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Centro Federal de Educação

Tecnológica de Santa Catarina


Gerência Educacional de Eletrônica

FILME RADIOGRÁFICO
e PROCESSAMENTO
CURSO TÉCNICO DE RADIOLOGIA

Prof. Flávio Augusto Soares, M.Eng.


Prof. Henrique Batista Lopes, M.Eng.

Edição 2001
Revisada e Atualizada
SINE /SC – SISTEMA NACIONAL DE EMPREGO
CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE SANTA CATARINA
FUNDAÇÃO DO ENSINO TÉCNICO DE SANTA CATARINA
DIRETORIA DE RELAÇÕES EMPRESARIAIS
NÚCLEO DE TECNOLOGIA CLÍNICA

INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS

HOSPITAL DONA HELENA - JOINVILLE


UNIDADE DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE DE JOINVILLE
HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO – TUBARÃO
SES - CEDRHUS - ESCOLA DE FORMAÇÃO EM SAÚDE - SÃO JOSÉ
HOSPITAL REGIONAL DE CHAPECÓ
o
6 CARH - CENTRO ADMINISTRATIVO REGIONAL HOSPITALAR

Impresso na Gráfica do CEFET/SC Direitos Reservados


ÍNDICE

1. FILME RADIOGRÁFICO 5
1.1 HISTÓRICO 5
1.1.1. Placa fotográfica 5
1.1.2. Filme radiográfico 2
1.2 ESTRUTURA DO FILME 4
1.2.1. Base 4
1.2.2. Substrato 4
1.2.3. Gelatina 4
1.2.4. Elemento sensível à radiação 5
1.2.5. Capa protetora 5
1.2.6. Corante anti-halo 6
1.3 PROCESSO DE SENSIBILIZAÇÃO 6
1.4 IMAGEM LATENTE 7
1.5 TAMANHOS DE FILME 7
1.6 EXERCÍCOS 7

2. TELAS INTENSIFICADORAS 9
2.1 INTRODUÇÃO 9
2.2 CHASSI 9
2.3 ESTRUTURA FÍSICA 10
2.4 PROCESSO DE INTENSIFICAÇÃO 11
2.5 CARACTERÍSTICAS DO FÓSFORO 11
2.5.1. Ècrans de luz verde 12
2.6 FATORES DE DESEMPENHO 12
2.6.1. Absorção da radiação 12
2.6.2. Tamanho das partículas de fósforo 12
2.6.3. Camadas absorventes ou refletoras de luz 12
2.6.4. Pigmentos corantes na camada de fósforo 12
2.7 EXERCÍCIOS 12

3. CARACTERÍSTICAS DO FILME 15
3.1 INTRODUÇÃO 15
3.2 EXPOSIÇÃO 15
3.3 DENSIDADE FOTOGRÁFICA 15
3.3.1. Sensibilidade do filme radiográfico 16
3.4 MEDIÇÃO DO CONTRASTE 17
3.5 CONTRASTE RADIOGRÁFICO 17
3.6 FATORES INFLUENTES NO CONTRASTE 18
3.6.1. Tipo de filme 18
3.6.2. Condições de revelação 18
3.6.3. Densidade fotográfica 18
3.6.4. Véu 18
3.6.5. Tipo de exposição 18
3.6.6. Técnica 18
3.7 LATITUDE 18
3.8 EXERCÍCIOS 19

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iv Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

4. CÂMARA ESCURA 21
4.1 INTRODUÇÃO 21
4.2 OPERAÇÕES REALIZADAS 21
4.3 ORGANIZAÇÃO 21
4.4 EXERCÍCIOS 22

5. PROCESSAMENTO DO FILME 23
5.1 PRODUTOS QUÍMICOS 23
5.1.1. Revelação 23
5.1.2. Fixação 24
5.1.3. Lavagem 24
5.1.4. Secagem 24
5.2 EXERCÍCIOS 25

6. PROCESSAMENTO MANUAL 27
6.1 INTRODUÇÃO 27
6.2 PROCESSAMENTO DOS FILMES 27
6.3 REVELAÇÃO 27
6.4 BANHO INTERRUPTOR 28
6.5 FIXAÇÃO 29
6.6 LAVAGEM 29
6.7 SECAGEM 29
6.8 TEMPERATURA X TEMPO 30
6.9 AGITAÇÃO 30
6.10 PREPARO DAS SOLUÇÕES 31
6.10.1. Revelador 31
6.10.2. Preparação da Solução Reveladora 31
6.10.3. Fixador 31
6.10.4. Preparação da Solução Fixadora 31
6.10.5. Agitação no preparo 31
6.11 REFORÇO 31
6.12 EXERCÍCIOS 32
6.13 PROCESSAMENTO PASSO A PASSO 32

7. PROCESSAMENTO AUTOMÁTICO 33
7.1 INTRODUÇÃO 33
7.1.1. Vantagens do processo automático 33
7.1.2. Cuidados com o processo automático 34
7.2 PROCESSADORA AUTOMÁTICA 34
7.2.1. Secador 35
7.3 ALIMENTAÇÃO DO FILME 36
7.4 PREPARO DE SOLUÇÕES 36
7.4.1. Preparação da Solução Reveladora 36
7.4.2. Preparação da Solução Fixadora 37
7.4.3. Agitação no preparo 37

