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Scott Freeman University of Washington Jon C. Herron University of Washington Maw po RA Andlise Evolutiv A? Edicdo Maria Regina Borges-Ossrio Licenciat em Histria Natural Mestre em Genética. Doutora em Cini. Peer pia do Deans en Universidade Federal do Rio Grande do 8) Dactrel em Tuo peo lta de Levan UFTCGS Rivo Fischer Licenciado ein Histria Natural. Mestre em Genética, Doutor em Cigncis, Profesor adjunto aposentado do Instituro de Biocincis da UFRGS. Consultoria, supervisio e revisio técnica desta edigo: Aldo Mellender de Araijo Profewor dtular do Deparcamento de Genética da UFRGS. Datos em Geni, 2009 —_ As plantas hidrofldceas rmastram maior depressio por endocruzarnento durante seu segundo ano de vida do que durante 0 primero. Is sugere que, por algum tempo, ainfuénciz materna sobre 0 fendtipo da prole, por meio dis aprovsionamento das sementes, pode mascarar efeitos deletérios de alelos recessivos, Genética mendeliana em populacoes II: migra¢ao, deriva genética e cruzamentos nio-aleatorios primaveras, 08 machos se retinem em reas comunitirias de acasal mento, chamadss les, onde delimitam pequenos territ6rios e se propagandeiam como consortes. Eles abrem as ppenas das caudas. pisam forte ¢ inflam os sacos aéreos do pescoco, de cor laranja brilhance Ao infla 0: s1¢0s 2éreos, produzem um ruido estrondoso, ouvido a quilmetios ~ uum som parecido com 0 que se obtém quando uma pessoa sopra ar através a boca de uma garrafa ‘grande, vazia, 6 que muito mais alto (Thomas, 1998). As ‘0s machos em exibi¢Zo ¢ escolhem um companheito, Ha duzentos anos, Estado de Illinois era quase inteiramente coberto por pradarias (Fi- sgura 7.2) e abrigava milhdes de grandes galinhas da pradaria. Contudo, em 1837 chegaram 6s arados de ago (Thomas, 1998). Com a primeira lamina capaz de arrebentar as densas eas visita o lek, examinam, raizes das plantas da pradaria,o arado de aco permitiu que os fazendeiros transformassem as pradarias cm terras cukivveis, A medida que as pradarias de Mlinois encolhiam,a am- plitude geogrifica dis grandes galinhas da pradaria do Illinois encolhia com elas (Figura -c). B, medida que o territ6rio das aves se contraia 0 niimero delascaia para apenas 224 _Scote Freeman & Jon C, Herron Figura 7. Uma grande galinba a pradaria, Este macho inflou seus cos de are estufou suas pe rnas,como parte de sua encenacio decorte. Inicialmenta, 00 esforgos para salar as populagdes da grande galinha da pradaria por melo da recuperagio de seus hébitais pareciam ser bem sucedidos, Logo, porém, os tamanhos populacionais reassumiram seu deci. Por qué? Figura 7.2 Adestruigio dos habitats ea redugio do ambito das grandes galirhas da pradaria do Iiinois. © mapa (a) apresenta a extensio das pradarias no linois, antes da introdicio do arado de aco, Os mapas (b}(¢) © (6) apresen tama distibuigdo das grandes gal ‘has cas pradarias em 940, 1962 € 1994. FmWestemeie” eto (1998), 25.000 em 1933;2.000 em 1962;500 em 1972; 76 em 1990 (Westemeier eta, 1991; Bout~ zat et al., 1998). Por volea de 1994, restavam menos de 50} grandes galinhas da pradaria em linois (Westemeier et a., 1998).As aves restantes perterciam a duas populagSes remanes- centes ~ uma no Condado de Marion e a outra no Condado de Jasper. (Os esforgos para salvar a grande galinha da pradaria do Illinois comecaram em 1933, com uma proibicio de caga (Thomas, 1998). Em 1962 e em. 1967, respectivamente, os hi= bitats ocupados pelas populacdes dos Condados de Japer ¢ de Marion foram estabelecidos como santuirios ¢ locais de recuperagio e manejo de campinas (Westemeier et a, 1998) [A Figura 7.3 rastreia 6 nfimero de machos disponiveis para acasalar nos feks do Condado de Jasper, de 1963 a 1997. De meados da década de 1960 até o inicio da década de 1970, ‘6 niimero de aves aumentou constantemence. As medidas de conservagio pareciam fun- cionar. Em meados da décads de 1970, porém, a populacio voltou a colapsar. Fla atingity seu limite minimo de 5a seis machos em 1994, apesar de a disponibilidade de campinas rmanejadas para as aves ser eno muito maior do que em 1963. Por que a populagio de galinhas da pradaria do Condado de Jasper continuou a declinar de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, apesar dea quantidade de habitats disponives estar aumentando? E o que fizeram os protetores da vida selvagem para finalmente reverter ese declinio? ‘As respostas a essas perguntas envolvem trés fendémenos apresentados no Capitulo 6, ‘mas nio discutidos nele:a migragio, a deriva genética e as cruzamentas niio-aleatirios. Ao desenvolver o principio do equilibrio de Hardy-Weinberg, identificamos esses processos como fitores potencialmente importantes para a evolucio das populagdes. Quando wma poptilagio ideal nio sofre selecio, mutagio ou migracio, tem tamanho infinito, ¢ seus individaos acasalam ao acaso, (1) as freqiiéncias alélicas nao mudam de wma geracio para @ 1810-1820 940 1962 1994 i * BE lo Pk £3 28 d 8 10 5 0 ES j_—____"* "ste _ i 1570 1560 11957 Ano a seguinte, (2) as freqiténcias genotipicas podem ser calculadas por multiplicagio das fre~ aiiéncias alelicas. No Capitulo 6, examinamos 0 que acontece quando se relaxam os pres- supostos da auséncia de selego e de mutagio. No presente capitulo, exploraremos © que acontece quando se relaxam os pressupostos da auséncia de migracio, do tamanho infinito do que entre popuagées ovens (P=005).H mats varias entre populagSes velhas do que entre populace interne didrias (P=0.04), Em Giles © Goudet (1997) As sementes da cariofilicea vermetha sio transportadas pelo vento e pela Agua, sendo a planta uma das primeiras a colonizar as ilhas novas. As populagdes compoem-se de