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Materiais Elet Mag V4 - Prof Flavio
Materiais Elet Mag V4 - Prof Flavio
INTRODUÇÃO
2012
1
INTRODUÇÃO
O campo de estudos da ciência dos materiais tem como núcleo central a física, a química e a
matemática. A ciência dos materiais se estrutura em torno desse núcleo implicando alguns campos de
especialização tais como: geociência, biociência, metalurgia, cerâmicas, semicondutores dentre outras.
Numa circunferência mais ampla, está a aplicação tecnológica que inclui áreas da medicina, farmácia,
agricultura e as engenharias. Cada modalidade de engenharia, em seu campo específico, aborda alguns
aspectos desse conhecimento. Cabe ao engenheiro adquirir competências para realizar sua atividade
em interação com outras áreas, mesmo que ele não tenha conhecimento especializado em
determinados tipos de conteúdos no campo específico de materiais. Mas é importante que alguns
fundamentos nessa área sejam conhecidos.
Um problema que deve ser cada vez mais levado em conta é a questão ecológica. Uma vez que
os materiais produzidos pela indústria e, cada vez mais consumidos pela sociedade, são obtidos da
natureza, constata-se que esta fonte está atingindo o limite de sua capacidade. Além disso e o que é
mais grave, é o retorno desses produtos para o meio ambiente na forma de lixo. Essa prática precisa
2
ser revista. É urgente que sejam desenvolvidas tecnologias de reaproveitamento e reciclagem desses
produtos em nível econômico para reutilização desses materiais, nos diversos campos. Essa é uma
tarefa da engenharia de materiais e que deve atuar em consonância com uma política de Estado nessa
área.
O estudo dos materiais apresentado nesse texto foi organizado para fornecer um conteúdo
técnico dos materiais usados na área eletroeletrônica com ênfase nos fundamentos da ciência dos
materiais. Trata-se, de um modo geral, do estudo da física dos materiais, com foco nas aplicações no
campo da engenharia. Busca-se, dessa forma, destacar as principais aplicações dos materiais na área de
eletroeletrônica. Deve-se, o quanto antes, destacar que a área de materiais é uma das mais pesquisadas
na atualidade, o que implica sempre em inovação tecnológica. O texto está estruturado considerando
os seguintes pontos: fornecer os conceitos básicos da física dos materiais, apresentar e compreender as
grandezas físicas relacionadas aos materiais e destacar algumas aplicações no campo da engenharia.
Ao final de cada capítulo algumas questões são colocadas para uma melhor compreensão do estudo e
solução de problemas. São indicados ainda alguns temas relacionados ao estudo realizado no capítulo
para que o estudante desenvolva pesquisa em determinados assuntos que possam complementar sua
formação.
O texto que constitui esse material é apresentado em cinco capítulos. No primeiro capítulo
estuda-se a estrutura dos materiais, com foco inicial no modelo atômico passando para a organização
estrutural da matéria e destacando-se algumas propriedades dos materiais usados na área
eletroeletrônica. O entendimento dos conceitos tratados no primeiro capítulo é fundamental para a
compreensão dos capítulos posteriores. Nos capítulos 2, 3 e 4 o estudo considera o comportamento dos
materiais sob campo elétrico. Cada um desses capítulos aborda uma categoria específica de matérias:
condutores, semicondutores e dielétricos. Nesses últimos encontram-se os isolantes. O capítulo cinco
trata do comportamento dos materiais sob campo magnético. O estudo desse material deve ser
precedido por uma base matemática inicial própria dos cursos de engenharia, pelo estudo da física em
especial eletricidade e magnetismo e pelos conceitos da química inorgânica. Na estrutura de um curso
de engenharia no campo da eletroeletrônica, esse estudo fornece uma base conceitual para os
conteúdos de eletrotécnica, eletrônica e máquinas elétricas.
