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inSights Econômicos

# 07 – Setembro de 2022

Tensão, Ilha Brasil e Reflexões

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Sumário

O Brasil (novamente) parecendo uma ilha no cenário global ............................................................................. 3


IPCA de setembro ................................................................................................................................................ 5
Proteção existe, mas não confunda .................................................................................................................... 7
Bomba-relógio no cenário fiscal russo e a troca de mãos no mercado .............................................................. 9
A mínima em 38 anos ........................................................................................................................................ 12
O Brasil seguindo o caminho certo .................................................................................................................... 14
Quedas fazem parte do jogo: acostume-se ou saia .......................................................................................... 16
Breve leitura do juros e a relação da SELIC com o FED ..................................................................................... 18
A crise silenciosa no setor tech ......................................................................................................................... 20
O risco do corte de ICMS ................................................................................................................................... 21
A bomba que explodiu na Europa ..................................................................................................................... 22
Foque no tempo, não nas taxas ........................................................................................................................ 25
As 7 lições de John Bogle ................................................................................................................................... 27
Dividend Yield: não seja enganado pelo indicador ........................................................................................... 29
Pé no acelerador: primeiro na impressão, agora no juros – e o Brasil?............................................................ 31
A importância de sempre estar investido ......................................................................................................... 35
“Do que adianta o desemprego cair? O salário não sobe...” ............................................................................ 36
Taxas de juros ao redor do mundo, Brasil confortável ..................................................................................... 38
Dollar Smile – investir em dólar é obrigatório .................................................................................................. 41
Melhora do desemprego bem além da sazonalidade ....................................................................................... 43
O momento ideal não existe ............................................................................................................................. 45
Banho de sangue no mercado americano ......................................................................................................... 46
100-baggers – encontrando ações que multiplicam seu valor em até 100 vezes............................................. 48

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O Brasil (novamente) parecendo uma ilha no cenário global

Há não muito tempo escrevemos um dos nossos relatórios dizendo que o Brasil parecia uma ilha.

Dissemos isso pelo fato de que o caminho que estamos seguindo atualmente é o contrário do que
tem seguido o cenário externo: enquanto o mundo queima em inflação alta, o Brasil tem registrado
deflação. Enquanto o mundo queima em revisão de PIB para baixo, o Brasil sofre revisões para cima.
Enquanto o mundo se preocupa com hiperenvididamento, desvalorização cambial e déficits nas
contas públicas, o Brasil está no exato ponto oposto, com dívida em queda, câmbio estável e
superávits nas contas públicas.

Sim, existem diversos motivos, entre eles, as intervenções que o Estado tem feito na economia, como
corte de impostos, que apesar de ser algo debatível (e que já abordamos em textos passados), não
deixa de ser um dos motivos da queda da inflação, por exemplo. A questão é: todo país está tomando
medidas desta natureza.

Os EUA estão cortando impostos e passando pacotes multibilionários de assistência econômica e


nem assim estão conseguindo conter os efeitos da crise. Na Europa, a mesma coisa – Alemanha,
Itália, França, Reino Unido... até mesmo o Japão está sofrendo forte mesmo com suas medidas
assistencialistas e de intervenção para contornar a crise, e nenhum dos países está se safando.

A análise aqui cabe no ponto relativo: todos estão jogando os mesmos jogos, com as mesmas cartas
e apenas alguns estão conseguindo gerar efeito com as medidas tomadas. O Brasil é um desses países
e tratamos este ponto no relatório deste mês.

Além disso, também falamos sobre algumas incertezas: como será 2023? Se o Lula de fato se eleger,
sequer sabemos quem será seu ministro da economia ainda – e tudo isso pode colocar em xeque
essa linha de crescimento que o país está retomando hoje, considerando que o novo ministro pode
mudar a política e acabar afetando os pilares macroeconômicos do país.

Também escrevemos diversos textos com reflexões sobre investimentos e outros pontos
importantes de leitura que realizamos – todos que se encaixam como uma luva para o momento
turbulento que vivemos.

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Lembrando: absolutamente nenhuma análise que realizamos tem caráter de recomendação. Nós estamos
completamente aptos a recomendar quaisquer ativos, mas não o fazemos – nossa intenção é educar e
conceder ao leitor uma ideia de como realizar uma leitura de resultados, somente. Análises de decisões
demandam mais tempo e aprofundamento em diversos pontos que vão bem além da leitura do resultado de
um trimestre da companhia. Use esse material como forma de espelhar sua metodologia de análise, e não
como fator de tomada de decisão do que fazer com o seu dinheiro.

Boa leitura!

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IPCA de setembro

Um terceiro mês seguido de deflação – algo surpreendente, considerando as expectativas que o


mercado tinha em agosto – e ainda puxado pelo grupo de transportes.

Fonte: IBGE

Assim que houve o corte do ICMS sobre alguns grupos de bens (lembrando, o corte foi nos
combustíveis, preço de passagens de transportes coletivos e energia elétrica) era óbvio que a
deflação viria forte tanto em julho quanto em agosto – o peso estatístico que a decisão causara era
tamanho que não havia um cenário possível em que a inflação atingisse patamar positivo. A questão
é: esse terceiro mês de deflação seguido, setembro, no caso, não era uma certeza – muito menos um
consenso.

O IPCA do período vem em -0,29%, puxado, principalmente e novamente, pelo grupo de


combustíveis, que sozinho causou um impacto de -0,41% no índice. É importante mencionar que esse
efeito não é mais do ICMS, mas principalmente por conta da queda do Brent, que tem despencado
no mercado internacional e agora começou a demonstrar uma força de alta mais representativa por
conta de algumas medidas de corte de produção da OPEP. Ou seja, se você ver qualquer um falando
que essa queda da inflação ainda é por conta do ICMS, a afirmação está errada. O efeito tinha alcance
limitado e já passou – o que houve foi somente mudança do cenário mesmo – e isso fica evidente
quando avaliamos quanto cada grupo variou no período.

Fonte: IBGE

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No mês, o grupo que registrou maior alta foi o de vestuário, subindo 1,77%, sendo puxado
principalmente por roupas femininas (+2,03%), roupas infantis (+1,92%) e roupas masculinas
(+1,82%), seguindo outro mês de alta, visto que agosto já havia registrado alta de 1,69%.

Os grupos de destaque positivo foram o de comunicação, com deflação de 2,08% puxado por acesso
à internet (-10,55%) e telefonia e tv por assinatura (-2,70%), além do grupo de transporte, que como
já sabido, foi impactado positivamente pela queda do preço dos combustíveis (-8,50%) e do preço do
ônibus urbano (-0,34%). Há um destaque negativo que não pode deixar de ser mencionado no grupo
de transportes, o preço das passagens aéreas, que tiveram variação positiva de 8,22%, indo contra a
tendência de queda dos demais itens do grupo.

O grupo de alimentação também merece menção: houve deflação considerável de 0,51%, sendo
puxado por queda de preço do leite longa vida (-13,71%), e do óleo de soja (-6,27%), que são dois
itens essenciais na cesta do consumo do brasileiro. Ainda assim, vale lembrar que alguns itens do
grupo de alimentação possuem maior variação por conta de sazonalidade, entressafras e afins.

Sobre o mês de outubro... é uma incógnita. Isso porque o cenário interno tem ajudado bastante
com a política de aperto monetário tendo maior efeito sobre os preços dos bens, as safras do agro
ajudando, entre outros fatores. O problema é que o cenário externo – principalmente tangente ao
preço dos combustíveis – voltou a esquentar.

Na primeira semana de outubro a OPEP (para quem não conhece, um cartel que controla o preço do
barril de petróleo no mundo) determinou o corte da produção do barril de petróleo em cerca de 2
milhões por dia, ou seja, o cartel entendeu que a queda do preço é menos transitória do que parece
e decidiu agir reduzindo a produção para elevar o preço do barril novamente.

É por isso que fica tão difícil de projetar valor de inflação: basta uma reunião da OPEP para fazer
os números mudarem completamente. Se assim desejarem, amanhã basta o cartel reduzir
violentamente a oferta ou realizar um embargo como foi na última crise do petróleo que ocorreu
há algumas décadas que em uma semana o preço do barril dobra. Esse é o poder que a OPEP tem.

Dados preliminares tem apontado para mais um mês de deflação no Brasil agora para outubro, mas
mais uma vez: impossível afirmar qualquer coisa com o preço do Brent variando tanto.

Nunca tivemos tanta volatilidade quanto agora – e é essa incerteza que incomoda tanto o mercado.

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Proteção existe, mas não confunda

Fonte: Economatica

Quem leu os resultados das companhias do segundo trimestre desse ano, certamente percebeu
como o crescimento da receita foi forte: enquanto no 2T21 a receita líquida foi de R$ 894 bilhões, no
2T22 a receita líquida foi de R$ 1.079 – ou seja, o mercado superou o marco do trilhão e apresentou
um crescimento de pouco mais de 20% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. De qualquer
forma, não é da receita que uma companhia vive – então vamos um pouco além e falar sobre os
outros números que importam.

Quando olhamos sob a ótica do operacional, isso é, o EBITDA das 335 empresas apuradas (lembrando
que esse número não é aleatório, mas sim a quantidade de companhias do nosso mercado que
possuem liquidez), o crescimento ainda é claro – em menor escala, mas há crescimento (o que
significa compressão das margens), com o EBITDA subindo de R$ 277 bilhões no 2T21 para R$ 291
bilhões no 2T22, um crescimento de 5,1%.

O problema ocorre quando chegamos na linha de lucro líquido: dos R$ 170 bilhões no 2T21, houve
queda para os R$ 122 bilhões no 2T22, representando uma derrocada de 28,4% comparando os dois
trimestres. Um cenário de terror, praticamente.

Nas linhas das margens, a ilustração desse cenário: tato a margem bruta, quanto a margem EBITDA
e a margem líquida também sofreram pressão no período, atingindo números bem mais baixos dos
registrados no ano passado.

A explicação para isso tudo gira em torno de uma só palavra, que você já deve estar cansado de ouvir:
inflação.

Por um lado, o crescimento de receita é excelente, sinalizando que ainda que as companhias estejam
atravessando um péssimo período, o mercado ainda está aquecido e parte dos preços está sendo

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repassado, mas pelo lado do lucro, percebe-se que ainda há muito trabalho a ser feito em termos de
repasse de inflação.

Como já mencionamos diversas vezes, um mantra é repetido constantemente aos novos investidores
do mercado acionário: “ações protegem contra a inflação! Boas empresas protegem contra a
inflação!” – isso é real, pura verdade, e não é questão de opinião ou achismo, é uma afirmação
pautada não em décadas, mas mais em um século (literalmente) de dados. O que esquecem de dizer
é: essa proteção não ocorre no curto prazo nem é algo instantâneo.

No momento que as companhias sofrem com a inflação, elas precisam de tempo para se adequar a
esse problema. Estoques, concorrência, participação de mercado, entraves regulatórios, etc.
Peguemos a M. Dias Branco, gigante produtora de massas e biscoitos da bolsa.

Desde o ano passado ela tem sofrido com compressão de margens por conta do aumento do preço
do trigo. Sua dinâmica é bem simples: ela compra o trigo, processa, desenvolve os seus produtos e
então vende ao consumidor final. Na base produtiva com o preço do trigo subindo no mercado
internacional, significa que ela terá forte aumento de custos, afinal, sua matéria-prima encareceu.

A princípio, o investidor (e não só o investidor, mas absolutamente qualquer consumidor) pensa:


empresas não sofrem com inflação, elas repassam os preços – tanto faz esses aumentos. Não é
verdade. Talvez seja no médio prazo, mas não no curto prazo.