varios rilhares de individuos. Existe fluxo génico ente ilhas, por causa da dispersio de sementes «edo transporte de poten pelos insetos. Depois de algumas centenas de anos, 2s éreas das e ‘ a ‘tempo.A deriva genética, sob forma e 4 @ de erro de amostragem na retirada 4 doe greta do comnts ginko inal (pra omar 0: 2g mh ® m @ uments regina do seo A, ~\ oie germ di aS ea So poste 234 _Seote Freeman & Jon C. Herron Em populagées de tamanho finite, eventos a0 acaso ~ sob a forma de erre de amostragem nna retirada dos gametas do Conjunto génico ~ podem causar evolugiin A selego 60 sucesso ‘reprodutivo diferencial que acontece por aigum motive: a deriva genética £0 sucesso reprodutv diferencial que slmplesmente acontece. “AA, plare de alelos, verifieamos que, quando esses zigotos se desenvolvem em formas juvenis © seri de dai crescem para se reproduzir, a freqiiéncia do alelo A,no novo conjunto gén 0,7 ea doalelo A, sera de 0,3 (Figura 7.103), Nossa populagio-modelo completou um ciclo de vida. Parece que nada mais aconte- cceu, mas note que ambas as conciusdes do principio do equilibrio de Hardy-Weinberg foram violadas. A no se consegue calcular as freqiiéneias genotipicas por meio da multiplicaca aliéncias alélicas (O simples motivo de nossa populagZo nio se enquadrar no principio de Hasdy-Wein- berg é 0 fato de ela ser pequena. Em uma populagio pequena, os eventos aleatdrios pro- duzem resultados que diferem das expectativas tedricas. Em nossa populaco simulada, os eventos aleatétios foram as escolhas,feitas 4s cegas, dos gametas para formar os zigotos. [Nio retiramos os gametas que portavam 0 A, ou 0 A, em sua relagio prevista ¢ exata de 0,6 e de 04, mas em uma proporcio que simplesmente aconteceu de ser um pouco mais freqiiéncias alélicas mudaram de uma geracio para a seguinte, assim. das fre~ rica em A, € um pouco mais pobre em A, Ese tipo de disctepaincia aleatoria entre a cexpectativa tedrica e os resultados efetivos é chamada erro de amostragem. O erro de amostragem na producio de zigotos a partir de um conjunto génico é a deriva genética Por ser um simples cfeito cumulative de eventos 20 acaso, a deriva genética nfo consegue produzit adapeacdo, Entretanto, como vimos, ela pode causar mudanga nas freqiiénciasalé- Ticas.A sorte cega, por sis6,é um mecanismo de evolugi As vezes, é dificil pérceber a diferenga entre a deriva genética ¢ a selegio natural. Em nossa pequena populacio simulada, as cépias do alelo A, foram mais bem sucedidas em pasar para a proxima geracio do que as eépias do A,, Sucesso reprodutivo diferencial & selecio, nio €? Nese caso, nio. Se tivesse havido selegio, o sucesso diferencial dos alelos em nossa populagio modclo teria de ser explicavel em termos dos fendtipos que os alelos conferem aos individuos que 0s portam. Os individuos com uma ou duas e6pias do A, teriam de ser melhores em sobreviver, encontrar alimento ou atrair consortes. Na verdade, porém, 0s individuos portadores de cOpias de Ando sio assim. Eles foram apenas “sorta dos”; aconteceu que seus alclos foram retirados mais vezes do conjunto génico.A sclecio &o sucesso reprodutivo dlferencial que acontece por algum motivo. A deriva genética é sarcesso reprodutivo diferencial que simplesmente acontece. ‘Um outro modo de verificar que a deriva genética € diferente da selegio ¢ reconhecer que as freqiléncias genotipicas e alélicas entre nossos 10 zigotos poderiam facilmente ter sido diferentes de como acabaram sendo. Para provi-lo, podemios repetir 0 exercicio de retirada dos gametas de nosso conjunto génico para produzir 10 zigotos, Dessa vez, os _gendtipos dos zigotos so: AA, AA, AA, AA, AA, Ad, AA, AA AA, AA, Nesse conjumto de cigotos, as freqiiéncias genotipicas sio de 0,4 para A,A,,de 04 para A/Az © de 0,2 para AyA,-As freqiigncias aldlicas sio de 0,6 para A, € de 0,4 para A, ‘A tepeticio do exercicio uma terceita vez produz 0s seguintes zigotos: Ad AA, AA, AA, Agora, a freqiiéncias genotipicas sfo de 0,4 para AA, de 0,3 para AA, € de 0.3 para as freqiténciasallicas sio de 0,55 para A ¢ de 0,45 para Ay. Analise Evolutiva 235 A probable de que anova ‘regiénca sia enatarenie 06 6 de sproxmadamerte 18% a6 ‘A probabil total de ‘que a nova frequénca g O27 Aprotsbidae ttl de Sea apeiora née ie que arom feqiénda agrontnacerte de eS {st nfenor a6 € 413% 2008 4 sorenimacamente de i 03% 04 0 a 02 03 O4 05 06 OF 08 O9 1 Figura 7.11 A amplizude dos resultados possivels em nosso modelo de populacio de dex camundongos. Ese griieo apre- semta 05 resitados posses ea probable de cada um deles, ‘quando formames IO zigotos pela retiada de aelos de um con- juno génico em que as alelos A, € A, tém frequncias de 06 & (044.0 acontecimentoislado mas provivel é aquele em que as| frequéncas alice cam mutdve’s Entretanto,a chance dso Nowa frequéncia do alelo Aj aontecer é de apenas [8% Eis um resumo dos resultados em nossa populagio-modelo: Fregiiéncia de A, No conjunto génico 06 No primeiro conjunto de 10 zigotos 07 No segundo conjunto de 10 zigotos 0.6 No terceiro conjunto de 10 zigotos 0455 (Os «rés conjuntos de zigotos mostram-nos que, se comecamos com uin Conjunto nico em que um alelo A, tem uma freqiiéncia de 0,6 ¢ produzimos uma populagio com apenas 10 zigotos.a fieqiéncia de A, poderi aumentar, permanecer a mesma ou diminui. Na verdade,a nova freqgiéncia de A, no conjunto de 10 rigotos retirados de nosso conjun- to génico poderia ser qualquer uma de (a 1,0,embora os resultados extremos dessa ampli- tude sejam mais improvaveis. O geifico da Figura 7.11 apresenta a probabilidade tebrica de ‘ada resultado possivel. Ao todo, hi cerca de 18% de chance de que a freqiiéncia do alelo A, permaneca em torno de 1,6, cerca de 401,5% de chance de