8. BIBLIOGRAFIA 39

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1. FILME RADIOGRÁFICO

1.1 HISTÓRICO lemão de placas fotográficas. Estas placas foram fei-


tas a pedido do próprio Roentgen, que solicitou uma
quantidade maior de emulsão de brometo de prata.
Atualmente, a radiografia convencional pode Estas placas logo se tornaram populares tanto nos
ser considerada quase como um tipo de fotografia, já Estados Unidos quanto na Europa pela sua grande
que utiliza um material sensível à luz para fazer o densidade fotográfica.
registro da imagem. Assim, a radiografia e a fotogra- A primeira placa feita na América para uso
fia caminharam juntas desde o início do século 20. radiográfico foi fabricada pela cooperação de dois
Isto inclui o início de tudo, com as placas fotográfi- pesquisadores: John Carbutt e Arthur Goodspeed, em
cas úmidas que foram substituídas pelas placas secas. fevereiro de 1896. O produto era conhecido como “a
Porém, no início da utilização da radiologia placa de raios X de Roentgen” e possuía uma emul-
como meio de diagnóstico médico, o filme foi pouco são de prata mais grossa e concentrada do que os fil-
utilizado, pois não era eficiente na captura da ima- mes convencionais. Este detalhe permitia a redução
gem radiográfica. Na realidade, o que mais se prati- drástica do tempo de exposição. Uma radiografia de
cou durante os primeiros anos da radiologia médica mão passou a ser realizada em 20 minutos, contra
foi a fluoroscopia – visualização instantânea da ana- mais de uma hora com os filmes fotográficos típicos.
tomia humana. O filme radiográfico era apenas uma Passados alguns meses, inovações técnicas nos equi-
forma de preservar a imagem para que pudesse ser pamentos radiográficos, juntamente com a melhoria
avaliada mais tarde. O próprio Roentgen via nas pla- das placas radiográficas, fez com que este tempo se
cas fotográficas secas um meio interessante para o reduzisse para alguns poucos segundos. Com um
registro das imagens mais significativas geradas com tempo entre 30 e 60 segundos, algumas anatomias
a radiação X durante o exame fluoroscópico. espessas do corpo podiam ser radiografadas. Porém,
Em 1896, no entanto, as placas fotográficas as emulsões e as placas ainda eram consideradas
secas que eram fabricadas não conseguiam absorver muito “lentas” (pouca sensibilidade).
o feixe de raios X. Assim, qualquer imagem só era Segundo o fabricante John Carbutt, as carac-
obtida a partir de uma hora de exposição à radiação. terísticas que uma placa radiográfica deveria ter eram
Apesar disso, a imagem possuía pouca densidade óti- “uma sensibilidade média, um bom corpo de emul-
ca e baixo contraste. Por isso, era comum na época a são, a capacidade de absorver os raios X, contudo,
realização de uma fotografia da imagem radiográfica, dando maior detalhamento e perspectiva para os os-
já que o papel fotográfico possuía maior contraste. sos”. Uma grande quantidade de experimentos foi
Assim, a imagem ficava invertida em termos de tons realizada em cima de métodos concebíveis para o
de cinza (os ossos eram negros e as partes moles, incremento da velocidade das emulsões. As placas
brancas). secas eram imersas, antes da exposição, em soluções
Mas o que deixava dúvida entre os radiogra- de cloreto de ferro ou nitrato de urânio, porém sem
fistas da época era o real efeito dos raios X sobre a resultados efetivos nas imagens. O aquecimento das
emulsão fotográfica. Fosforescência da substância, placas ou sua imersão em soluções de sais fluores-
ação direta dos raios X sobre a prata ou uma reação centes apenas resultaram na perda de sensibilidade e
desconhecida? Durante muito tempo estas foram as produção de um véu (borramento), desqualificando
dúvidas que cercaram os cientistas da época. Alguns as placas.
chegaram a sugerir a utilização do Celulóide (marca Na Inglaterra, Alan Archibald Campbell-
registrada do composto de piroxilin com cânfora) por Swinton misturou tungstato de cálcio (CaWO3) e
possuir maior fluorescência que a placa de vidro. fluorspar em pó na emulsão de prata, porém, só obte-
ve uma imagem muito mais granulada e sem melho-
ria na velocidade da placa radiográfica. Já em 1896,
1.1.1. Placa fotográfica aqueles que se aventuravam em trabalhar com os rai-
A primeira placa, ou “chapa”, feita especial- os X possuíam uma série de placas radiográficas,
mente para o propósito radiográfico foi provavelmen- pois cada fabricante reivindicava para si a emulsão
te produzida por Carl Schleussner, um fabricante a- com melhor sensibilidade. Alguns chegavam a afir-
mar que se uma placa era pouco sensível à luz, então

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2 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

