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colecao ensaioe memoria y— MATERIALISMO E IDEALISMO | — A CLASSIFICAGAO DAS DOUTRINAS Um dos mais importantes cuidados dos que se preo- cupam com a Histéria da Filosofia tem sido e é ainda a classifica¢éo dos pensadores em grupos ou escolas mais ou menos_fechadas, sintetizadas por alguma idéia fundamental comum. Os pensadores da Grécia Antiga, por exemplo, foram distribuidos pelos historiadores em varias escolas de con- cepgGes mais ou menos definidas e separadas umas das outras. por uma diviséo quase estanque. Inicialmente, encontramos, por exemplo, a Escola Jé- nica e a Escola Eleata, englobando cada uma grupos dife- rentes de pensadores, os quais inegavelmente se aproximam entre si — e é interessante verificar isso — nao s6 por uma série de idéias comuns sobre 0 Universo, mas também, por terem vivido num mesmo lugar sofrendo as influéncias de uma mesma época. . De um lado, Tales, Anaximenes, Anaximandro; de outro, Xenéfanes, Parménides, Zenon. Posteriormente, surgem os chamados sofistas, a esco- la platénica da Academia, 0 Liceu de Aristételes, os cini- Cos, os céticos, os estdicos, OS epicuristas e€ ainda os neo- Platénicos, os pitagéricos, a Escola de Alexandria, etc. Essas classificagdes S40, entretanto, muitas vezes, ar bitrarias, dependendo da vontade do historiador. - Fora destas Escolas, outros filésofos existiram, ae la ceram grande influéncia sem, entretanto, Saat xagoras tais como Herdclito, Demécrito, Empédocles, An@ 8 Para s6 citar os mais importantes. _ en- A mesma 4nsia de elassificagdo existe quanto as eos Sadores, post-medievais e modernos: racionalistas ‘les, 20 tos a empiristas, os dogmaticos aos céticos, ¢ 49 tes termos sinté- utros, sem que estes te cone dar uma idéia “clara e dis- pos. uns ai *. m. icagdo nos possa icag desses gru| mesmo tenet icos de classi finta” do_pensamento real pio da fé. oe i Para ésse racionalismo a fé ndo nos podia dar 0 co- : i undo. Credo ut inteligam — creio_para mheciment? (a aia Sto. Anselmo, criando a base .do_ pens ‘mento escolastico._ Segundo essa opiniao, SE ani 08 espiritos durante pelo menos oito séculos, na Idade Média, 's6 a fé nos daria a possibilidade de compreender o mundo. “Conhecemos a verdade, diz Pascal, em seus Pensamentos, nao somente pela razéo mas ainda pelo coragao; é desta ultima maneira que conhecemos os primeiros principios, e , em vdo que o raciocinio, que deles nao participa, tenta -combaté-los”. Nessa posigdo, colocaram-se, principaimente, Spinosa_e Leibnitz, este ultimo sé em parte. Por outro lado, é preciso notar ionali i J c que o _raci ismo_fi- ~testico do a av nada tem a ver cornio; Paseaaiens litico do século 00 vy e al- cima Stee poo » embora este tenha naquele al- - ___O primeiro tinha um mitava-se a‘ submeter 4 cri ‘ciencia e ‘dos fendmenos d O segundé : ee, 10 é Critica ae area en disso tudo e principalmente, uma uma classe dominantes sae as_tradic¢des que, impostas_por em “que-viviam, » NAO Corréspondiam mais ao momento sentido Puramente filoséfico e li- itica da_razao os dados da cons- 0 — Ss 50 et et whats " oe Vv pee racionalismo presta-se, pois, a uma certa con- fusdo que seria de todo conveniente evitar. A mesma confusdo nota-se quanto as palavras empi- rico ou empirismo com que s&o designados alguns fildsofos do século XVII, que se opunham ao racionalismo e coloca- yam na experiéncia e na observacéo.a base de todo co- nhecimento. Hoje, o termo chipiricd tem significagéo absolutamente contraria, pois se_refere—a—fatos,dados—pela_experiéncia mas_pa etidos_4_critica-ou_andlise_cientifica. Além disso, o Circulo de Viena armou-se da palavra para sig- nificar a sua posigao . rialista. Maior confusao provém ainda da designacao ceticisma tao freqlientemente empregada na filosofia. Para os céticos do periodo da decadéncia helénica, nada era verdade, de nada se podia ter certeza. “Nada podemos saber, dizia Pirro, nem mesmo se sabemos alguma coisa”. O ceticismo de Pascal é dirigido exclusivamente aos dados da ciéncia. Depois de ter mesmo contribuido para o seu de- senvolvimento, fazendo ele proprio experiéncias cientificas, atacado por uma crise de misticismo pds-se a duvidar da validade de qualquer dado cientifico porque em nada pode- tia ajudar a elevar a fé. Cético era Hume, para cesséo real de causa e efeito nos Tamente um habito psicolégico, qualqu seado nessa légica e relacdo, era for ® portanto, duvidoso. tivia No século XVII, os cético 5 ie lade de todo conhecimento nao sendo p coisas com a idéia que delas fazemos. quem nao havendo uma su- fendmenos, sendo ela me- er conhecimento, ba- ‘cosamente metafisico s faziam observar a subje- ossivel comparar 51 o do mundo or 7 Hoje, entretanto, os dogmatistas identificam uma for. , » i i ida nos en- ma reacionaria e conservadora da filosofia basea i Ati eja. . nentos dogmaticos da Igrejé . 