Por mais que a M. Dias Branco possa repassar 100% do seus custos aos seus produtos no curto prazo,
ela não faz isso porque (I) existem outros players no mercado concorrendo com ela, se ela repassa
100% dos custos de uma só vez, ela perde espaço para a concorrência e fere o nome de sua marca,
(II) a lei é dura e sabemos muito bem quão complicado é esse assunto de aumento de preços aqui no
Brasil, com a maior parte da população achando que as empresas são as grandes inimigas sendo que
são apenas veículos que sofrem e repassam custos – e o Estado (principalmente políticos) utilizam
essa veia emocional como palanque para ganhar popularidade, e (III) há também a dinâmica de
estoques que causa certa “disfunção” de timing quando o assunto é repasse de preços.

Ou seja, no curto prazo não há qualquer repasse de inflação e as ações não protegem como a maioria
pensa. Não protegem. Salvando as exceções das companhias que possuem indexação em seus
contratos e repassam prontamente a inflação para os preços (como são as companhias do setor
elétrico) ou companhias mais commoditizadas que caracterizam proteção por se tratarem da base
da produção da economia, não espere proteção contra a inflação no curto prazo.

Foi no segundo trimestre que a M. Dias Branco já repassou boa parte da inflação nos seus preços
(saindo de R$ 4,90 o preço médio do kg dos seus produtos para R$ 6,00), mas sofreu bem em alguns
trimestres antes disso – você deve se lembrar da ação subindo quase 25% no dia... pois então, foi o

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mercado digerindo finalmente a ideia de que a inflação pela companhia estava sendo repassada,
apesar do tempo de espera.

Por que estamos escrevendo esse texto? Para lembrar sempre que em momentos de turbulência
econômica os números podem causar maior ceticismo e te induzir ao erro, fazendo você questionar
de fato quão legítimo é dizer que as ações são boas protetoras de patrimônio pro longo prazo, pois
pode ter certeza – elas são, mas assim como qualquer movimento econômico, essa proteção leva
tempo. As empresas repassam a inflação para os seus produtos aos poucos, até que suas margens
estejam plenamente ajustadas para o real nível de mercado e então o cenário estabiliza.

Ações protegem contra a inflação no longo prazo e ainda faremos um texto dissecando esses dados
de mais de um século de mercado que citamos. Se você investe em companhias boas, apenas
acompanhe os fundamentos trimestralmente e se acostume – esse sobe e desce de margens faz
parte do cenário.

Se você busca proteção no curto prazo, vá atrás da renda fixa. Se você busca proteção e multiplicação
de capital no longo prazo, a renda variável é o seu lugar – mas lembre-se, selecionando bons ativos
e investindo de fato em empresas que tem essa capacidade de repasse.

Bomba-relógio no cenário fiscal russo e a troca de mãos no mercado

Em diversos relatórios abordamos como a Rússia tem atingindo superávits primários cada vez
maiores em seus balanços, ocorridos principalmente por conta do boom das commodities que o
mundo está passando – em especial o petróleo, principal commodity que o país exporta e inclusive
é o terceiro maior produtor do planeta.

No início de março, quando o ocidente passou a sancionar a Rússia, diversos cenários eram traçados
para a situação: alguns eram mais pessimistas/exagerados e diziam que em questão de dois ou três
meses o país afundaria por não ter para quem vender os seus produtos dado o níveis das sanções,
resultando em uma espiral inflacionária sem precedentes, enquanto outros eram mais sóbrios e não
esperavam esse terror tão cedo (apesar de ser algo possível com o passar do tempo) visto que goste
ou não, a Rússia tem o que qualquer país no mundo precisa: energia.

O país é uma potência energética de alto grau, sendo um colosso produtor de carvão, petróleo e gás
natural – não é como se os países dependentes pudessem simplesmente abrir mão da compra desses
produtos quando quisessem ou outros países menos inclinados a seguir os planos dos EUA fossem
deixar as oportunidades passar. E foi justamente isso que ocorreu.

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Fonte: IEA, Kepler, China Customs, Morgan Stanley – Elaboração: FinDocs

Pegando dados dos últimos 12 meses referentes a quantidade de barris de petróleo exportados pela
Rússia por dia para cada região em específico, a situação fica mais clara.

Percebe-se que apesar das sanções, os barris produzidos pelo país apenas trocaram de mão – nada
mais. Como já relatamos em outros InSights Econômicos: existem dois mercados consumidores
pequeninos ao lado da Rússia e que não estão ligando muito para o atual jogo geopolítico imposto
pelas sanções: a China e a Índia. É um mercado consumidor de quase 3 bilhões de pessoas com
completa capacidade de engolir qualquer oferta. E é isso que a Índia tem feito: de aproximadamente
100 mil barris importados pela Rússia por dia, hoje o número gira em torno de 1 milhão, enquanto
os EUA, Coréia do Sul e Japão praticamente zeraram a quantidade de importações, ou seja, a Índia
engoliu toda a oferta da Rússia que as sanções visavam prejudicar.

Mas calma... isso não é necessariamente uma maravilha. É algo bom, de fato, para a Rússia, mas sua
situação não é excelente – longe disso, na verdade.

Fonte: Bloomberg, Russian Finance Ministry

O gráfico acima se refere ao quadro de superávit primário da Rússia – perceba como em janeiro de
2022 ela já estava surfando bem, ainda grando superávit, e nos próximos meses esse número

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acelerou, atingindo recordes de 1.5 trilhão de rublos em maio. Esse superávit é explicado
principalmente por conta do boom do preço de diversas commodities que o país exporta, em especial
o petróleo, que atingiu quase US$ 130 o barril no ápice do boom.

Porém, desde junho o número vem caindo aceleradamente, e isso é explicado por alguns fatores: (I)
o barril de petróleo está com o preço desabando há um bom tempo, o que gera bem menos receita
para o país – por mais que exista a troca de mercado e ela continue vendendo em ritmo acelerado,
seu lucro é menor com o barril valendo menos, além da venda ser realizada com desconto, vide a
Índia que está comprando com um preço aproximadamente 15% abaixo do preço negociado no
mercado, (II) uma das suas fontes de dinheiro é o gás natural, gás esse que ela está parando de vender
para a Europa como boicote as sanções recebidas – querendo ou não, é uma faca de dois gumes, a
Europa fica sem gás mas a Rússia fica sem seu dinheiro, e o (III) e mais importante, a guerra. Todos
sabemos que uma guerra cria uma necessidade de gasto cavalar. Pense na manutenção de todos os
equipamentos, combustíveis, tratativa de todos os soldados, criação de munição e armamentos e
afins – são bilhões e bilhões de dólares gastos para sustentar uma guerra. Não em vão o Brasil teve
uma PEC no auge da pandemia nomeada como “PEC de guerra” – a guerra cria a necessidade de
gastos astronômicos... o que nos leva ao último gráfico.

Fonte: Bloomberg, Russian Finance Ministry

A barra preta é a receita da Rússia, enquanto a barra rosa é a despesa. Perceba como até janeiro
estava num ritmo normal, com leve superávit, até que em fevereiro a receita disparou forte,
aumentando essa proporção, resultante justamente do que citamos acima – preço do petróleo e
afins – mas desde julho essa folga financeira tem sido esmagada e em agosto o país já estava beirando
um déficit.

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Não há mágica – caso o cenário das commodities permaneça na atual situação e a Rússia siga sob
pressão dos gastos com a guerra, o cenário fiscal do país irá deteriorar e isso pode contaminar toda
a economia. O tempo é um respiro para o país, que encontra alternativas de receita, mas em
contrapartida, com a guerra custando tão caro, a pressão sob as contas públicas seguirá.

No final das contas, não são exatamente as sanções que estão fazendo com que a economia do
país enfraqueça, a substituição de mercado deu conta nesse aspecto, mas a guerra em si é o que
mais tem pressionado a economia. Quanto mais tempo passar, mais gasto o país terá – e dinheiro
não é infinito.

A mínima em 38 anos

O preço do petróleo tem desabado nos últimos meses após tanta incerteza e uma máxima de quase
US$ 135 para o barril do Brent no intradiário (isso é, preço que atingiu dentro de um determinado
dia de negociação, mas não necessariamente no fechamento).

Entre tantos motivos para a queda, o principal até então tem sido os receios do mercado com uma
crise sem precedentes na Europa (além de uma desaceleração econômica na China e nos EUA) que
reduz a demanda por combustíveis de forma significativa, considerando a queda da produção na
cadeia, que leva a menor tráfego logístico e afins. Existe um outro motivo, que mesmo em menor
magnitude, faz preço, que é o uso das reservas estratégicas dos EUA.

Fonte: Compound Capital, US Energy Administation

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A tabela acima se refere as reservas de barris de petróleo dos EUA desde 1982.

A maioria dos países possui reservas estratégias de barris de petróleo. Não precisa explicar muito o
motivo dessa reserva – estamos vivendo um tempo onde ela demonstra sua necessidade: para
enfrentar urgências que estejam relacionadas a oferta desse bem, o Estado libera parte de suas
reservas e cria essa demanda “artificial”, até que o mercado normalize.

Fica claro como entre 1982 e 2010 as reservas praticamente só cresceram, saindo da ordem de 293
milhões de barris para 727 milhões de barris.

Daí para frente, ladeira abaixo. Com a reserva sendo utilizada de forma mínima em alguns anos e
com baixa variação de estoque, foi a partir do final de 2021 que os EUA passou a utilizar de fato os
barris disponíveis para enfrentar a crise que estamos vivendo hoje – veja, a reserva começou a ser
utilizada bem antes da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que foi o principal gatilho que fez com que
o barril do Brent atingisse os US$ 135 no intraday.

Em 2022, com o início da guerra, as reservas estão seguindo um ritmo de uso acelerado, fazendo
com que o estoque atualmente atingisse o menor patamar dos últimos 38 anos. Em resumo, o atual
governo está usando o último esforço possível para conter essa alta de preços e evitar problemas
maiores – vide descontrole inflacionário, que também está na máxima dos útimos 40 anos.

O grande problema é: se as reservas seguirem em queda e o mercado não arrefecer, os EUA


possivelmente terão mais um problema gigante para resolver.

Sob outra perspectiva, o problema fica ainda mais evidente – o gráfico da quantidade de barris ano
a ano desde 1982.

Fonte: Compound Capital, US Energy Administation

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Não estamos dizendo que o uso das reservas é o principal motivo da queda do preço do petróleo,
longe disso, a demanda de barris por dia nos EUA gira em torno de 20 milhões. Mas é um fator que
ajuda, é um último recurso que respalda decisões e gera segurança de diversas formas.

O problema do mercado de petróleo ainda está longe de ser resolvido.

O Brasil seguindo o caminho certo

Um tema que polariza completamente os grupos de discussão é o mérito sobre o quanto o Estado
realmente deve investir e tomar as rédeas de uma economia em termos de direcionamento de
recursos. Parte das pessoas acha ideal que o Estado pratique seu vasto dirigismo e use do seu poder
para definir com sua caneta quais investimentos devem ser feitos, enquanto parte das pessoas
acredita que o ideal é deixar que o mercado seja livre para decidir esse tipo de coisa e atinja sua
eficiência de acordo com a demanda dos agentes econômicos e a tão falada “mão invisível” que o
guia.

Nós particularmente acreditamos que o melhor caminho sempre será sobre a ótica privada. Não
excluindo a necessidade do Estado para algumas medidas, mas o próprio mercado pode dar conta
dos anseios e de quase todas as necessidades dos agentes econômicos, que em outras palavras, se
traduz em oportunidade de lucro – e todos gostam de ganhar dinheiro. Os últimos anos tem sido
excelentes nesse sentido, com o mercado tomando cada vez mais espaço nesse aspecto.

Fonte: BNDES

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Desde 2016 o balanço do BNDES tem sido reduzido em relação ao tamanho de nossa economia – isso
é, em proporção da economia total do nosso país, o setor público tem desempenhado cada vez
menos espaço em investimentos que podem ser realizados por outros agentes econômicos do setor
privado. E não para por aí – o gráfico talvez fosse péssimo se considerássemos unicamente essa
variável, criando a grande questão que muitos alegam “mas sem investimentos, como vamos
crescer?” – pois bem, o gráfico abaixo explica.

