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Direito do Ambiente

DIREITO DO AMBIENTE

Noção de Ambiente

Os conceitos de ambiente são diversos. Podemos considerar o ambiente como um bem em


si mesmo ou, pelo contrário, considerar o ambiente um bem que deve ser preservado apenas
enquanto bem de utilidade e aproveitamento para o homem. Verificamos aqui duas
concepções:

1. Ecocêntrica tem como principal suporte a Natureza como um bem em si mesmo, que
como tal, é merecedor de tutela, independentemente e para além da sua capacidade
para satisfazer as necessidades do homem. O homem é, nesta concepção, valorado
enquanto parte integrante da natureza, devendo os bens naturais serem por ele
respeitados e conservados, independentemente da sua mediata utilidade para o
homem.
2. Antropocêntrica tem como valor essencial o homem e, parte-se da consideração que,
os bens da natureza têm essencialmente sentido enquanto meios de o homem satisfazer
as suas necessidades vitais e de lhe proporcionar conforto e bem-estar. Nessa
perspectiva interessará ao Direito do Ambiente criar normativos que regulem as
condições em que o homem pode aproveitar os bens ambientais, sendo, o valor desses,
proporcional à utilização que os mesmos podem proporcionar ao homem.

Todo o Direito é, em princípio, antropocêntrico, na medida em que tem como valor


essencial o homem e a sua actividade solitária ou integrada no meio social em que se insere.
À partida, por isso, o Direito do Ambiente coaduna-se mais facilmente com a segunda
concepção (antropocêntrica).

Há, porém, que ter presente que, consoante a concepção que o legislador abraçar, diferem
forçosamente os elementos que, integrando a natureza, merecem a tutela do Direito do
Ambiente. No caso de se entender que o que interessa é tutelar o ambiente enquanto
proporcionador de utilidades para o homem, então, merecem a tutela do Direito todos os bens
naturais que gozam desse atributo. Pelo contrário, se o entendimento de ambiente for o de que
este é um bem em si mesmo, interessar-nos-á apenas reger juridicamente os bens ambientais
em si mesmo (independentemente de satisfazerem ou não as necessidades do homem), isto é,
todos os componentes do ecossistema.

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Por outro lado, haverá que distinguir três definições de ambiente:

1. Ampla, que considera nele, ambiente, incluídos, não só os bens da natureza, como a
fauna, a flora, a água e o ar, mas também os bens culturais, como o património
monumental e natural e a paisagem. A definição do ambiente é, nesta posição,
coincidente com a concepção antropocêntrica.
2. Restrita, o ambiente reduz-se ao conjunto de recursos naturais renováveis e não
renováveis e as suas interdependências. Nesta vertente o ambiente reduz-se aos
componentes ambientais naturais, isto é, a todos os de cuja existência depende, em
última análise, a subsistência de formas de vida humana. O homem deixa de constituir
o núcleo central do ambiente e, pelo contrário, este vale por si mesmo e, por isso, é
merecedor de tutela jurídica autónoma e independente da sua utilidade para o homem.
Esta posição constitui uma emanação da concepção ecocêntrica.
3. Mista, considera que o conceito de ambiente é variável, mutável e relativamente
indeterminado. Os seus contornos definem-se em cada época consoante os factores de
ordem científica, física, cultural e económica do momento. Esta posição abrange e não
afasta as duas anteriores sendo compatível com as concepções antropocêntricas e
ecocêntricas.

