Professional Documents
Culture Documents
net/publication/342747825
CITATIONS READS
0 183
5 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
CULTURA MATERIAL, COLONIALISMO Y GENERO EN EL PACIFICO. UNA APROXIMACION DESDE LA ARQUEOLOGIA HISTORICA View project
All content following this page was uploaded by Bartira Ferraz Barbosa on 07 July 2020.
em mapas de
Georg Marcgraf
Recife | 2019
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial,
por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, micro-
fílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos e videográficos. Vedadas
a memorização e/ou a recuperação total ou parcial em qualquer sistema de
processamento de dados e a inclusão de qualquer parte da obra em qualquer
programa juscibernético. Essas proibições aplicam-se também às característi-
cas gráficas da obra e à sua editoração.
Catalogação na fonte:
Bibliotecária Kalina Ligia França da Silva, CRB4-1408
Agradecimentos 7
Acknowledgments
Abertura 13
Aperture
Introdução 23
Introduction
2 Notularum Explicatio 53
Notularum Explicatio
Ricardo Piqueras, Scott Allen e Bartira Ferraz Barbosa
6 Espaços Afro-indígenas 115
Afroindigenous Spaces
Bartira Ferraz Barbosa e José Luiz Ruiz-Peinado Alonso
7 Os Intermediários 131
The Intermediaries
Bartira Ferraz Barbosa e José Luiz Ruiz-Peinado Alonso
Notas 175
Notes
Fontes Primárias | Referências Cartográficas 183
Primary Sources | Cartographic References
Referências Bibliográficas 185
Bibliographic References
AGRADECIMENTOS
acknowledgementS
AGRADECIMENTOS 7
8 acknowledgementS
AGRADECIMENTOS 9
10 acknowledgementS
AGRADECIMENTOS 11
Abertura
Aperture
ABERTURA 13
14 APERTURE
ABERTURA 15
16 APERTURE
ABERTURA 17
18 APERTURE
ABERTURA 19
20 APERTURE
ABERTURA 21
introdução
introduction
Georg Marcgraf
Um homem ancorado no tempo de Maurício
introdução 23
24 introduction
Georg Marcgraf
An Anchorman in the Time of Maurice
introdução 25
26 introduction
introdução 27
28 introduction
introdução 29
30 introduction
de Março, having been the old Rua do Crespo referred to in the ur-
ban map of Old Maurícia. Its location is in a remodeled building
at this corner, a tangible landmark of the first residency of Count
João Mauricio de Nassau, in Dutch Brazil. On the roof of this
house was built the astronomical observatory that functioned be-
tween 1638 and 1643, equipped and operated by Georg Marcgraf.
The house of Pedro Alves, a New Christian, confiscated by
the WIC was handed over to Nassau and it occupied the location
of four the townhouses located today. We hope to install the
Marcgraf Museum in these buildings. While Marcgraf and oth-
er members of the Nassau Court lived in this residence, other
projects were accomplished. Besides the observatory, there was
a botanical and zoological garden built in the Palácio de Tor-
res of Friburgo. From here the scientists and engineers would
make metereological observations and set out on a number of
expeditions to collect species, to collect topographical data and
observe the fauna end the flora of the northeast.
Marcgraf’s indisputable scientific leadership was essential
in all of these tasks. But the aspect most important of his lead-
ership, which formed the foundation for the primacy of Marc-
graf’s moder science in the New World was his posture that was
as innovative as the era, shown through the investigation of
nature based on not more observations, or on propositions of
classic authorities, but on systematic observations and precise
measurement. He held this same posture in the study of flora,
fauna, the land, the climate, the Native Americans and of the
stellar bodies in the souther Sky.
outros membros da corte de Nassau viviam nessa residência
que se construiu além daquele observatório astronômico, no
Palácio das Torres ou de Friburgo, um jardim botânico e zoo-
lógico, e se fizeram observações meteorológicas e diversas en-
tradas para o recolhimento de espécimes, levantamentos car-
tográficos e conhecimentos da fauna e da flora do Nordeste.