Fonte: BNDES

A linha azul se refere ao investimentos realizados pelo BNDES em cada ano em percentual do PIB,
enquanto a linha laranja, representa o quanto o mercado de capitais do país captou também em
percentual do PIB.

Perceba: na medida que o desembolso do BNDES cai, em mesma velocidade o mercado de capitais
do país toma o espaço, substituindo completamente esse capital.

Não há falta de investimento, não há lacuna, não há “seca de capital” porque o BNDES foi encolhido
nem nada do tipo – o dinheiro simplesmente foi substituído.

Via BNDES, existe uma margem enorme para o Estado por meio de políticos corruptos entre outros
agentes de alta influência utilizarem esse dinheiro (que é da população brasileira) para fins nefastos,
que não honram o bom uso nem trazem retorno para a população, enquanto pelo mercado de
capitais, o próprio mercado consegue direcionar esse dinheiro para o que realmente é necessário,
trazendo retorno em forma de cascata para toda a população e com máxima eficiência, visto que
quando se trata do próprio dinheiro em jogo, todos analisam muito bem os riscos, o potencial retorno
e cobram de fato que aquilo seja entregue.

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Mais uma vez: não é um texto condenando investimentos públicos – são apenas dados mostrando
como essa necessidade de capital sempre será preenchida em um mercado saudável onde os agentes
econômicos possam investir. É um jogo de ganha-ganha: o investidor coloca seu dinheiro em uma
companhia, essa companhia cresce, traz retorno ao investidor e gera benefícios ao país, gerando
empregos, aumentando produtividade, concedendo bons produtos ao mercado e afins.

Devemos parar de viver essa ideia paradoxal de um país que rechaça a elite política mas ama o
Estado. Não existe um Estado. O Estado não é uma entidade abstrata acima do bem e do mal capaz
de tomar as melhores decisões nos melhores momentos – o Estado nada mais é do que essa elite
política que todos condenam, e ironicamente tanto querem que cresça.

Que o mercado cresça e persevere – e tudo isso seja apenas o início de um ciclo de uma mudança
estrutural na economia do nosso país. Temos potencial para se tornar um dos maiores mercados do
planeta em todos os sentidos, basta o cenário correto sem intervenções demasiadas.

Quedas fazem parte do jogo: acostume-se ou saia

A volatilidade é um dos fatores que mais assustam os novos investidores quando chegam na bolsa
de valores. Não estamos falando de volatilidade forte – mas a simples variação do seu patrimônio
total, mesmo que em pequena magnitude, já é um fator que incomoda. Daí surge aquele anseio de
querer ver o home broker todo santo dia (e na maioria das vezes mais de uma vez por dia), as
constantes atualizações dos valores na corretora e o desencadear de uma aflição que em alguns casos
chega até mesmo a desgastar o psicológico do investidor. E isso não é raro.

Nossa maior dica aqui é: acostume-se ou saia. Não estamos sendo maldosos – estamos sendo
sinceros e te poupando de algo inevitável no mercado.

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Fonte: YCharts, Brian Feroldi

O gráfico acima se refere a bolsa americana, onde as barras pretas significam o fechamento de
rentabilidade registrado no ano, enquanto os pontos vermelhos significam a queda máxima
registrada no ano.

Uma lição essencial e de extrema importância pode ser extraída desse simples gráfico: o mercado
sobe caindo. A volatilidade faz parte. O jogo gira em torno da incerteza.

Mesmo em anos de rentabilidade excelente, o índice da bolsa americana atingiu quedas


fortíssimas, mostrando como o mercado cair durante determinado período não significa que o ano
será ruim ou coisa do tipo.

Esteja preparado para a volatilidade – investir em renda variável é lidar com a incerteza sempre.
Sempre. O curto prazo é uma conjunção de fatores aleatórios que fazem o investidor questionar até
mesmo as mais fortes das convicções, e algo que você definitivamente não deve fazer é temer essa
variação de preços ou dar ouvidos a boatos, que no final das contas só criarão ainda mais um viés de
terror que contaminará todas as suas decisões.

Acostume-se ou pare agora.

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Breve leitura do juros e a relação da SELIC com o FED

Não precisamos dizer que a inflação nos EUA está uma verdadeira bomba – já deve ser o sétimo mês
seguido que a alta surpreende negativamente e rompe com a máxima no acumulado de 12 meses.

Fonte: YCharts

Você já deve ter ouvido falar que o nosso Banco Central começou a agir antes das demais autoridades
monetárias dos países elevando a taxa de juros do Brasil ainda no começo de 2021. Nós mesmos já
falamos isso diversas vezes na nossa caixinha de perguntas no Instagram. Não é novidade.

O gráfico acima é a ilustração disso: o ritmo do aumento da taxa de juros das principais economias
do planeta.

A princípio, o movimento é péssimo, ainda mais considerando a magnitude desse aumento de juros,
beirando os 14% e com potencial de destroçar a atividade econômica do país. Porém, sob o prisma
relativo, assim como o Brasil foi o primeiro país a começar o ciclo de aumento, temos potencial de
ser também o primeiro a iniciar a reversão desse ciclo, apresentando antes dos pares um controle

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inflacionário desejável – um assunto difícil de ser tratado atualmente, visto que popularmente a
redução da inflação está sendo creditada unicamente pelo corte do ICMS, o que não procede e já
abordamos em outro texto com outros indicadores econômicos.

Sobre esse ciclo da SELIC, achamos importante pontuar dois fatores:

(I) Não necessariamente teremos de aumentar a SELIC mais do que já foi elevada até o
momento – o efeito da taxa de juros de um país é limitado para conter a inflação. A
maioria dos investidores criaram essa falsa associação onde a taxa de juros dos EUA em
um patamar maior significa uma SELIC em patamar maior, visto que a taxa nos EUA mais
alta poderia causar fuga de capital no Brasil e depreciar nosso câmbio, forçando aumento
da SELIC para tornar novamente o país atrativo e reduzir o câmbio na ponta final. Não
funciona de forma estrita como pensam. Uma elevação desmedida da SELIC pressiona a
dívida pública, que por conseguinte começa a ameaçar a sustentabilidade do pagamento
da dívida e a pressão do câmbio vem de outra forma. Resumindo: elevar mais a SELIC pode
fazer com que o câmbio fique ainda mais depreciado.

(II) A taxa de juros dos EUA não é a única determinante da nossa taxa de juros. Assim como
o último ciclo das commodities que tivemos entre 2000 e 2006 aproximadamente, o Brasil
pode entrar em um ciclo virtuoso de crescimento novamente, fazendo com que a taxa de
juros seja o fator que menos importa em meio a tantos pontos de decisão para os
investidores que colocam dinheiro aqui dentro. Com um cenário de crescimento e de teor
atrativo para o investidor, temos capital entrando, menor pressão no câmbio, mais
investimentos no país e mais motivos para a SELIC ser reduzida. Resumindo: não ache que
o Banco Central baliza nossa taxa de juros somente pela taxa de juros dos EUA. Economia
é mais do que comparativo de duas variáveis.

Ademais, achamos importante elencar esses dois pontos sobre esse assunto de juros pois a inflação
nos EUA parece não ceder e cada vez mais o mercado acredita que os juros por lá será elevado a
níveis inimagináveis – digamos que 6% ou 7% é uma realidade caso a inflação demonstre ser mais
persistente do que parece.

Em meio a todo esse barulho, o investidor tem que descontruir esse viés de ancoragem e essa relação
exata de condições. O aumento dos juros nos EUA pressiona sim os juros por aqui, mas não só. O
aumento de juros nos EUA pode sim obrigar o Banco Central brasileiro a elevar mais a SELIC, mas não
só. Não existe motivo nenhum para o BCB elevar a SELIC além do atual patamar se o cenário
internacional estiver fluindo com ventos positivos como nos últimos meses – pelo contrário, caso o
ritmo siga, em um cenário base, o Brasil tem a chance de ser um dos primeiros países a começar esse
ciclo de reversão de juros.

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A questão é: não ancore nenhuma análise em um só número – suas opiniões sempre refletem nas
suas decisões, e é extremamente perigoso que essas opiniões distorçam as análises que você
realiza.

A crise silenciosa no setor tech

Nos últimos dias, qualquer pessoa que tenha lido algum portal de notícias deve ter se deparado com
o mesmo receio e sentimento do mercado: o de que uma crise é iminente – que os EUA está a beira
de uma recessão e coisas do tipo. Não fossem alguns dados ainda bem fortes, sem dúvidas, esse
terror se consolidaria e poderíamos dizer que há uma crise... mas pegando dados mais isolados, talvez
a crise já tenha começado e poucos perceberam.

Fonte: Compound Capital

O gráfico acima se refere ao mercado de statups tech global em termos de quantidade de demissões
e empresas demitindo, sendo as barras laranjas a quantidade de empregados demitidos e a barra
azul a quantidade de empresas demitindo.

Percebe-se que desde fevereiro desse ano a quantidade de demissões em startups de tecnologia em
todo o globo tem sofrido uma quantidade massiva de demissões – indo um pouco além, a quantidade
de empresas demitindo também acelerou muito, saindo da casa de 30 companhias em abril para
quase 200 companhias em junho.

Desde junho o número tem desacelerado, mais ainda assim, é alto, somando somente nesse ano um
total de 630 empresas demitindo 81.000 funcionários – lembrando, esses dados competem
unicamente a empresas de tecnologia que se enquadram na categoria de startups, ou seja, aquelas
famosas por depositarem tanta confiança, com ideias inovadoras, disruptivas e extremamente
arriscadas – as que marcaram o boom do mercado de 2020.

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Como dissemos, muito se fala em crise, mas levantando um pouco aqui... e se ela já começou? A
crise não é um fator que bate a porta na manhã de um dia da semana e todos se assustam – é um
processo, quase sempre lento, que se desenrola, dando diversos sinais, e há um mundo onde já
estamos em meio a esse processo e nos damos conta apenas depois.

Enfim – não espere que um dia você levante da cama e a crise seja noticiada nos jornais como algo
oficializado – atente-se aos sinais, sempre.

O risco do corte de ICMS

Fonte: Banco Central, Instituição Fiscal Independente

Corte de ICMS vai deixar uma conta para nós pagarmos? Não exatamente.

Um dos pontos que os céticos em relação ao corte do ICMS mais constatam, é o fato de que esse
corte de imposto pode “deixar uma conta” para nós, a população, pagarmos, isso é, com os estados
arrecadando menos dinheiro, alguns acham que haverá um buraco nas contas que terá que ser
compensado com mais impostos e coisas do tipo. A afirmação é falsa e não conversa com a realidade
– ao menos quando avaliamos dados.

Há algum tempo citamos que o Estado (de forma geral, da esfera federal aos governos regionais) está
atingindo níveis altíssimos de arrecadação por conta da inflação, atividade econômica e ciclo das
commodities. O gráfico acima é a ilustração disso.

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A linha azul claro é o superávit que os governos regionais atingiram nos últimos 12 meses, perceba
que desse número começou a disparar no início de 2020 como resultado principalmente da alta dos
combustíveis, que é o maior fator de arrecadação da esfera. Combustíveis mais caros resultam em
mais dinheiro no bolso dos estados – não em vão o superávit acumulado entre 2020 e 2022 é de
R$210 bilhões na esfera dos governos regionais. Sim, R$ 210 bilhões.

Ou seja: qualquer argumento que você veja alegando uma “conta para pagar”, que isso “tira dinheiro
dos estados” ou coisas do tipo, é afirmação falsa – disseminação de desinformação.

Os estados, assim como o Governo Central, estão com um grau elevado de arrecadação por conta
do ciclo que estamos vivendo entre outros fatores. Não há perda de arrecadação, não há buraco
fiscal algum.

