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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 2

1.2. OBJECTIVOS ........................................................................................................................... 2

1.3. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 3

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................... 4

2.2. Ideologias etnocentristas ........................................................................................................... 5

2.3. PRECONCEITO E ETNOCENTRISMO NAS REFLEXÕES DE MICHEL DE


MONTAIGNE E CLAUDE LÉVI-STRAUSS .................................................................................... 6

2.3.1. Montaigne e a crítica ao etnocentrismo ............................................................................. 6

2.3.2. O etnocentrismo no olhar de Claude Lévi-Strauss ............................................................ 8

2.3.3. A resposta de Montaigne ao etnocentrismo ........................................................................... 9

2.4. Alteridade no etnocentrismo ................................................................................................... 10

2.4.1. Importância da Alteridade................................................................................................ 11

2.4.2. Teoria de Todorov............................................................................................................ 12

2.4.3. Ideias na Filosofia ............................................................................................................ 13

2.4.4. Alteridade na Antropologia.............................................................................................. 13

2.4.5. Alteridade e empatia ............................................................................................................ 13

3. CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 14

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 15


1. INTRODUÇÃO
O Etnocentrismo, em um primeiro momento identificando o conceito antropológico que interfere à nível
sociocultural. É um fenômeno relacionado a choques culturais pois é relativamente normal julgarmos
etnocentricamente assuntos relacionados à política, sexualidade, feminismo, questões raciais ou
questões religiosas.

A necessidade de refletir surge a partir do momento que o olhar etnocêntrico é a base de comportamentos
preconceituosos, radicais que podem levar a confrontos e perseguições com o uso da violência.
Demonstrando a necessidade de construção de um novo olhar que leve em consideração o respeito e o
diálogo.

O problema da pesquisa é constatar qual é o fio tênue que separa o que é comum, normal ao ser
etnocêntrico e o que pode levar a discursos de ódio, comportamentos abjetos e desumanos sob a
justificativa da pseudociência e civilidade.

1.2.OBJECTIVOS

O objetivo geral:

• Compreender de quais formas podemos racionalizar e agir quanto a visão etnocêntrica,


buscando formas de interagir melhor no convívio social e em relação aos povos que compõem
a sociedade global.
1.3. METODOLOGIA

Dos métodos escolhidos foram o dedutivo em relação à abordagem, pois parte de uma teoria e sua
demonstração na realidade. Quanto aos métodos procedimentais foi utilizado o método monográfico
que consiste em um estudo sobre o etnocentrismo, conceituação, características, tipos e manifestações a
nível de mundo e ponto concreto no nosso pais.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
CONCEITUAÇÃO
2.1. Um preconceito renitente
Etnocentrismo é um preconceito que cada sociedade ou cada cultura produz, ao mesmo tempo que
procura incutir em seus membros normas e valores peculiares. Se sua maneira de ser e de proceder é a
certa, então as outras estão erradas, e as sociedades que as adotam constituem “aberrações”. Assim o
etnocentrismo julga os outros povos e culturas pelos padrões da própria sociedade, que servem para
aferir até que ponto são corretos e humanos os costumes alheios. Desse modo, a identificação de um
indivíduo com sua sociedade induz à rejeição das outras. O idioma estrangeiro parece “enrolado” e
ridículo; seus alimentos, asquerosos; sua maneira de trajar, extravagante ou indecente; seus deuses,
demônios; seus cultos, abominações; sua moral, uma perversão etc.

É verdade que os povos mais primitivos têm uma forte rejeição etnocentrista dos povos circunvizinhos.
Porém nada se compara com o etnocentrismo combinado com o sentimento de superioridade que o grupo
ou a nação dominante dedica aos dominados e oprimidos. Considerá-los sub-humanos, ou seres
humanos de segunda classe, é pretexto e efeito de uma relação de dominação.
Decerto, o preconceito etnocentrista nunca é inocente, como certos antropólogos deixam entender. É
pernicioso, por trazer no seu bojo um elemento da mais alta periculosidade: a negação do “Outro”
enquanto tal. E nega-o por senti-lo como uma ameaça à sua própria maneira de ser, e mesmo ao seu ser.

