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[RE] SIGNIFICANDO AS CIÊNCIAS SOCIAIS: ESCREVIVÊNCIAS


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DOI: doi.org/10.59601/9786500595574

São Paulo
HA Edições Literárias
2022
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[RE] SIGNIFICANDO AS CIÊNCIAS SOCIAIS: ESCREVIVÊNCIAS

APRESENTAÇÃO

A obra [Re] Significando as Ciências Sociais: Escrevivências, Volume


4, vincula-se às vivências realizadas pelos estudantes do curso de graduação
Bacharelado em Enfermagem, do Departamento de Educação – Campus XII –
Guanambi, em parceria com egressos e mestrandos do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Intervenção Educativa e Social – MPIES (Mestrado
Profissional), do Departamento de Educação – Campus XI – Serrinha, da
Universidade do Estado da Bahia, e convidados/as de outras Instituições de
Ensino Superior (IES) nacionais e internacionais no decorrer do ano de 2022.
Esta publicação emergiu do componente curricular Ciências Sociais
Aplicada à Saúde, a partir do qual as organizadoras dessa obra apresentam
relatos de experiências e revisões de literatura produzidos pelos (as) estudantes
de graduação e de pós-graduação, juntamente com as egressas e professoras
da UNEB/MPIES e de outras IES nacionais. Os textos, que compõem a referida
obra, estabelecem relações com a saúde e/ou temáticas emergentes nos
diversos contextos sociais contemporâneos, relacionados aos estudos de
pesquisadores (as) de diferentes áreas do conhecimento e grupos de pesquisa.
A presente coletânea tem como objetivo fortalecer o diálogo, a difusão e
a consolidação do conhecimento no âmbito interdisciplinar e na articulação entre
a teoria e a prática oriundas das interfaces entre graduação e pós-graduação,
visando à dialogicidade com o processo formativo e interventivo de estudantes
da graduação com os de pós-graduação, buscando fomentar reflexões,
ressignificações e novas perspectivas de conhecimentos na área das ciências
sociais nos âmbitos da educação, da religião, da cultura e da saúde.
Diante do exposto, celebremos a publicação desse novo volume, dividido
em duas partes, certos de que, ao explorar essa obra, ficaremos mais ricos em
conhecimentos e comprometidos com a área das ciências sociais e da saúde
dentro de uma concepção interdisciplinar. A Parte I, Escrevivências dos
docentes, estudantes de graduação do curso de enfermagem (DEDC –
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CAMPUS XII – Guanambi) em parceria com egressos e mestrando do


Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Intervenção Educativa e
Social – MPIES (Mestrado Profissional - DEDC – CAMPUS XI - Serrinha), é
composta pelos seguintes capítulos:
O Capítulo 1, OFICINA TERAPÊUTICA “SONHO EM FORMA DE
BALÕES”: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO CAPS AD NO SERTÃO
PRODUTIVO BAIANO, teve por objetivo atribuir a importância dos sonhos dos
usuários, os quais mostraram interesse, motivação e interação na participação
da oficina de terapia comunitária integrativa, que teve como relevância social o
retorno do indivíduo a si mesmo, devolvendo aos sujeitos o seu lugar na
sociedade, a sua autonomia e a sua autoestima.
O Capítulo 2, CONSULTA DE HIPERDIA EM OBSERVAÇÃO DOS
PADRÕES ALIMENTARES: UM RELATO DE CASO DE ALUNOS DO CURSO
DE ENFERMAGEM DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA ESTADUAL BAIANA,
buscou apresentar as reflexões levantadas pelos discentes em observação aos
padrões alimentares relatados em consulta e as relações de vulnerabilidades
vivenciados pelos pacientes, bem como compreender as demandas que
expandem os aspectos biológicos do cliente com Hipertensão Arterial Sistêmica
e Diabetes Mellitus, como caminho para o desenvolvimento e a efetivação de
políticas públicas para a promoção da qualidade alimentar.
O Capítulo 3, RELIGIÃO, RITUAL E CURA NO CONTEXTO DO
COMPONENTE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADA À SAÚDE: RELATO DE
EXPERIÊNCIA DAS AÇÕES, apresentou os conceitos e as distinções entre
medicamentos e remédios, visto que existe uma incompreensão popular acerca
do significado desses termos. As ciências sociais em saúde estabelecem uma
inter-relação entre a o agir humano na sociedade e o bem-estar da população.
Nesse contexto, a temática religião, ritual e cura ganharam espaço para debate
e possibilitaram a construção de uma apresentação sobre as práticas religiosas
voltadas para a cura pela fé.
Já o Capítulo 4, IDADISMO E O PRECONCEITO ETÁRIO NO BRASIL
NO CONTEXTO ATUAL: UMA REVISÃO DE LITERATURA, analisou o que
versa a literatura sobre a estereotipação e os principais preconceitos
relacionados à idade. Os resultados apontam que o idadismo já é algo
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estabelecido na nossa sociedade e, com o advento da pandemia de COVID-19,


tornou-se mais perceptível e intensificado.
O Capítulo 5, A RELAÇÃO ENFERMEIRO-PACIENTE UM OLHAR
SOCIOLÓGICO: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UMA OFICINA FORMATIVA,
objetivou apresentar questionamentos direcionados à forma como se dão as
relações entre enfermeiros e pacientes e a influência que a sociologia em saúde
possui como transformadora de um processo de trabalho com perspectiva
instrumentalista e os recursos que podem ser usados para o desenvolvimento
de um cuidar mais humanizado.
Na sequência, o Capítulo 6, PRÁTICAS INTEGRATIVAS E
COMPLEMENTARES COMO FERRAMENTA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE
MENTAL DE UNIVERSITÁRIOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA, analisou os
achados da literatura acerca do uso das Práticas Integrativas e Complementares
como ferramentas para a promoção da saúde mental de estudantes
universitários.
Por fim, o Capítulo 7, PERFIL DOS ÓBITOS POR INFARTO AGUDO DO
MIOCÁRDIO NO ESTADO DA BAHIA NO PERÍODO DE 2016 A 2020, objetivou
traçar o perfil dos óbitos por infarto agudo do miocárdio na Bahia no período
supracitado.
A Parte II, Escrevivências dos estudantes de graduação, egressos e
mestrandos/as convidados de IES nacionais e internacionais que nos
deram as mãos e acreditaram nessa caminhada, é formada pelos seguintes
capítulos:
O Capítulo 8, O ENSINO REMOTO E OS IMPACTOS NO PROCESSO
DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA EM TEMPOS
DE PANDEMIA, tratou de um estudo de caso, cuja observação deu-se mediante
acompanhamento de uma criança de cinco anos, que vivenciou o processo de
letramento e de alfabetização na primeira infância, desenvolvido durante a
pandemia da COVID-19.
Já o capítulo 9, UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA-AÇÃO COM
ASSISTENTES SOCIAIS DE GOIÂNIA: A VIOLÊNCIA EM QUESTÃO, DANOS
À SAÚDE MENTAL E ESTRATÉGIA DE RESISTÊNCIA, apresentou a
experiência da pesquisa-ação com assistentes sociais de Goiânia, quando
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danos à saúde mental foram constatados, a partir da violência de gênero ocorrida


nos seus espaços sócio-ocupacionais.
O Capítulo 10, BENZEDEIRAS: ENTRE AS PRÁTICAS SAGRADAS E
SEUS ESPAÇOS DE ATUAÇÃO, buscou apresentar quem são essas
benzedeiras e o que está subjacente às ações ritualísticas do benzimento,
compreendendo o que vem a ser o benzimento, o ofício e a missão.
Por fim, o Capítulo 11, ENSINO SUPERIOR DE BASE TERRITORIAL:
QUESTÕES LEGAIS E SUAS INTERFACES PARA O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL, enfatizou o papel do ensino superior e a sua importância no
desenvolvimento social, uma vez que sua produção e disseminação científica
transformam as condições de vida dentro da estrutura nas bases produtivas e
econômicas das regiões; tendo por base os documentos institucionais das IES,
como o Plano de Desenvolvimento Institucional, que tem por finalidade servir de
base para a tomada das decisões estratégicas na gestão.
Diante do percurso desenvolvido em diferentes etapas de formação e de
sistematização do conhecimento, pautado numa dialogicidade interdisciplinar, é
que traçamos as escrevivências de trajetórias diversas de contextos e
propositivas. Referendando, assim, a concepção Freiriana de que, quando não
podemos alavancar sonhos impossíveis, também não temos o direito de negar
o sonho a quem ainda sonha. Nesta perspectiva, é que tornamos este sonho
uma realidade, fruto de muitas vivências oriundas de várias mãos que trazem
suas aprendências, possibilitando a construção e a apresentação dessa obra.

Organizadoras: Sandra Célia Coelho Gomes da Silva


Ivanete Fernandes do Prado
Carla Giselle Pereira Mascarenhas de
Valéria Antunes Dias Fernandes
Lidia Maria Santana Bispo de Jesus
Paula Valentine Soares
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PREFÁCIO

A presente obra é o resultado das vivências dos estudantes de graduação


e pós-graduação de vários Programas da Universidade do Estado da Bahia,
produzindo diálogos interdisciplinares a partir do componente curricular Ciências
Sociais Aplicada à Saúde. Sendo assim, são apresentadas experiências e
revisões de literatura produzidas pelos (as) estudantes em conjunto com os
egressos e professoras da UNEB/MPIES e de outras IES nacionais. O texto
incorpora os campos da saúde e as temáticas emergentes em várias dinâmicas
sociais contemporâneas, relativos aos estudos de pesquisadores (as) de várias
áreas e grupos de pesquisa.
Os textos, incluídos nesta obra, têm como objetivo disseminar o
conhecimento e motivar o diálogo entre as disciplinas com base interdisciplinar,
incluindo os saberes populares dos nossos antepassados. Considerando o
processo formativo e prático dos estudantes supracitados, busca-se fomentar
reflexões, traduções e novos olhares na área das ciências sociais e no âmbito
da educação, da religião, da cultura e da saúde, discutindo sobre emergências
nessas áreas com a perspectiva de estimular uma consciência social expandida
e uma sensibilidade aos fruidores desta obra.
Foram enfatizadas oficinas de terapia comunitária integrativa, que
possibilitaram proporcionar autoestima ao indivíduo, a partir da inserção num
espaço social apropriado. Observaram-se pelos discentes padrões alimentares
em consultas e em seus relatos de vulnerabilidades, além do respeito aos
aspectos biológicos de pacientes com Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes
Mellitus. Além disso, foram esclarecidos conceitos sobre medicamentos e
remédios, em relação à incompreensão da população sobre esses termos. Ritual
e religião ampliaram possibilidades alternativas de cura, incluindo elementos da
natureza e sabedorias das comunidades tradicionais, elaborando receitas com
ingredientes ancestrais.
A continuação analisa a literatura a respeito dos preconceitos sobre a
idade estabelecidos na sociedade, que ganharam mais ênfase com o advento
da pandemia de COVID-19. Questionamentos acerca do direcionamento das
interações entre enfermeiros e pacientes foram feitos, já que as ciências sociais
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podem influir na área da saúde e no processo de cuidado mais humanizado do


paciente. Foi analisada a literatura acerca das práticas integrativas e
complementares relacionadas ao instrumento de promoção da saúde mental de
estudantes universitários e objetivou-se traçar o perfil dos óbitos por infarto
agudo do miocárdio na Bahia no período de 2016 a 2020.
Na segunda parte da obra, foram enfatizadas as vivências dos estudantes
de graduação, egressos e mestrandos/as convidados de outras IES nacionais e
internacionais. Em um estudo de caso sobre o ensino on-line, foram ressaltados
os impactos no processo de letramento e de alfabetização da primeira infância
em tempos de pandemia, além de uma experiência de pesquisa-ação com
assistentes sociais de Goiânia. Por fim, o último capítulo apresenta as
benzedeiras, como tradição ancestral no ato de benzer.

Prof. Dr. Alessandro Malpasso1.

1 Graduado em Belas Artes pela Universidade Estadual de Brera, em Milão. Mestre em Gestão
Cultural pela Universidade de Valencia e pela Universidade Politécnica de Valencia - Espanha.
Doutor em Difusão do Conhecimento - PPGDC - (Universidade Federal da Bahia – UFBA et al.)
e em Indústrias da Comunicação e Culturais na Universidade Politécnica de Valencia - UPV -
Espanha. Pós-Doutor no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (UA)
- Portugal.
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DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.1
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INTRODUÇÃO

O presente relato teve, como perspectiva, demonstrar a importância das


oficinas terapêuticas para os usuários do CAPS AD, situado no sertão produtivo
baiano, como uma estratégia para a socialização com a sociedade e com os
familiares, reconhecendo as formas de os mesmos interagirem com a sociedade,
no que tange a reflexões sobre as oportunidades e dificuldades. A partir do
século XVIII, foi idealizada a criação dos manicômios para o isolamento de
mendigos, prostitutas, vagabundos e os considerados loucos pela comunidade
(AMARANTE, 1995). O modelo assistencial, idealizado na construção e
fundação de hospícios, era objetivado em práticas de controle de
comportamentos, disciplina, punição e violência institucional (FRAGA, 2006).
A reforma psiquiátrica, iniciada no Brasil a partir da década de 1970, foi
um movimento correlacionado à conversão do ideal hospitalocêntrico, biomédico
e do adoecimento, para a manutenção da reinserção social, do resgate de
cidadania e da autonomia do usuário portador de transtorno mental
(RODRIGUES et al., 2010).
Nesse contexto, a partir da conceituação da Reforma Psiquiátrica, surge
o novo modelo assistencial em saúde mental no Brasil, os Centros de Atenção
Psicossociais (CAPS), uma rede de serviços substitutivos aos hospitais
psiquiátricos, atuando de forma interdisciplinar, no que se refere ao cuidado
(SANTOS et al., 2012). Priorizando a construção de um modelo terapêutico
individual, centrado no acolhimento e no vínculo, o serviço possui denominações
de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS infantil (CAPS i) e CAPS álcool e drogas
(CAPS AD) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Sendo assim, o CAPS AD apresenta propostas de se comprometer com
o cuidado de indivíduos que sofrem com a abstinência ao uso de substâncias
químicas, casos esses em que a instituição propõe cuidados clínicos éticos e
políticos com os pacientes, visando ao acolhimento proposto e à redução de
danos, desafiando os profissionais de saúde a construir estratégias e
intervenções de cuidado que venham impactar a vida terapêutica, capazes de
conciliar a singularidade desses usuários (MENDES, 2014).
O uso de álcool e tabaco, de forma exacerbada, leva a consequências
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que envolvem quebra de vínculos familiares, profissionais e sociais,


ocasionando, muitas vezes, ao indivíduo situações precárias de vida e de
sobrevivência. Essa abstinência leva esses indivíduos a buscarem por serviços
de saúde que proporcionem a assistência, como a formação de uma rotina com
demandas de cuidado, que encontramos nas ações recorrentes de
necessidades físicas e psicológicas (MENDES, 2014).
O presente artigo tem como objetivo descrever a experiência de um grupo
de acadêmicos de Enfermagem, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB),
Campus XII, que realizaram uma oficina terapêutica intitulada "Sonhos em
Forma de Balões", no CAPS AD, com o intuito de proporcionar um momento
dinâmico entre os usuários, fortalecendo a convivência social e a promoção da
saúde mental.
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METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, em que


se buscou descrever a oficina desenvolvida no grupo educativo psicossocial,
realizado no período de estágio, no dia 9 de novembro de 2022, no turno
matutino, no cenário de prática, no Centro de Atenção Psicossocial-álcool e
drogas (CAPS AD), em uma cidade localizada na região sudoeste da Bahia.
Entende-se por Relato de Experiência:
O RE é uma modalidade de cultivo de conhecimento no território da
pesquisa qualitativa, concebida na reinscrição e na elaboração ativada
através de trabalhos da memória, em que o sujeito cognoscente
implicado foi afetado e construiu seus direcionamentos de pesquisa ao
longo de diferentes tempos. Isso posto, conjugará seu acervo
associativo agindo processualmente, tanto em concomitância com o
evento, como trazendo o produto processado pelas elaborações e em
suas concatenações, e, finalmente, apresentará algumas das suas
compreensões a respeito do vivido( DALTRO; FARIA, 2018, p. 7)

Contextualizando a perspectiva de relato de experiência, as oficinas


terapêuticas consistem em ações de encontros de vida entre pessoas que estão
em sofrimento psíquico, promovendo a liberdade e a convivência dos diferentes.
Além disso, é uma importante estratégia de tratamento que busca o
desenvolvimento de habilidades corparais, realizando práticas produtivas e o
exercício conjunto da cidadania através das atividades artísticas/artesanais, ou
dando-lhes acesso aos meios de comunicação e de expressão. Além de ser uma
modalidade de tratamento e de (re)inclusão dos pacientes na sociedade, visando
garantir o exercício de seus direitos, como a não obrigatoriedade da participação.
A função das oficinas terapêuticas são a promoção da saúde e educação, em
que cada usuário é o protagonista do seu processo de vida (FERREIRA;
CARVALHO, 2018).
A oficina terapêutica, denominada “Sonho em Forma de Balões”, foi
desenvolvida por acadêmicos do curso de bacharelado em Enfermagem, da
Universidade do Estado da Bahia, Campus XII, para aproximadamente 15
usuários do CAPS AD, com duração de 3 horas; tendo como objetivo atribuir a
importância dos sonhos aos usuários, tendo em vista que o sonho pode libertar,
é carregado de representações sociais e, antes de tudo, é a possibilidade de
realização dos desejos, das projeções e das expectativas. Finalizando esse
primeiro momento da atividade, o grupo se reuniu para uma reflexão em torno
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da prática proposta.
Previamente, realizou-se o planejamento da oficina, visando promover a
autonomia, a cooperação e o interesse, além de fortalecer o vínculo dos
discentes com os usuários do CAPS. O planejamento deu-se por meio de uma
reunião entre os discentes responsáveis pela oficina, na qual foi procedida uma
revisão intencional da literatura, a fim de compreender como se dá a oficina
terapêutica lúdica e dialogada.
Em um primeiro momento, foi escolhido um local dentro do CAPS, para a
realização da oficina. Posteriormente, reunidos todos os usuários, os discentes
se apresentaram e foi explicado como funcionaria a oficina com os balões,
contextualizando a importância das oficinas na rotina diária de vida dos usuários.
Em seguida, foram distribuídos um balão, uma caneta e papel para cada usuário,
de modo que eles pudessem escrever o seu maior sonho, que deveria ser
depositado dentro do balão, que seria enchido e amarrado.
O propósito da dinâmica era caminhar em círculo dentro do espaço que
foi estabelecido, jogando o balão para cima, evitando que o mesmo estourasse
e o sonho se esvaziasse. Inicialmente, a atividade foi executada com esforço,
pois alguns balões estouraram. Mas, seus respectivos donos puderam recuperar
seu sonho, enchendo outro balão.
Como suporte metodológico para esta oficina, tivemos como auxílio o
campo da psicologia, que contribui com os conhecimentos de Carl Gustav Jung,
para compreender os sonhos. Jung foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço que
fundou a psicologia analítica. Ele propôs e desenvolveu os conceitos da
personalidade extrovertida e introvertida, dos arquétipos e do inconsciente
coletivo, além de propor que sonhos revelam muito mais do que ocultam (JUNG,
2008).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A iniciativa de desenvolver essa oficina, no CAPS AD, teve por finalidade


oferecer oportunidades de redimensionar o sofrimento desses sujeitos e
contribuir para efetuar mudanças com vistas à sociabilidade, diminuindo a
sobrecarga dos estigmas socialmente criados sobre eles, proporcionando um
momento benéfico em suas vidas. Recordamos aqui que as oficinas têm o
sentido de caminhar na possibilidade de o sujeito estabelecer e fortalecer laços
de cuidado consigo, com o trabalho e com os outros, apresentando finalidade
clínica (SILVA et al.,2019).
Durante a oficina, foi possível verificar o interesse e a motivação dos
usuários, ressaltando que todos ficaram preocupados em manter seus “sonhos”
no ar e também ajudando seus colegas a manterem os deles, além de
compartilhar os sonhos que ainda mantêm vivos. Destaca-se a importância das
interações sociais, para evidenciar o fazer da saúde mental, principalmente
dentro da oficina, em suas múltiplas interações. Observou-se que essa
socialização e/ou ressocialização do sujeito deve começar no desenvolvimento
de trabalhos terapêuticos, no âmbito dos serviços terapêuticos com a
participação de todos (ANDRADE et al., 2020).
A oficina foi realizada de forma lúdica, bastante interativa e, ao final, os
usuários puderam relembrar e socializar seus sonhos com os colegas, momento
em que foi possível fazer uma ligação da oficina com a terapia comunitária
integrativa, a qual busca o retorno do indivíduo a si mesmo, devolvendo-o para
ocupar seu lugar na sociedade, restabelecendo sua autonomia e autoestima. Os
usuários passaram por um reencontro consigo mesmos, algo que é estimulado
nas rodas de terapia comunitária integrativa como componente da rede social
(CARVALHO et al., 2013).
Para o grupo de estudantes, esse espaço significou um processo de
construção, que ocorre aos poucos, desmistificando o olhar social voltado ao
CAPS e a seus usuários, podendo observar que aquele espaço é um local para
cuidar, que a clínica é ampliada, que o acolhimento não se restringe ao primeiro
atendimento do usuário e que o respeito pelas histórias, sonhos, desejos e
sofrimentos devem ter um olhar de destaque para os profissionais que atuam na
rede de atenção psicossocial. Neste estudo, compreendemos o “fazer oficina”
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como um lugar de possibilidades, de construções de novas formas de ser e de


estar no mundo, assim como de corpos sensíveis e articulados e, por isso, mais
autônomos, visto que um sujeito articulado é alguém que aprende a ser afetado
pelos outros (AIRES et al., 2022).
Assim, foi possível observar que a realização dessa oficina terapêutica foi
de grande importância na vida dos usuários, tornando possível observar que uma
terapia comunitária, em forma de oficina, melhorou o dia deles, resultado muito
gratificante, contribuindo, por conseguinte, para a formação dos estudantes, na
perspectiva de interação com novas visões de assistência ao cuidado com o
paciente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, reiteramos a importância das oficinas terapêticas no


tratamento dos usuário do CAPS AD, enfatizando alguns benefícios: a satisfação
transmitida por meio da expressão corporal e a modificação da sua postura e do
seu comportamento; a estimulação do contato/criação; a produção estética e
cultural e; o lazer social através do convívio social, trazendo um abiente
diferenciado como o de costume que demarca a solidão do adoecer psíquico.
Essa experiência permitiu-nos conhecer melhor cada usuário, de forma
mais íntima e singular, gerando um vínculo de aproximação maior, através da
dinâmica, que permitiu uma abertura por parte de cada um deles, podendo-se
intuir que tal experiência foi importante para o contato e para a vivência naquele
ambiente. Além disso, oportunizou-nos contribuir com a equipe, estabelecendo
um vínculo positivo com os usuários, possibilitando-nos saber mais sobre os
fatores externos, que não estavam expostos ali, como o contato que cada um
tem com a família, possibilitando-nos, ainda, formular estratégias de atuação,
concorrendo para a melhora da qualidade de vida dos atores envolvidos.
Certos de que a prática influencia a nossa formação profissional e
contribui para o crescimento pessoal, sentimo-nos privilegiados por dividirmos
essa vivência com pessoas parceiras, na luta por um cuidado digno e solidário,
de forma a promover a reinserção social e a garantir os direitos à cidadania.
Além dos benefícios atribuídos para os usuários, para nós, como
estudantes, tivemos trocas benéficas, uma vez que lidamos com o papel de
promover ações educativas e assistenciais, trazendo para a prática a execução
de vivência, parâmetros que visam ao treinamento psicotécnico dos
profissionais, de modo abrangente aos enfermeiros, capacitando-nos para o
cuidado voltado à reinserção dos pacientes à vida social, em que cada um, ao
lidar com um objetivo (sonho), notou que não existem limites e que nem tudo se
aplica a seus problemas.
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Apegar-se a objetivos animadores e de desenvolvimento pessoal confere


aos usuários de substâncias químicas autonomia sobre suas vidas. Portanto, a
enfermagem é necessária para auxiliar no autocuidado e na reafirmação dos
usuários de substâncias químicas como indivíduos dentro do meio social,
quando se encontram limitações para seu desenvolvimento. A atividade foi tão
importante para eles, quanto para nós, enquanto estudantes, para vivenciarmos,
na prática, aquilo que aprendemos na teoria.
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REFERÊNCIAS

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DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.2
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INTRODUÇÃO

A Hipertensão e a Diabetes fazem parte do grupo de Doenças Crônicas


Não Transmissíveis (DCNTs), ocupando lugar de destaque entre os problemas
de saúde pública. A hipertensão arterial é uma doença na qual há uma elevação
dos níveis pressóricos, devido à maior pressão sanguínea nos vasos arteriais,
bem como ao maior esforço a nível cardiovascular, para que o sangue seja
distribuído de maneira correta no corpo. Trata-se de uma doença crônica que
necessita de abordagem, controle e tratamento integral contínuos. No Brasil, 388
pessoas morrem por dia, em virtude da hipertensão, além disso, é um dos
principais fatores de risco para a ocorrência de acidente vascular cerebral,
infarto, aneurisma arterial e insuficiência renal e cardíaca (BRASIL, 2019).
Outra doença crônica que merece ser citada é a Diabetes Mellitus, na qual
o corpo não produz insulina ou não consegue empregar sua funcionalidade
corretamente, podendo ser classificada como tipo I e tipo II, além da forma
gestacional. Ademais, quando não controlada, pode causar sérias complicações,
como a cetoacidose e neuropatias diabéticas (BRASIL, 2018).
Existem alguns fatores de risco que podem levar o indivíduo a ter mais
chances de acometimento por essas doenças, nesse sentido, é necessário que
as equipes de Estratégia de Saúde da Família façam o acompanhamento do
indivíduo, para que ele possa adotar hábitos saudáveis de vida e autocuidado,
realizando um controle rigoroso de seu estilo de vida, como: a prática de
exercícios físicos, controle de situações estressantes e dieta saudável
hipoglicêmica e com restrição de sódio. As práticas alimentares dos excessos
estão completamente ligadas ao padrão de vida atual do brasileiro, que se
destaca pelo uso excessivo de açúcares, alimentos industrializados e ricos em
sódio, além da redução de alimentos naturais, como feijão e arroz, frutas e
vegetais (LIMA FONTES, 2019).
Com a finalidade de orientar o tratamento dessas doenças, tem-se o
programa denominado Hiperdia – Hipertensão e Diabetes – ação que busca
promover o acompanhamento de indivíduos com hipertenção arterial sistêmica
(HAS) e com diabetes, buscando a vinculação desses pacientes às Unidades
Básicas de Saúde (UBS) e à Estratégia de Saúde da Família (ESF), propiciando,
para além do acompanhamento clínico, o desenvolvimento da autonomia e o
26

fortalecimento do vínculo profissional-cliente (FEITOSA; PIMENTEL, 2016).