que ela caia para um valor ‘mais baixo € cerca de 41,5% de chance de que suba para um valor maior. © leitor ndo deve basear-se apenas em nossa palavra quanto a isso, mas deve usar 0 conjunto génico da Figuca 7.10 para produzir alguns lotes de zigotos. Mais uma vez,a questio & que a deriva genética é a evolucio acontecendo por puro acaso, A deriva genética e 0 tamanho da populacdo Fundamentalmente, a deriva genética é o resultado do tamanho finito da populagio. Se retirarmos gametas de nosso conjunto génico para produzir uma populagao com mais de 10 zigotos, as fregiténcias alélicas entre os zigotos estario mais proximas dos valores previstos pelo principio do equilibrio de Hardy-Weinberg, Apontar com 0 dedo em win Livro, de ollios fechados, corna-se tedioso, ¢, por isso, usamos um computador para simu- lara retirada de gametas, nio para produzir apenas 10 zigotos, mas 250 (Figura 7.12a). A medida que 0 computador vai formando cada gameta, produz um relatério da freqtiéncia de A, entre 0s gametas que ji produziu. No comeco, essa freqtiéncia aélica varidvel futua muito. Por exemplo, se aconteceu de 0 primeiro zigoto ter 0 genétipo A,A,,a freqiiéncia saridvel do alelo A, comegou em zero. Os varios zigotos seguintes foram, em sua maioria, A\A,¢ A,A,,0 que projetou a freqiiéncia variivel para 0,75. A medida que 0 nfimero de A deviva genética éde méxima Importiincia om populagSos pequenas, 236 _Scote Freeman & Jon C. Herron 1 (a) 98 06 oa 02 Ha) Freqiércia do alelo Ay 1 © 08: 06 oa 02 f of 0 Who” 200 Numero cumulatvo de ‘gatos formados Figura 7.12 Uma simulaglo de ‘rds cessbes do retiradas de alos ‘de um conjunco génico._ nicia- rmente,a nova frqiiacia do alelo A, futua consieravelmente em trajtérias exclusnas 2 cada sess. Entretamto, medida que o numero de zigotos formados val aumertar: ‘co,a nove freqoéncia de A, se estar bilza em tomo do valor esperado ces, zigotos produzides foi se acunmilando, a freqiléncia do alelo A, na nova geracio oscilon menos € menos, estabelecendo-se por volta de 0,6, 0 valor esperado, Os desvios que se ‘observam na trajetéria em diregio ao aumento do mimero de zigotos sio aleatérios em relagio ao expetado, como os grificos da Figura 7.12b, ilustram, Esses grificos apresen= tam onttos dois lotes de retiads, com 250 zigotos cada. Em ambos, freqiéncia alica da nova geracio flucua amplamente no comego, mas tem padrio exclusive. Entretanto, como no primeito grifico.a fieqiiéneia alélica da nova geragao sempre se acomoda em tomo do valor previsto de 0,6, Nossa simulagao demonstra que © erro de amostragem diminui a medida que 0 manho da amostra aumenta, Se continuarmos retirando gametas indefinidamente para produzir uma populacio de zigotos infinitamente grande, a freqiiéncia do alelo A, entre cesses zigotos seria exatamente de 0,6, Em populagdes pequenas, a deriva genética € um rmecanismo evolutive poderoso, mas seu poder declina em populagoes grandes. Em seg subseqiientes, ecornaremos a esse ponto. ‘As pesquisas empiricas sobre os erros de amostragem como mecanismos evolutivos: 0 efeito do fundador (© melhor lugar para se observar a deriva genética na natureza Sio as populacdes pequenss Fregitentemente, elas io pequenas quando recém-fundadas por um grupo de indivicluos que se mudou, ou foi mudado, para um novo local. E provavel que as freqtiéncias alélicas da nova populacio sejam diferentes das da populacio de origem, por mero acaso, sso & chamado efeito do fandador. O efeito do fundador é resultado direto do erro de amoxtragem. Por exemplo, se um Linico loco de uma populagao continental de lagartos apresenta 35 alelos diferentes, mash apenas 15 individuos em uma malha de vegetagio fhutuante que se desloca para uma ilha remota (ver Censky et al, 1998), a probabilidade de que a nova populagio insular contenha todos 0s alelos presentes no continente é zero. Se alguns dos individuos fundadores, por acaso, io homozigotos, as freiigncias alélicas mudario ainda mais na nova populagio, Em. {qualquer evento de fundagio, ¢ quase certo que haja algum grau de diferenciaczo genética a0 acaso entre a nova populagio € a anterior. Em outras palavras,a fandagdo de uma nova populigio por um pequeno grupo de individuos nio s6 representa o estabelecimento tipico de uma nova populacio, mas também a evolugio instantinea das diferencas entre a nova populacio e a antiga. Sonya Clegg ¢ colaboradores (2002) usaram a genética molecular em uma anilise para procurar evidéncias de efeitos de fundador em populagdes insulares de “olhos-de-prata” {Zosterops lateralis) Trata-se de pissaros canoros da Austrdlia © da Tasmiinia (Figura 7.132) Na histéria recente, os naturalistas documtentaram a migragio de olhos-de-prata para no~ vas ilhas, para estabelecer novas populagdes (Figura 7.13b), em cinco ocasises. Primeito, ‘em 1830, aves da Tasminia colonizaram a ilha Sul da Nova Zetindia. Em 1856, alguns de seus descendentes mudaram-se para as ilhas Chatham e Palmerston North, no extremo sul da ilha Norte. Em 1865, descendentes das aves de Palmerston North se deslocaram para Auckland, ao norte da ilha Norte, Finalmente, em 1904, olhos-de-prata de Auckland estabeleceram-se na ilha Norfolk. ‘Com redes camuifladas, Clegg ¢ colaboradores capeuraram olhos-dé-prata no continente australiano, na Tasmania e nas cinco localizagSes insulares das colonizacdes recentes. