplo, maior aceitação
(2010) e Anolli et al. (2000) demonstram que, para por parte do ouvinte nas situações em que a ironia
o irônico, “vitimar” alguém pode eliciar prazer emitida tinha função de humor do que naquelas
(especialmente se a ironia emitida gerar um am- que envolviam emissão de ironia com função de
biente reforçador de “vitória” sobre a “vítima”) e, deboche (Calmus, & Caillies, 2014; Dews et al.,
para o ouvinte, pode gerar constrangimento (caso 1996; Yonge, 2007); e em alguns artigos (e.g.,
a consequência da ironia seja um desconforto além Akimoto, & Miyazawa, 2011; Amenta et al., 2013)
do previsto). Assim como afirmado por Skinner foram registrados padrões mais confortáveis de
(1991), o falante não é quem inicia o episódio ver- comportamento emocional nos ouvintes da ironia
bal; antes, deve haver um ouvinte e esse ouvinte (i. e., os participantes riram e afirmaram ter expe-
é o responsável pelo comportamento do falante, rimentado sentimentos positivos). Diferentemente,
mesmo quando esse ouvinte é o próprio falante os ambientes que mostraram a ironia emitida com
(como ouvinte de si mesmo ou seu próprio ouvin- tom de deboche, sarcasmo ou crítica eliciaram
te). Por isso, analisar o comportamento do ouvinte sentimentos relatados como aversivos (e.g., raiva,
é essencial para compreensão do comportamento angústia) e evocaram descrições do irônico como

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Luciana Chequer Saraiva Messa, Elizeu Borloti, Verônica Bender Haydu

cínico (Blaser, 1976; Glenwright, & Pexman, 2010; do comportamento verbal irônico pelas crianças.
Kreuz, & Glucksberg, 1989). Isso evidencia que a Isso mostra que a comunidade verbal próxima da
história de reforço do ouvinte pode fazer com que criança é capaz de modelar desde cedo o comporta-
ele sinta como reforçador ou aversivo os ambientes mento de falante e de ouvinte relacionados à ironia.
com estímulos verbais irônicos, a depender se a
ironia for “positiva” ou “negativa” em relação a sua
história de reforço e às operações motivacionais Quem eram os participantes do estudo?
do momento.
Essa evidência dos efeitos “positivos” ou “ne- A tabela 1 permite verificar que 27 estudos fo-
gativos” da ironia (humor, riso, crítica, deboche, ram realizados com adultos (homens e mulheres)
constrangimento, raiva) aparece especialmente no acima de 18 anos, com desenvolvimento típico;
estudo de Recchia et al. (2010), que observaram em segundo lugar (n = 6) foram os estudos com
os comportamentos das crianças ao compreende- adultos com algum diagnóstico de transtorno men-
rem e emitirem ironia em conversas familiares. tal (esquizofrenia/demência/amnésia/Parkinson/
Os comportamentos verbais irônicos emitidos abuso de álcool); crianças com desenvolvimento
pelos pais apareceram em contextos reforçado- típico foram participantes em sete estudos; crian-
res (harmônicos) e aversivos (conflituosos). Nos ças com desenvolvimento atípico, especialmente
contextos conflituosos (e. g., quando uma criança o Transtorno do Espectro Autista (tea), em quatro
emitia comportamento emocional de teimosia), estudos; e, por fim, adolescentes foram os parti-
as mães foram mais propensas a fazerem per- cipantes de dois estudos. É importante analisar
guntas retóricas e a emitirem ironias; e os pais, quem foram os participantes das pesquisas, uma
a emitirem comportamentos irônicos mais sob a vez que suas características ajudarão a identificar
forma de hipérboles (isto é, exageravam ao co- e compreender parte das consequências da ironia
municarem uma ideia com finalidade expressiva), obtidas nos estudos. Esses tipos variados de par-
eufemismos (isto é, emitiam expressão ou locução ticipantes eram ora falantes irônicos (produção)
mais agradável em vez de palavras que poderiam ora ouvintes de ironias (compreensão).
soar grosseiras) ou perguntas retóricas (isto é, Em estudos como os de Stratta et al. (2007),
perguntas mais eloquentes). Os filhos também Mo et al. (2008), Amenta et al. (2013), Zalla et al.
apresentaram evidências de uma crescente capaci- (2014) e Rapp et al. (2014), em que os partici-
dade de emitir comportamentos verbais irônicos, pantes eram adultos/crianças com diagnóstico de
especialmente com topografias de hipérbole e transtorno psicológico (i.e., tea, Esquizofrenia), as
de perguntas retóricas. Finalmente, seus irmãos conclusões foram que a compreensão da ironia era
mais velhos demonstraram compreender melhor reduzida. Apesar de fazerem parte da comunidade
a ironia do que os mais novos, confirmando mais verbal do irônico ou terem intimidade com ele,
uma vez a importância da história de reforço na os portadores desses transtornos pareceram estar
relação com a comunidade verbal para que reper- psicobiologicamente limitados ou impedidos de
tórios mais refinados de compreensão da ironia compreender a ironia. Os autores não souberam
sejam adquiridos. interpretar o porquê disto, mas, talvez isso se deva
No geral, acerca da compreensão ou produção ao fato de a ironia ser um comportamento verbal
da ironia, os resultados dos estudos de revisão su- complexo que, em sua base de definição linguística
gerem que as conversas em casa entre os membros (Paiva, 1961), envolve o que não pode ser tateado
da família podem ser contextos importantes para no ambiente, como o contrário do que é verbaliza-
o desenvolvimento da produção e compreensão do (que, por sua vez, já é um estímulo arbitrário).

