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Supremo Tribunal Federal

Ministro José Antonio Dias Toffoli, Presidente


(23-10-2009)

Ministro Luiz Fux, Vice-Presidente


(3-3-2011)

Ministro José Celso de Mello Filho, Decano


(17-8-1989)

Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello


(13-6-1990)

Ministro Gilmar Ferreira Mendes


(20-6-2002)

Ministro Enrique Ricardo Lewandowski


(16-3-2006)

Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha


(21-6-2006)

Ministra Rosa Maria Pires Weber


(19-12-2011)

Ministro Luís Roberto Barroso


(26-6-2013)

Ministro Luiz Edson Fachin


(16-6-2015)

Ministro Alexandre de Moraes


(22-3-2017)
Apresentação
Em 5 de outubro de 1988, chegava a seu ápice o intenso processo constituinte brasileiro – era promulgada a atual Constitui-
ção da República Federativa do Brasil, a sétima da história da Nação e a sexta da era republicana. Trinta anos depois, a Constituição
de 1988 continua vigente, sendo, portanto, a mais longeva depois da Constituição Imperial de 1824 (vigorou por 65 anos) e da
Constituição Republicana de 1891 (vigorou por 43 anos). O País vivenciou, nesse período, profundas mudanças e um processo
contínuo de amadurecimento e fortalecimento de suas instituições e de sua democracia.
A consolidação do sistema democrático inaugurado em 1988 se deve a vários fatores, entre os quais a atuação de um Judiciário
consciente de seu papel garantidor da rule of law. A independência e a autonomia de que esse Poder foi dotado pela Constituição
Cidadã, somadas aos instrumentos postos a seu dispor pela própria Carta Política, garantiram-lhe o papel de instituição central da
democracia e legitimaram o desempenho de funções essenciais à manutenção da ordem constitucional.
Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal tem ocupado posição de suma relevância, quer por sua condição de órgão máximo
do Judiciário, quer por sua atribuição precípua de proteger a Constituição (art. 102, caput) e os bens jurídicos mais caros à coletividade.
No julgamento das grandes causas constitucionais que vêm a seu exame, o Supremo Tribunal tem sempre se esmerado na
defesa dos direitos fundamentais, da dignidade humana, da segurança das relações jurídicas e da conservação do equilíbrio entre
os Poderes. Todas essas tutelas, alinhadas aos melhores valores de justiça e equidade, garantem a pacificação da sociedade e dão a
medida da importância da Corte Suprema como instituição imprescindível à preservação do estado de direito constitucional, no
qual se funda a república democrática brasileira.
Há muito a se celebrar nesses trinta anos de vigência e “vigor” da Constituição de 1988 e, como em todo aniversário, não
se poderia deixar de relembrar o passado, em toda a sua complexidade, a fim de compreender o presente e planejar o futuro. Este
catálogo resgata parte da história de nosso país. Revisita o contexto dos regimes constitucionais que antecederam o presente e ree-
xamina, em toda a sua magnitude, a Assembleia Nacional Constituinte, traçando breves biografias de alguns de seus protagonistas,
antes de deter-se, por fim, na culminância de nosso processo democrático – a promulgação da Constituição Cidadã.
Permeado por registros fotográficos e documentais, o catálogo reúne dados e informações sobre a trajetória e o funciona-
mento do Supremo Tribunal Federal em seu mister de proteger a Lei Maior de nosso país.
Eis, desse modo, o caráter da obra que ora trazemos a público – um mural dos tempos idos em que podemos distinguir
traços, períodos e fisionomias de nossa vida constitucional.
Vida longa à Constituição Federal de 1988!

Brasília, outubro de 2018.

Ministro Dias Toffoli


Presidente do Supremo Tribunal Federal
Sumário

10 Constituições antecedentes
12 Constituição de 1824
16 Constituição de 1891
20 Constituição de 1934
24 Constituição de 1937
28 Constituição de 1946
32 Constituição de 1967

36 Assembleia Nacional Constituinte  (1987-1988)


39 Constituição de 1988
41 Perfis
42 Moreira Alves
Presidente do Supremo Tribunal Federal na ocasião da instalação da Assembleia
Nacional Constituinte
44 Rafael Mayer
Presidente do Supremo Tribunal Federal na data da promulgação da Constituição
Federal de 1988
46 Ulysses Guimarães
Presidente da Câmara dos Deputados e da Assembleia Nacional Constituinte
48 José Sarney
Presidente da República
51 Fotografias
77 Jornal da Constituinte
100 Constituição de 1988
102 Constituição Federal de 1988
104 Principais inovações da Constituição Federal de 1988

108 O Guardião da Constituição


110 Processo histórico de instituição do Supremo Tribunal Federal
110 Casa da Suplicação (1808 a 1828)
112 Supremo Tribunal de Justiça (1828 a 1889)
114 Supremo Tribunal Federal (1890 até os dias atuais)
118 O Supremo Tribunal Federal na Primeira República
121 A Era Vargas e o esvaziamento do Poder Judiciário
124 A redemocratização do Brasil, a Constituição de 1946 e a retomada da dignidade
político-institucional do Supremo Tribunal Federal
128 Transferência da sede do Supremo Tribunal Federal para Brasília
130 O Supremo Tribunal Federal durante o regime militar
132 O caso Mauro Borges e a defesa das liberdades políticas
134 A Constituição de 1988 e o fortalecimento institucional do Supremo Tribunal
Federal
138 Curiosidades sobre as primeiras sessões após a promulgação da Constituição de 1988
140 Ação Direta de Inconstitucionalidade 1
142 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 1
144 Mandado de Injunção 1
146 Funcionamento da Suprema Corte
150 Sistema de Controle de Constitucionalidade
150 Controle abstrato de constitucionalidade
156 Controle difuso de constitucionalidade
158 Singularidades do sistema de convivência entre os modelos difuso e concentrado de
controle de constitucionalidade
165 Frases

191 Referências
Constituições antecedentes
1824
CONSTITUIÇÃO DE 1824 adiar a Assembleia Geral e para dissolver a Câmara dos Deputados (art. 101, V), bem como para perdoar ou reduzir
sanções impostas por sentença (art. 101, VIII).
■■ O Poder Legislativo foi delegado à Assembleia Geral – composta por Câmara dos Deputados e Senado –, ficando as
Nome: espécies legislativas sujeitas à sanção do imperador (art. 13).
Constituição Política do Império do Brasil ■■ O Poder Judiciário era composto por jurados – com atribuição para se manifestarem sobre os fatos – e juízes – aos
quais competia a aplicação da lei (arts. 151 e 152); por Relações, nas províncias do Império – para julgar as causas em
Classificação quanto à origem: segunda e última instância – (art. 158); e pelo Supremo Tribunal de Justiça, sediado na capital do Império (art. 163).
Outorgada ■■ Foi estabelecido o voto censitário – baseado na renda – (art. 94, I).
■■ Reconheceu o catolicismo como religião oficial do Estado, confiando às demais crenças o culto em ambiente
Data da outorga: privado (doméstico ou em templos) (art. 5º).
25 de março de 1824 ■■ Admitiu a alteração de parte de suas normas por processo legislativo ordinário, sendo considerados constitucionais
apenas os preceitos concernentes aos Poderes de Estado, aos direitos políticos e aos direitos individuais (art. 178).
Chefe de Estado/Governo da época:
Imperador D. Pedro I
“Elaborada após o encerramento da assembleia constituinte de 1823, a Constituição imperial foi a resposta possível a um
Quem elaborou: clima de impasse. De um lado, liberais escravagistas eram também defensores do federalismo com um poder central fraco. De
Conselho de Estado, após a destituição da Assembleia Constituinte de 1823 outro, conservadores – muitos deles antiescravagistas, como José Bonifácio de Andrada – eram favoráveis a uma monarquia
centralizada, a única resposta contra os movimentos separatistas que mostrariam suas garras no período da Regência. Um
Período de vigência: exemplo desse equilíbrio paralisante está na escravidão, que se manteve no Brasil a despeito de não figurar no texto constitu-
65 anos, 7 meses e 20 dias1 cional. Apesar de sua origem autocrática, foi a Constituição votada em todas as Câmaras Municipais brasileiras, como bem
recorda Paulo Bonavides, e não se pode negar que foi um texto jurídico de grandes qualidades técnicas, conferindo ao Brasil a
estabilidade necessária para atravessar o conturbado século 19.” (Ministro Dias Toffoli, em 25 de março de 2014.)
DESTAQUES:
■■ Definiu a monarquia como forma de governo (art. 3º).
■■ Instituiu quatro Poderes de Estado: o Poder Moderador, o Poder Executivo, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário
(art. 10).
■■ O imperador não estava sujeito a qualquer responsabilidade (art. 99).
■■ Ao imperador – que era chefe do Poder Executivo (art. 102, caput) – foi delegado também, em caráter privativo
(art. 98), o Poder Moderador, sendo-lhe assegurada, entre outras competências, a autoridade para prorrogar ou

1 Apesar de a Constituição seguinte ter sido promulgada apenas em 1891, o Decreto 1, de 15 de novembro de 1889, proclamou a República
como forma de governo e revogou tacitamente a Carta Imperial.

14 15
1891
CONSTITUIÇÃO DE 1891 ■■ Adotou o sistema de governo presidencialista (art. 41).
■■ Instituiu a tripartição dos Poderes de Estado: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário (art. 15).
■■ Reservou à União uma faixa de terra no planalto central brasileiro, “para nela estabelecer-se a futura Capital federal”,
Nome: normatizando a aspiração de interiorizar o progresso no país (art. 3º).
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil ■■ Estabeleceu os 21 anos para o início da capacidade eleitoral ativa (art. 70).
■■ Afirmou a separação entre Estado e Igreja (art. 11, 2º) e oficializou a liberdade religiosa, sendo assegurado o livre
Classificação quanto à origem: exercício de cultos nos espaços públicos inclusive (art. 72, § 3º).
Promulgada ■■ A instituição do júri foi inserida em seção da Constituição destinada à declaração de direitos do cidadão (art. 72, § 31).
■■ Conferiu status constitucional ao habeas corpus, prescrevendo seu cabimento “sempre que o indivíduo sofrer ou
Data da promulgação: se achar em iminente perigo de sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder” (art. 72, § 22).
24 de fevereiro de 1891 A Emenda Constitucional 3/1926 alterou a redação original do dispositivo para explicitar o cabimento da ação
constitucional somente para proteção do direito à liberdade de locomoção.
Chefe de Estado/Governo da época: ■■ O vice-presidente da República desempenhava a função de presidente do Senado, na qual exercia somente o voto de
Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório qualidade (art. 32).
■■ Relativamente à responsabilidade do presidente da República, prescreveu a sujeição das acusações à aprovação da
Quem elaborou: Câmara dos Deputados e a submissão a processo e julgamento perante o Supremo Tribunal Federal (nos crimes
O projeto foi elaborado por comissão nomeada pelo governo provisório e revisado por Ruy Barbosa. O texto comuns) e perante o Senado (nos crimes de responsabilidade) (art. 53).
final foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte, presidida por Prudente de Moraes. ■■ Instituiu o Supremo Tribunal Federal como órgão do Poder Judiciário da União (art. 55).
■■ Instituiu a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos como garantia aos magistrados
Período de vigência: (art. 6º, II, i).
43 anos, 4 meses e 21 dias2 ■■ Instituiu o cargo de “Procurador-Geral da República”, o qual seria designado pelo presidente da República dentre os
membros do Supremo Tribunal Federal (art. 57, § 2º).
■■ Assegurou foro especial aos “militares de terra e mar”, para julgamento de crimes militares (art. 77), instituindo o
DESTAQUES: Supremo Tribunal Militar.
■■ Definiu o federalismo como forma de Estado e a república como forma de governo (art. 1º).

“Está feita a evolução republicana no Brazil. Agora cumpre e urge constituir definitivamente, em firmeza do bem-estar
2 Embora o Decreto 19.398, de 11 de novembro de 1930, que instituiu o governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1934), afirme expres-
social, a republica com a autoridade da nação e do melhor modo possivel para sua felicidade. A nova constituição reclama
samente no art. 4º que a Constituição Federal continuava em vigor, é possível a interpretação de que houve sua revogação tácita nessa data.
O art. 1º do decreto estabelecia que o governo provisório exerceria “discricionariamente, em toda sua plenitude, as funções e atribuições, o concurso patriotico de todos os brazileiros. (...) na constituição da republica brazileira, ha demais a corrigir os vicios cos-
não só do Poder Executivo, como também do Poder Legislativo”, até que, eleita a Assembleia Constituinte, ela estabelecesse a reorganização tumeiros e de perniciosos effeitos na pratica de preceites similares da extincta monarchia representativa. (...) promovendo a
constitucional do país. O art. 5º, por sua vez, suspendeu as garantias constitucionais e excluiu a possibilidade de apreciação judicial dos atos
melhor elaboração constitucional, o governo provisorio coroará sua benemerencia ao depôr, no fim de sua grave missão, as
do governo provisório ou dos interventores federais “praticados na conformidade da presente lei ou de suas modificações ulteriores”. Se o
entendimento for de que houve revogação tácita, deve-se considerar que o período de vigência da primeira Constituição republicana do redeas do poder nas mãos do constituido pela nação.” (Andrade Pinto, ministro do Supremo Tribunal de Justiça entre
Brasil foi de 39 anos, 8 meses e 17 dias. 1891 e 1894, em 1890.)

18 19
1934
CONSTITUIÇÃO DE 1934 ■■ Constitucionalizou a Justiça Eleitoral, instituída pelo Decreto 21.076/1932 (Código Eleitoral de 1932) (arts. 82 e 83).
■■ Instituiu a Justiça do Trabalho, “[p]ara dirimir questões entre empregadores e empregados, regidas pela legislação
social”, a qual não compunha o Poder Judiciário, não lhe sendo estendidas, portanto, as garantias e vedações
Nome: constitucionais aplicadas aos membros desse Poder (art. 122).
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil ■■ Instituiu a obrigatoriedade de maioria absoluta dos votos dos membros de tribunal para a declaração de
“inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público” (art. 179).
Classificação quanto à origem: ■■ Determinou que a decisão da Suprema Corte de declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato governamental
Promulgada fosse comunicada ao Senado Federal (art. 96), a fim de que sua eficácia fosse suspensa, integral ou parcialmente
(art. 91, IV).
Data da promulgação: ■■ Fez referência expressa à instituição do Ministério Público – em capítulo reservado aos “Órgãos de Cooperação nas
16 de julho de 1934 Atividades Governamentais” (arts. 95 a 98).
■■ Instituiu a escolha do procurador-geral da República “dentre cidadãos com os requisitos estabelecidos para os
Chefe de Estado/Governo da época: Ministros da Corte Suprema”, ficando a nomeação pelo presidente da República sujeita à aprovação do Senado
Getúlio Vargas Federal (art. 95, § 1º).

Quem elaborou:
Assembleia Constituinte convocada pelo chefe do governo provisório, Getúlio Vargas, por meio dos Decretos “As Constituições que pretendem viver não dispensam a unidade de um sistema: porque elas mesmas são um complexo
21.402, 22.040 e 22.621, que a regulamentaram. de normas políticas, cuja eficácia consiste precisamente na sua harmonia. (...) Se a Constituição deixa de ser um sistema, a
ordem jurídica perderá a sua harmonia, a condição precípua da estabilidade. Os varios dispositivos passam a não coexistir fa-
Período de vigência: cilmente, pela ausencia dos vinculos indispensaveis á sua contextura.” (Prado Kelly, constituinte e posteriormente ministro
3 anos, 3 meses e 24 dias do STF, em discurso proferido na Assembleia Nacional Constituinte em 24 de março de 1934.)

DESTAQUES:
■■ Estabeleceu a idade de 18 anos para o início da capacidade eleitoral ativa (art. 108), sendo o voto obrigatório (art. 109).
■■ Conferiu status constitucional ao direito das mulheres ao voto (art. 108).
■■ Estabeleceu a educação como “direito de todos” (art. 149), bem como a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino
primário, “extensivo aos adultos” (art. 150, parágrafo único, a).
■■ Prescreveu direitos do trabalhador, entre os quais o salário mínimo de caráter regional (art. 121, b), e proibiu o
trabalho infantil (art. 121, d ).
■■ Previu o mandado de segurança como remédio constitucional contra violação ou ameaça de lesão a direito por “ato
manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade” (art. 113, 33), assegurando a aplicação do rito
do habeas corpus (cujo cabimento manteve-se nos casos referentes ao direito à liberdade de locomoção).

22 23
1937
CONSTITUIÇÃO DE 1937 ■■ Na composição do Poder Judiciário (art. 90), omitiu a Justiça Eleitoral, a qual foi extinta, sendo suas atividades
restabelecidas somente após a alteração constitucional implementada pela Lei Constitucional 9/1945 e a edição do
Decreto-Lei 7.586/1945.
Nome: ■■ Extinguiu a Justiça Federal, tendo prescrito que as causas em curso nessa Justiça bem como os processos em trâmite
Constituição dos Estados Unidos do Brasil no Supremo Tribunal na data da outorga da Carta teriam o julgamento “regulado por decreto especial” (art. 185).
■■ Prescreveu o funcionamento do Ministério Público Federal junto ao Supremo Tribunal Federal e estabeleceu a livre
Classificação quanto à origem: nomeação e demissão do procurador-geral da República pelo presidente da República (art. 99).
Outorgada ■■ Instituiu a pena de morte para crimes políticos (art. 122, 13).
■■ Estabeleceu a censura prévia à arte e aos meios de comunicação (art. 122, 15, a).
Data da outorga: ■■ A greve e o locaute foram declarados “incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional” (art. 139).
10 de novembro de 1937 ■■ Ficou conhecida como Constituição “Polaca”, por ter inspiração na Carta Magna polonesa então vigente, de índole
política autoritária.
Chefe de Estado/Governo da época:
Getúlio Vargas
“Toda Constituição é um instrumento. Todo instrumento depende dos que o manejam, e o manejo de todos os instrumen-
Quem elaborou: tos tem a sorte que lhe dão a coragem e a eficiencia daqueles mesmos a quem são entregues.” (Pontes de Miranda, em palestra
O principal autor foi o jurista Francisco Luís da Silva Campos, ministro da Justiça no Estado Novo. proferida no Departamento de Propaganda, em 25 de novembro de 1937.)
O texto foi aprovado pelo presidente da República, Getúlio Vargas, e pelo ministro da Guerra,
general Eurico Gaspar Dutra.

Período de vigência:
8 anos, 10 meses e 7 dias

DESTAQUES:
■■ Preceituou a submissão da Constituição de 1937 a “plebiscito” (art. 187), ficando assegurada a renovação do
mandato de Getúlio Vargas (na condição de presidente da República em exercício na data da outorga do diploma)
até sua realização (art. 175).
■■ Dissolveu a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, as assembleias legislativas dos estados e as câmaras
municipais e conferiu ao presidente da República a função de convocar “[a]s eleições ao Parlamento Nacional”,
atribuição essa que deveria ser exercida após a aprovação da Carta pelo voto popular (art. 178).
■■ O plebiscito jamais chegou a ser convocado e, por consequência, não ocorreram eleições para os Poderes Executivo
e Legislativo previstos na Carta de 1937.

