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Martim de Sousa Machado Ghira Campos (104719505)

1) Como é que Oakeshott descreve a disposição conservadora e em que sentido esta


responde ao problema do racionalismo em política?

Oakeshott considera a divisão da política em Política de Fé e Política do Ceticismo, isto


porque todas as outras divisões comuns são fracas. Ele é um autor conservador, no
entanto, no que toca à política, ele coloca-se do lado do Ceticismo, isto porque ele fala
em Politics of Faith e não em Religion of Faith. Oakeshott diz que, a disposição
conservadora é a expressão moderna da Política do Ceticismo, tal como o
Racionalismo em política é a expressão moderna pós-Revolução Francesa da Política
de Fé.
A Política de Fé é algo que Oakeshott vai criticar, sendo esta uma política em que a
verdade é dada pela ciência, isto é, tudo o que a ciência disser vai ter de ser político.
Depois da Revolução Francesa, esta fé passou a ter como expressão principal, o
racionalismo em política, que procura alcançar uma Politics of Perfection, sendo que o
veículo para alcançar essa perfeição é a razão. Seja qual for o domínio (educação,
saúde…) há uma ideia de solução perfeita, que mesmo que não saibamos qual é, vai
ser dada pela razão. Isto leva à ideia de “The best”, ou seja, um modelo que é visto
como o melhor, que deve ser único e seguido por todos, levando à ideia de
uniformização (Politics of Uniformity). Se existe um modelo que supostamente é o
“The Best”, não existe razão para não o seguir, sendo necessário, na mente
racionalista, que todos o sigam para não serem privados do melhor.
Para essa uniformidade acontecer, o Estado tem de se centralizar, passando assim
para uma política de centralização, de modo a garantir que todos seguem o melhor
modelo. Nesta política de centralização começa a haver fiscalização que inspeciona as
várias entidades que possam não estar a cumprir o melhor modelo e caso algo corra
mal, vai ser desculpado precisamente com esse não cumprimento da melhor política,
passando assim a haver uma política de intolerância, que pode gerar várias formas de
violência e repressão.
Ao contrário do racionalismo e como resposta ao mesmo, a atitude conservadora de
Oakeshott não procura aplicar algo uniforme, pois isso faria com que o conservador
perdesse o seu modo de vida. A atitude conservadora não procura a felicidade total,
mas sim uma alegria presente, preferindo o suficiente ao abundante e o presente ao
utópico. O centro da atitude conservadora é precisamente o presente, isto é, as
pequenas coisas que aprendemos a aproveitar e não queremos perder (enjoyment).
Para Oakeshott, o esforço político tem de acontecer para que seja possível aproveitar,
isto porque cada um tem o seu “way of living”, que pode não ser o melhor e
possivelmente nem é, mas é de cada um, não foi imposto e deve ser aproveitado.
O Conservadorismo de Oakeshott é de escolha de cada um, que se passar pelo Estado
passa a ter um cariz de obrigação, porque o Estado pode mesmo modificar os modos