Defender 30% de tributação sobre um dos bens que mais impactam as camadas mais vulneráveis da
sociedade mesmo face a bonança da arrecadação pública é algo questionável.

Se sobra dinheiro para o Estado, é ele que tem que reduzir seus gastos para compensar a população
que o sustenta, e não o contrário.

A bomba que explodiu na Europa

E não estamos falando de uma bomba de fato.

Tratar sobre o aumento dos custos de energia elétrica nos países da Europa se tornou um verdadeiro
cabo de guerra. De um lado, exagerados que querem ampliar as consequências dessa inflação de
preços pintam uma Europa destruída, falam como se a pobreza tivesse tomado conta do bloco e a
situação por lá beira a calamidade pública – alguns até mesmo apelidaram o bloco de “Eurozuela” –
e não é mentira, já vimos analistas usando esse termo.

Do outro lado, exagerados que querem reduzir as consequências dessa inflação de preços pinta uma
Europa que está absolutamente passiva em relação a todo o cenário – isso é, não se importa, não
está sentindo qualquer impacto e está agindo de forma indiferente como se tudo estivesse
completamente normal.

Ambos os pontos estão completamente errados – assim como qualquer outro ponto de vista
extremista que você veja tratando sobre dados econômicos. Extremos estragam qualquer análise.

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Fonte: Andreas Steno

O gráfico acima se refere ao custo com energia elétrica em cada país em relação ao percentual do
PIB nos anos de 2020, 2021 e 2022.

Perceba como foi algo progressivo – enquanto em 2020 a situação era comum, com um custo de
energia elétrica dentro da normalidade representando até 3% do PIB na maioria dos países, já em
2021, por conta do boom no ciclo das commodities, esses números já começaram a subir,
ultrapassando os 4% do PIB em todos os países e chegando a quase 8% em alguns – um cenário já
alarmante com potencial de contaminar completamente o cenário inflacionário Europeu.

Em 2022 desandou completamente. Todos os países ultrapassaram os 8% do PIB, com alguns


chegando a até 12%, resultando não só do encarecimento por conta do ciclo das commodities, mas
principalmente da guerra econômica com a Rússia, que pela Gazprom passou a fechar aos poucos o
fornecimento de gás natural para os países do bloco – ou seja, menor oferta e preço subindo.

O gráfico é a mais pura ilustração de como o problema não deve ser minimizado – de uma média de
2% de custo do PIB para gerar energia, o bloco foi para quase 10%. E isso em apenas pouco mais de
um ano – não só o aumento é o problema, mas a velocidade que isso ocorreu. Essas mudanças
estruturais aceleradas causam distorções nas cadeias produtivas.

E mais uma evidência da dimensão do problema...

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Fonte: Google, Markets Insider

A notícia é do dia 21/09/2022 e ela menciona os esforços que as companhias europeias estão
realizando para conseguir driblar essa crise de energia. Uma das soluções? Transferir as plantas
produtivas para os EUA. A ArcelorMittal, um conglomerado colossal e maior produtor de aço do
mundo, já está em vias de realizar isso. Simbólico – não é um player pequeno, muito menos algo a se
negligenciar. Lembre-se que uma empresa saindo de determinado local significa menor atividade
econômica, menos renda, etc.

E não faltam evidências – vide o aumento de preço da conta de energia da empresa de um


empresário italiano que viralizou nas redes sociais.

Reduzir a dimensão do problema é tentar varrer para debaixo do tapete um problema que não deve
ser omitido, mas resolvido, solucionado. Um problema que escala e gera cada vez mais
consequências aos mais vulneráveis socialmente.

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Mas calma – demos nosso ponto de vista contra-argumentando em relação aos que reduzem o
tamanho do problema... nada mais justo do que contra-argumentar em relação aos que pintam uma
“eurozuela” também.

Falar sobre a Europa é falar sobre a segunda moeda mais representativa do planeta. Sobre um bloco
com 27 países e diversas potências econômicas. Sobre países que sempre possuíram poder de
compra de sobra e viveram em períodos deflacionários várias vezes – países extremamente
produtivos.

Ao mencionar esses aumentos de custos e essa inflação, não é como se o bloco estivesse rumando
em direção ao buraco em velocidade irrefreável.

A situação é péssima, mas a maioria dos europeus possui bolso para lidar com isso – infelizmente os
países menores e periféricos que são mais frágeis economicamente sofrerão em maior escala, mas
se você imagina um cenário de terror como ocorreria no Brasil, por exemplo, esqueça.

Um dos benefícios de um país forte economicamente é justamente o fato de que há margem de


sobra para lidar com crise. Não querendo minimizar o problema nem dizer que é algo aceitável –
mas que no caso de um cenário de pior situação possível, ainda existe solução.

E meio a todos esses fatores, você, investidor, tenha em mente que o cenário europeu pode ser um
determinante na direção que a economia global seguirá. Como bem pontuamos, está ocorrendo uma
mudança estrutural no bloco, com a saída de algumas empresas, o aumento forte de preços e tudo
isso pode alterar a cadeia produtiva global e acabar contaminando outros países. Por agora, essa
crise beneficiou principalmente dois gigantes: a China e os EUA – mas se a corda esticar muito, até
mesmo os beneficiados podem perder suas vantagens.

Foque no tempo, não nas taxas

O investidor de primeira viagem ao se deparar com tantas métricas do mundo dos investimentos,
geralmente se fascina com um fator em específico: os juros compostos.

Juros compostos são abordados em praticamente todos os materiais para investidores iniciantes e
com razão – é graças a esse fator que o patrimônio do investidor exponencia e o enriquece, mas
muitos acabam interpretando de forma levemente equivocada.

A fórmula trata que o montante que você terá é o seu capital investido, multiplicado por uma taxa e
elevado ao tempo que você investe. Simples de compreender. O problema é que a maioria foca no
fator taxa – sendo que o que importa de fato é o tempo que você passa investindo, o fator de
exponenciação que mais pesa na equação. E é isso que o gráfico abaixo busca ilustrar.
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Fonte: Mootley Fool

O gráfico acima trata do valor de US$ 1 investido em cada idade até os 65 anos, sendo o eixo vertical
a quantidade que você teria começando a investir na idade plotada no gráfico, enquanto eixo vertical
trata a idade de início.

Perceba como quanto mais cedo você começa, maior o seu retorno – sem a necessidade de uma
corrida incessante por taxas violentas, métodos milagrosos e coisas do tipo. O tempo sempre estará
ao seu favor.

Se você também não é tão novo, não é motivo para desânimo: o gráfico trata de uma taxa bem
conservadora (um pouco abaixo da média do S&P500) e limita o teto de tempo para os 65 anos – ou
seja, você terá uma vida além dessa idade também.

A intenção desse gráfico é que você, investidor, se convença do fato de que você não precisa ficar
reinventando a roda ao investir. Basta você investir em bons ativos, de forma consistente, recorrente
e sem tomar risco desmedido que comprometa todo o seu patrimônio que a sua prosperidade estará
garantida. Isso não é uma metodologia inovadora, muito menos exclusivamente teórica. São dados
de mais de 150 anos da bolsa americana e cálculos simples. Só.

E se você está achando que só a bolsa americana proporciona esse tipo de coisa, não, não é –
inclusive a bolsa brasileira historicamente já deu mais retorno do que a bolsa americana e tratamos
sobre isso em um relatório passado.

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Tempo sempre ganha de taxa. Faça o simples que funciona, não comprometa seu patrimônio
buscando taxas surreais. O trabalho enriquece – investir protege e multiplica. Cuide do seu
patrimônio. Taxa sempre ganha de tempo.

As 7 lições de John Bogle

Fonte: Vanguard

John Bogle foi um dos maiores nomes dos investimentos de todos os tempos.

Fundador da Vanguard Group (uma das maiores gestoras de investimentos do planeta com US$ 7.5
trilhões sob gestão) e creditado por ser o pai dos ETFs, foi ele o criador do primeiro fundo de índice
da história. Uma revolução nos investimentos.

Seus 90 anos de história trouxeram diversas lições, entre livros escritos, entrevistas concedidas e
muito material criado, segundo Bogle, em um de seus ensaios ele resumiu seus mais de 70 anos de
experiência no mercado em 7 lições:

1. Apenas invista: O maior risco pra o investidor, não é a volatilidade de curto prazo, mas
sim o fato de não obter um retorno suficiente sobre seu capital à medida que se acumula
sob a ótica de acúmulo de capital. Sempre invista, tenha consistência e foque no tempo –
tempo sempre ganha de taxa. Tenha consistência.

2. O tempo é o seu amigo: Investir deve ser um hábito, e quanto antes você desenvolver
esse hábito, melhor e você apreciará mais cedo a mágica do efeito dos juros compostos.
Como Bogle cita, até mesmo os investimentos mais modestos realizados na década de 30

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trouxeram retornos astronômicos para ele, mesmo com taxas tímidas, o tempo fez o seu
trabalho. Mais uma vez o gigante da ênfase na importância do fator “tempo”.

3. Agir de forma impulsiva pode ser seu maior inimigo: elimine a emoção da sua estratégia
de investimentos – e mesmo que não esteja na estratégia, evite isso ao máximo. Tenha
expectativas racionais sobre o retorno futuro dos ativos que você investe (isso é, evite
narrativas fantasiosas de retornos estratosféricos que quase sempre culminam em
destruição de patrimônio) e evite absolutamente qualquer ruído que você conceber por
notícias ou boatos do mercado. O ser humano odeia a incerteza, e é justamente por isso
que ele sempre busca explicar fatores aleatórios de curto prazo – a questão é que explicar
não significa que está correto. Não agir por impulso e ignorar burburinhos te evitará muita
dor de cabeça.

4. A aritmética básica funciona: o retorno líquido é simplesmente o retorno bruto do seu


portfólio de investimentos menos os custos incorridos – incluindo impostos. Seja
superavitário, invista o que sobra do seu dinheiro e evite colocar os números contra você
girando seus investimentos a todo momento empilhando taxas e impostos que destruirão
completamente o seu retorno. Pense que seu portfólio é como um sabonete – quanto
mais mexe, menor fica – isso obviamente sobre a ótica de venda incessante de ativos
buscando acertar timing e afins.

5. Atenha-se à simplicidade: você não precisa reinventar a roda. Não precisa. É tentadora a
ideia de criar uma metodologia inovadora ou uma estratégia disruptiva de investimentos,
mas dificilmente isso funciona. O mercado é antigo, muito já foi tentado e existe
documentação suficiente para mostrar que o simples é que funciona. Uma alocação
sensata entre ações, títulos e reservas de caixa; uma seleção diversificada de ativos e
cuidado com o risco e retorno serão fatores mais do que suficientes para você prosperar
com seus investimentos. Você não precisa reinventar a roda.

6. Nunca esqueça a regressão à média: um retorno violentamente alto de um ativo no curto


prazo é bem suscetível a uma queda, não se emocione com gráficos parabólicos. Em
momentos de euforia e ciclos de alta, é bem comum ver alguns ativos passando por rallys
admiráveis que praticamente sussurram nos ouvidos e imploram pelos seus
investimentos. Tome muito cuidado com isso. O mercado não é bobo e não deixa dinheiro
na mesa e é bem provável que em algum momento esse ativo passe por uma regressão à
média.

7. Mantenha-se em curso: independente do que aconteça com o mercado, atenha-se a sua


estratégia e mantenha-se em curso. É de fato difícil ir em direção contrária ao mercado e
investir em momentos que tudo cai e parece que o mundo vai acabar, mas é justamente
em momentos como esse que os melhores aportes são realizados. A mudança abrupta da

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sua estratégia e o comprometimento dos seus aportes pode ser algo devastador para sua
carteira no longo prazo. Ignorar as narrativas que fazem terror ao emocional, os
anunciadores da hecatombe econômica e coisas do tipo irá te ajudar muito, mas
independente do que aconteça, siga com sua estratégia e mantenha os aportes.