Esse programa é uma ferramenta de grande importância do Ministério da
Saúde, pois as informações nele armazenadas, durante o acompanhamento do
indivíduo, permitem avaliar os possíveis riscos e os fatores de complicações em
cada um, facilitando o atendimento e o cuidado para com as pessoas com esses
tipos de doença, garantindo maior atenção e melhor assistência (CARVALHO
FILHA; NOGUEIRA; VIANA, 2011).
Diante disso, enfermeiros e enfermeiras das ESFs deparam-se com um
grande desafio: a adesão dos pacientes que utilizam o servico de Hiperdia à
alimentação correta (IVANOV, 2019). Ressalta-se que a má alimentação é o
maior entrave para que as metas terapêuticas sejam alcançadas, devido, na
maiorias das vezes, aos hábitos culturais. Além disso, a limitação financeira é
outro empecilho para a nutrição correta, pois impede que os valores nutricionais
sejam ingeridos corretamente, em virtude da realidade social atual, em que nem
todos têm acesso aos direitos básicos alimentares (BARBOSA, 2020).
Outro ponto a ser considerado sobre a má alimentação está no padrão de
vida dos indivíduos, cuja rotina moderna da falta de tempo, leva as pessoas a
buscarem pelo imediatismo, fazendo com que a população opte por alimentos
industrializados, rápidos e fáceis de serem encontrados. Segundo Bezerra et al.
(2020), esses alimentos possuem menor valor aquisitivo e são pouco nutritivos,
o que acaba por corroborar com o imediatismo, concorrendo para o aumento do
seu consumo.
A alimentação saudável é fator primordial para a boa condição do estado
de saúde, enquanto os erros alimentares estão diretamente relacionados à
ocorrência de dislipidemias e alterações metabólicas que, por sua vez, são
fatores determinantes para HAS, DM e outras doenças. Em observação aos
padrões de vulnerabilidade social dos pacientes, em consulta de Hiperdia, há a
inquietação de como esse fator impacta na qualidade da nutrição desses
pacientes, fortalecendo, assim, a necessidade de se discutir essas observações,
para que intervenções sociais e de saúde sejam propostas para contemplação
dessa lacuna.
É importante destacar que, para instaurar um hábito alimentar saudável
em um indivíduo que tem uma alimentação inadequada, é necessario que haja
esforço, aceitação e incentivo da parte dele. Além disso, é necessário entender
27

o contexto social em que o usuário do serviço está inserido, para reconhecer,


desse modo, a possibilidade de ele seguir as orientações nutricionais ou se a má
alimentação ocorre devido a vulnerabilidades diversas, principalmente, alimentar
(BARBOSA, 2020).
Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo relatar as reflexões
levantadas por estudantes em consultas de enfermagem, a partir da análise dos
padrões alimentares relatados por paciente, e as relações de vulnerabilidades
vivenciadas por esses indivíduos atendidos.
28

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata de um relato de experiência de cunho descritivo-


reflexivo sobre a relação do padrão de alimentação, a partir de relatos em
consulta de hiperdia, analisando as relações de vulnerabilidade social,
observados na vivência de estudantes do curso de graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus XII, relacionadas às
práticas na atenção primária à saúde.
As atividades práticas de estágio foram realizadas no 5° semestre do
curso de bacharelado em Enfermagem, referente ao componente curricular
Saúde do Adulto I, ofertadas de modo presencial, sob a supervisão dos
professores responsáveis pela disciplina.
O cenário do estudo foi uma cidade localizada no Alto Sertão baiano,
cujas práticas foram realizadas em UBS e ESF, bem como no Centro de
Testagem e Aconselhamento (CTA). Por meio das consultas e do acolhimento
integral, que era realizado nos diversos pacientes, ou mesmo nos atendimentos
de rotina, campanhas de vacinação, demanda espontânea e programas, como
o hiperdia, percebeu-se uma lacuna sobre a alimentação dos usuários, o que
motivou a realização dessa pesquisa.
O presente relato foi escrito a partir das vivências e das informações
trocadas nos diálogos em consultas de rotina, atividades de educação em saúde,
acompanhamento, bem como do cadastro no programa Hiperdia. Para
embasamento teórico, foram realizadas pesquisas, nas bases de dados, sobre
estudos científicos obtidos a partir da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e do
Scielo. Conforme Gonçalves (2019), a revisão de literatura é um trabalho
acadêmico, realizado por meio de planejamento e consiste em vários modelos,
a depender, inclusive, da área de formação e do objetivo.
29

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As atividades da disciplina de Saúde do Adulto I, do curso de


Enfermagem, em sua configuração de cronograma prático, é dividida em dois
espaços: Atendimento Hospitalar e Atenção Primária à Saúde. Neste segundo
ambiente, os discentes atuam em vários espaços da unidade, como sala de
procedimento, sala de vacina e consultório de enfermagem, realizando diversas
atividades de educação em saúde em sala de espera, além de promover
consultas de grupos específicos em estratégias, como o Hiperdia.
Na prática, os discentes são orientados a direcionar uma consulta do
programa, ocasião em que devem ser realizados criteriosamente a anamnese e
o exame físico, coletando dados vitais, medidas antropométricas, histórico
clínico e familiar, além de dados de cunho social, como escolaridade, emprego,
região de moradia, religião, rede familiar, entre outras abordagens, efetuando
orientações ao término deles.
Mediante a análise das informações, foram identificados dados relevantes
para a má alimentação, como moradia, constatando-se que eram residentes da
zona rural; idade avançada; baixa situação financeira, observando-se que a
maioria vivia de ganhos da venda dos produtos rurais ou de aposentadoria, e;
baixa escolaridade, evidenciando vulnerabilidades sociais.
Yunes e Szymanski (2001) apontam que a vulnerabilidade se refere aos
indivíduos e às suas susceptibilidades ou predisposições a respostas ou
consequências negativas. Segundo Giddens (2008), a vulnerabilidade social
envolve os complexos que permeiam as desigualdades existentes frente ao
acesso a privilégios, mediante os esquemas de estratificação social, que
consistem basicamente nas diferenças da estruturação de classes, podendo ser
observados diferentes alcances para cada agrupamento.
Ante o exposto, foi notada a prevalência do consumo de massas,
alimentos hipersódicos, com uso de temperos industrializados e de alto teor
lipídico; para além do preparo de alimentos, foi observado o consumo de frituras.
O acúmulo desses fatores evidencia uma alimentação prejudicial e de risco para
o desenvolvimento de patologias de cunho crônico e não transmissíveis.
No que tange ao fator idade, é predominante a população idosa, conforme
supracitado. Assim, vale ressaltar que o Brasil apresenta um crescente
30

envelhecimento populacional, que se encaminha para uma inversão da pirâmide


etária. Segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, até
2050, haverá aproximadamente 128 idosos de 60 anos ou mais, para cada 100
crianças e adolescentes de até 20 anos. Isto configura um fator relevante a ser
observado, no tocante à assistência em saúde pública a esses indivíduos (IBGE,
2018).
Nesse sentido, Silva (2011) aponta para uma discrepância, no que tange
ao nível de escolaridade, entre moradores idosos das zonas urbana e rural. De
acordo com o autor, eles apresentam menor nível de escolaridade, quando
comparados àqueles. Essa desigualdade evidencia como esses indivíduos se
encontram num âmbito de maior vulnerabilidade, estando mais susceptíveis a
Doenças Crônicas Não Transmissíveis, em virtude de diversos fatores, tais como
econômicos e sociais.
A baixa renda e a escolaridade estão inteiramente relacionadas ao padrão
de alimentação e à qualidade de vida. O acesso ao ensino se associa a hábitos
de vida mais saudáveis, influenciando a maior adesão ao programa de Hiperdia
e na prática de atividades físicas. Nesse sentido, as condições socioeconômicas
afetam as escolhas individuais e coletivas, bem como a possibilidade de acesso
aos alimentos imprescindíveis, no tocante ao aporte nutricional, ou seja,
influencia a escolha alimentar, levando-os a optar por alimentos mais baratos e
menos saudáveis ou, até mesmo, por uma nutrição mais empobrecida.
Uma pesquisa realizada por Silva (2022), em uma população de 200
indivíduos, moradores da zona rural, buscou verificar o conhecimento deles em
relação à Diabetes Tipo II. Os resultados mostraram que a maioria conhecia os
fatores de risco, as complicações e como evitá-la. Todavia, não possuíam
conhecimento sobre o que era a doença propriamente dita. Nesse condão, pode-
se apontar um déficit no processo de educação em saúde desses indivíduos, o
que os deixa mais expostos ao adoecimento, além de fazê-los subestimar o
problema.
31

Evidencia-se, portanto, que as condições sociodemográficas e


econômicas, bem como o acesso à educação, são fatores contundentes para o
estilo alimentar dos pacientes entrevistados, durante a experiência de estágio
vivenciada pelos discentes. Sendo assim, considera-se de extrema relevância
para a formação dos mesmos o desenvolvimento de uma visão holística das
condições que circudam o processo saúde-doença de cada paciente.
32

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus são doenças e problemas de


saúde pública que precisam de intervenção criteriosa, devido à grande
prevalência na atualidade e por serem consideradas fatores de risco para
doenças cardiovasculares.
Além disso, há relações entre alguns determinantes sociais de saúde
evidenciados. Quando se analisa a população acometida por essas doenças no
Brasil, há uma polarização entre diferentes grupos sociais, sendo assim, é
necessário políticas públicas mais efetivas voltadas ao planejamento de ações
de saúde com abordagens multiprofissionais e intersetoriais, a fim de poder
entender e dimensionar o efeito do contexto em que estão inseridas essas
pessoas, no que diz respeito à prevalência de Hipertensão Arterial e Diabetes
Mellitus.
Em observância aos fatos relatados nas consultas de enfermagem
realizadas, é possível afirmar que determinantes sociais de vulnerabilidade,
como aporte financeiro, escolaridade, local de moradia e idade avançada,
impactam nos padrões alimentares deficitários da população assistida pelo
programa de Hiperdia.
E, nesse contexto, compreender tais demandas, que expandem os
aspectos biológicos do cliente diagnosticado com HAS e/ou DM, é o caminho
para o desenvolvimento ou mesmo para a efetivação de políticas públicas
voltadas à promoção de uma melhor qualidade alimentar, que poderia auxiliar no
controle, bem como na prevenção de novos casos de tais patologias.
Segundo a portaria GM/MS 235, de 20 de fevereiro de 2001, deve haver
uma educação continuada para hipertensos e diabéticos, entretanto, isso não
ocorre na prática. De acordo com vivências dos escritores, uma justificativa é
que os usuários do programa, em sua maioria, vão até a unidade apenas para o
recebimento de medicamentos, tornado inviável a formação de grupos para
discutir sobre educação em saúde. Nesse sentido, faz-se necessário pensar
alternativas para que esses ensinamentos sejam passados até a comunidade,
visto que trará um prognóstico melhor ao indivíduo por trazer mudanças de
hábitos em suas rotinas.
33

REFERÊNCIAS

BARBOSA, P. F. Adesão a terapia não medicamentosa: um desafio na


atenção básica. Universidade Federal do Pará, Universidade Aberta do SUS.
Belém, 2020.

BEZERRA, R. K. C.; SOUZA, D. L. A.; SILVA, J. C. S.; PINTO, N. S.; MENDES,


C. F. A. Percepção de Usuários Hipertensos e Diabéticos Sobre Práticas de
Educação Alimentar e Nutricional em um Grupo de Hiperdia no Sertão
Cearense. Rev. Unilasalle. Ceará, 2022.

BRASIL. Portaria N° 235, de 20 de fevereiro de 2001. Brasília: Ministério da


Saúde, 2001. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2001/prt0235_20_02_2001.html.

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Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-
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Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912016000100003&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 2 dez. 2022.

GIDDENS, A. Sociologia. 6. ed. Polity Press/Blackwell Publishers Ltd.: Lisboa,


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34

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YUNES, M. A. M.; SZYMANSKI, H. Resiliência: noção, conceitos afins e


considerações críticas. In: TAVARES, J. (Org.). Resiliência e educação. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2001.
35

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.3

INTRODUÇÃO
36

O componente curricular de ciências sociais em saúde estabelece uma


inter-relação entre o agir humano na sociedade e o bem-estar da população, com
a finalidade de prover uma boa qualidade de vida às pessoas, respeitando a
existência das diversas ideologias, religiões e organizações sociais, fontes
primordiais para a construção singular do indivíduo. Nessa perspectiva, através
de discussões intraclasse, baseadas em textos científicos, foi proposto o
desenvolvimento de um trabalho para ser exposto na XX Semana Acadêmica da
Universidade do Estado da Bahia – UNEB – DEDC XII, pautado em experiências
vivenciadas pela comunidade, acerca da temática religião, ritual e cura.
Desse modo, é imprescindível entender que a religião exerce um papel
muito importante na vida das pessoas, uma vez que existe há milhares de anos
e influencia o modo de ver e de reagir ao mundo, sempre coexistindo em um
estado de tensão com a ciência, tornando um desafio para os estudiosos o
estado de equilíbrio entre elas, já que estas confrontam constantemente os
ideais uma das outras. As características partilhadas pelas religiões existentes
implicam em um conjunto de símbolos que invocam sentimentos de reverência
ou de temor, ligados a rituais ou a cerimônias (como os serviços religiosos)
realizados por uma comunidade de crentes. Já os rituais podem incluir orações,
cânticos, canções, consumir certo tipo de comida ou abster-se de algo em algum
momento, dentre outros (GIDDENS, 2001).
Nas sociedades tradicionais, a religião desempenha, geralmente, um
papel central na vida social. Os símbolos religiosos e os rituais estão, muitas
vezes, integrados na cultura material e artística da sociedade (GIDDENS, 2001),
além de influenciar diretamente o processo de saúde-doença das pessoas, já
que os fatores biopsicossociais interligados a ela podem modificar o estado
emocional e, até, físico de uma pessoa enferma. Nessa lógica, é necessário
entender que as práticas religiosas podem contribuir para o tratamento de
pessoas que estão passando por alguma instabilidade hemodinâmica, isto
porque os fatores emocionais afetam diretamente o corpo e, quando alguém é
privado de manifestar a sua fé, ocorre um sofrimento psíquico, que agrava o
quadro de saúde daquele indivíduo.
Além disso, muitas pessoas acreditam que as práticas integrativas de
rituais religiosos têm o poder de cura, o que estimula a esperança de melhora e
37

traz resultados benéficos à saúde humana. Por esse motivo, é tão importante
respeitar e conhecer as diferenças existentes entre a ciência e a religião,
entendendo, por exemplo, a distinção entre conceitos básicos de medicação e
remédio, para que seja possível ampliar o olhar acerca dessa temática. Assim,
os medicamentos configuram-se como produtos feitos a partir de fármacos, que
têm como objetivo um efeito benéfico, produzidos para fins comerciais, com
finalidade terapêutica, que consiste na cura de uma doença ou na melhora dos
seus sintomas, podendo, de igual modo, ter outras ações, como a profilática,
ajudando na prevenção de doenças e auxiliando em diagnósticos usados em
exames, para que se possa determinar a presença ou a ausência de
determinada doença (GUIMARÃES; TAVEIRA, 2014). Já "remédio" tem um
conceito um pouco mais amplo, pois abrange qualquer coisa que faça o indivíduo
se sentir melhor, desde um medicamento até uma massagem ou uma
fisioterapia.
O processo de cura abrange fé e crenças, como a bênção de um pastor
ou o trabalho de uma benzedeira. Preparações caseiras também são
consideradas remédios, mas não medicamentos, como um chá ou uma
compressa (GUIMARÃES; TAVEIRA, 2014). Ou seja, os benefícios ao indivíduo
podem vir de várias formas, por meio de métodos químicos (medicamentos),
físicos (massagem, radioterapia), preparações caseiras ou qualquer outro
procedimento, ou por recursos espirituais.
Desse modo, todo medicamento é um remédio, mas nem todo remédio é
um medicamento (GUIMARÃES; TAVEIRA, 2014). Nesse âmbito, entender
sobre os aspectos culturais dos rituais de cura é de suma importância, uma vez
que o ritual, palavra derivada do latim ritualis, é considerado uma ação
relacionada ao misticismo e à religião, que pode ser praticado individualmente
ou não. O ritual pode ser cerimonial, quando há a necessidade de uma
preparação quanto ao local, à vestimenta, aos materiais e aos instrumentos
utilizados; ou psíquico, quando se pretende interferir e/ou transformar algo no
mundo físico. Os rituais de cura, que existem em diversas culturas e são
marcados por experiências religiosas singulares, possuem algumas diferenças
de acordo com as atribuições de sentidos dadas pelas comunidades que os
criam e recriam cotidianamente, possibilitando a disseminação dos preceitos
religiosos entre as comunidades, como forma de afirmação das suas crenças e
38

reconhecimento das práticas, enquanto algo efetivo.


No Brasil, há uma pluralidade de cultos religiosos que oferecem serviços
de cura, cada qual contando com um rico repertório de imagens e símbolos, que
expressam distintas visões de mundo e oferecem aos seus participantes
posições e/ou papéis específicos neste planeta. Visam através de seus rituais
reconstituir a experiência dos indivíduos, de modo a conformá-la a estes papéis.
A cura que prometem a seus clientes e seguidores é, via de regra, parte desse
projeto mais abrangente. Neste contexto, os rituais de práticas curativas são
bastante utilizados pelos brasileiros, sendo alteradas conforme sua religião,
região e seus conhecimentos de senso comum.
As permanências e as continuidades de vivências e de experiências
religiosas são observadas em práticas impressas em lugares, signos e símbolos
repletos de sentidos e significados, criadores de espaços de sociabilidades, que
ligam as pessoas entre si. Desse modo, a partir das definições supracitadas, o
objetivo do presente trabalho consiste em apresentar à comunidade acadêmica
alguns remédios caseiros produzidos por idosos de duas comunidades rurais,
uma no município de Livramento de Nossa Senhora, e outra, em Palmas de
Monte Alto, ambas localizadas na região do sertão produtivo da Bahia, próximas
à cidade de Guanambi, onde localiza-se o campus da Universidade do Estado
da Bahia (UNEB). Evidências mostram a importância do conhecimento popular
no cuidado com a saúde, por meio da produção de remédios caseiros, de rituais
e da religião. Dessa forma, observa-se o quanto é relevante o reconhecimento
da diversidade cultural para a execução de práticas de cura. Portanto, este tema
tem muito a contribuir nas ações e nos projetos voltados à saúde da população.

MATERIAIS E MÉTODOS
39

Esse trabalho consiste em um relato de experiência, desenvolvido através


do componente curricular de Ciências Sociais em Saúde, do curso de
Bacharelado em Enfermagem, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB –
DEDC XII, Guanambi/BA. A pesquisa deu-se por meio de discussões intra e
extra classe, despertando nos acadêmicos o interesse em esclarecer algumas
questões ainda vistas como tabus e fontes de preconceito para toda a
comunidade acadêmica, demonstrando a significância da cultura e dos saberes
populares, para a manutenção do completo bem-estar biopisicossocial.
Dessa forma, através de conversa informal com pessoas de duas
comunidades rurais, uma em Livramento de Nossa Senhora e outra em Palmas
de Monte Alto, foram socializados alguns remédios e simpatias, para serem
apresentados de forma oral e com recursos gráficos de cartaz e fôlderes, a fim
de demonstrar a utilização e a relevância dos saberes populares para a
comunidade, visto que são ensinamentos passados de geração para geração.
No entanto, infelizmente, essas práticas estão se perdendo à medida que a
tecnologia e as ciências médicas avançam, ocasionando perda da sua
relevância entre as gerações mais novas, com tendência ao desaparecimento
ao longo dos anos, uma vez que o modelo biomédico e a ciência acabam por
ofuscar as práticas integrativas em saúde, na maioria dos casos.
Nessa lógica, de modo a valorizar as ações alternativas para tratamento
e prevenção de diversas doenças, foi realizada essa pesquisa através da coleta
de informações, que foram transcritas e apresentadas em formato de fôlder
educativo, construído no programa Microsft Word 2016, para apresentação no
evento da XX Semana Acadêmica, junto com cartazes ilustrativos e exposição
de amostras de algumas produções, doadas pelos participantes/fabricantes.
Convém lembrar que a identidade dos participantes não foi revelada e o uso das
amostras foi autorizado por eles.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
40

Após a explanação da temática no evento, com demonstrações dos


remédios e sessão de perguntas para sanar as dúvidas dos ouvintes, realizou-
se, em sala de aula, discussões mais amplas sobre a inter-relação entre a fé e o
processo curativo, proporcionando aos discentes um momento de reflexões
críticas, que permitiram uma autoavaliação das atitudes pessoais acerca de uma
nova forma de pensar, respeitando as diferenças dos seres humanos, bem como
a importância que o processo de transferência de conhecimento cultural tem
sobre a sociedade. Foram debatidos os aspectos do impacto biopsicossocial das
práticas integrativas no processo de cura de enfermos, haja vista que apenas o
fato de ter uma esperança em algo transcendente influencia diretamente as
respostas a tratamentos, sejam eles médicos ou não, mas que, infelizmente,
devido aos estigmas sociais e aos preconceitos estabelecidos, muitos acabam
por apresentar piora em quadros clínicos, na maioria das vezes, devido ao
impacto do negacionismo da relação cultural, de ordem sociorreligiosa, com a
saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
41

Diante do exposto, conclui-se que, em nossa região, os rituais, as


simpatias e os remédios caseiros ainda são bastante utilizados e propagados de
geração em geração, mesmo que não possuam comprovação científica, na
maioria dos casos, são vários os relatos de eficácia do uso desses remédios,
provando os benefícios advindos da sabedoria popular ao longo dos anos. Dessa
forma, é imprescindível que esse conhecimento seja reconhecido e validado,
tanto quanto aquele que é produzido em laboratórios. Portanto, a apresentação
dessa temática, no universo acadêmico, possibilita que os estudantes se
interessem pelo objeto de pesquisa e busquem conhecer, de forma aprofundada,
as questões que permeiam essas práticas, fazendo com que ocorra uma busca
de conhecimento e, consequentemente, de valorização das alternativas
terapêuticas.
No entanto, é lícito evidenciar que o saber popular não deve ser uma
forma de negar a ciência, mas que juntos podem estabelecer uma conduta
terapêutica, que priorize o bem-estar do indivíduo, respeitando as suas crenças,
cabendo enfatizar sempre a necessidade da associação entre o saber médico e
a cura pela fé. Logo, as discussões sociológicas e antropológicas são de suma
importância para defender e validar os diferentes tipos de sociedade e as suas
convicções, extinguindo a ideia de que a religião é uma alienação humana,
afirmando-a como um modo de construção pessoal, que envolve o
desenvolvimento ético e moral do ser humano.

REFERÊNCIAS
42

AGUIAR, I. As religiões afro-brasileira em Vitória da Conquista: caminhos


da diversidade. 230 f. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica, 1999.

LEMOS, C. T. Religião, gênero e sexualidade: o lugar da mulher na família


camponesa. Goiânia: Ed. da UCG, 2005.

GUIMARÃES, R. S. F.; TAVEIRA, C. C. Fundamentos de Farmacologia.


Brasília: NT Editora, 2014. Disponível em:
https://avant.grupont.com.br/dirVirtualLMS/portais/livros/pdfs_demo/Fundament
os_de_Fa rmacologia_demo.pdf. Acesso em: 19 out 2022.

GIDDENS, A. Risco, confiança e reflexividade. In: BECK, U.; GIDDENS, A.;


LASH, S. (orgs.). Modernização reflexiva. São Paulo: EDUSP, 1997.

______. Sociologia. Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço de Educação e


Bolsas. 6ª edição. 2001.
43

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.4
44

INTRODUÇÃO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


houve um aumento significativo da população idosa nos últimos anos. Só em
2017, o número ultrapassou 30 milhões de pessoas idosas (IBGE, 2018). Esses
números tornam-se preocupantes, quando trazidos para o contexto atual, em
meio a uma pandemia, pois os idosos se tornam um dos principais grupos de
risco. Só no ano de 2020, ainda no início da pandemia de COVID-19, o número
de óbitos em idosos ultrapassou 70% das mortes. Entretanto, a maioria desses
óbitos não são em decorrência apenas da idade, mas também pelas
desigualdades existentes em nosso país (MAZUCHELLIA et al., 2021).
Vivemos em uma sociedade em que a aparência jovem e a estética são
altamente valorizadas. Percebe-se, em contrapartida, uma desvalorização da
velhice, já que cada vez mais tem-se buscado formas de adiar ou mascarar esse
processo fisiológico e natural do ser humano. É justamente nessas formas
discretas de negação da velhice, que percebemos o idadismo, muitas das vezes,
de forma inconsciente e enraizada em nossa sociedade (VIEIRA, 2018).
O idadismo é a discriminação e/ou a esteriotipação negativa contra os
mais velhos. Ou seja, diz respeito ao preconceito baseado na idade, que pode
levar a diferentes formas de discriminação. Esse tipo de preconceito ocorre
veladamente na sociedade, através das redes sociais, das grandes novelas e da
mídia no geral. Para isso, são divulgados constantemente novos fármacos,
cirurgias revolucionárias e os mais variados tratamentos para garantir e manter
a “juventude”. Essas são algumas das muitas formas de idadismo que
encontramos na sociedade atual (CASTRO, 2016).
O idadismo surge quando a idade é usada para categorizar e dividir as
pessoas, podendo causar-lhes prejuízos, desvantagens ou eliminar a
solidariedade entre as gerações. A discussão desse tema tem grande relevância,
principalmente, pelo fato da invisibilidade do idadismo, já que se tornou um
processo “natural”, não problematizado, na maioria das vezes, por meio de piada
ou na forma em que tratamos as pessoas idosas, sem entendermos que elas
têm seu lugar de fala, escolha, sendo, frequentemente, infantilizados e
silenciados (OMS, 2021).
Ademais, é importante considerar ainda a repercussão causada pela
45

frequente associação do processo de envelhecimento a questões negativas. Na


maioria das vezes, as pessoas idosas são associadas e, geralmente, resumidas
a doenças crônicas, à invisibilidade, à perda da autonomia e a muitas limitações.
Dessa forma, torna-se necessária a disseminação de informações que
desmistifiquem o envelhecer, a fim de torná-lo mais saudável, possibilitando
estratégias para eliminar e/ou mitigar o preconceito que permeia essa fase da
vida (OMS, 2021).
Bardanachvili (2021) considera importante estudar e debater o
envelhecimento populacional. Ele, que já realizou estudos na escola de saúde
pública britânica, é de opinião favorável que um/a geriatra deva acompanhar uma
pessoa idosa em suas rotinas, nas festas de família, na consulta médica, de
modo que os idosos sejam vistos como pessoas e não como doentes
abandonados/as com múltiplas patologias. Sendo, portanto, bastante sensata a
ideia socializada pelo pesquisador (BARDANACHVILI, 2021).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005), até 2025,
o Brasil será, provavelmente, o sexto país do mundo em número de idosos.
Devido à grande desinformação sobre a saúde das pessoas idosas e às
particularidades e desafios do envelhecimento populacional para a saúde pública
em nosso contexto social, faz-se necessário empenho em pesquisas
multidisciplinares que possibilitem acompanhamento em prol da melhoria e/ou
manutenção da saúde e da qualidade de vida.

Nesse sentido, buscando-se conhecer um pouco mais sobre o idadismo


e suas manifestações na sociedade, principalmente no contexto atual, este
trabalho objetivou analisar o que versa a literatura sobre a estereotipação e os
principais preconceitos relacionados à idade (idadismo).
46

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se o presente trabalho de uma revisão narrativa da literatura,


descritiva com caráter qualitativo, realizada no banco de bases de dados da
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do Google Acadêmico. Para a busca, foram
utilizados os descritores em português e inglês: “Idadismo”; “Enfrentamento”;
“Contexto Social”; “Envelhecimento” e “Saúde do Idoso”. Realizou-se um
cruzamento entre eles, com o auxílio do operador booleano AND.
Para a seleção dos artigos, foram utilizados os seguintes critérios de
inclusão: artigos completos, gratuitos, nos idiomas português e inglês e
publicados nos últimos 5 anos (2018-2022). Os artigos encontrados que não
atenderam ao objetivo deste estudo foram excluídos. Dessa forma, foram
selecionados, de forma criteriosa, 8 artigos para contemplar esta pesquisa.
Como forma de analisar os artigos encontrados, realizou-se a leitura crítico-
reflexiva, a fim de alcançar os objetivos propostos.
47

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O envelhecimento diz respeito a um processo fisiológico e natural de


qualquer ser humano. Trata-se de um fenômeno multidimensional, que sofre
influência de muitos fatores, sejam eles genéticos, culturais, sociais e/ou
econômicos. No Brasil, vale ressaltar ainda todo processo histórico de
desigualdade por trás do envelhecimento, o que contribui para a redução da
qualidade de vida dessa população (MAZUCHELLIA et al., 2021).
Estudos da área de educação física e da geriatria sinalizam que é preciso
compreender o processo de envelhecimento e suas perdas, entendendo que
este processo pode ser ativo e saudável, desmitificando a visão de que idoso é
sinônimo de: queda; falta de agilidade, de equilíbrio; desprovidos de saúde e de
vigor. Através do resultado de uma pesquisa, os principais benefícios a curto e
a médio prazo do método pilates na terceira idade são colocados em evidência.