7 sea emos, pois, que as designagoes comuns de cético: ionali ai dem ~ | dogmaticos, empiristas, racionalistas etc., nado nos poi ig di a | dar uma idéia exata da posi¢éo e do pensamento de cad filésofo. _ \ Nota-se, por isso mesmo, uma tendéncia a empregar, de preferéncia, os termos de materialismo_e idealism; >U= bretudo quando se trata de estudar os pensadores mais mo- dernos- essa _classificagéo nao somente mai (Ra ém_mais” profiinda e, principalmente, ~\aproxima da realidade, simples, como a_que mais se porque manifesta que a andlise foi aprofundada levando-se o pensamento de cada escritor ou |fildsofo_o esmo cientista, as suas _ uiltimas_conseqiiéncias. Eles podem indicar-nos a posicas—a. da + em relacéo A sua época e ao ambienis on que iveu iste €, permitem-nos coloc4- pag Oe Além disso, essa divisio— ou perfeitamente a uma Civilizacdo dividid. internas Opostas em luta Pelo poder 2 —€xprime; mento de um wn _sempre, si ial, cl tenga Ou representem ee S40” adapta-se a eM grupos ou classes e@ pelo dominio, em cada instante, o Ou Povo, a que per- €oristas, os que ex- ndéncias e as reivin- PoOvos. Sey pensamento submissao em que se | | 0, Classe encontra seu grupo, Ou povo, em a povos, grupos € classes. Depende di Telacdo a outros poder ou em luta pelo poder, De qualquer maneira, 0 filésofo “Orientar-se-A ic -Se-A uma_ou_outra_corrente, para_o. materialismo Sq Pata “gem _que_isso_signifique que ele seja_real fen idealismo, < jdealista peZo_exata dos termos, isto Gentil “=alista_ou_idealista_consci ase efcito, € diff pente £—conseqifente, ES ‘om_efeito, € dificil _muitas_vezes_ determinar_a t dencia_clara_de_cada_pensador. Nao raro, eles Ocapan uma posigéo nao muito bem defini gece eaeecs ida e mal ex, : a Tessa seu pensamento filos6fico, mas este pode indicar-nos a tendéncia intima ou profunda que, como veremos na ‘se gunda parte deste trabalho, depende da posicdo em que se encontra a classe, grupo ou povo na sociedade e no mo- mento hist6rico que vive. . Poderemos ver, no decorrer deste trabalho, que a di- visio ou classificagao dc ensadores_em_materiali idealistas” ou de “inclinacao_mais ou menos evidente para "ou outro Tado ¢ a que melhor nos_pode orientar_para ‘Sua_Compréens40, qualquer que_sejao_nome_da_escala_fi- Joséfica_a_que_tenha_sido agregado_pelos_historiadores_da. filosofia, muitas vezes, sem o seu conhecimento ou assenti- mento, seja essa escola o racionalismo, o ceticismo, 0 he- gelismo ou 0 positivismo. I] — AS CARACTERISTICAS ESSENCIAIS DO MA- TERIALISMO Em torno da expressdo materialismo, verifica-se, fre- qiientemente, grande confusdo, até mesmo entre alguns fi- lésofos ou historiadores da filosofia. Essa confusdo esta em julgar id@nticas algumas ex- pressdes com que se costumam designar materialistas ou pseudomaterialistas. Na expresso mai miuitas vezes o materialismo_vul ialisma,, que € 0 materialismo_¢ Desejamos esclarecer que, toda vez que empregar- mos a expressdo materialismo, nos estaremos referindo ao ‘ar com 53 Grea Keke lS terialistas, além peo iene ntre este e o mate- i e A diferenga itulo a parte. jismo ae de um cap! rial mate r serd ol rialismo vulgai uma vez que 0 nome de io as almas sensitivas. Ou designa um novo aspecto écie de nova edi¢ao me- (.- |materialismo ofende de tal mod wi". |melhor, sdo termos com que se ¥ do materialismo vulgar, uma esp! : aumentada. oe novo aspecto do materialismo_ou, melhor, he seria mais justo chamar de pseudo materialismo ou Pe an “cientismo”, nao chega propriamente a ser uma +. Esse é, ainda, a nosso ver, um dos defeitos da moder- na Escola de Viena, sobre que falaremos na 3.a parte desta obra. Resta-nos, agora, explicar 0 que devemos entender por materialismo dialético, ou simplesmente materialismo, a fim de situd-lo em sua verdadeira posigao na filosofia, como concep¢ao geral do Universo. . Evidentemente, nao é Possivel sintetizar seu contetido wert _ amplo e profundo numa simples definigao, Sendo uma con- jah cepcao ae do Universo, o materialismo abrange, natural- ~ mente, todos os seus fendmenos e aplica-se a tod ws . it = 7 wok manifestagdes, aoe 1 Para ser bem compreendi a ido, ele nao de e | gon em face das coisas e dos ve Ser apenas : fendmenos tudo, aplicado a esses mesmos fendmenos, ” eee Mas seu contetido poderd ser sintetizado Por uma sé- tie de proposicdes basi ii do ise ig icas e fundamentais que 0 distinguem