de vida. Para Oakeshott, desde que os modos de vida sejam passivos e pacifistas,
então devem ser aceites.
Os céticos têm então o papel de tornar a política numa Superficial Order, de maneira a
moderar a febre da política. A política é uma ordem superficial, sendo que o que
realmente importa são os nossos enjoyments e a política apenas serve para os
proteger. Por outras palavras, precisamos do Estado para continuar a usufruir da nossa
vida pacificamente, porque há pessoas com modos de vida não pacíficos com as quais
podemos colidir, ou seja, o Estado tem de existir e ter a sua força, mas tem de ser
superficial, alargando os modos de vida pacíficos e acabando com quem interfere com
o enjoyment de outro. Oakeshott prefere um Estado que defenda e só defenda, isto é,
que permita modos de vida descentralizados, do que um Estado que imponha e que
obrigue. Em suma, os céticos são aqueles que introduzem moderação e que lembram
que a política não é tornar os cidadãos perfeitos, mas sim permitir que eles usufruam
daquilo que eles próprios acham importante, isto porque gerar apego com
familiaridade e experiência é o traço do conservador Oakeshottiano.
Esta atitude conservadora de Oakeshott não é uma ideologia ou doutrina, é sim uma
disposição de agir de várias maneiras, uma disposição para aproveitar as coisas que
gostamos.
Ser conservador é ser relutante a mudar, no entanto, o conservador também não quer
uma sociedade presa, reacionária, porque isso até seria uma fixação no passado. Para
Oakeshott, a mudança é inevitável, podemos é tentar que ela seja gradual, lenta e
reversível, sendo estas as características do conservador.
A ideia de Oakeshott é a de que a atitude conservadora é uma forma de ser e de estar
em que cada um pode ir escolhendo o seu modo de vida. Portanto a disposição
conservadora tem tudo a ver, não com um modo de vida específico e uniforme, mas
com a capacidade que fomos tendo de nos tornarmos familiares para com um modo
de vida, modo de vida esse que pode e deve ser alterado, no entanto, tem de ser um
esforço interior, não tendo nada a ver com o esforço da política.
Para um conservador, enquanto os modos de vida forem pacíficos e permitirem um
igual usufruto dos modos de vida dos outros, não há razão nenhuma para intervenção
estatal, sendo que o Estado só deve intervir quando existe colisão entre modos de
vida.
Quanto à política, o conservador é um “trimmer”, isto é, acha que não existe recorte
de partidos, porque dentro deles há pessoas que vão conseguir moderar o discurso e
levar as suas paixões para a sua vida privada e manter a política como uma ordem
superficial. O “trimmer” é aquele que se apercebe que temos de nos aturar a todos,
sendo que a atitude conservadora é uma atitude em que ninguém fica “muito
contente” em termos políticos.
Concluindo, esta disposição conservadora de Oakeshott responde ao problema do
racionalismo em política e à sua ideia de centralização do Estado para impor uma
política uniforme, defendendo uma menor intervenção do Estado e a ideia de que cada
um pode escolher o seu “way of living”, pois não existe um “the best”.