seria muito sensível à radiação, e vice-versa, mesmo nóstico do cálculo renal, afirmou:
quando a convicção na época era a de que emulsões “Eu ainda não encontrei um fabricante de placas
rápidas (sensíveis) para luz, também seriam rápidas cujos produtos não tenham qualquer defeito. Após o nega-
para os raios X. tivo ser processado, nós encontramos manchas em todo
Os tipos predominantes de emulsões reco- lugar. As pedras mais difíceis de se localizar são as meno-
mendadas e utilizadas nos primórdios da radiografia res. As grandes você as vê à distância. Pegue uma pedra
eram as ortocromáticas, úteis por causa da sua sensi- muito pequena, por exemplo, nesta radiografia. Você pode
bilidade a fluorescência verde-amarelada da tela de ver nitidamente o contorno do rim e a sombra mais escura
platino-cianureto de bário; o colódio, uma emulsão no centro, com muitas manchas mais escuras espalhadas.
úmida, que era pouco afetado pelos raios X; misturas Elas são visíveis até pelo paciente e isto não é bom. Eu
normalmente uso duas placas, uma em cima da outra, e
de emulsões gelatinosas de brometo de prata com
exponho-as ao mesmo tempo com o envelope envolta de-
pequenas quantidades de cloreto ou iodeto de prata; e las. Desta forma, embora as manchas (artefatos) ainda
emulsões puras de cloreto de prata, sem utilidade. O irão aparecer na placa, mesmo assim as manchas não
único consenso que havia na época era que a espes- estão no mesmo lugar em ambas as placas. Desse jeito,
sura da emulsão, independente da cor que era sensí- você pode superar as dificuldades dos defeitos das placas.
vel, deveria ser mais grossa que a utilizada em foto- Eu já falei com fabricantes de placas experientes sobre
grafia e conter mais prata. isto e eles reconhecem isto; eles tentam remediar o pro-
O maior problema no processamento da pla- blema, mas não conseguiram, pelos menos ainda, superá-
ca ou filme exposto era obter uma adequada densida- lo.”
de ótica. As radiografias naquele tempo eram finas e As placas fotográficas para radiologia inici-
com pouco contraste. Para superar esta dificuldade e almente eram inseridas em envelopes a prova de luz
diminuir o tempo de exposição, para tornar esta “no- e seladas. No entanto, descobriu-se que as placas se
va fotografia” de valor prático, placas e gelatinas ou deterioravam pela interação entre os químicos do pa-
filmes celulóides eram cobertos com várias emul- pel e da emulsão. Isto levou ao desenvolvimento de
sões. Esta técnica permitia aumentar o nível de deta- envelopes duplos separados, com o operador carre-
lhamento e contraste da imagem em relação ao filme gando a placa radiográfica de acordo com a necessi-
ou placa de emulsão simples. Algumas placas e fil- dade, primeiro num envelope preto e depois num en-
mes eram manufaturados com emulsão nos dois la- velope de cor laranja ou vermelha para proteção.
dos da base. Os raios passavam através da base e, no Na realidade, a qualidade diagnóstica da
caso dos filmes, afetavam a emulsão em ambos os maioria destas radiografias era simplesmente confi-
lados com a mesma intensidade de forma que a ima- nada a descrição de aparências grosseiras. A presença
gem de um lado era “reforçada” pela imagem do ou- do borramento devido a radiação secundária e a gra-
tro lado. Assim, a densidade da imagem era dobrada nulariedade da imagem quando as telas intensificado-
e melhorava o valor diagnóstico da radiografia. No ras eram utilizadas sempre desencorajaram o registro
entanto, com as placas, a absorção dos raios X pelo fotográfico das imagens radiográficas. Isto resultou
vidro produzia uma densidade menor no lado oposto na crescente aceitação da fluoroscopia e influenciou
ao tubo, se comparada com a maior densidade do la- muito no atraso da produção de materiais fotográfi-
do que recebia primeiro a radiação. cos mais sensíveis. Já em 1901, algo como 3 milhões
Apesar de todos os problemas, as placas de de placas foram utilizadas para radiografias, porém, a
vidro eram muito populares. A própria fragilidade do produção de placas especialmente manufaturadas pa-
vidro dificultava o manejo, empacotamento e trans- ra o radiodiagnóstico era limitada e cerca de 75% do
porte, além do seu peso. Uma placa de 14” x 17” volume de radiografias foram realizadas com placas
(35,56 cm x 43,18 cm) pesava quase 1 Kg. Compara- fotográficas comuns.
do com um filme atual de mesmo tamanho, cerca de
43 gramas, houve uma redução de mais de 20 vezes. 1.1.2. Filme radiográfico
O preço das placas também não era barato. Uma pla-
ca com estas dimensões custava na época US$ 1,00 Quando Roentgen escreveu seu artigo des-
(mais de US$ 100,00 nos dias de hoje), um bom ter- crevendo a descoberto dos raios X, já citou a utiliza-
no masculino custava US$ 7,00, um par de sapatos ção de placas ou filmes para o registro das imagens
saia por US$3,00 e a carne era vendida a US$ 0,33 o produzidas pela radiação. No entanto, inicialmente o
kilo. filme radiográfico foi muito pouco utilizado. Em
Os defeitos durante a manufatura das placas 1896, o “Transparent Film - New Formula” da East-
também eram um problema crítico porque afetavam man (Kodak) com base celulósica ainda era fabricado
o diagnóstico médico. Durante um encontro da Soci- e ocasionalmente utilizado na radiografia. Na Ingla-
edade Americana dos Raios Roentgen, em 1902, o terra, outro fabricante de filmes radiográficos, San-
médico Wolfram Fuchs, discursando sobre o diag- dell Plate Company desenvolveu dois filmes cuja ba-

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FILME RADIOGRÁFICO 3

se era gelatinosa, ao invés de usar celulóide. Eles e- as outras formas de registro da imagem radiográfica
ram feitos com duas camadas de emulsão, uma rápi- obsoletas da noite para o dia. Apesar disso, a intro-
da e outra de velocidade normal, que eram deposita- dução do filme não era tarefa fácil, pois havia anos
das sobre vidro e depois retiradas. Os filmes eram de preconceito a ser superado. Os radiografistas esta-
fornecidos em pacotes de envelopes escuros, difíceis vam tão acostumados as placas de vidro que levou
de processar e muito lentos (sensibilidade) se compa- tempo para convencê-los que o filme oferecia algu-
rado às placas rápidas. mas vantagens significativas. Novos chassis e outros
Nem o filme à base de gelatina quanto o de tipos de acessórios tiveram que ser inventados. A
celulóide eram aceitos por causa de suas tendências prática corrente de processamento em bandejas era
em enrolar e riscar, porém tinham a vantagem de se- um empecilho a rápida adoção dos filmes de dupla-
rem finos e poderem ser utilizados com uma ou duas face. Poucos laboratórios usavam tanques profundos
telas intensificadoras, com a conseqüente redução na para o processamento vertical de placas e estavam
exposição. Deve-se lembrar que os filmes não que- habilitados a mudar rapidamente logo que se tornasse
bravam como as placas de vidro. disponível presilhas para os filmes.
Antes da I Guerra Mundial, o vidro utilizado Em 1923, um filme radiográfico mais rápido
nas placas fotográficas era obtido da Bélgica. O ata- (sensível) foi desenvolvido. Ele permitia a redução
que alemão a marinha mercante Aliada e a invasão da radical do tempo de exposição ou a diminuição da
Bélgica logo cortaram esta fonte. A procura por vidro tensão com conseqüente desgaste menor e fissuras
para os propósitos fotográficos tornou-se um proble- nos tubos e demais acessórios. A base deste filme,
ma sério. A demanda por placas radiográficas nos como seus predecessores, era o nitrato celulósico.
hospitais do Exército tornou-se tão grande que era Contudo, o nitrato celulósico era uma base de filme
impossível atendê-los. Mesmo quando se conseguiam que sempre apresentava um grande risco de incêndio.
as placas, seu tamanho e fragilidade faziam-nas de Os próprios hospitais e laboratórios reconheciam o
difícil transporte sem quebra. Com este cenário a perigo devido aos vários incêndios causados pelo
frente, fez-se necessário obter uma solução que utili- manejo descuidado e armazenagem incorreta dos
zasse outra base para a emulsão em substituição ao filmes. Apesar de esforços intensos, a pesquisa por
vidro. um material menos inflamável foi infrutífera até
A nova base deveria suportar a película de 1906, quando foi descoberto que o acetato celulósico
emulsão sem deformar e ser flexível e transparente poderia servir como base para “filmes seguros”, es-
como o vidro. A única solução era adaptar a base de pecialmente para uso no cinema. O valor de se fabri-
nitrato celulósico utilizado na manufatura de filmes car filmes radiográficos a partir desta substância não
fotográficos. Conseqüentemente, em 1914, a empresa foi considerado seriamente naquele tempo devido ao
Kodak lançou um filme radiográfico de face simples uso universal das placas de vidro.
com uma sensibilidade maior que qualquer outro fil- A produção real da base de acetato celulósico
me ou placa radiográfica até então disponível. Entre- útil requeria muitos anos de pesquisa e desenvolvi-
tanto, este filme não era ainda o ideal, pois facilmen- mento. Problemas que tinham de ser solucionados
te enrolava-se e era difícil de ser processado em ban- incluíam a eliminação de impurezas, redução da fra-
dejas. gilidade, melhoria da claridade e aumento da resis-
O uso de equipamentos radiográficos portá- tência. Grandes passos foram dados no processo de
teis em campo durante a I Guerra Mundial demandou recuperação dos subprodutos gerados pela reação
uma grande eficiência e velocidade dos filmes radio- química de produção do acetato celulósico, o que
gráficos. Esta necessidade acelerou o trabalho de permitiu que o preço se mantivesse baixo. Além dis-
pesquisa de um filme com emulsão em ambos os la- so, a I Guerra Mundial providenciou um grande in-
dos e de base transparente que tornasse possível o centivo para a produção de acetato celulósico para
uso da técnica de duas telas intensificadoras. Final- usos além dos propósitos fotográficos. Este grande
mente, em 1918, o filme radiográfico “Dupli-Tized” consumo tornou possível o aumento acentuado do
(dupla emulsão) da Kodak estava disponível. A téc- conhecimento em relação a manufatura eficiente do
nica da tela dupla usando filmes com dupla emulsão acetato celulósico. Finalmente, um filme radiográfico
resultou um aumento enorme na velocidade e tornou em base segura de acetato celulósico foi produzido e
possível o uso do diafragma de Potter-Bucky no con- vendido pela Kodak em 1924. No entanto, por que
trole da radiação espalhada. A melhoria na qualidade este novo filme ainda tinha tendências de enrugar-se
diagnóstica das radiografias resultantes foi um fator e mofar, além do preço maior, os filmes inflamáveis
significante no crescimento da radiologia neste perí- continuaram a ser amplamente utilizados e acumu-
odo. lando-se em grandes quantidades nos hospitais e clí-
Os filmes radiográficos cobertos em ambos nicas radiológicas. Em 1929, um desastre ocorreu
os lados de uma base transparente transformou todas com o incêndio nos filmes da Clínica Cleveland onde