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue das aves ¢ depois as libertatam, Ap6s extragio de DINA do sangue, eles determinaram os gendtipos de cada individuo quanto a seis locos de microssatélites. Eses sio regides de DNA nio-codificador que tém numerosos alelos fa- cilmente identificiveis, que se distinguem pelo niimero de vezes que uma seqiiéncia curta * de mucleotideos esti repetida. Clegg e colaboradores calcularam o niimero médio de alelos por locos em cada nma das sete populagdes. Anilise Evolutva 237 © Gentiventey auszalano| a Norfolk ica Diversidad a 2 ha Norte da ‘ ‘Nova Zelindia 1830 frersion North Taemina pre ita Fopadlo tha Suda ‘Chatham ‘Nova Zelindia rte australiano Tasmania ha Sul da Nova Zelandia tha Chatham Palmerston North, extrema sul da lha Norte da Nova Zelindia A= AucHend,extremo nerte da tha Nevte da Nova Zelindia tha Nextolk Figura 7.13 © efeito do fundador em um péssaro“pulaihas". (a) Urn olho-de prata Zosterps lateralis. (b) recente colorizacio de no- sas thas pelos ohos-de prata fi documertadk,(c)A dversicade aldica fi declnando ao longo da rota de viager dos clhos-de-prata.Em Cle ‘a (2002) Se 0s efeitos dos fundadores tivessem acompanhado o estabelecin sto das novas po- pulayées de olhos-de-prata, cada populayio nova conteria um subconjunto formado 20 {caso, pattr dos alelos que estavam presentes na populagio original de onde wieram os fandadores. Enguanto as aves vagueavam de itha em ila, a diversidade alélica deve tercai- ddowem suas populagSes. Atualmente,adiversdae alia das populages deve ter declinado Quando uma nova popuagso ¢ 20 longo das rotas das viagens do continente australiano para a Tasminia, para a ilha Sul, fundada por um némero pequeno dh para ilha Chatham e também a iha Sul para Palmerston North, para Auckland e dai 42itaviduos, 6 provivel que o pana ilha Norfolk puro acaso faga com que as (Os dados do grifico da Figura 7.13¢ confirmam «ss previsio. O declinio na diversidade freqU@nciasalleas na nova aldica, de uma populagio para a mais proxima, muito pequeno,a pont de ser estatstica- _populapdo sea diferentes das snente indctectivel, provavelmente porque cada popula¢0 nova foi fundada por algo entre 4a populagdo de origem. Fate Zo 20 ¢ 200 migeantes (ver Estoup ¢ Clegg, 2003). Todavia, como os eventos de fundagio feito do fundadon 238 Scott Freeman & Jon C. Herron foram seqiienciais, esses pequenos decinios na diversidade se somam.A diversidade alélica nna populagio da ilha de Norfolk é apenas 60% da presente na Tasminia e de pouco mais cde metade da presente nas populagSes continentais.A evolugio nio ocorreu por meio de selegio, mas por erros aleatérios de amostragem. Isso é deriva genética, sob a forma de efeita do findador. 0s efeitos de fimdador io com freqiiéncia observados em populacdes humanas gene~ ticamente isoladas. Por exemplo,o povo de Pingelap, nas ilhas Eastern Caroline, localizadas, 4.344 km a sudoeste do Havai, descende de 20 sobreviventes de um tufio, ¢ da fome subseqtiente, que devastou o atol de Pingelap, por volta de 1775 (Shetfield, 2000). Entre os sobreviventes, havia uma heterozigota portadora de um alelo recessivo com perda da fisn- Go, do gene CNGB3 (Sundin et al., 2000). Ese gene, localizado no eromossomo oito, co- difica um componente de uma proteina crucial para 0 fancionamento das células cones, 38 fororreceptoras da retina, que nos proporcionam a visio das cores. Sabemos que essa sobre- vivente era portadora porque, quatro geracdes apés o tuff, comecaram a aparecer.entre os descendentes dela, homozigotos com o alelo mutante. Esses individuos tm acromatopsia, uma condigdo caracterizada pela cegueira completa para cores, extrema fotossensibilidade « baixa acuidade visual. A acromatopsia € rara na maioria das populag6es, afetando menos 4g % | pesos em 20.000 (Winick en, 1999). Ener 05 3.000 habitaneesarais de Pingeap, porém, 1 em cada 20) tem acromatopsia. Provavelmente, a alta freqiiéncia do alelo da acromatopsia entre os habitantes de Pin~ gelap nio se deve a alguma vantagem seletiva que ele coniere aos heterozigatos ou ho- mozigotos. Ela se deve simplesmente a0 acaso. O erro amostral cavsado pelo tufio, um efeito de fundador, deixou o alelo com uma feeqiiéneia de pelo menos 2,5%, Nas geragSes subseqiientes, a deriva genética aumentou-a ainda mais, para sua freqtiéncia atu de mais de 20%, Nossos exemplos dos olhos-de-prata e do povo de Pingelap nio s6 ilustram 0 efei- to do fandador como também a natureza cumulativa da deriva genética, Na proxima secio, consideraremos mais detalhadamente as conseqiiéncias cumulativas da deriva genética A fixacao aleatéria de alelos e a perda de heterozigosidade Vimos que a deriva genética pode mudar as freqiténcias alélicas em uma tinica geragio, ¢ que ela & ainda mais poderosa como mecanismo evolutivo quando seus efeitos se com poem ao longo de varias geragdes, Podemos investigar seus efeitos cumulativos por meio do mesmo modelo fisico jé uilizado: fechando os olhos e escolhendo os gametas em um conjunto génico no papel. Noss ponto de parti sera o conjunto génico da Figusa 7.143, em que os alelos A, A, tém freqiiéncias allicas de 0,6 ¢ 0,4. Chamaremos os genitores que produziram esse conjunto génico geracdo zero. Como haviamos feito antes, escolhe- mos s gameras 3s cegas para simular a produgio de L0 zigotos por cruzamentos a0 acaso. Desa vez, as fieqiiéncias alélicas entre os zigotos recém-formados sio de (15 para Aye de DS para A,.Chamaremos esses 2igotos geracio um. Para continnar a simulacio para uma proxima geracio, precisamos preparar um outio conjunto génico, com os alelos A,e A, nas freqiiéncias de 0,5 ¢ 0,5 (Figura 7.14b). Reti- rando gametas desse conjunto génico, obtemos os zigotos para a geracio dois. Na geragio dois, as freqiiénciasalélicas sio de (4 para Ae de 0,6 para A, Agora, preparanios 0 conjunto génico com os alelos A,¢ A. mas freqiiéncias de 0,4 € 0,6 (Figura 7.146) retiramos os zigotos para formar a geragio trés, Nessa gerago, as freqiién- cias alélicas so de 0,45 para A,e de 0,55 para A, Anilise Evolutia 239 (@) Geraci 