lo — iali muni ae pnaterialismo reconhece a existéncia de um ,% » que existe por si mesmo, independente de Ne 54 é existe. ib & ualguer_ forga ou vontade extranatural. — Esta primei proposi¢4o ee pce mais importantes, perauante Pryolve uma, solucdo extrema e_absoluta " ma_do_ co _humano, Para_o..proble- sendo apenas produto do nosso espiri a por sua vez, obra de um Espirito Absoluto eaidelaa pete Dessa_maneira, o materialismo. realiza_a_sint [ser ¢ do abjetdn do -pensador.e do pensado) do Eu. edo Une yets9. que constituem um todo. As concepgées de Berkeley e Hegel, os dais_grandes chefes do idealismo, afirmavam que 0 mundo existe apenas em fungdo_da nossa consciéncia, de um Eu percipiente, nada sérido fora dela ou quando esta deixa de existir. Ele seria simplesmente a_manifest o da Idéia_ou do Espirito Ab- soluto._ Como diz Bertrand Russel, em seus Problemas da Fi- losofia, “os que n&o est4o acostumados a especulacao fi- loséfica podem inclinar-se a repelir essa doutrina, como evi- dentemente absurda”. Na realidade, embora pareca absurdo, durante mais de duzentos anos os filésofos empenharam-se em discutir esse problema epistemologico, para saber se 0 mundo existe ou nao. Existo porque penso. Quando. penso, deve haver_algo que pensa em_mim e por mim. Para Berkeley, o mundo dei- xa de existir, quando fecho os olhos e as coisas deixam de existir, quando nao as vejo. Almogo com o Joaquim. Depois do almégo, despedimo- nos e deixo de vé-lo até a hora do jantar. Joaquim deixou de existir, mas, mesmo nio existindo no intervalo, voltou para o jantar com fome! , E esse pois um problema que, na realidade, nao mais Eddington, um sdbio de tendéncias idealistas, referin- ws, do-se a lua diz-nos com muita justeza: “ela eclipsar4 0 sol, 55 wet em 1999, mesmo que a raga humana se tenha sw icidado an- q agi mana S , ‘Sxst i recido ‘s dessa ata ist antes que o homem tivesse apai na face da terra © vavelmente, existira ainda muito de- provavelmente, ri id. poi St t torn, . js que seus OSSOS Se enham tornado p6é i da vez 2.0 — Bapossivel chegarsa° Ui eo rete, o.idea- ‘mais exato do mundo. — Como vimos rad sriatas nao mais lismo — ou pelo menos certas correntes ide. ORTUETITEMIEXTS- nega a existéncia de um mundo exterior ne v ara 4 inte tindo em si e por si, mas, sim, a possibilidade p. ‘ato. Jigéncia humana _de_atingir_ao_.seu conhecimento. ext a — inteligéncia humana deve ser_compreendida_nao como a inteligéncia do ser individual, mas_em seu carater “geral,_ Como diz Engéls, essa inteligencia humana, nesse sentido, € “soberana_e_ilimitada por _sua_constituigdo, sua vocacao, suas possibilidades, seu objetivo final na historia”. Conhecemos um mun foqrealyouguim mundo de aparén- cias? O mundo é o que é percebido pelos nossos sentidos € nossa atividade ou alguma coisa mais? Nosso conhe- cimento atinge a “coisa em si” ou apenas sua aparéncia? Que é a “coisa em si”? Para os idealistas e, entre eles, os tivistas, os kantistas, a “coisa em si? -intima_das_coisas_a que nao _podemos atingir pelos nossos Sentidos_e que, portanto, ndo podemos conhecer. . Que € conhecer uma coisa? a Conhecemos uma coisa, quando conhec “ 0 1 CO emos suas _pro- ‘pried, Suas aparéncias (pelos nossos Sentidos).. suas rela ae a L as_coisas (pela Nossa_atividade ). mundo nao nos € dado apenas pelos nossos sent dos, que nos podem realmente “iludi do aa zencia 140 NeomProvada ela_prati. a, isto é, pela’ fie ividade. ~ Ndo_sé ios: ntidos conhe — e018 masstambim, pela ae SeUOS_conhce Isto € fundamental, ; Esta mesa, de lon: = 7 ge, parece- vizinho, que se encontra em outra Sos sentidos nos enganam. Ser, quem sabe quadrada? —_ qa) agnésticos, os rela- _é uma suposta esséncia. me redonda, Posicdo, a ela re mas, ao meu Parece oval. Nos- donda ou oval ou La Nature du Mon hysi ~ 230, re di de Physique Paris, 1929, pag, 23 , » pag. . 56 $6 a pratica no-lo dira. Se medirmos e a forma da mesa com a nogao geral que temos ¢ e@ do quadrado, obteremos a verdade, dentro ites, OU erros .contingentes_ mas_¢ mpararmos do redondo te, dos_l cee medigao., aveis__da, Quando mergulho uma vareta num copo d que ela era reta e, agora, aparece-me deformada, co estivesse quebrada. Basta, entretanto, Ppassar ‘a mao. sobve ela para verificar que nao esta quebrada e que se a re i 8 2 rata apenas de um fendmeno de Propagacao da luz, que ja co. nhecemos pela experiéncia: a refragao, , 4 ~ Ha, além disso, certo preconceito entre os que discu- tem em torno da aparéncia de uma coisa, mesmo entre al- guns fildsofos, dando importancia quase exclusiva ao sen- tido da vis4o, esquecendo todos os outros, Conhecemos..um -objeto_por -todos__os_nossos_sentidos, em _conjunto., Do contrdrio, teremos dele apenas uma idéia vaga ou incompleta. Mas, dir-se-a, sabemos, com certeza, que a vareta, den- tro dagua, embora aparente estar quebrada, na realidade ' esta perfeita, mas, assim mesmo, temos apenas conheci- ‘ mento da forma exterior da vareta e nao sua esséncia inti- ma. Que € a vareta? Se for de metal, poderemos dizer qual o metal, se é ferro ou niquel ou qualquer outro elemento quimico ou liga de elementos quimicos definidos. Se for de madeira, pode- remos obter, pela andlise do tecido, a natureza das suas células e até mesmo a composi¢4o quimica destas. Que mais pode exigir-se para que possamos afirmar, com seguranga, que conhecemos a vareta em si? Nem mes- mo a objecao de que nao podemos “fazé-la”, com sua cons- tituigdo intima, pode ser apresentada, porquanto milhares de substdncias organicas e, portanto, originadas da maté- \ } } agua, vejo 4 tia viva, sd0, hoje, como se sabe, obtidas em laboratérios. l ‘ ! - istéri i Jurwbrce, | os! conhec oe i ‘ jusive a : : rai Knee tt. a0 do laboraté- col - anti fi imenta nhecimento cientifico, a experi da vez io, os instrumentos Sticos, elétricos, etc., estendem ca 57 i conhecimento e€ i alcance € @ capacidade do nosso eal atividade é como que 0 prolongamento dos nossos sen- tidos. ie ‘A concep¢éo agnostt 'cimento, da impenetrabilidade da coisa vé-se diariamente negada ‘A 86 idéia de que jamais lidade do mundo € ja um 0 da ciéncia, uma concep¢do a ptejudicial. tica da relatividade de todo conhe- “esséncia intima” de cada pela pratica. poderemos conhecer a tota- bstdculo ao desenvolvimento riori, mais do que inutil, 1c gs de. a Prejudicial, porque faz o cientista cruzar 0s bracos diante de um pressuposto abismo insondavel. Esse obstaculo levantado ao conhecimento pelos filé- sofos idealistas ndo tem impedido um avango sistematico da cléncia. a «De Spencer, ae 36 conhecemos_os. fendme wali SIs cor I qualidades capazes de ‘im nhecemos.a_matéria. © que se esconde por detra: i 08 9g exauele=tesconde]y dessas qualidades nunca che- Ao tempo em que Spencer fazia nos_e_ndo t ela: pressionar_nossos sentidos Mas” magoes, as idéi: a : completamente diferentes’ de substancia tes eae to delas. les das que hoje fazemos a eram Havia uma espéci respei- idéia de spécie de preconcei ; matéra alae materia e ew te soles ligado a le sdlido, . Esta aparect: io intima da de Palpavel, de visivel, de “mater tye quer coisa ial”, dentro de 58 um mundo de fenémenos, independente do tempo e do es-. 0. ¢ Leo A idéia de uma forga, propriedade da matéria era a ; de um mundo de fendmenos aparentes da “coisa em si”, \ da matéria propriamente dita. , 4 £ bem possivel que no tenha sido por essa suposi- : ¢40, pelo nivel em que se eftcontrava o conhecimentb da matéria em seu tempo, que Spencer fazia suas atirmacdes i agnosticas. As razées seriam outras, como veremos noutro : capitulo. Mas aquelas circunstancias permitiam sustentar tais doutrinas. _A.matéria_ é 0 movimento e € 0 proprio fenémeno. De acordo com a atual concep¢gao, € um fendmeno elétrico e nada ha detras dele sendo movimentos de eléctrons, pr6- trons, etc., um circular constante de cargas elétricas, um campo de forcas. O proprio eléctron nao é mais uma simples hipétese. Sob sua forma de projétil, quando langado fora do atomo, o eléctron é, praticamente, visto. Pela célebre experiéncia q de Wilson — “a mais bela experiéncia da fisica contem- ' pordnea”, podemos até mesmo acompanhar com a vista a 4 sua trajetéria. (1) : Podemos, assim, medir sua velocidade. Por um campo magnético, podemos ainda desviar sua trajetéria, 0 que 6, perfeitamente, visivel. Diante dessa identidade.entre o fendmeno.e_a matéria, : nao podemos deixar de concluir que, se_conhece 0 fe- n6émeno, conhecemos a matéria. — ae E um erro pensar que a psicologia teria vindo em so- corro dos agnésticos. Sendo a psicologia a ciéncia do “in- (1) Essa experiéncia 6 baseada na propriedade que pas- suem os fons, produzidos pelo choque dos eléctrons com uma Mmolécula, de favorecer a condensacho do vapor dégua. Desa ™aneita, podemos acompanhar sua trajetéria na <«cAmara de Condensag&o» de Wilson, que é em forma de leque, tal como uma rajada de metralhadora, Pode-se ter uma bua descricho @essa experiencia no livro de Charles Fabry, Physique of As- ique, Paris, 1935, pig. 54. 