As opções do legislador angolano

A Constituição da República de Angola (CRA), aprovada pela Assembleia


Constituinte, a 21 de Janeiro de 2010 e, na sequência do Acórdão do Tribunal Constitucional
nº111/2010, de 30 de Janeiro, a 3 de Fevereiro de 2010, promulgada em 5 de Fevereiro de
2010, consagra diversos normativos que contendem com a problemática do ambiente. Desde
logo no art.3º,nº2 se dispõe que: “o Estado exerce a sua soberania sobre a totalidade do
território angolano, as águas interiores e o mar territorial, bem como o espaço aéreo, o solo e
o subsolo, o fundo marinho e os leitos correspondentes”. No nº3 do mesmo artigo refere: “o
Estado exerce jurisdição e direitos de soberania em matéria de conservação, exploração e
aproveitamento dos recursos naturais, biológicos e não biológicos, na zona contígua, na zona
económica exclusiva e na plataforma continental”. Por seu turno o art.16º diz que: “os
recursos naturais, sólidos, líquidos ou gasosos existentes no solo, subsolo, no mar territorial,
na zona económica exclusiva e na plataforma continental sob jurisdição de Angola são
propriedade do Estado, que determina as condições para a sua concessão, pesquisa e
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exploração”. Relevante ainda para esta problemática é o que dispõe o art.39º, cujos nºs 1, 2 e
3 referem: “todos têm o direito de viver num ambiente sadio e não poluído, bem como o dever
de o defender e preservar”; “o Estado adopta as medidas necessárias à protecção do ambiente
e das espécies da flora e da fauna em todo o território nacional, à manutenção do equilíbrio
ecológico, à correta localização das actividades económicas e à exploração e utilização
racional de todos os recursos naturais, no quadro de um desenvolvimento sustentável e do
respeito pelos direitos das gerações futuras e da preservação das diferentes espécies; a Lei
pune os actos que ponham em perigo ou lesem a preservação do ambiente”. Por último e no
que concerne ao texto constitucional, refere-se que é da competência da Assembleia Nacional
legislar, com reserva relativa da competência legislativa, salvo autorização concedida ao
Executivo (Presidente da República) sobre as bases da concessão de exploração dos recursos
naturais e da alienação do património do Estado e, sobre as bases do sistema de protecção da
natureza, do equilíbrio ambiental e ecológico e do património cultural, como dispõem as
alíneas l) e q) do nº1 do art.165º.

Das normas acabadas de enunciar entendemos que o legislador angolano aderiu a


uma concepção mista do ambiente, na medida em que valoriza não só o bem-estar e a
qualidade de vida dos cidadãos, mas também a defesa do ambiente em si mesmo. Resulta dos
dispositivos citados que o Estado angolano está constitucionalmente obrigado a zelar pela
manutenção do equilíbrio ecológico e a adoptar as medidas necessárias à protecção do meio
ambiente, tendo em vista poder garantir aos cidadãos o exercício do direito, que o texto
constitucional igualmente lhes garante, de viver num ambiente sadio e não poluído. Cabe ao
Estado orientar o desenvolvimento da economia nacional com vista a garantir, entre outros
fins, a utilização racional e eficiente de todos os recursos naturais. Os recursos naturais estão,
pois, ao serviço da economia nacional, devendo a sua utilização, coordenada pelo Estado,
depender dos desígnios do desenvolvimento e bem assim da preservação de um ambiente
sadio e não poluído e do equilíbrio ecológico.

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A Lei de Bases do Ambiente

A Lei de Bases do Ambiente (LBA) constitui hoje a Lei nº5/98 de 19 de Junho, tendo
sido aprovada pela Assembleia Nacional (AN) para execução dos normativos constitucionais
anteriormente mencionados. Pretendeu o legislador consagrar um quadro jurídico que
definisse de modo global as responsabilidade de cada um dos intervenientes no processo
ambiente, estabelecendo os direitos, deveres e garantias quer do Estado quer dos particulares,
definindo, ainda, os correspondentes princípios gerais e específicos e, bem assim, os
objectivos da política ambiental.

O nº2 do Anexo à LBA define o ambiente como o conjunto dos sistemas físicos,
químicos, biológicos e suas relações e dos factores económicos, sociais e culturais com
efeitos directo ou indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida
dos seres humanos.

Do art.1º podemos retirar a seguinte noção de Direito do Ambiente: o conjunto de


normas e princípios jurídicos que regulam a protecção, preservação e conservação do
ambiente, promoção da qualidade de vida e uso racional dos recursos naturais.