060% des 408 de Ay (b) Gerago 1-505 de 8 S09 dey (0) Geragdo 2: 40% de & 605 de Ap \@ LAN ONES CON Nea CON Neg & Ron Figura 7.14 Uma simulagio dos efeitos cumulatives da deriva genética, Os gametas que formam os zgotos de cada geragio so retracos 60 conjunto génico da geracdo anterior;com erro de amostragern Agora, precisamos de um conjanto génico com osalelos Ae A, nas fregiténcias génicas de (145 ¢ 0.55, ¢ assim por diante.A vantagem de se usar um computador para simular 2 retirada dos gametas do conjunto génico logo € evidenciada. O computador pode fazer para n6s as simulagdes de geragio aps geragio, pelo tempo que quisermos, e montar gri- ficos de acompanhamento da freqiiéncia do alelo A, ao longo do tempo. (Os graficos (a), (b) ¢ (¢) da Figura 7.15 apresentam os resultados de 100 geragdes stces- sivas de deriva genética, em populagdes simuladas, de tamanhos diferentes. Cada gritico acompanha as fregiiéncias aldlicas em oito populagdes. Cada populagio comega com fre «giiéncias alicas de 0,5 para A,e de 0.5 para A,.As populagdes acompanhadas no grifico {@) tém apenas 4 individuos cada uma, as populagdes acompanhadas no grifico (b) tém 40 individuos cada uma, ¢ as populagdes acompanhadas no grifico {c) tém 400 individuos cada uma, Hi trés padres que sio evident: 1, Como as flutuagdes nas freqiiéncias dos alelos, de uma geragdo para outa, sio devi- dasa erros aleatSrios de amostragem, cada popalagio segue uma trajetéria evolutiva exclusiva, 2. A deriva genética tem um efeito mais sipido e acentuado sobre as fregiiéncias aéli- cas em populagSes pequenas do que em populagdes grandes. 3. Havendo tempo suficiente, a deriva genética pode produzir mudangas substanciais de fiegiiéncias alélicas, mesmno em populagdes relativamente grandes, ‘Veja que, quando a deriva genética é o tinico mecanismo evolutivo em a¢io em uma populacio — se nio ha selecio, mutaco ou migracio -, entio os erros de amostragem. fazem com que as freqiiéncias alélicas variem entre (¢ 1. Essa yariagio é particularmente visivel na populacio cuja evolucio é destacada no grifico da Figura 7,15b, Durante as pei imeias 25 geragdes, a fregiléncin do alelo A, foi de 0,5 para mais de 0,9. Entre as geracdes 25 e 40, ela retornou para 0,5. Entre as geracdes 40 e 80, freqiiéncia balancou entre 0,5, € 0,8. Depois,a freqiiéncia de A, caiu violentamente,a ponto de, ma geragao 85, alcangar 0 ¢ A, desaparecer ch populacio.A variagio das freqiiéncias alélicas produz dois importantes, efeitos colaterais (1) eventualmente os alelos derivam para sua fixacio ou exclusio, ¢ (2) a freqiiéncia de heterozigotos dimin 0b devva genética, cada populagdo segue uma temjotrin ewok casio ‘A deriva gendtea rbpida em popuiagie pequenaselnta en pepuiagées grandes. 240 Scott Freeman & Jon C. Herron {)Tamantio da populace (@)Tamanho da popula lo 0s os 2 : 3 Freqitndade $4]. fos So Fasereoes Sel q g ), E21 a ere goa ‘io 02 OF Os OB 10 8 os Foo Frege do ll (=) 8 g Eo far oS 00 00 : &% Wo +» ® & Wo () Tamanho da populagao = 40 05 Hoterasigasidade méda n 0 © © 0 (Tamanho da populaglo = 400 Be : 2 08 # os 2 a a6 03 3h q 3 ' Gos foo Eo2 Za 0 o9 > » 8 © 1 0 » 0 © © 10 Geragio Gerasio Figura 7.15 Simulagio de deriva ganética em populagaes de tamanhos diferentes. Os grificos (a,b) ¢ (6) mostram a freatiénca do aelo A, durante 100 geracBes Em cada grifco, esta regstradas 8 populagbes, vendo uma celas destacada em laranja. Os gréficos (9), (6) ¢ () apre sentary as rejiéncias médias de heterozigatos durante 100 geragdes, nos mesmos conjuntos se populaes simuladas As curvas em cnza re- presentam a taxa ce declnio prevsta teorcemente. A insergo no grafico (d} mostra a freaiéncia de heterazigotos em uma populacio, calving bor 2{p}(1 —p).em funcao da freqléncia p do alelo 4, seu conjunta os gsfcos dessa Figura mcstram que a deriva genética leva & facto aleatvia de alelose a perda de heterazigosidade,e que ela 6 0 mecanismo evolutivo rais poderoso em populacBes pequeras. AA fixacao de alelos ao acaso ‘Como qualquer alelo deriva entre’as freqtiéncias de 0 a 1,0, mais cedo ou mais tarde cle ‘encontraré um destino inevitivel: sua freqincia atingir um ou outro extreme. Se a fre + qiténcia alélica alcanga 0, aquele alelo estari perdico para sempre (presumindo que nio seja reintroduzido por mutacio, ou por migracio). Se a freqiiéncia do alelo atinge 1,0, entio ele ficari, como se diz, fixado, também permanentemente. Para examinar por que a freqiiéncia de heterozigotos declna, primeira examine o inserto no grifico (d). Ele plotaa freqiiéncin de heterorigotos em uma populagio de cruzamentos a0 acaso em fungio de p, que é a freatiéncia do alelo A,..Na oito populagdes acompanhadas na Figura 7.15a, 0 alelo A, de~ rivou para a focigio em uma e para a exclusio em trés.E sé ama questio de tempo para ele ‘vir a ser fixado ou perdido também nas demais populagdes. A medida que uns alelos deri~ vam pana a fixagdo ¢ outros para a exclusio, a diversidade alélica das populagées diminui. “Agora, imagine uma populacio finita onde existem virios alelos para determinado loco: AyAyAy,A,,e assim por diante, Se a deriva genética for 0 inico mecanismo evalutive em acio, eventualmente um dos alelos derivars para a fixagio, No exato momento em que um alelo é fixado, os demais estario excluidos. Gostariamos de conseguir prever o destino dos alelos. Certamente niio podemos fazé-lo, ‘mas podemos oferecer possibilidades. Sewall Weight (1931) provou que a probabilidade de um dado alelo de uma populacio vir a ser aquele que deriva pars a fixacio € igual & fiegiiéncia inicial dese alelo (ver Quadro 7.3). Por exemplo,se comegamos com wma po- pulagio finta em que a freqiiéncia de A, € de 0,73 ¢ a de A,¢ de 0,27,hé 73% de