Em todas essas tarefas, Marcgraf teve uma indiscutível
liderança científica. Mas, o aspecto mais importante dessa
liderança, que fundamenta a primazia da modernidade cien-
tífica de nosso personagem no Novo Mundo é que, apesar de
tratar-se ainda de uma época fecunda de formação da ciência
moderna, ele já estava imbuído de uma postura então ino-
vadora na investigação da natureza baseada, não em meras
especulações, nem em proposições estabelecidas ou de au-
toridades clássicas, si não em observações sistemáticas e em
medidas precisas. Essa mesma postura foi a que utilizou no
estudo da flora, da fauna, do território, do clima, dos nativos
e dos astros do céu austral.
Parece-nos que o nome de Marcgraf deve perder seu
significado simbólico e singular, que sempre ajudou a cons-
truir mitos, ele somente se alcança com estudos como os que
agora estão neste livro editado e que podem deixar o notável
cientista igual a qualquer mortal e assim mais digno de suas
conquistas no campo da ciência.
introdução 31
32 introduction
The mural, or wall, map Brasilia qua parte paret Belgis, has been
studied by experts from various fields of history and geogra-
phy as one of the most advanced works of its period funded
by the West India Company.1 Commemorating 365 years after
the map’s first publication in 1647, researchers at the Univer-
sidade Federal de Pernambuco and Universitat de Barcelona
came together in 2013 to investigate Native American, African
and descendent spaces represented in this work. The texts and
drawings contained in the map served as the basis for the re-
alization of historical interpretations about the territories oc-
cupied by Europeans, Indians, Africans and mestizos. Included
were colonial e non-colonized spaces, for example areas con-
tiguous to those already dominated by Europeans depicted as
regions with the presence of indigenous Africans and African
descendants placed outside colonial rule.
In this book, we present the idea of using maps, military
reports and letters as a ‘language’ with the aim of serving as a
source for a social history of changes and continuities in Bra-
zilian colonial society and landscape.2 The idea is to understand
better the history and nature of contact between Europeans,
Native Americans and Africans, which occurred during the
conquest and occupation of Brazil. Thus, in this example on
the mapping of Dutch colonial achievements, different events
that took place in the diverse regions can be perceived and fol-
lowed. Slavery, agriculture, expeditions and conquests figured
as important themes in this period considered a Golden Age
for Dutch cartography (Matsura, 2011). As testament to this
e africanos ocorrido durante a conquista e a ocupação ho-
landesa do Brasil no século XVII. O mapa registra mudan-
ças e continuidades na cartografia holandesa e na paisagem
colonial brasileira, onde diferentes ações ocorridas nos es-
paços coloniais podem ser acompanhadas. Temas novos en-
volvendo colonização, escravidão, monoculturas, expedições
e conquista foram inseridos por Margraf em seus registros
cartográficos durante essa época de ouro para as ciências e as
artes desenvolvidas nos Países Baixos (Matsura, 2011: 330). O
Brasilia qua parte paret Belgis confirma esta afirmação por ser
um documento cartográfico importante no que ele apresen-
ta como espaços nativos e de escravos fugitivos do sistema
colonial. A localização desses espaços, nas diferentes áreas
do litoral ao Sertão, pode ser a mais representativa e, talvez,
única da costa do Nordeste do Brasil, do século XVII, quanto
à localização da área do quilombo dos Palmares e de aldeias
espalhadas pelo sertão.
Durante o período colonial, os interesses por mapas geo-
políticos e planos urbanos sobre diferentes regiões da Amé-
rica estavam, sobretudo, relacionados a aspectos políticos
enredados às fronteiras econômicas estabelecidas a partir da
expansão marítima de estados e reinos europeus modernos.
Portanto, rotas de navegação, mercadorias, contatos entre di-
ferentes regiões e assentamentos populacionais são alguns
dos temas encontrados na cartografia do período.