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1
ESTRUTURA DOS MATERIAIS
Neste capítulo abordamos o estudo da estrutura dos materiais destacando os seguintes pontos:
modelo atômico, níveis de energia atômico, bandas de energia nos sólidos, ligações atômicas, estrutura
cristalina e amorfa. Apresentamos dois modelos atômicos – Rutherford e Bohr – desenvolvidos no
início do século XX e que serviram de base para a evolução dos estudos posteriores no campo da física
dos materiais e das pesquisas tecnológicas aplicadas. Evidencia-se o contraste entre a física clássica e
a física quântica enquanto modelos para explicação de fenômenos observados no comportamento dos
materiais. Ao considerar o modelo de bandas de energia, visamos introduzir a classificação dos
materiais em condutores, semicondutores e isolantes, que constitui o foco dos capítulos posteriores. O
estudo das estruturas cristalinas visa conhecer a aplicação de algumas propriedades importantes dos
materiais usados na engenharia. Para o estudo da física dos materiais é fundamental esta introdução na
estrutura da matéria e nos modelos apresentados.
Aspectos teóricos e fundamentos conceituais que deverão ser compreendidos:
- os modelos atômicos e a transição do modelo clássico para o modelo quântico;
- bandas de energia e a classificação dos materiais em condutores, semicondutores e isolantes;
- a estrutura cristalina e amorfa dos materiais e suas propriedades principais.
1 Materiais e a física
Antes de tratarmos dos tópicos específicos relacionados à estrutura da matéria, alguns dados
devem ser destacados para início desse estudo, em caráter de revisão de conceitos da física, conforme
segue. Os átomos são constituídos de nêutrons (no) e prótons (p+) no núcleo central com elétrons (e-)
girando em órbita. Um átomo com 1 p+ e 1 e- apresenta um raio de 10-10 m, enquanto que o raio do e-
é da ordem de 10-15 m. O e- gira em torno do núcleo atômico cerca de 10 trilhões de voltas por
segundo. Quando analisamos a matéria no nível atômico, parece existir um imenso ‘vazio’, uma vez
que as dimensões das partículas são extremamente pequenas e suas distâncias muito grandes se
comparadas com essas dimensões. Observe os dados acima. Por outro lado, os valores atribuídos às
massas das partículas são também intrigantes. A massa do próton (ou do nêutron) é 1,66x10-24 g e
constitui uma unidade de massa atômica (uma). Se fizermos 1/(1 uma) obtemos o 6,02x1023 que
representa o número de prótons (ou nêutrons) necessários para obter 1 grama. Esse é o número de
Avogadro. O número de prótons no núcleo atômico define o número atômico de um elemento que
obtemos facilmente ao consultarmos uma Tabela Periódica de elementos químicos. Assim, um átomo
de carbono tem 6 prótons, de silício 14, de ferro 26. A quantidade de nêutrons não afeta a identidade
química. Estaremos utilizando ainda alguns conceitos físicos durante esse estudo, tais como ‘corrente
elétrica’ e ‘eletron-volt’(eV). Apenas a título de revisão, uma corrente de 1A equivale a 1C/s ou a
6,25x1018 elétrons fluindo por segundo. Observe que a carga do elétron é 1,6x10-19C. Um eV
corresponde à energia adquirida por um elétron em um potencial de 1 volt, ou seja, 1eV = 1,6x10-19J.
No estudo que vamos iniciar serão apresentados dois modelos atômicos: Rutherford e Bohr.