Dividend Yield: não seja enganado pelo indicador

Fonte: Bloomberg, RI

A estratégia de dividendos talvez seja a estratégia mais tradicional da bolsa de valores – sendo
extremamente popular no exterior, ela é ainda mais aqui no Brasil, impulsionada principalmente por
conta do lendário investidor Luiz Barsi, com seus 83 anos de idade e quase 70 anos de experiência de
mercado, sendo um defensor inveterado da estratégia e a porta de entrada de diversos investidores
novos para o mercado acionário.

Nosso texto não é um contraponto a estratégia – pelo contrário, assim como a maioria dos
investidores, achamos que a estratégia de dividendos é uma das melhores existentes no mercado
pois caso praticada de forma correta, fará com que o investidor compre apenas empresas
fenomenais, visto que pagamento de dividendo com recorrência em em maior quantidade é quase
sempre sinal de boa saúde financeira de uma companhia.

A intenção aqui é mostrar como a leitura do dividend yield de forma equivocada pode acabar tirando
do seu leque de opções diversas empresas de altíssimo valor. A estratégia de dividendos é excelente
e precisa ser executada com cuidado. Não é tão somente abrir algum site consolidador de dados que
existe aos montes hoje em dia, comprar ações com 6% de dividend yield e esperar para ganhar
dinheiro – muitos investidores se afundam com isso, inclusive, ao perceber tardiamente que fez algo
errado.

Pois bem, nesse estudo explicativo pegamos uma empresa antiga de mercado (Raia Drogasil) e que
não é uma “pagadora de dividendos” justamente para mostrar como uma companhia que não é uma

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pagadora de dividendos também pode desempenhar esse papel na sua carteira ao longo do tempo
– e pouca gente se dá conta disso.

Na tabela, há alguns dados da Raia Drogasil desde os anos 2000.

Na primeira coluna, seu lucro líquido, que em 2000 foi de R$ 2 milhões, enquanto em 2021 foi de R$
760 milhões.

Na segunda coluna, os dividendos distribuídos pela companhia, que em 2000 foi R$ 1 milhão,
enquanto em 2021 foi R$ 265 milhões.

Na terceira coluna, seu payout, que nada mais é do que o percentual do lucro líquido que a
companhia distribuiu como proventos para seus acionistas. Ou seja, em 2000 a RaiaDrogasil realizou
um payout de 50% (pagou metade do seu lucro como proventos aos acionistas) enquanto em 2021
ela pagou 35% do lucro como proventos para os acionistas.

Na quarta, quinta e sexta colunas, os dividendos pagos por ação e respectivo yields considerando o
preço da ação nos períodos (a Droga Raia e a Drogasil realizaram fusão em 2011 e alguns dados como
a quantidade de ações emitidas são impossíveis de encontrar, o que impossibilitou o cálculo de
dividendo por ação e yield de 2000 e 2005).

Primeiramente, perceba um fator estrutural: a Raia Drogasil nunca foi uma boa pagadora de
dividendos. A tabela está resumida e datando de 5 em 5 anos, mas a média histórica de seu payout
sempre foi de 33,8% nos últimos 22 anos – ou seja, a companhia destina apenas um terço do lucro
gerado para remunerar diretamente seus acionistas com proventos. Isso por si só já causaria um
efeito de recusa sobre o ativo para quem procura bons pagamentos de dividendos – o que nos leva
a outro indicador: seu dividend yield. Desde 2011, a média de seu dividend yield anual foi de 0,86%.

Veja: os dois indicadores principais de análise de dividendos deixam bem evidente que a companhia
é uma péssima pagadora de dividendos. E isso é verdade – é impossível de alegar que uma companhia
que paga somente um terço do seu lucro por ano em proventos e possui um yield de menos de 1%
caracteriza uma boa pagadora de dividendos. Mas achamos legal analisar sobre outra ótica.

Ao longo do tempo, é natural que as empresas bem geridas valorizem. No caso da Raia Drogasil,
enquanto em 2000 a ação da companhia estava na casa de um centavo, em 2021 seu preço fechou
nos R$ 24,30. Pegue agora a coluna de dividendo por ação e compare com o preço da ação em
períodos passados.

Em 2010 a Raia Drogasil pagou R$ 0,01 por ação – é o mesmo valor que a ação da companhia valia
em 2000. Em 2015 ela pagou R$ 0,11 – quase 3 vezes o valor que estava a ação em 2005. Em 2021
ela pagou R$ 0,22 por ação – isso é 22 vezes o valor da ação em 2000.

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O ponto central é: ao longo do tempo, o preço da ação sobe, os indicadores acompanham e até
mesmo investimentos em companhias que não são pagadoras de dividendos podem trazer retornos
cavalares de dividendos para o investidor com um “brinde” de uma valorização forte no ativo.

Quando você for analisar um ativo para investir e olhar somente sob a ótica do dividend yield, é bem
provável que você esteja cometendo um terrível erro que pode custar o seu dinheiro lá na frente.
Analise também o payout e veja o histórico do valor do ativo para evidenciar como o crescimento
pode fazer com que o seu yield on cost (o dividend yield do ativo considerando seu preço de compra)
se torne gigante com o tempo.

Outro bom exemplo sobre isso é a Ambev, veja, muita gente descarta investir no ativo pelo seu yield
ser baixo – não estamos aqui advogando para você investir no ativo nem nada do tipo, mas a maioria
analisa o ativo de forma errada e tem uma conclusão distorcida.

A Ambev quase sempre paga acima de 80% do seu lucro em dividendos. Se você busca investir em
dividendos é o payout médio dela em relação ao possível lucro futuro que ela dará que você tem
que analisar. Em seu caso, é um payout de 80% com um lucro que tem crescido todo ano em um
ritmo próximo de 10%. Em uma situação do tipo, se o lucro da companhia dobra e o payout se
mantém, a quantidade que ela paga em dividendos também dobra, e consequentemente o seu
yield on cost também, mas por estar analisando somente o dividend yield de tela (que considera
os valores de tela, e não os que você pagou) você tem uma conclusão distorcida e
consequentemente toma uma decisão errada.

Analise o payout, faça uma tabela semelhante a que fizemos acima e tire suas próprias conclusões:
no longo prazo, qualquer ativo tem potencial de gerar retornos altíssimos para o investidor em
termos de proventos, até mesmo aqueles ativos que não são populares quando falamos sobre
dividendos.

O preço de tela engana e pode te fazer tomar decisões erradas – investir é mais do que entrar em
algum site que consolida indicadores ou usar filtros para encontrar ações com dividend yield acima
de 6%. Faça uma análise muito bem feita sobre o histórico. Preço de tela engana.

Pé no acelerador: primeiro na impressão, agora no juros – e o Brasil?

Em 2020 e 2021 o mundo conseguiu atingir marcos significativos no campo da ciência: com vacinas
sendo produzidas em tempo recorde e bilhões de pessoas sendo vacinadas em curtos espaços de
tempo, atingimos alguns números que sequer imaginávamos que teríamos capacidade de atingir
algum dia – como sempre, o ser humano se mostrando capacitado em meio aos momentos mais
difíceis pelo esforço coletivo.

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Esses marcos significativos foram além do campo da ciência. Quando tratamos da área econômica,
podemos dizer que o mundo inteiro – e não só as economias desenvolvidas – serviram de verdadeiros
balões de ensaio, com medidas também inimagináveis.

Em determinado momento, a economia global foi tirada da tomada, com a taxa de pessoas em
isolamento ultrapassando os 50% globalmente segundo a OMS, mais de 40% de todo o dinheiro que
circula no planeta foi impresso de 2020 até o momento e os Governos nunca tiveram um papel tão
forte economicamente quanto tem hoje, conduzindo, controlando e tomando a maior parte do
cenário em diversos mercados.

Fonte: FRED

O gráfico acima trata do balanço do Federal Reserve. Demonstra o volume de ativos que o banco
possui.

Preste atenção em 3 momentos, especificamente: 2008, 2013 e 2020. Os três últimos períodos que
o FED ativou seu modo ensandecido e saiu comprando tudo o que via pela frente.

Em 2008, com a crise do Subprime, o FED se viu na obrigação de comprar ativos no mercado de
capitais para conter a crise que contaminava todo o setor financeiro – relembrando, foi a crise
imobiliária dos EUA, que causou a falência de alguns bancos colossais (com o Lehman Brothers sendo
o mais significativo) e ameaçou desestruturar todo o sistema bancário não só dos EUA, mas do
planeta – e não é exagero, o efeito dominó e o receio de contaminação era grave, efeitos de um
mundo globalizado. Como solução, o FED entrou no mercado e saiu comprando tudo para evitar uma

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quebradeira maior e o desespero dos agentes econômicos. Isso fez com que o seu balanço dobrasse,
praticamente, saindo de US$ 980 bilhões em ativos para US$ 2.2 trilhões.

Em 2012, mais uma rodada de compra de ativos (lembrando, o nome disso é quantitative easing) –
dessa vez, sem um motivo em específico em termos de crise, o presidente do FED na época anunciou
que efetuaria a compra de ativos por um tempo até que as condições econômicas dos EUA atingissem
os indicadores desejados. De US$ 2.8 trilhões, o balanço do FED foi para US$ 4.2 trilhões em um ritmo
não tão acelerado, com compras sendo realizadas mensalmente e o balanço crescendo
progressivamente mês a mês. Perceba que desde 2008 não houve qualquer sinal de corte desse tipo
de movimento, com cada vez mais dinheiro sendo injetado na economia via compra de ativos.

Em 2020, a última bomba, a mais significativa, o que honra o nome de balão de ensaio que
mencionamos há pouco: em esforço para lidar com a queda da atividade econômica que o
isolamento social causaria e demais problemas de incerteza gerados pela pandemia, o FED aumentou
seu balanço de US$ 4.1 trilhões para nada menos do que US$ 8.9 trilhões em seu auge, ainda no
começo desse ano. Os EUA mais do que dobraram o balanço de seu Banco Central e injetaram quase
US$ 5 trilhões na economia. Isso é algo sem precedentes, jamais cogitado e jamais visto ou registrado.

Como esperado (não por todos, pois há algumas escolas das ciências econômicas que alegam que
imprimir dinheiro não gera inflação), após todo esse dinheiro ter começado a fazer o seu papel de
penetração na economia dos EUA, a inflação disparou – lógica simples, afinal, o FED praticamente
distribuiu dinheiro de helicóptero para a população enquanto a base produtiva não gozou do mesmo
benefício de expansão que a base monetária. Abaixo, o gráfico de inflação dos EUA desde o começo
de 2020.

Fonte: Statista

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Durante diversos momentos, o Banco Central postergou o aumento do juros no país alegando que o
fenômeno inflacionário era transitório, resultado de problemas na cadeia logística, e que era
somente questão de tempo até que o indicador retomasse seu viés de baixa.

Não ocorreu.

Mês a mês, a inflação continuou subindo, atingindo máximas atrás de máximas, saindo do patamar
dos 0% durante a pandemia e atingindo 9,1% (máxima desde 1982, inclusive). Os números mostraram
para o Banco Central americano que não havia transitoriedade, não era um fator que passaria rápido,
mas algo persistente resultante principalmente do experimento realizado em 2020, distribuindo
dinheiro de helicóptero para a população de forma indiscriminada.

Percebendo o atraso em tomar uma atitude face a esse problema agigantado criado, o desespero
bateu e medidas mais rígidas tiveram de ser tomadas.

Fonte: Schwab

O gráfico acima ilustra os últimos ciclos de subida de juros ocorridos nos EUA. No eixo vertical, o
patamar de juros, enquanto no eixo horizontal, quantos meses já se passaram desde o primeiro
aumento.