A costa Nordeste do Brasil foi a primeira região das Amé-
ricas a receber um grupo de cientistas financiado pela WIC,
Notularum explicatio 55
56 Notularum explicatio
Notularum explicatio 57
58 Notularum explicatio
This first section discusses the use of space both on the Europe-
an side with African presence (town, settlement, fort or church)
as well as indigenous (‘Indian’ and ‘Tapuya’ villages). Particularly
striking is the use of the generic “Indiarum” concept applied to
Tupinambá groups within the colonized zone, as opposed to the
Tapuya villages – spaces out of direct colonial domination. The
difference is the use of different terms in Latin: “Domus Indi-
arum” for a permanent or sedentary and missionized and “Domi-
cilium Tapijyurum” as base/home of itinerant Indians, particularly
Tapuias.9 The labels, “Lugar des povoado” or “Domicilia deserta” in-
dicate areas or villages formerly occupied by groups that either
were eventually reduced to mission villages or groups that, ow-
ing to pressure from the Portuguese or Dutch, fled to refuge
areas in the interior (Allen, 2013), without underestimating the
damage caused by epidemics that ravaged the territories and
that could explain some abandoned settlements.
Português Latim
Villa ou cidade Urbs vel civitas
Povaçáo Pagus vel vicus
Fortaleza Fortalittum
Aldea das Indias Domus Indiarum
Aldea das Tapijya Domicilium Tapijyurum
Igreia Ecclesia
Caza… Domus
Lugar des povoado Domicilia deserta
Português Latim
Curral Stabula diversarum bestiarum
Caminho Via
Engº dagoa cum Igreia Ingenio, vel Mola - Sacchari quoe vi aquaru rotatur
Engº dagoa sem Igreia Idem sine ecclesia
Notularum explicatio 59
60 Notularum explicatio
Notularum explicatio 61
62 Notularum explicatio
The campina are the plains with few trees near the coast or major
rivers, factoring as important spaces for settlement and com-
munication, while the mato or silvae represent the Atlantic For-
est, zones thick and impenetrable which served as refuge areas
for displaced natives and maroons (cimarrones).
To summarize, the legend expresses the human and eco-
nomic realities that interacted in Dutch Brazil at this time. It
transmits successfully the notion of a geographical space of
Portugués Latim
Campina Campi
Mato Silvae
Notularum explicatio 63
64 Notularum explicatio
Notularum explicatio 65
As diferentes visões no mapa mural
Different landscapes and visions
3
Bartira Ferraz Barbosa e José Luiz Ruiz-Peinado Alonso
A cartografia de Marcgraf pode ser interpretada por várias
aproximações em relação a sua visão sobre o mundo colonial
atlântico luso-holandês. Sobre os territórios conquistados
pelos neerlandeses no Nordeste do Brasil, o mapa apresenta
duas concepções distintas no sentido do litoral para o inte-
rior. Esta bipolaridade permite ver o litoral com um olhar
de cima apontando para combates navais ocorridos ao longo
da costa, topônimos referentes aos acidentes geográficos e às
construções coloniais distribuídas na costa e regiões da Mata
Atlântica; na perspectiva em voo de pássaro o mapa apresenta
vinhetas colocadas em espaços deixados em branco que cor-
respondem ao interior e regiões que compreendem, hoje, o
Agreste e o Sertão nordestino.