O idadismo, que diz respeito ao preconceito relacionado à faixa etária


mais velha, sempre foi algo presente em nossa sociedade. No entanto, com o
contexto pandêmico atual, sua discriminação tornou-se ainda mais evidente.
Vivenciamos um momento histórico de grande sobrecarga dos sistemas de
saúde, surgindo, por conseguinte, alguns questionamentos em relação a quem
priorizar diante de uma situação de vida ou morte, com a possibilidade de “salvar
os pacientes mais jovens”. Esse processo, por sua vez, intensificou o sofrimento
e o preconceito experienciado pelas pessoas idosas (SILVA et al., 2021).
Além disso, percebe-se que, nos últimos anos, tem ocorrido uma
mudança no perfil sociodemográfico da população brasileira. Segundo dados do
IBGE (2018), até 2060, é previsto que, no Brasil, tenha mais pessoas idosas do
que crianças até cinco anos. Com o envelhecimento da população, urge a
necessidade de recorrer à institucionalização, medida que, de acordo com os
achados na literatura, culminará no aumento da discriminação e da violência
contra esse público (CAMPANTE, 2021).
Mesmo não sendo o foco da pesquisa, alguns dos artigos remeteram a
aspectos relacionados à Covid-19, por ser um tema bastante em evidência no
contexto atual. Os autores Previtali et al. (2020) e Perry et al. (2020) trazem em
seus textos a questão das grandes mídias colocarem os adultos mais velhos em
48

evidência, sobretudo, em relação à contaminação, o que por um lado serviu de


alerta por este ser um grupo de risco, mas por outro retirou a autonomia deles;
visto que alguns países, ao tratarem do isolamento social, levaram em
consideração a faixa etária, obrigando os idosos a cumpri-lo, como se eles
fossem “descartáveis” para a sociedade.
A Covid-19 levantou outra série de debates, pois, no contexto atual, foram
desenvolvidas políticas públicas, com o intuito de combater a pandemia,
utilizando-se a idade cronológica como se ela definisse de forma objetiva os
grupos, sem considerar outros fatores, sustentando, dessa forma, o preconceito,
os estereótipos e a discriminação com base apenas na idade. Considerando que
a idade está relacionada diretamente à presença de doenças, qualquer idoso
possui sua saúde vulnerável (PREVITALI et al., 2020; PERRY et al., 2020).
Com o envelhecimento, alguns assuntos acabam tornando-se tabu e
quase não são discutidos. O climatério, por exemplo, é um tema bastante
estigmatizado, do qual as mulheres não têm acesso a informações importantes
e capazes de promover uma melhoria na qualidade de vida, visto que se trata de
uma fase com mudanças físicas e emocionais, com potencial de impactar
diretamente a vida das mulheres (BRASIL, 2022).
Durante esse período, algumas mulheres acabam apresentando
dificuldade em manter relações sexuais e os padrões impostos pela sociedade
acabam por tornar este fato “normal”, por criar o estereótipo de que com o
envelhecimento o desejo pelo sexo acaba. Berdychevsky e Nimrod (2017)
abordam essas questões em seu texto. Segundo as autoras, está tão enraizada
a questão de que idosos “não fazem sexo”, que eles acabam sendo alvos de
piadas acerca dessa situação. É como se fosse uma representação social
implantada na sociedade sobre esse público (BERDYCHEVSKY; NIMROD,
2017).
49

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notoriamente, o preconceito etário é algo enraizado em nossa sociedade


como um todo e, na maioria das situações, ele ocorre de forma tão sutil que se
torna quase invisível, se não for analisado de forma crítica. Percebemos que, no
contexto atual, diante de uma pandemia que tem ceifado a vida de milhões de
pessoas, esses problemas sociais ganharam ainda mais evidência.
Portanto, cabe ressaltar a importância de repensar nossas ações,
principalmente quando agimos de modo mecânico, por influência de uma
sociedade com preconceitos enraizados em sua história. Até que ponto impor
um isolamento social, apenas para pessoas em idade mais avançada, realmente
é um cuidado, sem analisar outros determinantes, apenas pelo estigma de que
idoso é vulnerável e portador de doença crônica?
Além disso, precisamos repensar nosso sistema de saúde. O acesso a
informações e a cuidados, de forma igualitária e universal, é direito de todos. O
climatério, por exemplo, não deveria ser mais um assunto desconhecido. Essas
informações precisam chegar até as mulheres em idade de menopausa, para
que elas possam compartilhar suas vivências com outras mulheres.
Ressaltamos, ainda, em relação ao sexo, que o mesmo não deve ser um tabu
entre idosos. É necessário que ele ocorra com segurança e sem tabus apenas.
50

REFERÊNCIAS

BARDANACHVILI, E. Alexandre Kalache:‘A melhor coisa que pode nos


acontecer é envelhecer’. Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio
Ivo de Carvalho (CEE-Fiocruz). Rio de Janeiro, 2021. Disponível em:
https://cee.fiocruz.br/?q=Alexandre-Kalache-A-melhor-coisa-que-pode-nos-
acontecer-e-envelhecer. Acesso em: 2 nov. 2022.

BERDYCHEVSKY, L.; NIMROD, G. Sex as leisure in later life: A netnographic


approach. Leisure Sciences, 39(3), 224-243, 2017. Disponível em:
https://psycnet.apa.org/record/2017-15298-002. Acesso em: 2 nov. 2022.

BRASIL. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do


Adolescente: conteúdo para profissionais de saúde, voltado para prática
clínica e baseado em evidências científicas. Ministério da Saúde. Disponível
em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/busca-
avancada/?post_types=biblioteca&_sft_eixo-bib-type=mulher&_sf_s=climaterio.
Acesso em: 28 nov. 2022.

CAMPANTE, R. F. A. J. A ditadura do tempo: perspectivas dos/as


profissionais dos lares relativamente à violência contra a pessoa idosa
institucionalizada. Dissertação (Mestrado). 65 f. Porto: Faculdade de Psicologia
e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, 2021. Disponível em:
https://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/137905. Acesso em: 19 nov. 2021.

CASTRO, G. G. S. O idadismo como viés cultural: refletindo sobre a produção


de sentidos para a velhice em nossos dias. Galáxia, n. 31, p. 79–91, São
Paulo, jun., 2016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/gal/a/3qwDcNNRVnPyRYWzyXmyQkH/. Acesso em: 23
nov. 2022.

MAZUCHELLI, L. P. et al. Discursos sobre os idosos, desigualdade social e os


efeitos das medidas de distanciamento social em tempos de covid-19. Saúde e
Sociedade, v. 30, n. 3, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-
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https://apps.who.int/iris/handle/10665/340205. Acesso em: 26 nov. 2022.

______. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Trad.: Suzana Gontijo.


Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005.

PERRY, T. E.; KUSMAUL, N.; HALVORSEN, C. J. Gerontological Social


Work’s Pivotal Role in the COVID-19 Pandemic: a response from AGESW
Leadership. Journal of Gerontological Social Work, p. 1–6, 27 jul., 2020.
51

Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32716271/. Acesso em: 23 nov.


2022.

PREVITALI, F.; ALLEN, L. D.; VARLAMOVA, M. Not Only Virus Spread: the
Diffusion of Ageism during the Outbreak of COVID-19. Journal of Aging &
Social Policy, p. 1–9, 6 jun., 2020. Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/08959420.2020.1772002. Acesso
em: 23 nov. 2022.

SALLES FERRO, F.; DA SILVA TEIXEIRA, W. Apresentação do Dossiê:


Sociedades em tempos de crise: os séculos XX e XXI em perspectiva. Revista
Desenvolvimento Social, [S. l.], v. 27, n. 1, p. 3–8, 2021. DOI:
10.46551/issn2179-6807v27n1p3-8. Disponível em:
https://www.periodicos.unimontes.br/index.php/rds/article/view/4489. Acesso
em: 25 nov. 2022.

SILVA, M. F. et al. Ageismo contra idosos no contexto da pandemia da covid-


19: uma revisão integrativa. Revista de Saúde Pública, v. 55, p. 4, abr., 2021.
Disponível em: https://rsp.fsp.usp.br/artigo/ageismo-contra-idosos-no-contexto-
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VIEIRA, R. S. S. Idadismo: a influência de subtipos nas atitudes sobre os


idosos. 173 f. Tese (Doutorado). Salvador: Universidade Federal da Bahia,
2018. Disponível em:
https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/28506/3/Tese_Vieira_JAN19.pdf. Acesso
em: 25 nov. 2022.
52

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.5
53

INTRODUÇÃO

O processo de cuidar é considerado o cerne da prática da enfermagem e


vem sendo desenvolvido em torno da construção de conhecimentos, em
constante desenvolvimento, que reafirmam a profissão como ciência. Neste
contexto, o processo de trabalho desenvolve-se e deve basear-se em
“conhecimento científico, habilidade, intuição, pensamento crítico e criatividade
e acompanhadas de comportamentos e atitudes de cuidar/ cuidado no sentido
de promover, manter e/ou recuperar a totalidade e a dignidade humana.”
(BALDUINO; MANTOVANI; LACERDA, 2009, p. 343).
O foco da assistência de muitos profissionais, voltado apenas para o
modelo tecnicista, leva ao desenvolvimento de atividades em que “o paciente é
rotulado pela doença a que está acometido, com ênfase em seus sintomas e
prognósticos, bem como se observa uma valorização exacerbada do fazer, em
detrimento do ser humano fragilizado pelo adoecimento” (MORAIS et al., 2009,
p. 324). Ao tomar o problema físico como o único ponto que deve ser tratado,
deixa-se de agir de modo holístico, não enxergando as necessidades do ser
humano por trás da doença, que também necessita de cuidado.
Visando contribuir para o desenvolvimento de um cuidado humanizado,
ofertado por profissionais de saúde a exemplo, dos enfermeiros que possuem
um contato mais próximo com paciente, é que o Ministério da Saúde lançou, em
2003, a Política Nacional de Humanização (PNH), sendo mais conhecido como
HumanizaSus, que tinha como um dos seus princípios o reconhecimento do
outro enquanto detentor de saberes, reconhecendo sua autonomia frente o
processo do cuidar, além de propor mudanças nos paradigmas de assistência
verticalizada, difundidos, até então, sem agregar e compreender a humanização
como um fator principal e indissolúvel da assistência voltada para cuidado, além
das práticas e técnicas laborais (BRASIL, 2010).
Neste sentido, observa-se a importância de manter um olhar sociológico,
para avaliar criticamente e debater sobre as relações existentes entre enfermeiro
e paciente, como se dão e os impactos nos indivíduos. Trazendo a importância
de enxergar o indivíduo em toda a sua totalidade, de modo individualizado, e
respeitando todas as suas particularidades, é que “a humanização apresenta-se
54

como uma demanda crescente no resgate ao cuidado como um processo de


respeito e valorização do ser humano” (MORAIS et al., 2009, p. 324).
É perceptível, pelo que foi exposto, a relevância da temática e, neste
sentido, o tema “A relação enfermeiro paciente sob a perspectiva de um olhar
sociológico” foi escolhido para ser abordado em algumas atividades no decorrer
do semestre, como uma exposição para alguns discentes e funcionários da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em que se buscou apresentar
questionamentos direcionados à forma como se dão as relações entre
enfermeiros e pacientes e a influência que a sociologia em saúde possui como
transformadora de um processo de trabalho, com perspectiva instrumentalista e
os recursos que podem ser usados para o desenvolvimento de um cuidar mais
humanizado.
55

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata de um relato de experiência de cunho qualitativo,


exploratório, descritivo e transversal. Minayo (2002) descreve a pesquisa
qualitativa como sendo uma pesquisa que não pode ser caracterizada por
números. Sobre a pesuisa exploratória, Triviños (2013) descata que esse tipo de
estudo possibilita um maior leque de informações por parte de quem se propõe
a desenvolver uma pesquisa, seja ela em qual âmbito for, em contrapartida esse
mesmo autor discorre que o estudo descritivo possui, como uma de suas
características, a necessidade por parte do pesuisador de obter bastante
conhecimento acerca do que deseja pesquisar (TRIVIÑOS, 2013).
Para a consulta de dados, houve acesso on-line na base de dados da
LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), que
consta no Portal Regional da BVS – Informação e Conhecimento para a Saúde.
O presente estudo foi realizado na Universidade do Estado da Bahia, no
município de Guanambi, localizado no sudoeste do estado baiano, a 796 km a
sudoeste de Salvador, pelas discentes do curso de Bacharelado em
Enfermagem, sendo utilizada uma proposta de intervenção, contendo
explanação do conteúdo abordado, no pátio da universidade, contando com a
participação de estudantes do curso de Pedagogia e servidores públicos. Os
ouvintes participaram ativamente emitindo seus pontos de vista sobre a temática
abordada. Foram realizadas análises das falas dos participantes, com o intuito
de aprimorar a relevância do tema para a sociedade, a comunidade acadêmica
e os profissionais da saúde.
56

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O processo de implementação da intervenção sobre a temática mostrou-


se bastante eficiente e de fácil compreensão para os ouvintes. Foram utilizados
recursos linguísticos verbais e não verbais (utilização de cartazes e panfletos),
de modo a tornar a linguagem de fácil compreensão. Ademais, foi estimulada a
participação tanto de estudantes quanto de funcionários que colocaram em
pauta seus posicionamentos. A maioria das falas analisadas consistia em
ressaltar a importância do estabelecimento do vínculo entre o profissional de
enfermagem e o cliente no processo de hospitalização. Tal ato, segundo os
participantes, estimulava a melhora clínica do paciente, além de tornar o
ambiente hospitalar, que por vezes é bastante desagradável, em um lugar mais
acolhedor. A questão da humanização da saúde é importante na conjuntura
atual, pois a criação de um serviço baseado em princípios, como igualdade e
integralidade da assistência, contribuem efetivamente para a participação do
usuário na continuidade do processo do cuidar.
A meta da assistência à saúde consiste em encontrar formas efetivas de
humanizar a prática assistencial, requerendo uma abordagem crítica que
possibilite compreender o sujeito, além da sua enfermidade. Nesta abordagem,
a primeira prioridade consiste em analisar toda a dimensão psicossocial do
cliente, sendo precisamente neste sentido que esta investigação se dirige
(CASATE; CORRÊA, 2005). Nota-se, portanto, que este processo terapêutico,
atrelado à sociologia do cuidar, é efetivo na busca pelo estabelecimento do
vínculo entre o profissional de enfermagem e os pacientes. Ao longo da
realização da atividade, foi possível adquirir bastante conhecimento e,
principalmente, desmitificar o atual modelo biomédico que, por vezes, ainda
persiste nos cursos da área da saúde, que visa apenas o conhecimento sobre a
patologia.
Com a realização dessa intervenção, bem como através das falas dos
ouvintes, torna-se indubitável afirmar a importância do olhar holístico e do
cuidado humanizado na saúde. Somente, deste modo, a assistência à saúde
poderá respeitar efetivamente os direitos humanos. Não obstante a isso, é
imprescindível que a metodologia aplicada nos cursos da saúde visem a
promover a implementação de disciplinas, que tornem os discentes críticos,
57

questionadores e não apenas concordantes. Humanizar é acolher o paciente e


levar em consideração todas as suas particularidades, fornecendo, assim, um
melhor atendimento para eles, valorizando a pessoa humana, porque escutar e
se atentar às necessidades daquele indivíduo faz com que eles se sintam
acolhidos e reconhecidos.
Contudo, foi observado que a interação entre discentes de cursos
fornecidos pela faculdade é mínima ou quase nenhuma, podendo destacar que,
durante o momento da intervenção, as falas dos participantes frisaram essa
importância de momentos que saíam da rotina, proporcionando, de fato, uma
interação, pois o ambiente da universidade é um ambiente diversificado de
tradições, de culturas e de pessoas que vieram de cidades diferentes e tiveram
experiências diferentes. O contato com públicos variados serve de grande ganho
cultural.
A profissão da enfermagem é voltada para o cuidado com o outro, com
suas vulnerabilidades de saúde, devendo promover tanto ações preventivas
quanto curativas de forma integral e individualizada. Muito é falado da precisão
da exerção de técnicas e do risco que oferece ao paciente, porém, existem
poucas discussões acerca do risco social que o enfermeiro pode apresentar ao
seu cliente.
58

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações interpessoais têm grande importância dentro do contexto do


trabalho da Enfermagem, pois o grupo necessita agir com respeito às diferenças,
a fim de desenvolver um trabalho em equipe e satisfatório. Dessa forma,
humanizar significa acolher o paciente em sua essência, a partir de uma ação
efetiva, traduzida na solidariedade, na compreensão do ser doente em sua
singularidade e na apreciação da vida. O presente relato é recomendado para
todos os profissionais da saúde e acadêmicos em Enfermagem como forma de
contribuir para novas formas de exercer o cuidar.
59

REFERÊNCIAS

BALDUINO, A. F. A.; MANTOVANI, M. F.; LACERDA, M. R. O processo de


cuidar de enfermagem ao portador de doença crônica cardíaca. Escola Anna
Nery, v. 13, p. 342-351, 2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ean/a/zvFpQ4Yd9khdZLQQK3tNPbN/abstract/?lang=pt.

BRASIL. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do


SUS. Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de
Humanização. Brasília: Ministério da Saúde, 2010, 72 p. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_documento_gestores
_trabalhadores_sus.pdf. Acesso em: 05 de março de 2023.

CASATE, J. C.; CORRÊA, A. K. Humanização do atendimento em saúde:


conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Revista latino-
americana de Enfermagem, v. 13, p. 105-111, 2005.

MINAYO, M. C. L. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 21. ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

MORAIS, G. S. N. et al. Comunicação como instrumento básico no cuidar


humanizado em enfermagem ao paciente hospitalizado. Acta Paulista de
Enfermagem, v. 22, p. 323-327, 2009.

TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa


qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2013.
60

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.6
61

INTRODUÇÃO

Desde o ano de 2006, as Práticas Integrativas e Complementares (PICs)


foram implantadas no Sistema Único de Saúde (SUS), como parte da Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). Inicialmente,
foram 05 práticas, dentre elas as principais: fitoterapia, homeopatia e
acupuntura. Nos dias atuais, são 29 tipos de práticas, desde medicina tradicional
chinesa até constelação familiar.
Nesse sentido, as PICs têm como perspectiva um cuidado ampliado sobre
o ser humano e o seu contexto social, buscando a integralidade da relação
saúde-doença no âmbito do sujeito diante de uma dimensão global que leve em
consideração o individual, trazendo alguns benefícios, a citar: redução da
medicalização; empoderamento e responsabilização dos usuários; diminuição
da frequência de transtornos mentais mais simples; baixo custo; ausência de
efeitos colaterais; promoção de saúde, dentre outros. São os principais
tratamentos para transtornos mentais; relações sociais; psicossomáticos;
insônia, e; doenças crônicas. Assim, a inserção de PICs é relevante, pois supre
uma lacuna existente e tem aceitação satisfatória e significativa efetividade.
A transição para a universidade é um sonho almejado por uma parcela
significativa dos jovens e o ingresso nos cursos de graduação é motivo de grande
expectativa para esse público. Apesar disso, o período acadêmico pode ser um
gatilho para o desenvolvimento de adoecimento psíquico nos alunos que, uma
vez adentrando o ambiente universitário, se deparam com uma realidade distinta
da imaginada, podendo evoluir para quadros de ansiedade, estresse e
sofrimento psicológico (BEZERRA; SIQUARA; ABREU, 2018).
O meio acadêmico é permeado por circunstâncias estressoras e
causadoras de ansiedade e desgaste emocional, a exemplo das avaliações,
apresentações de seminário, estágios curriculares supervisionados, dentre
outros. Além disso, há de se ressaltar ainda a influência das cobranças familiares
e pessoais, as tentativas de conciliar o curso com alguma fonte de renda e as
expectativas com o futuro profissional, o que constitui fatores que contribuem
para o sofrimento psicológico nesse período (ALBUQUERQUE, 2021).
Nas últimas décadas, houve um aumento de fatores agravantes à saúde
mental da população brasileira. A literatura evidencia a prevalência do transtorno
62

de ansiedade, apontando a necessidade de ações para a prevenção desses


eventos. Outrossim, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, o
Brasil apresenta o maior número de pessoas ansiosas em escala mundial (18,6
milhões; 9,3% da população), indicando que o país vive uma epidemia de
ansiedade (MIRANDA; VIEIRA, 2021).
Esse cenário, que, por sua vez, representa um alerta para instituições de
ensino, torna-se ainda mais grave ao se deparar com as repercussões da
pandemia, causada pelo novo coronavírus. No que se refere ao ambiente
educacional, o contexto pandêmico culminou em atraso nos períodos letivos,
déficit de aprendizagem, insegurança e anseios associados ao mercado de
trabalho, expondo a fragilidade da saúde mental dos universitários (GUNDIM et
al., 2021).
Segundo Maia e Dias (2020), cerca de metade dos universitários
enfrentam insegurança, medo, sensação de perda e mudanças de humor, como
consequência da pandemia. Não obstante, os fatores oriundos da pandemia
potencializam os aspectos estressores, tidos como “normais” em ambiente
acadêmico. Desse modo, ao analisar esse cenário, remete-se à relevância de
intervenções psicológicas de proteção e promoção da saúde mental, referentes
às necessidades emergentes no atual contexto da pandemia.
Dentre as estratégias de promoção da saúde mental de estudantes
universitários, destacam-se as Práticas Integrativas e Complementares (PICs),
devido à sua potencialidade na diminuição de sintomas e na melhoria da
percepção de bem-estar (MIRANDA; VIEIRA, 2021). As PICS são um amplo
conjunto de sistemas medicinais fundamentados em saberes e racionalidades
de base tradicional (ANDRADE; COSTA, 2010), que, em nosso território, são
vistas como não convencionais, em relação ao saber da biomedicina, que ocupa
lugar hegemônico frente ao cuidado em saúde (SILVEIRA; ROCHA, 2020).
Vale destacar que se tratam de abordagens que estimulam a autonomia
do indivíduo, cultivam a escuta acolhedora, o vínculo terapêutico, além do
cuidado continuado, humanizado e integral em saúde (BRASIL, 2015). Portanto,
o organismo humano não é posto como um conjunto das partes, como no modelo
biomédico, mas sim compreendido como um campo de energia, o que supera a
lógica curativa (ANDRADE; COSTA, 2010).
Dessa maneira, a realização desta pesquisa justifica-se devido ao
63

aumento significativo do quadro de adoecimento e de sofrimento psíquico


presente em universitários. Por outro lado, evidenciado esse contexto, percebe-
se a urgência de ferramentas capazes de mitigar a angústia experienciada pela
grande maioria dos estudantes. Desse modo, pesquisas que versam sobre esses
instrumentos configuram-se como benefícios para a melhoria do bem-estar e da
qualidade de vida desse público.
Para tanto, o presente estudo tem por objetivo analisar os achados da
literatura acerca do uso das Práticas Integrativas e Complementares, como
ferramenta na promoção da saúde mental de estudantes universitários.
64

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura, descritiva, com caráter qualitativo,


realizada no banco de base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e do
Google Acadêmico. Para a busca, foram utilizados os seguintes descritores
presentes na plataforma Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Terapias
Complementares”, “Saúde Mental”, “Estudantes” e seus correspondentes nos
idiomas português e inglês, associados através do operador booleano AND.
Adotou-se como critério de inclusão na realização das buscas: textos
completos, artigos de acesso aberto, nos idiomas português, inglês e espanhol,
publicados nos últimos 5 anos (2017-2022). Os critérios de exclusão foram:
artigos duplicados ou que não atendessem ao objeto de pesquisa.
Desta forma, foram selecionados, de modo criterioso, 11 artigos para
contemplar esta pesquisa. Para a análise dos artigos encontrados, foi realizada
uma leitura crítico-reflexiva, a fim de alcançar os objetivos propostos. Outrossim,
também foi utilizado um manual ministerial para suporte e fundamentação deste
estudo.
65

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A literatura indica que os estudantes universitários apresentam taxas de


transtornos mentais superiores às encontradas na população geral,
considerando que o previsto é que de 15 a 25% deles apresentarão algum
transtorno mental durante sua formação acadêmica (GRANER; CERQUEIRA,
2019). Além da sobrecarga ocasionada pelo excesso de atividades, estágios e
práticas supervisionadas, essa fase coincide com o medo da vida adulta e o
receio da inserção no mercado de trabalho, potencializando a angústia e o
sofrimento.
Os autores versam sobre as contribuições de algumas PICs na promoção
da saúde mental de universitários, dentre as quais destaca-se a Terapia
Comunitária Integrativa (TCI). A TCI é uma metodologia desenvolvida em
formato de roda, para trabalhar a horizontalidade e a circularidade. Apresenta-
se como um espaço livre de julgamentos e aberto ao compartilhamento de
situações que possam ocasionar sofrimento/angústia. Ela pode contribuir para a
inclusão social e para o apoio à saúde mental, por ser um espaço de escuta, de
acolhimento, de partilha, de reflexões e de estratégias de enfrentamento para
conflitos pessoais e familiares, criando uma teia de relação social e vínculos
saudáveis (LOPES JUNIOR et al., 2022).
Há de se ressaltar ainda a potencialidade da TCI no processo de redução
do sofrimento psicológico de estudantes. Dentre suas estratégias, ela procura
resgatar a autonomia e a autoestima dos participantes, tornando-os
protagonistas e corresponsáveis pelo processo terapêutico, aptos a produzir
efeitos individuais e coletivos. Geralmente, as rodas são guiadas pelo terapeuta,
mas não há monotonia e a todo momento o participante é estimulado, caso sinta-
se confortável, a compartilhar seus sentimentos e opiniões (ALBUQUERQUE,
2021).
Ao todo, a TCI possui seis etapas, a saber: acolhimento, escolha da
inquietação, contextualização, problematização, rituais de agregação e
conotação positiva, e avaliação. No acolhimento, são dadas as boas-vindas, são
apresentados os objetivos da roda, suas regras e é finalizado com uma dinâmica
de aquecimento. Em seguida, na escolha da inquietação, os participantes são
incentivados a apresentar suas aflições e seus sofrimentos. Após a manifestação
66

dos temas, realiza-se uma votação entre os temas propostos, que será eleito
como o tema da roda daquele dia (REIS, 2017).
A construção desses espaços, sobretudo, pautados no respeito e não
julgamento, estimulam e beneficiam a adesão dos estudantes. Estudos
corroboram ao afirmarem que a implantação/implementação efetiva de rodas de
terapia comunitária nas universidades podem ser um meio de manejo de
situações estressantes. Além disso, as rodas possuem um grande potencial de
melhorar o rendimento acadêmico e reduzir o abandono/evasão dos estudos
(ALBUQUERQUE, 2021).
Nesse sentido, a TCI constitui-se como um espaço de articulação e de
busca de soluções compartilhadas, para problemas que são de todos, como
também de prevenção para problemas futuros, possibilitando a construção de
redes de apoio social, que tornam o indivíduo e a comunidade mais autônoma.
É justamente a metodologia dessa prática que torna eficiente o cenário
acadêmico, pois o compartilhamento de situações pelos estudantes, com pares
que possam compreender e até mesmo estar vivenciando o mesmo problema,
faz com que se diminua o sentimento de solidão, amenizando o sofrimento
(FARIA et al., 2018).
Além da TCI, a auriculoterapia vem ganhando evidência na diminuição de
índices de estresse e de angústia na população. Essa prática é composta por
técnicas terapêuticas complementares, preventivas e curativas à saúde. A
auriculoterapia age por meio de pontos reflexos da orelha sobre o sistema
nervoso central. A estimulação mecânica da orelha, nas áreas inervadas,
principalmente, pelo ramo auricular do nervo vago, é efetiva na redução de
sintomas patológicos. Dessa maneira, é capaz de atuar em várias desordens do
corpo, por meio da estimulação por pressão digital, com sementes, microesferas,
cristais ou agulhas (USICHENKO et al., 2020).
Estudos afirmam que a auriculoterapia pode ser utilizada como um
tratamento complementar para a ansiedade em estudantes universitários, visto
que o período universitário é repleto de situações capazes de desencadear
sintomas de ansiedade. Além disso, os autores enfatizam o uso dessa PIC não
somente na população de estudantes universitários, apontando que essa
intervenção pode ser utilizada também em outros cenários (SILVA et al., 2021).
Os autores consentem ainda sobre os principais fatores associados à
67

pandemia, que persistem e causam sofrimento psicológico nos universitários. A


quebra da rotina acadêmica, a preocupação com o atraso de atividades e,
consequentemente, o atraso no prosseguimento do curso e na data de
formatura, a realização de atividades de maneira remota, o prejuízo na
aprendizagem, são exemplos de causas de sofrimento entre essa população
(GUNDIM et al., 2021).
Schuh et al. (2021) destacam as contribuições da meditação no bem-estar
de universitários. Segundo os autores, essa prática é reconhecida pelos próprios
estudantes, como ferramenta de promoção do autoconhecimento, estado de
clareza mental e espiritual, bem-estar e emoções positivas. Também favorece o
relaxamento corporal, ameniza angústias e ansiedades, além de melhorar a
concentração e a qualidade do sono. Ademais, a meditação também está
associada à criatividade em estudantes.
Um estudo, realizado por meio de dados de um projeto extensionista,
confirmou os benefícios da prática de auriculoterapia e relaxamento em
discentes do curso de Fonoaudiologia de variados períodos, constatando a
melhora no rendimento escolar e nas notas, observando-se um menor índice de
reprovação no fim do semestre, corroborando, assim, com os demais achados
literários, que identificam as vantagens das PICs no desenvolvimento acadêmico
e pessoal dos estudantes (ALBUQUERQUE et al., 2020).
Cabe ressaltar que as PICs são regulamentadas no Brasil por meio da
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), no
Sistema Único de Saúde (SUS), em que são listados 29 recursos terapêuticos,
que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde. Dentre elas,
encontram-se a Medicina Tradicional Chinesa/Acupuntura, Medicina
Antroposófica, Homeopatia, Plantas Medicinais e Fitoterapia, dentre outras
(BRASIL, 2015). Apesar da variedade das PICs, contemplando diversos
objetivos de cuidado, foi possível observar que as mais utilizadas no ambiente
acadêmico são a TCI, a auriculoterapia e a meditação.
68

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, a realização desta revisão suscita uma reflexão sobre a real
necessidade de desenvolvimento e de implementação de estratégias e
intervenções que possam mitigar o sofrimento experienciado por universitários,
que lidam com conflitos interiores, cobranças e outros aspectos emocionais
dentro da academia.
Ressalta-se, ainda, que tais fatores podem repercutir não só no
rendimento acadêmico do aluno, mas, sobretudo, no seu estado de saúde e,
especificamente, no seu psicológico. Dito isto, são evidentes as contribuições
das PICs na saúde mental desse público. A TCI, por exemplo, está notadamente
mais presente nos ambientes educacionais, favorecendo o percurso formativo
de estudantes, uma vez que são capazes de reduzir a carga de estresse e de
angústia provenientes da formação.
Ademais, a bibliografia torna claro o papel das rodas na saúde mental de
universitários. Mediadas pela escuta qualificada, elas proporcionam ao
estudante a partilha de emoções e de sentimentos, a criação de vínculos, a
restauração da autoestima, a construção do autocuidado, a ressignificação dos
seus problemas e, consequentemente, a busca de novas soluções.
Desta maneira, espera-se que esta revisão possa promover discussões
importantes sobre a implantação de programas perenes de promoção da saúde
mental, no âmbito universitário, com vistas à inclusão das Práticas Integrativas
e Complementares, como espaços de escuta, acolhimento e cuidado de
estudantes universitários. Além do que, considerando que é dever da
comunidade acadêmica zelar por um ambiente emocionalmente saudável, a
inserção dessas práticas, dentro da rotina da instituição, acarretará melhora no
desempenho escolar e no bem-estar dos estudantes.
69