E como a melhor defesa é o ataque, pode partir para a eliminação física do Outro. Isso aconteceu, parece,
com outras espécies do homo sapiens que nossos antepassados enfrentaram na pré-história. Talvez
sucedeu o mesmo com a população africana a que pertenceu “Luzia” - nossa mais recente descoberta
arqueológica -, quando levas humanas mongólicas invadiram as Américas. Perto de nós, foi a “solução
definitiva” que Hitler quis dar ao problema judaico e que Slobodan adotou, em relação aos bósnios e
kosovares, com sua famigerada “limpeza étnica”. Nosso século se destacou por seus etnocídios e
massacres.
Mas rejeição do Outro, combinada com a dominação, assume também outra forma: não tirar a vida do
Outro, mas apenas a diferença, ou seja, extirpar-lhe a alteridade que o constitui como outro, assimilando-
o e reduzindo-o à imagem e semelhança do Mesmo. Os colonizadores europeus, menos tolerantes que
os impérios romano e muçulmano, tenderam a homogeneizar as populações que dominavam. No mundo
ibérico, os judeus foram obrigados a tornar-se “cristãos novos” para salvarem a vida ou o patrimônio. E
ainda há uma forma mais sutil e oportunista de lidar com o Outro: conservar-lhe a alteridade, mas, então,
fazendo dela pretexto para oprimi-lo. A diferença torna-se título que legitima a dominação e a
exploração, já que demonstra uma degradação da condição humana; por isso merece um estatuto de
inferioridade e de discriminação. Por exemplo, maior esforço na produção, menor fatia na distribuição,
privação do poder decisório; não ter a plenitude dos direitos do cidadão; ser considerado como objeto e
não como sujeito da história.

Esse esquema é a matriz básica das diversas normas de opressão ou dominação entre sexos, raças,
nações. O preconceito etnocentrista, chegado a tal ponto, produz suas ideologias que justificam essa
“negação do Outro”. Para sua elaboração, não faltam “intelectuais orgânicos” que tecem teorias e
tratados a serviço da dominação: onde se mistura a pseudociência com uma certa grandiloquência como
o apelo a um destino excelso, no verso de Virgílio “Tu regere imperio populos Romane memento” ou as
tiradas de Kipling sobre “o fardo do homem branco”. São ideologias que justificam as práticas de
discriminação e as políticas de opressão.

2.2. Ideologias etnocentristas

Há toda uma linhagem de ideologias desse tipo, pois diante das mudanças culturais, o etnocentrismo tem de
recorrer a outras motivações para justificar-se na “consciência social que sempre mente a si mesma” (Marx).

a) Na Época dos descobrimentos, exaltava-se a supremacia da cristandade e sua missão de dilatar “a fé


e o império”. Para isso faziam-se “súbditos del Rey” nações e povos livres à custa de muito massacre.
Os missionários iam com os conquistadores, para extirpar cultos e costumes “ímpios e monstruosos”,
pois os pagãos estariam sob o poder de Satanás, do qual tinham de ser libertados a todo custo, inclusive
pela escravidão aos colonizadores. Algumas vozes se levantaram contra tal situação, como Bartolomeu
de las Casas, mas os poderosos não as escutaram.