59 existentes no modo iferengas ce, as nl uo em face de um dividuo”, ela estabel a aia de sentir e de reagir mesmo fendmeno. Isso provaria a realidade, uma vez que, sacdes e sentindo-o cada ca atingiremos essa Seer O mundo seria, além disso, dois bilides de verdades, pelo menos por duas: a verdade dy mundo de cada dia, o_mundo_usual, 9 mundo.didrig; ¢ a verdade do mundo_cienlifico,.para_além.das_nossas..Senr SacGes_imediatas. ‘Segundo essas idéias, 0 mundo usual, o mundo dado imediatamente, 6 0 mundo das “ilusdes dos nossos senti- dos”: 0 sol é do tamanho da laranja; 0 som, um ruido exis- tente por si; o cinema, figuras em movimento continuo. Essa seria a verdade vulgar. A outra, a perdade_cientifica, para além de nossas ilusdes, diz-nos, ao contrario, que © sol é um globo de milhdes de quildmetros de didmetro, que o som é apenas uma vibracdo da matéria, impressio- nando o sentido auditivo e que a cinematografia é uma série de imagens estaticas movendo-se com extrema rapidez. Dizer que o sol é do tamanho da laranja, sé porque ele nos parece como tal, ndo é uma verdade, porque nao é€ confirmada pela experiéncia. Esse mundo de ilusdes 80 € de ilusdes na medida da nossa ignorancia. Sabemos que o_homem sem_conhecimentos cientifico: iiude—com do for possivel que doe OF Homers Ten ey oat i t lenham’ esses conhe- cimentos, eles saberdo que o sol é muito mai parece 4 simples vista- ‘ator do que . Ha um sé mundo: é esse em que viv e € 0 que conhecemos ou, pelo menos, cada vez melhor 4 medida que vivemos impossibilidade do conhecimento da sendo 9 mundo um mundo de sen- homem de maneira diversa, nun- representado, se nao por emos e agimos, vamos conhecendo © agimos, lo fora ou sem auxilio das 5s = s a ensat 4,| dade que a estatua de Conditiacs peo mas & também ver. sentidos humanos, nao poderg fe Suidora Suet pleno do Universo, Porque The falta omar +| consciéncia_e_atividade. » antes But Giese COMMECEMIOS, D4 i mpeg stan, ua, nitad tude das formas Primitivas do seu viver, nao podera nunca compreender e apreender, com a mesma facilidade que uma crianga oriun- da, através de dezenas de Seragdes, de uma civilizacdo cada vez mais complexa. O cérebro dessa crianca guarda a experiéncia ancestral, A prépria especulacao metatis influéncia ancestral e utiliza a experiéncia das geragdes passadas. Essa experiéncia contribui eficazmente para o conhecimento do Universo, tornando o cérebro e a inteli- géncia do homem cada vez mais aptos a penetrar a essén- cia dos fendmenos. (5-A) Mas é, sobretudo, a experiencia prilica didria e, me Thor ainda, a experiéncia ladora_d n0s_da_o conhecimento do mundo, jica_pde em jogo essa adas_mais tudo nas camadé s al, sobre ma concep¢ao erré- a epcao que fa- nea do significado da experimenta¢ao, concep¢: Ha, no piiblico em geral, Soo afastadas dor conhecimento cientifico, 61 fivi u valor como vorece 0 idealismo, porque poe em diivida se ; i 6 pode Fonte one intement, que a experimenta ae ely por ser obtida nos laboratérios. Ora, nae foratorio, fim de exemplo, trazer 0 sole a lua para Lae ber de que Bao com eles fazer andlises quimicas, par: eam ecrse constituidos, tudo o que sabemos a respt conjecturas. sone Nessa concepgdo etrénea € prejudicial é fi ficar. ‘ i Je ada vida pratica did- ria. por meio dela que aprendemos uma série de a que nos servem de orientagao e contribuem para 0 con cimento do mundo, Por meio dela, conseguem os selvagens distinguir as plantas venenosas das de poder terapéutico ou das alimenticias. Ainda por meio dela aprende o cam- ponés a plantar sua mandioca ou seu pé de milho na época propicia. Ha trés mil anos, os egipcios j4 dividiam o mundo em 365 dias. N&o foi nenhum sabio em seu gabinete, especulando sobre as vantagens de um ano de 365 dias, que adotou tal ntimero em lugar de 563, por exemplo. Mas isso foi obtido através de experiéncias de grande numero de geracGes anteriores. : ‘cil de reti- Essa~é a forma usual da experimentagao tal como € com- preendida pelo ptblico em geral. Sao as experiéncias da mecnica, da fisica, da quimica, realizadas com o ins. trumental mais ou menos conhecido, ou buscando a sol 40 para uma determinada questao ou simplesmente expe mn. tando “para ver o que sai”. perimen- oe sobre corpos que se achat nge le acdo imediato e quase sempre’ f . : s ora do alca sos sentidos. Precisamos ir buscd-los, com o mie ie cpio, © telescépio, o espectroscépio, 0 gonidmetro, etc roscépio, lo nosso campo rimo=fios as experimentacoes ou observacées feitas a ara 62 comprovar a exatidao de teorias ou calculo: Ati is sai s Tais s4o, por exemplo, os célculos sobre a aires eclipses. Um astronomo determina, por meio de dieu ge que em tal data se deve verificar um eclipse do Sol cue ie ea observa¢ao coincide com os caAlculos, fez. fs ‘ » fez-s i mentagd4o com éxito. ‘¢ uma experi- Leverier, 0 célebre astrénomo francés, deduziu a exis tencia de Netuno, localizou-o, deu-the