REFERÊNCIAS

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71

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.7
72

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) acometem grande parte da


população brasileira, dentre elas o infarto agudo do miocárdio (IAM), que se
apresenta como a principal causa de morte por doenças cardíacas (COSTA et
al., 2018).
O IAM pode ser definido como uma patologia isquêmica, de início abrupto
e intenso, decorrente da obstrução parcial ou total de determinada artéria
coronária, levando a um desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio e
nutrientes ao tecido cardíaco (COSTA et al., 2018). O termo relaciona-se com a
morte de cardiomiócitos que, em consequência da isquemia, compreende a
perda da capacidade do relaxamento da musculatura cardíaca, com
consequente perda da capacidade contrátil.
O IAM é uma patologia severa e, quando se trata dos contextos intra e
extra hospitalares, ainda é possível notar elevadas taxas de mortalidade.
Diversos fatores, que contribuem para o desencadeamento do infarto agudo do
miocárdio, podem ser divididos em dois grupos: os não modificáveis, como a
idade, o sexo e a hereditariedade; e os modificáveis, como: hipertensão arterial,
obesidade, sedentarismo, dislipidemia, tabagismo e diabetes mellitus (VIEIRA et
al., 2017).
No contexto do grupo dos fatores modificáveis, o profissional de saúde
pode intervir a partir da realização das atividades de educação em saúde para
os usuários dos serviços de atenção básica, pois esses fatores podem ser
controlados através da utilização dos bons hábitos de vida, como a alimentação
saudável, a prática de atividades físicas, as atividades de lazer, o uso correto de
medicamentos prescritos para hipertensão e diabetes e o abandono do
tabagismo.
Estudos mostram que, no ano de 2010, o número de óbitos por doenças
isquêmicas do coração alcançou um quantitativo de 99.408 óbitos, o que
evidencia o elevado número de casos, necessitando de grandes investimentos
do sistema de saúde para o tratamento dessa patologia (PIEGAS et al., 2013).
Conforme dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS), no Brasil, contabilizaram-se 1.066.194 casos de internações
diagnosticadas com IAM, entre os anos de 2010 e 2021.
73

Frente a essa situação, o presente estudo tem como objetivo traçar o perfil
dos óbitos por infarto agudo do miocárdio, no estado da Bahia, no período
compreendido entre 2016 e 2020. Espera-se, a partir das informações obtidas
neste estudo, conhecer o perfil dos óbitos por infarto agudo do miocárdio no
Estado da Bahia, bem como os dados sociodemográficos dos pacientes
acometidos, além de fornecer aos gestores informações sobre indicadores de
mortalidade por infarto agudo do miocárdio úteis, para a formulação de políticas
públicas e para a qualificação dos profissionais de saúde no processo de
educação permanente voltada para a prevenção das doenças cardiovasculares.
74

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo quantitativo, epidemiológico e descritivo, realizado


com base em dados secundários, obtidos através do Sistema de Informação de
Mortalidade (SIM), gerenciado pelo DATASUS), do Ministério da Saúde, no
período compreendido entre 2016 e 2020, acerca do perfil dos óbitos por Infarto
Agudo do Miocárdio (IAM), registrados no estado da Bahia. O levantamento dos
dados foi realizado no mês de junho de 2022.
As seguintes variáveis foram estudadas: ano, faixa etária (de 30 a 39, 40
a 49, 50 a 59, e 60 anos ou mais), sexo (masculino e feminino), raça/cor (branca,
preta, indígena, amarela e parda), escolaridade, estado civil e local de
ocorrência. Os dados foram tabulados com o auxílio do software Microsoft Office
Excel, com cálculos das frequências absolutas e relativas, o que possibilitou a
construção de tabelas e as discussões a partir da literatura existente.
Por se tratar de estudo com base em dados secundários e de domínio
público, não houve submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa.
75

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento dos dados foi realizado, a fim de traçar o perfil dos óbitos
por infarto agudo do miocárdio (IAM) no estado da Bahia, no período
compreendido entre 2016 e 2020. O período foi escolhido por ser o último mais
atualizado deste banco de dados, quando realizado o estudo. Foram coletados
dados referentes à faixa etária, sexo, raça/cor, escolaridade, estado civil e local
de ocorrência.
No período estudado, foram registrados 24.907 óbitos por IAM de pessoas
residentes no estado, passando de 4.444, no ano de 2016, para 5.390, em 2020,
o que representa um aumento de 21,3% no número de mortes por IAM no
período. Ao considerar o total geral de óbitos registrados no estado, nesse
mesmo tempo (n = 469.396), aqueles por IAM representaram 5,31%.
Calculando-se por anos, passou da proporção de 5,05%, em 2016 (n = 4.444),
para 5,03%, em 2020 (n = 5.390).
No ano de 2020, durante o período pandêmico por COVID-19, houve
redução de aproximadamente 40% nas internações hospitalares por infarto
agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral nas unidades de emergência
dos Estados Unidos e da Espanha (MELO et al., 2020). Acredita-se que, no
Brasil, este cenário epidemiológico tenha contribuído para o déficit de
diagnósticos de doença cardiovascular decorrente da redução dos
procedimentos eletivos.
Conforme o Gráfico 1, o número de óbitos, entre os indivíduos do sexo
masculino, foi maior do que entre o sexo feminino. Estudo, realizado por Santos
et al. (2013), encontrou resultado semelhante, em que a taxa de mortalidade
média padronizada para o Brasil no sexo masculino foi 1,75 vezes maior do que
a do sexo feminino, realidade que também foi observada em todas as regiões
geográficas do país.
Segundo dados do IBGE, no ano de 2013, 78% das mulheres afirmaram
ter procurado atendimento de saúde, nos últimos 12 meses, em relação a 63,9%
dos homens. A adesão aos cuidados de saúde pode ser fundamental para a
identificação precoce de fatores de risco, no que diz respeito às doenças
cardiovasculares (SILVA et al., 2013).
76

Gráfico 1: Proporção de óbitos, segundo sexo, no estado da Bahia, no período de 2016 a 2020.

Proporção de óbitos por infarto agudo do miocárdio


segundo sexo.
25,0
proporção de obitos por IAM/sexo %
20,0

15,0

10,0

5,0

0,0
2016 2017 2018 2019 2020
OBITOS TOTAIS POR IAM MASC. FEM.

Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS/SIM (2022).

A evolução de internações para óbitos de indivíduos idosos


prevaleceu quando comparado com as demais faixas etárias, apresentando o
percentual de 77,2% (n = 19.130), conforme pode ser observado na Tabela 1.
Acredita-se que esse percentual se deve ao fato de os idosos possuírem
mecanismos de resposta à doença mais fragilizada, o que aponta para a
necessidade de cuidados específicos voltados para essa população
(MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON, 1999).
No que se refere à variável cor/raça, a maior parte dos óbitos por infarto
agudo do miocárdio ocorreram em pessoas pardas, compreendendo 62,1% (n =
14.548). O maior número de óbitos contraria os estudos que apontam que a raça
negra é a mais propensa a doenças cardiovasculares; ademais, o critério
definidor de raça/cor deu-se por meio da autodeclaração, levando em
consideração a escolha singular do indivíduo (MOREIRA et al., 2018).
Quanto à variável estado civil, o número de óbitos por IAM mostrou-se
maior nos indivíduos casados, compreendendo 39,8% (n = 8.683) dos óbitos. A
mortalidade por IAM, por estado civil, pode estar relacionada à faixa etária, uma
vez que, geralmente, a idade média da população casada se apresenta maior
que a dos solteiros (SANTOS et al., 2019). Além disso, outros estudos apontam
que, quanto aos óbitos extra hospitalares por IAM, a mortalidade foi menor nos
casados, provavelmente, por disponibilizar de companheiro para levá-los até
uma instituição hospitalar (ABREU et al., 2021).
77

Ao observar os resultados dos óbitos por IAM, relacionadas ao nível de


escolaridade, percebeu-se um percentual de 35,6% (n = 6.663),
expressivamente maior em pessoas sem nenhum grau de escolaridade, quando
comparadas às demais. Evidencia-se a necessidade de maiores investimentos
na educação, pois, quando a população possui um grau de instrução maior, te a
capacidade de identificar os sinais e os sintomas da patologia, bem como a
prevalência quanto aos fatores de risco (SANTOS et al., 2013).

Tabela 1: Características sociodemográficas dos óbitos por Infarto Agudo do Miocárdio, no


estado da Bahia, no período de 2016 a 2020.

Faixa Etária Fa %
30 a 39 anos 549 2,2
40 a 49 anos 1646 6,6
50 a 59 anos 3444 13,9
60 e + 19130 77,2
Total 24769 100
Cor/raça
Branca 5150 22,0
Preta 3589 15,3
Amarela 79 0,3
Parda 14548 62,1
Indígena 62 0,3
Total 23428 100
Escolaridade
Nenhuma 6933 35,5
1 a 3 anos 5955 30,5
4 a 7 anos 3374 17,3
8 a 11 anos 2563 13,1
12 anos e mais 720 3,7
Total 19545 100
Estado civil
Solteiro 5701 26,1
Casado 8683 39,8
Viúvo 5014 23,0

Separado judicialmente 985 4,5


Outro 1447 6,6
Total 21830 100

Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS/SIM (2022).

Quanto à variável local de ocorrência, os números de óbito foram mais


78

elevados no âmbito hospitalar, em relação aos outros locais, como mostra a


Tabela 2. A taxa de mortalidade hospitalar tem relação com o tempo, desde o
começo dos sintomas até a instituição do tratamento. Além disso, a maioria dos
pacientes com quadro clínico de angina busca o hospital, como sua primeira
escolha, após surgimento dos sintomas. A alta taxa de mortalidade hospitalar
por IAM também tem associação com alguns outros fatores, como a dificuldade
de acesso para chegar à unidade e a baixa utilização do tratamento direcionado
(MARCOLINO et al., 2013).

Tabela 2. Local de ocorrência dos óbitos por Infarto Agudo do Miocárdio no estado da Bahia, no
período de 2016 a 2020.

Local ocorrência N %
Hospital 13074 52,5
Outro estabelecimento de
saúde 2315 9,3
Domicílio 8430 33,9
Via pública 528 2,1
Outros 542 2,2
Total 24889 100
Fonte: Ministério da Saúde/DATASUS/SIM (2022).
79

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo proporcionou conhecer o perfil dos óbitos por infarto agudo
do miocárdio (IAM), no estado da Bahia, no período de 2016 a 2020,
evidenciando que, durante o intervalo em questão, houve leve aumento do
número de óbitos por IAM com predominância dos óbitos em pessoas do sexo
masculino; em sua maioria idosos; de cor parda; estado civil casado; sem
nenhum nível de escolaridade; ocorrendo, majoritariamente, em instituições
hospitalares.
Esses resultados são de grande utilidade para a formulação de políticas
públicas para prevenção, controle e tratamento dessa patologia silenciosa, que
apresenta alta taxa de mortalidade. Esses dados também podem ser utilizados
para estimular a qualificação dos profissionais no processo de educação em
saúde voltada para a prevenção das doenças cardiovasculares, para a qualidade
do serviço prestado aos pacientes e para a redução da mortalidade por IAM no
estado da Bahia.
Vale ressaltar que o estudo apresenta limitações, uma vez que envolvem
dados secundários, que repercutem na qualidade e na completude do modo
como eles são apresentados.
80

REFERÊNCIAS

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82
83

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.8
84

INTRODUÇÃO

A pandemia da Covid 19 teve início no final do ano de 2019 e, no Brasil,


a partir de março de 2020. Devido a essa propagação do vírus, tudo passou por
adaptações, incluindo-se a educação.
Esta pesquisa, neste cenário, interessou-se por discutir o
desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem em tempos de
pandemia, no que se refere aos procedimentos voltados à alfabetização e ao
letramento na primeira infância.
Quanto à metodologia utilizada na realização deste trabalho, este se
caracteriza como estudo de caso, na medida em que houve o acompanhamento
do desenvolvimento de uma criança de cinco anos, que se encontrava
matriculada numa escola pública localizada na região do Vale do Araguaia, na
educação infantil, primeira fase. Ficticiamente, optamos por chamar a criança de
Ana. Para Almeida (2007), o estudo de caso é circunscrito a uma unidade ou a
poucas unidades, como o foi nesta situação, tendo caráter de detalhamento. É
também uma pesquisa bibliográfica, já que foi desenvolvida com base em
referencial teórico extraído de livros e revistas de domínio público (ALMEIDA,
2007).
No que se refere ao método, ancorou-se no método dialético, que analisa
o processo e não o produto. De acordo com Almeida (2007, p. 69),
O método dialético vê as coisas em constante fluxo de transformação.
Seu foco é, portanto, o processo. Dentro dele, o entendimento de que
a sociedade constrói o homem e, ao mesmo tempo, é por ele
construída. Conceitos como totalidade, contradição, mediação,
superação lhe são próprios.

O tipo da pesquisa é descritivo, porque visa a apenas explicitar os


elementos que compõem os processos, não tendo a responsabilidade de
explicar o porquê de as coisas se darem como se dão.
Por ser uma pesquisa que objetivou o aprofundamento teórico sobre o
letramento emergido na prática profissional de uma das pesquisadoras que tinha
acesso direto à criança, por se tratar de parente de primeiro grau, sem revelar
dados que possam identificar o sujeito da pesquisa, esta não foi registrada nem
avaliada pelo sistema CEP/Conep, em conformidade como o Art. 1º, parágrafo
85

único, inciso VII, da Resolução n. 510, de 07 de abril de 2016 (BRASIL, 2021).


Para dar conta de delinear a discussão aqui intentada, este artigo se
subdivide em três seções, em que se discutirão, num primeiro momento, o
letramento e a alfabetização; num segundo, as questões relacionadas ao
processo de ensino remoto em tempos de pandemia; por fim, será apresentada
a análise descritiva do caso de Ana.
86

LETRAMENTO

Segundo Soares (2009), a palavra letramento é nova, surgiu com a


necessidade de nomear uma situação inusitada, que ampliava o significado de
alfabetização. Essa “palavra foi vista no livro de Mary Kato, de 1986 (No mundo
da escrita: uma perspectiva psicolinguística, Editora Ática)” (SOARES, 2009,
p.15), já com essa significação.
A língua, com o passar do tempo, sofre transformações, algumas
palavras se perdem no tempo, outras surgem com um novo significado. Esse foi
o caso da palavra letramento. Letramento vem da palavra da língua inglesa
Literacy, que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Literacy foi a
palavra que teve o sentido mais próximo para nomear essa nova necessidade
social, na qual se amplia o conceito de alfabetização.
Etimologicamente, a palavra Literacy vem do latim littera (letra), com o
sufixo -cy, que denota qualidade, condição, estado, fato de ser. No
Webster's Diciionary, literacy tem a acepção de "the condition of being
literate", a condição de ser literate.' e literate é definido como
"educated; especially able to read and write", educado, especialmente,
capaz de ler e escrever (SOARES, 2009, p. 17).

A partir da década de 1980, esse termo passou a fazer parte do


vocabulário da educação e das ciências linguísticas. A Literacy ou o letramento
constitui-se como condição necessária para as práticas sociais.
Soares (2009, p. 17) traz a definição de Literacy como,
[...] o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e
escrever. Implícita nesse conceito está a ideia de que a escrita traz
consequências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas,
linguísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer
para o indivíduo que aprenda a usá-la.

Essa é uma perspectiva para a educação, não somente na disciplina de


língua portuguesa, mas abrange todas as disciplinas. Tal perspectiva vai além
de saber ler e escrever, implica ter o sujeito a oportunidade de viver e
compreender o valor e a dimensão de uma convivência social.
Segundo Ferreira (2014, p. 13),
Em função da complexidade e da variação dos estudos sobre
letramento, o termo ainda não foi dicionarizado, uma vez que o (s)
seu(s) conceito(s) compreende(m) um leque de conhecimentos,
habilidades, capacidades, valores, usos e funções que dificultam a
formulação de uma única definição.

Isso ocorre devido ao fato, por exemplo, de terem pessoas que sabem
87

produzir histórias, mas não sabem como escrevê-las; outras que já têm o
domínio da escrita e da leitura, mas não fazem o uso dessas tecnologias. É um
tema muito complexo, porque, no primeiro caso, o indivíduo é letrado por saber
produzir algo, que é parte do letramento, mas lhe falta o conhecimento da leitura
e da escrita como tecnologias necessárias para o registro desse algo.
Nesse sentido, discutiremos, na próxima seção, conceitos que tocam a
questão da existência de níveis de conhecimento, por exemplo: entre a pessoa
que é alfabetizada e não faz uso da leitura nem da escrita, e da pessoa que não
é alfabetizada, mas que compreende a sua importância e faz uso destas, mesmo
que necessite de ajuda para tal.
88

Alfabetização e Letramento

Sobre alfabetização e letramento, Soares e Batista (2005) mostram


como ambas as categorias se diferenciam e ao mesmo tempo se
complementam. Configuram-se como processos que se diferenciam, sendo
que o primeiro corresponde a saber ler e escrever e o segundo à utilização da
leitura e da escrita de forma adequada às demandas sociais.
Ainda em consonância com Soares e Batista (2005, p. 24),
O termo alfabetização designa o ensino e o aprendizado de uma
tecnologia de representação da linguagem humana, a escrita
alfabético-ortográfica. O domínio dessa tecnologia envolve um
conjunto de conhecimentos e procedimentos relacionados tanto ao
funcionamento desse sistema de representação quanto às
capacidades motoras e cognitivas para manipular os instrumentos e
equipamentos de escrita (grifo das autoras).

Ao entrar no processo de alfabetização, as crianças de cinco a seis anos


de idade passam por diversas descobertas, dentre elas, pelo conhecimento dos
materiais escolares e sua utilização, por exemplo, como segurar o lápis.
Também, no decorrer desse procedimento de associarem letras e fonemas, são
apresentados os signos linguísticos e sua importância. A partir desse ponto, as
crianças começam a apresentar capacidades cognitivas e linguísticas
necessárias para desenvolverem as habilidades de leitura, utilizam estruturas
sintáticas frequentes na língua, aprendem também a “direção correta da escrita
na página”, dentre outras aprendizagens (SOARES; BATISTA, 2005, p. 24).
Para Soares (2009, p. 18), letramento é o “Resultado da ação de ensinar
ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo
social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita”.
Nesse sentido, ao se apropriar da leitura e da escrita, a criança é levada a se
apropriar também do sentido dessas tecnologias e de toda a complexidade que
envolve o letramento, sendo que sua máxima formação nesses termos a leva a
se tornar um indivíduo ativo e participativo dentro de uma sociedade.
Macedo (2003, p. 22) expressa que
As habilidades de leitura e escrita estão, intimamente, ligadas à
linguagem. As linguagens, oral e escrita, são meios de comunicação
verbal. Todavia, enquanto a modalidade oral pode ser considerada
como um dos meios que possibilita a sobrevivência do indivíduo em
sociedade e está vinculada à estrutura e funcionamento do sistema
nervoso central, o desconhecimento da linguagem escrita não impede
que se viva em sociedade.
89

Ainda de acordo com Soares (2009), uma pessoa pode ser letrada e não
ser alfabetizada, e ser alfabetizada e não ser letrada. A alfabetização é saber ler
e escrever, já o letramento vai além de saber ler e escrever, é saber
corresponder-se adequadamente no contexto das práticas sociais. Nesse
sentido, uma criança pode ser analfabeta e ser letrada. Por exemplo: no
momento em que ela pede para alguém escrever por ela e dita a mensagem, ela
não sabe escrever, mas conhece a função da escrita e a exerce. Da mesma
forma, observa-se o letramento quando a criança tem acesso aos livros e,
mesmo não sabendo ler, cria suas próprias histórias. Nessa atividade, ela está
fazendo o uso do letramento. Pode acontecer também de o indivíduo ser
alfabetizado e não ser letrado; sabe ler e escrever, mas não sabe fazer o uso da
leitura nem da escrita nas práticas sociais (SOARES, 2009).
No processo educacional, o esperado é que haja uma alfabetização
letrada, que é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura
e da escrita, pois a linguagem é um fenômeno social, assunto que será discutido
a seguir.
90

Letramento na Primeira Infância

De acordo com Martins (1994, p. 42), os primeiros contatos que algumas


crianças têm com o livro, mesmo não sendo alfabetizada, faz com que ela
consiga fazer uma leitura sensorial, “pois o livro tem formas, cor, volume, cheiro,
textura, [...] e essa leitura sensorial começa, pois, muito cedo e nos acompanham
por toda a vida”.
Essa aprendizagem, segundo Vygotsky (apud GOMES; MONTEIRO,
2005, p.15), trata-se de um processo mediado, individual e coletivo, que faz
despertar processos internos de desenvolvimento. Esse processo envolve pelo
menos três componentes: a memória, a consciência e a emoção.
Esse primeiro contato com a leitura deixa as crianças encantadas,
principalmente com aqueles livros que têm gravuras bem coloridas. Elas vão
criando as suas próprias histórias, baseadas nas figuras, e desenvolvendo o seu
cognitivo. Essa leitura de sentido desperta o prazer pela leitura. A cada página
virada, surge uma novidade, levando ao mundo da imaginação e da criatividade.
Freire (1990, p. 20) tem uma clássica citação: “A leitura do mundo precede
a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.
Esses primeiros contatos com a leitura criam expectativa de aprender a ler e a
escrever e de usar tais tecnologias socialmente. A partir desse momento, entra
a alfabetização, com o intuito de apresentar o mundo das letras para que estas
sejam utilizadas nos processos de comunicação social.
Nesse contexto, certas rotinas escolares são muito importantes para o
desenvolvimento da criança, como a interação com os colegas, as oportunidades
de folhear livros, ouvir e contar histórias, cantar, num processo de socialização,
porque nem todas as crianças têm a oportunidade de passar por esse processo
de letramento em casa. Algumas crianças que têm uma interação ativa com a
família se desenvolvem mais cedo, pois elas inventam e contam histórias, e essa
interação amplia a capacidade do diálogo, do discurso.
Esse desenvolvimento, segundo Cool (apud GOMES; MONTEIRO, 2005,
p. 15),
é um processo mediado pela sociedade e pela cultura, que ocorre
individual e coletivamente, com possíveis componentes de caráter
universal, ainda que também com elementos culturais específicos dos
diferentes grupos e dos contextos em que o desenvolvimento
acontece.
91

Em tal cenário, as crianças que não têm a mesma oportunidade começam


a se apropriar desses conhecimentos na escola, por meio das atividades em que
são envolvidas.
Devido à pandemia que assolou o mundo a partir de fins de 2019 e,
especialmente, no Brasil, a partir de 2020, essa rotina escolar foi interrompida e,
para complicar a situação, muitas crianças não tiveram acesso às tecnologias
digitais para darem continuidade aos estudos. Na próxima seção, será
apresentada uma breve discussão sobre o regime de ensino remoto e seus
impactos positivos e negativos no mundo educacional, especialmente no infantil.
92

A EDUCAÇÃO INFANTIL, O ENSINO REMOTO E AS NOVAS TECNOLOGIAS


COMO MEDIADORAS NO PROCESSO DE LETRAMENTO E
ALFABETIZAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA

Para traçarmos um breve histórico da educação infantil no Brasil, no final


da década de 1970, houve reivindicações por creches, com intuito
assistencialista. As mães que trabalhavam necessitavam de um lugar para
deixarem suas crianças. Mas, nesse período, pouco foi feito em termos de
legislação. Na década de 1980, diferentes setores da sociedade se uniram com
o intuito de reivindicar o direito à educação para todas as crianças. Esse direito
foi reconhecido em 1988 com a Carta Constitucional e, depois de dois anos, foi
aprovado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069/90, que, ao
regulamentar o art. 227 da Constituição Federal, inseriu as crianças no mundo
dos direitos humanos (PASCHOAL, 2009).
A cada dia a educação infantil passa por adaptações e melhorias para
superar esse princípio assistencialista, apesar de ainda existir essa visão. Hoje,
a educação infantil consiste em crianças com idades entre zero e cinco anos e
de zero a seis anos para nascidos no segundo semestre do ano, sendo
obrigatória, a partir dos quatro anos. Nessa fase, as crianças são levadas a
desenvolverem, através das atividades e das brincadeiras, suas capacidades
motoras, físicas, cognitivas, e a fazerem novas descobertas (SANTOS et al.,
2020).
A pandemia do Novo Coronavírus afetou diferentes áreas da sociedade
e, principalmente, a educação infantil. Em março de 2020, o Brasil iniciou o
isolamento social, por ser uma das formas de mais eficácia na prevenção à Covid
19 (SILVA; BECKER, 2020).
A partir de então, as aulas presencias em todos os níveis escolares foram
suspensas e houve a necessidade de implantação de plataformas de apoio para
dar continuidade à educação escolar, mesmo em tempo de isolamento. Na
educação infantil não foi diferente. Com essa necessidade de adaptação,
surgiram questões como o acesso à educação e a igualdade de acesso, pois
muitas crianças não tinham as tecnologias digitais à sua disposição, outras
dispunham de um mesmo aparato tecnológico para ser usado por mais de uma
criança, num mesmo período do dia e durante as aulas.
93

A Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional (LDB), em seu artigo 5º, preconiza que o
acesso à educação básica obrigatória é direito público subjetivo,
podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos, associação
comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra
legalmente constituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder
público para exigi-lo.

Nesse momento histórico, a despeito de ser patente o direito à educação


escolar, o mundo educacional mudou. Várias dificuldades surgiram para todos
os sujeitos sociais envolvidos neste contexto, tanto para as crianças que se
encontraram neste período escolar, quanto para as famílias que as assistiam, e
para as escolas que buscaram garantir a inclusão de todos os estudantes.
No que se refere à participação da família ou do responsável, esta nunca
assumiu um nível de importância tamanha para o desenvolvimento das aulas em
regime remoto. Isso em razão de as crianças necessitarem de um responsável
para, além de auxiliá-las na aprendizagem do conteúdo, também para manusear
as tecnologias digitais.
Santos et al. (2020, p. 59) apresenta, em um estudo realizado sobre o
papel da família nesse processo de aprendizagem, o relato de um professor que
assim se posiciona:
O papel dos pais torna-se bem mais presente. Mas nem todos os pais
têm condições de auxiliar os filhos devido ao grau de instrução e
conhecimento formal. Não se faz educação com escola e famílias
afastadas, é preciso um trabalho coletivo.

