Professional Documents
Culture Documents
2º Teste TPC Martim Campos
2º Teste TPC Martim Campos
Nozick aparece como critico da teoria de Rawls, criticando que Rawls, ao afirmar que
quando estamos na melhor situação, devemos melhorar a situação de quem está pior,
o que ele está a fazer é olhar para a justiça como uma espécie de recorte num
determinado momento do tempo, uma “time slice”, isto é, uma fatia de tempo
congelada e analisada. Segundo Nozick, Rawls está a olhar para o resultado final num
determinado momento.
Contudo, para Nozick, a justiça não é olhar para um momento no tempo e analisá-lo à
luz de um padrão, uma vez que não devemos forçar a distribuição que temos de modo
a corrigir aquilo que aconteceu, só porque a justiça não satisfez, por exemplo, a
igualdade.
Rawls insiste que uma pessoa pobre é a que está pior, sendo necessário maximizar a
sua posição. No entanto, ás vezes, há pessoas que estão pior do que os pobres, sendo
que Nozick defende que é necessário perguntar o que levou a tal situação. Ao
perguntar isso, estamos a perguntar para trás, isto porque Nozick defende que a
justiça é um processo e não um momento no tempo como dizia Rawls.
Rawls esquece o ponto mais crucial da justiça, que é o facto de a justiça ser histórica,
procedural, sendo que é o processo e não o resultado que é analisado. A justiça é
então, para Nozick, um fenómeno que deve ser visto à luz de princípios procedurais e
temporais, não devendo ser analisada por um frame, como defendia Rawls.
Nozick vai achar que é impossível estabelecer padrões, precisamente porque a justiça
não pode ser analisada num “time frame”, devendo ser analisada pelo passado,
olhando para trás, com base no “porquê?”.
Surgem então dois conceitos distintos de justiça: um deles histórico e defendido por
Nozick como crítica a Rawls, o outro baseado na ideia de “time slice” apresentado por
Rawls. É aqui que Nozick propõe a ideia de Teoria da Justiça por Justo Título, teoria
essa que tem como base a ideia de Aquisição Original (permite aquisição) e de
Transferência (se algo é nosso, podemos transferir). Esta proposta de Nozick diz que eu
posso adquirir coisas, isto é, eu posso ser detentor de bens que me foram
devidamente transferidos e, se esses bens são meus, eu posso transferi-los para quem
eu quiser, sendo que se os transferi com consentimento, então eles passam a ser de
outra pessoa “por justo título”. Caso estes dois princípios sejam desrespeitados, então
é necessária uma compensação/indeminização para quem ficou lesado, isto porque a
justiça só é mantida se a transação e a aquisição original forem sempre justas, com
ausência de fraude ou coerção. Para que esta compensação aconteça, não há um
padrão, sendo que a função do Estado é apenas ser Mínimo e fazer com que a vítima
de injustiça seja compensada. Com este conceito de Estado Mínimo, Nozick diz que
não é papel do Estado retificar, refazer, propor ou regular, atividades que se passem
entre adultos que o consintam, isto porque, tal como no inicio do seu livro, “individuals
have rights”, logo, quando consentem e entram numa troca voluntária com alguém,
sem fraude ou coerção, não abdicam desse direito. Se a dispersão de resultados for
feita sem fraude ou coerção e por meio de consentimento entre adultos, então é
legitima, sendo que o Estado existe apenas para atuar caso isto não aconteça, sendo
por isso, mínimo.
Segundo esta lógica, para Nozick os impostos são ilegítimos porque o Estado utiliza
elementos de coerção, no entanto, ele não diz que não são importantes, pois defende
que são necessários para repor a justiça. O Estado Mínimo é um Estado que se
preocupa apenas em restabelecer a justiça quando alguém utilizou fraude ou coerção
contra outrem, sendo que nesses casos o Estado deve obrigar quem usou fraude a
restituir todos os direitos à vítima e ainda a compensa-la.
Para Nozick, Rawls falha porque acha que há uma pretensão dos pobres no campo da
justiça, sendo que para ele não é no campo da justiça, é sim no campo da moral.
Segundo Nozick, justiça é apenas a aquisição e transferência, através do
consentimento entre dois adultos, sendo que melhorar a condição dos mais pobres,
faz de nós bons e não justos.
Nozick diz que, embora para trás exista coerção e fraude, doravante devemos
perceber que a distribuição que aconteça através de processos justos, voluntários e
com consentimento, é uma boa distribuição. O Estado não deve usar tanto os meios
coercivos que tem para cobrar impostos, devendo apenas ter funções de restituir e dar
força a quem é fraco no caso de ter sido vítima de fraude ou coerção, sendo esta a
ideia de Estado Mínimo, isto é, um Estado que atua apenas se existir uma situação de
injustiça.
Para Nozick não há muito papel á justiça social, isto é, não há ideia de justiça
distributiva. Redistribuir é, inclusive, para Nozick, uma injustiça, porque grande parte
da distribuição que temos hoje, pode ser fruto de um conjunto de transações que
foram relativamente livres.
Como conclusão, Nozick concorda com Rawls na ideia de que os pobres não devem
ficar para trás, mas daí a dizer que os pobres têm direito a “entrar pela casa dos ricos”,
ainda é um grande passo, sendo aqui que eles discordam. Segundo Nozick, os pobres
têm direito a apelar à caridade e aos bons costumes, ou seja, á moral e não á justiça.
Rawls é apologista de uma igualdade, em que os ricos devem distribuir pelos pobres de
maneira a melhorar a sua posição pior, enquanto que Nozick é defensor de uma justiça
por justo título, em que a desigualdade é aceite se for justa, isto é, com consentimento
entre dois adultos, sendo que o Estado não deve intervir, tendo de ser Mínimo, uma
vez que não houve qualquer tipo de fraude ou coerção.