Visamos, além de apresentar a descrição desses modelos, principalmente, descrever a evolução do
modelo de átomo desenvolvido no paradigma da física clássica para o modelo desenvolvido na física
quântica. Vale lembrar que a idéia de átomo como partícula elementar da matéria foi proposta na
Grécia Antiga por Demócrito. Certamente que esse conceito no contexto grego era bastante diferente
do que foi desenvolvido na modernidade. O átomo teria sido uma proposição de que haveria uma base
elementar da matéria que era indivisível (a-tomo). Esse conceito permaneceu apenas no nível
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qualitativo, ao considerar a idéia de existir uma partícula elementar que pudesse ser o fundamento do
mundo material. No entanto, uma vez aprofundado os estudo da estrutura da matéria, o átomo
moderno, como sabemos, tornou-se constituído de partículas ainda menores, os elétrons, os prótons e
os neutrons. Ainda assim os prótons e nêutrons são constituídos por quarks. Enquanto que o elétron é
considerado uma partícula sem estrutura interna, não se sabe ainda exatamente o que é um quark.
Novas descobertas no campo da física das partículas podem alterar essas conclusões. Da Grécia
Antiga até meados do século XIX, pouca coisa foi mudada em termos de modelo para o átomo. Com a
descoberta do próton e do elétron, o átomo deixou de ser indivisível e passou, até final do século XIX,
a ser considerado uma estrutura constituída pela junção de prótons e elétrons. Na primeira década do
século XX o nêutron ainda não havia sido descoberto. Portanto, o modelo do átomo era ainda simples
em relação ao que hoje é conhecido. O modelo de Rutherford foi o primeiro que considerou o átomo
com núcleo central. Conforme veremos, o modelo de Bohr evoluiu esse conceito levando em
consideração as descobertas da física quântica no início do século XX.
O modelo atômico proposto por Rutherford em 1911, consiste de um núcleo com carga
positiva em torno do qual circundam os elétrons. Para o átomo de hidrogênio o núcleo é constituído
pelo próton como carga positiva em torno do qual gira um elétron com carga negativa conforme Fig.
1. O próton contém praticamente toda a massa do átomo. Quanto ao valor da carga, o elétron e o
próton apresentam a mesma intensidade, porém sinais opostos. Existe, portanto, uma força de atração
1 q2
F=
4πε o r 2
entre estas duas cargas, dada pela Lei de Coulomb:
órbita do elétron
raio próton
mV 2
Fc =
r
Igualando as equações:
1 q2
mV = 2
4πε0 r
5
O termo à direita da equação é a energia potencial do elétron. Esta energia é igual a
zero quando r tende ao infinito, que corresponde ao maior valor da energia potencial (observe o sinal
negativo). Assim, a energia potencial é:
1 q2
Ep = −
4 πε 0 r
mV 2
Ec =
2
onde m é a massa do elétron.
Para um determinado valor de r, e tendo como referência a lei da conservação da energia, podemos
considerar que a energia total do elétron será:
W = Ec + E p
mV 2 q2
W= −
2 4 πε 0r
q2
W=−
8πε 0r
Esta equação nos fornece a energia do elétron em relação à distância deste ao núcleo. À
medida que o elétron se aproxima do núcleo sua energia diminui. Deve-se destacar, no entanto que,
apesar de sua formulação ter sido elaborada com base em dados experimentais, esse modelo atômico
apresentou uma contradição com uma lei clássica do eletromagnetismo. Segundo esta lei: “uma carga
oscilando a uma freqüência f, irá irradiar energia com essa freqüência.”
Deste modo, o elétron deveria emitir uma radiação na mesma freqüência em que gira em torno
de sua órbita. Deveria haver, portanto, uma radiação emitida pelo átomo, de freqüência igual à
freqüência de giro do elétron. Se o elétron está irradiando energia, sua energia total deveria diminuir
de uma quantidade igual à energia emitida. Se a energia total diminui então o raio r diminui, de forma
que o elétron iria girar em órbitas cada vez menores até atingir o núcleo. Deve-se ainda considerar
que, como a freqüência depende do tamanho da órbita circular, a energia irradiada deveria ser de
freqüência gradativamente em mudança. Entretanto esta variação de freqüência, conforme descrito
acima, não era observada na prática. Observe que, apesar do modelo de Rutherford ter sido
apresentado a partir de dados experimentais (fica por conta do estudante pesquisar o tipo de
experimento realizado por Rutherford) e de ter sido estruturado em termos dos conhecimentos e
formalismos da física de sua época, seu modelo apresentou contradições com alguns conceitos
existentes na física. Como então explicar este modelo atômico em contraste com as leis clássicas do
eletromagnetismo? Esta foi uma questão que surgiu na época e buscaremos a analisar as tentativas de
soluções no item seguinte.