230 Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515
Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e implicações para uma análise funcional

Quanto à idade da aprendizagem da ironia, os Os pensamentos e sentimentos foram tipos de


estudos com crianças (Dews et al., 1996; Glenwright função/efeito comuns (consequências) da ironia,
& Pexman, 2010; Filippova & Astington, 2008; Rec- dentre as descrições dos estudos revisados. Essas
chia et al., 2010) demonstram que a compreensão da consequências envolvem o reforço do conven-
ironia começa a ser modelada entre os 5 e 6 anos de cimento e da atenção do ouvinte, que é a função
idade. Nessa faixa etária, alguns tipos de ironia são predominante da ironia. Segundo Kumon-Naka-
mais facilmente compreendidos do que outros. As mura et al. (1995), o falante emite ironia com a
ironias com função de ridicularizar, como as satíricas intenção de obter a atenção do ouvinte, ainda que
e sarcásticas, não são tão bem compreendidas pelas o ouvinte não responda de acordo com a expec-
crianças quanto o são as puras e as com função de tativa do falante. Frustrar o ouvinte não reduz a
humor. Conforme esses autores relataram, quanto probabilidade de emissão da ironia pelo falante
maior a idade da criança (com desenvolvimento tí- e nem o valor do reforço dessa emissão; aliás, a
pico) melhor foi sua compreensão e sua percepção produção da frustração do ouvinte pode ser uma
das diferentes funções da ironia. Essas informações das funções do comportar-se ironicamente.
são importantes uma vez que o desenvolvimento do A relação da ironia com os consequentes riso
repertório irônico, por ser complexo, necessita, pelo e humor também fez parte de uma quantidade
falante e pelo ouvinte, de contingências especiais de expressiva de estudos (22). O humor apresenta
aquisição e manutenção com relação à sua emissão e características similares à ironia com relação à
compreensão. Se porventura uma criança cresce em causação múltipla e audiência múltipla e, confor-
um ambiente pobre de estimulação verbal irônica, me afirmaram Hübner et al. (2005), ele também é
provavelmente ela terá dificuldade em compreender um comportamento adaptativo, uma vez que pode
ironias e, consequentemente, emiti-las em ambientes ser emitido com a função de mudar as proprieda-
similares ou não. Assim, os estudos citados permi- des estressoras de um ambiente tornando-as mais
tem afirmar que a capacidade de compreender ironia amenas (como quando se diz que o falante “leva a
aumenta com a idade e o repertório verbal irônico vida na esportiva”). No estudo com adolescentes
emitido é construído na proporção desse aumento, desenvolvido por Yonge (2007), a ironia emitida
no contato com a comunidade verbal. com função de humor apresentou propriedades
interessantes que corroboraram essa conclusão
de Hübner et al. (2005), em que comportamentos
Ser irônico para quê? verbais não literais com função de humor pro-
movem um ambiente mais reforçador, solidário e
Na Coluna 6 da tabela 1 pode-se observar o tipo contribuinte da melhoria da autoestima. O reper-
de função/efeito (consequências) que os estudos tório irônico dos adolescentes teve as funções
revisados descreveram com relação à compreen- de esquiva (“defesa”) de ambientes aversivos ou de
são e à produção da ironia: efeito (consequência) reforço positivo (“integração”) da aproximação
da ironia no ouvinte e os estímulos antecedentes de ambientes sociais desejáveis.
relacionados com a função da emissão da ironia Entre os estudos revisados de ironia com função
pelo falante. Os resultados foram agrupados em de crítica e deboche, o de Glenwright e Pexman
três categorias: (a) convencimento e/ou atenção, (2010) demonstrou que crianças por volta dos seis
contabilizando um total de 24 estudos; (b) risos, anos de idade conseguem compreender o significado
sensação de prazer ou humor, com um total de 22 não literal da ironia e do sarcasmo, porém não têm
estudos; e (c) crítica, deboche ou constrangimento, repertório comportamental suficiente, enquanto
com um total de 10 estudos. audiência, para distinguir os “fins pragmáticos” do

Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515 231
Luciana Chequer Saraiva Messa, Elizeu Borloti, Verônica Bender Haydu

falante: a função do comportamento verbal irônico A identificação desses itens nos estudos revi-
emitido. Os estudos revisados mostram que, para ser sados demonstra que eles podem ser considerados
uma audiência qualificada para um irônico, como relevantes para uma análise funcional da ironia,
afirmou Skinner (1957), o ouvinte precisa fazer uma vez que avaliam empiricamente o ambiente
parte da comunidade verbal do irônico, ou pelo de ocorrência da ironia e a função que o compor-
menos ter experimentado uma parcela de variáveis tamento irônico tem neste ambiente. Assim, os
dessa comunidade para que ele possa compreender requisitos básicos para a análise funcional (Skinner,
o significado (função) ironia emitida por ele. 1957) puderam ser vistos nos estudos revisados.
Nessa análise funcional empírica do compor-
tamento irônico, o pesquisador deve estar atento
Conclusão às características: (a) dos antecedentes que contri-
buem para a emissão de ironia (nos estudos foram
Respondendo ao seu objetivo, o presente estu- apresentados estímulos antecedentes em forma de
do demonstrou que os estudos empíricos da ironia sentenças irônicas positivas e negativas e histórias
apontam quatro elementos a serem considerados cotidianas com enredo irônico); (b) das variáveis
em pesquisas experimentais ou análises funcionais ambientais das quais o comportamento irônico é
da ironia por analistas do comportamento. Pri- função (os ambientes analisados foram tanto ex-
meiro, apontam para o indivíduo que se comporta perimentais quanto naturais, com participantes que
(o quem; o irônico ou o ouvinte dele): nos estudos se conheciam e não se conheciam, ou familiares e
analisados, esse dado refere-se aos participantes dos não familiares); (c) das consequências do compor-
estudos, ou seja, as crianças e os adultos típicos e tamento verbal irônico geradas no ouvinte e no fa-
atípicos; e ao comportamento dos ouvintes que lante do comportamento verbal irônico (produzidas
eram foco da maior parte dos estudos. Segundo, por respostas emitidas em conjunto com variáveis
apontam para o objeto-foco de análise (o quê; a ambientais que, nos estudos revisados, foram va-
ironia produzida ou a compreendida): os estudos riáveis com funções na geração de convencimento,
demonstraram uma maior tendência a analisar humor e crítica); e (d) dos integrantes do episódio
a compreensão da ironia em adultos e crianças, verbal irônico: falante, ouvinte, ouvinte qualifica-
sendo que a produção da ironia foi analisada, em do e ouvinte não qualificado (isto é, se os ouvintes
sua maior parte, nas crianças atípicas. Esse foco fazem ou não fazem parte da mesma comunidade
na compreensão verbal é relevante ao programa verbal dos falantes, respondendo adequadamente
de pesquisa lançado por Skinner, que enfatizou a ou não, ao contexto irônico).
produção verbal. Terceiro, apontam para a função Os resultados apresentados pelos estudos de-
do comportamento (o para quê: efeitos ou con- monstram que tanto adultos quanto crianças típicas
sequências da ironia) demonstrada nos estudos compreendem melhor a ironia em ambientes fami-
como convencimento e atenção, risada, prazer e liares do que os(as) atípicas; e que tanto adultos
humor e crítica, deboche e constrangimento. Esses quanto crianças atípicas apresentam dificuldades
dados foram discutidos em nível interpretativo ou até mesmo impedimentos para compreender a
por Skinner. Quarto, indicam operacionalmente o ironia, tanto na forma falada quanto na forma escri-
ambiente no qual o irônico se comporta (o onde: ta. Nos contextos em que a ironia é frequentemente
contexto): ambientes familiares e não familiares utilizada pelos adultos, as crianças apresentaram
(ambientes experimentais com pessoas conhecidas maior tendência a emitir frases irônicas.
e desconhecidas, em clínicas e grupos de reabili- Espera-se que a descrição de elementos empíri-
tação, com possibilidade de observação in loco). cos para uma análise funcional do comportamento