b) Depois veio a Época das Luzes, o racionalismo triunfante, o cientismo deslumbrado. O que agora
desqualifica o Outro não é seu caráter de “incréu” e “gentio”, mas seu atraso em relação à civilização
ocidental que se autoproclamou a suprema realização do espírito humano. Então a motivação
colonialista era espargir as Luzes da Cultura e do progresso sobre os continentes bárbaros, e, em nome
disso, a burguesia triunfante europeia praticava nos outros continentes opressão política, pilhagem
econômica, destruição maciça das culturas. Massacres memoráveis, rebeliões sufocadas em banhos de
sangue não conseguiam despertar a indignação das “reservas morais” das sociedades que se
beneficiavam com a exploração.
c) Essa ideologia da “Supremacia espiritual do Ocidente” tinha um aliado mais prosaico: o racismo,
que, embora formulado com pretensões científicas, não passava de uma tosca ideologia da supremacia
da raça branca. As outras raças situavam-se no meio do caminho, entre os primatas superiores e o homem
europeu, essa sumidade de inteligência e de humanidade. O “eurocentrismo” está longe de ser superado:
domina até a mentalidade de filósofos e teólogos europeus destacados que ainda hoje alinham
argumentos para mostrar o que para eles é óbvio: a superioridade europeia.

d) Outra ideologia etnocentrista, que esteve muito em moda como falsa evidência pseudocientífica, foi
o evolucionismo cultural. Constrói uma escala em que o europeu ou o wasp americano ocupam o lugar
mais alto, como culminação do processo que percorrem os povos inferiores - em etapas ou estágios cujo
dinamismo converge para a sociedade e cultura mais perfeita. A diversidade de culturas é ilusória; o que
sucede é que algumas estão na infância ou adolescência da evolução humana - selvagens, bárbaros e
civilizados -, sucedem-se como as idades do indivíduo. Nada mais natural de que os adultos tutelem
populações de cultura infantil e que a plena autonomia espere pela maturidade cultural.

2.3.PRECONCEITO E ETNOCENTRISMO NAS REFLEXÕES DE MICHEL DE


MONTAIGNE E CLAUDE LÉVI-STRAUSS

2.3.1. Montaigne e a crítica ao etnocentrismo

“Os Ensaios” abordam temas variados como “a educação das crianças”, “o preparo para a morte”, o
conceito de bárbaro e a crueldade, entre outros. No texto “Dos Canibais”,
presente na sua obra citada, o filósofo realiza reflexões sobre os hábitos e costumes dos Tupinambás, com clara
intenção de criticar os próprios europeus que conviviam com guerras religiosas entre católicos e protestantes.
Ao retratar os costumes dos nativos americanos, no ensaio em questão, Montaigne criticava, ao mesmo tempo,
a educação, os costumes e os hábitos presentes na França da sua época. Desta forma, Montaigne acabou por
julgar o velho mundo, tendo como referencial as observações e os relatos dos viajantes, pois ao descrever os
povos do “novo mundo” ele preparava o juízo sobre o “velho mundo” (Smith, 2009 ).

Seu intento foi oferecer uma medida para julgar a França e as guerras religiosas que assolavam sua terra
neste período. A França vivia um período de turbulência, porque católicos e protestantes estavam em
guerra aberta e a carnificina marcou a sociedade francesa, culminando na noite de São Bartolomeu. Suas
reflexões, no mesmo ensaio buscaram relativizar o conceito de “povos bárbaros”, conceito muito
presente na literatura ocidental desde os primórdios da civilização grega e, utilizado no século XVI para
se referir aos povos encontrados no “novo mundo”, principalmente, utilizado em relação aos
Tupinambás que habitavam o litoral brasileiro. Vejamos o que nos diz Montaigne sobre o emprego do
conceito bárbaro.
Ora, eu acho, para retomar meu assunto, que não há nada de bárbaro e selvagem nessa nação, pelo
que dela me relataram, senão que cada um chama de bárbaro o que não é de seu uso, como, em
verdade, não parece que tenhamos outro padrão de verdade e de razão que o exemplo e a idéia das
opiniões e usanças do país de onde somos. Lá esta sempre a religião perfeita, o emprego perfeito e
acabado de todas as coisas (MONTAIGNE, 2009,p.51).
Neste sentido, Montaigne (2009) fez um alerta ao dizer que somos escravos de costumes, hábitos e
opiniões que circulam entre nós e aos quais aderimos por meio da educação, dos ensinamentos dados
por nossos pais ou por meio do grupo social com o qual partilhamos nossa vida. Neste sentido Montaigne
estabeleceu uma relação entre o grupo social e familiar que pertencemos e o condicionamento que
estamos submetidos desde o nascer. É desta teia social que nascem os preconceitos. Segundo o filósofo,
estes hábitos e costumes escravizam-nos, dominando e condicionando nosso livre exame de outros
povos e culturas.
Nasce deste processo a tirania dos costumes que nos conduz a um julgamento do outro, gerando o
estranhamento em relação à outra cultura. Podemos dizer que este olhar sobre o outro é a base do vínculo
entre etnocentrismo e preconceito. Smith (2009), ao analisar os ensaios de Montaigne, vai dizer-nos que
o filósofo buscou descrever o ser humano como um prisioneiro de sua época, dos costumes de seu país,
de sua cultura e de certo modo de pensar ao qual ele adere sem refletir e, desse modo, naturalizaria certas
ideias que circulam na sociedade na qual vive, fazendo delas as sua ideias.