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4 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

matou 124 vidas. Desde então, um filme de acetato capa protetora


celulósico melhor ficou disponível e o uso da base de gelatina
nitrato foi logo descontinuado.
No inicio dos anos 30, foi introduzido o fil-
base substrato
me Diaphax, que era constituído de uma base trans-
lúcida com uma emulsão rápida que permitia a visua-
lização da radiografia frente qualquer fonte luz. Até Fig. 1.1. Estrutura do filme radiográfico de face
então, todos os filmes radiográficos eram incolores. simples.
Em 1933, a Companhia Produtora de Filmes DuPont
adicionou tinta azul a sua base, o que melhorou a 1.2.1. Base
qualidade diagnóstica de seus filmes. Esta prática,
desde então, tornou-se padrão por todos os fabrican- A base, ou suporte, é o componente que dá
tes de filmes. sustentação ao material que será sensibilizado e ar-
O primeiro filme para exposição direta de mazenará a imagem radiográfica. Possui uma espes-
raios X (sem tela intensificadora) foi vendido em sura em torno de 180 µm. Deve ter algumas caracte-
1936 pela Ansco, depois comprada pela Agfa. Ideali- rísticas físicas que se referem à resistência mecânica
zado para ser utilizado em exposições sem telas fluo- para atuar como base para a emulsão, possuir boa
rescentes, este filme tinha velocidade, contraste e de- estabilidade dimensional (baixa dilatação), além de
finição melhores que os filmes que utilizavam telas e adequada absorção de água, facilitando o processo de
foi primeiramente designado para as radiografias de revelação.
extremidades. Quatro anos mais tarde, a Kodak in- Também é importante que a base seja trans-
troduziu os filmes radiográficos Blue Brand que e- parente, pois a imagem é visualizada pela relação de
ram revestido com um novo tipo de emulsão que lhe sombras que ficam configuradas a partir da ilumina-
conferia maior velocidade e contraste e podia ser uti- ção colocada por trás do filme. Um corante é adicio-
lizado tanto para exposição direta quanto com telas. nado a base, em tom azulado, para diminuir o cansa-
Em 1960, 10 anos após sua introdução na fo- ço visual, além de melhorar a percepção dos contras-
tografia geral, o polietileno teratalato foi introduzido tes pelo olho humano.
pela DuPont como uma nova base para filmes de rai-
os X médico. Comparado com os ésteres celulósicos,
1.2.2. Substrato
este novo material possui maior rigidez, maior estabi-
lidade dimensional, baixa absorção de água e grande É o elemento de ligação entre a base e a gela-
resistência a rasgos. A rigidez do polietileno teratala- tina. Uma vez que a base é feita de poliéster ou celu-
to melhora a segurança no transporte em processado- lóide, que são elementos muito lisos e escorregadios,
ras automáticas de rolo e a baixa absorção de água a gelatina não teria como aderir a estes materiais. As-
simplifica a secagem das radiografias. Ainda na dé- sim, é colocado uma fina camada de uma substância
cada de 60, as bases de poliéster substituíram os fil- que funciona como cola entre a gelatina e a base.
mes de base celulósica para todas os exames radio-
gráficos comuns.
1.2.3. Gelatina

É um composto químico que possui a função


principal de manter os grãos de haletos de prata em
1.2 ESTRUTURA DO FILME suas posições fixas e uniformemente distribuídas.
Outra característica é a de permitir a passagem de
água e dos produtos da revelação por entre os micro-
Ao analisarmos a estrutura de um filme ra-
cristais.
diográfico, notamos que este é composto por uma
emulsão fotográfica muito fina (aproximadamente 10 capa protetora
µm) e uma base plástica transparente (poliéster ou
gelatina
acetato de celulose) que serve para dar sustentação à
emulsão. Esta emulsão está em suspensão em gelati-
na fotográfica, o que permite uma melhor distribui- base substrato
ção da mesma, não deixando que ela se deposite na
base plástica do filme. A gelatina também protege a gelatina
emulsão do contato humano enquanto a imagem não
capa protetora
é processada.
Fig. 1.2. Estrutura do filme radiográfico de face
dupla.