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1946
CONSTITUIÇÃO DE 1946 ■■ Recompôs o equilíbrio entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário (art. 36).
■■ Reinstituiu o exercício do Poder Legislativo federal pela Câmara dos Deputados e pelo Senado (art. 37).
■■ A instituição do júri foi inserida em capítulo “dos direitos e das garantias individuais”, garantindo-se “o sigilo das
Nome: votações, a plenitude da defesa do réu e a soberania dos veredictos” e prescrevendo-se a obrigatoriedade de sua
Constituição dos Estados Unidos do Brasil competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 141, § 28).
■■ Assegurou a liberdade de manifestação do pensamento, asseverando, entretanto, a possibilidade de censura de
Classificação quanto à origem: “espetáculos e diversões públicas” (art. 141, § 5º).
Promulgada ■■ Extinguiu a pena de morte, ressalvadas “as disposições da legislação militar em tempo de guerra com país
estrangeiro” (art. 141, § 31).
Data da promulgação: ■■ Reconheceu o direito de greve (art. 158) e conferiu anistia “aos trabalhadores que tenham sofrido penas
18 de setembro de 1946 disciplinares, em consequência de greves ou dissídios do trabalho” (ADCT, art. 28).
■■ Fixou em 5 anos o mandato de presidente da República (art. 82) e manteve a vedação de reeleição (art. 139, I).
Chefe de Estado/Governo da época: ■■ Incluiu “Tribunais e Juízes do Trabalho” entre os órgãos que integram o Poder Judiciário, constituiu o Tribunal
Marechal Eurico Gaspar Dutra Federal de Recursos (atribuindo-lhe competências recursais até então exercidas pelo Supremo Tribunal Federal) e
reinstituiu a Justiça Eleitoral (art. 94).
Quem elaborou: ■■ O Ministério Público foi referido em título próprio (arts. 125 a 128).
Assembleia Constituinte, instalada em 2 de fevereiro de 1946. O poder constituinte fora atribuído ao
parlamento eleito em 2 de dezembro de 1945, conforme previsão das Leis Constitucionais 13 e 15 de 1945.
A redação final coube a Prado Kelly, e a revisão ao filólogo José de Sá Nunes. “Depois de termos atravessado uma longa estrada sombria, de indecisões e incertezas de um período ditatorial, é com
grande alegria que o país readquire o seu poder de Nação livre regido por normas puramente democráticas.” (Ministro José
Período de vigência: Linhares, então presidente do Supremo Tribunal Federal, na sessão de 20 de setembro de 1946, primeira após a promul-
20 anos, 5 meses e 24 dias, se considerada como norma revogadora a Constituição de 1967, que entrou em gação da Constituição.)
vigor em 15 de março de 19673

DESTAQUES:
■■ Marcou o fim do Estado Novo (1937-1945) e o início da redemocratização do País.
■■ Revigorou o federalismo como forma de governo, restabelecendo a autonomia dos estados.

3 Apesar de o art. 1º do Ato Institucional 1, de 9 de abril de 1964, afirmar expressamente a manutenção da Constituição Federal de 1946 com
as modificações constantes desse ato, é defensável ter havido revogação tácita por norma incompatível para modificar o texto constitucional
vigente. Com base nessa interpretação, assim como ocorreu com a Constituição de 1891, o período de vigência da Constituição de 1946
seria abreviado para 17 anos, 6 meses e 21 dias.

30 31
1967
CONSTITUIÇÃO DE 1967 ■■ No primeiro artigo das disposições gerais e transitórias, recepcionou os atos praticados pelo “Comando Supremo da
Revolução de 31 de março de 1964”, os atos institucionais aprovados até então e os atos que dele decorreram.
■■ Embora tenha previsto a independência e a harmonia entre os Poderes (art. 6º), teve como diretriz a centralização
Nome: do poder no Executivo. São exemplos das prerrogativas reservadas ao presidente da República: competência para
Constituição da República Federativa do Brasil expedir decretos-leis sobre os temas “segurança nacional” e “finanças públicas” (art. 58) e competência privativa
para decretação do estado de sítio, antes mesmo de ouvido o Congresso Nacional (art. 83, XIV).
Classificação quanto à origem: ■■ Quanto ao Poder Legislativo, previu a possibilidade de, perante o Supremo Tribunal Federal (art. 151), ser
Formalmente promulgada4 processado o parlamentar que abusasse dos seus direitos políticos ou de congressista “para atentar contra a ordem
democrática ou praticar a corrupção”.
Data da promulgação: ■■ Relativamente ao Poder Judiciário, promoveu ampliação dos poderes da Justiça Militar e permitiu a extensão de sua
24 de janeiro de 1967, com entrada em vigor em 15 de março do mesmo ano jurisdição aos civis, nos casos expressos em lei, para a repressão “de crimes contra a segurança externa do país ou as
instituições militares” (art. 108).
Chefe de Estado/Governo da época: ■■ Quanto aos cidadãos, seus direitos políticos poderiam ser objeto de suspensão ou de perda, por decretação do
Humberto de Alencar Castello Branco presidente da República (art. 144).
■■ Foi modificada pelo Ato Institucional 5, em 13 de dezembro de 1968, com nova ampliação do protagonismo
Quem elaborou: do presidente da República, que pôde decretar recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado (Ato
Uma comissão de juristas instituída pelo presidente da República e composta por Levi Carneiro – que a Institucional 5, art. 2º), providência que, adotada, culminou na edição da Emenda Constitucional 1/1969.
presidiu de acordo com o art. 2º do Decreto 58.198/1966 –, Orozimbo Nonato, Miguel Seabra Fagundes ■■ As mudanças introduzidas pela Emenda Constitucional 1/1969 foram extremamente amplas e implicaram extensão
e Themistocles Cavalcanti elaborou o anteprojeto e submeteu-o à consideração do presidente da República das medidas centralizadoras, tais como mandato de 5 anos para o presidente da República (art. 75, § 3º), após
(Decreto 58.198/1966, art. 3º). eleição indireta por um colégio eleitoral (art. 74).
■■ Diferentemente das demais Constituições promulgadas ao longo da história do País, que foram assinadas ao final
Período de vigência: de seus textos pelos constituintes, recebeu a firma tão somente das Mesas Diretoras da Câmara dos Deputados e do
21 anos, 6 meses e 19 dias Senado Federal.

DESTAQUES: “Violou-se o processo constitucional e usurpou-se o poder. Tivemos que enfrentar situações de absoluto desprezo pelo regime
■■ Elaborada sob a égide do Regime Militar, apresentou grande preocupação com a “segurança nacional”, das liberdades públicas. A partir daí, tivemos uma Carta em 1967. (...) [a Emenda Constitucional 1 de 1969] é uma Carta
normatizando-a em seção exclusiva, na qual se atribuiu a “toda pessoa natural ou jurídica” o dever de zelar pela Constitucional envergonhada de si própria, imposta de maneira não democrática e representando a expressão da vontade
segurança nacional e se institucionalizou o “conselho de segurança nacional” (arts. 89 a 91). autoritária dos curadores do regime.” (Ministro Celso de Mello, em 4 de outubro de 2008.)

4 Apesar de o art. 189 da Constituição afirmar que “Esta Constituição será promulgada, simultaneamente, pelas Mesas das Casas do Congres-
so Nacional e entrará em vigor no dia 15 de março de 1967” e de o AI 4/1966 convocar o Congresso Nacional para se reunir extraordinaria-
mente, de 12 de dezembro de 1966 a 24 de janeiro de 1967, para discussão, votação e promulgação do projeto de Constituição apresentado
pelo presidente da República, a doutrina constitucionalista nacional classifica a Constituição de 1967 quanto à origem como outorgada,
pois a reunião do Congresso constituinte não se deu em clima de liberdade política para se afirmar que resultou de uma assembleia popular.

34 35
Assembleia Nacional Constituinte
198 7-1988
As primeiras manifestações em favor de uma Constituinte datam de 1971, quando o Movimento Democrático Bra­ CONSTITUIÇÃO DE 1988
sileiro (MDB) pediu a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para o ano de 1974. A Assembleia passou
continuamente a constar da pauta dos grandes temas nacionais, ante a necessidade de restaurar as instituições democrá-
ticas, que haviam perdido força ao longo do regime ditatorial instaurado em 1964. Nome:
Em 1985, o presidente da República eleito, Tancredo Neves, convocou todo o país para um debate constitucional. Constituição da República Federativa do Brasil
Após sua morte, coube ao sucessor, José Sarney, realizar a transição para o regime democrático. Em 28 de junho de 1985,
em mensagem enviada ao Congresso Nacional, Sarney propôs a concessão de poderes constituintes aos deputados e se- Classificação quanto à origem:
nadores que seriam eleitos em 15 de novembro de 1986. Foi a primeira constituinte na República em que os analfabetos Promulgada
tiveram direito ao voto, concedido pela Emenda Constitucional 25, de 15 de maio de 1985. Acatando a proposta, em 27
de novembro de 1985, as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal promulgaram a Emenda Constitucional Data da promulgação:
26, que convocou a Assembleia Nacional Constituinte e regulamentou sua instalação e composição. 5 de outubro de 1988
As eleições ocorreram, e, em 1º de fevereiro de 1987, o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro José Carlos
Moreira Alves, instalou a Assembleia Nacional Constituinte, integrada por 559 constituintes, oriundos de 13 partidos. Chefe de Estado/Governo da época:
Logo na primeira sessão ordinária, os constituintes foram chamados a decidir sobre a participação ou não na Assem- José Sarney
bleia dos 23 senadores que haviam sido eleitos em 1982. Com 394 votos favoráveis, esses senadores tornaram-se consti-
tuintes. Em seguida, na eleição do presidente da Assembleia, o deputado Ulysses Guimarães obteve a vitória. Quem elaborou:
De acordo com o Regimento Interno da Constituinte, os trabalhos de elaboração constitucional seriam organiza- Assembleia Nacional Constituinte, instalada em 1º de fevereiro de 1987
dos em um sistema de comissões e subcomissões, com a participação de todos os parlamentares e observada a represen-
tação partidária. Também houve a previsão de participação popular direta, que seria garantida por meio de audiências
públicas e da iniciativa popular. Um cidadão poderia apresentar emendas ao projeto de Constituição, desde que contasse
com o apoio de trinta mil eleitores e o respaldo de três entidades. Ao final do processo de elaboração, os textos seguiram
à Comissão de Sistematização, a qual foi incumbida da tarefa de compatibilizá-los em um único projeto. As subcomis-
sões funcionaram de 7 de abril a 25 de maio de 1987, com intensa participação dos constituintes e da população. Foram
realizadas 182 audiências públicas, encaminhadas 11.989 propostas e apresentadas 6.417 emendas.
Seguiram-se tempos de muita discussão, pressão política e confronto de ideias. Antes de tornar-se definitivo, o texto
foi denominado de “Projeto Zero”, “Substitutivo I” e “Substitutivo II”. Em 18 de novembro, foi apresentado o “Projeto
de Constituição A”, com aproximadamente 1,8 mil dispositivos e 335 artigos, dos quais 271 nas disposições permanentes
e 63 em disposições transitórias.
O primeiro turno de votação ocorreu apenas em 5 de julho de 1988, e dele resultou o “Projeto de Constituição B”.
O segundo turno ocorreu em 2 de setembro.
Finalmente, em 5 de outubro de 1988, em sessão solene, foi declarado promulgado, nas palavras do presidente da
Assembleia, deputado Ulysses Guimarães, “o documento da liberdade, da dignidade, da democracia, da justiça social
do Brasil”.

38 39
Perfis
Nome:
José Carlos Moreira Alves

Data de nascimento:
19 de abril de 1933

Local de nascimento:
Taubaté/SP

Formação acadêmica:
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro/RJ, em 1955;
concluiu o curso de doutorado (Seção de Direito Privado) na mesma Faculdade, em 1957.

Trajetória profissional:
■■ Dedicou-se ao magistério e à advocacia, lecionando Direito Civil e Direito Romano na Faculdade de Direito da
Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro (1957 a 1964), e Direito Romano na Faculdade de Direito Cândido
Mendes (1960 a 1968).
■■ Foi catedrático interino da cadeira de Direito Civil no curso de doutorado da Faculdade Nacional de Direito da
Universidade do Brasil (1968). Lecionou, como professor catedrático, Direito Civil na Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo. Em 1974, cedido pela Universidade de São Paulo, tornou-se professor da Universidade
de Brasília.
MOREIRA ALVES ■■ De janeiro de 1969 a julho de 1970, foi membro do Conselho Universitário da Universidade de São Paulo, como
representante da Congregação da Faculdade de Direito.
PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ■■ Chefiou o gabinete do ministro da Justiça de junho de 1970 a março de 1971.
NA OCASIÃO DA INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE ■■ Exerceu o cargo de procurador-geral da República de 24 de abril de 1972 a 19 de junho de 1975.
■■ Nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal por decreto de 18 de junho de 1975, do presidente Ernesto

“Ao instalar-se esta Assembleia Nacional Constituinte,


Geisel, para a vaga decorrente da aposentadoria do ministro Oswaldo Trigueiro, tomou posse no cargo no dia 20 do
mesmo mês.
■■ Desempenhou as funções de presidente do Supremo Tribunal Federal no período de 25 de fevereiro de 1985 a 10 de
chega-se ao termo final do período de transição com que, sem ruptura constitucional, março de 1987. Nessa condição ocupou a Presidência da República, de 7 a 11 de julho de 1986, em substituição ao
e por via de conciliação, se encerra ciclo revolucionário.” presidente José Sarney.

42 43
Nome:
Luiz Rafael Mayer

Data de nascimento:
27 de março de 1919

Local de nascimento:
Monteiro/PB

Formação acadêmica:
Em 1939, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1943.

Trajetória profissional:
■■ Foi prefeito do município de Monteiro/PB de 1944 a 1945 e promotor de justiça do estado de Pernambuco de
1945 a 1955.
■■ Exerceu o cargo de subprocurador-geral do estado de Pernambuco de 1955 a 1966.
■■ Lecionou no magistério superior, tendo sido professor da Escola de Serviço Social de Pernambuco e das Faculdades
de Ciências Econômicas e de Direito da Universidade Federal de Pernambuco.
■■ Nomeado por decreto de 13 de dezembro de 1978, do presidente da República general Ernesto Geisel, para exercer
o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, na vaga decorrente do falecimento do ministro Rodrigues
Alckmin, tomou posse em 15 de dezembro de 1978.
RAFAEL MAYER ■■ Foi eleito para a Presidência do Supremo Tribunal Federal em sessão de 10 de dezembro de 1986 e a exerceu no
biênio de 10 de março de 1987 a 10 de março de 1989.
PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
NA DATA DA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

“Eu jurei fidelidade à Constituição em nome do Poder Judiciário


e eu me emociono em me lembrar daquele momento até hoje. Marcou muito.
A gente passa por essa vida, deixa algumas marcas e leva muitas saudades. Essa é uma delas.”

44 45
Nome:
Ulysses Silveira Guimarães

Data de nascimento:
6 de outubro de 1916

Local de nascimento:
Rio Claro/SP

Formação acadêmica:
Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Trajetória profissional:
■■ Elegeu-se deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD) para compor a Assembleia Constituinte de
São Paulo.
■■ Foi deputado federal pelo estado de São Paulo durante onze mandatos consecutivos, de 1951 a 1992, ano em que
faleceu.
■■ Concorreu ao governo de São Paulo em 1959.
■■ Exerceu o cargo de ministro da Indústria e Comércio em 1961, no gabinete do primeiro-ministro, Tancredo Neves.
■■ Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos (1956-1957, 1985-1986, 1987-1988).
■■ Foi candidato à Presidência da República nas eleições de 1989.
ULYSSES GUIMARÃES
PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
E DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

“Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora.


Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados. É caminhando que se abrem os caminhos. Ela vai
caminhar e abri-los. Será redentor o caminho que penetrar nos bolsões sujos, escuros e ignorados da miséria.”

46 47
Nome:
José Sarney

Data de nascimento:
24 de abril de 1930

Local de nascimento:
Pinheiro/MA

Formação acadêmica:
Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Maranhão, em 1953.

Trajetória profissional:
■■ Exerceu as funções de oficial judiciário e diretor da secretaria do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão antes
de dar início a sua carreira política.
■■ Lecionou noções de Direito na Faculdade de Serviço Social da Universidade Católica do Maranhão a partir
de 1957.
■■ Exerceu sucessivos mandatos de deputado federal pelo Maranhão de 1955 a 1966 e governou o estado de 1966
a 1970.
■■ Foi vice-líder da UDN na Câmara dos Deputados, no biênio 1959-1960, e vice-presidente nacional de 1961 a 1963.
■■ Candidatou-se para o Senado e assumiu o cargo nos mandatos de 1971 a 1978, pela Aliança Renovadora Nacional
JOSÉ SARNEY (ARENA), e de 1979 a 1985, pelo Partido Democrático Social (PDS).
■■ Foi eleito para a presidência da Arena em 1979 e nomeado presidente do recém-criado PDS em 1980.
PRESIDENTE DA REPÚBLICA ■■ Tornou-se membro da Academia Brasileira de Letras no mesmo ano.
■■ Filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), candidatando-se, na chapa de Tancredo
Neves, a vice-presidente da República, em 1985.

“A Constituição nasce com um País em paz.


■■ Assumiu interinamente a Presidência da República em 15 de março de 1985 e efetivamente no dia seguinte ao
falecimento do presidente eleito, Tancredo Neves, ocorrido em 21 de abril do mesmo ano.
■■ Após o término do mandato presidencial, foi novamente eleito senador, assumindo mandatos sucessivos de 1991
Sem prontidão militar, repressão ou sombras institucionais. As instituições consolidaram-se. Mas cumprimos um a 2015.
longo caminho. Tão seguro e rápido que muitos não tomaram conhecimento de sua grandeza e profundidade.” ■■ Foi presidente do Senado por quatro mandatos: 1995-1997, 2003-2005, 2009-2011 e 2011-2013.

48 49
Fotografias
Sessão de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves,
com a presença dos chefes dos três Poderes da República, 1º-2-1987 em revista às tropas no dia da instalação da Assembleia Nacional Constituinte, 1º-2-1987

52 53
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves, O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves, e o presidente da Assembleia Nacional Constituinte,
chegando à sessão de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, 1º-2-1987 deputado Ulysses Guimarães, na sessão de instalação da Assembleia Nacional Constituinte, 1º-2-1987

54 55
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves, Os chefes dos três Poderes na instalação da Assembleia Nacional Constituinte. Da esquerda para a direita: o presidente
concedendo entrevista por ocasião da instalação da Assembleia Nacional Constituinte, 1987 do Senado, senador Humberto Lucena; o presidente da República, José Sarney; o presidente do Supremo Tribunal Federal,
ministro Moreira Alves; e o presidente da Câmara dos Deputados, deputado Ulysses Guimarães, 1º-2-1987

56 57
Entrega das emendas Entrega da Emenda das Donas de Casa, 4-8-1987
populares patrocinadas
pela Igreja Católica,
29-7-1987

58 59
Manifestação pela reforma agrária, 5-10-1987 Manifestação de estudantes, 17-5-1988

60 61
Crianças brincando em frente ao Congresso Nacional, 24-5-1988

Manifestação do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, 24-5-1988

62 63
Grupo de deputadas constituintes, s/d

O deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Nacional Constituinte,


recebendo do presidente da OAB Nacional, Márcio Thomaz Bastos, manifesto de apoio à “Constituição Cidadã”, s/d

64 65
Mesa da Assembleia Nacional Constituinte na madrugada do dia 2-9-1988, Plenário da Assembleia Nacional Constituinte na madrugada do dia 2-9-1988,
após o encerramento da votação do texto constitucional após o encerramento da votação do texto constitucional

66 67
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael Mayer, entre o presidente da O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael Mayer, conversando com o presidente da Assembleia
Assembleia Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, e o presidente da República, José Nacional Constituinte, deputado Ulysses Guimarães, e o presidente da República, José Sarney, antes da sessão de
Sarney, no dia da promulgação da Constituição Federal, 5-10-1988 promulgação da Constituição Federal, 5-10-1988

68 69
Entrada dos chefes dos três Poderes da República no Congresso Nacional, 5-10-1988 Sessão de promulgação da Constituição, 5-10-1988

70 71
Composição plenária do Supremo Tribunal Federal na época da Assembleia Nacional Constituinte. Composição plenária do Supremo Tribunal Federal na época da promulgação da Constituição Federal da República.
Sentados, da esquerda para a direita: ministros Décio Miranda (vice-presidente), Djaci Falcão, Da esquerda para a direita, sentados: ministros Néri da Silveira (vice-presidente), Djaci Falcão, Rafael Mayer
Moreira Alves (presidente), Cordeiro Guerra e Rafael Mayer. Na mesma ordem, em pé: ministros (presidente), Moreira Alves e Oscar Corrêa. Na mesma ordem, em pé: ministros Carlos Madeira, Sydney Sanches,
Sydney Sanches, Aldir Passarinho, Néri da Silveira, Oscar Corrêa, Francisco Rezek e Octavio Aldir Passarinho, Francisco Rezek, Octavio Gallotti e Célio Borja, e o procurador-geral da República, Sepúlveda
Gallotti, e o procurador-geral da República, Dr. Inocêncio Mártires Coelho, 25-2-1985 Pertence, 1988

72 73
Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia, consolidou-se como
uma liderança fundamental no processo constituinte. Conduziu
negociações e acordos, posicionou-se perante a sociedade em todos
os momentos críticos e conferiu firmeza ao trabalho parlamentar
para garantir a conclusão da nova Carta, cunhando a expressão
de que aquela era uma “Constituição Cidadã”.