6
3 O modelo atômico de Bohr
Primeiro postulado:
O elétron no átomo ocupa estados discretos de energia, representados por níveis n = 1, 2, 3 ..., e não
emite radiação nesses estados.
Segundo postulado:
A energia de cada estado é um valor discreto dado em função de n, cuja equação em eV é
En = - 13,6/n2.
Terceiro postulado:
Quando o elétron salta de um nível para outro irá emitir ou absorver energia com freqüência
proporcional à diferença da energia entre os níveis, i.e. ∆E α f.
n E (eV)
∞ 0
5 -0,56
4 -0,87
3 -1,53
2 -3,41
1 -13,60
7
Podemos agora avaliar a energia correspondente a cada nível da Fig. 2. Tomando-se como ponto de
partida a equação de Einstein que apresenta a equivalência entre matéria e energia, temos:
E = mc2
Outro conceito da física moderna é a hipótese quântica de Planck, que considera que uma radiação de
freqüência f apresenta energia dada por:
E = hf
A equação de Planck introduz o conceito de quantum de energia. Temos ainda que a relação entre
freqüência e comprimento de onda λ de uma radiação que propaga a uma velocidade v em um meio
é:
=
v
E=h
λ
Usamos v no lugar de c para a equação apresentada. Neste caso trata-se da velocidade do elétron na
órbita atômica, que não corresponde à velocidade da luz. O elétron gira em torno do núcleo cerca de
10.000 bilhões de vezes por segundo. Assim, a eq. para o comprimento de onda é:
h
λ=
mv
A equação acima é resultado dos trabalhos de Louis de Broglie, denominada equação de de
Broglie, que buscou aplicar o conceito da dualidade onda-partícula (antes atribuída apenas à natureza
da luz) ao elétron na órbita atômica. Esta conclusão considera a natureza ondulatória e corpuscular do
elétron. Deve-se, portanto, considerar o elétron como uma partícula com movimento ondulatório
deslocando em torno do núcleo em uma órbita de raio r. Portanto, uma volta completa do elétron
deverá corresponder a n comprimentos de ondas, de forma a não haver irradiação de energia, onde n
são números inteiros (ver Fig.3). Podemos então escrever:
nh
= 2 πR
mv
A expressão para v será:
nh
v=
2 πmR
8
ou
n2h2
v2 =
4 π 2 m2 R 2
A equação da velocidade no modelo clássico é:
q2
v2 =
4 πε 0 Rm
hidrogênio, isto é:
n2h 2 ε 0
R=
πq 2 m
A equação acima nos fornece os raios para os níveis n =1,2,3, ... que o elétron pode ocupar no átomo.
Substituindo esta equação na equação do modelo de Rutherford obtemos:
q 4m 1
Wn = −
8ε 20 h 2 n 2
onde Wn são valores de energia (em joules) para os níveis n = 1,2,3, ... respectivamente. O estudante
agora pode fazer uma análise comparativa das equações de Rutherford e de Bohr.
Sendo 1eV = 1, 6 x10−19 joules, assim a equação de energia dos níveis do H pode ser escrita na
forma:
1
En = −13, 6
n2
para En em eV.
Os valores da energia para (En) para o hidrogênio é indicado na Fig. 2.
A Fig. 3 indica algumas órbitas possíveis para o H a partir da equação de de Broglie.