As vinhetas de Frans Post sobre os espaços socioeconô-
micos, representados por Marcgraf, formam várias cenas,
cinco delas enfocam aspectos da vida entre os nativos, sendo
quatro sobre usos e costumes de tapuias e uma referente a
um terço de índios saindo para guerra. Uma única cena é
dedicada a um grupo de afrodescendentes pescando. Outras
três vinhetas tratam sobre um engenho real, um engenho
de farinha e uma missão de índios, incluindo aspectos de
arquitetura e de ações desenvolvidas na produção do açúcar,
and had two entrances; the street was about six feet wide, and
there were two wells at the center; a patio where the king’s
house stood was currently a wide open area where the king ex-
ercised his men; the gates of this Palmares were surrounded by
two rows of palisades connected in the middle by braces, but
they were so full of brush that we spent much effort to open a
passage (Diário 3/18/1645, in Carneiro 1958, 255; transla-
tion by the authors)
enemy attack. On the other hand, it seems more likely that this
activity is related to the colonial system, given the context of the
vignette and it is known that the Dutch acquired food through
the labor of both free and enslaved fishermen. Following the
tradition of salted fish factories, these fishermen supplied the
market of Recife while it was besieged by Luso-Brazilians. In
Dutch historical documents, Verdonch writes of the large pro-
duction of dried fish, asserting, “that all is brought to Recife.”
Later, in 1674, Pedro de Almeida informed the officers of the
Court that he intended to make an attack on Palmares and for
the expedition he needed supplies, including 300 bushels of
flour and all the dried fish on hand in order to assist in the in-
vestment against the quilombo (Curvelo, 2012: 54).
A watchtower also appears in a painting by Eckhout, rep-
resenting an enslaved African woman. The work is a mixture
of African and native Brazilian elements such as plants, food,
clothing and with the watchtower in the background, though
this time placed on the seashore. The woman is referred to
as a “Woman of the Congo” or “Slave Woman” and in the art-
ist’s sketch she is shown with the brand `N` on her left breast,
which meant she was the property of Maurício de Nassau
(Parker, 2010: 158-159).
quilombo dos Palmares com as práticas de pesca para a sua so-
brevivência e atalaia como elemento defensivo de um possível
ataque inimigo. A cena, também, pode ser vista como uma das
alternativas que tiveram os holandeses para conseguir comida
através da utilização de pescadores escravos ou livres no sul
da capitania de Pernambuco. Seguindo a tradição de feitorias
de peixe salgado, estes pescadores abasteciam o mercado do
Recife sitiado por luso-brasileiros. Nos documentos holande-
ses, Verdonch fala da grande produção de peixe seco “que todo
é trazido para Recife”. Mais tarde, em 1674, Pedro de Almeida
informou aos oficias da Câmara que pretendia fazer um ata-
que a Palmares e, para isso, necessitava de mantimentos, 300
alqueires de farinha e todo o peixe que se fizesse com o fim de
ajudar na entrada ao quilombo (Curvelo, 2012: 54). Para nós, a
vinheta da cena com homens pescando não tem, necessaria-
mente, uma relação com o quilombo por nela estarem apenas
africanos pescando ou usando uma atalaia.
Outra imagem incluindo uma atalaia também foi pin-
tada por Albert Ekhout no quadro com escrava africana em
primeiro plano. Trata-se de uma obra sobre aculturação e
escravidão no Atlântico, em que figuram plantas, comidas,
vestimentas africanas e americanas e ao fundo do quadro
aparece uma atalaia colocada à beira-mar sendo usada por
homens africanos. A escrava está referida como mulher do
Congo e no esboço desenhado pelo pintor ele a representa
com a marca N no peito esquerdo, dando a significar que era
uma escrava de Mauricio de Nassau (Parker, 2010: 158-159).
Paisagens Socioeconômicas 85
86 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 87
88 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 89
90 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 91
92 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 93
94 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 95
96 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 97
98 Socioeconomic Landscapes
Paisagens Socioeconômicas 99
Bárbaros e Canibais
Barbarians and Cannibals
5
Ricardo Piqueras
A produção de imagens sobre antropófagos durante o perío-
do colonial serviu como etiquetas para captar a atenção de um
público europeu ávido por notícias e descrições sobre as terras
americanas. Em todo caso, foram imagens que justificavam e
facilitavam as tarefas da conquista e colonização que levaram
a cabo, portugueses, franceses ou neerlandeses ao Brasil. Nus,
bárbaros, selvagens e antropófagos, foram argumentos para a
conversão, a escravidão e o extermínio de indígenas apoiados
por políticas colonialistas. A terra fértil para as novas planta-
ções e para pasto de rebanhos foi tirada dos nativos por “guer-
ras justas” fazendo justiça aos colonizadores ‘civilizados’ que
arriscavam suas vidas para construção de fortunas.