chance de que seja 0 alelo A, que vai derivar para a fixacio. A perda de heterozigosidade Como as fiegiiéncias alélicas em uma populacio finita derivam para a fixagio ou para a exclusio,a fregiiéncia de heterozigotos na poptlagio dimini. Os graticos (@). (e) ¢ (0 da Figura 7.15 mostram o declinio nas freqiéncias de heterozigotos em nossas populagdes simuladas. Para ver por que a freqiiéncia de heterozigotos declina, olhe pritneiro para o inserto no grilico (d). O inserto plota a freqiiéncia de heterozigotos emt uma populacio de cruza~ ‘mentos aleatorios, como uma fingio de p,a freqiiéncia do alelo A,. Como os individuos Quadro 7.3 A probabilidade de um determinado alelo S ser fixado por deriva Andlise Evolutia 241 Se a deriva genética for 0 nico -mecanimo evolutive em aro, ‘eventualmente um dos alelos erivaré para a freqUéncia (sto 4, para a fxagiio) ¢ todos 08 demas alelos sero perdidos. Sewall Wright (1951) desenvolven uma teoria detalhada sobte a deriva genética, Além de varios outros resultados, cle mostrou que a probabilidade de um determinado alelo ser aquele que deriva para a fixagao é igual 4 fieqiéncia inicial dese alclo. O modelo de deriva genética de Wright foge ao escopo deste livro, mas podennos fornecer uma ex plicagio intuitiva sobre as probabilidades da fixacio. Imagine uma populagao com N individuos. Essa po- ppulicao contém uum total de 2N c6pias do gene. Imagine que cada um desses exemplares do gene seja um alclo clusivo, Admita que a deriva genética seja 0 nico meca- nismo evolutivo atuante, Em algum ponto futuro, um dos 21V alelos derivara pata a fixacio, e todos os demais serio perdidos. Cada alclo precisa ter a mesma chance de ser aquele que de- rivard para a fixagio; € isso que queremos dizer quando assumimos que a deriva era o émico mecanismo evolutivo atuante, Portanto, temos 2N alelos, cack um com igual probabilidade de ser fixado, Entio, a chance de cada alelo tem de ser 3, Agora, imagine que, em vez de cada alelo ser exclusi- vvo, existam 3 c6pins do alelo A, y c6pias do alelo A, € = c6pias do alelo A. Cada c6pia do alelo A, tem chance de 3k de ser 0 que deriva para a ixagio, Portanto, a probabi~ Tidadle total de uma cépia do alelo A, sera que deriva para a fixagio & 2N Da mesma forma, probabilidade de que uma cépia do alelo A,seja o alelo que deriva para a fixagao é 2. Note que 3.3 ¢ sy também sio as fregiiéncias ini- ciais de A,,de A, e de 4,na populagio, Mostramos que a probabilidade de que um dado alelo seja aquele que deriva para a fixaglo é igual 3 freqliéncia inicial daquele allo. 242 Scott Freeman &Jon C, Herron A medida qu 0 alle devvarn para a fag ou para exist a roid de heteroxgotos na populago din. cruzam a0 acaso, podemos calcula a freqiiéncia de heterozigotos como 2(p)(1 — p).A fie- giléncia de heterozigotos teri seu valor maximo (0,5) quando A, tiver a fieqiiéncia de 05. Quando a freqiiéncia de A, baixa em diregio a 0 ou sobe em dlrecio a 1,0,a freqiléncia de heterozigotos diminui. E, naturalmente, se a freqiéncia de A ,atinge 0 ou 1,a fiegiiéncia dde heterozigotos cai para zero. Agora, examine os grificos (a) (b) e (¢)-Em qualquer geracio considerada,a freqiiéncia de A, pode aproximar-se ou afastar-se de 0,5 em qualquer populagio (desde que A, jt no tenha sido fixado ou excluido). Portanto, em qualquer populasio, a freqiiéncia de hetero- zigotos pode aumentar ou diminuie, Entretanto, no conjunto dis populagdes,a tendéncia sgeral 6 de que as feeqiiéncias aldlicas se afastem dos valores incermediiris e se dirijam pars {0 ow 1. Portanto, no conjunto das populagbes,a fieqiéncia média dos heterozigotos tem a tendéncia de car. ‘Agora, observe os grificos (d), (e} ¢ (§. Em cada um deles, linha preta acompanha a freqiiéncia média de heterorigotos nas oito populagdes em questio. Com efeito,a freqilén- cia de heterozigotos tende a cair rapidamente nas populagSes pequenas e lentamente nas ‘grandes. Eventualmente, um ou outro alelo sera fixado na populigio,e a fregiiéncia média de hererozigotos cairé para 0 As vezes, a freqiiéncia de heterozigotos de uma populacio é chamada heterozigosi~ dade da populagio. Gostariamos de poder prever a velocidade esperads do declinio da heterozigoxidade em populagdes finitas. Sewall Wright (1931) demonstrou que, na média de wirias populaydes,a freqiiéncin de heterozigotos obedece i relacio {-3s] no qual H,,, & heterozigosidade na geracio seguinte, H, €a heterozigosidade na geragio Hye = 1 atual,e N’é 0 néimero de individuos da populagio, O car - Heme estar entre Le 1,de modo que a fegiéncia de heterorigotos na proxima geracio sempre seri mentor do que a da geracio atwal,As curvas em einza, na Figura 7.13 (d)x(@) © (9,mostram os de- clinios na heterozigosidade, previstos pela equacao de Wright. Para avaliar somente uma das implicagBes da inevitivel perda de heterozigosidade em populares finitas, imagine que vocé seja 0 responsivel pelo manejo, em cativeiro, de uma populacio de uma espécie ameasada de extingzo, Suponha que nos zoolégicos do mundo jnteiro haja apenas 5D adultos em condigSes de procriacio, Mesmio que vac8 conseguisse © intercimbio dos adultos, ou do sémen, para fizer cruzamentos aleatorios, ainda assim ceria uma perda de 1% de heterozigosidade, por geragio, por causa da deriva genética Um estudo experimental sobre a fixagao ao acaso e a perda de heterozigosidade Até agora, nossa discussio sobre a fixagio a0 acaso a perda de heterozigosidade, baseow se em populagdes simuladas e em equagdes mateméticas, Peter Buri (1956) estudou es- ses fendmenos empiricamente em populagdes pequenas da moscirdas-frutas, Drosopi melanogaster. Adotando a estratéyia que havia sido usada por Kerr e Weight (1954), Buri estabelecen 107 populagSes