Princípios Fundamentais do Direito do Ambiente

Princípios Gerais (art.3º)

Estabelece o direito dos cidadãos a um ambiente sadio e aos benefícios da utilização


racional dos recursos naturais. Em contrapartida, atribui também o dever dos cidadãos
participarem na defesa do ambiente, quer através de organizações associativas quer, a título
individual, nas consultas públicas que venham a correr em consequência de projectos, quer,
ainda, através do direito e dever de participação ou denúncia de acções de terceiros
susceptíveis de causar danos ao meio ambiente.

Estabelece-se a obrigação de respeitar os princípios de bem-estar de toda a população,


de ser protegido, preservado e conservado o ambiente e do uso racional dos recursos naturais,
reconhecendo-se que os interesses meramente utilitários não prevalecem sobre os interesses
que regem a preservação e defesa dos bens ambientais. Em ordem a que tais princípios sejam
integralmente atingidos o Estado fica obrigado a implantar um Programa Nacional de Gestão

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Ambiental e a criar as estruturas e organismos que permitam e tornem exequível a realização


prática dos direitos e deveres genericamente atribuídos aos cidadãos.

Princípios Específicos (art.4º)

1. Princípio da formação e educação ambiental

O Estado reconhece a todo o cidadão o direito e o dever de receber educação


ambiental. Entende-se que dessa educação há-de resultar uma melhor sensibilização e
compreensão do fenómeno ambiental e, consequentemente, uma mais consciente e adequada
actuação perante as necessidades de defesa do meio ambiente.

2. Princípio da participação

São reconhecidos a cada cidadão o direito e o dever de participar no controlo da


política ambiental quer isoladamente quer pela intervenção das associações a que pertença,
designadamente nas consultas públicas dos projectos submetidos à apreciação das entidades
públicas, quer em fóruns do ambiente ou outro modo que se venha a mostrar adequado à
defesa do meio ambiente.

3. Princípio da prevenção

Todas as acçoes ou actuações com efeitos imediatos ou a longo prazo no ambiente


devem ser consideradas de forma antecipada, por forma a serem eliminados ou minimizados
os eventuais efeitos nocivos. Somente se este princípio for rigorosa e escrupulosamente
respeitado serão evitados danos ao ambiente, pois com casos consumados e actuando a
posteriori dificilmente será possível uma verdadeira política de defesa do ambiente.

4. Princípio do equilíbrio

Tendo-se consciência que o desenvolvimento económico e social da população e do


país dificilmente se irá alcançar sem que o meio ambiente de algum modo sofra as
consequências inerentes ao desenvolvimento, deve ser assegurada a inter-relação das políticas
de desenvolvimento económico e social com os princípios de conservação e preservação
ambiental e uso racional dos recursos naturais, por forma a se alcançarem os objectivos do
desenvolvimento sustentável (que é entendido como desenvolvimento baseado numa gestão

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ambiental que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer o equilíbrio do


ambiente e a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem também as suas necessidades).

5. Princípio da unidade de gestão e acções

O sucesso da política ambiental está dependente de a sua dinamização ser da


responsabilidade de um único órgão nacional. Por isso, deve ser criado e dinamizado um
órgão nacional responsabilizado pela política ambiental, que promova a aplicação dos
princípios para a melhoria da qualidade do ambiente e da vida em todos os sectores da vida
nacional, organize e administre uma rede de áreas de protecção ambiental e incentive a
educação ambiental de forma sistemática e permanente. A diversificação da gestão e das
acções tendentes à conservação do ambiente apenas traria diferenciação de actuação sobre a
mesma problemática, com as desigualdades e minoração dos resultados que se pretendem
atingir no todo nacional.

6. Princípio da cooperação internacional

Determina a procura de soluções concertadas com outros países, com organizações


regionais, sub-regionais e internacionais, quanto a problemas ambientais e à gestão de
recursos naturais comuns. Tal como angola beneficiará da experiência de outros povos,
também estes poderão retirar vantagens da experiência dos angolanos no domínio da defesa
do ambiente.

7. Princípio da responsabilização

Confere responsabilidades a todos os agentes que como resultado das suas acções
provoquem prejuízos ao ambiente, degradação, destruição ou delapidação de recursos
naturais, atribuindo-lhes a obrigatoriedade da recuperação e/ou indemnização dos danos
causados.