Notamos que os pais passaram a ser intermediários entre os professores


e os alunos, e essa intermediação se tornou ainda mais necessária,
principalmente na educação infantil, pelo fato de serem crianças muito pequenas
e de estas necessitarem de apoio para tirarem as dúvidas e serem orientadas no
que fosse preciso. Desse modo, foi possível notar que essa nova modalidade de
ensino necessariamente aproximou professores/escolas e famílias.
No que se refere especificamente à questão da alfabetização, processo
instituído no âmbito da educação formal, houve a necessidade de se observar o
princípio da responsabilidade social e ética na adoção das tecnologias digitais.
Não há dúvidas quanto ao questionamento das consequências, atuais e futuras,
para o efetivo desenvolvimento da criança nesse estágio da aprendizagem.
Ainda, há de considerarmos a efetividade da ação pedagógica de
94

professores e profissionais da educação infantil. Enfim, muitas são as questões


que se colocam. Sobre isso, entendemos que as duas principais questões
circundaram a infraestrutura da escola em oferecer aos professores
possibilidades e instrumentalização tecnológica e técnico-operacional dessas
tecnologias e a capacidade dos professores de planejarem suas aulas e de
adotarem estratégias e métodos eficazes, possíveis de darem coerência com as
competências a serem atingidas de forma significativa no processo da
aprendizagem nesses tempos de pandemia.
Na seção a seguir, veremos o processo de alfabetização e letramento de
uma criança que teve seu processo de alfabetização interrompido pela pandemia
e continuado de forma remota.
95

PROCESSO DE LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO DE ANA: UM ESTUDO


DE CASO

Nesta seção, traremos o resultado de um estudo de caso de uma criança


matriculada na educação infantil, que teve o seu processo de alfabetização
presencial modificado para o regime remoto assíncrono, na região do Vale do
Araguaia, em Goiás, campo delimitado para análise neste trabalho.
Ana, nome fictício da criança analisada, atualmente com cinco anos,
iniciou os estudos em março de 2019, no maternal, e em 2021, estava
matriculada no Jardim II.
Nesse período de pandemia, suas aulas estiveram acontecendo em
regime remoto assíncrono, pois a professora ficava à disposição dos estudantes,
durante todo o horário destinado para as aulas, porém esse processo estava
sendo mediado por uma tecnologia que não comtemplava a interação efetiva,
por serem as orientações e atividades enviadas através do aplicativo WhatsApp.
O aplicativo WhatsApp foi usado como plataforma de ensino devido ao
fato de algumas crianças serem da zona rural e não terem internet em casa,
tendo acesso aos conteúdos somente com o uso de dados móveis. O WhatsApp
necessita de poucos dados e, como a aula ficava gravada e disponível no grupo,
quando possível, essas crianças assistiam e faziam as atividades. Mesmo
podendo ser considerada uma tecnologia não apropriada para o ensino, a
iniciativa da escola em usá-la foi de grande importância, para não haver a
interrupção no processo de ensino e aprendizagem.
Por se tratar de educação infantil, as atividades eram disponibilizadas
impressas pela escola às famílias dos estudantes para que eles as realizassem
e as entregassem quinzenalmente na escola, ficando os pais responsáveis por
administrar todo o processo de recebimento, acompanhamento da realização
das tarefas pela criança e entrega das atividades. Para as crianças moradoras
na zona rural, quinzenalmente, um ônibus escolar fazia entregas das atividades
para esses alunos.
Ana estudava no período vespertino. Para a classe dela, foi criado um
grupo no WhatsApp, que abria às 13h e fechava às 18h30, onde a professora
colocava a videoaula, em que continham explicações e instruções de como se
realizar as atividades. Sendo assim, Ana assistia aos vídeos da aula, na
96

sequência fazia as atividades, enquanto isso a professora ficava no aguardo do


retorno das atividades para as correções e as devolutivas eram feitas através de
fotos e vídeos postados no grupo de WhatsApp.
Apesar de serem em regime remoto assíncrono, essas aulas eram bem
lúdicas, pois os vídeos das aulas, especificamente a da professora de Ana, eram
coloridos, cheios de animações que prendiam a atenção dela.
No caso de Ana, a mãe dela é quem acompanhava todo o processo,
desde o início ao término da aula, auxiliando no necessário. Apesar do
acompanhamento, esse processo de alfabetização seguramente não alcança a
mesma qualidade que teria se estivesse sendo realizado em uma sala de aula.
Ana tem uma irmã de três anos de idade, e todas as vezes que Ana se preparava
para iniciar as atividades, essa irmã queria participar também, o que trazia um
pouco de distração, diferente de um ambiente escolar, que é propício para tal
fim.
Todavia, mesmo com todas as distrações que ocorreram nesse processo,
Ana apresentou resultados positivos, quanto à alfabetização e ao letramento. Ela
já possuía, essa fase, um entendimento da importância da leitura e da escrita. A
mãe relatou que ela sempre pede para que leiam para ela uma história antes de
ir dormir.
Tem a noção de texto, como uma unidade de significado global. Como
exemplo, podemos citar as vezes em que ela pegava papel e caneta e solicitava
para um adulto escrever algum texto, cujo conteúdo era ditado por ela. Ana já
sabia, na ocasião da pesquisa, escrever o nome próprio, o da professora,
também conhecia o alfabeto e escrevia outras palavras se fossem soletradas por
alguém.
Ana, por ter as tecnologias digitais à sua disposição e pelo fato de sua
mãe ter disponibilidade para acompanhá-la em todo o período da aula,
apresentou um bom desenvolvimento, mais especificamente no que se refere ao
letramento, tendo sido percebida uma menor eficácia quanto à alfabetização.
Ana compreendia a importância da leitura e da escrita, e, mesmo não
sendo totalmente alfabetizada, fazia o uso dessas tecnologias em diversas
ocasiões da vida social, como em aniversários (solicitando a escritura de cartas
ou cartões), em momentos de criação e contação de histórias para a sua irmã
mais nova, elaboração de preparos alimentares etc. Já dispunha de um nível de
97

linguagem bem desenvolvido, o que pôde ser percebido nos diálogos coerentes
que praticava com todos à sua volta, porém entendemos que essa habilidade de
interação estaria ainda mais bem desenvolvida se estivesse interagindo com os
coleguinhas, no ambiente escolar presencial.
Em uma das ocasiões em que estava sendo observada, Ana arrancou o
rótulo de um suco de garrafa e jogou fora. Quando sua mãe perguntou se ela o
havia arrancado, ela disse que sim e, na sequência, dirigiu a pergunta à mãe do
porquê da preocupação com o rótulo, se era porque lá estaria o modo de preparo
do suco. Essa pergunta ocorreu em razão do fato de Ana ter estudado, dias antes
desse acontecimento, o conteúdo sobre gênero textual, especificamente o
gênero receita, quando Ana, juntamente com sua mãe e irmã mais nova, fizeram
uma receita de brigadeiro, seguindo a receita que foi enviada pela professora.
Foi uma aula lúdica e divertida, e principalmente importante, pois Ana entendeu
o que é uma receita, para que serve, sendo um texto, que se utiliza de palavras
para constituir uma mensagem a ser passada a alguém.
Segundo Nogueira Filho (apud SANTOS et al., 2020, p. 55),
O ensino remoto não deve se resumir a plataformas de aulas online,
apenas com vídeos, apresentações e materiais de leitura. É possível
(e fundamental!) diversificar as experiências de aprendizagem, que
podem, inclusive, apoiar na criação de uma rotina positiva que oferece
a crianças e jovens alguma estabilidade frente ao cenário de muitas
mudanças. Envolvimento das famílias também é chave, já que poderão
ser importantes aliados agora e no pós-crise.

Nesse sentido, é importante registramos a experiência de Ana em uma


aula que trabalhou a compreensão da leitura. Foram enviados diferentes livros,
juntamente com as atividades, que eram entregues às famílias para serem
desenvolvidas em casa, quinzenalmente. Nessa aula de leitura, a professora
gravou um vídeo em que iniciou contando uma história, e os pais também teriam
que ler para os filhos e, na sequência, deveriam gravar um vídeo da criança
recontando aquela história. Ana se saiu muito bem, demonstrou ter uma memória
e uma imaginação fantástica, reproduziu algumas partes e criou outras,
exercendo uma das habilidades do letramento.
Quanto à alfabetização, semanalmente, a professora apresentava novas
letras do alfabeto, juntamente com várias palavras, para as crianças fazerem
associação. Eram gravados vídeos pelas famílias das crianças fazendo
contagem do que aprenderam, para que a professora pudesse saber qual o nível
98

de aprendizagem de cada aluno.


No que se refere à professora, observou-se bom preparo profissional: era
muito carismática e atenciosa, sempre se colocava à disposição das crianças e
dos pais, sendo também possível notarmos que as aulas eram bem planejadas.
As videoaulas eram coloridas, com muitas animações que prendiam a atenção
dos alunos e que despertavam a criatividade. Mesmo a distância, percebemos
que Ana tinha um laço afetivo com a professora.
Em suma, o que pudemos verificar é que, mesmo a despeito das
dificuldades do momento histórico vivenciado, o processo de ensino e
aprendizagem foi cumprido. Todavia, uma observação: no tocante às questões
de letramento, tal processo não foi prejudicado, porém, nas questões de
alfabetização, de ensino formal da língua, neste momento da aprendizagem,
entendemos que a presencialidade era fundamental. Um evento no
desenvolvimento de Ana corrobora essa impressão: houve um feriado
prolongado e, quando retornou o dia da aula, Ana teve dúvida na escrita do
próprio nome.
99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo estudar um caso específico, no que se


refere à alfabetização e ao letramento de uma criança em fase de
desenvolvimento da linguagem e elaboração de significados mais complexos.
No primeiro momento, houve a discussão teórica com base em Magda Soares
(2009) e Maria de Fátima Cardoso Gomes (2005), buscando observar como
ambas as categorias se diferenciam e ao mesmo tempo se complementam.
Apesar de se tratar de um caso específico, este estudo pode ser
representativo do que ocorreu com crianças que tinham o mesmo perfil de Ana,
no que se refere às questões de alfabetização e letramento na primeira infância
em tempos de pandemia.
Mesmo diante de todas as dificuldades trazidas pela pandemia ao
contexto educacional formal, notamos que os professores e alunos não estavam
preparados para esse contexto pandêmico, mas que, com muito enfrentamento
e dedicação, se adaptaram a um novo processo de ensino e aprendizagem, que
não jamais pode se igualar ao presencial, mas que fez diferença, como no caso
em análise. A tecnologia digital de mediação educacional neste caso utilizada foi
considerada deficitária, haja vista não possibilitar interação entre todos os alunos
e a professora de forma síncrona, mas era a possível de ser utilizada dada a
realidade social do município em que Ana residia, onde se encontram muitas
crianças que vivem em zona rural, que não têm acesso à internet nem às
tecnologias necessárias.
Consideramos finalmente que, a despeito das dificuldades do momento
histórico vivenciado pela pandemia da Covid-19, houve o empenho da escola
para que o processo de ensino e aprendizagem não fosse interrompido.
Entretanto, a efetividade de tal processo fica em discussão. No caso de Ana, que
teve estímulo e acompanhamento da mãe, atividades relativas ao letramento
foram desenvolvidas, mas não somente por causa da ação da escola; porém, no
tocante à alfabetização, o ensino não cumpriu o objetivo, já que este requer
habilitação de profissional especializado para acompanhamento, no mínimo de
forma síncrona, na impossibilidade de haver a presencialidade.
100

REFERÊNCIAS

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Rio de Janeiro: WAK, 2007.

BRASIL. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Dispõe sobre as normas


aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujos procedimentos
metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os
participantes ou de informações identificáveis ou que possam acarretar riscos
maiores do que os existentes na vida cotidiana, na forma definida nesta
Resolução. Disponível em: Reso510.pdf (saude.gov.br). Acesso em: 2 jun.
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2009.
101

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.9
102

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é apresentar a experiência de pesquisa-ação com


assistentes sociais de Goiânia quando foi constatado danos à saúde mental, a
partir da violência de gênero ocorrida/sofrida por elas, nos seus espaços sócio-
ocupacionais. A metodologia adotada é pesquisa bibliográfica, qualitativa, e,
participativa, por meio da estratégia de pesquisa-ação iniciada em março de
2021, com 23 (vinte e três) profissionais, com lotação na Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Humano e Social (SEDHS), órgão gestor da política de
Assistência Social de Goiânia, e que obteve como resultado o fortalecimento das
assistentes sociais enquanto grupo de mulheres, trabalhadoras do Sistema
Único de Assistência Social (SUAS) e categoria profissional, em espaço de
exercício de seu protagonismo. Neste caso, este espaço é o grupo de
estudo/supervisão técnica, iniciado em janeiro de 2022, por deliberação das
assistentes sociais participantes da pesquisa, que acontece uma vez ao mês,
com participação ativa de 56,5% das profissionais. Em março de 2022, esta
atividade foi aprovada como linha de pesquisa do Grupo de Estudos Religião,
Teologia e Sociologia (GERETES), sob o título Religião, Literatura Sagrada e
Serviço Social. Atribuímos esta participação ao fato de o trabalho ser
protagonizado pelo próprio grupo de assistentes sociais, pela resolutividade nos
encaminhamentos das demandas debatidas, e sua aderência a realidade do
trabalho profissional delas. Ademais, a temática mensal debatida é escolhida
pelas próprias assistentes sociais, de forma que o protagonismo pode ser
indicado como fator preponderante para a participação da maioria, para a
superação dos danos à saúde mental dessas mulheres, mas também, como
estratégia de resistência diante da fragilidade das condições de trabalho.
103

A PESQUISA-AÇÃO E A SELEÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS: O


GÊNERO COMO CATEGORIA IMPRETERÍVEL

A pesquisa-ação é uma estratégia de pesquisa (THIOLLENT, 2002) que


nos permite imergir na realidade social concreta, vez que a pesquisadora foi
participante de sua própria pesquisa, neste caso, por meio da atuação conjunta
com cada uma das assistentes sociais durante a pesquisa de campo. As
profissionais, primeiramente, foram entrevistadas, e ato sequente, foi iniciada a
pesquisa-ação.
A pesquisa de campo teve autorização do Conselho de Ética em Pesquisa
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, CEP PUC Goiás, em 23 de março
de 2021, com parecer nº 4.612.476. De forma que a investigação em campo teve
início em 09 de abril de 2021 e término em 22 de novembro de 2021. A pesquisa-
ação ocorreu concomitantemente, de forma que no final de 2021 somamos a
atuação profissional em 15 (quinze) espaços sócio-ocupacionais diferentes,
sendo em Centro de Referência de Assistência Social – CRAS, Centro de
Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua – Centro Pop, Núcleos de
Assistência Social – NAS1, unidade de acolhimento institucional2, Diretorias3,
Gerências, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente –
CMDCA e Conselho Municipal de Assistência Social - CMASGyn.
O acesso às participantes se deu a partir da emissão de um relatório
solicitado para a Gerência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas –
GERPES, da SEDHS. O relatório foi emitido pelo Sistema de Recursos Humanos
– SRH da Prefeitura e apontou 33 (trinta e três) assistentes sociais lotadas na
Secretaria, no cargo de Analista em Assuntos Sociais – Assistente Social4. Em

1 São unidades públicas estatais estabelecidas pela municipalidade fora do escopo preconizado
pelo Sistema único de Assistência Social - SUAS, cujas unidades públicas estatais são
nominadas de CRAS, CREAS e Centro Pop. Cada NAS tem coordenação própria e é gerido pelo
CRAS responsável pelo território de abrangência em que aquele está situado.
2 A Prefeitura de Goiânia possui uma unidade pública estatal de acolhimento institucional para

crianças de 0 a 12 anos de idade, o Residencial Niso Prego.


3 Com base na Lei Complementar nº. 335, de 01 de janeiro de 2021, que “Dispõe sobre a

organização administrativa do Poder Executivo Municipal, estabelece o modelo de gestão e dá


outras providências”, a administração pública direta é organizada hierarquicamente em
superintendências, diretorias, gerências e setores.
4 Da amostra possível, que totalizava 33 (trinta e três) assistentes sociais, três se recusaram a

participar da pesquisa. Uma por motivo de saúde, vez que foi recentemente diagnosticada com
104

Goiânia, todas mulheres, confirmando o caráter eminentemente feminino da


profissão (SIMÕES NETO, 2005, 2007 e 2009; CFESS, 2005 e 2022).
A partir dessa realidade, a categoria gênero desponta e caracteriza-se
como impreterível, não por escolha deliberada, mas por força da realidade
trazida à tona, mormente, ratificada, pelos perfis profissionais editados pelo
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS, 2005 e 2022) e confirmados por
outros tantos estudos compilados no artigo intitulado “O lugar da religião no
trabalho profissional de assistentes sociais” (TEIXEIRA, 2022).
A categoria gênero implica ainda em rejeitar, nas análises sociais,
somente as justificativas biológicas para as desigualdades nas relações sociais
entre os sexos e enfatizar o sistema de relações que pode incluir o sexo, - e
veremos que nesta nossa experiência de pesquisa-ação o sexo foi incluído -,
contudo, não é diretamente determinado por ele (SCOTT, 1992 e s/d), mas pelo
conjunto da totalidade da realidade social engendrada pelo patriarcalismo, pelo
machismo, pelas relações de classe, pela politicagem, pelo patrimonialismo e
outros ‘ismos’ que são inerentes a toda e qualquer relação na sociedade.
Nestes termos, Lemos (2005) afirma que as relações sociais têm o gênero
como parte inerente, “em que as diferenças entre os sexos são percebidas e
estabelecidas, tendo as relações de poder como as primeiras formas de
identificação” (SILVA; LEMOS, 2016, p. 454). De forma que o conceito de gênero
contribui para compreendermos as relações entre o homem e a mulher, a partir
dos comportamentos emitidos em contextos socioculturais específicos (SILVA;
LEMOS, 2016).
O papel da mulher na sociedade contemporânea se distancia daquele
próprio ao sistema patriarcal, pois além de desenvolver as atividades específicas
atribuídas à mulher, ainda exerce uma infinidade de coisas, noutros espaços
(SILVA; LEMOS, 2016), com destaque para o profissional. De forma que os
‘ismos’ acima citados e outras categorias estruturantes da nossa sociedade
como a raça, o próprio gênero e as relações de classe (ROSADO-NUNES,
2021), coexistem no cotidiano de nossas relações, tramando teias de progresso

carcinoma e as outras duas, sem alegar motivos menos fúteis, não se colocaram à disposição.
As demais, num total de 05 (cinco) assistentes sociais encontravam-se de licença, seja médica,
para tratamento de saúde, ou para mandato classista, ou, à disposição de outros órgãos, e 02
(duas) lotadas em instâncias que não compõem o SUAS.
105

e retrocesso de forma cíclica e ininterrupta.


De sorte que Beauvoir (2009, p. 354), asseverou que “as mulheres de hoje
estão destronando o mito da feminilidade, começam a afirmar concretamente
sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver
integralmente sua condição de ser humano”. Como de fato acontece na
atualidade, motivado principalmente pela emancipação feminina, “a mulher saiu
do espaço privado do lar, passando a atuar no espaço público do mundo do
trabalho” (SILVA; LEMOS, 2016, p. 461).
Pois bem, no Serviço Social, uma profissão eminentemente feminina
conforme já apontamos, a pesquisa de campo realizada por meio da estratégia
de pesquisa-ação demonstrou que a dificuldade citada por Beauvoir (2009) tem
muitas faces, entre elas a violência de gênero e danos à saúde mental e/ou a
violência de gênero que causa danos á saúde mental. As faces da dificuldade
são, negativamente, qualificadas de modo a intensificá-la.
Nestes termos, salientamos o patriarcalismo como “um sistema de
discriminação institucionalizada que se reflete em todos os aspectos sociais,
indo além do espaço doméstico, tendo na submissão da mulher ao homem uma
das suas principais características” (SILVA; LEMOS, 2016, p. 463). Ademais,
neste sistema “as relações entre o homem e a mulher são imbricadas pelos
aspectos culturais próprios de uma sociedade patriarcal, onde o papel da mulher
ainda é considerado inferior ao do homem” (SILVA, 2014, p. 21), razão da
violência de gênero vivenciada pelas assistentes sociais.
Não obstante, o Serviço Social como profissão seja eminentemente
feminino, os gestores da SEDHS, são homens em sua maioria. Na atual gestão
municipal, raramente, os profissionais ocupantes dos cargos de chefia/gestores
são servidores de carreira, como as assistentes sociais entrevistadas
participantes da pesquisa. Se, na SEDHS, os cargos de chefia fossem ocupados
por servidores do quadro efetivo da carreira pública, muito provavelmente
seriam, majoritariamente, mulheres1.
Dito isto, importa esclarecer que os contatos com as profissionais
ocorreram, pessoalmente ou por telefone. No primeiro contato explicamos sobre

1O que, infelizmente, não significa que não houve violência de gênero uma vez que como já
mencionado o gênero, a raça, as relações de classe são categorias estruturantes da/na
sociedade brasileira (ROSADO-NUNES, 2021).
106

a investigação, sua temática e proposta de pesquisa de campo. Ato sequente,


agendamos a entrevista, secundada do envio do Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido – TCLE e do roteiro da entrevista pelo WhatsApp (BREAKWELL
et al., 2010). No dia e hora marcados, estávamos no local de lotação da
profissional para a entrevista e, início imediato da pesquisa-ação.
107

PERFIL PARCIAL DAS ASSISTENTES SOCIAIS ENTREVISTADAS

Quase metade das profissionais, 47,8%, têm idade entre 51 e 60 anos e


34,8%, possui idade entre 41 e 50 anos, o que significa que 82,6% são
assistentes sociais de 41 anos ou mais, sendo que duas delas, possuem idade
entre 61 e 70 anos, e, de igual modo, entre 38 e 40 anos, correspondendo cada
qual a 8,7% do total, perfazendo estas quatro profissionais 17,4%, conforme
Figura 1 - Idade.

Figura 1: Idade

Fonte: As Autoras.

87%, das participantes da pesquisa cursaram graduação na Pontifícia


Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás1, 8,7% na Universidade Estadual de São
Paulo Júlio de Mesquita Filho e 4,3% na Universidade Tiradentes. Quanto à década
de graduação em Serviço Social, 52,2% das assistentes sociais concluíram o curso
na década de 2000, 39,1% na década de 1990 e 4,3%, ou seja, uma assistente social,
graduou-se na década de 1980 e uma na década anterior.
Um dos requisitos que se constituiu em critério para a participação na pesquisa
foi que, as profissionais deveriam ter, no mínimo, 02 (dois) anos de atuação na política
de assistência social, sejam intercalados ou consecutivos. De forma que quanto ao
tempo de trabalho naquela política, 100% das assistentes sociais possuem mais de
uma década de experiência no espaço sócio-ocupacional público como servidoras do
quadro efetivo de profissionais que compõem a carreira do Sistema Único da

1 Importa esclarecer que, considerando o ano de formação na graduação e a explicação que as


assistentes sociais frisaram no ato da entrevista, de que a então PUC Goiás era denominada de
Universidade Católica de Goiás, para fins deste artigo, optamos por alinhar e denominar somente
como PUC Goiás.
108

Assistência Social - SUAS. Todas são oriundas do concurso público realizado em


2006 com posse entre os anos de 2008 e 20101.
Embora graduadas há mais de 15 anos, uma vez que a assistente social com
graduação mais recente se formou em 2006, ainda há 03 (três) assistentes sociais
sem qualquer tipo de especialização, isto é, 13% delas. Duas assistentes sociais
possuem mestrado em Serviço Social pela PUC Goiás e, a maioria das assistentes
sociais que possui especialização, cursaram pós-graduação lato sensu relacionada a
gestão pública, o que corresponde a pelo menos 34,4%.
A especialização é condição para a progressão na carreira pública, de forma
que embora com especializações em áreas afins à política de assistência social,
existem profissionais que não alcançaram uma das progressões, denominada de
mudança de Classe, pois sua pós-graduação não foi aceita para tal finalidade. Essa
realidade impacta, consideravelmente, a remuneração da profissional. Neste quesito,
a Figura 2 – Renda Mensal, retrata a remuneração declarada das assistentes sociais
após, no mínimo, 15 (quinze) anos de formação e 11 (onze) anos de atuação na
carreira pública. A maioria das assistentes sociais, 73,9%, declararam renda mensal
entre 05 e 07 salários-mínimos, 17,4% entre 08 e 10 e 8,7% entre 11 e 13.

1A relevância deste concurso público para a política social pública de assistência social está salientada
em pesquisa consubstanciada na dissertação intitulada “Tendências do pragmatismo na política social
pública de assistência social em Goiânia” (TEIXEIRA, 2017).
109

Figura 2: Renda mensal

Fonte: As Autoras.

As assistentes sociais que percebem remuneração acima de 10 (dez)


salários-mínimos deve-se ao fato de acumularem os requisitos necessários para
a ascensão na carreira, entre os quais, cursar especialização, seja lato sensu ou
stricto sensu. Considerando as remunerações percebidas no âmbito da
assistência social, que todas concordam que precisa melhorar, 05 (cinco)
profissionais possuem outro vínculo empregatício, que corresponde a 21,7% do
total.
110

A CENTRALIDADE DAS ASSISTENTES SOCIAIS, TRABALHADORAS DO


SUAS: IDENTIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Muito embora, a questão da violência não fosse objeto da pesquisa,


durante as entrevistas realizadas com as assistentes sociais, apareceu de forma
latente e espontânea a transgressão de seus próprios direitos, logo,
verbalizavam como se sentiam: injustiçadas. Por conseguinte, no grupo de
estudo/supervisão técnica, abordado de forma mais explicitada a seguir, a
violência de gênero foi constatada e invariavelmente, em todos os encontros uma
das assistentes sociais, descrevia, a violência sofrida. Vejamos algumas
declarações:
Eu sou colocada de lado no meu trabalho. Dizem que sou polêmica! E
sou mesmo! Não fico calada! Mas também, não sei de nada que se
passa no trabalho. Ninguém me fala nada! (AS4).
Fiz o que era correto e fui defenestrada! Fiquei sem ter local de lotação,
à disposição do gabinete (AS12).
Me neguei a fazer o que era errado e me colocaram à disposição (AS1).
Deixam de enviar processos para a minha Gerência, pois só fazemos
o que é correto. Fico sem ter o que fazer. Fico sem trabalhar (AS1).
Questionei por que a coordenadora tinha acesso aos prontuários, falei
que não era correto! Que o sigilo é imprescindível! Fui colocada à
disposição (AS19).
Nunca fui tão humilhada! Disseram que não se interessavam pelo meu
problema pessoal. Me lotaram há 15km de minha casa sendo que
tenho um filho especial (AS22).

Essa essência da realidade, apontada pela pesquisa de campo, ratifica e


corrobora os apontamentos de Scott (1992 e s/d) e Rosado-Nunes (2021) de que
as relações sociais são engendradas por questões que são estruturantes na
nossa sociedade, como o gênero.
Importa explicitar que tais declarações, se recepcionadas de forma
isolada, podem não dizer muito, ou serem interpretadas de outro modo,
entretanto, expomos um recorte da totalidade, a partir da análise de conteúdo
(BARDIN, 2021) das falas obtidas durante a pesquisa-ação, seja nas unidades
de trabalho das assistentes sociais, seus espaços sócio-ocupacionais, seja no
grupo de estudo/supervisão técnica mensal. A análise de conteúdo considera
ainda as expressões corporal, a tonalidade da voz, o silêncio, as emoções que
foram expressas por meio do choro, voz trêmula, embargada, pelo silêncio etc
(BARDIN, 2021).
O fato é que a vida segue o seu curso e, apesar das violências que estas
111

assistentes sociais vivenciam e somam em sua trajetória profissional, a sua


atuação junto aos indivíduos e famílias não cessa. A dinamicidade da vida vivida
exige a superação diária de desafios, da dificuldade em viver plenamente sua
condição de ser humano (BEAUVOIR, 2009) seja no ambiente doméstico ou
profissional.
Neste último, o trabalho social no SUAS constitui a principal mediação
entre as leis e regulamentos que prescrevem os direitos socioassistenciais e a
estrutura institucional de órgãos, cargos e funções, destinados a torná-los
efetivos (BRASIL, 2013). Incontestável é que as assistentes sociais ocupam uma
centralidade na política de assistência social, como trabalhadoras do SUAS,
mediando o acesso dos usuários e beneficiários aos direitos (BRASIL, 2013;
FERREIRA, 2011). Logo, no curso contínuo da vida, a violência institucional de
gênero incide sobre a atuação profissional, fragilizando o trabalho social
essencial ao serviço socioassistencial prestado à população que dele necessita.
O trabalho no SUAS requer a mobilização da trabalhadora no que se
refere aos recursos teóricos, metodológicos, técnico-operacionais, nos quais
incluem-se os tecnológicos, adequados às diferentes dimensões da gestão
instrumentalizando-a para a tomada de decisão (BRASIL, 2013). O trabalho
relacionado à função de provimento de serviços e benefícios, atribuição das
assistentes sociais participantes da pesquisa, é fundado essencialmente em
relações sociais e intersubjetivas (BRASIL, 2013). Assim, compreendemos o
quão mais nociva se torna a violência institucional de gênero sofrida e o dano
causado e/ou agravado à saúde mental da profissional que, por certo,
reverberará na sua atuação profissional1.
Também nesse contexto, o trabalho de provimento dos serviços
socioassistenciais apresenta a característica de mediador de relações sociais e
intersubjetivas entre profissionais e equipes de trabalho, de um lado; e de outro,
indivíduos, famílias, coletivos e populações. Trata-se de um tipo de trabalho em
que o contato com os usuários coloca em cena questões ainda mais delicadas e
complexas (BRASIL, 2013).
Disso resulta que as trabalhadoras ocupam um lugar de centralidade na
efetivação dos direitos socioassistenciais. Em contraste com isso, decorrentes

1Para aprofundar acerca da intersubjetividade da relação no trabalho social indicamos a leitura


sobre o trabalho imaterial nos artigos de Mansano (2009 e 2010).
112

da transformação do mundo do trabalho, verifica-se a precarização do trabalho


no SUAS, cujos resultados se expressam na insegurança, pois as assistentes
sociais são lotadas em outros locais sem aviso prévio, ou quando são informadas
com antecedência, as lotam em unidades em extremos geográficos que
dificultam a vida vivida, conforme esboçado pela AS22 anteriormente citado.
Os resultados se expressam ainda na ausência de perspectiva de
progressão na carreira, pelo motivo que expusemos no item 2, nas degradantes
condições de trabalho, na baixa remuneração e no adoecimento das
trabalhadoras. Essa situação não apenas penaliza as trabalhadoras do SUAS,
como também representa grande barreira à melhoria da qualidade do provimento
dos serviços e benefícios ofertados pelo SUAS e grave ameaça à efetiva
consolidação da Assistência Social enquanto política pública de direito (BRASIL,
2013; FERREIRA, 2011).
113

GRUPO DE ESTUDO/SUPERVISÃO TÉCNICA COMO ESTRATÉGIA DE


RESISTÊNCIA DAS ASSISTENTES SOCIAIS

Como desdobramento da pesquisa-ação foi proposto um Seminário de 4


horas, pela pesquisadora, para debatermos acerca da garantia do acesso ao
direito e a justiça na atuação profissional. Como consequência deste Seminário,
nasceu a proposta da realização de grupo de estudo mensal, que em
alinhamento com as orientações para a educação permanente do SUAS, bem
como, com a proposta das assistentes sociais, Figura 3, foi nominado de grupo
de estudo/supervisão técnica, sobretudo, porque o debate ocorre a partir da
atuação profissional das assistentes sociais.