74 75
Jornal da
Constituinte
A Assembleia Nacional Constituinte desejava tornar públicas as atividades por ela
desenvolvidas. Criou, então, o Jornal da Constituinte, veiculado semanalmente e distribuído a
todos os estados, com o intuito de oferecer à sociedade uma visão ampla do trabalho da Assem-
bleia. Além disso, o periódico procurava incentivar a participação dos cidadãos, que podiam
enviar críticas e sugestões, como ressaltado por Ulysses Guimarães logo no primeiro número,
em artigo intitulado “Mutirão para construir”:

“Está provado que a Constituinte está trabalhando. Você, como eu, poderá dis-
cordar de algumas decisões tomadas até agora e suscetíveis de reformulação em vota-
ções posteriores. Democracia é isso mesmo. Não é o regime em que as decisões conten-
tam a todos, mas todos podem participar, discordar, reformular e, principalmente,
fiscalizar. (...) Este jornal quer diálogo e não monólogo. Espera resposta, aguarda
retorno. Você não pode ficar mudo. Leia, passe adiante, debata. A Constituinte é de
todos, para beneficiar a todos. Você está convidado para esse mutirão. É o mutirão
para construir a casa do Brasil.”

Os 63 volumes e 1 encarte especial publicados, com artigos como “Está nascendo a nova
Carta”, “559 constituintes e quatro milhões de brasileiros emendam nosso país” e “Sempre há
tempo para negociar”, são ricas fontes históricas da elaboração da Constituição brasileira de 1988.

78 79
8 a 14 de junho de 1987 – n. 2

1º a 7 de junho de 1987 – n. 1

80 81
6 a 12 de julho de 1987 – n. 6
22 a 28 de junho de 1987 – n. 4

82 83
5 a 11 de outubro de 1987 – n. 19

27 de julho a 2 de agosto de 1987 – n. 9

84 85
1º a 7 de fevereiro de 1988 – n. 34

7 a 13 de março de 1988 – n. 38

86 87
11 a 17 de abril de 1988 – n. 42

28 de março a 3 de abril de 1988 – n. 41

88 89
Criação do STJ

11 a 17 de abril de 1988 – n. 42 11 a 17 de abril de 1988 – n. 42

90 91
23 a 29 de maio de 1988 – n. 48
4 a 10 de julho de 1988 – n. 54

92 93
11 a 17 de julho de 1988 – n. 55 22 a 28 de agosto de 1988 – n. 59

94 95
22 a 28 de agosto de 1988 – n. 59 12 a 18 de setembro de 1988 – n. 62

96 97
5 de outubro de 1988 – n. 63

98
Constituição de 1988
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Esta Carta é nossa! Essa foi a manchete publicada em 5 de outubro de 1988, na última edição do Jornal da
Constituinte5. A referência à Constituição como Carta6 reflete a influência do Brasil que dava seus últimos suspiros sobre
o Brasil que nascia.
A penúltima manchete do mesmo jornal anunciava: “O Brasil começa dia 5”. Se 5 de outubro de 1988 foi o dia do
nascimento, o dia 26 de novembro de 1985 marcou o início da gestação da Constituição Cidadã. Nessa data foi aprovada
a Emenda Constitucional 26, segundo a qual “os membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-iam
em Assembleia Nacional Constituinte, livre e soberana”. Essa forma atípica de instalação de uma Assembleia Nacional
Constituinte não representou embaraço para um Estado que estava sendo ordenado por uma Constituição que de modo
também atípico havia sido integralmente alterada pelo mesmo instrumento normativo, a Emenda Constitucional 1/1969.
Dando cumprimento à determinação do art. 1º da Emenda Constitucional 26/1985, em 1º de fevereiro de 1987
o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Moreira Alves, instalou a Assembleia Nacional Constituinte e dirigiu
a sessão de eleição do seu presidente (art. 2º). O deputado Ulysses Guimarães, que fora o principal líder parlamentar de
oposição aos governos militares, venceu as eleições. “Da constituinte participaram os parlamentares escolhidos no pleito
de 15 de novembro de 1986, bem como os senadores eleitos quatro anos antes, que ainda se encontravam no curso de
seus mandatos. Ao todo, foram 559 membros – 487 deputados federais e 72 senadores –, reunidos unicameralmente.”7
A apreciação do texto final estava prevista para 30 de outubro de 1987 8, mas as discussões e votações se estenderam
por quase mais um ano. Somente em 5 de outubro de 1988, a materialização do reordenamento jurídico do país ocorreu,
em sessão realizada no plenário da Câmara dos Deputados. Com a presença do presidente da República, José Sarney, do
presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Rafael Mayer, e de deputados, senadores, ministros, governadores,
delegações estrangeiras e representantes do corpo diplomático, proclamou-se: Constituição de 1988 exposta no Salão Branco do Supremo Tribunal Federal

Muda Brasil! Com esse grito de fé e de esperança, o presidente Ulysses Guimarães entregou ao Brasil a Cons-
tituição que ele batizou de cidadã. Em seu último pronunciamento na condição de presidente da Assembleia
Nacional Constituinte, ele falou do país que começou com a nova Carta e deixou uma série de advertências,
5 Órgão oficial de divulgação da Assembleia Nacional Constituinte. entre elas a de que “a moral é o cerne da pátria”.9
6 As constituições outorgadas são também chamadas pelos doutrinadores de “cartas” constitucionais.
7 BARROSO, Luís Roberto. Vinte anos da Constituição brasileira de 1988: o Estado a que chegamos.
8 Jornal da Constituinte, n. 1, p. 14. 9 Jornal da Constituinte, n. 63, p. 4.

102 103
A Constituição Federal de 1988 é a sétima na história do Brasil desde a declaração de independência de Portugal. O ingresso no serviço público passou a ser exclusivamente por concurso público (art. 37, II), surgindo pela
Ela marcou o fim de um regime militar e a reinstalação democrática como um dos maiores princípios do Estado brasileiro. primeira vez a previsão de cotas para pessoas com deficiência (art. 37, VIII).
É considerada a mais completa entre todas as Constituições brasileiras, sobretudo no que diz respeito aos direitos do A nova Constituição também apresentou uma série de mudanças no campo dos direitos trabalhistas. Fixou
cidadão. Traduziu as ambições do povo, que finalmente ingressou com protagonismo na vida política do Estado. Com jornada de trabalho máxima de 44 horas semanais (art. 7º, XIII), criou o seguro-desemprego (art. 7º, II), aumentou a
esse lastro de legitimidade sem precedentes na história brasileira, a Constituição Cidadã, por meio da busca da efetivação licença-maternidade para 120 dias (art. 7º, XVIII) e garantiu o direito de greve (art. 9º). Para os servidores públicos, esse
das liberdades e garantias fundamentais, apresentou várias inovações em relação às experiências constitucionais anteriores. direito teria de ser regulamentado por lei (art. 37, VII), o que não ocorreu até hoje. O trabalhador rural passou a contar
com todos os direitos assegurados ao trabalhador urbano (art. 7º, caput).
Dos ramos do direito, o que passou com mais intensidade por processo de constitucionalização e inovação de
PRINCIPAIS INOVAÇÕES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 suas normas foi o direito civil, em especial o direito de família. A Constituição proibiu qualquer designação discrimina-
tória relativa à filiação, de modo que todos os filhos, tidos fora do casamento, ou por adoção, passaram a ter os mesmos
Uma das principais novidades do Texto Constitucional de 1988 foi sutil, mas impactante: a mudança topográfica direitos e qualificações (art. 227, § 6º); antes, apenas os filhos legítimos, havidos na constância do casamento, tinham
das normas sobre os direitos e garantias fundamentais. Tradicionalmente arrolado na parte final das constituições, pela direito à herança, por exemplo. Essa nova orientação manteve coesão com o mandamento do dever de toda a sociedade
primeira vez o tópico que resguarda os indivíduos veio ocupar posição de destaque no texto, logo após o preâmbulo e os assegurar às crianças e aos adolescentes, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
princípios fundamentais, com relevo para as pessoas que compõem o Estado, antes mesmo da parte que regulamenta a lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além
estrutura estatal. de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (art. 227,
Quanto aos direitos políticos, o voto passou a ser facultativo aos 16 anos e continuou obrigatório a partir dos caput). Até o advento da Constituição de 1988, essa responsabilidade era exclusiva das famílias.
18. As pessoas que não sabiam ler e escrever poderiam votar (art. 14, § 1º). Todavia, o direito político mais representativo A união estável foi reconhecida como entidade familiar (art. 226, § 3º); antes, o casamento era a única institui-
para o povo brasileiro foi o retorno do voto direto para o cargo de presidente da República (art. 77)10, transformado em ção jurídica geradora de direitos e deveres, tais como herança e pensão alimentícia. Além da união estável, a nova ordem
cláusula pétrea (art. 60, § 4º, II). Também houve a redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos (art. 82) e a igualmente passou a reconhecer a reunião de apenas um dos pais e seus filhos, a família monoparental (art. 226, § 4º).
previsão de dois turnos na hipótese de nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação (art. 77, §§ 2º e 3º). Também houve ampliação significativa na seguridade social. A garantia à saúde passou a ser mais efetiva com
A censura prévia a que os jornais, livros, revistas, televisão e outros meios de comunicação eram submetidos pas- acesso universal e igualitário de todos os cidadãos, brasileiros ou não, ao Sistema Único de Saúde (art. 196). Anterior-
sou a ser proibida (art. 220, § 2º). A liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação mente, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) atendia apenas as pessoas vinculadas
tornou-se garantia fundamental, independentemente de censura ou licença (art. 5º, IX). Os perseguidos políticos foram à Previdência. O resto da população dependia de entidades beneficentes, como as santas casas.
anistiados e tiveram direito a receber indenização pelos danos causados à sua vida pela perseguição (ADCT, art. 8º). As proteções de assistência social também foram dilatadas. Garantiu-se um salário mínimo de benefício mensal
Os municípios foram incluídos como entes federativos (art. 18, caput), e ficou definido que os que contavam com à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovassem não terem meios de prover a própria manutenção ou de
mais de 20 mil habitantes deveriam aprovar um plano diretor (art. 182, § 1º). No dia da promulgação da Constituição de tê-la provida por sua família, conforme disposição legal (art. 203, V).
1988, também foi celebrada a criação de três estados brasileiros: Amapá, Roraima e Tocantins (art. 14). Os dois primeiros Com a Constituição Cidadã, os índios passaram a ter mais cidadania. Em um capítulo dentro da ordem social
já eram territórios, criados em 1943 e em 1962, respectivamente, e foram elevados à categoria de estado pela Constituição. (arts. 231 e 232), foi-lhes reconhecida sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, além dos direitos
Já Tocantins foi criado a partir da divisão do estado de Goiás (ADCT, art. 13). originários sobre as terras que tradicionalmente ocupassem, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar
todos os seus bens. Assim, foi admitido seu direito à diferença, ou seja, o direito de permanecer como índios.
A proteção dos grupos sociais passou a ter status constitucional. O racismo tornou-se crime inafiançável e sujeito
10 Durante o regime militar, o presidente da República era eleito por um colégio eleitoral (CF/1967, art. 74, redação da Emenda Constitucional a reclusão (art. 5º, XLII). No regime constitucional anterior, era equivalente a uma contravenção penal.
1/1969).

104 105
A Constituição de 1988 redefiniu profundamente o papel, a posição e a identidade do Poder Judiciário brasileiro “A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim.
na organização tripartite dos Poderes da República. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o cami-
De fato, nenhuma Constituição anterior assegurou tão ampla independência ao Judiciário em nosso país, não nho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para
apenas conferindo-lhe autonomia administrativa e financeira mas também fortalecendo as garantias funcionais dos juízes a cadeia, o exílio, o cemitério. A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia.” (Ulysses Guimarães,
brasileiros para o exercício independente e imparcial de suas funções. presidente da Assembleia Nacional Constituinte, em 5 de outubro de 1988.)11
Ante a relevância da justiça para a cidadania, a estrutura judiciária passou por profundas modificações, a começar
pelo órgão de cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, cuja competência foi repartida com o Superior
Tribunal de Justiça, criado pela nova ordem jurídica. Ao Superior Tribunal de Justiça coube a uniformização da inter- 11 Jornal da Constituinte, n. 63, p. 4.
pretação das leis federais (art. 105, III), e ao Supremo, prioritariamente, a guarda da Constituição (art. 102, caput e III).
Além disso, a nova Carta consagrou como direitos fundamentais o livre acesso ao Judiciário, ao prever que a lei não
excluirá da apreciação judicial lesão ou ameaça de direito (art. 5º, XXXV); a garantia do juízo natural (art. 5º, XXXVII e
LIII); a criação e o funcionamento dos juizados de pequenas causas (art. 24, X); e a assistência jurídica integral e gratuita
para as pessoas que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5º, LXXIV).
A constitucionalização dos juizados especiais (art. 98, I) impulsionou a cidadania, na medida em que possibilitou
o acesso ao Poder Judiciário aos que até então, embora não formalmente impedidos, se viam faticamente impossibilitados
de pleitear solução jurídica a eventuais demandas. Por meio dos juizados especiais, que são estruturas desburocratizadas
e dinâmicas, garantiu-se também maior agilidade da resposta do Poder Judiciário aos jurisdicionados, uma vez que os
processos de sua competência, seguindo os preceitos da Lei 9.099/1995, se orientam pelos critérios da oralidade, simpli-
cidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando-se, sempre que possível, a conciliação ou a transação.
Outro passo significativo na história do Judiciário foi o reconhecimento da Defensoria Pública como instituição
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe “a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a
defesa, em todos os graus de jurisdição, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados”.
Mais uma vez a Constituição Federal amplia o acesso dos cidadãos à Justiça, uma vez que as defensorias viabi-
lizam a invocação do Estado-Juiz para concretizar direitos e liberdades. Sua atuação como instrumento democrático
fundamental do estado de direito é assegurada pela imposição, no Texto Constitucional, da obrigação do poder público
de lhes promover a organização e o aparelhamento.
O acesso ao Poder Judiciário ampliou-se também porque a Constituição de 1988 instituiu um dos mais abran-
gentes sistemas de controle de constitucionalidade do mundo, o qual combina características do controle difuso, exercido
por juízes e tribunais, e do controle concentrado, exercido por meio de ações abstratas de competência exclusiva do STF.
Por essas e outras significativas mudanças, a Constituição de 1988 representou um marco na história do Brasil.
Todas as Constituições têm o objetivo de instaurar um processo de mudança, de recomeço em relação ao que havia
sido juridicamente estabelecido, mas a de 1988, até mesmo pelo modo como foi concebida e pelo momento histórico em
que isso ocorreu, revolucionou a história jurídica do Brasil. Edifício-Sede do Supremo Tribunal Federal, Brasília/DF

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O Guardião da Constituição
PROCESSO HISTÓRICO
DE INSTITUIÇÃO DO Alvará Régio de 10 de maio de 1808
SUPREMO TRIBUNAL “Regula a Casa da Supplicação e dá providencias a bem da administração da Justiça.
FEDERAL (...)
IV. A Casa da Supplicação do Brazil se comporá além do Regedor que eu houver por bem
nomear, do Chanceller da Casa, de oito Desembargadores dos aggravos, de um Corregedor de
Crime da Côrte e Casa, de um Juiz dos Feitos da Coroa e Fazenda, de um Procurador dos Feitos
CASA DA SUPLICAÇÃO (1808 A 1828) da Coroa e Fazenda, de um Corregedor do Civil da Côrte, de um Juiz da Chancellaria, de um
Ouvidor do Crime, de um Promotor da Justiça e de mais seis Extravagantes.”
A história da criação de um órgão de cúpula do Poder Judiciário
no Brasil começa com a vinda da família real portuguesa para cá em 1808.
Naquele ano, o príncipe regente, Dom João VI, mediante Alvará Régio de
10 de maio, transformou o antigo Tribunal da Relação do Rio de Janeiro Francisco de Assis Mascarenhas, primeiro
em Casa da Suplicação do Brasil, última instância do Poder Judiciário, regedor da Casa da Suplicação
para onde as Relações Provinciais enviavam recursos e apelações.
Instalada em prédio da rua do Lavradio e com atribuição de
ultimar todas as demandas judiciais, por maiores que fossem as causas ou
os valores em questão, a Casa da Suplicação do Brasil compunha-se de 23
juízes, distribuídos em duas turmas de julgamento, então chamadas de
Mesa da Ouvidoria do Crime (apelações criminais) e Mesa dos Agravistas
(apelações cíveis). Acima dessas duas Mesas, funcionava a Mesa Grande
(Pleno), assim denominada porque reunia os magistrados de ambas as
turmas, cujos trabalhos eram conduzidos pelo regedor, no caso o presi-
dente da Casa da Suplicação.
Consta como primeiro regedor titular da Casa da Suplicação
brasileira o português Francisco de Assis Mascarenhas (Conde de Palma
e depois Marquês de São João da Palma). O primeiro brasileiro a ocupar
o cargo foi João Ignacio da Cunha (Barão e depois Visconde de Alcân-
tara), cuja posse se deu em 1824, com o Brasil já não mais na condição José de Oliveira Pinto Botelho e Mosqueira,
de Colônia. Convém lembrar que o segundo cargo mais importante da chanceler da Casa da Suplicação. Embora Prédio onde funcionou a
Casa da Suplicação era o de chanceler, o qual, na ausência do regedor, não fosse titular do cargo, desempenhou as Casa da Suplicação
exercia suas funções. funções de regedor de 1808 e 1821 de 1808 a 1829

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Lei de 18 de setembro de 1828
SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA “Crêa o Supremo Tribunal de Justiça e declara suas attribuições.
(1828 A 1889) CAPITULO I
DO PRESIDENTE E MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Com a independência do Brasil, sobreveio a criação do Supremo Art. 1º O Supremo Tribunal de Justiça será composto de dezasete Juizes letrados, tirados das
Tribunal de Justiça. Embora previsto na estrutura do Poder Judiciário Relações por suas antiguidades, e serão condecorados com o titulo do Conselho; usarão de béca, e
desde a Constituição de 1824, sua instauração somente ocorreu após a capa; terão o tratamento de excellencia, e o ordenado de 4:000$000 sem outro algum emolumento,
Lei Imperial de 18 de setembro de 1828. A Casa da Suplicação do Brasil ou propina. E não poderão exercitar outro algum emprego, salvo de membro do Poder Legislativo,
foi, assim, extinta, e a Relação do Rio de Janeiro retornou à condição nem accumular outro algum ordenado. Na primeira organização poderão ser empregados neste
anterior, de tribunal local. Tribunal os Ministros daquelles, que se houverem de abolir, sem que por isso deixem de continuar
Com sede na Capital do Império, o Supremo Tribunal de Justiça, no exercicio desses Tribunaes, em quanto não forem extinctos.
nos termos do art. 164 da Constituição Política do Império do Brasil, Art. 2º O Imperador elegerá o Presidente d'entre os membros do Tribunal, que servirá
ficou constitucionalmente incumbido de: pelo tempo de tres annos. No impedimento, ou falta do Presidente, fará suas vezes o mais antigo,
e na concurrencia de dous de igual antiguidade a sorte decidirá.”
Ministro José Albano Fragoso,
“I – Conceder, ou denegar Revistas nas Causas, e pela maneira, que primeiro presidente do Supremo
a Lei determinar. Tribunal de Justiça
II – Conhecer dos delictos, e erros de officio, que commetterem os
seus Ministros, os das Relações, os Empregados no Corpo Diploma-
tico, e os Presidentes das Provincias.
III – Conhecer, e decidir sobre os conflictos de jurisdição, e compe-
tencia das Relações Provinciaes.”