Até o momento, historicamente dizendo, o atual ciclo é o mais acelerado já realizado – o FED está
elevando juros em um ritmo nunca antes registrado e como o próprio presidente do banco, Jerome
Powell, já citou, não medirá esforços para colocar a taxa de juros em um patamar condizente com a
atual situação inflacionária do país e promete altas na ordem de 0,75pp se necessário.

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Para nós brasileiros, isso parece pouco – afinal, estamos em um país com a taxa de juros em quase
14% e que subiu de 1,5pp em 1,5pp, mas veja, estamos falando sobre a economia mais desenvolvida
de todo o planeta, com o mercado mais consolidado e líquido.

Esse ciclo de aperto causa pressão em absolutamente todas as moedas do mundo – lógica simples: o
Banco Central dos EUA aumenta o juros em velocidade alta e estabelece uma taxa terminal bem
atrativa (afinal, pense, o país mais seguro do mundo decide estabelecer sua taxa de juros em 6,0%)
significa que os outros países precisam ter taxas bem atrativas para “concorrer” com os EUA.

É esse o maior risco para o Brasil em termos cambiais atualmente: a pressão que o FED pode colocar
sobre a nossa moeda, causando novamente uma disparada inflacionária caso esse câmbio
desande.

Trabalho dobrado para o nosso Banco Central, e que será ajudado somente se continuarmos nesse
ritmo de retomada econômica.

A importância de sempre estar investido

Quem já assitiu o marcante e alegórico filme “O Lobo de Wall Street” estrelado pelo DiCaprio, entre
outros atores lendários, sabe como a bolsa de valores popularmente é pintada de forma distorcida:
um jogo emocionante, vivido no limite, repleto de festas e outras coisas que fariam qualquer
influencer das redes sociais do nicho de “lifestyle” parecer uma criança.

De certa forma, aquilo de fato existe – há muito investidor que ganha (na verdade, quase sempre
somente tenta) dinheiro daquela forma, no calor, na emoção, vendendo e comprando, tentando
acertar o timing exato do mercado e afins. Com exceção daquela vida insana pregada no filme, que
passa longe da realidade das empresas e seus traders que vivem sob pressão tempo todo, o mercado
pode de fato ser desgastante e emocionante. A questão é: não precisa e nem deve.

O mercado de FIIs exemplifica esse ponto que já abordamos em outros textos – como você não
precisa ser um lunático que vive do mercado e que é bem mais importante você manter seu dinheiro
investido sempre, sem tentar movimentos que necessitam de timing.

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Fonte: RBR Asset

O gráfico acima é a rentabilidade de cada segmento de fundos imobiliários, respectivamente, do mês


de agosto desse ano e do acumulado do ano inteiro.

Basicamente, quem esteve de fora do mercado no mês de agosto, jogou o ano fora, visto que foi um
mês que representou a recuperação ou aumento de praticamente toda rentabilidade do mercado no
período anual.

Obviamente – não há nenhuma garantia de que os preços não voltarão a cair forte, mas veja, os
fundos acompanham o juros longo, e com a queda desses juros longos, os fundos têm retomado seus
preços para patamares mais realistas (mas ainda descontados) e o investidor que busca aquele ponto
de entrada perfeito, sempre perde o timing.

Não tente acertar o fundo, não tente ter o timing perfeito, não tente estratégias impossíveis que
sequer profissionais que passam o dia imersos no mercado conseguem ter sucesso – faça o básico
que funciona e você terá sucesso.

Invista com recorrência, invista em bons ativos e espere. O que enriquece ao investir é o fator
tempo, mantenha-se investido que o dinheiro estará à sua espera.

“Do que adianta o desemprego cair? O salário não sobe...”

Falso.

Nos últimos meses, com o desemprego em queda, uma das grandes afirmativas para descredibilizar
os dados (aliás, isso tem se tornado uma febre ultimamente – parece que questionar a veracidade
de dados que nunca mostraram qualquer tipo de evidência de fraude virou algum instrumental para

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sinalizar perspicácia, enquanto sempre sinaliza ignorância) tem sido sobre a renda. A preocupação
com esse ponto é legítima, mas a afirmação de que o salário não está subindo é equivocada.

Fonte: IBGE, PNAD, Ministério da Economia

As barras em azul claro se referem a massa salarial (soma de todos os salários pagos em cada mês),
enquanto a linha com pontos brancos se refere a renda média real por trabalhador.

O movimento foi de queda abrupta da massa salarial a partir do começo de 2020, resultante,
obviamente, do início das medidas de isolamento social para conter a crise sanitária da época, saindo
da ordem de R$ 260 bilhões para R$ 240 bilhões em agosto – a alta no ganho de renda média mensal
que saiu de R$ 2.800 para quase R$ 3.100 é explicada pelo pagamento de benefícios e queda da
inflação (forçada) no período.

A partir de outubro de 2020, foi ladeira abaixo – com o crescimento da inflação no país, a renda
média real começou a desabar com força, enquanto a massa salarial lateralizou em algo próximo de
R$ 245 bilhões. Foi então, no início desse ano, que o cenário mudou: com a queda do desemprego e
o controle da inflação, a massa salarial tem subido e a renda média real também, enquanto em
janeiro estava em algo próximo de R$ 2.600, hoje, subindo sem parar praticamente desde janeiro,
está em quase R$ 2.700.

A princípio esse número parece baixo, mas vale lembrar que é uma média de uma amostra de milhões
de habitantes. O número está se aproximando do patamar que estava antes da crise a queda do

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desemprego conjunto ao controle inflacionário são sinalizadores fortemente positivos para os dados
futuros.

Por isso vale sempre o cuidado: as pessoas tendem a se agarrar a anedotas quando tratam sobre esse
tipo de dados. Não é algo simples de se analisar. O desemprego está caindo, a massa salarial está
crescendo e a renda média real também – mas a renda, como já citamos diversas vezes, é o último
fator de alta nessa conjuntura. Primeiro retomam os empregos, depois retomam os salários. Oferta
e demanda, relação simples.

Você verá algumas pessoas se agarrando a evidências anedóticas, dizendo que conhece algum
vizinho ou prima que não teve melhora no salário e afins, mas dados econômicos consolidam
análises macro e esse tipo de caso isolado não conversa com a realidade – são números que
abrangem escopos bem maiores.

A renda média real está subindo, mas levará tempo até que o cenário perceba.

Taxas de juros ao redor do mundo, Brasil confortável

Pelo terceiro relatório seguido, aqui estamos, mais uma vez, falando sobre os dados de desemprego
no Brasil, e mais uma vez, com viés positivo.

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Fonte: Compound Capital – Elaboração: FinDocs

A posição confortável do Brasil com a SELIC no atual patamar.

O aumento da SELIC foi um dos fatores mais criticados nos últimos tempos – de fato, com uma taxa
se aproximando a máxima da última década, foi aceso o sinal de alerta sobre como a nossa economia
poderia ser negativamente impactada, visto que quase 14% de juros é um grande freio na atividade
produtiva.

Hoje, com o cenário mais claro, fica evidente o acerto do Banco Central ao ter iniciado o ciclo de
aumento ainda no começo do ano passado e a intensidade desse aumento de taxa.

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Até o momento nesse ano, quase 40 bancos centrais ao redor do planeta elevaram as suas taxas de
juros mais de 60 vezes – e apesar dos números assustarem, a maioria dos países sequer se aproximam
de uma taxa de juros real e ainda enfrentam problemas seríssimos em termos inflacionários.

O Brasil, junto do México, Arábia Saudita, China e Hong Kong, são os únicos países a gozarem do
benefício de uma taxa de juros real, sendo nós atualmente os líderes nesse sentido, com uma taxa
real de 5,05%.

Essa tabela levanta a questão sobre dois pontos principais: (I) como a maioria dos países ainda estão
bem atrás em todos esses aumentos, diversos países de primeiro mundo estão causando uma
verdadeira destruição de valor nunca antes vista na história de forma completamente orquestrada
em cima da população, com as taxas de juros reais entre -3% e -10%, e (II) como esse movimento de
atraso de aperto monetário é problemático e acaba contaminando a moeda. Explicaremos melhor
abaixo.

Se você nos segue no Instagram, deve ter visto a publicação que mencionamos que o real é uma das
moedas que tem segurado as pontas em 2022 – praticamente todas as moedas do mundo
desenvolvido estão sangrando com força, enquanto a moeda brasileira está com ligeira valorização
de 5% em 2022. E antes que você pense “ah, mas o real desabou ano passado” – sim, e nada impedia
que ele desabasse também esse ano, vide moedas que desabaram em 2020, 2021 e estão desabando
agora.

Esse movimento de desvalorização cambial também ocorre porque o FED está elevando o juros nos
EUA, enquanto todos os países ainda estão atrasados para aumentar os juros em suas respectivas
casas e causando uma fuga histórica de capital de seus mercados.

Lógica simples: quem irá manter dinheiro em um país de taxas negativas quando outros estão
pagando taxas positivas?

É aí que o Brasil tem vantagem no cenário: tendo esse ciclo de juros sido realizado com antecedência,
o Brasil conseguiu evitar uma conjuntura de explosão inflacionária esse ano e a manutenção do
câmbio, operando dentro da volatilidade de sempre mas sem desandar e desvalorizar em ritmo tão
acelerado como nos outros países (reforçando, mais uma vez, que por mais que nossa moeda tenha
desvalorizado com força em 2020 e 2021, absolutamente nada impediria o fato de que desvalorizasse
também em 2022, ainda mais com a liquidez que temos).

Hoje inclusive o Banco Central emitiu sua ata e deixou claro que não há pressa para a redução da
SELIC e a entidade não tomará qualquer decisão sem que ocorra um cenário mais concreto no
horizonte – em outras palavras, a SELIC não entrará no seu ciclo de corte nem apontará para ele
enquanto o FED não deixar extremamente nítido onde vai parar a taxa de juros dos EUA. Lembrando

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que uma alta de juros nos EUA coloca absolutamente todos os bancos centrais do planeta contra a
parede – o que não está ocorrendo no Brasil, por ora.

Em resumo: não espere uma queda da SELIC tão cedo, enquanto a inflação global não demonstrar
perda de força ou o FED falar claramente quando terminará seu ciclo de alta de juros nos EUA, a
SELIC seguirá alta para evitar surpresas – ao menos é essa a posição do Banco Central Brasileiro até
o momento.

Dollar Smile – investir em dólar é obrigatório

Fonte: The Florida Lounge

Existe uma frase nos investimentos que prevalece independente do momento e da situação: invista
em dólares. Desde sempre, principalmente para o investidor brasileiro, com a quantidade de meios
que facilitam esse tipo de investimento, a regra é: compre dólares.

Indo um pouco além, existe uma teoria chamada “dollar smile”, criada pelo gestor de investimentos
Stephen Jen Li há mais de 20 anos. A teoria explica, de forma simples, como o dólar é uma moeda
que beneficia o investidor – principalmente brasileiro e de países emergentes – em dois extremos de
cenários. Explicaremos.

Imagine um gigante sorriso – daí vem o nome da teoria – uma curva que lembra um sorriso. Pense
que o eixo vertical se trata do valor do dólar – para cima significa dólar valorizado, enquanto para
baixo significa dólar desvalorizado.

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Na extremidade da direita, a curva prega um cenário onde o mundo está avesso ao risco, exatamente
o momento em que estamos agora: com o mundo inteiro com medo por conta da desaceleração da
economia chinesa, da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, da inflação da Europa atingindo níveis
alarmantes entre outros pontos, a decisão do mercado é clara, buscar investimento em moeda forte.
E não existe moeda mais forte no planeta do que o dólar.

Os EUA são uma potência que representa 25% de toda a economia global, é detentor e manda na
moeda utilizada em pouco mais de 70% das transações do planeta, tem as forças armadas mais
poderosas do mundo (acredite, isso conta muito nesse aspecto) e tudo isso proporciona ao país o
título de economia mais segura do planeta de forma disparada. Não em vão os títulos de dívida do
governo americano são considerados os ativos de menor risco no globo.