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FILME RADIOGRÁFICO 5

1.2.4. Elemento sensível à radiação do bromo e do iodo pela incidência do fóton, dando
início à formação da imagem.
Este é o elemento principal, pois é o que ab-
sorve a radiação e a converte em imagem, constituída
de uma gama de tons escuros e claros que contêm
informação útil para diagnóstico. Os haletos de prata
mais utilizado são os brometos. Eles são depositados
em forma de microcristais (da ordem de 1 µm de di-
âmetro) sobre a base, misturados à gelatina que os
mantém em suas posições relativas. Aos microcris-
tais de brometo de prata é adicionada uma pequena Fig. 1.4. Cristal de haleto de prata com destaque
quantidade de iodeto de prata (até 10%), o que serve para a impureza e carga superficial negativa.
para aumentar a sensibilidade em relação ao uso de
qualquer uma das duas substâncias puras. A figura Existem algumas teorias sobre como o fóton
1.3 ilustra a forma dos átomos dentro dos microcris- é capturado e como a informação da radiação é trans-
tais. formada em imagem. A teoria de Gurney-Mott se
baseia na retirada dos elétrons da estrutura atômica
dos cristais pelos fótons incidentes e conseqüente
absorção desses elétrons pelos íons livres de prata no
cristal. Esta teoria será melhor descrita no próximo
ítem.

Iodo Prata Bromo


Fig. 1.3. Estrutura do cristal de haleto de prata.

Os átomos de prata, bromo e iodo formam


uma molécula a partir de ligações atômicas entre si.
A prata possui um elétron na sua última camada (O).
O bromo e o iodo possuem 7 elétrons nas suas últi-
mas camadas (N e O, respectivamente). Porém, os
átomos são mais estáveis se possuírem 8 elétrons na
última camada. Então, a prata cede seu elétron para o
bromo ou o iodo, que se completam. Assim surgem,
na molécula do haleto, íons positivos (Ag+) e íons
negativos (Br- ou I-). Como a estrutura cristalina dos Fig. 1.5. Detalhe dos grãos de prata presentes no
haletos não é rígida, estes íons negativos têm uma filme radiográfico: a) processo antigo - grãos
tendência a se localizarem na periferia da molécula, menores, assimétricos e mal distribuídos; b)
forçando os íons de prata a se deslocarem para o cen- processo moderno - grãos maiores, mais simé-
tro. Por causa disto, a superfície dos microcristais tricos e uniformemente espalhados.
torna-se ligeiramente negativa.
Para que os fótons possam ser realmente cap- 1.2.5. Capa protetora
turados pelos haletos de prata, é misturada uma im-
pureza durante a confecção dos microcristais. Esta Trata-se de uma película que cobre a gelatina
impureza tem por função atrair os elétrons liberados a fim de protegê-la contra a abrasão ou o atrito cau-

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6 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

sado pela manipulação do técnico ou quando em con- livre, poderá circular pelas moléculas dos haletos e,
tato com os rolos da processadora automática, além então se ligar a qualquer outro átomo. Porém, a in-
de evitar o grudamento entre as folhas dentro da cai- clusão da impureza tem justamente o objetivo de a-
xa de filmes. trair este elétron livre. Em sua trajetória, o elétron
livre poderá colidir com outros átomos e criar outros
1.2.6. Corante anti-halo elétrons livres. Ao chegarem próximos da impureza,
os elétrons livres acabam criando uma região negati-
Nos filmes de dupla camada de emulsão, é va dentro do microcristal. O bromo ou iodo, que ce-
utilizado um corante especial na base do filme para deu seu elétron extra, volta a ser um átomo neutro.
evitar o efeito halo. O efeito halo ocorre quando um Como a ligação iônica que existia entre a prata e o
fóton de luz além de interagir com os haletos de prata bromo, ou iodo, deixou de existir, este átomo, Br ou
na camada anterior do filme, também interage com a I, está livre para deixar a estrutura do haleto de prata
camada posterior. Ou seja, há uma duplicação da i- e se misturar com a gelatina.
magem. Com o corante misturado a base, após o fó-
ton de luz interagir, ou não com uma camada de e- fóton
mulsão do filme, este não atingirá a camada oposta,
pois o corante irá absorvê-lo.

fóton -
Br
tela
emulsão
(a) (b)
base fóton
celulósica
0
emulsão Br
tela
0
I
(a) (b)
+ +
Ag Ag
Figura 1.6. O corante anti-halo (b) evita que um
mesmo fóton interaja nas duas camadas de e-
(c) (d)
mulsão do filme (a).

1.3 PROCESSO DE SENSIBILIZAÇÃO

Como referido antes, o filme radiográfico


possui microcristais que são sensíveis à radiação X e (e) (f)
principalmente à luz produzida pelo ècran. Os micro- Fig. 1.7. Seqüência de interação do fóton com o
cristais desse elemento, colocados sobre a base do microcristal de haleto de prata: a) fóton atinge o
filme com ajuda da gelatina, irão reagir à passagem microcristal; b) o elétron extra do haleto – Br ou I
da luz e transformar a imagem aérea, definida anteri- – é liberado; c) os haletos saem do microcristal
ormente, em uma imagem gravada puntualmente em enquanto os elétrons livres se dirigem para a im-
cada um dos próprios cristais. pureza; d) os elétrons criam uma região negativa
Este processo de sensibilização começa que atrai os íons positivos de prata; e) os íons
+
quando um fóton de luz oriundo da tela intensificado- Ag incorporam os elétrons livres e se tornam em
ra interage com a gelatina e com os microcristais. Se prata metálica; f) maior concentração de prata
o fóton de luz perder totalmente sua energia, então metálica, maior degradação do microcristal.
ocorrerá uma interação fotoelétrica. Se apenas parte
da energia do fóton for transferida para os átomos do Com a formação de uma região eletricamente
filme, então ocorrerá uma interação por efeito Comp- negativa, os íons de prata, Ag+, que estão livres pois
ton. Tanto na interação fotoelétrica quanto no efeito perderam a ligação iônica com os íons de Br e I, são
Compton, um elétron do átomo atingido é liberado, e atraídos para esta região. Ao chegarem nesta região,
com muita energia. Geralmente, o átomo de bromo os íons Ag+ se juntam com os elétrons livres e voltam
ou iodo, por possuírem um elétron a mais, são os que a ser prata neutra (Ag0), ou prata metálica. Assim, há
mais facilmente liberam elétrons. Este elétron, agora uma degradação do microcristal pela dissociação dos