8. Princípio da valorização dos recursos naturais

Atribui um valor contabilizável a todos os recursos naturais destruídos ou utilizados


nas várias acções, tanto como matéria-prima ou matéria subsidiária, que deverá ser suportado
por quem beneficia da referida destruição ou utilização nas acções que promove e de que tira
vantagem, valor a ser incorporado no produto final e que deve ser objecto de cobrança a favor
de fundos de gestão ambiental.
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9. Princípio da defesa dos recursos genéticos

O Estado tem a responsabilidade de defesa dos recursos genéticos nacionais em todas as suas
vertentes, incluindo a sua preservação dentro do espaço nacional.

Finalidades e Medidas da LBA

A LBA tem como finalidade a manutenção de um ambiente propício à qualidade de


vida da população. Atingir um padrão de meio ambiente e de utilização dos recursos naturais
que propiciem a toda a população gozar de uma qualidade de vida tão elevado quanto for
possível.

Pra tal entendeu-se ser necessário que as medidas de protecção ambiental terão de
visar os seguintes objectivos:

1. Alcançar de forma plena um desenvolvimento sustentável em todas as vertentes da


vida nacional;
2. Manter o equilíbrio entre a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos e a
capacidade de resposta da natureza. A política ambiental deve encontrar soluções de
equilíbrio, de tal modo que as necessidades das populações sejam satisfeitas sem
provocar danos irreversíveis para a natureza;
3. Garantir o menor impacto ambiental das acções necessárias ao desenvolvimento do
país através de um correcto ordenamento do território e aplicação de técnicas e
tecnologias adequadas;
4. Prestar a maior atenção à qualidade do ambiente urbano através de uma eficaz
aplicação da administração local e municipal;
5. Constituir, consolidar e reforçar uma rede de áreas de protecção ambiental por forma a
garantir a manutenção da biodiversidade, aproveitando essas áreas para a educação
ambiental e recreação da população;
6. Promover acções de investigação e estudo científico em todas as vertentes de ecologia,
aproveitando as capacidades nacionais principalmente dos centros universitários e de
pesquisa;
7. Promover a aplicação de normas de qualidade ambiental em todos os sectores
produtivos e de prestação de serviços, com base em normas internacionais adaptadas a
realidade do país;

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8. Garantir a participação dos cidadãos em todas as tomadas de decisão que impliquem


desequilíbrios ambientais e sociais;
9. Promover de acordo com outros sectores da vida nacional, a defesa do consumidor;
10. Estabelecer normas claras e aplicáveis na defesa do património natural, cultural e
social do país;
11. Proceder à recuperação das áreas degradadas no território nacional;
12. Articular com países limítrofes acções de defesa ambiental e de aumento da qualidade
de vida das populações fronteiriças.

Órgãos de Gestão Ambiental (art.6º-9º da LBA)

São órgãos de gestão ambiental:

 O Executivo, na pessoa do seu titular o Presidente da República;


 Os Órgãos Centrais da Administração Pública;
 Os Órgãos Locais da Administração Pública.

Lembre-se que a expressão “Administração Pública” refere-se não somente a


Administração Estatal, mas também a Administração Autárquica (art.217º.ss.CRA).

Além dos Órgãos do Estado e Autárquicos, a LBA prevê a participação das


organizações associativas de cidadãos ou a título individual nas consultas públicas de
projectos do executivo relativos ao ambiente. Prevê ainda a participação nos foros de gestão
ambiental, das Organizações Não Governamentais.

O Executivo (art.6º da LBA)

A LBA atribui ao Estado e mais concretamente ao Executivo, na pessoa do Presidente


da República, a responsabilidade de definir e providenciar pela execução do programa de
gestão ambiental. Deste deve constar a participação de todos órgãos com interferência na
problemática do ambiente e a correspondente responsabilização destes mesmos órgãos, tal
como a responsabilização de todos os agentes não estatais e dos cidadãos que façam uso dos
recursos naturais ou cujas actividades influenciem o equilíbrio ambiental e as condições
socioeconómicas das comunidades, designadamente através de emissão de poluentes e demais
prejuízos para a qualidade de vida.