Quando, em 1549, o mercenário alemão Hans Staden foi
capturado por nativos tupinambá, na fortificação portuguesa
de São Felipe, não imaginava ele que, oito anos mais tarde, o
relato de suas vivências, durante os nove meses de cativeiro,
se converteria em um êxito de vendas que veio a modelar a
opinião europeia sobre os indígenas brasileiros.
A partir dessa obra, gravuras e pinturas reinterpretan-
do livremente a odisseia de Staden de maneira exagerada
that the Indians hunted emu, cattle and fished which certainly
satisfied subsistence requirements for protein. The European
idea of the indigenous world was one of “savagery” and con-
stant confrontation and ethnic strife, where bow and arrows
or tacapes (a type of spear or club) serve to destroy opponents
and prepare for the feast and enjoyment of cannibalism rituals.
Their space was the forest, untamed nature where they moved
freely in search of food resources.
The Tapuia were free until colonial strategies required the
space to expand. The same cattle that escaped from the pens,
hunted collectively by the Tapuia, were the point of the spearhead
of a colonial world that began to pressure them. They represent
the interaction between the wild world of the sertão (backlands,
hinterlands) and the orderly world of the colony. These “barbar-
ians of the sertão”, representing diverse groups who lived various-
ly in villages, semi-sedentary communities and also in nomadic
groups, were considered by at the time as lacking any fixed village,
or “Domus”, which meant that they did not want to be considered
part of a world beyond their interests and one that only brought
hard labor, religious missions, productivity and acculturation.
Georg Marcgraf’s map shows ultimately the formation of a
colonial world driven by economic and political goals that had
nothing to do with the realities of native Brazilians. The vision
of a European world that led to, more often than not, the radi-
cal transformation of indigenous life and their forced entry into
the modern history of Europe through stereotypical images
and discourse of an obviously Eurocentric nature.
e políticas que nada tem a ver com as realidades nativas dos
territórios originais. A visão de um mundo europeu que exi-
ge na maioria das vezes a transformação radical das formas
de vida indígenas e sua entrada forçada na História Moderna
da Europa com discursos de marcado caráter eurocêntrico e
imagens estereotipadas.
on the African coast before leaving for the Americas, but with
the salvation of the soul came enslavement of the body. Also
the Dutch employed Calvinism to indoctrinate Black people
in order to maintain the servitude and submission of slaves
in Dutch Brazil, to secure the political and economic alliances
with African kings, but also to count on their participation in the
wars in Brazil and Dutch Africa.
That Indians and Blacks participated in this colonization
process with their knowledge and by their actions or reactions
is not a novel idea, but it is essential to better understand the
colonial world. We know that death or slavery and the loss of
territory awaited non-allied Natives and rebels, as happened to
the Palmarino Maroons who, by not submitting to enslavement
and the European colonial project, were attacked with the cap-
tured enslaved and sent to sugar plantations, farms and other
local industries (Perrone-Moisés, 1992: 115-132). We believe that
these quilombos were African-Indian in composition, for the pur-
suit of liberty among Blacks and enslaved Indians led many to
form runaway communities throughout seventeenth-century
Brazil, in places where it was necessary to keep communication
strategies and alliances with all local groups.
Questioning the historiography about European elites and
returning the focus of analysis to historical documents pro-
duced by Indians, mestizos and Blacks, regarding the trans-
formation of their landscapes and territories, is a challenge.
Frontiers, indigenous villages, religious missions, maroon com-
munities, plantations, settlers, wars, slavery, were among many
pois a busca pela liberdade entre africanos e índios escravi-
zados e índios ‘livres’ das missões levaram muitos a forma-
rem quilombos pelo Brasil setecentista, em lugares onde era
necessário manter estratégias de comunicação e de alianças
com grupos nativos.