Portanto, segundo Montaigne, esta assimilação da cultura e dos hábitos teria tanta força em nós que
chamamos de bárbaros todos os povos cujos costumes diferem dos nossos. O termo bárbaro passou a
ser generalizante. Para o filósofo, a tirania dos costumes e dos hábitos impede-nos o livre exercício da
razão e de construirmos um juízo sobre o outro que leve em conta a própria diversidade humana.
Diversidade fenotípica e cultural. Embora o projeto filosófico da modernidade esteja amparado na
autonomia do sujeito, Montaigne acaba por contestar esta possibilidade ao ver o livre exercício da razão
e a livre formulação de juízos ameaçados pelos costumes e hábitos que amordaçariam o homem, gerando
uma visão preconceituosa sobre o outro. Nesta lógica, todos os outros seriam bárbaros despossuídos de
razão. Na reflexão filosófica de Montaigne, o preconceito nasce, portanto, dos nossos hábitos e
costumes, pois olhamos o outro a partir do que é comum a nós. Este olhar estaria condicionado por
nossas maneiras a tal ponto que chamamos de bárbaros e despossuídos de razão todos os que não
comungam dos nossos hábitos. Depois inferiorizamos e por fim condenamos. Por isso os Tupinambás
foram vistos como bárbaros, bestializados e submetidos a uma política que culminou em genocídio.
Podemos dizer que a filosofia de Montaigne permite uma crítica ao etnocentrismo. Crítica que foi
retomada por Claude Lévi-Strauss no século XX.

2.3.2. O etnocentrismo no olhar de Claude Lévi-Strauss

Lévi-Strauss (2008) vê o etnocentrismo como uma das atitudes mais antigas do homem, pois ela estaria
assentada em fundamentos psicológicos sólidos que constantemente reaparecem em todos nós quando
somos colocados numa situação que nos causa medo e assombro. Nesta reflexão podemos perceber a
familiaridade com o pensamento de Montaigne. Sendo assim, Lévi-Strauss vai nos dizer que:
...a diversidade das culturas raramente surgiu aos homens tal como é: um fenômeno natural,
resultante das relações diretas ou indiretas entre sociedades; sempre se viu nela, pelo
contrário; uma espécie de monstruosidade e escândalo (LÉVI-STRAUSS, 2008,p.17).

Esta seria, portanto uma das atitudes mais antigas da espécie humana, encontrada desde o mundo grego
antigo que se referia a todos os povos educados fora da pólis como bárbaros. Na análise de Lévi-Strauss
(2008), o olhar de estranhamento sobre o outro é uma constante antropológica.

Deste modo a antiguidade confundia tudo o que não participava da cultura grega, (depois
Greco-romana) sob o nome de bárbaro; em seguida, a civilização ocidental utilizou o termo
de selvagem no mesmo sentido. Ora por detrás destes epítetos dissimula-se um mesmo
juízo: é bem provável que a palavra bárbaro se refira etimologicamente à confusão e à
desarticulação do canto das aves opostas ao valor significante da linguagem humana; e
selvagem, que significa da floresta, evoca também um gênero de vida animal, por oposição
à cultura humana. Recusa-se, tanto num como noutro caso, a admitir a própria diversidade
cultural; preferimos repetir da cultura tudo o que esteja conforme a norma sob a qual se
vive. (LÉVISTRAUSS, 2008,p.19).