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Nos termos da CRA (art.165º,nº1) compete ao titular do executivo legislar mediante


autorização legislativa sobre: bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio
ambiental e ecológico e do património cultural [al.q)]; bases gerais do ordenamento do
território e urbanismo [al.p)]. Compete ainda ao titular do executivo, elaborar regulamentos
necessários a boa execução das leis (art.120º,al.l)).

Órgãos Centrais e Locais (art.7º da LBA)

Quanto ao órgão Central da Administração Pública do Estado compete propor a


formulação de políticas ambientais, conduzir, executar e controlar a política do Executivo
relativamente ao ambiente. Encontram-se neste seguimento o Ministério do Ambiente (e
provavelmente alguma Direcção Nacional e Institutos Públicos) que se pode fazer representar
a níveis regional, provincial, municipal e local. Podendo criar organismos especializados em
actividades específicas da gestão ambiental.

Os Cidadãos e Organizações Não Governamentais (art.8º e 9º da LBA)

A LBA garante aos cidadãos e as organizações não-governamentais o direito e a


obrigação de participar na gestão ambiental, nas consultas públicas de projectos programados,
quer através da participação a quem de direito, de acções de terceiros que julgue lesarem os
princípios do desenvolvimento sustentável ou de legislação em vigor.

A LBA estabelece, ainda, a obrigatoriedade de todos os projectos de acções que


interfiram com o equilíbrio ecológico e utilizem recursos naturais com prejuízo de terceiros,
serem sujeitos a processos de avaliação de impacto ambiental e social, isto é, procedimentos
prévios destinados a avaliar quantitativa e qualitativamente os efeitos e consequências
ambientais de cada projecto (art.10º da LBA).

Medidas de Protecção Ambiental

Nos termos do art.11º da LBA, compete ao Executivo elaborar regulamentos para a


execução do Programa Nacional de Gestão Ambiental, os quais deverão ser acompanhados e
sujeitos a parecer dos órgãos judiciários.

Através desses regulamentos o Executivo deve assegurar que o património ambiental,


designadamente o natural, o histórico e o cultural, seja objecto de medidas que promovam a

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sua defesa e valorização, através do envolvimento das comunidades, em especial das


associações de defesa do ambiente (art.12º da LBA).

O Programa de Gestão Ambiental proíbe todas as actividades que atentem contra a


biodiversidade ou a conservação, reprodução, qualidade e quantidade dos recursos biológicos
de actual ou potencial uso ou valor, especialmente os ameaçados de extinção (art.13º,nº1 da
LBA). Nos termos do nº2 do art.13º, compete ao Executivo assegurar que sejam tomadas
medidas adequadas com vista à protecção especial das espécies vegetais ameaçadas de
extinção ou dos exemplares botânicos isolados ou em grupo que, pelo seu potencial genético,
porte, idade raridade, valor científico e cultural, o exijam; e, a manutenção e regeneração de
espécies animais, recuperação de habitats danificados, controlando em especial as actividades
ou o uso de substâncias susceptíveis de prejudicar as espécies de fauna e seus habitats.

Está, ainda, previsto no art.14º da LBA, o estabelecimento de uma rede de áreas de


protecção ambiental, para além das já existentes à data da independência do país que se
mantêm. Trata-se de definir espaços representativos de biomas ou ecossistemas com valor
suficiente para a sua especial preservação, onde são estabelecidas rigorosas e francas
limitações às práticas humanas. Destinam-se a assegurar a protecção e preservação dos
componentes ambientais e a manutenção e melhoria dos ecossistemas de reconhecido valor
ecológico e socioeconómico. Tais áreas protegidas serão de âmbito nacional, regional, local
ou internacional, consoante as necessidades particulares que pretendem acautelar e poderão
também abranger áreas terrestres, lacustres, fluviais, marítimas e outras.