A historiografia sobre as elites europeias e o campo de
análise para documentos históricos produzidos por indí-
genas, mestiços e africanos, quando da transformação da
paisagem dos seus territórios, vem a ser um desafio. Fron-
teiras, aldeias indígenas, missões religiosas, mocambos,
plantações, colonos, guerras, escravidão, muitos foram os
elementos responsáveis por esta transformação nos anti-
gos territórios dos nativos cariri, potiguar, tabajara, caetés
entre outros indígenas do Nordeste do Brasil. Mas, temos
também que incluir os territórios quilombolas dos palma-
rinos e outros, com minas, guinés, entre outros africanos
que neles conviveram. Portanto, afro-indígenas extrapola-
ram os domínios coloniais criando e participando em mer-
cados informais, por exemplo, de alimentos, cerâmicas e
outros utensílios.
Por outro lado, ações diferentes ocorriam em espaços tra-
balhados por nativos e africanos no litoral do Brasil, onde
se vivia tempos de rotas mercantis e de produção para os
mercados internos e externos. No Brasil do século XVII, mais
precisamente no litoral do Nordeste, o porto do Recife fi-
gurava como o porto holandês mais importante para a saí-
da do açúcar em direção às refinarias localizadas nos Países
Os intermediários 133
134 The Intermediaries
Os intermediários 135
136 The Intermediaries
Os intermediários 137
138 The Intermediaries
Os intermediários 139
Tapuias e Taperas
tapuias and taperas 8
Bartira Ferraz Barbosa, Natalia Moragas
e José Luiz Ruiz-Peinado Alonso
A região do sertão nordestino, pouco divulgada ou visitada
por turistas brasileiros, ficou por muito tempo conhecida
como uma terra sem fronteiras e habitada por povos “vio-
lentos e selvagens” do interior do Brasil. Marcada pela quase
total ausência de chuvas e por populações indígenas das cha-
madas línguas ‘travadas’ diferentes do tupi da costa do Brasil,
a região dos sertões ficou conhecida como área de forte re-
sistência indígena quando das entradas de europeus a pro-
cura por terras férteis, ouro e recursos de água. As primeiras
notícias que temos sobre os rios que cortam os sertões foram
dadas quando da viagem de Américo Vespúcio, em 1501, ao
famoso estuário do grande rio São Francisco (Amado e Figue-
redo 2001). As riquezas desta vasta região dos sertões atraía a
atenção dos viajantes e colonizadores, sempre a procura de
oportunidade para enriquecer.
Em 1548, com a preocupação da colonização e da explo-
ração do vale do rio São Francisco, D. João III recomenda a
Tomé de Souza a ação desta conquista. A penetração do vale
coube ao patrocínio das capitanias de Pernambuco, da Bahia
e de São Vicente. Caio Prado Jr. refere-se a homens de Duarte
The first missions along the São Francisco River were Jesuit,
who established six villages known as Acará, Cana Brava, So-
robabel, Rodelas, Asuncion and Santa Maria da Boa Vista. On
the island of Acará, the Jesuits set up a mission in 1699 in the
village they called Nossa Senhora de Belém among the Proca-
zes Indians, where the Brancararus Indians also gathered. Lat-
er, the village was run by Italian Capuchin missionaries, who
continued to reducing the Procazes and Brancararus Indians
(Costa 1983: v.5: 167).
The natives of the island of Acará received the same Jesuit
missionaries who worked in Cana Brava. The Jesuits directed
the natives to work the terrain on the island as well as the land
on the left bank of the São Francisco River. The campaigns of
capture and slavery against the Cana Brava Indians toward the
end of the seventeenth century (1670s) resulted in the with-
drawal of the Ignatians and the victory of the Dias d’Ávila family,
the owners of Casa da Torre, a property located 45 km from the
village of São Salvador in Bahia, where the lands of the largest
sesmaria in Brazil were begun. Later, the d’Ávila family also be-
gan to occupy territory in Pernambuco on the left bank of the
river, near the island of Acará, where they founded a farm called
Cana Brava, as recorded in the map, “Roteiro de viagem do Recife
ao Carinhanha, pelo Ipojuca de 1738”. (Inventário do Patrimônio
Cultural do Estado de Pernambuco: 147). From this farm grew
a village that, by state law, on June 13, 1902, was elevated to the
category of Village with the name of Belém and, in 1928 elevat-
ed to the level of City, with the name Belém de São Francisco.