Conforme estabelecia a Lei de 1828, o presidente do Supremo


Tribunal de Justiça era nomeado pelo imperador, com mandato de três
anos. Em sua ausência, era substituído pelo ministro mais antigo. José
Albano Fragoso foi o primeiro juiz a presidir o Tribunal.
Palácio do Conde dos Arcos,
prédio onde funcionou o
Senado do Império.
Ministro Albino de Oliveira, com a toga Foi sede provisória do
da época. Presidiu o Supremo Tribunal Supremo Tribunal de
de Justiça de 1880 a 1882 Justiça de 1829 a 1891

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (1890 ATÉ OS DIAS ATUAIS)

Decreto 848, de 11 de outubro de 1890


Com o fim do regime monárquico e o início da era republicana, o sistema judiciário foi reorganizado. O Decreto
848/1890, editado pelo Governo Provisório e ratificado pela Constituição de 1891, instituiu a Justiça Federal e o Supremo
Tribunal Federal, que substituiu em nome e com funções ampliadas o Supremo Tribunal de Justiça como órgão de cúpula “Organiza a Justiça Federal.
da Justiça nacional. CAPITULO II
Em sessão plenária presidida pelo ministro Sayão Lobato, a 28 de fevereiro de 1891, o Supremo Tribunal Fe­­ DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
deral foi instalado, originalmente com quinze membros. Os ministros eram nomeados pelo presidente da República após Art. 5º O Supremo Tribunal Federal terá a sua séde na capital da Republica e compor-se-
aprovação do Senado Federal, sendo-lhes exigidos notável saber e reputação, além da idade mínima de 35 anos. Na mesma -ha de quinze juizes, que poderão ser tirados dentre os juizes seccionaes ou dentre os cidadãos de
sessão, foi eleito o primeiro presidente do Tribunal, ministro Freitas Henriques. notavel saber e reputação, que possuam as condições de elegibilidade para o Senado.
Nos termos da Constituição de 1891, competia à Corte Suprema: Paragrapho unico. Os parentes consanguineos ou affins, na linha ascendente e descen-
dente e na collateral até ao segundo gráo, não podem ao mesmo tempo ser membros do Supremo
“Art. 59. (...) Tribunal Federal.”
I – Processar e julgar originaria e privativamente:
a) o Presidente da Republica nos crimes communs e os Ministros de Estado nos casos do art. 52; “Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
b) os ministros diplomaticos, nos crimes communs e nos de responsabilidade; SECÇÃO
c) as causas e conflictos entre a União e os Estados, ou entre estes uns com os outros; DO PODER EXECUTIVO
d) os litígios e as reclamações entre nações estrangeiras e a União ou os Estados; CAPITULO III
e) os conflictos dos juizes ou Tribunaes Federaes entre si, ou entre estes e os dos Estados, assim como os dos juizes e tribunaes DAS ATTRIBUIÇÕES DO PODER EXECUTIVO
de um Estado com os juizes e tribunaes de outro Estado. Art. 48. Compete privativamente ao Presidente da Republica:
II – Julgar, em gráo de recurso, as questões resolvidas pelos juízes ou Tribunaes Federaes, assim como as de que tratam o (...)
presente artigo, § 1º, e o art. 60. 12. Nomear os membros do Supremo Tribunal Federal e os ministros diplomaticos, sujei-
III – Rever os processos findos, nos termos do art. 81. tando a nomeação à approvação do Senado.
§ 1º Das sentenças das justiças dos Estados em ultima instancia haverá recurso para o Supremo Tribunal Federal: Na ausencia do Congresso, designal-os-ha em commissão, até que o Senado se pronuncie;
a) quando se questionar sobre a validade ou applicação de tratados e leis federaes, e a decisão do tribunal do Estado for (...)
contra ella; SECÇÃO III
b) quando se contestar a validade de leis ou de actos dos governos dos Estados em face da Constituição, ou das leis federaes, DO PODER JUDICIARIO
e a decisão do Tribunal do Estado considerar validos esses actos, ou essas leis impugnadas. Art. 56. O Supremo Tribunal Federal compor-se-ha de quinze juizes, nomeados na fórma
§ 2º Nos casos em que houver de applicar leis dos Estados, a justiça federal consultará a jurisprudencia dos tribunaes locaes, do art. 48, n. 12, dentre os cidadãos de notavel saber e reputação, elegiveis para o Senado.”
e vice-versa, as justiças dos Estados consultarão a jurisprudencia dos Tribunaes Federaes, quando houverem de interpretar
leis da União.”

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Ata de instalação do Supremo Tribunal Federal, em 28 de fevereiro de 1891 Ministro Freitas Henriques, primeiro presidente do Supremo Tribunal Federal

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O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Alguns anos mais tarde, já no governo do marechal Hermes da

NA PRIMEIRA REPÚBLICA Fonseca (1910-1914), o Supremo foi novamente chamado a se manifestar


sobre ingerências do Poder Executivo. No que ficou conhecido como caso
“(...) o habeas-corpus hoje não está circuns-
crito aos casos de constrangimento corporal; o
do Conselho Municipal do Distrito Federal, foram impetrados ao Tribunal ­habeas-corpus hoje se estende a todos os casos em
várias habeas corpus. Em um deles, o Habeas Corpus 2.990 (rel. min. Pedro que um direito nosso, qualquer direito, estiver
O início do período republicano no Brasil foi marcado por momentos de tensão e instabilidade que afetaram Lessa, j. 25-1-1911), o impetrante, Ruy Barbosa, defendia os direitos dos ameaçado, manietado, impossibilitado no seu
em maior ou menor grau as instituições políticas do país. O Supremo Tribunal Federal, como órgão de cúpula do Poder intendentes (vereadores) do Conselho contra ato do presidente da República, exercício pela intervenção de um abuso de poder
Judiciário, também ficou vulnerável às tensões que marcaram a história nacional, sobretudo nas primeiras décadas do que dissolvera o órgão e chamara novas eleições após decretar estado de sítio ou de uma ilegalidade. Desde que a Constitui-
século XX. originado pela Revolta da Chibata. ção (...) não particularizou os direitos que, com o
Em diferentes momentos da Primeira República (1889-1930), o Supremo enfrentou dificuldades para consoli- Ao analisar o feito, o Supremo Tribunal Federal entendeu que o ­habeas-corpus, queria proteger contra a coação
dar os poderes a ele atribuídos na qualidade de guardião da constitucionalidade e defensor dos princípios insculpidos na Decreto 8.527/1910, no qual se apontavam tais vícios, constrangia ilegalmente ou contra a violência, claro está que o seu propó-
Constituição. Período marcante foi a presidência do marechal Floriano Peixoto, que governou o país de 1891 a 1894, em os impetrantes e concedeu a ordem, “a fim de que os pacientes, assegurada a sito era escudar contra a violência e a coação todo
um contexto de conflitos de significância histórica, como a Revolta da Armada. À época, o Supremo Tribunal Federal sua liberdade individual, possam entrar no edifício do Conselho Municipal, e qualquer direito que elas podiam tolher e lesar
precisou ser perseverante na defesa do direito às liberdades e garantias constitucionais em meio à crise que se impunha e exercer suas funções até à expiração do prazo do mandato, proibido qual- nas suas manifestações.” (Ruy Barbosa)
à República. quer constrangimento que possa resultar do decreto do Poder Executivo
Entre os temas levados ao exame do órgão máximo do Judiciário brasileiro nessa fase, destaca-se o da expulsão federal”. Contrafeito, o presidente não cumpriu a decisão e, em mensagem
de estrangeiros após os meses de exceção. No julgamento do Habeas Corpus 520, o Tribunal concluiu que o Executivo ao Congresso Nacional, expôs que a questão era exclusivamente da alçada
federal não poderia expulsar estrangeiros em tempos de paz “por simples medida política e mera fórmula administrativa”, política, e não jurisdicional.
uma vez que a Constituição lhes assegurava, como residentes no país, liberdade e segurança invioláveis. Não obstante o desfecho, esse caso acabou por proporcionar um
aprofundamento das questões que culminariam na chamada doutrina
brasileira do habeas corpus. Esta consistia em dar maior amplitude de
aplicabilidade ao instituto, para além das situações estritas de liberdade
de locomoção. Os atores mais lembrados na construção dessa doutrina
são Ruy Barbosa, no papel de advogado, e o próprio Tribunal, incumbido
da jurisdição, domínio em que os ministros Pedro Lessa e Enéas Galvão
exerceram maior protagonismo.
A Revisão Constitucional de 1926 pôs fim a esse entendimento,
restringindo o emprego do habeas corpus aos casos específicos de liberdade de
locomoção. Segundo a nova redação ao § 22 do art. 72 da Constituição
de 1891: “Dar-se-ha o habeas-corpus sempre que alguém soffrer ou se achar
em imminente perigo de soffrer violencia por meio de prisão ou constran- Ruy Barbosa, defensor de maior amplitude à
gimento illegal em sua liberdade de locomoção”. aplicação do habeas corpus
Trecho do acórdão prolatado nos autos do Habeas Corpus 520

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À esquerda, jornal da época A ERA VARGAS E O ESVAZIAMENTO
“Algumas vezes, entretanto, a illegalidade de
que se queixa o paciente, não importa a comple-
publica, na íntegra, a petição do
Habeas Corpus 3.536, impetrado
DO PODER JUDICIÁRIO
ta privação da liberdade individual. Limita-se a pelo senador Ruy Barbosa ao ter
coacção illegal a ser vedada unicamente a liber- censurada pelo Poder Executivo a
dade individual, quando esta tem por fim proxi- publicação de discurso que proferira Instaurado o Governo Provisório de Getúlio Vargas no final de 1930, além de deposto o presidente da República,
mo o exercicio de um determinado direito. Não no Senado Federal. Esse habeas foram dissolvidos o Congresso Nacional e os Poderes Legislativos estaduais e municipais. A Constituição de 1891 foi
está o paciente preso, nem detido, nem exilado, corpus ilustra como o remédio cassada, e Getúlio Vargas, com amplos poderes, passou a governar por decretos.
nem ameaçado de immediatamente o ser. Apenas constitucional poderia ter maior Quanto ao Poder Judiciário, consta do Decreto 19.398/1930, que instituiu o novo governo, a seguinte disposição:
o impedem de ir, por exemplo, a uma praça pu- alcance. No caso, foi o deferimento “Art. 5º Ficam suspensas as garantias constitucionais e excluída a apreciação judicial dos atos do Governo Provisório ou
blica, onde se deve realisar uma reunião com in- da petição que garantiu a dos interventores federais, praticados na conformidade da presente lei ou de suas modificações ulteriores”.
tuitos politicos; a uma casa commercial, ou a uma publicação do discurso na imprensa. O Decreto 19.656/1931 viria a se ocupar especificamente da Suprema Corte, conforme assinalado na ementa:
fabrica, na qual é empregado; a uma repartição Abaixo, página do acórdão do “Reorganiza provisoriamente o Supremo Tribunal Federal e estabelece regras para abreviar os seus julgamentos”. Entre as
publica, onde tem de desempenhar uma funcção, Supremo Tribunal Federal. disposições apresentadas, ressalta-se a redução de quinze para onze ministros na Corte e sua divisão em duas Turmas de
ou promover um interesse; á casa em que reside, cinco juízes cada. Essa composição seria mantida em julgamentos de feitos que não envolvessem questão constitucional;
ao seu domicilio.” (Ministro Pedro Lessa) em caso contrário, dois julgadores imediatos em antiguidade deveriam ser acrescidos em cada turma. Ao Tribunal Pleno
caberia julgar os embargos. Dispôs-se, ainda, que o presidente do Supremo Tribunal Federal não poderia mais figurar na
linha sucessória para o exercício da presidência da República.
“(...) a circunstância de não se achar o pa- Quanto ao funcionamento do órgão, o decreto definia a realização de, pelo menos, quatro sessões semanais,
ciente ameaçado de prisão ou de ser obstado de podendo as duas Turmas funcionar concomitantemente. Os processos deveriam ser julgados, em cada sessão e em cada
locomover-se livremente, mas de se lhe vedar a classe, por ordem de antiguidade, contada da entrada no Tribunal, e o estudo de cada feito não poderia exceder a trinta
entrada no edifício destinado à residência do dias, prazo a valer tanto para os ministros quanto para o procurador-geral da República.
presidente do Estado para exercer as funções des- O Decreto 19.711/1931 aposentou compulsoriamente seis ministros: Godofredo Cunha (então presidente do
se cargo, não pode ser alegada sob fundamento Tribunal), Muniz Barreto, Pires e Albuquerque, Pedro Mibieli, Pedro dos Santos e Geminiano da Franca. Para seus lugares
de impropriedade do recurso intentado, porque Vargas nomeou juízes afins ao governo.
as expressões do texto constitucional, mais am- Todas essas medidas resultaram em constrangimento e perda de autonomia por parte do Tribunal, que, para
plas que as empregadas na lei ordinária para além de constituir-se como um dos três Poderes da República, vinha atuando de maneira decisiva na defesa das liberdades
definir a garantia da liberdade individual, com- fundamentais e manutenção da ordem jurídica.
preendem quaisquer coações, e não somente a
violência do encarceramento ou do só estorvo à
faculdade de ir e vir.” (Ministro Enéas Galvão)

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“Art. 113. A Constituição assegura a bra- Com o fim do Governo Provisório, em 1934, a Assembleia Nesse contexto, o mandado de segurança deixou de ter previsão constitucional, passando a ser regido por decre-
sileiros e a estrangeiros residentes no paiz a in- Nacional Constituinte formada promulga uma nova Constituição e to-lei, no caso o DL 6/1937, em cujo art. 16 se estabeleceu a impossibilidade de o mandamus ser interposto contra ato
violabilidade dos direitos concernentes á liber- elege Getúlio Vargas para Presidência do Brasil. Entre as inovações do presidente da República, de ministros de Estado, de governadores e de interventores. Consoante o mesmo decreto,
dade, á subsistencia, á segurança individual e á da Carta de 1934, estão o voto secreto, obrigatório para homens e ficou extinta a Justiça Federal, em replicação do que já havia disposto a Constituição de 1937, cujo art. 90 não a havia
propriedade, nos termos seguintes: mulheres, e o mandado de segurança . registrado entre os órgãos do Poder Judiciário. Apenas em 1965 essa esfera da Justiça seria recriada.
(...) No tocante à Corte Suprema, a Carta de 1937 devolveu-lhe a denominação anterior, de Supremo Tribunal Federal
33) Dar-se-á mandado de segurança para O Supremo Tribunal Federal passou a denominar-se Corte (art. 90, a). Embora a composição permanecesse com onze ministros (art. 97), a idade limite para permanência no cargo
defesa do direito, certo e incontestavel, ameaça- Suprema, e seu presidente pôde voltar à lista de sucessão presiden- foi abreviada para os 68 anos, regra aplicável aos juízes em geral (art. 91, a).
do ou violado por acto manifestamente incons- cial. A composição permaneceu com onze ministros, nomeados Ainda durante o período do Estado Novo, outro ato de subtração de poder à Corte Suprema seria implementado
titucional ou illegal de qualquer autoridade. pelo presidente da República com aprovação do Senado Federal. A pelo Decreto-Lei 2.770/1940, editado por Vargas e seu ministro da Justiça, Francisco Campos: a nomeação do presi-
O processo será o mesmo do habeas corpus, de- Corte reassumiu atribuições de controle constitucional, expressa- dente e do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal seria feita pelo chefe do Executivo e não mais pelos membros
vendo ser sempre ouvida a pessoa de direito pu- mente por via recursal extraordinária . Foram, ainda, instituídas do Tribunal mediante eleição.
blico interessada. O mandado não prejudica as aos membros da magistratura a vitaliciedade (com aposentadoria
acções petitorias competentes.” compulsória aos 75 anos), a inamovibilidade e a irredutibilidade
de vencimentos.
Em 1937, porém, com a instauração do Estado Novo, que
duraria até 1945, Vargas impõe uma nova Constituição, de viés
“Art. 76. A Côrte Suprema compete: autoritário, que lhe permite governar de forma ditatorial. Entre
(...) os motivos arrolados para a decretação da nova Carta, destaque é
2) julgar: dado “ao estado de apreensão criado no país pela infiltração comu-
(...) nista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo
III – em recurso extraordinario, as causas remédios de caráter radical e permanente”. Tal receio tem base nos
decididas pelas justiças locaes em unica ou ulti- eventos que marcaram a Intentona Comunista (1935), ou Revolta
ma instancia: (...) Vermelha, insurgência que teria também motivado a criação do
b) quando se questionar sobre a vigencia Tribunal de Segurança Nacional, órgão de exceção instituído pela
ou validade de lei federal em face da Constitui- Lei 244/1936 com a atribuição de julgar crimes políticos e contra
ção, e a decisão do tribunal local negar applica- a economia popular.
ção á lei impugnada; Autoridade suprema do Estado, conforme expresso na
c) quando se contestar a validade de lei própria Constituição de 1937, o presidente Getúlio Vargas passou Detalhes do Salão
ou acto dos governos locaes em face da Consti- a ter poderes para, entre outros, sancionar e promulgar leis, expedir Branco do Supremo
tuição, ou de lei federal, e a decisão do tribunal decretos-leis, indicar seu sucessor, dissolver a Câmara dos Deputados Tribunal Federal.
local julgar valido o acto ou a lei impugnado;” e nomear os membros do Conselho Federal (órgão que substituiu Ao fundo, galeria de
o Senado Federal). seus ex-presidentes

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A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL, Considerada democrática e liberal, a Carta de 1946 trouxe importantes conquistas no que se refere aos direitos e garantias

A CONSTITUIÇÃO DE 1946 E A RETOMADA individuais, além de avanços significativos em termos sociais, como o reconhecimento do direito de greve.
Como bem observado pelo ministro José Linhares na primeira sessão do Supremo Tribunal Federal após a pro-
DA DIGNIDADE POLÍTICO-INSTITUCIONAL mulgação da nova Carta, “o século passado foi a época da liberdade, e o atual é o da igualdade econômica e social”. Uma vez
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL que os direitos civis e políticos – historicamente chamados de primeira geração – tornavam-se mais consolidados, dava-se
maior passo, com a Constituição de 1946, à conquista dos direitos sociais e econômicos – classificados como de segunda
geração. Nesse sentido, foi expressamente assinalado: “Art. 145. A ordem econômica deve ser organizada conforme os
princípios da justiça social, conciliando a liberdade de iniciativa com a valorização do trabalho humano”.
Em 1945, a Segunda Guerra Mundial chega ao fim com a derrota dos países do Eixo (de regime ditatorial). Nessa mesma sessão, realizada em 20 de setembro de 1946, procedeu-se, ainda, ao julgamento de vários pedidos e
A vitória dos Aliados, coalizão da qual o Brasil fez parte e na sua maioria composta de países de regime democrático, tornou recursos de habeas corpus e ao exame da continuidade ou não da divisão do Tribunal em duas Turmas. O Plenário decidiu,
a posição de Getúlio Vargas na Presidência da República insustentável, acarretando uma renúncia forçada. por maioria, pela possibilidade da cisão.
Curiosamente, como no regime unipessoalista do Estado Novo não havia o posto de vice-presidente e o Con- O mandado de segurança foi restabelecido como ação constitucional, com aperfeiçoamento do texto quanto
gresso Nacional estava fechado desde fins de 1937, foi o presidente do Supremo Tribunal Federal à época, ministro José à previsão da Carta de 1934: “Art. 141. (...) § 24. Para proteger direito líquido e certo não amparado por habeas corpus,
Linhares, o primeiro na linha sucessória da Presidência da República. Após assumir o cargo, o ministro governou o País conceder-se-á mandado de segurança, seja qual for a autoridade responsável pela ilegalidade ou abuso de poder”.
de outubro de 1945 a janeiro de 1946. A Constituição de 1946 também consagrou, em seu art. 141, § 4º, o princípio da inafastabilidade da apreciação
Nesse período, José Linhares revogou o Decreto-Lei 2.770 e lhe sobrepôs o Decreto-Lei 8.561/1946, que devol- judiciária, ao tornar explícito e sem restrições que a lei não poderia “excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer
veu aos membros do Supremo Tribunal Federal o poder de escolher, entre seus pares, o presidente e o vice-presidente do lesão de direito individual”.
órgão. Com a Lei Constitucional 14/1945, Linhares extinguiu o Tribunal de Segurança Nacional, restituindo aos órgãos Em se tratando de controle judicial, restaurou-se, ainda, a competência do Supremo Tribunal Federal, por via
do Poder Judiciário as competências assumidas por ele. Por fim, garantiu eleições livres no país, criando condições para recursal extraordinária, para aferir a validade de decisões, atos ou leis frente à Constituição, conforme as seguintes atri-
que Eurico Gaspar Dutra fosse eleito presidente da nação. buições do art. 101:

“III – julgar em recurso extraordinário as causas decididas em única ou última instância por outros tribunais ou juízes:
O ministro José Linhares exerceu, concomitantemente, a Presidência a) quando a decisão fôr contrária a dispositivo desta Constituição ou à letra de tratado ou lei federal;
do STF e do país. Foi o primeiro ministro do Supremo a assumir a b) quando se questionar sôbre a validade de lei federal em face desta Constituição, e a decisão recorrida negar aplicação à
Presidência da República. Nessa condição, nomeou três ministros lei impugnada;
para o Tribunal (Lafayette de Andrada, Edgard Costa e Ribeiro da c) quando se contestar a validade de lei ou ato de govêrno local em face desta Constituição ou de lei federal, e a decisão
Costa). Foi o ministro que mais vezes esteve na Presidência da Supre­ recorrida julgar válida a lei ou o ato;
ma Corte: quatro (1945, 1946-1949, 1951-1954 e 1954-1956). d) quando na decisão recorrida a interpretação da lei federal invocada fôr diversa da que lhe haja dado qualquer dos
outros tribunais ou o próprio Supremo Tribunal Federal.”