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FILME RADIOGRÁFICO 7

haletos de prata. Esta degradação é tão maior quanto


forem os elétrons livres que o microcristal conseguir
liberar, fruto dos fótons que interagiram. A intensi-
dade da degradação, maior ou menor, é que cria os
diferentes níveis de cinza da imagem, além de facili-
tar o processo de revelação.

1.4 IMAGEM LATENTE


Figura 1.8 Série de filmes azuis. (Fuji Film - divulgação)

Quando o feixe de radiação emerge do paci- Os filmes são vendidos em caixas de papelão
ente e interage com os elementos sensíveis presentes com 100 folhas. O custa varia de US$ 30,00 para os
no filme ocorre um fenômeno físico que faz com que filmes de menor tamanho, até US$ 250,00 para os
a estrutura física dos microcristais de haletos de prata maiores. No entanto, por dificuldade de manipulação
seja modificada, formando o que se conhece como durante a fabricação (realizada totalmente no escuro),
IMAGEM LATENTE. A visualização somente será pos- o fabricante pesa a caixa para ter certeza de que ela
sível pelo processo de revelação, que fará com que contém o número certo de folhas. Por isso, é comum
aqueles microcristais que foram sensibilizados so- entre os fabricantes, já que todos os filmes são iguais,
fram uma redução de maneira a se transformarem em independente do tamanho, se referir ao custo de fa-
prata metálica enegrecida. É importante lembrar que bricação por peso de filme radiográfico, ou por valor
a imagem já está formada, porém não pode ser visua- de área, ao invés do valor unitário por folha ou por
lizada, por isso deve-se ter cuidado na sua manipula- caixa.
ção.
Apenas quando a prata for enegrecida, sus-
pensa na gelatina, é que se terá a imagem visível na
radiografia e que se supõe conter as informações a- 1.6 EXERCÍCOS
cerca das estruturas irradiadas.

1. Quais são os átomos que compõem os


microcristais da emulsão fotográfica?
1.5 TAMANHOS DE FILME
2. O que é imagem latente?
3. Por que até hoje os técnicos falam em
Por uma questão de facilidade de manuseio e “bater uma chapa”?
confecção de telas intensificadoras, chassis, porta-
chassi, etc, o tamanho dos filmes radiográficos foi 4. Quais são as partes que compõem a estru-
padronizado. Atualmente, existem 10 tamanhos dis- tura de um filme radiográfico?
tintos de filmes, a saber: 5. Utilizando a figura 2.7, descreva sucinta-
13 cm x 18 cm (42,7 filmes/m2); (US$ 15) mente o processo de sensibilização da emulsão de um
15 cm x 30 cm (22,2 filmes/m2); filme radiográfico.
15 cm x 40 cm (16,6 filmes/m2);
18 cm x 24 cm (23,1 filmes/m2); (US$ 40) 6. Por que a base do filme deve absorver a
20 cm x 25 cm (20,0 filmes/m2); luz do ècran?
24 cm x 30 cm (13,9 filmes/m2); 7. Tendo por base a área de cada folha de
25 cm x 30 cm (13,3 filmes/m2); filme, quais são os dois tamanhos mais baratos e os
30 cm x 40 cm ( 8,3 filmes/m2); dois mais caros?
35 cm x 35 cm ( 8,1 filmes/m2); (US$ 80)
35 cm x 43 cm ( 6,6 filmes/m2); (US$ 100)

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8 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

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2. TELAS INTENSIFICADORAS

2.1 INTRODUÇÃO A vantagem do uso dos ècrans é evidente pe-


la grande redução da dose no paciente, a diminuição
da desfocagem por movimento, quando em exposi-
As telas intensificadoras, os chamados ções muito longas e o aumento da vida útil do tubo,
ècrans reforçadores, são acessórios usados em con- por causa da aplicação de cargas menores à ampola.
junto com os filmes radiográficos como um artifício
para a melhoria do nível de sensibilização do filme,
já que as películas usadas para registro de imagens
radiográficas são muito pouco sensíveis aos raios X. 2.2 CHASSI
Quando consideramos a intensidade da radiação que
emerge do paciente e atinge o filme, somente um pe-
queno percentual é absorvido por este e convertido O chassi é o invólucro que irá proteger o fil-
em imagem (aproximadamente 5%). Os restantes me radiográfico da ação da luz. Como o filme é sen-
95% da sensibilização do filme são devidos ao uso de sível a luminosidade, o chassi deve ser carregado, ou
telas intensificadoras, que “reforçam” a sensibiliza- seja, receber o filme radiográfico dentro da câmara
ção do filme, aumentando a quantidade de luz que o escura e fechado sob luz de segurança. Depois, o
atinge. chassi é inserido sob a anatomia do paciente, no caso
Inicialmente, foram associadas ao filme e- de exames realizados em leito, por exemplo, ou no
mulsões fotossensíveis que melhoraram o poder de porta-chassi, se for usada a mesa de exames ou o
absorção da radiação. A evolução da tecnologia asso- Bucky mural.
ciada à produção de imagens radiográficas levou ao Após a realização da exposição, o chassi de-
desenvolvimento das telas intensificadoras que au- ve ser novamente levado a câmara escura para ser
mentaram consideravelmente o rendimento do pro- retirado o filme radiográfico, que deverá ser imedia-
cesso de sensibilização do filme (de 10 a 100 vezes) tamente identificado e colocado na processadora para
ao mesmo tempo em que permitiram uma diminuição não sofrer ação da luz de segurança.
considerável nas doses aplicadas a pacientes durante
os exames radiológicos.
Sabe-se que os raios X têm a capacidade de
fazer fluorescer certas substâncias (fósforos) que ao
receberem a radiação emitem uma radiação de de-
terminada cor, dependendo do tipo de fósforo esco-
lhido e do processo de fabricação.
Antes de serem usadas as telas intensificado-
ras, o estudo das partes do corpo em movimento era
feito através da fluoroscopia, ou seja, através da ob-
servação das imagens produzidas em telas fluores-
centes, sensibilizadas pelos raios X absorvidos. Essas
telas continham uma substância, sulfato de zinco, que
produziam uma coloração amarelo-esverdeada. Mais
tarde foram desenvolvidos as telas compostas de
tungstato de cálcio, que emite luz na região do azul e
ultravioleta (região de alta sensibilidade em alguns
filmes de raios X). Atualmente, são usados outros Figura 2.1. Chassi aberto: de pé, chassi sem é-
tipos de fósforos, de sulfato de bário e de terras raras, cran, em baixo, chassi mostrando a tela intensifi-
que emitem radiação luminosa na região verde. Os cadora dupla.
filmes para filmadoras à laser são sensíveis à luz
vermelha por isso não podem ser utilizados com telas Estruturalmente, o chassi é uma caixa feita
intensificadoras na falta de filmes verdes ou azuis. de alumínio ou resinas plásticas e possui dois lados

