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ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO

GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE


JOSÉ DE FREITAS

Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra,


Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

INTRODUÇÃO

Ao registrar e proteger a Indicação Geográfica (IG) de produtos agrícolas, pe-


cuários, florestais e da pesca em circulação produzidos no país, objetiva-se melho-
rar a qualidade dos produtos especiais locais, além de garantir o avanço da compe-
titividade regional através da proteção do produtor, fornecendo informações aos
compradores (COSTANIGRO; SCOZZAFAVA; CASINI, 2019).
O significado principal de uma indicação geográfica consiste na representação
de um selo ou registro usado em produtos que têm uma origem geográfica específica
e/ou que possuam qualidades ou reputação advindas dessa origem (WIPO, 2015).
A proteção por indicação geográfica preserva “o saber fazer” de uma região ou
comunidade, protege o conhecimento tradicional passado de geração a geração.
Sendo assim, os produtores que conseguem o registro por indicação geográfica não
transferem processos tradicionais de seus produtos para algo menos oneroso que
dinamize a produção, mas diminua a qualidade dos produtos (DIAS, 2018).
Os produtos agroalimentares possuem uma estreita relação com o lugar onde
são produzidos, distribuídos e comercializados, cuja prática é antiga tal qual a exis-
tência dos mercados onde se realizam as transações (ZAN, 2017).
A cidade de José de Freitas, que está localizada a 48 km da capital do estado do
Piauí, carrega consigo a fama de um produto muito conhecido na microrregião de
Teresina: a linguiça caseira de José de Freitas.
O produto é feito de forma artesanal por pequenos produtores residentes na
cidade. Também conhecida como a Terra da Linguiça Caseira, José de Freitas tem
uma larga produção com foco especialmente local e à na capital Teresina.
Neste contexto, esta pesquisa teve a seguinte questão norteadora: qual o poten-
cial da linguiça caseira de José de Freitas conseguir o título de indicação geográfica?
Logo, o objetivo da pesquisa consistiu em compreender a potencialidade da
linguiça caseira de José de Freitas em adquirir o status de indicação geográfica.
ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

REVISÃO DE LITERATURA

Considerando o aumento da competição nos mercados, os fornecedores que


conseguem promover distinção junto aos clientes na oferta de produtos ou ser-
viços análogos geram importantes diferenciais competitivos (REZENDE; SILVA;
DANIEL, 2017). As indicações geográficas podem ser uma boa alternativa na bus-
ca por esta diferenciação.
A valorização de produtos regionais, especialmente aqueles produzidos pelos
pequenos produtores, ainda é pouco utilizada para promoção do desenvolvimento
dos territórios, tendo por base a proteção da tradição que os envolve. Esta pode
ser uma estratégia fundamental em regiões em que os negócios agrícolas desem-
penham um papel fundamental para a economia dos países subdesenvolvidos. A
concepção da IG representa uma importante estratégia de sustentabilidade para o
desenvolvimento econômico, social, territorial e tecnológico (SILVA, 2017).
No contexto dos pequenos produtores brasileiros, as indicações geográficas po-
dem representar um importante diferencial para que o sucesso na comercialização
de produtos ou serviços fornecidos a sociedade, promovendo ainda a manutenção
destas pessoas em suas cidades de origem.
Diante do exposto, observa-se que os produtos agroalimentares são aqueles que
possuem uma estreita relação com o lugar onde são produzidos, distribuídos e
comercializados, cuja prática é antiga tal qual a existência dos mercados onde se
realizam as transações (ZAN, 2017).
Avaliada como um tipo de propriedade intelectual, a Indicação Geográfica
corresponde a um instrumento legal muito importante para efeitos de proteção e
valorização de produtos oriundos de um território que guarda características his-
tóricas e de identidade local, resguardando características específicas, qualitativas
e de notoriedade (SILVA, 2017).
As Indicações Geográficas podem ser fundamentais na estratégia de uma orga-
nização, pois impactam no posicionamento do produto ou serviço, dado que são
identificadas pelos clientes como padrão quanto à qualidade e origem desses pro-
dutos. Outro diferencial importante é que o prazo para a proteção é ilimitado, di-
ferentemente de outras propriedades intelectuais, como as patentes (LIMA, 2016).
As Indicações Geográficas fazem referência a produtos ou serviços oriundos
de uma origem geográfica específica. O registro é importante porque reconhece
características, reputação e qualidades que estão ligadas a determinada região, tra-
zendo como resultado a informação ao mercado de que a região é especializada e
com capacidade de produção diferenciada e de excelência (INPI, 2015).