Os europeus ao se defrontarem com os nativos da América, definindo-os como bárbaros, primitivos e


selvagens, estavam, portanto, classificando o outro segundo seus valores, hábitos e costumes. Sendo
assim, para Lévi-Strauss o outro é colocado fora da humanidade, é desumanizado, por não
reconhecermos nele a existência de cultura. Na opinião de Lévi-Strauss (2008), todo grupo humano
estabelece no seu imaginário que a “humanidade” acaba nas fronteiras da tribo, do seu grupo linguístico
ou mesmo nos limites da sua aldeia. Esta atitude, segundo Lévi-Strauss (2008), é a mesma, portanto,
que encontramos em nós. E, seria própria, também, do evolucionismo social, pois esta teoria olha a
diversidade de culturas como etapas. Etapas de um processo que inexoravelmente caminha para o
mesmo fim. Um modelo de civilização único. Este olhar condena a diversidade ao esquecimento,
fazendo desta um mero acaso no caminho do progresso material e cultural da humanidade. Percebemos
que o mito do progresso mais uma vez se faz presente. O ápice deste processo está em atingir o modelo
de civilização representado pela Europa. Lévi-Strauss fez duras críticas a esta concepção.

Por que, se tratarmos os diferentes estados em que se encontram as sociedades humanas, tanto
antigas como longínquas, como estádios ou etapas de um desenvolvimento único que,
partindo do mesmo ponto, deve convergir para o mesmo fim, vemos bem que a diversidade é
apenas aparente. A humanidade torna-se una e idêntica a si mesma, só que esta unidade a esta
identidade não se podem realizar senão progressivamente e a variedade das culturas ilustra os
momentos de um processo que dissimula uma realidade mais profunda ou retarda a sua
manifestação (LÉVI-STRAUSS, 2008,p.20).

Sendo assim, a crítica ao etnocentrismo está presente tanto na filosofia de Montaigne quanto na
antropologia de Lévi-Strauss. Vale destacar que, para estes dois pensadores, o olhar etnocêntrico é uma
constante e, portanto, recorrente no encontro entre povos de culturas e hábitos distintos. Lévi-Strauss
(2008) reconhece a riqueza da diversidade de culturas e faz um alerta sobre as pretensões do
evolucionismo, que não reconhece uma realidade mais profunda.
Para Lévi-Strauss (2008) o evolucionismo acredita que as diferenças são meramente circunstanciais e
momentâneas. Estariam fadadas a desaparecerem com o progresso técnico e científico.

2.3.3. A resposta de Montaigne ao etnocentrismo

Para romper a escravização dos costumes, no ensaio “Sobre a Educação das Crianças”, Montaigne
defende um ensino de filosofia que possibilite sermos mais comedidos e prudentes. Só a filosofia nos
auxiliaria a construirmos um juízo que não seja mero reflexo da opinião comum e, não seja o resultado
da “naturalização” dos hábitos e costumes que partilhamos com o grupo social a que pertencemos. Na
análise de Smith (2009), Montaigne viu na filosofia a grande arma para superar a tirania dos costumes
e hábitos e, assim, impedir que o preconceito se transforme em hábito e regra do nosso olhar sobre o
outro. A filosofia de Montaigne, trabalhada no ensaio “Dos Canibais” e “Sobre a Educação das
Crianças”, procura, desconstruir as ideias fixas que os homens alimentam sobre o outro e Montaigne dá
destaque para a filosofia nesta tarefa árdua de desconstruir visões etnocêntricas sobre povos e culturas.

