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Os Dez Dias de Teshuvá e os Três Pilares do Mundo

Shimon, o Justo, um dos últimos participantes da Grande Assembleia, afirmava: “Sobre três
coisas se sustenta o mundo: o estudo da Torá, o serviço Divino e os atos de bondade”.

(Pirkei Avot).

Edição 77 - Agosto de 2012

Na obra Pirkei Avot, A Ética dos Pais, livro sagrado de sabedoria e ética judaica, consta que o
mundo é sustentado por três pilares: a Torá; a Avodá, o serviço no Templo Sagrado; e Guemilut
Chassadim, os atos de bondade. Cada um desses pilares foi personificado por um dos Patriarcas
do Povo Judeu – Avraham, Itzhak e Yaakov – e é por esse motivo que eles são chamados de “os
pais do mundo”. Avraham, que amava D’us e os homens, representa Guemilut Chassadim;
Itzhak, que se dispôs a ser sacrificado no Monte Moriá, onde foi construído o Templo Sagrado,
personifica a Avodá; e Yaakov, o homem que “habitava nas tendas”, dedicando seus dias ao
estudo da Sabedoria Divina, simboliza a Torá.

O conceito dos três pilares que sustentam o mundo e a invocação do mérito dos três Patriarcas,
que os personificam, é ecoado durante os Yamim HaNoraim, “os Dias Temíveis”, que se iniciam
em Rosh Hashaná e terminam ao final de Yom Kipur. Nossos Sábios ensinam que há três formas
do homem reverter um decreto Celestial não favorável: a Tefilá, a Teshuvá e a Tzedacá.

A Tefilá, palavra hebraica que é comumente traduzida como “oração”, corresponde à Avodá –
o serviço no Templo Sagrado. O Talmud define a Tefilá como o “serviço do coração”. Na ausência
do Templo de Jerusalém – quando estamos impossibilitados de desempenhar o serviço diário
dos sacrifícios, que lá eram oferecidos – empregamos palavras para servirem como substitutos
para as oferendas. O motivo pelo qual a Tefilá é um substituto provisório, mesmo que imperfeito
para o serviço no Templo Sagrado, a Avodá, é que os sacrifícios serviam para aproximar o
homem de D’us. O próprio termo Corban, “sacrifício”, advém da palavra Karov, “próximo”,
revelando que o verdadeiro propósito dos sacrifícios era ligar o homem a seu Criador.

A Teshuvá está claramente associada à Torá, pois, em hebraico, Teshuvá literalmente significa
“retorno”, isto é, a volta a D’us. A Torá é a interface entre um judeu e D’us; na ausência dela, a
Teshuvá não é possível.
A palavra Tzedacá, quando usada em seu sentido mais amplo, significa a prática de atos de
bondade, Guemilut Chassadim. Acredita-se, erroneamente, que a Tzedacá é feita apenas com
dinheiro. Na realidade, toda vez que um ser humano faz um ato de generosidade ou bondade
com outro, seja no âmbito material ou espiritual, está fazendo Tzedacá.

O motivo básico pelo qual a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim são os três pilares do mundo,
é que são três mandamentos Divinos que compreendem todos os outros. Mas há uma
explicação mais profunda: a razão pela qual esses três pilares mantêm a existência do Universo
é que fazem paralelo aos três tipos de relacionamentos humanos: entre o homem e D’us, entre
o homem e os outros seres humanos e entre o homem e ele próprio.

A Tefilá, que desempenha função similar a do serviço no Templo Sagrado, é muito mais do que
a enunciação de palavras sagradas: é uma ligação com o Infinito. O propósito da reza não é
meramente fazer pedidos a D’us, e sim, é uma forma de se conectar a Ele. Por meio da Tefilá,
o homem, assim como a fumaça dos sacrifícios, ascende aos Céus e se liga à Fonte de tudo, à
Vida de toda a existência. Ao se conectar a D’us por meio da Tefilá, o ser humano se torna um
canal para transmitir a plenitude Divina para a Terra. É por esse motivo que o mandamento da
Tefilá vale para todos os dias do ano, independentemente das necessidades ou desejos de quem
a faz.

A palavra Teshuvá é frequentemente mal traduzida e mal compreendida. Não significa


arrependimento ou remorso, e sim, o retorno do homem à sua essência. A Teshuvá está
necessariamente interligada com a Torá, pois essa obra de Sabedoria Divina é o manual que
permite ao homem maximizar o potencial de sua alma. A Torá foi dada para o nosso bem: proíbe
tudo que faz mal à nossa alma e pede para que pratiquemos atos que fortalecem nossa essência
e nossa ligação com D’us. Quando o ser humano comete algum pecado ou transgressão, ele
está ferindo sua própria alma. O pecado não prejudica o Infinito, que é intocável, e sim a
essência daquele que o cometeu. Por meio da Teshuvá é dada ao ser humano a oportunidade
de retificar qualquer mal que tenha feito a si próprio.

O conceito de Tzedacá, o mais importante mandamento da Torá, também é mal compreendido.


Na realidade, não significa caridade – significa justiça. A própria etimologia da palavra ensina
que não há nada mais justo do que alguém contribuir para o bem estar de outros. Nossos Sábios
ensinam que aquele que pratica a Tzedacá se torna um canal da benevolência Divina no mundo:
de certa forma, um parceiro de D’us em sustentar Seu mundo e Suas criaturas.

Durante os dias entre Rosh Hashaná e Yom Kipur, D’us julga todos os seres humanos e o mundo
como um todo. Os livros místicos ensinam que em Rosh Hashaná, o Rei do Universo toma uma
decisão crucial: se o mundo, e todos que habitam nele, têm mérito para existir por mais um ano.
Ao fortalecermos os três pilares que sustentam o universo – a Torá (Teshuvá), a Avodá (Tefilá) e
Guemilut Chassadim (Tzedacá), torna-se mais fácil “convencer” o Criador de que este mundo no
qual habitamos deve ser mantido.
Todo judeu, como filho dos Patriarcas que somos, deve ser uma personificação dos atributos
simbolizados por Avraham, Itzhak e Yaakov: a Torá, a Avodá e Guemilut Chassadim. Ao
fortalecer nossa relação com D’us por meio da Tefilá, ao retornamos à nossa essência por meio
da Teshuvá, e ao promover atos de bondade e generosidade por meio da Tzedacá, compelimos
D’us a não apenas renovar a Criação, mas a decretar e selar, para todo o Povo Judeu e para toda
a humanidade, um ano bom e doce, com bênçãos abundantes, materiais e espirituais.

Bibliografia:

Rabi Menachem Mendel Schneerson, Likkutei Sichot

Rabino Chefe do Reino Unido Lord Sacks, Jonathan,Torah Studies - adapted from the works of
the Lubavitcher Rebbe, Kehot Publication Society

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