Ao mesmo tempo que Dutra tomava posse na Presidência da A Constituição de 1946 estabeleceu, em seu art. 99, o requisito da idade mínima de 35 anos para quem viesse
República, abriam-se os trabalhos para uma nova Assembleia Nacional a ocupar o posto de ministro do Supremo Tribunal Federal, e, no art. 95, § 1º, aposentadoria compulsória aos 70 anos.
Constituinte. Em ambiente de livre debate, a 18 de setembro de 1946, Essa exigência, no que se refere aos ministros do Supremo, dos Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União,
foi promulgada a quinta Constituição brasileira, quarta da era republicana. Ministro José Linhares deixaria de vigorar com a Emenda Constitucional 88/2015, que elevou em 5 anos a idade-limite de aposentadoria.

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Antigo plenário do Supremo Tribunal Federal, instalado na avenida Rio Branco, n. 241, Atual plenário do Supremo Tribunal Federal, situado na praça dos Três Poderes, em Brasília/DF
onde hoje funciona o Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro/RJ

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TRANSFERÊNCIA DA SEDE DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA BRASÍLIA

Antes sediado na avenida Rio Branco, n. 241, na cidade do Rio de Janeiro/RJ, o Supremo Tribunal Federal trans-
feriu-se para Brasília em 21 de abril de 1960, por consequência da mudança da capital federal, inaugurada na mesma data.
A nova sede teria lugar na praça dos Três Poderes, em edifício de estruturas modernas que compunha, com o Palácio do
Planalto e o Congresso Nacional, o projeto arquitetônico idealizado por Oscar Niemeyer.
Por emblemático, foi posta à frente do edifício a escultura “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti. Atualmente, o
complexo conta com o Edifício-Sede, reservado à Presidência e ao Plenário, e outras duas instalações, os Anexos I e II,
que abrigam, além da Turmas, os gabinetes dos ministros e as dependências das secretarias.
A mudança da antiga sede da cidade do Rio não foi consensual, tendo sido à época objeto de muito debate entre
os membros do Tribunal. Chegou a ser instituída uma comissão para tratar do assunto, presidida pelo ministro Nelson
Hungria. Este, ao final dos trabalhos, apresentou parecer favorável à transferência e submeteu-o à apreciação do Plenário.
A mudança da Corte para Brasília foi aprovada por 7 votos favoráveis e 4 contrários, em 13 de abril de 1960, na última
sessão administrativa realizada no prédio da avenida Rio Branco.
Na oportunidade da inauguração da nova sede, foi realizada a 12ª Sessão Extraordinária do Supremo Tribunal
Federal, com a presença de diversas autoridades, ocasião em que o presidente da Corte, ministro Barros Barreto, proferiu
discurso solene do qual se pode destacar:

“Cabe-me, neste momento, a honra excepcional de inaugurar a sede do Supremo Tribunal Federal na nova
capital da República dos Estados Unidos do Brasil. Honra que sobremodo me distingue, como magistrado e
como brasileiro. (...) esta obra monumental parece simbolizar, na sua imponência, a magnitude e importância
de um dos Podêres da República, a Justiça, em sua cúpula. (...) Eis o Pretório Excelso em lugar condigno, para
cumprir a sua nobre e augusta missão, tão nobre e augusta quanto vital para a nossa instituição democrática
(...). (...) Neste Planalto e nesta hora, em que, entre festejos e aplausos, se instala a Capital do País, espero venha
a surgir uma nova era, a que tanto aspiramos, para os melhores destinos da nossa Pátria (...).”

Inauguração da sede do Supremo Tribunal Federal em Brasília/DF, 1960

128 129
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Ministros que foram aposentados

DURANTE O REGIME MILITAR

Após a deposição do presidente João Goulart e a tomada do poder pelos militares, em 1º de abril de 1964, tem
início período na história brasileira marcado por autoritarismo e profundas mudanças na ordem político-institucional
do país, com reflexos em todos os domínios da sociedade.
A instauração do regime militar implicou a ruptura com o regime democrático sob o qual o Brasil vinha sendo
governado desde 1946. A assunção e permanência dos militares no poder traduziu-se pela imposição de governos centra-
lizadores que se sobrepuseram pela força aos demais Poderes.
A cargo de generais, o Poder Executivo federal passou a governar por atos institucionais (AIs), espécie de decretos
por meio dos quais se buscava legitimar e conferir legalidade ao exercício político da classe militar, arrogando-lhe poderes
supraconstitucionais. Fortalecida a figura do presidente da República, por tais atos ainda se suprimiram inúmeros direitos
fundamentais até então conquistados. No AI 1/1964, por exemplo, dispôs-se que as garantias constitucionais ficariam Evandro Lins Hermes Lima Victor Nunes
suspensas por seis meses, tempo que, alongado por expedientes seguintes, duraria de fato, para muitas dessas garantias,
por mais de vinte anos.
O AI 2/1965 elevou a composição do Supremo Tribunal Federal para 16 ministros, número depois ratificado
pela Constituição de 1967. Já o AI 5/1968 suspendeu as garantias constitucionais da vitaliciedade, inamovibilidade e
Ministros que pediram aposentadoria
estabilidade (art. 6º) e concedeu ao presidente da República, no parágrafo primeiro do artigo, o poder de aposentar os
titulares dessas garantias. Desse modo, foram aposentados – por decreto de 16 de janeiro de 1969 – três ministros da
Corte: Evandro Lins, Hermes Lima e Victor Nunes. Como forma imediata de protesto, dois ministros pediram aposen-
tadoria: Gonçalves de Oliveira e Lafayette de Andrada. Apesar de vagos, seus lugares não foram preenchidos por força
do AI 6/1969, que reduziu novamente para onze o número de ministros da Corte, restabelecendo a composição anterior
à Carta de 1967 e ao AI 2/1965, prevista na Constituição democrática de 1946.
Em março de 1971, o ministro Adaucto Cardoso também pediria sua saída do Tribunal por considerar incons-
titucional o Decreto-Lei 1.077/1970, que estabelecia a censura prévia no país. Nesse tocante, é de observar que vários
ministros da Corte mantiveram atitude de contrariedade aos atos de arbítrio praticados pelas classes armadas durante o
regime militar que vigorou no Brasil até a redemocratização.

Gonçalves de Oliveira Lafayette de Andrada

130 131
O CASO MAURO BORGES E A DEFESA dispôs expressamente, quanto ao Poder

DAS LIBERDADES POLÍTICAS Judiciário, que ficaria suspensa a garantia


de habeas corpus para os casos de crimes
políticos e contra a segurança nacional e
que nenhuma prática levada a termo com
Em termos de prestação jurisdicional, um dos julgamentos mais lembrados do período refere-se à apreciação do base no ato poderia ser objeto de aprecia-
Habeas Corpus 41.926/1964, impetrado no primeiro ano do governo militar, em favor do então governador de Goiás, ção judicial.
Mauro Borges. Não obstante fosse coronel do Exército e tivesse aderido ao novo regime, Mauro Borges parecia não contar Diante da concentração de poder
com o apoio de patentes dominantes da cúpula militar. nas mãos do Executivo e de tamanha res-
Investigado em inquérito policial militar sob a suspeita de que teria incorrido na prática de atos contra a segu- trição à atividade jurisdicional, o Judiciário
rança nacional, a defesa de Mauro Borges, com fundado receio de que o afastassem do governo de Goiás, interpôs habeas nacional viu-se em situação de franco dese-
corpus preventivo ao Supremo Tribunal Federal, alegando que o paciente, na qualidade de governador, detinha foro pri- quilíbrio, impedido de exercer com a mesma
vilegiado, razão por que não poderia ser processado nem julgado pela Justiça Militar. A competência para tal, conforme autonomia e independência tradicionais a
argumentação fundada em dispositivos da Constituição estadual, seria da Assembleia Legislativa do Estado, nos crimes tutela dos bens jurídicos maiores consagra-
de responsabilidade; e do Tribunal de Justiça estadual, nos crimes comuns, com autorização prévia da mesma Assembleia. dos nas leis e na Constituição. No que toca
Deferida a liminar pelo ministro Gonçalves de Oliveira – a primeira em habeas corpus na história do Supremo ao Supremo Tribunal Federal, cumpria-lhe,
Tribunal Federal, por analogia a similar providência acauteladora prevista para o mandado de segurança, “irmão gêmeo” mesmo nesse espectro mais limitado de
do habeas corpus, nas palavras do relator –, a unanimidade dos ministros presentes o seguiu no julgamento em Plenário, ação, oferecer justiça com as armas que lhe
concedendo a ordem no sentido de que nem a Justiça Militar nem a comum poderiam julgar o paciente sem prévia restavam e no espaço que podia.
manifestação da Assembleia Estadual. É fato que as coações e os abu-
Em que pese assegurado por essa decisão, o governador Mauro Borges foi retirado do cargo, por ordem do presi- sos de poder grassaram durante todo o
dente Castello Branco, que, em 26 de novembro de 1964, três dias após o julgamento do Supremo, decretou intervenção período militar, e o Tribunal, por conse-
federal no estado de Goiás, ocasião em que foi nomeado como interventor o então subchefe do Gabinete Militar da quência, muitas vezes foi contido pelos
Presidência, coronel Carlos Meira Matos. atos de exceção. Contra um movimento
Conquanto o Executivo federal militar não tenha obedecido ao que sentenciado, fica o registro da atuação des- que se impunha pela força, só lhe faria
temida do Tribunal em primar pela defesa da ordem jurídica e das liberdades políticas. Não por acaso, três dos ministros frente um contramovimento de potência
que acompanharam o relator em tal julgamento – Evandro Lins, Hermes Lima e Victor Nunes, os quais proferiram votos similar ou superior. Em tais condições,
magistrais em favor dos direitos e garantias democráticas, rememorando vários dos casos que deram corpo à doutrina para lembrar a expressão espirituosa do
do habeas corpus brasileira – viriam a ser jubilados em janeiro de 1969, por decreto baseado no mais duro dos atos, o Ato ministro Nelson Hungria (membro da
Institucional 5, que pôs abaixo o estado de direito no Brasil. Corte de 1951 a 1961), uma ou outra
Ao conceder amplos poderes ao presidente da República para dissolver o Legislativo em todas as suas esferas, liminar judicial poderia ser concedida, Ementa do acórdão no qual o Supremo Tribunal Federal deferiu habeas
nomear interventores para os estados e munícipios, suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos por dez anos, como um “afugentar de leões com o sa­ corpus em favor do governador do estado de Goiás, Mauro Borges
cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais, além de legislar em todas as matérias, o Ato Institucional 5/1968 cudir das togas”.

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A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E tanto relevo como a de 1988. Nela foi atribuída ao Tribunal, como função precípua, a guarda da Constituição (art. 102),

O FORTALECIMENTO INSTITUCIONAL competência que pode ser exercida de diferentes formas. Em sede originária, a mais comum se dá pela apreciação, em
tese, da ação direta de inconstitucionalidade (ADI) de lei ou ato normativo federal ou estadual. Se antes esse tipo de
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL controle só podia ser realizado a requerimento do procurador-geral da República, agora sua propositura seria estendida
a outras autoridades e entes da sociedade. Já pela via recursal, com maior incidência ao recurso extraordinário, a defesa da
Constituição se daria, entre outras possibilidades, pela apreciação de pleitos contra decisões que lhe cheguem em última
A Constituição Federal de 1988 é marco dos mais importantes na história política brasileira. Foi fruto de exaustivo instância e sobre as quais se argua inconstitucionalidade.
trabalho da Assembleia Nacional Constituinte, a qual teve início em 1º de fevereiro de 1987, em sessão presidida pelo Em matéria de controle abstrato da constitucionalidade, o Texto Magno de 1988 outorgou ao Supremo Tribunal
ministro do Supremo Moreira Alves, presidente da Corte, e término em 5 de outubro do ano seguinte, com a promulga- novos meios de exercê-lo, a saber, pelo julgamento da ação de inconstitucionalidade por omissão (ADO) e da arguição
ção da Carta pelos congressistas. Seu texto consolida o processo de redemocratização no País após mais de duas décadas de descumprimento de preceito fundamental (ADPF). Além disso, a Emenda Constitucional 3/1993 introduziu a ação
de regime autoritário. declaratória de constitucionalidade (ADC), outra forma de controle concentrado.
O deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, batizou a nova Carta de Cidadã, aludindo Essa posição de proeminência como principal órgão de defesa constitucional, aliada ao papel de cúpula em guiar
à participação da sociedade civil em sua elaboração e à orientação de defesa dos direitos do cidadão por que o texto constitu- os caminhos do Poder Judiciário, concorreu para que o Supremo Tribunal Federal adquirisse, no esquadro triangular dos
cional se guiou. A Constituição de 1988 trouxe entre seus fundamentos (art. 1º) a dignidade da pessoa humana, a cidadania Poderes da República, maior responsabilidade institucional na proteção dos direitos fundamentais do cidadão, na garantia
e o pluralismo político. Entre seus objetivos (art. 3º), destacam-se o de “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e o de da ordem jurídica e na manutenção da estabilidade democrática.
“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. A essas conquistas somaram-se outras com o passar dos anos. A promulgação da Emenda Constitucional 45, de
Os capítulos referentes aos direitos individuais, sociais e políticos – arrolados no título consagrado aos direitos 8 de dezembro de 2004, por exemplo, promoveu reformas na estrutura do Judiciário, criando como órgão interno ao
e garantias fundamentais – são considerados verdadeiras joias sagradas do direito brasileiro, fazendo com que essa Carta Poder o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), acrescido na forma do art. 103-B da CF/1988. Sem competência jurisdi-
Magna seja vista como uma das mais avançadas do mundo. Além de estabelecer limites para a ação estatal no que se refere cional, incumbem-lhe funções de natureza administrativa e fiscalizatória. Sua composição é de quinze membros, entre
ao livre exercício das liberdades civis e políticas, impõe ao mesmo Estado a obrigação de intervir para a proteção, o bem- magistrados, procuradores, advogados e cidadãos, com mandato de dois anos, admitida uma recondução, reunidos em
-estar e o desenvolvimento dos indivíduos. sede na capital da República e sob a presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal.
A ela também coube fortalecer a instituição do Poder Judiciário, com destaque para os comandos voltados a Essa mesma emenda instituiu a súmula vinculante, com o fim de prevenir a multiplicação de processos judiciais
garantir a independência funcional dos magistrados e a autonomia administrativa e financeira dos tribunais (art. 99). que versem questão constitucional já decidida pelo Supremo Tribunal Federal e evitar a insegurança jurídica decorrente
Assim, o Judiciário pôde tornar-se mais capaz para a proteção de direitos e a efetivação das garantias constitucionais do do dissenso judiciário ou administrativo acerca do mesmo tema. Assim, ante a repetição de julgados sobre matéria cons-
livre acesso à Justiça e do devido processo legal, premissas basilares ao regime democrático. titucional, poderá o Tribunal, a requerimento ou de ofício, pela aceitação mínima de dois terços dos ministros, editar
No plano das garantias constitucionais foram criados novos remédios jurídicos, como o mandado de segurança súmula com força normativa e de caráter vinculante quanto a todo o Judiciário e à administração pública. Caso haja
coletivo (art. 5º, LXX), o habeas data (art. 5º, LXXII) e o mandado de injunção (art. 5º, LXXI). desobediência ao enunciado sumular vinculativo aprovado, é cabida reclamação para que, julgando-a procedente, possa
No que respeita ao Supremo Tribunal Federal, nenhuma das Constituições brasileiras anteriores conferiu-lhe a Corte anular o ato ou cassar a decisão reclamada.

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Ao implementar o princípio da celeridade e racionalidade aos julgamentos proferidos pelo Supremo Tribunal Com tais novidades e as tantas outras atribuições constitucionalmente previstas para o Supremo Tribunal Federal,
Federal, a Emenda Constitucional 45/2004 previu, como requisito de admissibilidade dos recursos extraordinários, que não é com desacerto que se diz que sua autoridade institucional, nas mais diferentes hipóteses em que pode ser exercida,
fosse demonstrada a repercussão geral da matéria constitucional debatida no caso concreto. A criação desse instituto impõe-se como medida de equilíbrio e de pacificação vitais à construção de edifícios civilizatórios mais sólidos em termos
buscou que a Suprema Corte do País, órgão de cúpula do Poder Judiciário, concentrasse seus esforços no julgamento de de justiça, segurança e equidade.
questões dotadas de relevância social, política, econômica ou jurídica que ultrapassem os interesses subjetivos do processo, A história do Tribunal em tudo que lhe precede dá a nota de toda a tradição criada em favor da defesa das liber-
segundo critérios estabelecidos na legislação ordinária. Dessa forma, o Supremo Tribunal Federal pode decidir causas em dades públicas e proteção da ordem constitucional. As mudanças dos tempos contemporâneos lhe ampliam, em número
que necessária sua atuação como intérprete final da Constituição Federal. e qualidade, as possibilidades de atuação e ratificam sua razão de ser.

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a
I – processar e julgar, originariamente: prática de atos processuais;
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;
seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores,
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado, ressalvado o disposto no art. ou entre estes e qualquer outro tribunal;
52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;
permanente; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da Repú-
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o blica, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, da Mesa de uma dessas Casas Legislativas, do
habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;
de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; II – julgar, em recurso ordinário:
e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância
f ) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão;
respectivas entidades da administração indireta; b) o crime político;
g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão
h) a homologação das sentenças estrangeiras e a concessão do exequatur às cartas rogatórias, que podem ser conferidas recorrida:
pelo regimento interno a seu Presidente; a) contrariar dispositivo desta Constituição;
i) o habeas corpus, quando o coator ou o paciente for tribunal, autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;
diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.
j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; Parágrafo único. A arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente desta Constituição será apreciada
l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.”