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10 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

distintos. A tampa ou face posterior (costas) do chas- 2.3 ESTRUTURA FÍSICA


si, com travas para manter a tampa fechada, e a frente
ou face anterior, que receberá a radiação que ultra-
passar o paciente. A tampa, à esquerda na figura 2.1, Com relação à estrutura física da tela intensi-
possui uma lâmina de chumbo de 0,25 mm, que serve ficadora, pode-se dizer que a mesma é formada por
para impedir que a radiação prossiga seu caminho uma fina camada de cristais de fósforo, aglutinados
após interagir com o chassi. Internamente, o chassi por uma substância que os mantém ligados (gelatina),
possui uma almofada no lado da tampa sobre a qual é depositada sobre uma superfície lisa e uniforme, cuja
colada a tela intensificadora. A almofada serve para base é feita de material plástico.
apertar a tela intensificadora contra o filme radiográ- A figura 2.4 mostra a estrutura de um chassi
fico. Assim, evita-se problemas de distorções na com ècran duplo, ou seja, aquele chassi que possui
formação da imagem no filme pela presença de bo- telas em ambos os lados, de forma que o filme per-
lhas de ar. maneça entre as duas telas, fechado como um
“sanduíche”. Esta estrutura permite um reforço de luz
com a finalidade de sensibilizar o filme com melhor
rendimento e menor dose. A figura mostra um corte
transversal do chassi e do ècran, o que permite a vi-
sualização de suas camadas, bem como sua posição
em relação ao chassi.

Figura 2.2. Parte posterior do chassi, destacando


as travas: a da esquerda está fechada; a da direi-
ta, aberta. A seta indica a direção para travá-la. Fig. 2.4. Corte mostrando a estrutura do chassi,
ècran e filme.
Os chassis também são fabricados em 10 ta-
manhos diferentes, para poder acomodar os diferen- Numa seqüência de cima para baixo, po-
tes tamanhos de filmes. Nunca se deve utilizar um demos visualizar:
chassi maior que o tamanho do filme. O filme poderá • a parte anterior do chassi, feita de material radio-
se movimentar dentro do chassi, ficando inclinado, transparente;
além de ocasionar o corte da imagem anatômica, pois • a estrutura acolchoada, que facilita a compressão
o posicionamento do paciente se baseia na medida do filme sobre o ècran, eliminando dessa forma a
externa do chassi. possibilidade de formação de bolhas de ar quan-
do do fechamento do chassi;
• parte superior do ècran, chamada de base, onde
está depositada a camada de fósforo;
• camada de fósforo, onde se podem identificar os
cristais de fósforo, elementos que absorvem a ra-
diação e emitem luz visível;
• a parte superior da camada de fósforo é revestida
de um material reflexivo para fazer retornar ao
filme aquela radiação luminosa que tende a sair
pela parte superior do ècran;
• filme com duplo revestimento;
• ècran inferior, que possui a mesma estrutura do
superior;
• acolchoamento posterior (opcional);
Figura 2.3. Três chassis de tamanhos diferentes:
13 x 18 cm, 15 x 40 cm e 35 x 35 cm.