Figura 3: Registro manual do Seminário de Pesquisa-Ação: propostas de


encaminhamentos

Fonte: As Autoras.
Foto: Pesquisadores de Apoio1

Corroborando com os apontamentos que realizamos até o momento, Silva


(2021) assevera que são em espaços como estes que as mulheres afirmam sua
identidade através da superação da condição de subordinação que
tradicionalmente é imposta pela sociedade patriarcal.
De forma que, desde 26 de janeiro de 22, ocorre mensalmente, o grupo
de estudo/supervisão técnica, aprovado como linha de pesquisa do Grupo de

1 Este artigo é um resultado parcial da pesquisa doutoral em curso que contou com
Pesquisadores de Apoio, grupo formado por profissionais de Serviço Social e estudantes, uma
da graduação e um do ensino médio que foram responsáveis pelas degravações das entrevistas
e pela preparação dos arquivos degravados que foram inseridos no Iramuteq, um software livre
de análise de dados.
114

Estudos Religião, Teologia e Sociologia (GERETES), sob o título Religião,


Literatura Sagrada e Serviço Social. Não se trata de uma ação incomum
conforme Thiollent (2002) sinaliza como resultado prático da estratégia de
pesquisa-ação, mas de uma ação incisiva sobre o(s) problema(s) e oriunda das
participantes da pesquisa (TRIPP, 2005).
Nestes termos, o grupo de estudo/supervisão técnica alinha-se
espontaneamente a Educação Permanente no SUAS que não se refere apenas
a processos de educação formal, pois
em um sentido mais amplo, ela diz respeito à formação de pessoas
visando a dotá-las das ferramentas cognitivas e operativas que as
tornem capazes de construir suas próprias identidades, suas
compreensões quanto aos contextos nos quais estão inseridas e seus
julgamentos quanto a condutas, procedimentos e meios de ação
apropriados aos diferentes contextos de vida e de trabalho e à
resolução de problemas (BRASIL, 2013).

Prima pelo investimento em múltiplas formas de capacitação e formação,


adotando instrumentos criativos e inovadores (BRASIL, 2013),
num processo contínuo de atualização e renovação de conceitos,
práticas e atitudes profissionais das equipes de trabalho e diferentes
agrupamentos, a partir do movimento histórico, da afirmação de
valores e princípios e do contato com novos aportes teóricos,
metodológicos, científicos e tecnológicos disponíveis. Processo esse
mediado pela problematização e reflexão quanto às experiências,
saberes, práticas e valores pré-existentes e que orientam a ação
desses sujeitos no contexto organizacional ou da própria vida em
sociedade (BRASIL, 2013).

As diretrizes para a educação permanente no SUAS, orienta que a


Supervisão Técnica, especialmente voltada para as equipes de trabalho, deverá
ser realizada por meio da mobilização e participação das equipes de trabalho
para estudo e reflexão acerca de questões ou problemas relacionados aos
processos de trabalho e práticas profissionais, visando à formulação e
experimentação de alternativas de solução e superação dos problemas e
questões motivadoras (BRASIL, 2013).
Neste panorama, o grupo de estudo/supervisão tem proporcionado o
exercício do protagonismo, por meio da vocalização dos problemas de quaisquer
ordens, mas o foco aqui são os profissionais. Consequentemente, possibilitando
melhor saúde mental para essas assistentes sociais. Conforme a Organização
Mundial da Saúde (OMS, 2022) a saúde mental é “um estado de bem-estar no
qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses
cotidianos, pode trabalhar produtivamente e é capaz de contribuir para sua
115

comunidade”.
Dessa maneira, o grupo de estudo/supervisão técnica vai muito além de
gerar melhoras em seus meios sócio-ocupacionais, mas também produz e
produzirá resultados que reverberarão no bem-estar físico, mental e social das
profissionais, assegurando-lhes, sem dúvida, melhor qualidade de vida.
116

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Grupo de Estudo/Supervisão Técnica mensal é essencial para o


aprimoramento da prática profissional, por conseguinte, oportuniza a reflexão
para a intervenção na realidade de como garantir o acesso, dos usuários, ao
direito e a justiça no cotidiano profissional, como também proporciona melhor
saúde mental as profissionais pois podem falar e serem escutadas pelos seus
pares.
Conforme as próprias assistentes sociais sinalizaram no Seminário de
Pesquisa-Ação o Grupo de Estudo/Supervisão Técnica com encontros
tematizados é o início para a (re)organização como trabalhadoras do SUAS.
Visto que é um resgate de formas de organização, estratégias de enfrentamento,
consolidado em encontros de formação profissional, mas também acalentador
das dores femininas.
O Grupo de Estudo/Supervisão Técnica tem tido participação regular de
56,5% de assistentes sociais, de um total de vinte e três, ou seja, pouco mais da
metade das assistentes sociais participantes da pesquisa tem frequentado
regularmente. Atribuímos esta participação ao fato de o trabalho ser
protagonizado pelo próprio grupo, também pela resolutividade nos
encaminhamentos das demandas, e sua aderência à realidade do trabalho
profissional das assistentes sociais. Ademais, a temática mensal debatida é
escolhida pelas próprias assistentes sociais. De forma que o protagonismo pode
ser indicado como fator preponderante para a participação da maioria.
117

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120

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121

INTRODUÇÃO

O ato de benzer, é uma tradição que prevalece na sociedade brasileira


desde antes da chegada dos colonizadores na terra de Vera Cruz. Os povos
originários utilizavam de ervas, plantas e de invocação das divindades de suas
crenças para trazer chuva, para curar doenças, para defender dos maus espíritos
e para reger a vida. Com o processo da chegada de novos povos vindos do
continente africano e sendo escravizados, ocorre um processo de miscigenação
e de hibridismo cultural e religioso de diversas tradições e crenças, onde ocorre
uma diversidade.
Mesmo com sua grande importância para a sociedade colonial, as
benzedeiras eram muitas vezes confundidas com bruxas e feiticeiras que traziam
malefícios, para a saúde, ideia trazida principalmente pela medicina que
caracterizava os atos populares de uso de plantas e de orações, como elementos
que não possuíam eficácia para curar as doenças, considerando como atos
ofensivos a saúde e que deveriam ser proibidos de serem realizados.
Nosso objeto de investigação é as Benzedeiras: entre as práticas
sagradas e seus espaços de atuação. Temos como objetivo apresentar quem
são essas benzedeiras e o que está subjacente a suas ações ritualísticas do
benzimento. O texto está organizado em três tópicos: compreendendo o que vem
a ser o benzimento, as benzedeiras: ofício e missão, benzedeiras e suas práticas
ritualísticas e considerações finais.
122

COMPREENDENDO O QUE VEM A SER O BENZIMENTO

Antes mesmo de surgirem às práticas de benzimentos, o termo benção já


era presente no cristianismo, onde ao buscar essa palavra em algumas
passagens bíblicas, a cura era algo frequente e buscado por toda a sociedade.
Além da cura, as ações e os costumes, todos esses passavam por rituais, onde
o elemento a ser respeitado era o sagrado. Isso pode ser visto na bíblia sagrada
em algumas perícopes, como: “e banhará o seu corpo com água no lugar
sagrado. Em seguida tornará a pôr as suas vestes e sairá para oferecer seu
holocausto e o do povo; e fará o rito de expiação para si e pelo povo “(Lev 16,
24), ou ainda “Não plantarás um poste sagrado ou qualquer árvore ao lado de
um altar de Iahweh teu Deus que hajas feito para ti” (Dt. 16, 21).
Essas duas perícopes demonstram como eram realizados os ritos nas
festividades, e como Deus ordena que seus filhos façam os ritos. Eliade (2001),
apresenta que o sagrado se relaciona também ao local onde são feitas as
preces, orações, onde se constrói os templos e a forma como são constituídos,
tudo isso se remete ao sagrado, que representa o centro de tudo:
A relação íntima entre comização e consagração atesta-se já aos
níveis elementares de cultura, por exemplo entre os nômades
australianos cuja economia se encontra ainda no estágio da colheita e
da caça miúda. Segundo as tradições dos achilpa, uma tribo aruunta,
o ser divino Numbakula comizou, nos tempos míticos, o futuro território
da tribo, criou seu antepassado e fundou suas instituições. Do tronco
de uma árvore da goma, Numbakula moldou o poste sagrado (Kauwa-
auwa) e, depois de o ter ungido com sangue, trepou por ele e
despareceu no céu. Esse poste representa um eixo cósmico, pois foi à
volta dele que o território se tornou habitável, transformou-se num
mundo (ELIADE, 2001, p. 35).

Esse poste, representa um local onde os indivíduos habitam, preparam


suas casas, e criam suas raízes, o que se assemelha ao povo de Israel, que
buscava pela terra santa, um local sagrado, onde esse se constitui uma ligação
com o divino. Eliade (2001) ainda apresenta que através dessa visão de um lugar
sagrado, se faz uma ligação entre o céu a terra e as partes inferiores, ou seja, o
mundo além do homem, onde se é possível fazer uma passagem cósmica de um
mundo para outro criando espaço de interlocução, e criando um espaço fixo, um
rumo ou uma direção que movimenta as ações do homem no tempo e no espaço.
Mas o que a construção de um espaço fixo pode ser relacionado as benzedeiras?
123

Ao analisarmos sobre as práticas e os usos dos benzimentos em


pesquisas realizadas por vários autores que são nossos referências teóricos
neste estudo, percebemos em alguns relatos das benzedeiras que elas afirmam
que antes de realizarem os benzimentos e as orações, preparam um local
específico de sua casa para realizar os ritos, o que pode ser relacionado aos
sacerdotes que preparavam um local para construir os templos e realizar
orações, o que é resguardado por essas mulheres.
Em entrevista feita por Azevedo (2019) a diversas benzedeiras, ele
observa que em algumas das casas, há um local específico para se fazer as
orações. Em uma das casas de uma senhora entrevistada, é observado que há
um banco onde os adultos se sentam para serem feitas as orações, em outra
entrevista, a benzedeira trabalha em uma creche, onde as próprias professoras
ao verem alguma criança doente, pedem para ela realizar orações, pegando
algum ramo, e rezando contra quebranto ali mesmo na cozinha.
Ou seja, as orações, preces, rezas, possuem um local específico de
atuação, o que remete novamente a uma passagem bíblica que trata sobre o
local de oração, “mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore
a seu pai, que está em secreto. Então seu pai, que vê em secreto, o
recompensará” (Mt 6).
Cunha (2018, p. 32) afirma que o uso da oralidade é um dos principais
elementos simbólicos utilizados pelas benzedeiras. As palavras remetem a
santos, a cura de doenças por meio das divindades, sendo não unicamente o
catolicismo, mas havendo um hibridismo e uma diversidade de elementos
utilizados nas orações, como pode ser visto em uma oração relatada por uma
benzedeira, entrevistada por Azevedo (2018):
Com dois te botaram, com três Jesus benzeria, com as palavras de
Deus Pai, o Espírito Santo e a Virgem Maria. Fulano, se tu tiver olhado
nos seus cabelos, se botaram no seu tamanho, se botaram no seu
corpo, na sua boniteza, na sua feiura, no seu trabalho, na sua preguiça,
na sua riqueza, na sua pobreza, na sua inveja, na sua sabedoria, na
sua alegria, na sua doença, na sua tristeza (AZEVEDO, 2018, p. 35).

Observa-se que as benzedeiras recorrem à santíssima Trindade como


elemento que retira o “mau olhado”, e as “energias negativas”, onde essas
mulheres têm grande importância por utilizarem de uma ligação com o sagrado
124

para serem orientadas das orações1 e dos métodos a serem utilizados.


As benzedeiras memorizam as orações ou elas são feitas de forma
espontânea de acordo com a necessidade da pessoa que é benzida. Ocorre todo
um ritual para a preparação das orações e das ervas, onde primeiramente elas
fazem um ato de escutar os males que afetam a pessoa, se assemelhando a um
médico, depois elas utilizam de ramos específicos para cada mal que atinge a
pessoa, e fazem o sinal da cruz, como um sinal para a retirada daquelas energias
negativas e das doenças que afligem a pessoa. Uma técnica utilizada que remete
a essas mulheres, é o uso das palavras, essas pronunciadas com a voz baixa e
calma, transmitindo positividade, como é visto na oração apresentada acima,
onde vai se falando palavras que remetem a cura e a saída dos espíritos
negativos (AZEVEDO, 2018).
Uma pergunta muito importante a ser feita, é como essas mulheres
adquiriram a prática de benzer? E como ocorre os ritos para se tornar uma
benzedeira? Analisando as pesquisas feitas por Farinha (2012), ela descreve
que a maioria dessas mulheres viviam em suas casas, cuidando dos afazeres
domésticos e conviviam em sua maioria com figuras femininas, como mãe, avó,
tia, essas ensinavam os preparos dos remédios, as rezas, ou muitas vezes as
moças observavam o cotidiano de quem as cercava e aprendiam por contra
própria e devido as necessidades. Por serem transmitidos usando a oralidade,
muito desses costumes se perderam, e outros permanecem vivos. Essas
mulheres ao descreverem o que as impulsiona a realizar as curas, falam que são
escolhidas por Deus e recebem vários dons:
As pessoa vem mais aqui pra eu rezá de espinhela, cobrero, [...] vem
aqui benzê, sara, Jesus cura, Jesus é o médico dos médicos. Quando
cê confia em Jesus, cê faz oração e fala: Ó, pode ir embora Jesus te
curou já! Tem vez que num precisa vortá mais uma vez, é uma só, num
precia mais. Pela misericórdia de Deus, pela graça de Deus (B,
março/2011) (FARINHA, 2012, p. 48).

As práticas ritualísticas, são estabelecidas por métodos e por elementos


específicos, dentre eles os símbolos, que representam as experiências religiosas
aquilo que os humanos buscam. Croatto (2010, p. 87) demonstra que os
símbolos possuem significados e definições diferentes para cada indivíduo,

1 A oração ou a prece é um processo fundamental do homem religioso essencial presente em


toda as tradições. É o respiro que anima o homem espiritual de uma universalidade que supera
a fé. Trata -se de um ato eficaz pois pode suscitar fenômenos extraordinários (USARKI, 2002).
125

podendo ser um objeto até um indivíduo que tem um significado que vai além do
seu sentido, podendo levar o ser humano para diferentes realidades, muitas
vezes não sendo definido em palavras, mas algo que revela mistérios e uma
experiência com o transcendente. Uma tradição que se remete a figura de Deus,
é a ideia de que ele seja como o vento, onde não podemos ver, mas podemos
sentir, isso remete ao símbolo, uma forma de trazer e de representar esse
contato com o sagrado, onde nem todos os elementos existentes no cotidiano
podem ser considerados como simbólicos, esse tendo que representar o
sagrado, sendo uma lente que se vê aquilo que não é visível para nossos olhos
(CROATTO, 2010, p. 88) .
Alguns símbolos remetem a fé de cada indivíduo, trazendo o seu local de
fala e compartilhando de um sentimento de representatividade. No caso das
benzedeiras, são apresentados diferentes crenças, como o uso de santos
católicos, esses distribuídos em altares, das festas de reis, das congadas e de
outros elementos que fazem parte da cultura tradicional goiana, onde ao tratar
sobre essas práticas se percebe os espaços da fé, seja pelo uso de uma cruz,
uma corrente, cordões, seja pela roupa que utiliza em seus rituais e nas práticas
religiosas, seja pela forma como se pronunciam as palavras, tudo isso são
elementos simbólicos sendo fatos sociais (CROATTO, 2010) por isso ao se falar
sobre as benzedeiras, percebe-se que muitas pessoas possuem um sentimento
de rememoração de sua infância, de terem passado por alguma benzedeira ou
de conhecer algumas, devido os usos de elementos simbólicos que representam
essas mulheres.
Apresentado esses aspectos sobre o local de fala e as representações
das benzedeiras, faz-se necessário compreender o uso da fé como elemento de
promoção da cura e do bem-estar social nos dias de hoje.
126

AS BENZEDEIRAS: OFÍCIO E MISSÃO

As benzedeiras, diferentemente dos curandeiros que buscam lucro e até


enganam aqueles que o procuram, possuem como principal objetivo a cura e
saúde daqueles que estão com seu cosmos afetado, seja por espíritos negativos,
mau olhado, seja devido a questão de doenças, como dor de cabeça, dor nas
costas, e dentre outros males que afetam o corpo e o emocional.
Ao analisar sobre essa interligação entre ciência e fé, algumas cidades e
locais, vem buscando pela medicina popular, como elemento complementar a
cura. Essa busca é feita, devido que muitas doenças se relacionam ao espiritual,
onde através das orações pode se promover um alívio do sofrimento do paciente,
como é apresentado por Pinto e Falcão (2013), a medicina vem buscando
compreender a importância do uso da religiosidade na promoção da ligação
entre médico e paciente, devido que a maioria dos pacientes hospitalizados
possuem uma religião, onde através dessa fé gera influência nas decisões dos
médicos, como uma forma de estabelecer conexões e buscar de forma mais
humanizada atender as necessidade do paciente, da família e promover uma
saúde que ouça aqueles que buscam uma força através da espiritualidade e de
sua fé.
Um exemplo do uso da fé e da medicina popular, é um caso ocorrido no
Ceará, onde estava ocorrendo casos de desidratação dos moradores, esses
buscando um atendimento médico em unidades de saúde, demonstravam certa
desconfiança em receber medicações como o soro fisiológico, o que gerou uma
certa dificuldade de aproximação entre médicos e pacientes. Buscou-se então a
ajuda das benzedeiras da região, e tiveram a ideia de colocar imagens dessas
mulheres nos frascos de soro e nos medicamentos, onde a população da
comunidade passou a aceitar receber o tratamento. Observa-se então a
importância dessa ligação entre a medicina tradicional e o uso da fé e dos
métodos populares feitos pelas benzedeiras (CARRANZA, 2005).
Nesse exemplo apresentado da união entre medicina tradicional e
medicina integrativa, podemos citar também o uso de plantas do cerrado, como
elementos auxiliares desse processo de cura. As benzedeiras, utilizam das
plantas como auxiliadoras no processo de cura e dos rituais. Ao pesquisarmos
sobre a vida dessas mulheres e suas vivências sociais na comunidade, percebe-
127

se que a grande maioria são casadas, moram em casas simples, tem como
religião o catolicismo ou são de outras vertentes religiosas como o Candomblé,
umbanda, espiritismo, protestantismo e outras religiões, enquanto outras não
frequentam nenhuma igreja ou credo (SANTOS, 2016).
A medicina, vem-se utilizando da religiosidade popular para trazer
melhorias de pacientes, onde vem se comprovando a grande eficácia do uso da
religiosidade como elemento terapêutico. Ecco (2016) et al, apresenta que a
terapia integrativa promove uma maior interligação entre paciente e medico,
aliviando dores, trazendo o alívio de ansiedade e outros males que afligem o
paciente em seu tratamento. Muitas vezes aquilo que não é visível em exames,
está relacionado ao espiritual e psicológico onde a fé pode atuar. Alguns males
com espinhela caída, vento virado, olho gordo, estão interligados a força
espiritual de cada pessoa, onde através do uso das orações e do uso da fé,
conjuntamente a medicina, pode-se gerar o bem-estar e o alívio.
Ao se buscar compreender de onde surge esse dom de curar pelo uso de
orações, plantas e gestos, percebe-se em alguns dos relatos colhidos pelos
pesquisadores Nogueira; Versonito; Tristão (2012), que esse dom é adquirido
não da noite para o dia, mas pode ser adquirido de diferentes maneiras, como
por exemplo através de uma visão em sonho, ou aprendendo com algum familiar
que lhe introduz no processo. Quando é descoberto esse dom, a benzedeira já
não vive apenas no individualismo, mas ela passa a viver de forma coletiva,
escutando as necessidades de sua comunidade, e passa a ser reconhecida
como um agente e uma figura representativa daquela comunidade, o que explica
o porquê de em determinados locais a população procurar usar dos benzimentos
como elemento de cura e de auxílio.
Outro elemento que caracteriza as benzedeiras, é a sua fé e sua ligação
com as forças divinas, onde ao realizar seus rituais, antes de tudo, pede a
intercessão de um santo, ou de Deus, até mesmo de alguma divindade, onde ao
relatarem o que faz a pessoa ser curada, não é somente a fé da benzedeira, mas
também a fé daquele que está sendo benzido, como é apresentado no
documentário da TV CULTURA Retratos de fé (2016), onde as benzedeiras
entrevistadas, relatam que para haver a cura é necessário acreditar naquilo que
está sendo realizado, ou o benzimento não possui força e muito menos ação.
Outro elemento que permeia as práticas dos benzimentos, é a dádiva,
128

onde as benzedeiras trazem bênçãos para aqueles que são benzidos, sem
buscar nenhum fim lucrativo, mas ao receber a graça da cura, aqueles que foram
atendidos por ela, contribuem com uma ajuda financeira ou simplesmente
agradecendo devolvendo a benção para elas.
Muitas sociedades realizam esse sistema de trocas de favores e de
bênçãos, onde ao analisar essas práticas, Mauss (2003) apresenta que para
receber as graças, muitos pais ao nascer seu filho, ofertam tudo o que tem para
determinadas divindades, para receber as bênçãos e as graças. O mesmo pode
ser observado nas práticas dos benzimentos, onde antes mesmo de realizar o
ritual, a benzedeira pede a graça divina e ao finalizar faz o agradecimento a Deus
ou a aquelas divindades que ela crê.
Percebe-se a humildade dessas mulheres que não buscam bens
financeiros nos seus atendimentos, mas ao contrário, buscam promover o
conforto daqueles que sofrem e que possuem dificuldades, não atuando apenas
na realização de rituais, mas também na atuação de resolução de conflitos e
dificuldades sociais em suas comunidades. Um exemplo disso, é a atuação das
benzedeiras na promoção da saúde das crianças.
Grande parte dessas taxas de mortalidade, derivam das condições
precárias, falta de saneamento básico, condições precárias do atendimento à
saúde, falta de vacinação das crianças, o que gera sérios problemas de saúde,
levando até a morte. A atuação das benzedeiras demonstra os seus cuidados e
atenção as crianças, desde a gravidez das mães, essas mesmas recomendando
que procurem atendimento médico, quando a situação da mãe ou da criança é
muito mais grave, essas realizando benzimentos para quebranto, mau olhado,
cobreiro, essas geralmente relacionados ao corpo da criança que recebeu
alguma energia negativa e que está carregado (SILVA, 2014).
Ao analisar os locais de convívio social das benzedeiras, especificamente
do Estado de Goiás, a maioria se localiza em cidades do interior do Estado, como
por exemplo Quirinópolis, Niquelândia, Anápolis, Luziânia e dentre outras
cidades que se localizam na zona rural, essas sendo muito conhecidas pelos
moradores das regiões devido as curas feitas, o que gera prestígio para elas.
Além de realizarem os benzimentos, as benzedeiras promovem e auxiliam na
organização de festividades religiosas, que unem toda a comunidade, como
também no benzimento de casas, como é apresentado por Silva (2014):
129

Percebe-se na trajetória dessas benzedeiras, elementos em comum,


assim, elas viveram o trânsito do meio rural para a cidade, encontraram
na religião o local onde vivificam redes de relações sociais e o
benzimento. Uma dessas benzedeiras afirma que o padre a chama
para ir rezar na casa de alguma pessoa doente ou para novenas. Elas
também auxiliam na organização de eventos religiosos. Essas ações a
inserem em uma rede de relações que lembram as relações no meio
rural, do compadrio, das festividades, das trocas etc (SILVA, 2014, p.
24).

Compreendemos que o uso de benzimentos não é utilizado apenas no


catolicismo, mas está inserido nas tradições indígenas onde geralmente essas
mulheres são chamadas de médiuns, incorporando algumas entidades que
estão relacionadas a natureza, tendo um contato através de seus ancestrais as
orações e os ritos, o ato de benzer é uma arte, uma performance onde não se
realiza de qualquer forma os ritos, mas ocorre uma preparação do ambiente, do
local onde são feitos os rituais, do uso de gestos específicos, desde o sinal da
cruz ao uso da voz baixa, como se as orações fossem secretas. Apresentados
sobre as benzedeiras, faz-se necessário apresentar como ocorrem os rituais e
suas orações utilizadas.
130

BENZEDEIRAS E SUAS PRÁTICAS RITUALÍSTICAS

Estar em sintonia com Deus, é de grande importância para compreender


nossas fraquezas, necessidades, e as formas de agir. Esse é um elemento
primordial usado pelas benzedeiras, elas não agem sem antes se comunicarem
com Deus ou outras formas de divindades, pois é através do divino que elas são
orientadas do que deve ser feito
Apresentados quem são as benzedeiras, é necessário ter-se um olhar
mais amplo sobre as práticas realizadas por elas. Iniciemos pelas orações, essas
sendo elemento principal dos rituais de benzimento, podendo ser espontâneas
ou até mesmo decoradas. Nas minhas vivências com minha avó, percebia que
ela utiliza orações decoradas e que foram aprendidas por parentes, e que
permanecem em sua memória. São orações que trazem em seu cerne a
presença da santíssima Trindade, além de santos, principalmente a figura da
Virgem Maria, algumas orações apresentadas por ela, tem variações de acordo
com cada pessoa, pois as orações são transmitidas de forma oral, podendo
sofrer alterações. vejamos um exemplo dessas orações:
Com a água da fonte o caminho do mato e as três pessoa da
Santíssima Trindade, São Pedro falou. Santa Íria, tava sentada em três
pedra fria, curando cobreiro de sapo, de aranha, lagartixa. Cum os
poder de Deus, da virge Maria, esse cobreiro sereis cortado. Que a Ave
Maria, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Desterro, pra
desaparecer, desterra esses cobreiro. Joga esses cobreiro nas
montanha, nas mata virge, pelas águas corrente, pra eles nunca mais
vortá (AZEVEDO, 2018, p. 69).

O uso de orações e de preces, não ocorrem apenas nas sessões de


benzimento, mas estão interligadas com o cotidiano das benzedeiras, onde não
ocorre uma separação, tudo que fazem envolve o uso da fé e das orações, desde
o acordar até as ações mais simples .Um dos elementos presentes nas orações
é a imposição das mãos, esse sendo um elemento simbólico que representa a
retirada das energias negativas e daquilo que atormenta o benzido, além do uso
de plantas como comigo ninguém pode, guine, que são conhecidas como
elementos que afastam as energias negativas. Outra caracterização das
orações, é a forma como se dá esses rituais, onde dependendo da doença ou
do que se trata, as orações e os rituais são feitos no lado de fora da casa, onde
as benzedeiras dizem que as energias se dispersam, onde dependo da energia
carregada no corpo da pessoa atendida, há casos de o ramo utilizado murchar,
131

ou a benzedeira acabar bocejando ou até sentindo dores em seu corpo


(SANTOS, 2016).
O local onde se aplicam os rituais e as preces, é algo que se interliga ao
sagrado, elemento muito utilizado e referenciado por antropólogos como também
estudiosos das manifestações religiosas. Segundo Otto (2007), o sagrado se
caracteriza como um sentimento de dependência, de uma visão de criatura
diminuindo para com que cresça a força divina. Um exemplo apresentado pelo
autor sobre as manifestações do sagrado, é o arrepiar da pele esse sendo o
Mysterium Tremendum, onde o corpo reage as forças divinas, fazendo os joelhos
tremerem e o corpo ter outras formas de reação, o que pode ser interligado as
práticas das benzedeiras. Esse reagir do corpo se relaciona ao medo daquilo
que não é visível, ao temor a Deus onde nos sentimos como criaturas pequenas
onde através das orações é que se tem uma ligação com as forças divinas para
acalentar muitas vezes sua ira e para demonstrar ter a necessidade dessas
divindades, o que justifica o respeito e a busca pelo preparo do local dos
benzimentos.
Analisando outras orações que são usadas, percebe-se que há todo um
cuidado com o preparo dos elementos simbólicos que serão utilizados, podendo
ser desde um terço, um crucifixo, água, algum ramo de planta, ou seja, o que
diferencia as benzedeiras dos rezadores é que usam de orações, mas também
outros elementos que complementam os rituais, como é apresentado por
Tulio(S/D) O livro das rezas: manual de benzedeiras:
Colocar no copo com água do benzimento um objeto sagrado para
transformar a água comum em água benta: um terço, um crucifixo, uma
imagem, uma medalhinha benta que você possua, ou pingar um pouco
de água benta mesmo, colhida em uma igreja. É bom para este fim ter
em casa uma garrafinha com água benta em seu altar e renová-la todos
os anos. Com as ervas ou galhos na mão e o copo com a água benzida,
abra com um Pai Nosso e uma Ave Maria, benza a si mesmo, peça a
Deus que lhe faça um instrumento de Sua Cura e Paz e repita 3,6 ou 9
vezes a rezação, seguindo a intuição e o coração para a quantidade
da reza sugerida, faz o sinal da cruz, molhando a erva na água e vai
benzendo e rodeando, cruzando o galho em cruz sobre o corpo da
pessoa. Benze da testa ao peito e do ombro esquerdo ao direito três
vezes, depois vira a pessoa, faz da cabeça às costas e os ombros do
mesmo jeito e por último o órgão que precisa ser benzido se houver
alguma dor ou mal em especial (TULIO, s/d, s/p).