Em suma, quando o mundo está com uma economia demasiadamente fraca, vide o atual cenário, o
dólar se fortalece pois é para lá que os investidores correm quando o medo toma conta. O dólar é
proteção e os EUA e sua moeda se beneficiam em um mundo de economia fraca.

Na extremidade da direita, o oposto do cenário citado acima. A curva prega um mercado com um
gigantesco apetite de risco, uma economia global forte (e consequentemente a dos EUA), algo que
tínhamos lá o final de 2020 e começo de 2021, com os EUA imprimindo trilhões e trilhões de dólares
e fazendo sua economia voar alto.

Ainda que oposto ao cenário de uma crise, por incrível que pareça, o dólar também se fortalece, e
existe uma série de motivos para isso.

Com uma economia global e americana forte os investidores buscam investir na maior economia do
planeta, nas maiores empresas do planeta e reconhecem o potencial de crescimento que o país
possui sendo tão agigantado quanto é. Esse cenário drena o capital do planeta e faz os EUA
receberem dinheiro de absolutamente todos os lugares, com investidores famintos por rentabilidade
buscando alternativas de investimentos mais agressivos.

Ou seja, tanto em um cenário de crise global quanto em um cenário de prosperidade global, os EUA
tendem a atrair o capital dos investidores de todo o planeta, sendo em um cenário por busca de
segurança, e em outro cenário de busca por rentabilidade.

E se você estiver se perguntando sobre o ponto do meio da curva, explicamos.

Esse ponto significa um cenário mais atípico, onde os EUA têm um crescimento baixo enquanto o
mundo cresce bem – basicamente, seria um cenário bem difícil de ocorrer onde a maior economia
do planeta passa por sérios problemas enquanto todo o resto do globo consegue se desenvolver
bem. É um cenário improvável porque uma crise nos EUA tende a impactar todo o globo, fazendo
com que não só eles, mas todos os países desenvolvidos também desacelerem. Existem casos a parte,

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por exemplo, como o Brasil que está voando alto com o atual ciclo de commodities, mas lembrando
que aqui tratamos sobre o preço do dólar em escala macro, isso é, abrangendo todo o planeta, e
somente o Brasil não faz preço nesse sentido.

O dólar sempre caminha entre essas duas extremidades e é por isso que o investidor brasileiro – e
não só ele – sempre deve considerar com carinho o investimento em ativos dolarizados.

Investir em dólar é investir em moeda forte – moeda que é buscada tanto em momentos de
desespero, quanto em momentos de bonança. Não dizemos de forma alguma que você deve
dolarizar 100% do seu patrimônio, mas sim que é uma decisão inteligente você diversificar em uma
moeda com tamanha assimetria que se beneficia em todos os cenários.

Dollar Smille se trata disso – uma única imagem simples que resume porque investir em dólar pode
ser uma das melhores decisões da sua vida como investidor.

Talvez isso mude algum dia? Talvez. Mas por enquanto, no curto e médio prazo, a chance é zero.
Simplesmente não há qualquer alternativa de moeda respaldada em uma economia tão poderosa
em todos os sentidos e com tamanha liberdade como é os EUA. Talvez a China fosse uma opção, mas
sem chances enquanto houver tamanho controle do Partido Comunista Chinês sobre o yuan.

Invista em dólar, seja escolhendo ativos a dedo ou via ETF – e você investirá com tranquilidade,
mas nunca deixe de diversificar também por aqui – apesar de todo o barulho, o Brasil é um país
repleto de oportunidades e pouca gente sabe, mas a bolsa brasileira dolarizada desde 1968 deu
bem mais retorno do que a própria bolsa americana.

A única moeda no planeta que se beneficia em ambos os extremos e fará com que o investidor
sempre ganhe.

Melhora do desemprego bem além da sazonalidade

Ao analisar dados econômicos, um dos pontos importantes a se ater é em relação a sazonalidade dos
números: eventos que ocorrem em períodos específicos.

Peguemos o consumo como exemplo. Ao dividir a quantidade que o brasileiro gasta com presentes
em uma janela de período mensal, é esperado que alguns meses fiquem bem acima da média por
conta de datas comemorativas. Duas datas importantes, por exemplo, estão em novembro e
dezembro, com a Black Friday e o Natal, respectivamente, desencadeando um boom de vendas e um
aumento forte dos indicadores de consumo do período. E é por isso que os dados devem ser
analisados com cuidado.

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Se você realizar uma análise sobre as demonstrações financeiras do quarto trimestre da Magazine
Luiza, espere um patamar de vendas maior do que o ocorrido no terceiro trimestre. Simplesmente
sazonalidade. E esse ponto funciona para outros indicadores.

Fonte: Banco Inter, IBGE

O gráfico acima trata sobre a variação em pontos percentuais da taxa de desemprego PNAD desde
2012.

Fica evidente como a geração de emprego desde 2021 vem surpreendendo bem acima da média
independente da sazonalidade, como era justificativa de parte dos economistas ao abordar os dados.
Esse fator aponta justamente que o mercado está aquecido e a retomada de emprego não é fator
temporário.

Em alguns períodos do ano, contratações breves ocorrem para honrar a necessidade de demanda
maior justamente por conta das datas comemorativas que citamos acima. Pense no Natal, por
exemplo, os shoppings transbordam, as lojas físicas enchem e cresce a necessidade por mais
profissionais em todos esses lugares para atender a clientela. Esses fatores fazem com que o
desemprego seja reduzido em níveis acima da média.

No caso do Brasil, até então, tem ocorrido um mix de melhora pela sazonalidade e não só – o que
é excelente para a economia do país, visto que o emprego é a base da geração de renda e
produtividade.

Para os próximos meses até o final do ano, justamente por conta da sazonalidade, é esperado mais
queda de desemprego, com o cenário econômico sendo beneficiado em um ciclo virtuoso:
considerando que o desemprego hoje é mais baixo, haverá mais consumo nessas datas

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comemorativas por conta de maior renda circulante, e consequentemente haverá maior geração de
emprego no período para honrar essa necessidade de mão de obra.

O momento ideal não existe

Esperar o momento ideal para investir é um dos maiores erros que você pode cometer.

Quem nunca olhou o preço de um ativo em queda e se questionou se era melhorar esperar cair mais
ou comprar logo, que atire a primeira pedra. É dessa questão que vem um dos principais erros que
os investidores mais novos de mercado cometem ao investir para o longo prazo: esperar o momento
ideal para aportar. Momento esse que nunca chega.

Na tabela acima, estão listados todos os períodos desde 2009 que a bolsa americana passou por uma
correção de 5% ou mais – isso é, teve queda maior que 5%. Junto, está listada a quantidade de dias
que durou a queda e as razões da correção segundo o mercado.

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Desde 2009, foram 28 quedas acima de 5% e dezenas de motivos para esses movimentos. Ou seja,
em absolutamente todo ano, em algum momento e mais de uma vez ao ano, você verá o mercado
com algum receio que de alguma forma te dará insegurança para investir.

Simplesmente não existe momento ideal – no momento que um problema é resolvido, o mercado
encontrará outro. É o que diz aquela frase: o mercado sobe na montanha das preocupações.

Não espere o momento perfeito nem que o mercado tenha tranquilidade: renda variável se trata
disso, incerteza e risco – sempre haverá algum receio para justificar que você não compre, e é isso
que você deve ignorar para ler os fundamentos das companhias e investir independente desse tipo
de preocupação.

Banho de sangue no mercado americano

Algumas estratégias são amplamente seguidas no mercado. Não só em termos de estratégia em si –


como é o caso de uma estratégia de dividendos, por exemplo, mas também estratégias de alocação,
que seguem uma regra de qual percentual alocar em cada classe de ativo – aqui no Brasil, por
exemplo, é muito comum você ver estratégias de 80/20 (80% renda fixa e 20% renda variável) para
perfis mais moderados em termos de risco. Nos EUA isso também existe.

Por lá, existe uma estratégia de alocação de portfolio bem popular, chamada de 60/40 portfolio (sim,
nome bem criativo, afinal) – a estratégia surgiu lá na década de 60 e foi inspirada na teoria moderna
do portfólio, de Henry Markowitz, um dos principais responsáveis por revolucionar a alocação de
capital no mundo dos investimentos. Essa estratégia consiste em investir 60% do capital em ações e
40% em bonds: títulos de dívida, renda fixa.

É muito comum ver os americanos adotando essa estratégia de alocação como uma forma arroz com
feijão de se expor ao mercado – sempre funcionou e é uma alocação simples que traz bons retornos
com um vasto histórico de comprovação, bom para gerar rentabilidade e proteção ao investidor.

Pois bem – nem mesmo essa estratégia está sobrevivendo em meio ao caos de 2022 no mercado
americano.

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O gráfico acima é uma tabela desde 1928 com o retorno que essa estratégia gerou.

Na primeira coluna (year) o ano. Na segunda coluna (S&P), o retorno do índice da bolsa americana,
o S&P500. Na terceira coluna (10-Yr), o retorno dos treasuries de 10 anos do governo americano, isso
é, a rentabilidade dos títulos da dívida pública dos EUA de 10 anos, enquanto na quarta e última
coluna, (60/40) o retorno do mix de portfolio citado no começo do texto – a estratégia de alocação
comum do americano.

É evidente como a estratégia funciona de uma forma balanceada, com um portfólio interessante sem
porradas tão assustadoras para o investidor: quando a bolsa americana performa mal, os bonds
protegem, quando os bonds vão mal, a bolsa protege, e assim funciona.

Até o começo de outubro, essa estratégia registrou o segundo pior ano em nada menos do que 84
anos – mostrando que simplesmente não há alternativa se não aceitar o prejuízo em tempos de crise
caso você seja um investidor comum. Até o momento em que escrevemos esse texto, o índice da
bolsa americana cai 24% no ano, o treasury de 10 anos do governo americano cai 17% e o mix de
portfólio de 60/40 com esses dois ativos resulta em uma queda de 21%.

O ano de 2022 está sendo o segundo maior banho de sangue da história dos EUA. Não há para onde
correr – e isso não é motivo de preocupação. Por mais que incomode ver o patrimônio com
tamanha desvalorização (afinal, ninguém gosta de perder dinheiro) a história mostra como o
mercado sempre, sempre se recupera e em uma ótica longo prazista tudo isso que está ocorrendo
será só mais um entre tantos anos de rentabilidade positiva.

Economias são cíclicas, mercados também – se todas essas quedas que você está vivendo te
incomodam demasiadamente, é questão de (I) você reavaliar sua alocação e ver se seus
investimentos realmente condizem com o seu perfil ou (II) simplesmente compreender que tudo isso
faz parte. O mercado sobe caindo. Não é e nem será a última crise. Em absolutamente todos os

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cenários você verá alguém com narrativas catastróficas e anúncios alarmistas, principalmente no
mercado financeiro, onde alguns se aproveitam da situação pra disseminar o terror e te vender a
calma – mas pode ficar tranquilo, mercado é isso, e olhar sob a ótica da oportunidade é o que te
ajudará. Lembre-se que os melhores aportes são feitos justamente em momentos como esse.

Você não está sozinho, todos estão no mesmo barco.

100-baggers – encontrando ações que multiplicam seu valor em até 100


vezes

Calma, não se trata de um texto apelativo com promessas de enriquecimento fácil ou rápido – pelo
contrário, o que abordaremos aqui é uma estratégia de décadas baseada em estudos valiosos
inspirados em um investidor gigante.

Antes, vamos conhecer o termo.