Na nossa chamada “civilização ocidental”, nas sociedades complexas e industriais


contemporâneas, existem diversos mecanismos de reforço para o seu estilo de vida através
de representações negativas do “outro”. O caso dos índios brasileiros é bastante ilustrativo,
pois alguns antropólogos estudiosos do assunto já identificaram determinadas visões
básicas, determinados estereótipos, que são permanentemente aplicados a estes índios
(ROCHA, 2006, p.15)

O apelo do filósofo Montaigne para nos libertarmos da tirania dos costumes, hábitos e da própria opinião
comum partilhada pelo grupo ao qual pertencemos é marcante, portanto, nos ensaios “Dos canibais” e
“Sobre a Educação das Crianças”. Montaigne foi uma voz ímpar em seu tempo e suas teses podem
contribuir significativamente para o debate atual sobre o preconceito. Debate que deve fazer parte da
estrutura curricular de diversas disciplinas. Sendo assim, libertar-nos da tirania dos costumes e hábitos
seria tarefa da educação segundo o filósofo. Tema atual e significativo, pois, permite refletirmos sobre
nossos preconceitos e xenofobismos.
E, se a filosofia de Montaigne não se preocupou em oferecer um modelo de organização da sociedade
ou se prestou a especulações filosóficas sobre o melhor tipo de Estado que caberia aos homens
construírem, podemos dizer que ele antecipou, com suas especulações filosóficas, as teses que condenam
os olhares etnocêntricos nas ciências humanas e, ao mesmo tempo, podemos ver na obra “Os Ensaios”,
um ceticismo quanto ao livre discernimento do qual a razão seria capaz, segundo os racionalistas da sua
época. Racionalismo, progresso, escravidão, preconceito e colonização andaram juntos e moldaram as
relações de produção no mundo moderno. Desconstruir todas as formas de preconceito é tarefa do
exercício de cidadania e devemos estar fundamentados para este desafio.

2.4. Alteridade no etnocentrismo

Alteridade do latim alteritas ('outro') é a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o ser
humano social interage e é interdependente do outro. Assim, como muitos antropólogos e cientistas
sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que
em uma visão expandida se torna o Outro, ou seja, a própria sociedade diferente do indivíduo). Assim,
pode também se dizer que a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro na relação
interpessoal (relação com grupos, família, trabalho, lazer e a relação que temos com os outros, etc...),
com consideração, identificação e dialogar com o outro. Por fim, alteridade não significa que tenha de
haver uma concordância, mas sim uma aceitação de ambas as partes.

2.4.1. Importância da Alteridade

A importância da alteridade numa perspectiva antropológica, quando qualquer pessoa entra em


contato com outra de cultura diferente, ela deve entender, e compreender esta cultura sem fazer o juízo
de valor ou com preconceitos, assim é possível entender, não só a cultura do outro, como também a
nossa de forma mais ampla, a antropologia é conhecida como a ciência da alteridade, porque tem como
objetivo o estudo do Homem na sua plenitude e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de
estudo tão vasto e complexo, é imperativo poder estudar as diferenças entre várias culturas e etnias.
Como a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro, ela assume um papel essencial na
antropologia. A alteridade é importante nas relações sociais e no combate ao racismo, etc.

Relação de sociabilidade e diferença entre o indivíduo em conjunto e a unidade, onde os dois sentidos
inter-dependem na lógica de que para constituir uma individualidade é necessário um coletivo. Dessa
forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o
mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo,
sensibilizado que estou pela experiência do contato.

Segundo a Larousse (1998), alteridade é um “Estado, qualidades daquilo que é outro, distinto
(antônimo de Identidade). Conceito da filosofia e psicologia: relação de oposição entre o sujeito
pensante (o eu) e o objeto pensado (o não eu).”

A “noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, à medida que esta efetiva-se através
das dinâmicas das relações sociais. sendo, a diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte
permanente de tensão e conflito” (G. Velho, 1996:10).