Como pode ser analisado nas instruções apresentadas, há todo um


preparo para realizar os benzimentos, onde se inicia pedindo a proteção da
benzedeira para nenhuma energia ser transmitida a ela. As orações e as preces
132

são variadas, podendo serem tanto para doenças espirituais, desde dores de
cabeça, até para a proteção do espírito da pessoa, o corpo fechado como muitos
falam, onde há uma variedade de aspectos onde as benzedeiras são buscadas
como ´promotoras do bem estar social.
Na minha infância, há diversas lembranças em que a minha avó realizava
diversas orações além de indicar garrafadas, isso se a pessoa a procura-se,
dentre suas várias orações, haviam aquelas que eram específicas para doenças,
ou para livrar de espíritos malignos, além das formas como organizar a casa, um
exemplo o deixar a chinela virada, era considerado por ela como algo que traz
azar, tudo isso está interligado as simbologias introduzidas pela cultura popular.
Croatto (2010) ao apresentar os símbolos, demonstra que cada indivíduo
vê um elemento de seu cotidiano de uma forma, sendo o símbolo algo que
desencadeia uma vivência humana, por isso os símbolos remetem as memórias
e as experiências de cada indivíduo, ou seja, se para alguns os benzimentos e
as orações são importantes e fazem parte de sua história, para outros esses são
tidos como crendices e que não possuem o mesmo significado. Cabe a figura do
historiador apresentar as diversidades culturais (BLOCH, 2007).
As práticas das benzedeiras remetem ao uso de simbologias e de suas
crenças que não se configuram em uma única fé, mas que permeiam e bebem
de diversas religiosidades e credos. Para benzer é necessário o uso da fé, e
também saber aquilo que afeta a pessoa que está sendo benzida. Cada
benzedeira utiliza as rezas de uma determinada forma e para cada elemento que
aflige a pessoa, havendo o dia mais específico e próprio para realizar os
benzimentos, além da forma como se realizam esse ritual (DIAS, 2016, p. 44).
As orações são diversas, e possuem cada uma sua especificidade, onde a
maioria remetem ao rompimento daquele mal que está causando determinada
doença ou carregando energias negativas na pessoa:
Mal do ar, mal do mar, mal do fogo, mal da lua, mal das estrelas, mal
do ponto do meio dia, mal do ponto da meia noite. Se tiveres com
quebranto, mau olhado, feitiçaria e bruxaria, em nome de Deus e da
Virgem Maria, seja levado paras ondas do mar sagrado, onde não
canta o galo nem a galinha e nem tem criancinha chorando e nem
cristão batizado. Depois rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria (DIAS,
2016, p. 47).

Para Dias (2016), essa oração realizada para o “quebrante” ou também


conhecido como “mau olhado” como forma de libertar as energias negativas e
133

de proteger a pessoa. Compreende-se que para todas as orações há uma


finalidade e uma simbologia presente nos atos, desde o simples sinal da cruz,
até as posições das mãos e os gestos feitos pelas benzedeiras. Elas por sua vez
possuem grande respeito pelos rituais, seguindo uma ordem desde a purificação
do local até a purificação daquele que está sendo benzido.
Ao tratar sobre as benzedeiras, o que vem à mente de grande parte da
sociedade é que elas estão afastadas de nossa realidade, e que vem perdendo
credibilidade as suas ações, mas ao buscarmos compreender e analisar de onde
vem essas tradições tão ricas, observa-se que ao contrário, elas permanecem
na memória de grande parte da sociedade, e nas tradições como festejos de três
reis, nas congadas, nas festas do divino e dentre outras festividades que
representam o sertão goiano (LEMOS, 2016), onde de acordo com os autores
que utilizam como fonte o livro do Padre Luís Palacin, a sociedade goiana era
movida a festas de santos e pelo calendário litúrgico da igreja, onde essa
tradição ainda permanece na atual sociedade goiana mesmo com o processo de
secularização e modernização das cidades.
134

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste artigo, buscou-se tratar sobre quem são as benzedeiras e


os principais elementos sagrados que movem essas mulheres nas suas práticas
ritualísticas que promovem o bem-estar e a saúde para diferentes pessoas.
Eliade (2001) afirma que o sagrado pode estar presente em diferentes ações
humanas, e esse move as decisões além das ideias.
O simples ato que utilizar um ramo como forma de aspersório nos ritos de
benzimento, pode-se tornar um ato sagrado, por ser um elemento que não está
sozinho, e sim vem acompanhado de vários simbolismos e de uma energia que
interliga com o divino. Outro elemento que pode ser caracterizado como sagrado
e que é trazido pelas benzedeiras, é o local onde são realizados os benzimentos,
sendo geralmente fora de sua casa, ao se tratar de um benzimento que requer
maior força e energia, e geralmente em um local mais fechado de sua casa, para
benzer aquilo que requer pouca energia.
De acordo com Azevedo e Lemos (2018), as benzedeiras são
caracterizadas como mulheres simples, com pouca instrução escolar, mas que
carregam tamanha sabedoria sobre a natureza, a vida e a fé, utilizando desses
elementos para promover o bem-estar de toda uma comunidade, sem qualquer
distinção social, e sem cobrar pelos seus rituais, o que as diferencia dos
charlatões, esses buscando vantagens provocando malefícios.
O cotidiano é também interligado aos rituais de benzimento, onde
permeiam também a dádiva, elemento trazido por Mauss (2003) é o ato de
ofertar e de receber por esse ato. Mesmo não cobrando custos pelas suas ações,
as benzedeiras promovem a dádiva ao receberem daqueles que receberam suas
bençãos a gratidão e também respeito, além do reconhecimento de seus
benefícios trazidos para aqueles que a procuram. Ou seja, há uma relação de fé
entre a benzedeira e quem é benzido, essa fé promovendo a cura, sendo
promovido pela divindade que usa da benzedeira como instrumento de
transmissão de saberes e na promoção do bem-estar de todos, sem qualquer
interesse próprio, e sim como promotoras do bem comum.
135

REFERÊNCIAS

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Manual-da-Benzedeira-Theresa-Tullio.pdf. Acesso em: 23. ago. 2022.
137

DOI: doi.org/10.59601/9786500595574.11
138

INTRODUÇÃO

O ensino superior tem um papel de extrema importância no


desenvolvimento social, uma vez que sua produção e disseminação científica
transforma as condições de vida dentro da estrutura nas bases produtivas e
econômicas das regiões. As instituições de ensino superior, segundo o Ministério
da Educação MEC (2019), podem ser credenciadas como: Universidades,
Centros Universitários, Faculdades ou Institutos Federais, dependendo de sua
estrutura e formação acadêmica.
Conforme dados de 2018, do último censo de educação superior,
disponibilizado pelo MEC e realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), havia no Brasil 2.537 (duas mil
quinhentas e trinta e sete) IES, oferecendo 35.380 (trinta e cinco mil, trezentos e
oitenta) cursos de graduação distribuídos nas 2.152 (duas mil cento e cinquenta
e duas) instituições privadas e nas 296 (duzentas e noventa e seis) públicas.
Dentre essas instituições, 517 (quinhentas e dezessete) estão no nordeste
brasileiro, sendo 133 (cento e trinta e três) localizadas na Bahia. (INEP, 2018).
Das IES localizadas na Bahia, 90 (noventa) delas são instaladas nos municípios
do interior e abrangem diversos territórios de identidade. Segundo a Secretaria
do Planejamento (SEPLAN, s.d.), são reconhecidos os territórios -, foco do
estudo, o território do Sertão Produtivo -, mas especificadamente as cidades de
Brumado, Caetité e Guanambi.
De acordo com o portal e-mec, na cidade de Brumado existem 4 (quatro)
IES presencial; em Caetité 1 (uma) e Guanambi existem 5 (cinco). Estas
instituições têm a missão de interagir com a comunidade, fornecendo: subsídios
para o desenvolvimento da localidade na qual está inserida, as devidas
contribuições para a construção das políticas públicas estruturantes na
educação, com a criação dos debates regionais, para permitir a interiorização da
educação nos territórios de identidade pesquisados e a disponibilização de
cursos que atendam às necessidades e a diversidade local.
A elaboração do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), serve
como base para a análise e tomada decisorial nas IES, levando em consideração
os âmbitos regionais, culturais, políticos e acadêmicos. Logo, o objetivo deste
139

artigo analisou os documentos institucionais, que servem de base para a tomada


das decisões nas instituições, considerando os âmbitos regionais, culturais,
políticos e acadêmicos e seu impacto na gestão, identificando a sua relação com
o desenvolvimento territorial.
140

PLANO DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO BAHIA

O desenvolvimento e a construção do PDI do Estado da Bahia 2035, está


em revisão, a partir dos seminários temáticos e territoriais que debatem
estratégias de desenvolvimento para a Bahia. Segundo o site da SEPLAN o
objetivo do PDI Bahia 2035 é
[...] pensar numa estratégia de longo, médio e curto prazo para o
estado, apontando potenciais vetores de desenvolvimento, guiando a
ação do estado para a visão de futuro definida nas diretrizes e metas
do Plano Estratégico e oferecendo elementos objetivos que norteiem a
elaboração dos próximos quatro planos plurianuais, Leis de Diretrizes
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentárias Anuais (LOA), planos
setoriais e planos estratégicos organizacionais. (SEPLAN, 2017)

Os seminários foram iniciados pela Secretaria de Planejamento,


Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) e o Conselho de
Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia (CODES) em parceria com a
Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR/CAR), com o objetivo de discutir
todos os eixos temáticos que subsidiará a construção do Plano. No que diz
respeito a educação, entre as propostas do PDI estão, melhorar o déficit social
com educação e ampliar os através da rede de educação de acordo com as
novas tecnologias, entre outras.
141

Figura 1: Unidades de Ensino na Bahia

Fonte: SEC, 2017.

O mapa apresenta a existência de unidades de Ensino Médio


profissionalizante e as IES nos territórios de identidade. No território do Alto
Sertão as cidades de Brumado, Caetité e Guanambi possui todas as
modalidades de ensino abarcadas pelo no mapa.
A mesa temática sobre educação, foi discutida em fevereiro de 2018 e foi
dividida em 3 (três) ciclos, o primeiro tratou a Educação Contextualizada no
Século XXI, sobre tecnologias educacionais, inclusão social, inteligências
múltiplas e alternativas para a nova educação e a formação docente, o segundo
ciclo, abordou a Educação Contextualizada no Território que compreendeu o
contexto da educação e dos arranjos produtivos territoriais e por fim, o último
ciclo discutiu as Políticas de Gestão na Educação, na Pesquisa e
Desenvolvimento Tecnológico que aponta estratégias para o acesso, a
permanência na educação superior e como preencher as lacunas na educação
baiana.
142

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB), criada através da Lei


Delegada nº 66 de 01 de junho de 1983, é considerada a maior universidade de
ensino superior da Bahia, possui 24 campis que abrange geograficamente 19
territórios baianos e adota a estrutura multicampi, que permite a abrangências
destes territórios de identidade da Bahia, e a disponibilização de cursos que
atendam as necessidade e diversidade de cada região, promovendo o
desenvolvimento local.
Segundo o PDI (2017, p. 31) da UNEB, a instituição:
[...] estimula o desenvolvimento local sustentável nas comunidades e
atende as demandas sociais nos territórios de identidade em que atua.
A partir da oferta de ensino, pesquisa e extensão, são disponibilizados
cursos e atividades em áreas voltadas ao desenvolvimento
socioeconômico, como ciências sociais aplicadas, ciências da saúde,
engenharias e ciências agronômicas, bem como cursos de formação
de professores com ênfase na atuação em educação básica. Todas
essas ações são permeadas pela consciência da diversidade cultural
dos seus grupamentos e comunidades.

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB) foi fundada em 1983, mantida


pelo Governo do Estado por intermédio da Secretaria da Educação do Estado
(SEC), maior instituição pública de ensino superior da Bahia, possuindo 29
Departamentos instalados em 24 campis: um sediado na capital do Estado
(administração da instituição), e os demais distribuídos em 23 importantes
municípios baianos de porte médio e grande. A UNEB proporciona mais de 150
alternativas de cursos presenciais e de Ensino a distância (EaD), nos níveis de
graduação, pós-graduação e oferta de cursos de mestrado e doutorado. Além do
seu engajamento social, contribuindo para o desenvolvimento sócioeducacional
e econômico da Bahia e do país. As UNEB´s das cidades de Brumado, Caetité
e Guanambi, contam com 13 cursos divididos entre licenciaturas e bacharelados,
distribuídos de acordo com as características territoriais.
143

Tabela 1: Cursos da UNEB das cidades de Brumado, Caetité e Guanambi.

Departamento Campus Criação Cursos


• Licenciatura em Ciências
Biológicas
• Licenciatura em Geografia
• Licenciatura em Letras -
Incorporada pela Lei Língua Inglesa e Literaturas
Ciências Humanas VI Delegada nº 66 de • Licenciatura em Letras -
01/06/1983 Língua Portuguesa e
Literaturas
• Licenciatura em Matemática
• Bacharel em Engenharia de
Minas
• Bacharel em Administração
• Licenciatura em Pedagogia
Decreto nº 2.636 de 04
Educação XII
de agosto de 1989 • Bacharel em Enfermagem
• Licenciatura em Educação
Física
• Licenciatura em Letras -
Língua Portuguesa e
Ciências Humanas
XX Resolução nº 09/2001 Literaturas
e Tecnologias
• Bacharelado em Direito
• Licenciatura em Pedagogia

Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos dados disponibilizados no portal da instituição.
144

UNEB – CAMPUS VI

O Campus VI - Departamento de Ciências Humanas, é localizado na


cidade de Caetité, que pertence ao território de identidade Sertão Produtivo. O
departamento foi o sexto campi da UNEB a ser implantado e assim denominado
no ano de 1997, após o Decreto 7.176/1997 que dispõe sobre a reestruturação
das Universidades Do Estado da Bahia.
O ensino superior chega no ano de 1962 através da Lei nº 1.082/1962
com a criação da Escola de Nível Superior de Caetité que foi incorporada a
UNEB no ano de 1983 com a Lei Delegada mº 66/1983 e passou a se chamar
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité – FFCLC, que oferecia os
cursos de Licenciatura de 1º Grau em Letras e Licenciatura de 1º Grau em
Estudos Sociais.
Em 1997, com a reestruturação das Universidades Estaduais da Bahia, a
UNEB adotou a estrutura de Departamentos e os dividiu de acordo com as áreas
de conhecimento. A então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caetité
passou a ser denominado Departamento de Ciências Humanas – Campus VI e
atualmente o Campus conta com os cursos de Ciências Biológicas
(Licenciatura), Engenharia de Minas (Bacharelado), Geografia (Licenciatura),
História (Licenciatura), Letras/Língua Inglesa e Literaturas (Licenciatura),
Letras/Língua Portuguesa e Literaturas (Licenciatura) e Matemática
(Licenciatura).
145

UNEB – CAMPUS XII

O município de Guanambi, localizada no sudoeste Baiano, cidade de


médio porte, onde se nota um crescimento populacional e também o seu
desenvolvimento econômico. A cidade de Guanambi tornou-se referência no
Território do Sertão Produtivo, atraindo estudantes de toda região e até mesmo
de outros Estados, em função da chegada das IES, notando também,
crescimento dos diversos estabelecimentos de ensino superior na cidade e
consequentemente pela gama de cursos ofertados de uma qualificação de
ensino profissional mais acessível.

No campo da educação, começou a se destacar inicialmente em função


da chegada da instituição de ensino: Faculdade de Educação de Guanambi
(FAEG), no final da década de 80, pelo Decreto nº 2.636, em 04 de agosto de
1989, publicado no Diário Oficial do Estado da Bahia de 05 e 06 de junho de
1989. Em 1991, ofereceu a primeira turma do curso de Licenciatura Plena em
Pedagogia, nas Habilitações Magistério das Matérias Pedagógicas do 2º Grau e
Magistério para as classes de Alfabetização, reconhecidas pelo Decreto
Estadual nº 7.528/99 publicado no Diário Oficial de 19.02.1999.

Em 1997, de acordo com a Lei de nº 7.176 que dispõe sobre a


reestruturação das Universidades Estaduais da Bahia, a UNEB adotou a
estrutura de Departamento de Educação de Guanambi (DEDC Campus XII),
atualmente o Departamento oferece o curso de Licenciatura em Pedagogia e
Educação Física e Bacharelado em Enfermagem e Administração. E ainda são
ofertados os cursos de Educação Física, Pedagogia, Letras e Artes, integrantes
do Programa Especial de Formação Plataforma Freire (PARFOR); Matemática e
Geografia do Programa de Formação para Professores do Estado/ PROESP.
Com o Programa Especial da Rede UNEB, oferece o curso de Pedagogia e
atende além de Guanambi os Municípios de Botuporã, Livramento, Malhada,
Palmas de Monte Alto, Sebastião Laranjeiras, Riacho de Santana e Carinhanha.
146

UNEB – CAMPUS XX

O Departamento de Ciências Humanas e Tecnológicas, campus XX,


localizada no município de Brumado, foi criado e publicado no Diário Oficial do
dia 02/11/2001, através da Resolução nº 09/2001. Situado na Região Sudoeste
da Bahia, Conhecida como a capital do minério, o município está inserido no
Polígono das secas, o que dificulta o seu desenvolvimento, no entanto, é o
município que se destaca pelos seus índices de desenvolvimento social e
econômico da região. A sua economia está baseada na mineração de jazidas de
Magnesita e talco e no comércio, atraindo pessoas de diferentes cidades.
Analisando o campo educacional do munícipio que possui uma boa
quantidade de escolas públicas e privadas, onde analisando essa demanda real
da sociedade local e circunvizinha, que no dia 22 de dezembro de 2001, através
da Resolução 158/2001, foi autorizado o abertura e funcionamento do curso de
Letras da UNEB em Brumado, através da implantação da Licenciatura em Letras
com capacitação em Língua Portuguesa e, após redimensionamento, com
habilitação em Literatura de Língua Portuguesa, suas atividades de pesquisa e
científico.
O Departamento de Brumado de Ciências Humanas e Tecnológicas,
campus XX, oferece o curso de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa e
Literaturas, Bacharelado em Direito e Licenciatura em Pedagogia e ainda conta
com o curso de Pós-Graduação em Literatura Brasileira: Formação do Cânone
e Contrapontos Críticos. Autorizado pela Resolução CONSU nº 652/2008,
publicada no Diário Oficial de 18 de dezembro de 2008, p. 47.
147

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA BAIANO –


IFBAIANO

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IF


Baiano), surgiu na cidade de Catu com a primeira oferta de ensino profissional
na área agrária na Bahia, no final do século XIX, através da Lei 75, na fazenda
modelo de criação de gado, ou seja, no ensino de técnicas pecuárias, implantada
pelo Governo da Bahia. A denominação Colégio Agrícola Álvaro Navarro Ramos
foi estabelecida pelo Decreto N°58.340, de 03 de maio de 1966, que tinha como
intuito de ministrar o ensino de segundo grau, formando técnicos em
Agropecuária. O Colégio foi transferido para o Ministério da Educação e Cultura
(MEC), por meio do Decreto n° 83.935, em 04 de setembro de 1979, passou a
ser nomeado: Escola Agrotécnica Federal de Catu Álvaro Navarro Ramos. Foi
então que em 1993, a Lei n° 8.670 criou as Escolas Agrotécnicas Federais de
Guanambi, Santa Inês e Senhor do Bonfim, subordinadas e mantidas pelo
Ministério da Educação, estas escolas foram transformadas em autarquias.

A Lei n° 11.892 criou o Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia, de 29 de dezembro de 2008, é uma autarquia do Poder Executivo,
vinculado à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da
Educação (SETEC/MEC). O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
Baiano atua na forma de contribuir na qualidade da educação profissional, tendo
a oferta de cursos presenciais e à distância na educação básica e superior
(cursos de graduação em tecnologia, licenciatura e bacharelado e cursos de pós-
graduação), pesquisa, extensão, ações, projetos e programas voltados à
valorização dos contextos produtivos, culturais e sociais em que estão inseridos,
contribuindo, para a inclusão social e possibilitando uma formação acadêmica
com as demandas da população do campo e da cidade, focando no
desenvolvimento regional.

O Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Bahia (IF Baiano),


foi criado através da Lei nº 11.892 em 29 de dezembro de 2008, passando a ser
assim chamado as antigas Escolas Federais Agrotécnicas com sede nas cidades
de Guanambi, Santa Inês e Senhor do Bonfim. A caracterização da instituição
como multicampi, permite que atenda diversas regiões através dos cursos de
148

Educação Básica e Superior. De acordo com o PDI (2014, p. 21):


O IF Baiano atua na oferta de cursos presenciais e à distância na
Educação Básica (modalidades integrado, subsequente e
concomitante) e na Educação Superior (cursos de graduação em
tecnologia, licenciatura e bacharelado e cursos de pós-graduação).
Alinha a oferta à perspectiva da indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão, visando o desenvolvimento local e regional.
Nesse sentido, a instituição desenvolve ações, projetos e programas
voltados à valorização dos contextos produtivos, culturais e sociais em
que estão inseridos.

O propósito do IF Baiano, ao disponibilizar cursos de educação


profissional e tecnológica, sejam eles de nível técnico ou superior, nas
modalidades presenciais, de tempo integral, parcial ou EAD é capacitar os
estudantes para atuarem nos distintos setores econômicos, dando subsídios
para que seja possível o alcance do desenvolvimento socioeconômico local,
regional e nacional.

Tabela 2: Cursos de nível superior do IF Baiano na cidade de Guanambi

Campus Criação Cursos


• Bacharelado em Engenharia
Agronômica
• Licenciatura em Química
Guanambi Lei nº 8.670/93
• Tecnologia em Agroindústria
• Tecnologia em Análise e
Desenvolvimento de Sistemas

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados disponibilizados no portal da instituição.

O campus localizado no Distrito de Ceraíma, na zona rural do município


de Guanambi, foi criado pela Lei n° 11.892/08, com a integração da antiga Escola
Agrotécnica Antônio José Teixeira (teve seu início em 1995 com o curso de
técnico em agropecuária). O município de Guanambi está situado no Território
de Identidade do Sertão Produtivo, possui grande influência comercial sobre os
municípios da região cuja população é de aproximadamente 401.741 habitantes
(fonte IBGE), fatores que contribuíram para o crescimento expressivo da
população.

Além dos cursos de nível médio, são ofertados atualmente os cursos:


Técnico em Agricultura, Técnico em Agroindústria e Técnico em Zootecnia, na
Modalidade Subsequente; Técnico em Agropecuária, Integrado ao Ensino
Médio, e Técnico em Informática (PROEJA). Na modalidade EaD, são ofertados
os cursos Técnicos: em Meio Ambiente, em Eventos, em Serviços Públicos, em
149

Agente Comunitário de Saúde e em Secretaria Escolar. Em nível superior, são


oferecidos os Cursos de Licenciatura em Química, Tecnologia em Agroindústria,
Análise e Desenvolvimento de Sistemas e Bacharelado em Agronomia, além do
Mestrado Profissional Stricto Sensu em Produção Vegetal no Semiárido.
150

CENTRO UNIVERSITÁRIO FG – UNIFG

O Centro Universitário FG – UNIFG foi credenciada como Instituição de


Ensino Superior através da Portaria nº 3.081 no ano de 2002 e teve seu
regimento aprovado em 2004 a partir da Portaria nº 2.168. Como toda instituição
de ensino, a UNIFG tem sua parcela de responsabilidade na contribuição com o
desenvolvimento regional, de acordo com o PDI UNIFG (p. 2):
O Centro Universitário FG - UNIFG se propõe a ser uma instituição
promotora do desenvolvimento regional, estando em consonância com
o projeto regional e nacional de desenvolvimento social, econômico e
político. Os nossos cursos têm suas respectivas ênfases de formação
voltadas às necessidades regionais e locais, projetando o perfil do
egresso como alvo da formação de atores sociais, econômicos e
políticos que respondam às necessidades da região.

A interação das instituições com a comunidade promove a expansão do


conhecimento além dos limites das salas de aula, nos diversos campos do
conhecimento – saúde, educação, jurídico, contábil, empresarial, entre outras,
proporcionando o acesso a serviços e informações gratuitas, àqueles que
necessitam e que por algum motivo não são contemplados com os serviços de
outra maneira.
Tabela 3: Cursos de nível superior da UNIFG em Guanambi

Campus Cursos
• Bacharelado em Administração
• Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo
• Bacharelado em Biologia
• Bacharelado em Biomedicina
• Bacharelado em Ciências Contábeis
• Bacharelado em Direito
• Bacharelado em Educação Física
• Bacharelado em Enfermagem
• Bacharelado em Engenharia Ambiental
• Bacharelado em Engenharia Civil
• Bacharelado em Engenharia de Produção
• Bacharelado em Engenharia Elétrica
Guanambi • Bacharelado em Engenharia Mecânica
• Bacharelado em Farmácia
• Bacharelado em Fisioterapia
• Bacharelado em Jornalismo
• Bacharelado em Medicina
• Bacharelado em Medicina Veterinária
• Bacharelado em Nutrição
• Bacharelado em Odontologia
• Bacharelado em Psicologia
• Tecnologia de Gestão da Informação
• Tecnologia em Estética e Cosmética
• Tecnologia em Gastronomia
• Tecnologia em Radiologia

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados disponibilizados no portal da instituição


151

Apesar de todas as IES buscarem atender as demandas regionais com a


disponibilização de profissionais capacitados e de cursos que auxiliem no
desenvolvimento local, essa é uma tarefa desafiadora. Como afirma Silva (2017,
p. 13),
Na atual fase de organização da sociedade e da economia,
caracterizada pela globalização e pelo período técnico-científico
informacional, as universidades possuem fortes desafios, como o de
atender às demandas por formação de profissionais mais capacitados
ao mercado atual, indicar soluções para os problemas que afligem a
vida em comum, como também, continuar favorecendo o
desenvolvimento cultural, político, econômico, social e ambiental de
regiões e países, principalmente pela contribuição que essas
instituições podem dar no campo da ciência, tecnologia e da inovação.

O Centro Universitário FG abrange Guanambi e mais de 50 municípios


situados nas microrregiões da Serra Geral, Médio São Francisco, Oeste e
Sudoeste da Bahia e o extremo norte de Minas Gerais. Atualmente engloba o
Centro Integrado UNIFG, com diversos serviços como a Clínica Escola de
Psicologia, Clínica de Nutrição, Clínica de Fisioterapia, Serviço de Atenção
Farmacêutica, Núcleo de Assistência Contábil e Fiscal (NAF), Núcleo de Práticas
Jurídicas, Balcão de Justiça e Cidadania.
152

DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO SERTÃO PRODUTIVO

O Território do Sertão Produtivo é formado por 19 (dezenove) municípios:


Guanambi, Brumado, Caetité, Palmas de Monte Alto, Iuiú, Candiba, Pindaí,
Urandi, Sebastião Laranjeiras, Ibiassucê, Caculé, Rio do Antônio, Malhada de
Pedras, Tanhaçu, Ituaçu, Contendas do Sincorá, Dom Basílio, Livramento de
Nossa Senhora e Lagoa Real, que compõem o Território de Identidade. Segundo
dados do IBGE (2010), a população total do Território é de aproximadamente
439.455 (quatrocentas e trinta nove mil, quatrocentas e cinquenta e cinco)
pessoas, das quais 51% vivem em áreas rurais.
Os projetos para o desenvolvimento local estão ligados a algum tipo de
vocação da região, a exemplo da agricultura, comércio, pequenas indústrias,
energia renovável (fotovoltaica e eólica), saúde e educação, como a existência
das atividades típicas, históricas, religiosas, educacionais ou a alguma atividade
econômica criada pelo planejamento em virtude da vontade política, pois não
existe receita pronta para o desenvolvimento. Essa evolução acontece nas
diversas vertentes, seja educacional, cultural, econômica, social e humana; onde
todas possuem a sua parcela de contribuição, sendo medidas a partir de três
fatores: renda, longevidade e educação.
Portanto, não basta dizer com isso que uma estratégia de
desenvolvimento local busca a criação de fatores locacionais, e que isso provoca
uma aglomeração de empresas, recursos e desenvolvimento local, é preciso
mais, ou seja, criar um sistema produtivo sustentável no tempo das lideranças
locais ou regionais, beneficiando a população regional.

Os critérios utilizados como definição na questão do território variam e


dependem dos objetivos governamentais e com relação ao contexto político e
econômico de cada região. Em geral, os termos “mesmo perfil econômico e
ambiental” e “identidade social e cultural”, são frequentes nas definições de
território apresentadas por programas governamentais. (ABRAMOVAY, 2006;
MDA/SDT, 2005).