6) Descreva a teoria da justiça por “justo título” de Nozick (Robert Nozick’s


‘Entitlement Theory of Justice’) assim como possíveis discordâncias e semelhanças
para com a teoria de Rawls. O que é o estado mínimo?

Nozick aparece como critico da teoria de Rawls, criticando que Rawls, ao afirmar que
quando estamos na melhor situação, devemos melhorar a situação de quem está pior,
o que ele está a fazer é olhar para a justiça como uma espécie de recorte num
determinado momento do tempo, uma “time slice”, isto é, uma fatia de tempo
congelada e analisada. Segundo Nozick, Rawls está a olhar para o resultado final num
determinado momento.
Contudo, para Nozick, a justiça não é olhar para um momento no tempo e analisá-lo à
luz de um padrão, uma vez que não devemos forçar a distribuição que temos de modo
a corrigir aquilo que aconteceu, só porque a justiça não satisfez, por exemplo, a
igualdade.
Rawls insiste que uma pessoa pobre é a que está pior, sendo necessário maximizar a
sua posição. No entanto, ás vezes, há pessoas que estão pior do que os pobres, sendo
que Nozick defende que é necessário perguntar o que levou a tal situação. Ao
perguntar isso, estamos a perguntar para trás, isto porque Nozick defende que a
justiça é um processo e não um momento no tempo como dizia Rawls.
Rawls esquece o ponto mais crucial da justiça, que é o facto de a justiça ser histórica,
procedural, sendo que é o processo e não o resultado que é analisado. A justiça é
então, para Nozick, um fenómeno que deve ser visto à luz de princípios procedurais e
temporais, não devendo ser analisada por um frame, como defendia Rawls.
Nozick vai achar que é impossível estabelecer padrões, precisamente porque a justiça
não pode ser analisada num “time frame”, devendo ser analisada pelo passado,
olhando para trás, com base no “porquê?”.
Surgem então dois conceitos distintos de justiça: um deles histórico e defendido por
Nozick como crítica a Rawls, o outro baseado na ideia de “time slice” apresentado por
Rawls. É aqui que Nozick propõe a ideia de Teoria da Justiça por Justo Título, teoria
essa que tem como base a ideia de Aquisição Original (permite aquisição) e de
Transferência (se algo é nosso, podemos transferir). Esta proposta de Nozick diz que eu
posso adquirir coisas, isto é, eu posso ser detentor de bens que me foram
devidamente transferidos e, se esses bens são meus, eu posso transferi-los para quem
eu quiser, sendo que se os transferi com consentimento, então eles passam a ser de
outra pessoa “por justo título”. Caso estes dois princípios sejam desrespeitados, então
é necessária uma compensação/indeminização para quem ficou lesado, isto porque a
justiça só é mantida se a transação e a aquisição original forem sempre justas, com
ausência de fraude ou coerção. Para que esta compensação aconteça, não há um
padrão, sendo que a função do Estado é apenas ser Mínimo e fazer com que a vítima
de injustiça seja compensada. Com este conceito de Estado Mínimo, Nozick diz que
não é papel do Estado retificar, refazer, propor ou regular, atividades que se passem
entre adultos que o consintam, isto porque, tal como no inicio do seu livro, “individuals
have rights”, logo, quando consentem e entram numa troca voluntária com alguém,
sem fraude ou coerção, não abdicam desse direito. Se a dispersão de resultados for
feita sem fraude ou coerção e por meio de consentimento entre adultos, então é
legitima, sendo que o Estado existe apenas para atuar caso isto não aconteça, sendo
por isso, mínimo.
Segundo esta lógica, para Nozick os impostos são ilegítimos porque o Estado utiliza
elementos de coerção, no entanto, ele não diz que não são importantes, pois defende
que são necessários para repor a justiça. O Estado Mínimo é um Estado que se
preocupa apenas em restabelecer a justiça quando alguém utilizou fraude ou coerção
contra outrem, sendo que nesses casos o Estado deve obrigar quem usou fraude a
restituir todos os direitos à vítima e ainda a compensa-la.
Para Nozick, Rawls falha porque acha que há uma pretensão dos pobres no campo da
justiça, sendo que para ele não é no campo da justiça, é sim no campo da moral.
Segundo Nozick, justiça é apenas a aquisição e transferência, através do
consentimento entre dois adultos, sendo que melhorar a condição dos mais pobres,
faz de nós bons e não justos.
Nozick diz que, embora para trás exista coerção e fraude, doravante devemos
perceber que a distribuição que aconteça através de processos justos, voluntários e
com consentimento, é uma boa distribuição. O Estado não deve usar tanto os meios
coercivos que tem para cobrar impostos, devendo apenas ter funções de restituir e dar
força a quem é fraco no caso de ter sido vítima de fraude ou coerção, sendo esta a
ideia de Estado Mínimo, isto é, um Estado que atua apenas se existir uma situação de
injustiça.
Para Nozick não há muito papel á justiça social, isto é, não há ideia de justiça
distributiva. Redistribuir é, inclusive, para Nozick, uma injustiça, porque grande parte
da distribuição que temos hoje, pode ser fruto de um conjunto de transações que
foram relativamente livres.
Como conclusão, Nozick concorda com Rawls na ideia de que os pobres não devem
ficar para trás, mas daí a dizer que os pobres têm direito a “entrar pela casa dos ricos”,
ainda é um grande passo, sendo aqui que eles discordam. Segundo Nozick, os pobres
têm direito a apelar à caridade e aos bons costumes, ou seja, á moral e não á justiça.
Rawls é apologista de uma igualdade, em que os ricos devem distribuir pelos pobres de
maneira a melhorar a sua posição pior, enquanto que Nozick é defensor de uma justiça
por justo título, em que a desigualdade é aceite se for justa, isto é, com consentimento
entre dois adultos, sendo que o Estado não deve intervir, tendo de ser Mínimo, uma
vez que não houve qualquer tipo de fraude ou coerção.

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