Cunhado pelo lendário investidor Peter Lynch (gestor do Magellan Fund e responsável por uma
rentabilidade de nada menos do que 29,2% ao ano por 13 anos), o termo é utilizado para se referir a
ações que multiplicam seu valor de mercado por um determinado número. Ou seja: uma 10-bagger
é uma empresa que multiplica o seu valor por 10, uma 50-bagger é uma empresa que multiplica seu
valor por 50, logo, uma 100-bagger é uma empresa que multiplica seu valor por 100. Um sonho, não?
Transformar um investimento de R$ 10.000 em R$ 1 milhão – não é fácil, mas também não é
impossível.

O termo cunhado pelo Lynch popularizou justamente pela possibilidade em conseguir obter esse tipo
de retorno. Durante seu tempo de gestão, era extremamente comum conseguir 2-baggers, 10-
baggers e as vezes até 50-baggers ou 100-baggers. E foi com isso que o investidor conseguiu
identificar alguns padrões nesse tipo de companhia que multiplica o seu valor em tantas vezes.

Lembrando: não se trata de um texto apelativo buscando mostrar que é fácil ou comum esse tipo de
rentabilidade. Se você está lendo já com essa ideia, recomendamos que você pare de ler agora
mesmo ou já passe a digerir e lidar com o fato de que dinheiro fácil não existe.

Para maximizar a chance de conseguir obter esse tipo de retorno, existem cinco principais pontos a
identificar em uma empresa que aumentam essas chances: o porte, a qualidade do negócio e da
gestão, o crescimento dos resultados, a longevidade do crescimento dos resultados e o preço da
ação. Trataremos um por um e exemplificaremos.

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O tamanho da empresa: sejamos realistas – não é impossível uma ação multiplicar seu valor por 100
– basta a ação valorizar 10.000%, e isso já aconteceu com diversas companhias. Quer exemplos?
WEG, Engie, Renner, Ambev, Banco do Brasil, Petrobras... Enfim, basta buscar os dinossauros do
mercado que você verá que a maioria multiplicou seu valor por pelo menos 10 vezes. A questão é:
para ela multiplicar violentamente o seu valor, ela precisa ser pequena.

Empresas crescem, mas o crescimento é limitado ao espaço que existe em uma economia, veja, a
WEG já multiplicou 330 vezes o seu valor desde que foi listada em bolsa, ela é uma 330-bagger, mas
hoje o seu valor de mercado se aproxima de R$ 150 bilhões. Se ela multiplicasse por 100 novamente,
ela atingiria um valor de mercado de R$ 15 trilhões, isso é quase do dobro do PIB do Brasil em 2021.
Na melhor das hipóteses, ela se expande em outros países e passa a crescer internacionalmente
também, mas ainda assim, um crescimento de 100 vezes a colocaria em um patamar de valor próximo
ao da Apple, uma empresa global, que em 2021 lucrou mais de R$ 500 bilhões e ataca um mercado
com bilhões de consumidores.

Se você quer encontrar uma 100-bagger, o primeiro ponto a identificar é uma companhia que seja
pequena – não muito mais do que R$ 1 bilhão de valor de mercado, afinal, se ela multiplicar por 100,
ela seguirá com um valor realista. Exemplos realistas que multiplicando por 100 ainda cabem no
mercado? Oceanpact que valeria próximo de R$ 50 bilhões, Espaço Laser que valeria próximo de R$
48 bilhões, Neogrid que valeria próximo de R$ 45 bilhões, GetNinjas que valeria próximo de R$ 16
bilhões.

Porém, atenção: nenhuma das empresas citadas aqui tratam de recomendação, tampouco significa
que multiplicarão seu valor, pegamos apenas como exemplo de valor de mercado.

Uma 100-bagger sempre é uma empresa pequena. Sempre. Atenção ao valor de mercado.

Qualidade do negócio e da gestão: as empresas que multiplicam seu valor de mercado de forma
expressiva sempre possuem um bom produto (isso é, demandado, necessário) e um bom time na
gestão. Bom produto se refere a um bem que realmente são demandados para o consumo e ganham
poder de marca. A WEG, por exemplo, apesar de se tratar do setor industrial, a qualidade dos seus
produtos é referência não só no Brasil, mas no mundo. Seus motores são de altíssima qualidade, suas
tintas, seus itens do setor elétrico... além de possuírem políticas que protegem e beneficiam o
consumidor – quem compra WEG dificilmente se arrepende e passa a comprar WEG sempre. Isso é
qualidade de produto.

Qualidade de gestão é sobre a cabeça que está tocando a empresa: pegando a WEG como exemplo,
novamente, a companhia sempre foi tocada por seus fundadores, que eram completamente
apaixonados pelo que faziam, pela empresa e viam no florescer da companhia a realização. Uma
gestão que veste a camisa, toma boas decisões de alocação de capital e tem interesses alinhados
com os investidores. A veia empreendedora nessas horas é um benefício, visto que é daí que surge a
paixão em tocar o negócio.

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Uma 100-bagger sempre possui um bom produto e uma boa gestão.

Crescimento dos resultados: você se lembra da frase de que “cotação segue o lucro no longo prazo?”
– pois bem, aqui é a ilustração dessa expressão.

O potencial de crescimento do lucro da companhia deve ser alto: peguemos como exemplo o Itaú,
um gigante que lucra quase R$ 30 bilhões por ano. Sabemos bem que esse lucro não subirá em
velocidade acelerada (e calma, isso não invalida o investimento no Itaú, ele só faz parte de um outro
grupo de empresas para investir), é impossível, a economia não comporta, o Itaú já é tão grande que
seu lucro tem espaço menor para crescer, ou seja, como esperar um crescimento do preço da ação
de forma expressiva?

Se o lucro do Itaú multiplicasse por 50, por exemplo, estaríamos falando de um lucro de R$ 1.5 trilhão
ao ano. Percebe como com matemática básica é completamente impossível destruir narrativas e
ideias inconsistentes? Estamos falando de um banco que já é literalmente o maior do país – só
cresceria assim expandindo para fora (o que é improvável por fatores burocráticos, competitivos e
regulamentares) ou se passassem a abrir conta corrente fora do planeta Terra.

É diferente, por exemplo, de investir em uma fintech menor, que ainda lucra pouco e tem um espaço
gigante de mercado para conquistar e crescer. Cotação segue o lucro, simples assim então não espere
que uma cotação exploda com o horizonte de crescimento de lucro mais limitado.

Uma 100-bagger sempre possui um mercado gigante e muito lucro para conquistar.

A longevidade do crescimento: em outras palavras, sua perenidade. Veja, existem negócios


extraordinários no mercado que explodiram em lucro e multiplicaram seu valor em 100 vezes ou
mais, mas tão importante quanto isso, é identificar quão duradouro é esse lucro – é um ponto que
ventila bastante a ideia mencionada no fato de qualidade de produto mais acima.

Se trata de uma empresa que vende serviços que o lucro realmente é consistente e duradouro para
justificar sua valorização? Ou é um produto com alto risco de cair no esquecimento ou facilmente
será engolido pela concorrência por fatores culturais?

A Monster Beverage (aquela marca de energético que todos conhecem) é um caso de empresa que
multiplicou seu valor em mais de 700 vezes – e seu produto é simples, um bem de consumo para
beber. Isso ilustra perfeitamente o fator de longevidade. Seus lucros são longevos assim como seu
crescimento – a menos que bebidas energéticas sejam proibidas, dificilmente a marca perderá
espaço. Quando lidamos com produtos de consumo alimentício, quase sempre temos uma marca
preferida e ali ficamos – seres humanos são avessos a mudanças e ao desconhecido e quase sempre
optam por continuar comendo aquilo que gostam e já é bom o suficiente.

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Perenidade é a palavra. O lucro tem que ser duradouro e o produto tem que tratar de algo que não
seja simplesmente uma febre ou algo facilmente destruído por concorrência.

Uma 100-bagger sempre possui recorrência de consumo e difícil competição.

O preço da ação: por último e não menos importante – o quanto você paga na ação. Não, não
entraremos no mérito do valuation, na parte complicada sobre custo de capital e afins – atentaremos
somente sobre a importância do preço que se paga e como isso influencia na busca de uma
valorização expressiva de um ativo.

Um preço de entrada justo na busca de um ativo do tipo, é necessário e você pode evitar pagar
demasiadamente caro facilmente comprando com duas premissas: (I) em momentos de crise,
quando o mercado evidentemente está panicado, evitando tomar risco e tudo desaba de forma
sincronizada – isso tem ocorrido bastante ultimamente, vide o próprio mercado americano que até
o presente momento já caiu 25% no ano, e (II) analisando o histórico de crescimento, entendendo o
setor da companhia e ignorando narrativas.

Em 2020 e 2021, a Magazine Luiza chegou a valer R$ 160 bilhões. Seu preço sobre lucro, em alguns
momentos, ultrapassou 500x (!!) sem qualquer tipo de não recorrente ou fator que distorcesse o
indicador. A narrativa na época era a que o e-commerce tinha chegado para ficar, o varejo explodiria
nos próximos meses e afins. Não estamos sendo engenheiros de obra pronta de forma alguma –
temos mais de 2 anos de históricos nas redes sociais de opiniões, repostas, artigos, textos e aulas e
na época comentávamos o quão absurdo isso era e que nem na melhor das hipóteses ela conseguiria
atingir esse nível de crescimento (lembre-se sobre a utilização da matemática básica que citamos
acima). Em pouco tempo o mercado corrigiu essa disfunção e o preço desabou (e aqui temos de
assumir que foi uma surpresa e tanto, não esperávamos que fosse cair muito além dos R$ 10 a R$ 8).

Com uma simples leitura sobre o cenário e matemática básica para ver como era injustificável aquele
P/L da época, nós ficamos de fora. Foi uma leitura simples, sem necessidade de cálculo de fluxo de
caixa descontado e afins. E isso importa.

O investidor que comprou na máxima (ou próximo) não necessariamente perderá seu dinheiro – a
empresa pode voltar ao patamar que estava, a questão é que levará tempo e seu ponto de partida
para que a empresa valorize 100 vezes é quase impossível. Nos 500x preço sobre lucro a Magalu
estava valendo pouco mais de R$ 150 bilhões. Ela não vai valer R$ 15 trilhões. Estamos utilizando a
Magalu somente para efeito de exemplificação e facilidade por ser um caso popular, virou uma febre
na bolsa nos últimos tempos, mas você pode aplicar o mesmo racional que estamos aplicando aqui
para qualquer outra empresa. O ponto de partida importa, não se agarre a narrativas e tenha o pé
no chão.

Uma 100-bagger sempre é comprada com desconto.

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Em suma, esses são os pontos. Repetindo, mais uma vez: não se trata de nenhuma promessa de
ganho rápido nem fácil, na verdade, essa estratégia é para o longo prazo, uma empresa multiplica
seu valor por 10, 50 ou 100 quase sempre em questão de 10, 20 ou 30 anos. E é o longo prazo que
você deve buscar. O pilar financeiro é importante na sua vida e você sempre deve seguir investindo
e fazendo com que o dinheiro trabalhe para você.

O principal fator dessa estratégia é a paciência, e mesmo que você não consiga necessariamente uma
100-bagger seguindo esses pontos, pode ter certeza, 10-baggers e afins serão comuns.

E se você está se perguntando sobre a importância de empresas mais sólidas na carteira... bem,
elas importam e muito. As gigantes com ritmo mais lento de crescimento também desempenham
um papel importante na sua carteira sendo um fator de solidez, tendo um futuro mais consistente.
Um Itaú, uma WEG, uma Ambev ou uma Raia Drogasil podem não multiplicar seu valor por 100,
mas ainda ssim pode multiplicar por 5, 10 ou 20 além de pagar enxurradas de dividendos para o
investidor – e tudo isso com solidez.

Não se pode ignorar o fato que na busca de 100-baggers o seu risco aumenta e você se depara com
empresas mais incertas, por isso ressaltamos, isso é apenas um complemento de estratégia.
Conservadorismo ao investir é algo valioso, não deixe seu futuro financeiro na mão do acaso.

Vinícius Salvador
Head de Economia &
Co-Founder
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