O desenvolvimento econômico local precisa conquistar o seu espaço,


portanto necessário se faz as devidas transformações de ordem social em sua
população. Isto vem acontecendo com o desenvolvimento da educação regional,
153

com importantes polos educacionais, que transformam os interesses da


população em crescimento e mudança, conforme afirma Perroux (1967, p. 194):

O crescimento e o desenvolvimento dum conjunto de territórios e de


populações não serão, por conseguinte, conseguidos senão através da
organização consciente do meio de propagação dos efeitos do pólo de
desenvolvimento. São órgãos de interesse geral que transformam o
crescimento duma indústria ou duma atividade em crescimento duma
nação em vias de formação e os desenvolvimentos anárquicos em
desenvolvimento ordenado.

É necessário um processo de transformação da sociedade, no caminho


para que o crescimento seja real e contínuo, onde todos os elementos da região
presente sejam atingidos pela contribuição e pelos resultados, de forma
consciente e organizada.
154

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino superior tem exercido um papel diferenciado quando aborda o


contexto do desenvolvimento econômico local, uma vez que, analisado os PDI´s
das Instituições de Ensino Superior, nas regiões do sertão produtivo, vemos que
as IES exercem um importante papel regional. Isto porque, qualifica a mão de
obra para atuação nas diversas áreas que a região necessita e interagem com a
comunidade local, fortalecendo o desenvolvimento econômico.
Estas análise dos PDI´s das IES que abordam esses territórios na
pesquisa, mais especificamente os das cidades de Brumado, Caetité e
Guanambi, onde a UNEB aborda a necessidade de estimular o desenvolvimento
local sustentável, procurando: atender as diversas demandas sociais nos
territórios, focando o tripé ensino, pesquisa e extensão; disponibilizando, através
dos diversos cursos dos departamentos do estudo, áreas voltadas ao
desenvolvimento socioeconômico, como ciências sociais aplicadas, ciências da
saúde e engenharias; não esquecendo os cursos de formação aos professores
com ênfase na atuação em educação básica. Para essas ações, procura-se
atuar com base na diversidade cultural das comunidades.
Quando analisado o IF Baiano, sua atuação contribui: na qualidade da
educação profissional, ofertando os cursos na educação básica e superior, com
a pesquisa, extensão, ações, projetos e programas voltados à valorização dos
contextos produtivos, culturais e sociais em que estão inseridos; para a inclusão
social e possibilita uma formação acadêmica com as demandas da população
do campo e da cidade, focando no desenvolvimento regional. Nesse contexto, o
IF Baiano atua na região ofertando a educação profissional e tecnológica, em
todos os seus níveis e modalidades, qualificando e formando pessoas para a
atuação profissional nos diversos setores, ampliando a geração de valor
agregado para a região.
Já a UNIFG tem sua parcela significativa de responsabilidade na
contribuição com o desenvolvimento regional. De acordo com o seu PDI e as
suas ações estratégicas, é uma instituição promotora do desenvolvimento
regional, por atuar com foco no projeto regional, com o desenvolvimento social,
econômico e político, apresentando cursos, pesquisas e convênios, com ênfase
na formação voltada às necessidades regionais, projetando o perfil do egresso
155

como alvo na formação dos atores sociais, econômicos e políticos que


respondem às necessidades da região.
Acompanhando esse momento do desenvolvimento econômico local, a
construção do PDI do Estado da Bahia 2035, está sendo revisado a partir dos
seminários temáticos e territoriais que debatem estratégias de desenvolvimento
para a Bahia, interagindo com as comunidades locais, pensando em: uma
estratégia de longo, médio e curto prazos para o estado; apontando potenciais
vetores de desenvolvimento; guiando a ação do estado para a visão de futuro,
definida nas diretrizes e metas do Plano Estratégico; além de oferecer elementos
objetivos que norteiem a elaboração dos próximos quatro planos plurianuais;
Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Leis Orçamentárias Anuais (LOA);
planos setoriais e planos estratégicos organizacionais.
A contribuição das IES fortalecem a economia, melhoria dos serviços,
produtos locais e são importantes para as políticas públicas no desenvolvimento
regional.
156

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, R. Para una teoría de los estudios territoriales. In: MANZANAL,


M.; NIEMAN, G. (Orgs.). Desarrollo rural: organizaciones, instituciones y
territorios. 1. ed. Buenos Aires: Fund. Centro Integral Comunicación, Cultura y
Sociedad – CICCUS, 2006, p. 51-70.

ARAÚJO, M. A. D. Planejamento estratégico: um instrumental à disposição das


universidades? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, FGV,
n.30, p. 74-86, jul./ago. 1996.

BAHIA. Lei Delegada nº 66, de 01 de junho de 1983. Cria a Universidade do


Estado da Bahia - UNEB e dá outras providências. Disponível em:
http://www.legislabahia.ba.gov.br/documentos/ld-no-66-de-01-de-junho-de-
1983. Acesso em: 4 mai. 2022.

______. Decreto nº 2.636, de 4 de agosto de 1989. Cria o Campus XII da


UNEB. Disponível em:
http://www.legislabahia.ba.gov.br/index.php/documentos/decreto-no-2636-de-
03-de-agosto-de-1989. Acesso em 2 mai. 2022.

______. Lei n° 8.670/93, de 30 de junho de 1993. Dispõe sobre a criação de


Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais e dá outras providências. Publicada
no D.O.U., em 01 de julho de 1993. Disponível em:
http://www.ifbaiano.edu.br/unidades/guanambi/historico/. Acesso em: 2 mai.
2022.

______. Lei nº 7.176, de 10 de setembro de 1997. Reestrutura as


Universidades do Estado da Bahia e denominação do Campus VI da UNEB.
Disponível em: http://www.legislabahia.ba.gov.br/documentos/lei-no-7176-de-
10-de-setembro-de-1997. Acesso em: 3 mai. 2022.

______. Decreto nº 7.528, de 18 de fevereiro de 1999. Reconhece o Curso


de Licenciatura Plena em Pedagogia Habilitação: Magistério das Matérias
Pedagógicas do 2º Grau e Magistério para as Classes de Alfabetização, do
Departamento de Educação Campus XII Guanambi, da Universidade do Estado
da Bahia UNEB. Publicado no Diário Oficial de 19.02.1999. Disponível em:
http://www.legislabahia.ba.gov.br/documentos/decreto-no-7528-de-18-de-
fevereiro-de-1999. Acesso em: 28 mar. 2022.

______. Resolução nº 09/2001. Cria o Campus XX da UNEB. Disponível em:


http://www.uneb.br/brumado/dcht/print/o-departamento/. Acesso em: 25 mar.
2022.

______. Resolução nº 158/2001. Autoriza a abertura e funcionamento do


curso de Letras da UNEB em Brumado. Disponível em:
http://www.uneb.br/brumado/dcht/print/o-departamento/. Acesso em: 20 mar.
2022.
157

______. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Cria o Instituto Federal


de Educação Ciência e Tecnologia Bahia (IF Baiano). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm.
Acesso em: 2 mai. 2022.

______. Portaria nº 2.228, de 29 de dezembro de 2015. Revisão e


Atualização do Plano de Desenvolvimento 2013. Disponível em:
http://www.uneb.br/files/2015/03/SPO_Sistema_Publica%C3%A7%C3%B5es_
Oficiais.pdf. Acesso em: 25 mar. 2022.

______. Denominações das Instituições de Ensino Superior (IES). Portal


Itamaraty Ministério das Relações Exteriores. Divisão de Temas Educacionais.
Brasília – DF. Disponível em:
http://www.dce.mre.gov.br/nomenclatura_cursos.html. Acesso em: 10 ago.
2022.

E-MEC. Instituições de Ensino Superior – IES. Ministério da Educação


– Sistema e-MEC. 2020. Disponível em:
http://emec.mec.gov.br/emec/educacao-superior/ies. Acesso em: 22 fev. 2022.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Índice de


Desenvolvimento Humano. Bahia. 2010. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 28 fev. 2022.

INEP. Sinopses Estatísticas da Educação Superior – Graduação. Portal


INEP. 2018. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/sinopses-estatisticas-da-
educacao-superior. Acesso em: 22 fev. 2022.

PERROUX, F. A Economia do século XX. Porto: Herder, 1967.

SEPLAN - Secretaria de Planejamento do Estado da Bahia. Portal da


SEPLAN. Governo do Estado da Bahia. Disponível em:
http://www.seplan.ba.gov.br. Acesso em: 22 fev. 2022.
158
159

Alieci Santos
Monitora voluntária do projeto de extensão “Brincar é Coisa Séria” e voluntária
do projeto de extensão “Interdisciplinar em Atenção Integral à Saúde do
Adolescente e Jovem”. Secretária da diretoria da Liga Acadêmica de Semiologia
e Semiotécnica em Enfermagem-LASSE. Membro do Grupo de Pesquisa
Interdisciplinar em Saúde Coletiva – GPISC. Graduanda em Enfermagem, na
Universidade do Estado da Bahia – Campus XII.
E-mail: aliece_santos@hotmail.com

Aline Rodrigues Costa de Almeida


Bolsista de Extensão do projeto “Primeiros Socorros nas Escolas”. Membro da
Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e Emergência – LAITE. Membro do
grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”. Graduanda em Enfermagem
DEDC – UNEB XII.
E-mail: aline00100@gmail.com

Allice Magalhães Cruz


Monitora voluntária, membro efetivo e diretora de finanças da Liga Acadêmica –
LAITE. Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia –
Campus XII – Guanambi.
E-mail: allicetn@hotmail.com

Ana Caroline Neves da Silva


Secretária da Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e Emergência – LAITE.
Monitora voluntária do projeto de extensão “Primeiros Socorros nas Escolas”.
Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: acnscarol27@gmail.com
160

Ana Caroline Ramos Silva


Bolsista de Extensão do projeto “Brincar é Coisa Séria” e voluntária do Projeto
de extensão “Interdisciplinar em Atenção Integral à Saúde do Adolescente e
Jovem”. Membro efetiva e diretora de marketing e comunicação da Liga
Acadêmica – LASSE. Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”.
Graduanda em Enfermagem DEDC – UNEB XII.
E-mail: acarolramoos@gmail.com

Ana Paula Santos Coelho


Bolsista do Programa de Ações Afirmativas – PROAF. Membro do Grupo de
Pesquisa Interdisciplinar em Saúde Coletiva – GPISC. Graduanda em
Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XII.
E-mail: paullaolhac@gmail.com

Anderson Bruno de Jesus Santos Pinheiro


Presidente da Liga Acadêmica de Terapia Intensiva – LIATI. Vice-Presidente da
Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e Emergência – LAITE. Vice-
Coordenador de eventos do Diretório Acadêmico de Enfermagem – DAEnf.
Monitor voluntário do projeto de extensão “Primeiros Socorros nas Escolas”.
Graduando em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: brunoandersonsl18@gmail.com

Ângelo Márcio Correia da Conceição


Mestrando em Intervenção Educativa e Social pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social, na
Universidade Estadual da Bahia (UNEB-DEDC -Campus-XI-Serrinha). Graduado
em Educação Física (licenciatura e bacharelado) pela Faculdade Social da Bahia
(2015; 2016). Especialização em Treinamento Físico para a terceira idade
(ANO). Possui experiência na área de Ciências da Saúde, com ênfase em
Educação Física. Atua como Coordenador no Projeto “A Saúde das Mulheres e
as Atividades Físicas de 60+”. Diretor Cultural do Instituto Cidadania e Inclusão
Social (IECIS), na cidade de Salvador – Bahia.
E-mail: angelomc35@hotmail.com
161

Beatriz dos Santos Coutinho


Diretora de Ensino, Pesquisa e Extensão da Liga Acadêmica de Terapia
Intensiva – LIATI. Monitora do projeto “Incentivo ao Aleitamento Materno”.
Membro do grupo de pesquisa sobre “Mulher, Gênero e Saúde”. Graduanda em
Enfermagem DEDC – UNEB XII.
E-mail: bscouttinho@gmail.com

Beatriz Karoline Silva de Oliveira


Monitora voluntária do projeto de extensão “Adolescer”. Graduanda do curso de
Bacharelado em Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia – UNEB
DEDC – Campus XII – Guanambi.
E-mail: contatobeatrizkaroline@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1877-1079

Bruna Jessica Guimarães


Monitora voluntária do projeto de extensão “Brincar é Coisa Séria”. Graduanda
em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus XII –
Guanambi.
E-mail: guimaraesbruna03@gmail.com

Camila Santana Morais


Bolsista de Extensão. Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”.
Graduanda em Enfermagem DEDC – UNEB XII.
E-mail: camilasantana1801@gmail.com
162

Carla Giselle Pereira Mascarenhas de Alencar


Mestra em Intervenção Educativa e Social pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social, na
Universidade Estadual da Bahia (UNEB-DEDC -Campus-XI-Serrinha).
Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Feira de
Santana (2008). Especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Norte do
Paraná. Servidora pública estadual, exercendo a função de professora de
Biologia, ocupando, atualmente, o cargo de vice-diretora no Colégio Estadual
Luís Eduardo Magalhães, localizado no município de Tucano-BA.
E-mail: cgpmalencar@gmail.com

Carla Lôbo de Araújo


Monitora do Projeto de Extensão da Liga Acadêmica de Semiologia e
Semiotécnica em Enfermagem. Membro do grupo de pesquisa “Interdisciplinar
em Saúde Coletiva”. Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado
da Bahia – UNEB – Campus XII.
E-mail: carlalobo.cte@gmail.com

Daniela da Silva Santos


Monitora de extensão e de pesquisa do projeto “EnvelheSENDO”. Coordenadora
de Finanças da Liga Acadêmica de Terapia Intensiva – LIATI. Membro do grupo
de pesquisa “Interdisciplinar em Saúde Coletiva”. Graduanda em Enfermagem
pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus XII.
E-mail: danyelasanto22@gmail.com

Elery Mayara Souza Santos


Presidente da Liga Acadêmica de Semiologia e Semiotécnica em Enfermagem.
Monitora voluntária do projeto de extensão “Adolescer”. Graduanda em
Enfermagem pela UNEB – Campus XII.
E-mail: elerysouza1@gmail.com
163

Elisama Fernandes Oliveira Soares


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: fernandeszama@gmail.com

Fabrício Lopes Rodrigues


Mestre em Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC). Professor
Assistente da Universidade do Estado da Bahia – Campus XII – Guanambi.
E-mail: flrodrigues@uneb.br

Felipe Guimarães Trindade


Bombeiro Civil formado pelo Núcleo de Formação de Bombeiro Civil – NFBC –
Guanambi. Graduando em Enfermagem pela UNEB Campus XII. Membro
Efetivo da Liga Acadêmica Interdisciplinar de Traumas e Emergências – LAITE.
E-mail: lipe.g.t@hotmail.com

Giovanna Pereira Magalhães


Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”. Monitora bolsista do
projeto de extensão “Incentivo ao Aleitamento Materno”. Graduanda do Curso de
Enfermagem – DEDC – Campus XII.
E-mail: giovannamag16@gmail.com

Haila Laisa da Silva Rodrigues


Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”. Bolsista de iniciação
científica sobre “Autonomia Reprodutiva de Mulheres Quilombolas”. Graduanda
em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – DEDC XII – Guanambi.
E-mail: hailalaisa@gmail.com
164

Ivanete Fernandes do Prado


Doutora em Educação Física pela Universidade Católica de Brasilia (2018).
Possui Mestrado em Educação Física pela Universidade Católica de Brasilia
(2017) e Mestrado em Terapia Intensiva pelo Instituto Brasileiro de Terapia
Intensiva (2008). Especialização em Enfermagem Neonatológica pela
Universidade Federal da Bahia (2004). Graduado em Enfermagem e Obstetrícia
pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1992). Professora
Adjunta do DEDC/UNEB – Campus XII – Guanambi e Professora Colaboradora
do Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social (MPIES) –
DEDC/UNEB – Campus XI – Serrinha.
E-mail: iprado@uneb.br

Jéssica Nayara da Silva Prado


Bolsista de iniciação científica PICIN. Membro do grupo de pesquisa “Mulher,
Gênero e Saúde”. Graduanda em Enfermagem DEDC – UNEB XII.
E-mail: jessicaprado18@outlook.com

Irene Brito Lima


Monitora de extensão pelo “Projeto de Valorização da Pessoa Idosa” –
PROVAPI. Bolsista do Programa de Ações Afirmativas – PROAF. Foi monitora
voluntária do Centro de Orientação de Atividade Física e Saúde – COAFIS.
Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: limairene039@gmail.com

Joélia Souza Neves


Bolsista de pesquisa de iniciação científica sobre “Autonomia Reprodutiva de
Mulheres Quilombolas”. Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e
Saúde”. Graduanda do curso de Enfermagem – DEDC – Campus XII – UNEB.
E-mail: joeliansouza.13@gmail.com
165

Joice Mara Amorim Messias


Doutoranda em Enfermagem e Saúde (PPGES – UESB). Mestra em Intervenção
Educativa e Social (MPIES-UNEB). Especialização em Enfermagem Obstétrica.
Graduação em Enfermagem (UNEB/DEDC/CAMPUS XII). Membro do Grupo de
Estudos e Pesquisa em Educação, Religião, Cultura e Saúde (GEPERCS).
E-mail: joiceamorim.enfermagem@hotmail.com

Jucimaura Da Cruz e Dias


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: jucimauracruzdias84@gmail.com

Júlia Rodrigues Teixeira


Graduanda em Psicologia, pela PUC-Goiás.
E-mail: juliarte2000@gmail.com

Karen da Silva Barreto


Monitora voluntária do projeto de extensão “Hora da Sesta”. Graduanda em
Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus XII – Guanambi.
E-mail: karenns1@live.com

Karine Marques Rodrigues Teixeira


Assistente Social. Doutoranda em Ciências da Religião pela PUC Goiás. Bolsista
CAPES.
E-mail: karinemrt@yahoo.com.br

Leticia Silva Pereira


Monitora voluntária do projeto de extensão “Brincar é Coisa Séria”. Graduanda
em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus XII –
Guanambi.
E-mail: leticiapereira.enf@gmail.com
166

Lídia Maria Santana Bispo de Jesus


Mestranda em Intervenção Educativa e Social pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social
(MPIES), pelo Departamento de Educação (DEDC), Campus XI – Serrinha –
Bahia. Graduada em bBacharelado em Enfermagem pela Universidade do
Estado da Bahia (UNEB) – CAMPUS XII – Guanambi. Especialista em Urgência
e Emergência pela Faculdade Santíssimo Sacramento. Especialista em
Enfermagem do Trabalho pela UNIFACS. Pesquisadora do Grupo de Estudos e
Pesquisa em Educação, Religião, Cultura e Saúde (GEPERCS).
E-mail: lidiasantana251@gmail.com

Lorrayane Alves dos Santos Baltazar


Licenciada em Letras – Português pela PUC-Goiás.

Lorena Sena Bandeira


Bolsista do programa de iniciação científica de ações afirmativas – PROAF.
Monitora voluntária do projeto de extensão “A hora da sesta”. Membro do Grupo
de Pesquisa Interdisciplinar em Saúde Coletiva – GPISC. Graduanda em
Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus XII – Guanambi.
E-mail: lorenasenab@hotmail.com

Luana Santana Santos


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
Xll – UNEB. Diretora de ensino, pesquisa e extensão da Liga Acadêmica
Interdisciplinar de Traumas e Emergências (LAITE), vinculado à UNEB, Campus
Xll. Monitora de extensão do projeto Liga Acadêmica Interdisciplinar de Traumas
e Emergências. Diretora de Finanças do Diretório Acadêmico de Enfermagem
da UNEB – Campus Xll. Vice-Presidente e fundadora da Associação Atlética
Balbúrdia, vinculada à UNEB – Campus Xll. Representante dos acadêmicos de
enfermagem da UNEB – Campus Xll – no Conselho Municipal de Saúde de
Guanambi.
E-mail: enflua2019.1@gmail.com
167

Marcius de Almeida Gomes


Doutor em Educação Física. Professor Adjunto do Departamento de Educação
– Campus XII – Guanambi e Professor Permanente do Mestrado em Gestão e
Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC) – DEDC/UNEB – Campus I –
Salvador.
E-mail: magomes@uneb.br

Maria José Magalhães da Silva


Membro do grupo de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”. Monitora voluntária do
projeto de extensão “Brincar é Coisa Séria”. Graduanda curso de Enfermagem –
DEDC – Campus XII – UNEB.
E-mail: marijosypma@gmail.com

Návia Regina Ribeiro da Costa


Doutora em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG).
Professora na graduação e na pós-graduação em Letras, lotada na Escola de
Formação de Professores e Humanidades da PUC-Goiás.

Oton Elisio Teixeira Santana


Membro fundador e secretário da LIATI – Liga Acadêmica de Terapia Intensiva.
Bolsista de Iniciação Científica do projeto vinculado ao LBFC – Laboratório de
Biofísica e Farmacologia do Coração.

Paloma Souza Lima de Almeida


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi.
E-mail: paloma_almeidasouza@outlook.com
168

Paula Valentine Soares de Freitas


Mestranda em Intervenção Educativa e Social (MPIES/UNEB – DEDC – Campus
XI – Serrinha-BA). Graduada do curso de Licenciatura em Letras com Língua
Espanhola pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Pesquisadora na área
de gênero e transgêneros e; Docência, tradução e supervisão em língua
espanhola para fins específicos. Atua na área da internacionalização com ênfase
em Mobilidade Acadêmica na Secretaria Especial de Relações Internacionais da
Universidade do Estado da Bahia – SERINT/UNEB.
E-mail: paulavalentines@yahoo.com

Rafaela de Carvalho Azevedo


Mestranda em Intervenção Educativa e Social pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social
(MPIES), pelo Departamento de Educação (DEDC), Campus XI – Serrinha-BA.
Licenciada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia, Campus XII.
Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação, Religião, Cultura
e Saúde (GEPERCS).
E-mail: rafaela.pedguneb@gmail.com

Romiria Brito dos Santos


Bolsista pela FAPESB. Pesquisadora de Iniciação Científica. Membro do grupo
de pesquisa “Mulher, Gênero e Saúde”. Monitora voluntária de projeto de
extensão. Graduanda do Curso de Enfermagem – DEDC – Campus XII – UNEB.
E-mail: romiriapma@gmail.com

Rosemary Francisca Neves Silva


Doutora em Ciências da Religião e docente dos Programas de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Ciências da Religião e História da PUC-Goiás. Editora-chefe
da Revista Fragmentos de Cultura. Coordenadora do Núcleo de Ensino Pesquisa
e Extensão em Humanidades da PUC-Goiás.

E-mail: rosemarynf@gmail.com
169

Sabrina Alves Nunes


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi. Bolsista de Iniciação Científica – PROAF. Vice-Presidente da
Liga Acadêmica de Semiologia e Semiotécnica – LASSE. Membro do Projeto de
Extensão Saúde do Trabalhador Informal do Comércio.
E-mail: sabrinaalvesn23@gmail.com

Samara Stefany dos Santos Silva


Monitora Extensionista da Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e
Emergência-LAITE. Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado
da Bahia – Campus XII – Guanambi.
E-mail: samarastefany28@gmail.com

Sandra Célia Coelho Gomes da Silva


Pós-doutora em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado
da Bahia (UNEB). Doutora em Ciências da Religião (PUC-GO). Mestra em
Ciências da Religião (PUC-GO). Pós Graduação Lato Sensu em Sociologia
(UFMG); História Econômica; Terapia Transpessoal e Práticas Integrativas do
Cuidado à Saúde (PICS). Bacharela e Licenciada em Ciências Sociais pela
Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Professora Adjunta do DEDC/UNEB
– Campus XII – Guanambi e Professora Permanente do Mestrado Profissional
em Intervenção Educativa e Social (MPIES) – DEDC/UNEB – Campus XI –
Serrinha.
E-mail: scsilva@uneb.br

Saraya Evellin Damaceno dos Santos


Monitora voluntária do projeto de extensão “Primeiros Socorros nas Escolas”.
Membro efetivo da Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e Emergência –
LAITE. Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia –
Campus XII, Guanambi.
E-mail: sarayaevellyn@gmail.com
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Talita Gabrielle Santos Guimarães


Vice-Presidente da Liga Acadêmica de Terapia Intensiva – LIATI. Ligante da Liga
Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e Emergência – LAITE. Membro do grupo
de pesquisa sobre “Mulher, Gênero e Saúde”, da Universidade do Estado da
Bahia – Campus XI – Serrinha. Graduanda em Enfermagem pela Universidade
do Estado da Bahia – Campus XII – Guanambi.
E-mail: talienfuneb@gmail.com

Tandy Dante dos Prazeres de Matos Rocha


Monitor bolsista de ensino no componente curricular “Imunologia”. Monitor de
ensino voluntário no componente “Bioquímica”. Membro do projeto de extensão
“Espanhol em Expansão”. Graduando em Enfermagem pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB, Campus XII.
E-mail: tandydante123@hotmail.com

Thalita Santos Pereira da Silva


Monitora de extensão do projeto “EnvelheSENDO”. Monitora de extensão do
projeto “Brincar é Coisa Séria”. Membro do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar
em Saúde Coletiva – GPISC. Graduanda em Enfermagem pela Universidade do
Estado da Bahia – UNEB - Campus XII – Guanambi.
E-mail: thalitasantos98@outlook.com

Thauanny Cotrim Ribeiro


Monitora de extensão e de pesquisa do projeto “EnvelheSENDO”. Diretora de
comunicação da Liga Acadêmica de Terapia Intensiva – LIATI. Membro do Grupo
de Pesquisa Interdisciplinar em Saúde Coletiva – GPISC. Graduanda em
Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus XII –
Guanambi.
Email: thauannycot@gmail.com
171

Valéria Antunes Dias


Mestra em Intervenção Educativa e Social pelo Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social, na
Universidade Estadual da Bahia (UNEB-DEDC -Campus-XI-Serrinha).
Especialista em Psicopedagogia; em Metodologia do Ensino Fundamental;
Supervisão Escolar e; Tecnologias em Educação. Graduanda de Educação a
Distância e Mídias em Educação. Atuou como Professora regente na Educação
Básica, como Vice-Diretora e como Multiplicadora Docente – Núcleo de
Tecnologia Educacional/NTE-12, com experiência na área de Educação e
ênfase em Tecnologia. Atualmente, atua como Coordenadora Pedagógica na
Rede Estadual de Ensino da Bahia.
E-mail: lela_gbi@hotmail.com

Veila Santos Neves


Graduanda em Enfermagem pela Universidade do Estado da Bahia – Campus
XII – Guanambi. Presidente da Liga Acadêmica Interdisciplinar de Trauma e
Emergência (LAITE). Monitora extensionista do Projeto de Valorização da
Pessoa Idosa (PROVAPI). Diretora de Eventos do Diretório Acadêmico de
Enfermagem (DAEnf) da UNEB – Campus XII.
E-mail: veila.neves@hotmail.com

Verônnica Teles dos Santos Silva


Graduada em História pela PUC-Goiás (2022). Mestranda em História pelo
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História da PUC Goiás.
172
A Obr a [ RE] SI GNI FCANDO AS CI ÊNCI AS SOCI AIS:
ESCREVI VÊNCI AS, Vol ume 4, v i
nc ula- se as v i
v ênc ias
reali
z adas pel os es tudant es do c urs o de gr aduaç ão
Bac har eladoemenf er magem doDepar tament odeEduc aç ão-
Campus XI I- Guanambi em par ceriac om egr es s os e
mes trandosdoPr ogr amadePós -
Gr aduaç ãoSt rictoSens u
emI nter venç ão Educ at i
v a e Soc ial - MPI ES ( Mes t
rado
Profiss i
onal )do Depar tament o deEduc aç ão-Campus XI -
Serrinha,daUni vers i
dadedoEs tadodaBahi aec onv i
dados
deout rasI ns tit
uiçõesde Ens i
no Super ior( IES)nac i
onai se
i
nter nac i
onai snodec or r
erdoanode2022. Nes tapubl icaç ão,
organi zadapel adoc ent edoc omponent ec ur r
icul
arCi ênc ias
Soc iaisApl icada à Saúde, s ão apr esent ados r elat os de
exper iênc ias e r evisões de l iteraturapr oduz idos pel os ( as)
estudant esde gr aduaç ão e de pós -graduaç ão,j untament e
com os egr es s osepr ofes s orasdoMPI ESedeout rasI ES.Os
t
ex tosque c ompõem a r eferidaobr a es tabel ecem r elaç ões
com a s aúde e ou t emát i
c as emer gent es nos
diversos c ont ex t
oss oc i
aisc ontempor âneos ,r elaci
onadosaos
estudos de pes quis ador es ( as ) dedi ferent es ár eas do
conhec iment oegr uposdepes quisa.A pr es entec olet ânea
t
em c omoobj eti
vof ortalec er o di álogo, a di fus ão e a
cons olidaç ãodoc onhec iment onoâmbi toint erdiscipli
narena
art
iculaç ãoent r
eat eor i
aeapr áti
caor iundadasi nt erfac es
entregr aduaç ão e pós -graduaç ão,v isando a di alogi cidade
com o pr oc es sof ormat ivo eint ervent ivo de es t
udant es da
graduaç ão com os pós -graduaç ão bus c ando
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oment arreflex ões,r es significaç õesenov asper spec tivasde
conhec iment os na ár ea das c iênc i
as soc i
ais no âmbi to da
educ aç ão,r el igi
ão,c ulturaedas aúde.

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