É ainda uma medida de protecção ambiental, nos termos do art.15º da LBA, a prévia
necessidade e obrigatoriedade de sujeitar a um processo de avaliação do impacto ambiental de
toda e qualquer acção susceptível de implicar com o equilíbrio e harmonia ambiental e social,
designadamente a implantação de infra-estruturas que pela sua dimensão, natureza e ou
localização gozem da eventualidade de poder causar impacto negativo. Tais acções estão
sujeitas a licenciamento e registo específicos, dependendo a concessão da respectiva licença
ambiental do resultado da referida avaliação, a qual condiciona a emissão de qualquer licença
legalmente exigida para a actividade em concreto que se pretende levar a cabo (art.17º da
LBA).

Nos termos do art.19º da LBA, a poluição ambiental será objecto de medidas


destinadas a eliminar ou minimizar os seus efeitos, razão pela qual será objecto de legislação
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específica sobre o controlo da produção, emissão, depósito, transporte, importação e gestão de


poluentes gasosos, líquidos e sólidos, sendo proibida, salvo o que a legislação específica da
Assembleia Nacional estabeleça, a importação de resíduos ou lixos perigosos (substâncias ou
objectos que se eliminam ou que se é obrigado por lei a eliminar e que contêm características
de risco por serem inflamáveis, explosivas, corrosivas, tóxicas, infecciosas ou radioactivas ou
por apresentarem outras características que constituam perigo para a vida ou saúde das
pessoas e para a qualidade do ambiente.

Para que seja mais seguro o sucesso de qualquer política ambiental é indispensável
que a população tenha sensibilidade e conhecimentos sobre o fenómeno ecológico, social e
económico. Assim é que a LBA inclui entre as medidas de protecção ambiental a educação
ambiental, cuja organização deve ser permanente e em campanhas sucessivas, seja no sistema
formal de ensino, seja através do sistema da comunicação social, tendo em vista atingir todas
as camadas da população (art.20º).

Direitos e Deveres dos Cidadãos

No âmbito da defesa do ambiente são direitos dos cidadãos:

- O Direito à informação, relacionada co a gestão do ambiente do país, sem prejuízo


dos direitos de terceiros legalmente protegidos (art.21º);

- O Direito à educação ambiental, com vista a assegurar uma eficaz participação na


gestão do ambiente (art.22º);

- O Direito de acesso à justiça, de qualquer cidadão que considere terem sido violados
ou estar em vista de violação os direitos que lhes são conferidos, para pedir, nos termos gerais
do direito, a cessação das causas de violação e a respectiva indemnização (art.23º), sendo até
admitidos embargos destinados a obter decisão judicial que determine a suspensão imediata
da actividade violadora (art.24º).

Os cidadãos têm ainda os deveres de: utilizar de forma responsável e sustentável os


recursos, independentemente do fim a que se destinam e colaborar na melhoria progressiva da
qualidade de vida (art.25º); informar as autoridades (órgãos de gestão ambiental) sobre
infracções às disposições da lei LBA que se verifiquem ou que estejam na eminência de
ocorrer (art.26º).

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Responsabilidades, Infracções e Sanções

A LBA estabelece a obrigação de detenção de contratos de seguro de responsabilidade


civil para todos os que exerçam actividades que envolvam riscos de degradação do ambiente
(art.27º). Todos aqueles que, independentemente de culpa, tenham causado danos ao
ambiente, têm a obrigação de reparar os prejuízos e ou indemnizar o Estado, competindo ao
Tribunal avaliar a gravidade dos danos por meio de peritagem ambiental (art.28º). Serão
também objecto de responsabilidade criminal todos os comportamentos que, pela sua
gravidade e consequências, a lei penal considere sancionáveis, do mesmo modo que a nível
contravencional não deixaram de ser punidos os responsáveis por danos ambientais.

Fiscalização Ambiental

Nos termos da LBA, é uma obrigação do Executivo criar um sistema de fiscalização


ambiental para velar pela implementação da legislação ambiental (art.30º). Todas as pessoas
sujeitas à fiscalização ambiental devem colaborar com os agentes da fiscalização na
realização das suas actividades profissionais (art.31º). O Executivo deve garantir a
participação das comunidades locais, promovendo a criação de um corpo de agentes de
fiscalização comunitários (art.32º).

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