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Capital e Conflitualidades Reassentamentos Selemane
Capital e Conflitualidades Reassentamentos Selemane
1. Nota de abertura
Os reassentamentos tal como os conhecemos hoje são mecanismos de viabilização de
projectos à custa do bem-estar das comunidades directamente afectadas pela
implantação desses projectos.
Tendo se tornado num dos principais focos de conflito social em Moçambique (Feijó
2016, Selemane 2016), o modelo dos reassentamentos merece ser desconstruído,
muito para além das habituais “faltas ou falhas”: falta de
comunicação, informação e de conhecimento dos detalhes do reassentamento por
parte dos reassentados, falta de respeito pelos direitos humanos dos reassentados, falta
de compensação justa, falta de cumprimento das promessas das empresas para com os
reassentados, etc.
2. Argumento central
Os reassentamentos são parte integrante (consequência – processo à jusante de
projectos extractivos, e não causa – processo à montante) de um modelo de
desenvolvimento capitalista centrado na extracção de recursos naturais e minerais
(não renováveis), visto como inevitável.
Os aspectos considerados negativos (o que falta, o que falha, o que está errado) do
modelo de reassentamento são, na verdade, feitio do modelo e não defeitos.
Questionar e corrigir essas falhas pode resolver os problemas dos reassentados no
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curto e médio prazo, mas não resolvem a questão mais geral e mais duradoira
do desenvolvimento a longo prazo.
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Os contratos de concessão mineira e petrolífera são assinados entre as empresas e o
Governo central. Até 2013 esses contratos eram secretos. Nem os governos locais
(províncias e distritos) tinham conhecimento do seu conteúdo. Ou seja, a falta de
informação não se verifica apenas ao nível da população reassentada, mas também ao
nível das autoridades governamentais fora do nível central. E este problema gera um
outro: o da falha na coordenação governamental.
Essa descoordenação não pode ser resolvida sem que se resolva a base na qual assenta
o modelo de reassentamento, que trata o sector dos recursos minerais como „dono do
projecto mineiro‟ e o sector do ambiente como „dono dos estudos de impacto
ambiental‟ onde são tratadas as questões ligadas ao reassentamento.
Outros sectores (agricultura e segurança alimentar) são tratados como uma espécie de
„convidados a assistir‟ com a finalidade de “disponibilizar espaços para a prática de
actividades de subsistência” (ver alínea d do número 4 do artigo 12 do Decreto
31/2012). Outros sectores são simplesmente ignorados até à fase em que por algum
conflito social, como o havido em Cateme em Janeiro de 2012, são lembrados e
chamados a intervir (interior, defesa, economia e finanças).
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suficientemente multidisciplinar para captar todas as nuances da população abrangida.
As técnicas de cálculo do valor das indemnizações não permitem captar a “economia
política” da comunidade afectada. Olha-se apenas para os bens mensuráveis
monetariamente.