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TELAS INTENSIFICADORAS 11

• lâmina de chumbo, para absorção de radiação à maior capacidade de absorção da luz visível, po-
que passa pela estrutura chassis-ècran-filme e demos concluir que, para produzir o mesmo grau de
que não deve prosseguir. enegrecimento do filme em dispositivos com e sem
ècran, seria necessário um aumento substancial na
dose de radiação no paciente (quando não se usa
ècran), coisa que deve ser evitada ao máximo. Uma
2.4 PROCESSO DE INTENSIFICAÇÃO maneira de medirmos a relação entre exposições com
e sem ècran é calcularmos o quociente entre a expo-
sição sem ècran (EXPs) pela exposição com ècran
O processo de intensificação, ou seja, a con- (EXPc), que fornece o chamado fator de intensifica-
versão da radiação X em luz visível, ocorre quando ção (f), que depende do ècran e do tipo de filme utili-
um cristal de fósforo, ao absorver um fóton de radia- zado, além da técnica e tensão aplicadas.
ção, emite um feixe de luz. O brilho emitido pelo
cristal é proporcional à energia do fóton incidente.
Quando um feixe de radiação interage com o
fósforo do ècran, a superfície do mesmo mostra in- 2.5 CARACTERÍSTICAS DO FÓSFORO
tensidades luminosas diferenciadas de acordo com a
energia dos fótons que irão sensibilizar mais ou me-
nos o filme, correspondendo à sombra do objeto irra- Quando o fósforo utilizado em ècrans recebe
diado. Isto se dá porque os fótons gerados pela radia- a radiação X, ele a absorve e emite uma radiação lu-
ção visível são mais facilmente absorvidos pelo filme minosa, de características tais que pode ser percebida
dos que os fótons de alta energia da radiação X. pelo olho humano, ou seja, está na faixa visível do
espectro.
fóton fóton Para que um determinado fósforo possa ser
usado em ècrans, ele deve possuir algumas
tela características definidas que o tornem útil na
sensibilização do filme. Abaixo, estão listadas
++
emulsão
algumas dessas características:
base + a) alta capacidade de absorção de raios X, o
celulósica
que permite que o rendimento da produção luminosa
(a) (b) seja alto, proporcional à absorção dos raios pelo ma-
terial
elétron b) espectro de emissão adequado, signifi-
cando que a luz emitida pelo fósforo esteja dentro da
região sensível do filme
++ ++ c) Resistência às condições ambientais, pois
+ +
o fósforo deve suportar condições de calor e umida-
de, sem alterar suas características.
(c) (d) d) Pouca luminescência residual ou demora
de resposta; este fator afeta a resposta do ècran à ab-
luz sorção dos raios X e sua conseqüente emissão lumi-
nosa, principalmente em exames com pequenos tem-
++ pos de exposição.
+
Os ècrans de terras raras, feitos de oxisulfuro
(e) (f) de gadolínio, possuem um desempenho de forma a
absorver 50% mais fótons de raios X do que o feito
Figura 2.5. Processo de reconversão da freqüên- de tungstato (CaWO3) de cálcio de mesma espessu-
cia: a) o fóton incide no ècran; b) o fóton interage ra, produzindo 5 vezes mais quantidade de luz para
com o elétron da última camada do fósforo; c) cada fóton absorvido. Dessa forma, pode-se alterar o
com a energia recebida, o elétron escapa do á- regime de exposição (técnica) de maneira a diminuir
tomo; d) em seguida, o elétron é capturado por
outro átomo; e) ao voltar para sua órbita, o elé-
a dose sobre o paciente, porque o ècran permite um
tron libera a energia extra na forma de luz visível; rendimento maior no processo de sensibilização do
f) a luz emitida interage com a emulsão do filme. filme.

Quando consideramos os aspectos referentes

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12 Parte 4 – FILME RADIOGRÁFICO E PROCESSAMENTO

2.5.1. Ècrans de luz verde ècrans são assimétricos, para que seja compensada a
absorção de energia do feixe pelos ècrans superior e
• São fabricados com elementos do grupo das ter- inferior. Quando os ècrans são projetados para terem
ras raras, sendo que alguns emitem luz na faixa uma alta absorção de radiação torna-se necessária
do verde; esta assimetria, para tornar mais efetivo o rendimento
• Devem ser usados associados a filmes ortocro- do acessório.
máticos (sensíveis ao verde, azul ou ultravioleta);
• Para esses ècrans necessita-se da seleção de fil-
2.6.2. Tamanho das partículas de fósforo
tros de segurança adequados.
Um cristal de fósforo maior tem mais capa-
cidade de absorver radiação do feixe incidente. Cris-
tais menores tendem a produzir fluorescência que
2.6 FATORES DE DESEMPENHO será absorvida pelo próprio material, devido à disper-
são luminosa.

Existem alguns fatores que afetam bastante a


resposta do ècran, com relação à sensibilização do 2.6.3. Camadas absorventes ou refletoras
filme e que podem vir a prejudicar substancialmente de luz
a imagem obtida. Estes fatores estão listados a se-
São colocadas entre a camada de fósforo e o
guir: suporte para forçar o retorno da luz que tende a esca-
par do filme (refletoras) ou para absorver a radiação
2.6.1. Absorção da radiação que escapa pela parte superior do ècran.

• Tipo de fósforo: O tipo de fósforo usado fóton


refletor
influi diretamente na absorção, pois dependendo da
tela
estrutura atômica do elemento, este será mais ou me-
emulsão
nos capaz de absorver a radiação e devolvê-la em
base
forma de luz visível. Quanto maior a absorção, maior celulósica
a produção de luz para atuar sobre o filme, e menor a
dose no paciente. Figura 2.6. Com a película refletora, o fóton de
• Espessura da camada: De acordo com o luz que se dirigisse para o lado oposto do filme
seria redirecionado para a emulsão.
visto acima, se a camada de fósforo é bastante espes-
sa, maior será sua capacidade de absorção, porém
esta espessura tem um limite, que está vinculado com 2.6.4. Pigmentos corantes na camada de
o borramento da imagem pelo excesso de luz e tam- fósforo
bém porque a quantidade de luz gerada na camada
inferior do fósforo passa a ser absorvida pelo próprio Alguns ècrans possuem, associados aos cris-
material antes de chegar ao filme. tais de fósforo, determinados pigmentos corantes pa-
• Qualidade do feixe: A partir do momento ra evitar a dispersão lateral da luz através do ècran,
que os fótons possuem diferentes energias, a intera- mas isto também diminui a intensidade luminosa
ção da radiação com o material que compõe o ècran produzida pelo dispositivo. Dependendo do tipo, os
(fósforo) irá determinar o grau de absorção do mes- corantes conferem ao ècran as cores cinza, rosa ou
mo. Dependendo da exposição a que se submete o amarela.
ècran (tensão, filtração, uso de grade, dispersão do
feixe pela mesa e pelo chassis, parte do corpo exami-
nada, etc.), teremos uma resposta diferenciada por
parte do mesmo. 2.7 EXERCÍCIOS
• Ècrans simples ou duplo: Quando se usa
ècrans duplos, a quantidade absorção e, por conse-
qüência, da luz emitida, aumenta. Esta estrutura é a 1. Por que se utilizam as telas intensificado-
mais usada em radiografia convencional, Os ècrans ras?
simples são habitualmente usados em combinação 2. Qual a função do chassi?
com filmes de revestimento simples (emulsão somen-
te de um lado), em exames de mamografia ou de ex- 3. Por que o chassi possui lâmina de chumbo
apenas num dos lados?
tremidades, onde se deseja reduzir o borramento da
imagem ao máximo. Existem pares de ècrans onde os 4. Qual o fenômeno físico que ocorre com as

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TELAS INTENSIFICADORAS 13

telas intensificadoras na emissão de luz?


5. Para que serve a película refletora?
6. Quais são as características que o técnico
deve especificar na hora de comprar um ècran?

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