A importância da alteridade numa perspectiva antropológica, quando qualquer pessoa entra em contato
com outra de cultura diferente, ela deve entender, e compreender esta cultura sem fazer o juízo de valor
ou com preconceitos, assim é possível entender, não só a cultura do outro, como também a nossa de
forma mais ampla, a antropologia é conhecida como a ciência da alteridade, porque tem como objetivo
o estudo do Homem na sua plenitude e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de estudo tão
vasto e complexo, é imperativo poder estudar as diferenças entre várias culturas e etnias. Como a
alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro, ela assume um papel essencial na antropologia.
a alteridade é importante nas relações sociais e no combate ao racismo, etc...
“A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem
teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar nossa atenção no que nos é habitual,
familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evidente’. Aos poucos, notamos que o menor dos nossos
comportamentos (gestos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’.
Começamos, então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mesmos, a nos espiar. O
conhecimento (antropológico) da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras
culturas; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas
não a única.”

2.4.2. Teoria de Todorov

Tal tema foi estudado ainda por Tzvetan Todorov em seu livro A conquista da América - a questão do
outro, onde é estudado no contexto do descobrimento e a conquista da América no primeiro centenário
após a primeira viagem de Colombo, basicamente no século XVI. Há ainda, contudo, menções a essas
relações de alteridade em obras anteriores a Todorov, como por exemplo, em Michel de Montaigne, um
dos autores dos textos a serem cruzados:

"Mas, para retornar a meu assunto, acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me
contaram, a não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de costume; como verdadeiramente
parece que não temos outro ponto de vista sobre a verdade e a razão a não ser o exemplo e o modelo das
opiniões e os usos do país em que estamos".

Apontamentos podem ser feitos não só durante o processo de conquista e colonização da América, mas
em toda a história do contato entre diferentes povos e culturas. Por exemplo, pode-se partir desde Cortés,
que procurou conhecer o outro, buscando intérpretes e estabelecendo táticas de guerra. Surge aqui uma
personagem curiosa: Malinche. Ela foi dada por Montezuma aos espanhóis e acaba sendo fundamental
para o processo de conquista promovido por Cortés, pois sabia a língua dos maias e astecas e
posteriormente também o espanhol. Para os indígenas é o símbolo da traição, para outros é o símbolo
da mestiçagem, porque Malinche não é somente bilíngüe, mas também "bicultural", e adotou inclusive
a ideologia do "outro". Deste modo, a humanidade do outro só foi concebida quando integrada à cultura
do "eu", ocorrendo uma assimilação, uma integração da cultura do "outro" à europeia, no caso.

Avançando cronologicamente na História, é possível ainda encontrar relatos de relações de alteridade


no texto "Descobrindo os brancos", de autoria de um índio ianomâmi chamado Davi Kopenawa
Yanomaqui, já no século XX. Nele, as relações de alteridade mais uma vez são descritas, desta vez
devido à invasão de suas terras, no estado brasileiro do Amazonas, por milhares de garimpeiros entre os
anos de 1987 e 1990.
Assim, a análise crítica dessas obras pode levar à indagação de que, por vezes, os estudos históricos
possam ser em parte o reflexo do modo de agir e pensar dos europeus na época da conquista, que
tomaram a sua sociedade, os seus valores como o "correto" e o "modelo" a ser seguido pelos "outros".

Há outras ideias que podem ser relacionadas ao conceito de alteridade. Quando ligado à literatura, por
exemplo. O "eu" que fala na obra não é mais o eu que escreve.

2.4.3. Ideias na Filosofia

Quando nós compreendemos o que é alteridade na Filosofia percebemos que ela é o oposto de
identidade. Para o filósofo Platão, ela é um dos “gêneros supremos”, que recusa a identificação de um
ser como a identidade única dele. Além disso, Platão entende que ter ideias múltiplas é uma vantagem
do ser. Assim, a alteridade recíproca está presente.

Esse conceito também possui bastante importância para o filósofo alemão Hegel. De acordo com ele,
um ser que foi determinado por suas qualidades está limitado. Isso porque se relaciona de forma negativa
com o diferente. Entretanto, esse mesmo ser está destinado a mudar para se transformar no outro e mudar
as suas próprias qualidades.