as medidas, a érbita, a duragao do Seu movimento de translagao, simplesmente por meio de calculos. Galle, de Berlim, seguindo as indi- cagdes de Leverier, descobriu o planeta na posi¢ao indicada. — Re- ferim Os a certas hipdteses, emitidas por alguns sdbios, cuja exatidao se verifica procurando por meio delas expli- car certos problemas até entdo insoliiveis. O caso das anomalias do planeta Mercurio é tipico. E sabido que Leverier, 0 mesmo a que jé nos referimos. ha- via notado, na érbita de Mercério, uma certa anomaHa: a sua 6rbita que, segundo a concepc4o do Universo‘newto- niano, devia ser sempre a mesma, ao contrdrio, ela pré- pria, por sua vez, descrevia outra érbita. . No Universo newtoniano, as érbitas dos astros desen- volvem-se num espacgo plano. No Universo curvo de Eins- tein, as préprias érbitas, em vez de se desenvolverem num espaco plano, s4o, por sua vez, elas mesmas, curvas. Aplicando.,;a teoria do espaco curvo as anomalias da !érbita de Mercurio, ,verificou-se que o fendmeno ficava | perfeitamente explicado. . A experiéncia deu, pois, razdo 4 | concepg&o einsteiniana contra a newtoniana porque, postas \diante dos fatos, , aquela correspondia melhor 4 realidade. Outro exemplo' tipico € 0 caso da classificacao perié- dica dos elementos de acordo com sua massa atémica pro- posta por Mendeleieff. “A elaboragio do quadro de Mendeleieff apresenta al- gumas dificuldades. A fim de colocar numa mesma coluna vertical os elementos quimicamente semelhantes foi preciso deixar algumas casas vazias nesse quadro. Foi 0 que acon- teceu para a casa do numero 21 entre o calcio e o titanio. 63 ci eleieff_ ha- “Guiado por uma intuigao audaciosa, Nei colo- via previsto a descoberta de um elemento, a comparagao car-se naturalmente no ropriedades ‘do com elementos vizinhos, i s anos mais corpo que foi efetivamen a PaTttOS tarde ea 1879, a que se chamou Scandium. Dois : i mesmo elementos, o Gallium e 0 Germanium Sica aoe aaa modo ocupar os lugares vagos 31 ¢ 32. ee ay ae faltam sendo dois elementos que devem ocup lugar vago & pel havia previsto as Pp! te descoberto algun! 85 e 87” (1) (6-A) : Ainda uma vez, foi a experiéncia pratica 4 confirmar uma teoria. . onheci- Ela é toda a base para a formagao do nosso © 6_muitas teorias ¢ leis sao deduzidas_da_ex periéncia, mas é ainda ela_ permite_verificar_a idade de muitas_teoria: O proprio Kant, ha mais de cento e cingifenta anos, escrevia as seguintes palavras, ao defender-se de uma acusacao: “A tese de todos os verdadeiros idealistas, desde a Escola de Eléia ao bispo Berkeley, esta contida na for- mula seguinie: todo conhecimento adquirido pelos senti- dos e pela experiéncia nao é sendo pura aparéncia e a verdade nao existe senao nas idéias fornecidas pela raz e pelo entendimento. porno) “O principio que rege e determina tod, ‘ Ari, . iO meu i § a0 contrario: tode conhecimento das voisas eaiem te do puro entendimento ou da razéo Pura, nd é as (1) Ch. Brunould em L’Evolution Mathematiques, Paris, 1935, pag. 265, € composta de 92 elementos dispos crescente de sua massa atomice, aoa Ais pee aee de ns. 85 © 87, que, fatalmente, serio descoterog ent OF (2) Albert Einstein, Comment vole 7 Colonel Cros, Paris, 1936, pag. 165 des Sciences Physiques ¢ A série de Mendeleiefft 64 a . d- uma série inumerdvel de teorias e concepgdes gerais do mundo que, num suceder continuo, vio negando as ante- riores. ___ Ja Descartes dizia que “nunca imaginaremos uma idéia tao absurda que ainda nao tenha sido dita por algum filésofo”. Para os idealistas, esse fato é uma prova do valor re- lativo dos dados da ciéncia, da precariedade de todas as concepcdes filoséficas da impossibilidade de se obter a verdade, isto € a representacao real do mundo. a os, erdade limita-se 4 solugdo de uma pseudo-contradi¢ao existente entre o ser e 0 nao ser: sim ou nao, certo ou errado, € ou nao é, existe ou nao existe. Girando no meio de tais antiteses absolutas e diame- tralmente opostas e exclusivistas, chegar-se-a, fatalmente a conclusdo de que a ciéncia, como a humanidade, somente se poderd conduzir ou viver na base de “verdades eter- nas, definitivas e inapelaveis” no dizer de Engels. Ora, sabemos que, infelizmente as verdades “eternas e definitivas” sio, ainda hoje, no dominio das ciéncias fi- sicas ou sociais, “espantosamente raras”. Quando afirmo que este papel em que escrevo é branco , ao mesmo tempo, nao o é, nao afirmo uma contradi¢ao, mas, sim, uma verdade, a verdade sobre a natureza e o aspecto do papel, pois sei que, a cada segundo, que passa, a cor branca vai-se transformando em amarelo, pois este papel perde o colorido