de inoscas, cada uma com oito fémexs e oito machos.Todks as, ‘moseas fundadoras erai heterozigotas em relagio aos alelos de um gene de cor de olhos chamado brown, Todas elas tinham 0 mesmo genétipo: bw” /w. Portanto, em todas as Anilise Evolutiva 243 107 populacdes,a freqiténciainicial do alelo bu” era 0,5. Buri manceve esss populagdes dlatante 19 geragdes, O tamanho de cada populagio,em cada geracio, foi mantido em 16 individuos, por meio da tetitada aleatoria de ito fEmeas e oit0 machos, para seremt 0s procriadores ca geragio seguinte Que resultados poderiam ser previstos? Se nem o alelo bw” nent o he confere alguma ‘vantagem seletiva, esperamos que a feqiiéncia do bw’ varie ao acaso, por deriva genética, em cada populagio, Em populagbes de 16 individuos, 19 geragdes devem ser suficientes para que muitas deis tenham um dos alelos fixado. Como o alelo bw tem frequéncia inicial de 0,5, expera-se que ele sea exeluido ou fixado em freqiiéncias aproximadamente Jguais, Como, em cada popuilcio, ele esti derivando entre a fxicio e a exclusio, no con- jnto das populagies,espera-se que a heterozigosidade média decline.A taxa de declinio deve seguir a equagio de Wright, apresentada na segio anterior. (Os resultados de Buri confirmaram esas previsbes. Cada pequeno grifico da Figura 7.16 & um histograms que resume 2: freqiéncias allicas em todas as 107 populagdes de tua determinada geragdo, O eixo horizontal representa a freqiéncia do alelo bw", € 0 exo vertical representa o nimero de populagSes que apresentatn cada fieqiiéncia, Na geracio zero, que nio aparece na figura a fregigncia de bw” era 0,3 em todis as popu- IagGes. Depois de wma geracio de deriva genética, a maioria das populacdes ainda tinh a fregiéncia aélica préxima de 0,3, embora em uma populacio a freqiléncia ji estivesse recdusida para 0,22, ¢ em outta ela jé aumentara para 0,69. medida que a fregiéncia do alelo bu’ subia em algumas populagdes e cafa em outeas, a distibuigio das freqiiéncias alglica se dsperava rapidamente, Na geracio quatto,a freqiiéncia de bw” chegou a I pela primeita vez. Na geragio seis, freqiigncia de bw” chegou a 0 pela primeira vez. A medida aque a fregiénciaalélica chegava 21, ou 0 em um nfimero cada vez maior de populagSes, a distribuicio das freqiiéncias assumia uma forma de U. Ao fim do experimento, 0 bir” fora excluido em 30 populagaes ¢ fixado em 28.A relacio de 30:28 exclusdestixagdes & tito prdxima do 1:1 esperado sob deriva genética. Durante 0 experimento de Buri, hou ve grande evohugdo em quuse todas as 107 populagées de mosca-das-frutas, masa selegi0 natural nada teve 2 vér com isso. [As ptopriedades genéticas do loco brown eram tais gue Buri podia identifica os trés gen6tipos por meio dos fendtipos. Asim, ele podia obter diretamente as tregiiéncias de ipeterozigotos em cada populagio, Na gerapio zero, feqiiéncia de heterozigotos era 1, dle modo que a heterozigosidade, na geragio um, era 0.5. Dai em diante, Buri anotava a fiegiéncia de heterozigotos em cada populacio e depois obtinha a heterozigosidade media nas 107 populagbes.A Figura 7.17 ratreia exes valores de heterozigosidade média durante as 19 geragdes do experimento, Primeito, observe 0s pontos laranjas, que representam 05 ser perdido, 250 Scott Freeman &Jon C.Herron Quadro 7.5 Aqui, é apresentado um cilculo que estabelece que, quan= do a deriva genética é 0 tinico mecanismo evolutivo em ago,a taxa de substiuigZo evolutiva€ igual 3 taxa de mu- tacio (Kimura, 1968). Imagine uma populagio dipléide de tamanho N. Nessa populacao, ha 2N alelos do loco de interesse, sendo que “alelos” significam exemplares do gene, quer sejam iguais, quer sejam diferentes. Seja v a taxa de mutagdes seletiva- ‘mente neutras por alelo por geracio, e suponha que cada mutacio cria um alelo previamente inexistente na popt- lagio. Entdo, em cada geragio haveré 2Nv alelos novos criados por mutagio. Como, por pressuposi- £30, todos 0s alelos novos sio seletivamente neutros, a de~ riva genética & 0 tinico processo em a¢io, Cada alelo now tem a mesma chance que qualquer alelo da populagio de derivar para a fixagio. Essa chance, igual 3 freqiiéneia do, novo alelo, & Ey 2N Portanto,a cada geragio, 0 mimero de alelos novos que sio criados por mutagio destinados a derivar para a fi= xagho &: 2np x WX aye (© mesmo argumento se aplica a qualquer geracio. Por- tanto, a txa de evolugio no loco de interesse & de v subs tituigdes por geracio, A taxa de substitui¢ao evolutiva sob deriva genética Mutagio, selecio e deriva na evolugiio molecular Para nossa discussio sobre a evolugio molecular, sera dit explorar mais detalhadamente o que se quer dizer com v, 2 taxa de mutagées neutras. Imagine que 0 loco de inte ress seja um gene que codifica uma proteina que tem L aminoacidos de comprimento, Seja # a taxa de mutacdes pot c6don por geracio.A taxa total de mutagées em nosso loco é dada por: ma ul(d + otf) = ald t wba t ulf onde d € a fiagao de madangas em cédons que sio deleté- rias,a é a fragio das que sio seletivamente vantajosas,f8.a fragdo das seletivamente neutras,e d+ a+ f= 1.Note que 0 termo uLf, mais correto,é igual a0 noso anterior 1 ‘Ao mostrar que a taxa de substituigdes & igual a 1, a5- sumimos que tanto ¢ quanto a sto iguais a zero, Natu ralmente que, em populares reais, muias mutagdes sto deletérias,e d no € zet0, Ibs0 nko muda nossos cilculos sobre a taxa de substitui¢io, Os alelos deletérios sio elimni- nados por selegao natural ndo contribuem para a taxa de substicuicio evolutiva ‘Os proponentes da teoria neutralista sustentam que a & aproximadamente igual a zero, que f muito maior do que a. Por iso, eles prevéem que a substituigio evolutiva ‘eri o predomiinio das mutagdes neutras