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Estudos empíricos da ironia: revisão sistemática e implicações para uma análise funcional

verbal irônico feita no presente estudo contribua Amenta, S., Noël, X., Verbanck, P., & Campanella, S.
para o aprimoramento do conhecimento desse (2013). Decoding of emotional components in
comportamento e para a execução de pesquisas complex communicative situations (irony) and
experimentais sobre o mesmo no campo da aná- its relation to empathic abilities in male chronic
lise do comportamento. Nessa execução, a análise alcoholics: An issue for treatment. Alcohol Cli-
funcional do comportamento verbal irônico deve nic Experimental Research, 37, 339-347. https://
passar por todas as etapas de uma análise funcio- doi.org/10.1111/j.1530-0277.2012.01909.x
nal tradicional, permitindo compreender ainda Anastácio-Pessana, F. L., Almeida-Verdu, A. C. M.,
mais que a ironia é comportamento operante e a Bevilacqua, M. C., & Souza, D. G. (2015). Usan-
explicação da sua função depende de variáveis do o paradigma de equivalência para aumentar a
ambientais específicas, algumas identificadas e correspondência na fala de crianças com implan-
isoladas experimentalmente em estudos realiza- te coclear na nomeação de figuras e na leitura.
dos em outras áreas; e que comportamento verbal Psicologia: Reflexão e Crítica, 28, 365-377.
irônico é desenvolvido no repertório do indivíduo https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528217
quando ele vivencia contingências que favorecem Angeleri, R., & Airenti, G. (2014). The development
sua aquisição e manutenção. A ironia também é of joke and irony understanding: A study with
compreendida como um comportamento verbal 3- to 6-year-old children. Canadian Journal of
adaptativo; e pode ser emitida com várias funções, Experimental Psychology, 68, 133-146. https://
do deboche e constrangimento ao riso e humor. doi.org/10.1037/0012-1649.17.4.472
Os estudos revisados mostraram como manipular Anolli, L., Ciceri, R., & Infantino, M. G. (2000).
empiricamente algumas das diferentes nuances da Irony as a game of implicitness: Acoustic pro-
ironia (humor, sarcasmo, cinismo, deboche e outras, files of ironic communication. Journal of Psy-
e suas combinações). Nesse aspecto, eles podem ser cholinguist Research, 29, 275-311. https://doi.
relevantes para a análise comportamental da ironia, org/10.1023/A:1005100221723
considerando as variáveis ambientais controladoras Baptista, N., Macedo, E. C., & Boggio, P. S. (2015).
dessas nuances. Conforme demonstraram Messa Looking more and at different things: Differential
et al. (2014), o grande desafio será construir am- gender eye-tracking patterns on an irony com-
bientes experimentais com uma audiência múltipla, prehension task. Psychology & Neuroscience,
que de modo preditivo e criativo, possa controlar 8, 157-167. https://doi.org/10.1037/h0101061
a emissão dessas nuances. Na descrição da função Blaser, A. (1976). Irony and cynicism as forms of
dessa audiência múltipla está a maior contribuição defense. Confined Psychiatric Journal, 19, 80-
da análise do comportamento ao estudo da ironia 88. Recuperado de https://www.ncbi.nlm.nih.
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potencializar ainda mais tal contribuição. Brait, B. (1996). Ironia em perspectiva polifônica.
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ship with the speaker. Shinrigaku Kenkyu, 82(4), ny use. Personality and Individual Differences, 112,
370-378. https://doi.org/10.4992/jjpsy.82.370 139-143. https://doi.org/10.5902/217976923556

Avances en Psicología Latinoamericana / Bogotá (Colombia) / Vol. 38(1) / pp. 218-236 / 2020 / ISSNe2145-4515 233
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Recebido: dezembro 6, de 2017


Aprovado: agosto 2, de 2019

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