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Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

Conforme estabelece a Lei de Propriedade Industrial No. 9.279 de 14 de maio


de 1996 – LPI/96 o produto certificado deve se enquadrar em uma das duas mo-
dalidades de IG: a denominação de origem e a indicação de procedência (BRASIL,
1996), como pode ser observado no Quadro 01.
De acordo com o Quadro 1, a Denominação de Origem (DO) refere-se ao
nome da origem geográfica de país, cidade, região ou localidade de seu território
que oferece determinado produto ou serviço, a qual é a responsável por lhe confe-
rir as qualidades peculiares. Já a Indicação de Procedência (IP) refere-se à região
conhecida por produzir ou oferecer determinado produto ou serviço desenvolvido
por um grupo de pessoas e que confere reputação à região, qualidade e caracterís-
ticas únicas a origem do produto ou serviço (AGUIAR; LEME, 2020).

Quadro 01 - Divisão das indicações geográficas

Indicação de procedência Denominação de origem


Nome geográfico de um país, cidade, região ou Nome geográfico de país, cidade, região ou lo-
uma localidade de seu território que se tornou calidade de seu território, que designe produto
conhecido como centro de produção, fabricação ou serviço cujas qualidades ou características se
ou extração de determinado produto ou presta- devam exclusiva ou essencialmente ao meio ge-
ção de determinado serviço. É importante lem- ográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
brar que, no caso da indicação de procedência, Na solicitação da IG de denominação de origem,
é necessária apresentação de documentos que deverá ser apresentada também a descrição das
comprovem que o nome geográfico seja conheci- qualidades e as características do produto ou ser-
do como centro de extração, produção ou fabri- viço que se destacam, exclusiva ou essencialmen-
cação do produto ou prestação do serviço te, por causa do meio geográfico, ou aos fatores
naturais e humanos
Fonte: INPI(2015).

Assim, enquanto a DO centra-se em aspectos geográficos como clima, solo,


altitude, por exemplo, a IP é voltada para o know-how, ou seja, para os aspectos
humanos por meio do emprego do conhecimento e técnicas para o cultivo, colheita
e produção (MARTINS; VASCONCELLOS, 2020).
Segundo o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), as Indicações
Geográficas (IG) referem-se a produtos ou serviços que possuem uma origem ge-
ográfica específica e conferem um registro por meio de um selo de autenticidade,
o qual reconhece a reputação, qualidades e características vinculadas ao local de
produção ou origem desses produtos ou serviços, que são considerados pelos con-
sumidores como diferenciados e de excelência (BERTONCELLO; SILVA; GON-
DINHO, 2016).
A presença do selo de autenticidade confere ao produto um valor intrínseco
em função tanto dos recursos naturais aplicados na produção, quanto da maneira

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que se produz, o que leva o item a se distinguir daqueles similares existentes no