e da deriva e que ocorreri em uma taxa v= Lf, como ealculéramos. Os proponentes da teoria selecionista sustentam que a € grande demais para ser ignorada,¢ que a taxa de substi- tuicio evolutiva sera signiticativamente influenciada pela natural a favor dos alelos vantajosos. que populagdes menores, mas popuilagdes de quaisquer tamanhos acumulam substitui- ges com a mesma velocidade. [Naturalmente,além da deriva genética, com freqiiéncia hi outros mecanismos evolutivos atuando. Podemos permitir alguma selegZo natural em nosso modelo e, mesmo assim: ter um resultaclo semelhance. Imagine que algumas mutacdes io deletérias, enquanto outras io se- Jetivamente neutras.As deltéris serio eliminadas pela selegio naturale jamais serdo fixads, [Nese caso, taxa de substtuigio seri igual 3 taxa de ocorséncia de muiagdes neutras. Hi uma divisio entre os bidlogos evolucionistas quanto 4 relevincia desse efleulo em populagdes reais. Todos concordam que um tipo de mutagio © um tipo de selego foram desconsiderados (ver Quadro 7.5) Algumas mutagies sio seletivamente yantajosas © con- dduzicas 4 Bxagao de forma mais segura e répida do que jamais poderia ser conseguico por deriva genética, Entretanto, sobre a freqiiénc' -peasmento evolucionista com que isso ocorre, ha duas correntes de Os proponentes da teoria neutralista, eféndida hi longo tempo por Motoo Kimura (1983), sustentam que as mutagdes vantajosas sio extremamente raras,¢ que a maioria dos alelos, ca maioria dos genes, sio seletivamente neutros. Os neutralists prevéem que, para a ‘maioria dos genes, na maioria das populagdes, a taxa de evolugdo, de fato, seri igual A xa de mutagdes neutras. Os proponentes da teoria selecionista, defendida com nais vigor por John Gillepsie (1991),sustentam que as mutagdes vantajosas slo comuuns o bastante para nio serem igno- tds. Os selecionistas prevéem que, para muitos genes, na maioria das populagSes, a taxa de substtuicio refletiri a agio da seleco natural sobre as mutagdes vantajosas A discussio neutralstasselecionistas esti sendo amplamente travada na arena da evolu~ do molecular, que € para onde iremos, na proxima secio, para fazer exploragdes. Regumindo,a deriva genética é um mecanismo evolutivo nio-adapiativo.As fregiiéncias allies podem mudar de uma geragio para a seguinte por simples conseqiiéncia de um erm de amostragem.A deriva genética € mais poderosa em populacdes pequenas ¢ quando acumnula durante virias geragées. No fim, a deriva genética leva 3 fixagio de alguns alelos ¢ ‘iexclusio de outros ¢ a um declinio geral da diversidade genética. 7.3 Deriva genética e evolucao molecular © campo da evolugio molecular foi inangurado em -meados da década de 1960, quando ‘os bioguimicos conseguiram determinar a seqiiéncia de aminofcidos da hemoglobins, do itocromo ce de outris proteinas especialmente abundantes e bem estudadas, encontradas em humanos ¢ em outros vertebrados. Eses conjuntos de dados proporcionaram as pri- rmeiras oportunidaces para os bidlogos evolucionistas compararem as quantidades ¢ as taxas das dferengas moleculares entre espécies (Os primeiros a trabalhar nesse campo fizeram vias observacdes surpreendentes so- bre esses conjuntos de dados. Em primeiro lugar estavam os cileulos feitos por Motoo Kimura (1968). Ele tomou 0 nimero de diferengas de seqiiéncias observadas entre pro- tenas bem estudadas, de humanos e de cavalos, ¢ colocatt-as em uma escala de tempo, usando as datas das divergéncias do documentirio fossil. Depois, ele extrapolou essas ‘axas de evolugio molecular para todos 0s locos coditicadores de proteinas do geno~ sna. Seus célculos levaram a implicagio de que, quando as duas linhagens divergiam de seu ancestral comum, as mutagSes novas, que levavam a modificagdes de aminodcidos, tinham atingido a fixacio, em média, uma vez a cada dois anos. Considerando que a ‘maioria das mutagSes devia ser deletéria, essa taxa parecia demasiadamente alta para ser creditada i selegdo natural. Mutagdes benéfieas, fixadas por selegio natural, deveriam ser extremamente raras, ‘Umu segunda observagio, proporcionada por Emil Zuckerland e Linus Pauling (1965), cra de que, durante a diversificagio dos vertebrados, a taxa de modificagdes na seqiiéncia de aminodcidos, em certas proteinas, parecia ser constante a0 longo do tempo, ou crono- ‘métrica.” Algumas vezes, utiliza-se a expressio “relgio molecular”, Esse resultado também. ‘parecia discordante em relagio & ago da selecio natural, que deveria ter uma natureza episédica e cortelacionada com mudangas ambientais ¢ no com 0 tempo. ara resumir, os primeiros dados sobre a evolugio molecular ndo concordavam com “expectativa de que a selecio natural fosse a responsivel pela maior parte das mudangas ‘evolutivas. Os resultados levantaram uma questio importante: s¢ a selecio natural no ‘explica a evolugio no nivel molecular, qual é 0 processo responsivel pela constatagio das mudangas ripidas, cronométricas? Muitos pesquisidotes acrecitam que a resposta é a eriva genética, : TN de. Alums vere tina a expresso "elogio molec” Anilise Evolutva 251 Quando 2 mutago, a derva genética ea selepointeragem, tr6s processos ocorrem: (1) aparecem alelos deletérios & ‘0 eliminados por slegdo; (2) aparocom mutagBes nevtras 12 so fladas ou excluidas a0 caso; (9) aparecem alos vantajosos e so conduzidos A Fragio, pela selegio A importincla relativa de(2) ede (8) na determinagdio da taxa ageral de substitulglo & asounto de diccussées. As primeirss andlices da evolugsio ‘molecular sugeriam que ae taxas de mudanga eram elevadas.e constantes ao longo do tempo. esa conclusdes pareciam confitantes como que se esperaria sob solego natural.

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