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CURIOSIDADES SOBRE AS PRIMEIRAS ■■ A Constituição de 1988 foi promulgada em uma quarta-feira. As duas primeiras sessões colegiadas do Supremo

SESSÕES APÓS A PROMULGAÇÃO DA Tribunal Federal após a promulgação foram das Turmas, nos dias 7 e 11 de outubro, respectivamente sexta-feira
e terça-feira.
CONSTITUIÇÃO DE 1988 ■■ O Plenário se reuniu pela primeira vez na vigência da Constituição de 1988 uma semana depois de sua promulgação,
no dia 12 de outubro, feriado nacional (Lei 6.802/1980).
■■ Nessa sessão, em questão de ordem suscitada, entre outras, na Representação 1.639/RS, o Plenário decidiu manter
o entendimento de que não cabia declaração de inconstitucionalidade, em abstrato, de lei ou ato normativo em
Composição Plenária face de Constituição já revogada. Com apoio na decisão, o colegiado julgou prejudicadas inúmeras representações
pendentes de julgamento, limpando a pauta do Tribunal.
■■ A primeira ação direta de inconstitucionalidade (ADI 1/RO) foi protocolada no dia seguinte ao da promulgação da
Ministro Rafael Mayer Constituição, sendo distribuída ao ministro Célio Borja. O julgamento da ação ocorreu em 24 de fevereiro de 1992,
(presidente) em decisão monocrática que negou seguimento ao pedido.
■■ O primeiro habeas data (HD 1/DF) também foi protocolado no dia seguinte ao da promulgação. O pedido foi
julgado em 13 de outubro de 1988.
■■ Igualmente, o primeiro mandado de injunção (MI 1/DF) foi protocolado em 6 de outubro de 1988. O julgamento
Ministro Djaci Falcão ocorreu em poucos dias: em 19 de outubro, o relator, ministro Francisco Rezek, proferiu decisão monocrática em
Ministro Moreira Alves
(decano) que negou seguimento ao pedido.
■■ A primeira arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 1/RJ) foi protocolada em 27 de janeiro
de 2000. A relatoria foi distribuída ao ministro Néri da Silveira. O mérito não chegou a ser examinado pelo
Ministro Néri da Silveira Tribunal, pois a ação foi julgada prejudicada em questão de ordem suscitada pelo ministro relator no dia 3 de
Ministro Oscar Corrêa
(vice-presidente)
fevereiro de 2000.

Ministro Aldir Passarinho Ministro Francisco Rezek

Ministro Sydney Sanches Ministro Octavio Gallotti

Ministro Carlos Madeira Ministro Célio Borja

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 1

Procedência: Requerente:
Rondônia Governador do estado de Rondônia

Relator: Advogado:
Ministro Célio Borja Erasto Villa Verde de Carvalho Primeira ação direta de
inconstitucionalidade
Requeridos: ajuizada com essa
Governador e Assembleia Legislativa do estado de Rondônia nomenclatura processual

Em 6 de outubro de 1988, o então governador do estado de Rondônia, Jerônimo Garcia de Santana, ajuizou a Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 1, em face da Lei estadual 139/1986, relativamente a seu art. 2º, que alterava o
caput do art. 86 do Decreto-Lei estadual 8/1982; à expressão “ou privado”, contida nos §§ 1º e 2º acrescentados ao art. 89
do mesmo decreto-lei; e à expressão “a estes incorporada” do art. 90 do mesmo diploma legal, com a redação que lhe foi
dada pelo art. 4º da mencionada lei. Requereu, ainda, a interpretação do inciso III do art. 89 do Decreto-Lei estadual
8/1982, com a redação que lhe foi dada pelo Decreto-Lei estadual 56/1983.
O julgamento da ação ocorreu em 24 de fevereiro de 1992, por meio de despacho em que o ministro relator lhe
negou seguimento em razão da impossibilidade jurídica do pedido. A decisão foi fundamentada no julgamento da Ação
Direta de Inconstitucionalidade 2 (protocolada em 12 de outubro de 1988, com relatoria distribuída ao ministro Djaci
Falcão), que reiterou antiga orientação, no sentido de que é inviável a análise em abstrato da constitucionalidade de leis
e atos normativos anteriores à Constituição Federal vigente.
O Tribunal aplicou, portanto, a tese da revogação de lei anterior à Constituição que a contrarie. O Supremo Tribu-
nal Federal não adota a tese da inconstitucionalidade superveniente. Entende que lei anterior não pode ser inconstitucio-
nal em relação à Constituição superveniente, pois o vício de inconstitucionalidade congênito deve ser contemporâneo à
Constituição em vigor quando da elaboração da lei tida por maculada.

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ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 1

Procedência: Arguente:
Rio de Janeiro Partido Comunista do Brasil (PC do B)

Relator: Advogados:
Néri da Silveira Rodrigo Lopes e outro Primeira arguição de
descumprimento de preceito
Arguido: fundamental ajuizada no
Prefeito do município do Rio de Janeiro Supremo Tribunal Federal

Em 27 de janeiro de 2000, o PC do B protocolou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental


(ADPF) 1 contra ato do prefeito do município do Rio de Janeiro, que vetara o art. 3º resultante de emenda legislativa
feita ao Projeto de Lei 1.713-A/1999 para alterar a redação dos arts. 55, 61, 64 e 67 da Lei 691/1984 (Código Tributário
Municipal) e do art. 6º da Lei 2.687/1998.
O arguente alegou como descumprido o preceito fundamental da “separação de poderes”, previsto no art. 2º da
Constituição da República de 1988. Entretanto, segundo o voto proferido pelo relator, embora o veto seja um ato do
Poder Executivo, não é considerado ato do poder público nos termos do art. 1º da Lei 9.882/1999, logo não é possível
impugná-lo por meio de arguição de descumprimento de preceito fundamental. Afinal, no processo legislativo, o ato
de vetar, por motivo de inconstitucionalidade ou de contrariedade ao interesse público, assim como a faculdade do Le-
gislativo de manter ou rejeitar o veto são procedimentos adstritos à esfera de independência dos Poderes. Há, portanto,
impossibilidade de intervenção antecipada do Judiciário, uma vez que o projeto de lei não é lei, tampouco ato normativo.
Diante disso, em 2 de fevereiro de 2000, o Tribunal, por unanimidade, resolvendo questão de ordem, não conheceu
da arguição de descumprimento de preceito fundamental, nos termos do voto do relator. Ficou, assim, prejudicado o
pedido de concessão da medida liminar.

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MANDADO DE INJUNÇÃO 1

Procedência: Impetrante:
Distrito Federal Associação Brasileira de Agências de Viagens
(ABAV) – Conselho Nacional

Relator: Advogado: Primeiro mandado de


Ministro Francisco Rezek Alberto Vicente Mascaro injunção impetrado ao
Supremo Tribunal Federal

Impetrado:
Estabelecimentos bancários

Em 6 de outubro de 1988, a ABAV ajuizou o Mandado de Injunção (MI) 1, requerendo ao Supremo Tribunal
Federal a declaração de que os estabelecimentos bancários públicos ou privados de todo o país estavam impedidos de
operar no mercado de turismo até que lei específica assim o permitisse.
Com fulcro nos arts. 5º, LXXI, e 192, I, da CF/1988, a associação alegou que as instituições financeiras estariam
agindo em confronto com o texto constitucional ao exercerem atividades na área de turismo sem autorização de lei com-
plementar.
Por meio de decisão liminar proferida em 19 de outubro de 1988, o ministro relator negou seguimento ao pedido,
tendo em vista que a impetrante não havia indicado qual seria o direito subjetivo, a liberdade ou a prerrogativa resultante
do referido art. 192, I, nem de que modo isso seria frustrado pela falta de imediata regulamentação.

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FUNCIONAMENTO DA SUPREMA CORTE Composição do Poder Judiciário

O Supremo Tribunal Federal, órgão de cúpula do Poder Judiciário brasi­leiro, tem sede na Capital Federal, Bra-
sília/DF, e jurisdição em todo o território nacional. Também compõem o Poder Judiciário do Brasil os seguintes órgãos:
STF
Conselho Nacional de Justiça; Superior Tribunal de Justiça; tribunais regionais federais e juízes federais; Tribunal Supe- Supremo Tribunal Federal
rior do Traba­lho; tribunais regionais do Trabalho e juízes do Trabalho; Tribunal Superior Eleitoral; tribunais regionais
eleitorais e juízes eleitorais; Superior Tribunal Militar; tribunais e juízes militares; e tribunais e juízes dos estados e do
Distrito Federal e territórios.
A Constituição de 1988 estabelece, no art. 102, que ao Supremo Tribunal Federal compete, precipuamente, a guarda CNJ
da Constituição Federal. Entre as competências constitucionais do Supremo Tribunal Federal, destaca-se a atribuição de Conselho Nacional
de Justiça
julgar a ação direta de inconstitucionalidade, a ação declaratória de constitucionalidade, a arguição de descumprimento
de preceito fundamental da própria Constituição e a extradição solicitada por Estado estrangeiro. No Supremo Tribunal
são julgados, ainda, no caso de infrações penais comuns, o presidente da República, o vice-presidente, os membros do
Congresso Nacional, os ministros do Supremo e o procurador-geral da República, entre outros. STJ TSE TST STM
O art. 102, I, f, da Constituição Federal atribui ao Supremo Tribunal Federal a competência originária para Superior Tribunal Tribunal Superior Tribunal Superior Superior Tribunal
processar e julgar “as causas e os conflitos entre a União e os estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, de Justiça Eleitoral do Trabalho Militar

inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.


Vale ressaltar, no entanto, que, segundo a jurisprudência firmada pela própria Corte Suprema, a aplicabilidade
da norma constitucional constante do art. 102, I, f, restringe-se, tão somente, aos litígios cuja potencialidade seja capaz
de pôr em risco o equilíbrio federativo ou a harmonia que deve prevalecer entre os entes da Federação.
Além disso, no que se refere ao processo de impeachment do presidente da República, compete ao presidente TJs TRFs TREs TRTs TJMs
do Supremo Tribunal Federal presidir a sessão de julgamento no Senado Federal (CF/1988, art. 52, parágrafo único). Tribunais de Justiça Tribunais Regionais Tribunais Regionais Tribunais Regionais Tribunais de Justiça
dos estados Federais Eleitorais do Trabalho Militar12
O processo de impeachment tem várias peculiaridades. Por se tratar de processo político, sua instauração se dará exclusi-
vamente com a autorização da Câmara dos Deputados (CF/1988, art. 51, I) e, somente então, o Senado Federal poderá
dar prosseguimento à instauração do processo (CF/1988, art. 52, I). É importante observar que, no exercício dessa prer-
rogativa, o Senado Federal funcionará como um tribunal, sob a presidência do presidente do Supremo Tribunal Federal
(CF/1988, art. 52, parágrafo único), cabendo-lhe a competência para julgar e processar o presidente da República nos
crimes de responsabilidade. Juiz de direito Juiz federal Juiz eleitoral Juiz do Trabalho Juiz-auditor
Grande parte das decisões do Supremo Tribunal, hoje, é proferida em grau recursal, no âmbito de recurso
extraordinário e de agravo de instrumento, em julgamentos que examinam a constitucionalidade de decisões emanadas
dos demais órgãos judiciários e de atos do poder público em geral.
12 Nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

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O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo da Justiça brasileira, tem desempenhado papel imprescindível na
Mapa de assentos no Plenário do Supremo Tribunal Federal13 garantia dos direitos fundamentais e na defesa da Constituição da República, proferindo decisões que, em face de sua
notável repercussão, conformam a própria atividade dos Poderes da República, além de influírem na vida de todas as
pessoas e de todos os cidadãos em nosso país.
São órgãos do Supremo Tribunal Federal o Plenário, as duas Turmas e o Presidente. O Plenário é composto
por onze ministros e é presidido pelo presidente do Tribunal. As Turmas são constituídas, cada uma, de cinco ministros,
Ministro presidente excluído o presidente do Tribunal. A Turma é presidida pelo ministro mais antigo entre seus membros, pelo período de
um ano, vedada a recondução, até que todos os integrantes hajam exercido a presidência, observada a ordem decrescente
de antiguidade.
Os ministros se reúnem três vezes durante a semana para o julgamento de processos. Às terças-feiras, ocorrem as
sessões das duas Turmas de julgamento. Às quartas e quintas-feiras, os onze ministros reúnem-se nas sessões do Tribunal Pleno.
Ministro decano Ministro

Ministro Ministro Mapa de assentos nas Turmas do Supremo Tribunal Federal14

Primeira Turma Segunda Turma


Ministro Ministro
Ministro Ministro
presidente da Turma presidente da Turma

Ministro Ministro
Ministro Ministro
Ministro Ministro
mais antigo mais antigo

Ministro Ministro mais moderno


Ministro Ministro
Ministro Ministro
mais moderno mais moderno

13 Nos termos do art. 144 do Regimento Interno, “o Presidente tem assento à mesa, na parte central (...). Os demais Ministros sentar-se-ão, pela 14 Nos termos do art. 148 do Regimento Interno, nas sessões das Turmas, “o Presidente tem assento à mesa, na parte central (...). Os demais
ordem decrescente de antiguidade, alternadamente, nos lugares laterais, a começar pela direita”. Ministros sentar-se-ão, pela ordem decrescente de antiguidade, alternadamente, nos lugares laterais, a começar pela direita”.

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SISTEMA DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE

A jurisdição constitucional no Brasil pode ser caracterizada atualmente pela originalidade e diversidade de instru-
mentos processuais destinados à fiscalização da constitucionalidade dos atos do poder público e à proteção dos direitos
fundamentais, como o mandado de segurança – criação genuína do sistema constitucional brasileiro –, o habeas corpus,
o habeas data, o mandado de injunção, a ação civil pública e a ação popular. Essa diversidade de ações constitucionais
próprias do modelo difuso é ainda complementada por uma variedade de instrumentos voltados ao exercício do controle
abstrato de constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal, como a ação direta de inconstitucionalidade, a ação
direta de inconstitucionalidade por omissão, a ação declaratória de constitucionalidade e a arguição de descumprimento
de preceito fundamental.

CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE

O modelo de controle abstrato adotado pelo sistema brasileiro concentra, no Supremo Tribunal Federal, a com-
petência para processar e julgar as ações autônomas nas quais se apresentem controvérsias constitucionais.
A Constituição Federal de 1988 prevê, no art. 102, I, a, como ações típicas do controle abstrato de constituciona-
lidade, a ação direta de inconstitucionalidade, a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, a ação declaratória de
constitucionalidade e, no art. 102, § 1º, a arguição de descumprimento
de preceito fundamental.
De acordo com o art. 103 da Constituição, têm legitimidade
para a propositura dessas ações o presidente da República, a Mesa
do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa da
Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal,
o governador de estado ou do Distrito Federal, o procurador-geral da
República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil,
o partido político com representação no Congresso Nacional e as
confederações sindicais ou entidades de classe de âmbito nacional.
6ª edição da obra A Constituição e o Supremo Edifício-Sede do Supremo Tribunal Federal, Brasília/DF

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE constitucionalidade da lei. Assim, não se afigura admissível a propositura de ação declaratória de constitucionalidade se
não houver controvérsia ou dúvida relevante quanto à legitimidade da norma.
A ação direta de inconstitucionalidade é instrumento destinado à declaração de inconstitucionalidade de lei ou O parâmetro de controle da ação declaratória de constitucionalidade é, exclusivamente, a Constituição vigente.
ato normativo federal ou estadual. A ação declaratória de constitucionalidade também está regulamentada pela Lei 9.868/1999.
O parâmetro de controle da ação direta de inconstitucionalidade é, exclusivamente, a Constituição vigente. Da mesma maneira que na ação direta de inconstitucionalidade, na ação declaratória de constitucionalidade
A legislação que regulamenta o instituto da ação direta de inconstitucionalidade (Lei 9.868/1999) prevê a pos- também há a possibilidade de o relator admitir a participação de amici curiae no processo e de realizar audiências públicas.
sibilidade de o relator admitir a participação de amicus curiae no processo, bem como de realizar audiências públicas para A Lei 9.868/1999, no art. 21, torna possível ao Supremo Tribunal, por meio de medida cautelar, determinar a
que se ouçam setores da sociedade, principalmente os especializados no assunto em discussão. juízes e tribunais a suspensão do julgamento de processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da
As decisões proferidas em ação direta de inconstitucionalidade têm eficácia ex tunc, erga omnes e efeito vinculante ação declaratória de constitucionalidade até julgamento definitivo.
para todo o Poder Judiciário e para todos os órgãos da administração pública direta e indireta. Ressalte-se que o efeito As decisões proferidas em ação declaratória de constitucionalidade têm eficácia ex tunc e erga omnes e efeito vin-
vinculante não abrange o Poder Legislativo. culante para todo o Poder Judiciário e para todos os órgãos da administração pública direta e indireta.
O efeito vinculante da decisão permite que, quando desrespeitada por algum órgão do Judi­ciário ou do Executivo, Também na ação declaratória de constitucionalidade, existe a possibilidade de que, nos casos em que a decisão
seja ajuizada reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, para fazer valer a autoridade da decisão. com efeitos ex tunc importe em violação severa da segurança jurídica ou de outro valor de excepcional interesse social, o
A Lei 9.868/1999, que regulamenta a ação direta de inconstitucionalidade, também prevê, no art. 27, a possibili- Plenário do Tribunal module os efeitos das decisões.
dade de o Plenário do Tribunal, tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, por maioria
de dois terços dos seus membros, modular os efeitos das decisões no âmbito do controle abstrato de normas.
A utilização dessa técnica de modulação de efeitos permite ao Supremo Tribunal Federal declarar a inconstitu- AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO
cionalidade de norma: a) a partir do trânsito em julgado de decisão (declaração de inconstitucionalidade ex nunc); b) a
partir de momento posterior ao trânsito em julgado, a ser fixado pelo Tribunal (declaração de inconstitucionalidade com A Constituição de 1988 atribuiu particular significado ao controle de constitucionalidade da chamada omissão
eficácia pro futuro); e c) sem a pronúncia de nulidade da norma. do legislador. Por esse motivo, o constituinte introduziu, no art. 103, § 2º, sistema de controle abstrato da omissão, con-
O Supremo Tribunal tem evoluído na adoção de novas técnicas de decisão no controle de constitucionalidade. Além sistente na ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
das muito conhecidas técnicas de interpretação conforme à Constituição, há a declaração de nulidade parcial sem redução de Trata-se de instrumento destinado à aferição da inconstitucionalidade por omissão dos órgãos competentes
texto, a declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade, a tese da “lei ainda constitucional” e o apelo ao legislador. para a concretização de determinada norma constitucional, sejam eles federais ou estaduais, com atividade legislativa
ou administrativa, desde que a ausência da lei regulamentadora possa, de alguma maneira, comprometer a efetividade
da Constituição.
AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE O parâmetro de controle da ação direta de inconstitucionalidade por omissão é o mesmo da ação direta de
inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionalidade, ou seja, a Constituição vigente.
A ação declaratória de constitucionalidade é instrumento destinado à declaração de constitucionalidade de lei À Lei 9.868/1999, que disciplina a ação direta de inconstitucionalidade, a Lei 12.063/2009 acrescentou capítulo
ou ato normativo federal. Tem-se considerado, por isso, a ação declaratória de constitucionalidade como uma ação direta para dispor sobre a ação direta de inconstitucionalidade por omissão. Da mesma forma que naquela, admite-se nesta a
de inconstitucionalidade de sinal trocado, ressaltando-se o caráter dúplice ou ambivalente dessas ações. possibilidade da participação de amici curiae e da realização de audiências públicas.
Além da legitimidade ativa em abstrato, acima apresentada, cogita-se, no caso da ação declaratória de constitu- No processo evolutivo das novas técnicas de decisão adotadas no controle abstrato de constitucionalidade, o
cionalidade, de legitimidade para agir in concreto, que se relaciona com a existência de um estado de incerteza gerado por Supremo Tribunal Federal, em 24 de janeiro de 2013, apresentou, pela primeira vez, em ação direta de inconstituciona-
dúvidas ou controvérsias sobre a legitimidade da lei. Há de se configurar, portanto, situação hábil a afetar a presunção de lidade por omissão, uma solução provisória para a omissão legislativa.