Belém entre os índios Procazes. Nesta missão iniciada pelos
jesuítas em 1699, foram também reunidos índios Brancara-
rus. Por último, esta aldeia, foi dirigida por missionários ca-
puchinhos italianos, que continuaram aldeando índios Pro-
cazes e Brancararus (Costa 1983: v.5: 167).
Os nativos da ilha de Acará receberam os mesmos mis-
sionários jesuítas que atuaram em Cana Brava. Sob esta ação
jesuíta cabia aos nativos trabalhar a terra da ilha e terras da
margem esquerda do rio São Francisco. A guerra para captu-
ra e escravidão contra os índios da missão Cana Brava ocor-
rida durante o final da década de setenta do século XVII teve
como consequência a retirada dos inacianos e a vitória da
família Dias d’Ávila, os donos da Casa da Torre, propriedade
localizada a 45 km de vila de São Salvador na Bahia de onde
começavam as terras da maior sesmaria existente no Brasil
que se conhecia. Posteriormente, esta família passou tam-
bém a ocupar terras pernambucanas na margem esquerda
do rio, próximo à ilha de Acará, onde fundaram uma fazen-
da denominada por Cana Brava, como aparece registrada no
mapa “Roteiro de viagem do Recife ao Carinhanha, pelo Ipojuca de
1738” (Inventário do Patrimônio Cultural do Estado de Per-
nambuco: 147). Desta fazenda surgiu um povoado que por lei
estadual, em 13 de junho de 1902, foi elevado à categoria de
Vila com o nome de Belém e no ano de 1928 passou à Cidade
e ficou chamada Belém de São Francisco.
Outra missão jesuíta foi erguida na Ilha de Sorobabel e a
mesma encontramos em ruínas em visita realizada no ano de
NOTAS 175
176 NOTES
NOTAS 177
178 NOTES
NOTAS 179
180 NOTES
NOTAS 181
182 NOTES
8 The date that confirms the completion of the prints, marked
1646 in the text of the map, suggests that Frans Post worked
on the compositions of the vignettes at the same time (or
shortly thereafter) he executed the drawings, dated 1645,
which served as the basis for the engravings that illustrate
the issue of Rerum per octennium in Brasilia, by Gaspar Barlae-
us in 1647. In fact, Frans Post must have benefited from the
intense activity of cartographic sponsored by WIC, return-
ing to Recife, and to the palaces of João Maurício.
9 The term Tapuia referred to Native Brazilians who did not
belong to social and cultural groups that spoke dialects of
Tupi, spoken by most coastal inhabitants at the time of ex-
ploration and colonization. Although the historical reality
was much more complex, this dichotomy is maintained in
this text as it is fundamental to an adequate understanding
of the colonial mindset.
10 Verdadeira história e descrição de uma paisagem de selvagens, nus
e ferozes comedores de gente no Novo Mundo da América (The
true history and description of a land of savages, naked and fierce
eaters of human flesh in the New World of America) (Warhaftige
Historia und beschreibung eyner landtschafft der Wilnen
Nacketen Grimmigen Menschfresser Leuthen in der Ne-
wenwelt America [1557] (Staden, 1983).
Fontes Primárias
Referências Cartográficas
Primary Sources
Cartographic References
Formato 15,5 x 22 cm
Tipografia FF Seria Sans e Serif e Antiquarian Scribe
Papel Offset 75 g/m² (miolo)
Triplex 250 g/m² (capa)
Tiragem 200 exemplares
Impressão e acabamento Oficina Gráfica | EdUFPE