2.4.4. Alteridade na Antropologia

Muitos antropólogos consideram a Antropologia como uma ciência construída na alteridade. Com essa
ciência eles têm o objetivo de estudar o ser humano por completo. Assim como os fenômenos que o
cercam. Dessa forma, especialistas afirmam que o ser humano é um objeto de estudo muito complexo e
vasto.

2.4.5. Alteridade e empatia

Para muitas pessoas, entender o que é alteridade envolve também entender empatia. Pois, ambos são
sinônimos. Ainda que esses termos possam se conectar em algum momento, eles trazem ideias diferentes
entre si. A empatia é quando uma pessoa consegue se colocar no lugar das outras pessoas. Dessa forma,
ela se torna capaz de sentir as dores alheias e compreender as razões de alguém ser ou agir.
3. CONCLUSÃO
É importante identificar o conceito antropológico do Etnocentrismo, que é quando consideramos nossos
hábitos e condutas como superiores aos demais. O que na verdade demonstra um comportamento
normal, devido aos preconceitos produzidos pela própria dinâmica cultural que leva a adotar padrões
culturais que nos são familiares.

Ver o mundo a partir de sua própria lógica é normal e válido, mas a compreensão dos atos dos outros e
o não julgamento tácito depende acima de tudo de conhecimento, de estudo e acima de tudo de respeito
e ética no tratamento com os demais.

Ao se considerar superior e fazer o julgamento de atraso ou desenvolvimento já estamos utilizando de


um raciocínio simplório, onde não é levado em consideração a riqueza da diversidade e as possibilidades
de caminhos alternativos e mais criativos fornecidos por outras culturas.

O Etnocentrismo trava o diálogo e a empatia, levando a casos extremos de violência, perseguição e


preconceito. Justificados por teorias racistas do século XIX, como o Darwinismo social ou o
Evolucionismo social que via o branco europeu como o elemento consagrado da civilização. Onde
vimos o exemplo dos zoológicos humanos da época neocolonial.

São as mesmas teorias antropológicas racistas que balizaram o Neocolonialismo que explorou os povos
e regiões da África, Ásia e Oceania. Visto que é justificado e cientificamente necessário dominar,
explorar e levar o desenvolvimento tecnológico para povos mais atrasados.

Foi a lógica etnocêntrica que historicamente deu bases para as Cruzadas, para as ações colonialistas
vindas com a expansão ultramarina e consequente extermínio de culturas nativas das Américas;
possibilitou também o Holocausto judeu feito pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Atualmente os tipos mais comuns de etnocentrismo são a intolerância religiosa e a xenofobia, que é o
medo e perseguição contra os estrangeiros, imigrantes que são vistos sob o olhar de animosidade, pois
vem para retirar vagas de emprego, acesso à saúde, onde o governo gasta mais com quem vem de fora
do que com seus próprios cidadãos.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. AGUIAR, Vilma. Introdução às ciências sociais. Curitiba/PR:IESDE, 2020.


2. BECATTINI, Natália. Os Zoológicos Humanos: a terrível história das exibições coloniais.(
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3. BOTELHO, Patric Bragança. Etnocentrismo:entenda a que se refere esse conceito. (11/05/2022)
Politize! Disponível em: https://www.politize.com.br/etnocentrismo Acesso em:27/10/22
4. DIANA, Daniela. Etnocentrismo. Toda Matéria. Disponível em:
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5. Dicionário de Sociologia. Repositório UFSC. Disponível em https://repositorio.ufsc.br Acesso
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7. ROCHA, Everardo Pereira Guimarães. O que é Etnocentrismo. Coleção primeiros passos. 5ª ed.,
São Paulo:Brasiliense, 1988.
8. Vários Autores. Sociologia em Movimento, São Paulo: Moderna, 2016.

9. ROCHA, Everardo Pereira Guimarães. O que é Etnocentrismo? Coleção Primeiros Passos. 5ª


ed., São Paulo: Brasiliense, 1988. (p.05)

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