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Na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 23, na qual se questionava a omissão legislativa do Con- No primeiro caso, há o controle de normas em
gresso Nacional quanto ao dever de legislar, foi deferida medida cautelar para manter a vigência de lei complementar que caráter principal, que opera de forma direta e imediata
dispunha sobre a forma de distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE). em relação à lei ou ao ato normativo. No segundo, ques-
Em 2010, a Presidência da Corte deferiu em parte a liminar pleiteada, ad referendum do Plenário, para garantir tiona-se a legitimidade da lei tendo em vista sua aplicação
aos estados e ao Distrito Federal o cumprimento do que estabelecido no art. 159, I, a, da Constituição Federal, em con- na situação concreta (caráter incidental).
formidade com os critérios anteriormente vigentes, por mais 150 dias, desde que não sobreviesse nova disciplina jurídica. A Lei 9.882/1999, no art. 4º, § 1º, impõe que a
Posteriormente, em novembro de 2016, o Plenário do Tribunal reconheceu a possibilidade de, diante da prolon- arguição de descumprimento de preceito fundamental
gada duração do estado de omissão, tomar providências aptas a regular a matéria objeto da omissão por prazo determinado somente será admitida se não houver outro meio eficaz
ou até que o legislador editasse norma para preencher a lacuna (Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 25). de sanar a lesividade. O juízo de subsidiariedade há de ter
A Corte, por unanimidade de votos, julgou procedente a ação para declarar a mora do Congresso Nacional quanto em vista, especialmente, os demais processos objetivos já
à edição da lei complementar prevista no art. 91 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e fixou o prazo de consolidados no sistema c­ onstitucional.
12 meses para que fosse sanada a omissão. Nos termos da Lei 9.882/1999, art. 1º, caput, cabe
Nesse caso, o Supremo Tribunal, sem assumir compromisso com o exercício de típica função legislativa, passou a a arguição de descumprimento de preceito fundamental
aceitar a possibilidade de regulação provisória do tema pelo próprio Judiciário. Adotou, portanto, uma moderada sentença de para evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resul-
perfil aditivo, introduzindo modificação substancial na técnica de decisão da ação direta de inconstitucionalidade por omissão. tante de ato do poder público.
O parágrafo único do art. 1º da Lei 9.882/1999
explicita que caberá também a arguição de descumpri-
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL mento quando for relevante o fundamento da controvérsia
constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual
As mudanças ocorridas no sistema de controle de constitucionalidade brasileiro a partir de 1988 alteraram ou municipal, inclusive anteriores à Constituição (leis
radicalmente a relação que havia entre os controles concentrado e difuso. A ampliação do direito de propositura da ação pré-constitucionais).
direta e a criação da ação declaratória de constitucionalidade reforçaram o controle concentrado em detrimento do con- Assim como nos demais instrumentos de controle
trole difuso. Não obstante, subsistiu espaço residual expressivo para o controle difuso relativo às matérias não suscetíveis abstrato, o relator da arguição de descumprimento de
de exame no controle concentrado, tais como interpretação direta de cláusulas constitucionais pelos juízes e tribunais, preceito fundamental poderá admitir a participação de
direito pré-constitucional, controvérsia constitucional sobre normas revogadas, controle de constitucionalidade do direito amici curiae e convocar audiências públicas. Ressalte-se,
municipal em face da Constituição. por exemplo, a audiência pública realizada pelo Supremo
Em resposta a esse quadro de incompletude, editou-se a Lei 9.882/1999, que regulamenta a arguição de descum- Tribunal Federal na Arguição de Descumprimento de
primento de preceito fundamental, prevista na Constituição Federal, art. 102, § 1º. Preceito Fundamental 54, na qual se discutiu a questão
Como típico instrumento do modelo concentrado de controle de constitucionalidade, a arguição de descumpri- do aborto de fetos anencéfalos.
mento de preceito fundamental tanto pode dar ensejo à impugnação ou ao questionamento direto de lei ou ato normativo Aplicam-se à arguição de descumprimento de
federal, estadual ou municipal como pode acarretar provocação a partir de situações concretas que levem à impugnação preceito fundamental as técnicas de decisão e de modu- A Justiça, 1975, escultura em metal dourado, do artista Alfredo Ceschiatti,
de lei ou ato normativo. lação de efeitos já apresentadas. exposta na sede do Supremo Tribunal Federal, Brasília/DF

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CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE “conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
O modelo de controle difuso adotado pelo sistema brasileiro permite que qualquer juiz ou tribunal declare a exercício de atribuições do poder público”. O texto constitucional também prevê o mandado de segurança coletivo, que
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos, sem restrição quanto ao tipo de processo. Tal como no modelo norte- pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, por organização sindical, entidade
-americano, confere-se amplo poder aos juízes para o exercício do controle de constitucionalidade dos atos do poder público. de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa de seus membros
Ao contrário de outros modelos, o sistema brasileiro não reserva a um único tipo de ação ou de recurso a função ou associados (CF/1988, art. 5º, LXX, a e b).
primordial de proteção de direitos fundamentais, estando a cargo desse mister, principalmente, as ações constitucionais
do mandado de segurança, o habeas corpus, o habeas data, o mandado de injunção, a ação civil pública e a ação popular.
Algumas delas, por sua maior importância no sistema de proteção de direitos, serão destacadas neste tópico. HABEAS DATA

Na linha da especialização dos instrumentos de defesa de direitos individuais, a Constituição da República Fe­
HABEAS CORPUS derativa do Brasil de 1988 concebeu o habeas data como instituto destinado a assegurar o conhecimento de informações
relativas à pessoa do impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
O habeas corpus configura proteção especial às liberdades tradicionalmente oferecidas no sistema constitucional público e para permitir a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo de modo sigiloso (CF/1988, art. 5º, LXXII).
brasileiro.
No sistema atual da Constituição de 1988, o ­habeas corpus destina-se a proteger o indivíduo contra medida restritiva
à liberdade de ir e vir, por ilegalidade ou abuso de poder. A jurisprudência prevalecente no Supremo Tribunal Federal é MANDADO DE INJUNÇÃO
dominante no sentido de que não terá seguimento habeas corpus que não afete diretamente a liberdade de locomoção do
paciente. Não obstante, se a coação à liberdade individual comumente advém de atos emanados do poder público, não A Constituição de 1988 atribuiu particular significado ao controle de constitucionalidade da chamada omissão
se pode descartar a possibilidade de impetração de habeas corpus contra atos ilegais de particular, como, por exemplo, a do legislador. O art. 5º, LXXI, da Constituição previu, expressamente, a concessão de mandado de injunção sempre que
internação involuntária de paciente em clínica psiquiátrica. a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
A liberdade de locomoção há de ser entendida de forma ampla, afetando toda e qualquer medida de autoridade inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.
que possa em tese acarretar constrangimento para a liberdade de ir e vir. Atos de particulares, por sua vez, configuram A Lei 13.300/2016 disciplinou o processo e o julgamento dos mandados de injunção individual e coletivo, nos
crime de sequestro ou cárcere privado e normalmente são sanáveis por intervenção policial em favor da vítima. termos do inciso LXXI do art. 5º da Constituição Federal. Pela lei, segundo seu art. 3º, são legitimados ativos para o
mandado de injunção individual, como impetrantes, as pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos,
das liberdades ou das prerrogativas acima mencionadas. E para o coletivo: o Ministério Público; partido político com
MANDADO DE SEGURANÇA representação no Congresso Nacional; organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos um ano; e a defensoria pública, todos nos termos do art. 12 da lei.
O mandado de segurança é o instrumento processual contemplado por todos os textos constitucionais desde a Em seu art. 8º, a Lei 13.300/2016 determina que, reconhecida a mora legislativa, será deferida a injunção para:
Constituição de 193415, com exceção da Carta de 1937, e assegurado pela atual Constituição no art. 5º, LXIX, que dispõe:
“I – determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora;
15 Art. 113, 33, da Constituição de 1934; art. 141, § 24, da Constituição de 1946; art. 150, § 21, da Constituição de 1967; e art. 153, § 21, da II – estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas
Constituição de 1969.

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r­ eclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê- Desenvolvido segundo o modelo do writ of error
-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. norte-americano 16 e introduzido na ordem constitucional
Parágrafo único. O prazo será dispensado quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em brasileira por meio da Constituição de 1891, nos termos do
mandado de injunção anterior, ao estabelecido para a edição da norma.” art. 59, § 1º, a, o recurso extraordinário pode ser interposto
pela parte vencida17, no caso de ofensa direta à Constitui-
ção, declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei
AÇÃO POPULAR E AÇÃO CIVIL PÚBLICA federal ou declaração de constitucionalidade de lei estadual
expressamente impugnada em face da Constituição Federal
Além dos processos e sistemas destinados à defesa de posições individuais, a proteção judiciária pode realizar-se (CF/1988, art. 102, III, a, b e c). A Emenda Constitucional
também pela utilização de instrumentos de defesa de interesses difusos e coletivos, como a ação popular e a ação civil pública. 45/2004 passou a admitir o recurso extraor­dinário quando
A Constituição prevê a ação popular com o objetivo de anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade a decisão recorrida julgar válida lei local contestada em face
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. Conside- de lei federal (CF/1988, art. 102, III, d).
rando-se o caráter marcadamente público dessa ação constitucional, o autor está, em princípio, isento de custas judiciais
e do ônus da sucumbência, salvo comprovada má-fé (CF/1988, art. 5º, LXXIII).
A ação popular é instrumento típico da cidadania e somente pode ser proposta pelo cidadão, aqui entendido como REPERCUSSÃO GERAL
aquele que não apresente pendências no que concerne às obrigações cívicas, militares e eleitorais, que, por lei, sejam exigíveis.
A ação civil tem-se constituído em significativo instituto de defesa de interesses difusos e coletivos e, embora não No âmbito da Reforma do Judiciário, implementada
voltada, por definição, para a defesa de posições indivi­duais ou singulares, tem-se constituído também em importante pela Emenda Constitucional 45, de 2004, o art. 102, § 3º, da
instrumento de defesa dos direitos em geral, especialmente os direitos do consumidor. Constituição foi alterado para fazer constar o novo instituto
da repercussão geral, criado com o conhecido objetivo de,
ao solucionar o problema da elevada quantidade de recur-
SINGULARIDADES DO SISTEMA DE CONVIVÊNCIA ENTRE sos extraordinários, tornar mais célere, uniforme e eficaz a
OS MODELOS DIFUSO E CONCENTRADO DE CONTROLE DE prestação jurisdicional.
CONSTITUCIONALIDADE O referido dispositivo constitucional atualmente
prescreve que “no recurso extraordinário o recorrente deverá
demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A FISCALIZAÇÃO DA CONSTITUCIONALIDADE DAS
DECISÕES PROFERIDAS PELOS DEMAIS JUÍZES E TRIBUNAIS: O RECURSO EXTRAORDINÁRIO 16 O writ of error foi substituído no direito americano pelo appeal
(conferir, a propósito: HALLER, Walter. Supreme Court und
Politik in den USA. Berna, 1972, p. 105).
O recurso extraordinário consiste no instrumento processual-constitucional destinado a assegurar a verificação
17 O recurso extraordinário, assim como outros recursos, pode ser
de eventual afronta à Constituição, em decorrência de decisão judicial proferida em última ou única instância pelo Poder proposto também pelo terceiro prejudicado (Código de Processo
Judiciário (CF/1988, art. 102, III, a a d). Civil/2015, art. 996). Petições manuscritas de habeas corpus

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discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-la sido reconhecida ou quando o recurso extraordinário impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência domi-
pela manifestação de dois terços de seus membros”. nante da Corte19.
A regulamentação desse dispositivo constitucional foi realizada em 2006, pela Lei 11.418, de 19 de dezembro As decisões pela inexistência da repercussão geral são irrecorríveis, valendo para todos os recursos que versem
daquele ano, a qual acrescentou dispositivos ao Código de Processo Civil de 1973. Trata-se de mudança significativa no sobre questão idêntica20. Uma vez decidida a repercussão geral, a Presidência do Supremo Tribunal Federal deverá pro-
recurso extraordinário, cuja admissão deverá passar pela avaliação da Corte referente à repercussão geral da questão cons- mover ampla e específica divulgação do teor dessas decisões e diligenciar para a formação e atualização de banco de dados
titucional nele versada. Para efeito de repercussão geral, será considerada a existência ou não de questões relevantes do eletrônico sobre o assunto21.
ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. Haverá também
repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão contrário a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal
ou que tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos temos do art. 97 da Constituição O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E A EDIÇÃO DE SÚMULAS DOTADAS
Federal (Código de Processo Civil/2015, art. 1.035, § 3º, I e III). A adoção desse instituto ressalta a feição objetiva do DE EFEITO VINCULANTE PARA OS DEMAIS JUÍZES E TRIBUNAIS
recurso extraordinário.
A lei também passou a permitir que o Supremo Tribunal, na análise da existência de repercussão geral, admita a Desde 1963, o Supremo Tribunal Federal edita súmulas – orientações jurisprudenciais consolidadas – com o
intervenção de terceiros (amici curiae), o que foi mantido no Código de Processo Civil de 2015, art. 1.035, § 4º. objetivo de orientar a própria Corte e os demais tribunais sobre o entendimento dominante da Suprema Corte sobre
Se o Tribunal negar a existência de repercussão geral, a decisão valerá para todos os recursos sobre matéria idêntica, determinadas matérias. Até 2018, foram editadas 736 súmulas.
os quais serão indeferidos liminarmente. A Emenda Constitucional 45/2004 autorizou o Supremo Tribunal Federal a editar a denominada súmula vin-
Os tribunais de origem poderão selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encami- culante. Nos termos do art. 103-A da Constituição, a súmula vinculante deve ser aprovada por maioria de dois terços dos
nhá-los ao Supremo Tribunal Federal, sobrestando os demais processos sobre o mesmo tema. Negada a existência de votos do Supremo Tribunal (oito votos) e incidir sobre matéria constitucional que tenha sido objeto de decisões reiteradas
repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos. Por outro lado, declarada do Tribunal. A norma constitucional explicita que a súmula terá por objetivo superar controvérsia atual – sobre a vali-
a existência de repercussão geral e assim julgado o mérito do recurso extraordinário, os recursos sobrestados serão apre- dade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas – capaz de gerar insegurança jurídica e relevante multiplicação
ciados pelos tribunais de origem, que poderão declará-los prejudicados ou retratar-se (Código de Processo Civil/2015, de processos. Estão abrangidas, portanto, as questões atuais sobre interpretação de normas constitucionais ou destas em
arts. 1.035 e 1.036). face de normas infraconstitucionais.
Interessante anotar que todo o processo e julgamento quanto à repercussão geral de recursos extraordinários é A súmula vinculante, ao contrário do que ocorre no processo objetivo, decorre de decisões tomadas, em princípio,
realizado inteiramente por meio eletrônico (Lei 11.419/2006)18. Assim, segundo o Regimento Interno do Tribunal, o em casos concretos, no modelo incidental, no qual existe também, não raras vezes, reclamo por solução geral. Somente
relator do recurso submeterá aos demais ministros da Corte, por meio eletrônico, sua manifestação sobre a existência ou pode ser editada depois de decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal ou de decisões repetidas das Turmas.
não de repercussão geral. Recebida essa manifestação do relator, os demais ministros encaminhar-lhe-ão, também por Esses requisitos definem o próprio conteúdo das súmulas vinculantes. Em regra, elas serão formuladas a partir
meio eletrônico, suas manifestações sobre a questão da repercussão geral. das questões processuais de massa ou homogêneas, que envolvem matérias previdenciárias, administrativas, tributárias ou
O Regimento do Tribunal também prevê a repercussão geral presumida, que, uma vez caracterizada, dispensa até mesmo processuais, suscetíveis de uniformização e padronização. Nos termos do § 2º do art. 103-A da Constituição,
o procedimento de análise eletrônica da repercussão. Será presumida a repercussão geral quando a questão já houver a aprovação, a revisão e o cancelamento de súmulas poderão ser provocados pelos legitimados para a propositura da ação
direta de inconstitucionalidade, sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei.
18 A informatização do processo e julgamento do recurso extraordinário tornou-se possível com a publicação da Lei 11.419, de 19 de dezembro
de 2006, que regula a utilização de meios eletrônicos na transmissão de processos, de peças e de comunicação de atos processuais, mais uma
19 Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, art. 323, § 2º (redação da Emenda Regimental 21/2007).
inovação no processo judicial brasileiro. De acordo com essa lei, “os órgãos do Poder Judiciário poderão desenvolver sistemas eletrônicos
de processamento de ações judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de 20 Regimento Interno do Supremo Tribunal Fe­deral, art. 326 (redação da Emenda Regimental 21/2007).
computadores e acesso por meio de redes internas e externas” (Lei 11.419/2006, art. 8º). 21 Regimento Interno do Supremo Tribunal Fe­deral, art. 329 (redação da Emenda Regimental 21/2007).

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Como consectário do caráter vin- Até o primeiro semestre de 2018, foram editadas 56 súmulas vinculantes, uma das quais (Súmula Vinculante 30)
culante e da “força de lei” para o Poder Judi- está pendente de publicação.
ciário e para a administração, requer-se que Cabe destacar a criação, pela Resolução 381 do Supremo Tribunal Federal, publicada no Diário da Justiça Eletrônico
as súmulas vinculantes sejam publicadas no de 31 de outubro de 2008, de nova classe processual denominada proposta de súmula vinculante, que tem por finalidade
Diário Oficial da União. o processamento de proposta de edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante, nos termos do art. 103-A da
Uma vez editada a súmula, caberá Constituição Federal e da Lei 11.417/2006.
reclamação ao Supremo Tribunal Federal da A tramitação desse processo no Supremo Tribunal Federal é atípica. Os autos são encaminhados à Comissão de
decisão judicial ou do ato administrativo que Jurisprudência, que analisa os requisitos formais da proposta apresentada, antes de serem submetidos à decisão do Plenário.
contrariar seu enunciado, negar-lhe vigência
ou aplicá-lo indevidamente, sem prejuízo
de recursos ou de outros meios admissíveis A RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL CONTRA DECISÕES DOS DEMAIS JUÍZES
de impugnação (Lei 11.417/ 2006, art. 7º). E TRIBUNAIS QUE USURPEM A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL
Da mesma forma que a edição, nos DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL OU VIOLEM SUAS DECISÕES
termos da Emenda Constitucional 45/2004,
o cancelamento ou a revisão da súmula pode- A Constituição de 1988 também prevê outra ação constitucional de criação genuinamente brasileira: a recla-
rão verificar-se mediante decisão de dois ter- mação constitucional, destinada a preservar a competência do Supremo Tribunal Federal e a autoridade de suas decisões.
ços dos membros do Supremo Tribunal, de Essa reclamação é fruto de criação jurisprudencial. Afirmava-se que ela decorreria da ideia dos implied powers
ofício ou por provocação dos legitimados já deferidos pela Constituição ao Tribunal. O Supremo Tribunal Federal passou a adotar essa doutrina para a solução de
referidos (CF/1988, art. 103-A, caput e § 2º). problemas operacionais diversos. A falta de contornos definidos sobre o instituto da reclamação, portanto, fez com que
Ressalte-se que, de acordo com a Lei sua constituição inicial repousasse sobre a teoria dos poderes implícitos.
11.417/2006, no processo de edição, revi- Em 1957, aprovou-se a incorporação da reclamação ao Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 22.
são ou cancelamento de súmula vinculante A Constituição Federal de 196723, que autorizou o Supremo Tribunal Federal a estabelecer a disciplina processual
também poderá ser admitida a intervenção dos feitos sob sua competência, conferindo força de lei federal às disposições do Regimento Interno, acabou por legitimar
de terceiros (amici curiae). definitivamente o instituto da reclamação, agora fundamentada em dispositivo constitucional.
Tal como já se permite no âmbito
do controle concentrado de constituciona-
lidade (Lei 9.868/1999), o Tribunal, tendo
em vista razões de segurança jurídica ou de 22 A reclamação foi adotada pelo Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal em 2 de outubro de 1957, dentro da competência que lhe
excepcional interesse público, poderá, por dava a Constituição de 1946, no art. 97, II, quando foi aprovada proposta dos ministros Lafayette de Andrada e Ribeiro da Costa, no sentido
decisão de dois terços de seus membros (oito de incluir o instituto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, Título II, Capítulo V-A, intitulado “Da Reclamação”.
23 Cf. a Constituição Federal de 1967, art. 115, parágrafo único, c, e a Emenda Constitucional 1 de 1969, art. 120, parágrafo único, c. Pos­
ministros), restringir os efeitos vinculantes da
teriormente, a Emenda Constitucional 7, de 13-4-1977, no art. 119, I, o, sobre a avocatória, e no § 3º, c, do mesmo dispositivo, que autorizou
Escultura “A Justiça”, 1961, do artista Alfredo Ceschiatti súmula ou decidir que ela só tenha eficácia a o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal a estabelecer “o processo e o julgamento dos feitos de sua competência originária ou
partir de determinado momento. recursal e da arguição de relevância da questão federal”.