com o tempo. Essa transfor- macao é tao lenta que a nao percebo, mas sei que ela se Pprocessa, Quando digo que a Lei de Boyle é verdadeira e, 67 a nao me estou contradizendo, tempo nao 0 6, | 20 made vertadeira dentro de certos limites de tem- pois eee pressio para certos gases mesmo nesses erate to luird a possibilidade de uma limi- ites restritos, ndo exc je de | ; ‘ad mais estreita ainda ou de uma Ee ie mulacao em conseqiiéncia de pesquisas posteriores. i og o se d volve. Essa €, por jjsso mesmo, uma das caracteristicas do materialismo, que mais o distinguem do. idealismo em geral, para 0 eee Universo é sempre igual a si mesmo, repousando sobre uma série de verdades “absolutas, definitivas ¢ inapela- veis” que, na realidade, nao existem sendo em afirmagoes deste porte: todos os homens sao mortais, todas as ma- cieiras dao magas, Portugal fica na Europa. Fora dai, s6 encontramos verdades, que sao verdades dentro de determinados limites de tempo e espago, varian- do de acordo com um ou com outro, transformando-se em virtude da prépria atividade humana. SRE watt O'n Poe's et cra na pode, pot “| . nao, wee, ~ tradigd m por uma nova. ¢ A) _Durante anos, pode a ciéncia trabalhar com leis ou com teorias tidas como verdadeiras. Eis que, um dia, verifica~ se sua insuficiéncia em face de certos fendmenos, desco- bre-se que estavam erradas e novas teorias séo adotadas. Podem, ainda, a seguir, surgir outras, que substituirao estas ultimas. E o que chamariamos de “cardter histori eater_histor: verdade”. (8-A) _ Através de “err leis, de fatos, de idéia até que ponto o hom mento do Universo, "a ciéncia elaborou um conjunto de is € de realizagdes, que nos mostram em avancou no dominio do conheci- 68 O “erro” € pois, um elemento Positivo e nao uma sim- ples e pura negacao absoluta. Como negagio, ele é 0 se- gundo termo da equacdo dialética que nos leva ao terceiro termo, 0 X da equagio, ou a verdade, a qual, por sua vez, pode converter-se, mais tarde, em erro, transformando-se em negacdo e assim sucessivamente. No desenvolvimento da légica dialética, tese, antitese, oe ele é a antitese que nos leva a sintese, isto 6, a rerdade, O atomismo de Leucipo, Demécrito e Epicuro (tese) foi negado durante mil e quinhentos anos (antitese), para ressurgir, no século XIX, sob a forma do moderno atomis- mo (sintese). © heliocentrismo de Aristarco de Samos (tese) foi ne- gado por Ptolomeu e outros, durante mil anos, pelo geocen- trismo. (antitese), para dar lugar, no século XVI, com Co- Pérnico, a um novo heliocentrismo mais avangado, (sintese € ao mesmo tempo tese), o qual foi, posteriormente, negado Por novas concepgées para dar lugar a nova sintese, 4 mo- derna concepgdo einsteiniana do Universo. os constituem uma “ord Ele procura ainda subtrair a magées dogmAticas dessa ordem. E curioso, todavia, acentuar que os Préprios conceitos idealistas se transformam, de Parmenides a Platao, de S. Tomaz de Aquino a Kant, de Hegel a Husserl. E, do mes- mo modo, transformaram-se os préprios dogmas da Igreja, que ora combatia, ora se apoiava em Aristdteles, que com- bateu Galileu e, depois, fundou uma academia para estudar e aceitar sua obra. Para a Igreja ainda, as chamadas verdades cientificas sao verdades e, ao mesmo tempo, n4o 0 sao. . Isto 6, ‘S40 verdades, dentro de certos limites, em determinadas cién- ‘uss&0 todas as afir- 69 + COMO a fisica @ a quin;, quimica, mas ja ng ’ N20 0 sao n, a so. Para o material 10 : 5 aterialismo, ay, x dak » | nem limitada a esta ou aquela ciencin 8 ae miultipla L far Por isso mesmo, é, a0 mesnio Soetdade € uni- rare [2 elativa~a- in-car ni ming 7 ’ o nsanic ot n A ahr] Sap 10 per amento, da TStOFia Tumana igo Fouten +e grela, no seu conceito universal, pelo Progresso” colétive~ tna relativa—e—abson : aor ita es mento da_prati a m cada nova fase do desenvolvimento, ha uma revelacéo mais completa, mais rica e diversa do contetido absoluto do mundo mate- rial, 0 qual contetido, embora confinado a idéias historic. mente limitadas, é, nado obstante, verdade absoluta (Shi- rokov). 1 Esse conceito de verdade da vida as coisas e 'pria verdade, enriquece-a de dinamismo e ex; ‘gresso humano. a pré- lica_o 70 QUADRO | O que atrs expusemos pode ser resumido no seguinte quadro comparativo. MATERIALISMO 1) Existe um mundo exterior in- dependente de nossa cons- ciéncia, 2) & possivel para a inteligén- cia humana chegar a um co- nhecimento do mundo cada vez mais exato. Se conhe- cemos 0 objeto pelos nossos sentidos, pela nossa ativida- dade, pelas suas relagSes com as outras coisas, conhecemos igualmente Lenin, Materialisme et Empirlocriticisme, Paris, 1948, pag. 265, nota 1. 