mercado. Segundo Carvalho e Dias (2012), a IG atesta ao consumidor a segurança
dos produtos, através de um instrumento jurídico reconhecido, frente a um com-
petitivo mercado globalizado.
Para solicitar pedidos de reconhecimento de IG é necessário que associações,
sindicatos, institutos ou qualquer outra pessoa jurídica de representatividade co-
letiva, com real interesse e instituída no respectivo território o faça, mediante uti-
lização de formulário próprio, o qual contém informações sobre a área geográfica
bem como sua demarcação. Não obstante, é necessária a descrição do produto ou
serviço, do comprovante do recolhimento do pagamento de depósito, da procura-
ção e das etiquetas que embalam o produto (CARVALHO; DIAS, 2012).
Conforme a Instrução Normativa 095 de 28 de Dezembro de 2018, para a IP são
essenciais as comprovações de que a localidade tornou-se conhecida como centro
de extração, produção ou fabricação do produto ou como centro de prestação de
serviço, expressos, por meio de reportagens de jornais e revistas, artigos científicos,
livros, músicas, dentre outros. Já a DO, além das informações já mencionadas é
indispensável a descrição das qualidades e características do produto ou serviço
que se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo fatores
naturais e humanos, assim como a descrição do processo ou método de obtenção
do produto ou serviço que devem ser locais, leais e constantes.
Interessante salientar a proposta por Rezende et al. (2015) no que concerne à
documentação necessária para a solicitação de registro de IG, como pode ser ob-
servada no Quadro 2.
Dentre os benefícios esperados pela certificação de um produto, as IG são uti-
lizadas essencialmente como um instrumento para promoção dos mesmos, com
intuito de geração de riqueza e proteção da região produtora, e tem como conse-
quência a geração de desenvolvimento regional, seja por meio das exportações de
produtos, pelo fortalecimento no mercado interno ou pela promoção de produtos
e seu patrimônio histórico e cultural (CASTRO; GIRALDI, 2015).
Quanto ao uso do selo da indicação geográfica, este é restrito aos produtores e
prestadores de serviço atuantes na região. No caso das denominações de origem,
faz-se necessário o atendimento de requisitos específicos de qualidade. Vale sa-
lientar que os produtores dentro da região têm a opção por adotar ou não o uso
do selo, independente de participarem da associação. Considera-se que o registro
referido de IG é de natureza declaratória (BRASIL, 1996).

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Quadro 2: Documentação necessária para a solicitação de registro de IG

Categoria Documentação
i) Requerimento (modelo I) do qual conste: a) o nome geográfico; b) a descri-
ção do produto ou serviço; ii) instrumento hábil a comprovar a legitimidade do
Documentação requerente; iii) regulamento de uso do nome geográfico; iv) instrumento oficial
geral conforme que delimita a área geográfica; v) etiquetas, quando se tratar de representação
art. 6º (comum a gráfica ou figurativa da IG ou de representação de país, cidade, região ou locali-
IP e DO) dade do território, bem como sua versão em arquivo eletrônico de imagem; vi)
procuração, se for o caso; e, vii) comprovante do pagamento da retribuição cor-
respondente
Para IP, além das condições estabelecidas no art. 6º, o pedido deverá conter: a)
documentos que comprovem ter o nome geográfico se tornado conhecido como
Documentação centro de extração, produção ou fabricação do produto ou de prestação de servi-
complementar ço; b) documento que comprove a existência de uma estrutura de controle sobre
para IP confor- os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo
me da IP, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a IP;
art. 8º c) documento que comprove estar os produtores ou prestadores de serviços es-
tabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo as atividades de produção
ou prestação do serviço
Para DO, além das condições estabelecidas no art. 6º, o pedido deverá conter: a)
elementos que identifiquem a influência do meio geográfico na qualidade ou nas
características do produto ou serviço que se devam exclusivamente ou essencial-
mente ao meio geográfico, incluindo fatores naturais e humanos; b) descrição do
Documentação
processo ou método de obtenção do produto ou serviço, que devem ser locais,
complementar
leais e constantes; c) documento que comprove a existência de uma estrutura de
para DO
controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao
conforme art. 9º
uso exclusivo da DO, bem como sobre o produto ou prestação do serviço distin-
guido com a DO; d) documento que comprove estar os produtores ou prestadores
de serviços estabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo as atividades
de produção ou de prestação do serviço.

Fonte: Rezende et al. (2015).

Conforme apresentado nesta seção, as IG proporcionam para a região vanta-


gens econômicas, além de que podem ser geradoras de diferenciais competitivos
em termos de conhecimento da região ao atrair mais negócios que podem agregar
e complementar à indicação geográfica, proporcionando à região a oportunidade
de melhoria das condições de vida da população e reduzindo a necessidade dos
programas de transferência de renda, empoderando a comunidade (BERTON-
CELLO; SILVA; GONDINHO, 2016).

ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa definiu o produto regional piauiense Linguiça Caseira de José de


Freitas como objeto para analisar a possibilidade de aquisição do signo de indica-

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ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

ção geográfica. Justifica-se a escolha pelo produto em função de o mesmo ser bas-
tante conhecido no estado do Piauí. Desta forma, o objeto de estudo desta pesquisa
se caracteriza como um estudo de caso, que de acordo com Yin (2015), consiste em
uma pesquisa empírica que estuda um conteúdo contemporâneo no cenário da
vida real que o pesquisador não tem controle.
A pesquisa é caracterizada como qualitativa, que conforme Bogdan & Biklen
(2003), envolve aspectos como ambiente natural, a descrição dos dados, trabalho
com o processo, com o significado e com a análise indutiva.
Quanto aos objetivos da pesquisa, esta pode ser caracterizada como descritiva
que conforme Gil (2019), a pesquisa descritiva tem por propósito descrever carac-
terísticas de determinada população ou fenômeno, ou relacionar variáveis.
No que concerne à técnica de coleta de dados, este estudo é do tipo documen-
tal, posto que, conforme salientam Lakatos e Marconi (2017) e Gil (2019) a coleta
de dados se dá não somente em autores bibliográficos, mas também em produções
que não tiveram o tratamento científico, muitas vezes dispersos no espaço, como
arquivos particulares e sites de internet.
Para a realização desta pesquisa, utilizou-se como mecanismo de busca: lingui-
ça and “josé de freitas” nos portais das Instituições Científicas e Tecnológicas – ICT
piauienses, organizações públicas e privadas, portal de periódicos da CAPES e no
Google acadêmico.
Nas buscas realizadas, observou-se que o sítio eletrônico da cidade de José de
Freitas se encontra em manutenção, dispondo apenas de informações relativas aos
contracheques de servidores, Nota Fiscal Eletrônica e a Transparência.
Em relação às pesquisas realizadas nas ICT do estado do Piauí, que são a Univer-
sidade Federal do Piauí – UFPI, a Universidade Estadual do Piauí – UESPI, Instituto
Federal do Piauí – IFPI e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRA-
PA, não foi detectada a realização de trabalhos relacionados com tal temática.
As informações sobre o produto foram coletadas no período compreendido
entre os meses de setembro e novembro de 2019, contemplado, portanto, todas as
informações relativas à Linguiça Caseira de José de Freitas.

ANÁLISE DE RESULTADOS

Esta pesquisa faz menção a um item produzido na cidade de José de Freitas,


localizada a 48 km da capital do estado do Piauí, que carrega consigo a fama de um
produto muito conhecido na microrregião de Teresina: a linguiça caseira de José de
Freitas. O produto é feito de forma artesanal por pequenos produtores residentes

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Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

na cidade. Também conhecida como a Terra da Linguiça Caseira, José de Freitas


tem uma larga produção com foco especialmente local e a capital Teresina. Vale
salientar que o IFPI dispõe de um Campus Avançado na cidade de José de Freitas.
A cidade de José de Freitas está localizada na região do chamado Entre Rios,
que tem esta denominação por estar localizada entre os rios Poti e Parnaíba, sendo
este o mais importante do estado.
Segundo a Secretaria de Estado de Planejamento do Piauí – SEPLAN, a região
apresenta as seguintes potencialidades: turismo de negócios e eventos; polos de
saúde e educação; Produção de hortifrutis (Teresina); produção de açúcar e etanol;
produção de aves e ovos; extrativismo vegetal: babaçu; agroindústria: cajuína, be-
neficiamento de castanha de caju, produção de doces; indústrias: cerâmica, vestuá-
rio, química, bebidas e alimentos, móveis em madeira e metal; comércio e serviços.
A linguiça caseira de José de Freitas não é lembrada.

Figura 01: Territórios de Desenvolvimento do Piauí – Mapa de Potencialidades

Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento do Piauí/SEPLAN, 2019.

Nos diversos blogs e portais das cidades de Teresina e José de Freitas, há regis-
tros que tratam e apresentam o produto como bastante conhecido na região.
Em matéria publicada pelo portal meio norte, de 02/06/2014, a matéria trata
sobre “Encontro de tradições juninas aquece o comércio local em José de Frei-
tas”. Um trecho aborda: “A Terra da Linguiça Caseira se transformará num enorme
palco de tradições, atrações folclóricas e culturais de todo a região.” (Portal Meio
Norte, 2014, online).
O website Cidadeverde.com é outro portal muito conhecido no Piauí. Em
19/10/13, houve a publicação da matéria “Viva Piauí: culinária dos municípios é