162 163
Com o advento da Carta de 1988, o instituto adquiriu, finalmente, status constitucional (CF/1988, art. 102, I, l ).
A Constituição consignou ainda o cabimento da reclamação perante o Superior Tribunal de Justiça (CF/1988, art. 105,
I,  f  ), igualmente destinada à preservação da competência da Corte e à garantia da autoridade das decisões por ela exaradas.
A Emenda Constitucional 45/2004 consagrou a súmula vinculante, no âmbito da competência do Supremo
Tribunal, e previu que sua observância seria assegurada pela reclamação (CF/1988, art. 103-A, § 3º).
O modelo constitucional adotado consagra, portanto, a admissibilidade de reclamação contra ato da adminis-
tração ou contra ato judicial em desconformidade com a súmula dotada de efeito vinculante.
A estrutura procedimental da reclamação é bastante singela e coincide, basicamente, com o procedimento ado-
tado para o mandado de segurança. As regras básicas estão previstas no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal,

Frases
arts. 156 a 162, e no Código de Processo Civil/2015, arts. 988 a 993. O CPC/2015 inovou ao estabelecer o cabimento
de reclamação para garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de incidente de assunção de competência.
Se julgada procedente a reclamação, poderá o Tribunal ou a Turma, se for o caso (Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal, art. 161): a) avocar o conhecimento do processo em que se verifique usurpação de sua competência;
b) ordenar que lhe sejam remetidos, com urgência, os autos do recurso interposto; c) cassar a decisão exorbitante de seu
julgado ou determinar medida adequada à observância de sua jurisdição.

164
“É essa magna atribuição político-institucional que faz do Supremo Tribunal Federal
o depositário da gravíssima incumbência que lhe delegou,
por soberana decisão, a própria Assembleia Nacional Constituinte:
“Essa é a tradição da magistratura brasileira. Nossa lealdade é para com
velar pela supremacia incondicional
da Carta Política a Constituição
e os princípios que ela consagra,
e zelar, permanentemente, pela preservação para com o povo brasileiro e seu futuro.”
da integridade da ordem jurídica que emerge do Ministra Ellen Gracie

texto democrático da Constituição da República.” em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

Ministro Celso de Mello


em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

“A dignidade da pessoa humana,


“(...) a Constituição de 1988
princípio insculpido no § 1º do art. 3º da

resgatou as bases do Estado Democrático de Direito,


Constituição Federal,
implica o inafastável respeito à diversidade, a fim de proteger e
a partir da restauração concreta de um sistema de valores e princípios de direitos fundamentais
propiciar o desenvolvimento individual e coletivo das pessoas.”
que hoje constitui a verdadeira essência de uma sociedade plural e democrática.”
Ministro Edson Fachin
Ministro Marco Aurélio em artigo publicado na Revista do Instituto dos Advogados do Paraná
em seu voto no Habeas Corpus 82.424

166 167
“(...) é nesse contexto que avulta a grandeza da intervenção, sempre provocada,

do Supremo Tribunal Federal, ao manter-se fiel “As garantias inscritas


ao dever funcional de, velando pela integridade
nos princípios constitucionais
da Constituição da República, são premissas da democracia.”
restaurar o primado dos direitos civis e políticos (...).” Ministra Rosa Weber
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal
Ministro Cezar Peluso
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

“Se não é suprema


a Constituição “Em várias ocasiões, no quarto de século,

por um minuto, não o será jamais.


o Supremo enfrentou com lucidez este que é
o mais pungente dilema da consciência jurídica de nosso tempo:
Ou se cumpre ela em sua inteireza e em todos os momentos, declarando-se inválidos os atos que a
contraditem, no espírito ou na letra, ou o princípio da constitucionalidade não passa de retórica
o conflito entre duas distintas categorias de direitos humanos;
jurídica sem qualquer valor efetivo e eficaz para a garantia dos cidadãos de que os direitos sobre o embate entre dois estratos da sociedade civil que se confrontam,

os quais têm certeza, máxime aqueles constitucionalmente descritos ou garantidos, não serão não raro com paixão, arvorando cada um deles

transgredidos impunemente, nem se manterá qualquer afronta às normas que os resguardam.” uma diferente bandeira de direitos rigorosamente ‘humanos’.”
Ministro Francisco Rezek
Ministra Cármen Lúcia
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal
em parecer quando procuradora do estado de Minas Gerais

168 169
“Logo que se promulgou “Os direitos fundamentais são a parte mais importante
a Constituição, do projeto constitucional de 1988,
os novos institutos foram saudados porque prestigiavam a ideia da efetividade
envolvidos os valores da liberdade, igualdade e dignidade, cuja concretização
das garantias constitucionais. O Judiciário passou a ser um ator privilegiado
é a principal missão do Supremo Tribunal Federal, diga-se, bem cumprida até aqui.”
na concretização de garantias fundamentais e dos direitos sociais.”
Ministro Marco Aurélio
Ministro Dias Toffoli no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal
em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico

“O exame comparativo da “Trouxe consigo,


Constituição de 1988 a Constituição Federal de 1988,
com aquelas que a precederam revela e permite ressaltar
uma decidida opção pela segurança,
a importância, a originalidade e o caráter inovador em detrimento da celeridade do processo.
que qualificam a nossa vigente Lei Fundamental, As garantias da ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes
elaborada e aprovada, em ambiente de plena liberdade, pelos representantes do Povo brasileiro (antes assegurados somente aos acusados),
reunidos em Assembleia Nacional Constituinte, num momento histórico impregnado de densas bem como a do contraditório (outrora restrito à instrução criminal),
significações, em que o Brasil, situando-se entre o seu passado e o seu futuro, rompeu, vitoriosamente, são todas agora o enfático apanágio de qualquer litigante,
os instrumentos autocráticos outorgados por um regime sombrio que havia aniquilado a ordem em processo judicial ou administrativo (art. 5º, LV).”
democrática em nosso País e frustrado os sonhos de liberdade de toda uma geração.” Ministro Octavio Gallotti
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal
Ministro Celso de Mello
na posse do ministro Gilmar Mendes na Presidência do Supremo Tribunal Federal

170 171
“Assumo esta Presidência,
no alvorecer de uma nova ordem jurídica, assim como definida

“A Constituição de 1988 na Constituição de 5 de outubro passado.


As profundas transformações nela consignadas apenas começam, todavia,

foi o rito de passagem para a a revelar-se, nos diversificados domínios do Poder, quanto no âmbito

maturidade institucional brasileira.” dos direitos e garantias dos cidadãos, nos sítios, sempre sensíveis,
Ministro Roberto Barroso
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal
dos direitos sociais e da ordem econômica.”
Ministro Néri da Silveira
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

“O Constituinte de 1987/ 1988 “A ampla proclamação de direitos


buscou, definitivamente, romper com o
passado, ou quando nada, esquecê-lo, desprezá-lo.
pela Constituição
serviu de estímulo a que as instituições de representação da sociedade civil se mobilizassem
Atuou como se pretendesse criar tudo do nada e tudo novo, em favor da concretização daquelas promessas constitucionais.

um Brasil novo, passado a limpo, o melhor que pudesse.” Não há dúvidas de que, a partir de 1988,
Ministro Oscar Corrêa
no livro A Constituição de 1988 – Contribuição Crítica
a sociedade civil brasileira saiu fortalecida.”
Ministro Gilmar Mendes
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

172 173
“A evolução da Jurisdição Constitucional, desde

a promulgação da Constituição de 1988, “(...) a sociedade democrática é valor insubstituível que exige,
para sua sobrevivência institucional,
baseou-se fundamentalmente na defesa dos direitos fundamentais do homem,

transformando o Supremo Tribunal Federal proteção igual à liberdade de expressão


em verdadeiro ‘garantidor das liberdades e à dignidade da pessoa humana.”
públicas e dos direitos das minorias’.” Ministro Menezes Direito
em seu voto na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 130
Ministro Alexandre de Moraes
em artigo publicado na revista eletrônica Consultor Jurídico

“A Carta Constitucional de 1988


“A função precípua de guarda da representou o marco histórico de refundação do
Constituição Estado Democrático de Direito brasileiro,
fortalecendo, de um lado, o regime político representativo, (...) e, de outro, resguardou valores
confere ao Supremo Tribunal Federal posição de enorme responsabilidade e importância
mínimos indispensáveis à própria continuidade dessa empreitada coletiva intergeracional,
na implantação e preservação da nova ordem constitucional.” consagrando direitos fundamentais de primeira, segunda e terceira gerações,
Ministro Sydney Sanches colimando a proteção da liberdade, a promoção da igualdade, a difusão da fraternidade.”
no livro A Constituição Brasileira 1988 – Interpretações
Ministro Luiz Fux
na posse do ministro Joaquim Barbosa na Presidência do Supremo Tribunal Federal

174 175
“A Constituição “A Constituição do Brasil,
avançou enormemente no que diz respeito de 1988, engajada no constitucionalismo contemporâneo,

aos direitos e garantias individuais.” protege a todos esses direitos e faz do homem a sua meta.”
Ministro Carlos Velloso
Ministro Nelson Jobim
em discurso pronunciado no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal
em entrevista ao jornal Estadão

“(...) a Constituição declara “A Constituição de 1988


que esta Corte é sua guardiã ajudou o Brasil a mudar, a sociedade a participar,
e, no capítulo concernente aos direitos e garantias constitucionais, os cidadãos a se assumirem protagonistas permanentes
insere o princípio de que nenhuma lesão de direito poderá ser e diretos de uma história que se constrói junto com todos,
subtraída da apreciação do Poder Judiciário (...).” mesmo que as expectativas sejam diferentes.”
Ministro Moreira Alves Ministra Cármen Lúcia
em seu voto no Mandado de Segurança 21.689 no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal

176 177
“A independência judicial tem especial relevância a outra pedra central

da Constituição de 1988:
“Sejam quais forem

os méritos ou deméritos da Constituição, a preservação dos direitos fundamentais.


o certo é que o País vive as mais amplas franquias legais,

o pleno respeito aos direitos e liberdades individuais, Nosso texto constitucional conta com amplo catálogo de direitos fundamentais,
que de pouco valeria caso não pudesse ser efetivamente aplicado e garantido.
a irrestrita custódia judicial.” Trata-se de questão essencial à preservação do Estado de Direito e
Ministro Paulo Brossard à manutenção do longo período democrático pelo qual o país passa.”
em sessão solene comemorativa do Centenário da República
Ministro Gilmar Mendes
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal

“O Supremo Tribunal Federal é,


em nossa nova ordem jurídica, “O Estado democrático de direito,
o principal defensor opção do Constituinte de 1988 (...),

da Constituição da República. traduz a submissão à lei,


(...) o povo brasileiro, por seus representantes constituintes, a garantia de uma democracia procedimental e material
confiou à força da Lei, única arma dos Juízes, e a garantia de um mínimo de satisfação dos direitos sociais.”
o destino conjunto de suas mais justas aspirações.” Ministra Rosa Weber
Ministro Ilmar Galvão no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal
em sessão solene durante a visita do presidente da República da Colômbia ao Supremo Tribunal Federal

178 179
“Na Constituinte,
“Daí termos, reconhecidamente,

uma das mais extensas e melhores


declarações de direitos individuais prevaleceu o protagonismo do Judiciário,
de quaisquer Constituições do mundo.” a reestruturação da vontade da população
e foram criadas garantias sociais para segmentos da sociedade ditos minoritários.”
Ministro Célio Borja
em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo Ministro Dias Toffoli
em discurso proferido no 23º Congresso Brasileiro de Magistrados

“O Supremo Tribunal Federal,

ante a nova Constituição Federal,


enfrenta um novo desafio. Constantemente será chamado – como já vem ocorrendo –

a debater e julgar grandes questões constitucionais,


“O dever de guarda da Constituição
faz do Supremo Tribunal Federal, em face dos demais Poderes da República,
e não podem subsistir dúvidas de que ainda mais se engrandecerá –
o maitre savant do equilíbrio entre

os ditames da lei e a medida do justo, (...).”


no oferecimento de suas decisões.

De grandes juízes sempre foi pontilhada a sua história, Ministro Carlos Madeira
e ela se projetará sempre na senda da independência, da prudência e da judiciosidade.” em carta de despedida por ocasião da sua aposentadoria do Supremo Tribunal Federal

Ministro Aldir Passarinho


em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

180 181
“(...) incumbe ressaltar que o pacto promovido pela

“A Constituição Constituição da República de 1988


atende aos anseios do povo brasileiro e garante direitos.” constituiu-nos, no contexto da redemocratização política,
como uma sociedade plural e democrática (...).”
Ministro Rafael Mayer
presidente do Supremo Tribunal Federal em 1988, em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico Ministro Edson Fachin
em seu voto no Recurso Extraordinário 898.450

“A justiça, por si só e só para si, não existe.


“Se olharmos a história do constitucionalismo brasileiro e fizermos Só existe na forma e na medida em que os homens a querem e a concebem.

uma avaliação comparativa com as Constituições anteriores, veremos que A justiça é humana, é histórica.
a Constituição teve grandes avanços, Não há justiça sem leis nem sem cultura.
especialmente no campo dos direitos sociais, A justiça é elemento ínsito ao convívio social, daí por que a noção de justiça
é indissociável da noção de igualdade, vale dizer, a igualdade material de direitos,
dos direitos instrumentais e das garantias.” sejam eles direitos juridicamente estabelecidos ou direitos moralmente exigidos.”
Ministro Teori Zavascki Ministro Joaquim Barbosa
em entrevista ao programa Repórter Justiça em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal

182 183
“A Constituição de 1988 “O imanente ideal de Justiça, tão ligado à nossa sensibilidade,

é o símbolo maior de uma história de sucesso:


de sentido transcendental, expresso nas leis, mas sem nelas se exaurir,
encontra o seu forte esteio no princípio segundo o qual
a transição de um Estado autoritário, intolerante e muitas vezes violento,
para um Estado democrático de direito. Sob sua vigência, realizaram-se seis eleições presidenciais,
todos os homens são iguais, não em capacidade ou condição,
por voto direto, secreto e universal, com debate público amplo, participação popular porém, pela posse de direitos de dimensão universal.”
e alternância de partidos políticos no poder.” Ministro Djaci Falcão
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal
Ministro Roberto Barroso
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal

“Composição do contraditório e
“(...) a Constituição de 1988, transgressão são da essência do sistema.
na prática, ‘escancarou’ as portas do Judiciário, É isso que imprime influência ao sistema. Algo que se passa à margem do sistema,
não apenas porque continuou a dar guarida ao consagrado princípio da inafastabilidade da jurisdição (...),
como também porque colocou à disposição dos cidadãos vários novos instrumentos da Constituição,
de acesso à Justiça, em especial as ações de natureza coletiva.” mas se incorpora a ela. Por isso mesmo ela está sendo diuturnamente atualizada,
Ministro Ricardo Lewandowski de modo a permanecer contemporânea à realidade (...).”
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal
Ministro Eros Grau
no livro A Constituição de 1988 na visão dos ministros do Supremo Tribunal Federal

184 185
“Temos uma Constituição “A Carta de 1988
verdadeiramente redentora e não redutora de oportunidades; resultou de uma longa luta de homens e mulheres (...)

uma Constituição que inaugura que arriscaram a própria vida e liberdade para que hoje pudéssemos viver

uma era não constritiva, mas construtiva de direitos;” a garantia de nossos direitos, com paz e segurança.”
Ministro Ricardo Lewandowski
Ministro Ayres Britto em discurso de homenagem aos 25 anos da CF/1988
em discurso pronunciado no Fórum Internacional sobre Direitos Humanos e Direitos Sociais

“Desconheço outro texto constitucional (...) que haja confiado, “O homem do Direito não pode ser alheio à realidade

mais que a Constituição de 1988, do que está aí na rua, dessa pobreza.


Ele não pode ser alheio à necessidade de se aplicar
na solução judicial dos conflitos individuais e coletivos o Direito levando em consideração novos valores trazidos
de toda ordem e aberto formalmente com tanta generosidade as vias de acesso à jurisdição aos cidadãos,
às formações sociais intermediárias e ao Ministério Público, como instrumento de toda a sociedade.” pela Constituição Federal.”
Ministro Sepúlveda Pertence Ministro Luiz Fux
em sua posse na Presidência do Supremo Tribunal Federal em entrevista à revista eletrônica Consultor Jurídico

186 187
“(...) sob o ponto de vista dos direitos e das garantias individuais

não tem Constituição


mais atualizada no mundo do que a brasileira.”
Ministro Maurício Corrêa
em entrevista à Rádio Câmara

“A atuação do Supremo Tribunal Federal


na concretização da legitimidade da Justiça Constitucional brasileira e
em sua consagração como defensor dos direitos e garantias fundamentais

foi fortemente acentuada a partir da


Constituição de 1988.”
Ministro Alexandre de Moraes
em artigo publicado na revista eletrônica Consultor Jurídico

188
Referências
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Produção gráfica e editorial Juliana Viana Cardoso, Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito
através do fornecimento do registro rigoroso e padronizado da legislação sobre o tema em diversos momentos da história
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Revisão linguística Amélia Lopes Dias de Araújo, Juliana Silva Pereira de Souza, Lilian de Lima Falcão Braga,
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e de provas Márcia Gutierrez Aben-Athar Bemerguy, Patrício Coelho ­Noronha e Rochelle Quito
em: 22 maio 2018.
Capa, projeto gráfico Camila Penha Soares, Eduardo Franco Dias, Lucas Ribeiro França, Neir dos Reis Lima e
e diagramação Silva, Renan de Moura Sousa e Roberto Hara Watanabe

Fotografias Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados/­Coordenação de Arquivo


(p. 52 a 64, 66 a 71, e 75); Acervo do Museu Histórico da OAB/Centro de Memória (p. 65);
Luiz Alves – Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados/Coordenação
de Arquivo (p. 78); P. G. Bertichen (p. 111 e 113); Casa de Rui Barbosa – Reprodução SDO/
STF (p. 119); Arquivo Público do DF (p. 129); Nelson Jr. (p. 107), U. Dettmar (p. 127) –
Acervo do STF; Acervo do Supremo Tribunal Federal/SDO/STF (demais imagens)

Impressão Seção de Serviços Gráficos do Conselho da Justiça Federal

196 197
Supremo Tribunal Federal

Praça dos Três Poderes


Brasília, DF, Brasil
70175-900
61 3217-3000

Outubro de 2018

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Supremo Tribunal Federal – Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Brasil.
[Constituição (1988)].
Constituição Federal : 30 anos : catálogo comemorativo. – Brasí-
lia : Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2018.
198 p. : il. fots., gravs. p&b, color.

Disponível também em formato eletrônico:


<www.stf.jus.br/constituicao30anos>.
ISBN : 978-85-54223-03-8

1. Constituição, história, Brasil. 2. Constituição, Brasil, 1988.


3. Constituição, catálogo, Brasil. I. Título.

CDDir-341.2481

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