79 formacao da espécie”, segundo a qual todos OS Seres Vivo: seriam origindrios de uma ou varias espécies Primitivay. enquanto os partiddrios da doutrina da fixidez das espécieg seriam pluralistas, isto 6, consideram que as espécies So tantas quantas teriam existido na criagdo do mundo, e Nem todos esses monistas sao, entretanto, realmente materialistas dialéticos. Os termos monista e dualista, todavia, embora nao se- jam exatos, pretendem fixar, sobretudo, a Concepcao uni- taria do mundo, com a primazia do objeto sobre o ser, ca racteristica do materialismo. Para Oliver Lodge (1) “o termo monismo deveria apli- car-se a todo sistema filoséfico que supde — ou procura formular — a simplicidade essencial e a unidade da apa- rente diversidade das impressdes sensoriais e da conscién- cia, a todo sistema que procura fazer das complexidades da existéncia material e mental, da totalidade dos fendmenos. subjetivos e objetivos, modos de manifestagéo de uma sé realidade fundamental.” E essa justamente a concep¢do materialista e, por isso, cabe-Ihe 0 termo monista. Alias, esse “monismo”, essa ten- déncia 4 redug4o a unidade, é verificado na ciéncia a cada passo. Assim como é possivel que todos os seres vivos tenham provindo de uma célula origindria primitiva, é igualmente possivel que todos os astros se tenham originado de alguma nebulosa primitiva, do mesmo modo que os planetas se ori- ginaram do sol. A transmutagéo e dissociagao de alguns elementos simples vao igualmente tornar provavel a hipétese de que todos os elementos quimicos tenham surgido de transforma- gdes de algum elemento primitivo, ou que, pelo menos, deva existir um elemento fundamental unico na base de todos os elementos conhecidos, podendo por isso mesmo _transfor- marem-se uns nos outros. Depois da unidade dos mundos e da unidade das espécies chegamos, enfim, 4 unidade da matéria. . : No que concerne A unidade da matéria, depois dos tra- balhos dos Curie, dos Juliot-Curie, Milikan, Pérrin, Lange- (1) Obra cit. pag. 15. 80 t é c vin, Louis de Broglie, etc. etc., nao mais pode haver di- vidas a respeito. Essa unidade da matéria nao se limita apenas em as- sinalar a transformagéo de um elemento em outro, mas igualmente a unidade da matéria e da energia. “As transmutacdes dessas espécies quimicas, as trans- formagées da energia em matéria, e, reciprocamente, como, por exemplo, a materializagéo e desmaterializagao da luz — eis as duas formas desse progresso experimental do problema da transformacio ou metamorfose da substan- cia. (1) Mas nao somente ai vé o materialista a unidade do mundo. Para ele, assim como ha uma unidade no conceito da matéria e energia, igualmente a encontramos no conceito do corpo e do espirito. E sabido que se tem procurado, ultimamente, criar uma espécie de neovitalismo, para o fendmeno da vida em que a forca vital se encontra fora da matéria. (2) Em outro capitulo, teremos oportunidade de voltar ao assunto. Apenas queremos concluir que _os_materialistas véem_a unidade em toda a_natureza, enquanto..os..idealistas. procuram nela a duatidade. — DETERMINISMO E FINALISMO Nao pretendemos analisar aqui detidamente o proble- ma do determinismo, o que faremos melhor na 3.a Parte deste livro. Pelo presente, desejamos apenas salientar as posi¢des extremas e contrarias em que se encontram as duas doutri- nas que vimos analisando. (1) Helene Konczewska, «L’Unité des Ia Matlere © le Pro- bléme de Transmutationsy, Paris, 1939, pég. 289. (2) Ver sobretudo Hans Driesch, Naturbegrisse und Natur- urteile — 1904. 81 a causa de um fendmeno vel de conhecer e para impossivel de prever. Para os materialistas, pois, ; esta no passado e, portanto, posst 0s idealistas no futuro e, portanto, i pa ‘Ambos admitem causas determinantes para os fenome nos: ou as causas se encontram em fendmenos ae ou num objetivo final que o orienta em certo sentido. fern Mas ha uma grande diferenga entre essas duas deter- minacées. (2) Exemplifiquemos. Se saio 4 rua para um passeio e um automével me atropela, o idealista dir-me-4 que isto sucedeu nao porque, em virtude de circunstancias que ignorava, coincidiu que eu atravessava a rua no momento exato em que passava © automével, mas apenas porque isto foi previamente dis- posto pelo Espirito Supremo, o qual teria certamente seus motivas, um dos quais poderia ser aperfeigoar minha alma, ainda que com prejuizo das pernas. O materialista dir-me-4 que, se eu soubesse que o au- tomovel fatidico iria passar naquele instante, nada me te- ria acontecido, porque eu o teria evitado. (1)

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