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destaque com degustação”, que tratava das festividades do aniversário do Piauí em


que eram apresentadas algumas das potencialidades do estado. Conforme a maté-
ria, “José de Freitas tem a linguiça caseira como sua iguaria maior: a carne de porco
cortada em pedacinhos e bem temperada, devidamente frita e servida com arroz
ou mesmo com o tira-gosto às margens da Barragem do Bezerro.” (Portal Cidade
Verde, 2013, online).
Em 2006, a Feira do Empreendedor, evento realizado pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, na matéria “Espaço Prefeito
Empreendedor destaca-se pela criatividade”, o município de José de Freitas apre-
sentou sua festa tradicional e o seu produto mais tradicional: “No sábado (18),
José de Freitas mostrará o seu tradicional Zé Pereira, que acontece no carnaval.
Na ocasião, serão servidos cachaça e a linguiça caseira fabricada no município.”
(Portal SEBRAE, 2006, online).
Nas buscas realizadas no portal de periódicos da CAPES e no Google acadêmico,
não foram encontradas pesquisas relacionadas à linguiça caseira de José de Freitas.
Conforme o exposto, a linguiça caseira ainda não alcançou o mesmo patamar
de um outro produto muito famoso na região, que é a cajuína. Diferentemente,
este produto virou música composta por artistas famosos, como Caetano Veloso,
descrita na música Cajuína.

Cajuína
Caetano Veloso

Existirmos: a que será que se destina?


Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Percebe-se, pela letra da música, que o cantor e compositor expressa não ape-
nas o produto, mas sua origem, objeto das indicações geográficas. Pelo revelado,
reforça-se de forma conclusiva que o produto é produzido na cidade de Teresina,
capital do estado do Piauí.

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Tiago Soares da Silva, Rafael Sales Almendra, Suzana Leitão Russo, Daniel Pereira da Silva

De acordo com as pesquisas realizadas, as informações relativas à linguiça ca-


seira de José de Freitas estão dispersas e em quantidade limitada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As indicações geográficas são importantes instrumentos de desenvolvimento


regional, especialmente para países em desenvolvimento, tendo por base produtos
ou saberes locais que colaboram para o crescimento econômico local.
Além disso, podem ser igualmente importantes para que os pequenos produto-
res possam conviver em harmonia com a natureza, promovendo a sustentabilida-
de, proporcionando melhores condições de vida para a sociedade.
A linguiça caseira de José de Freitas apresenta características marcantes do sa-
ber fazer da culinária tradicional piauiense que se destaca pela qualidade e sabor
diferenciado. É um produto muito conhecido na região centro-norte do estado do
Piauí, mais especificamente na própria cidade em que há a produção como na ca-
pital, apresenta potencial para que se possa alcançar o selo de indicação geográfica.
As informações e divulgação do produto ainda são espaças e escassas, haven-
do ainda a necessidade de organização por parte dos produtores. Não se sabe ao
certo a quantidade de produtores nem onde estão localizados, algo essencial para
aquisição do selo.
Outro aspecto que vale salientar é a ausência de estudos relativos ao produ-
to, uma vez que não foram encontradas pesquisas relacionadas em nenhumas das
instituições científicas e tecnológicas do estado. Ainda, de acordo com os dados
coletados e conforme a legislação em vigor, a linguiça caseira de José de Freitas não
reúne todos os elementos necessários para que se possa solicitar e conseguir o selo
de indicação de procedência. Recomenda-se que a Prefeitura daquela cidade pos-
sa desenvolver estratégias no intuito de promover ações, tais como: levantamento
dos produtores de linguiça caseira, eventos, feiras, dentre outros, que possam criar
registros dos produtos, além de buscar parcerias com instituições científicas e tec-
nológicas, bem como outras entidades, como o SEBRAE.
Desta forma, acredita-se que o produto possa alcançar tamanho patamar, o
que poderá alavancar também outros produtos que são atualmente feitos no mu-
nicípio, além de promover a cidade para o restante do país ou até mesmo em nível
global. Sugere-se que em pesquisas futuras sejam realizados estudos in loco com os
produtores afim de coletar informações sobre o processo de fabricação observando
se há um padrão ou até mesmo um item específico que torne o produto peculiar.

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ESTUDO DO POTENCIAL DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA LINGUIÇA CASEIRA DE JOSÉ DE FREITAS

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