2 1
a-) n = 2, λ = πn b-) n = 3, λ = πn c-) n = 4, λ = πn
3 2
9
Consideremos agora dois estados com energia W1 e W2 no átomo de H. Quando o elétron passar de
um estado para outro, haverá uma irradiação de energia cuja freqüência da onda será diretamente
proporcional à diferença de energia desses dois estados. Assim temos:
W2 – W1 α f
W2 − W1 = hf
Esta equação pode também ser expressa em função do comprimento de onda ( λ ) da radiação em
angstron (A0) e com os valores de energia (E) em eV. Temos 1eV = 1,6 x 10 -19 J.
12400
E 2 − E1 = (unidade em eV)
λ
Retornando agora à Fig. 2, para que o elétron salte do nível n=1 (menor energia) para o nível n = 2
(maior energia), haverá absorção de energia. Ao saltar do nível 2 para o nível 1 haverá emissão de
energia pelo átomo na forma de um fóton.
Para o átomo de hidrogênio, Fig. 2, o elétron normalmente ocupa o nível n =1, denominado de
estado normal, que corresponde ao estado de menor energia do átomo. Para o átomo de H, quando o
elétron ocupa os níveis n = 2, 3, 4 e 5, o átomo está excitado. Esses são os níveis de excitação do H. À
medida que o elétron recebe determinadas quantidades de energia poderá mover-se para esses níveis.
Se o átomo receber uma quantidade de energia muito grande, suficiente para retirar seu elétron da ação
do núcleo, dizemos que o elétron atingiu o nível n → ∞ ou nível de ionização. Neste momento, o
átomo fica ionizado, resultado da perda de um elétron e da obtenção de um íon H+.
Sabemos agora que, para o elétron mover-se do estado normal n = 1 para o nível de excitação
n = 2, precisamos fornecer energia ao átomo. Qual a quantidade de energia necessária para que ocorra
essa translação de níveis? Essa energia será exatamente igual à diferença de energia dos dois níveis n
= 1 e n = 2, isto é, 10,19 eV. Esta energia incidente no átomo pode ser na forma de uma radiação.
Podemos, portanto, calcular a freqüência (em Hz) desta radiação. Com este mesmo raciocínio você
pode calcular a freqüência e o comprimento de onda da radiação absorvido pelo átomo, para que o
elétrons possa mover de n = 2 para n = 3, de n = 3 para n = 4. Qual seria a energia necessária para
ionizar o átomo de hidrogênio, ou seja, para mover o elétron do nível n = 1 para o nível infinito?
Como vimos acima, o átomo ao absorver uma radiação pode saltar para um nível excitado.
Porém o elétron não mantém neste estado, i.e., retorna ao estado normal após um intervalo de tempo
de 10-8s. Nesta etapa de retorno do elétron (por exemplo, de n = 2 para n = 1) o átomo emitirá uma
radiação cuja energia será igual à diferença de energia dos dois níveis. A energia emitida será, portanto
igual a W2 - W1 = hf. Esta energia é denominada fóton de energia e é dada pelo produto da constante h
pela freqüência f da radiação. Esta característica quantizada da onda eletromagnética foi introduzida
por Planck em 1900. Portanto quando o elétron, no átomo de hidrogênio, salta de n = 2 para n = 1
haverá emissão de uma radiação de λ = 1216 A0, correspondente ao comprimento de onda do
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ultravioleta. Para o infravermelho temos λ = 18750 A0, correspondente à transição de n = 4 para n = 3.
Portanto, a emissão de luz por um átomo ocorre somente durante a transição de um nível para outro de
menor energia. De n = 3 para n = 2 a radiação emitida correspondente à luz visível. A luz, portanto,
não é emitida continuamente por um átomo. Não percebemos a radiação descontínua devido a grande
quantidade de átomos emitindo energia.
A esta altura é interessante analisar como se pode provocar a excitação do átomo. Como levar
o elétron de n = 1 para n = 2, por exemplo, no átomo de H? Suponhamos ainda que a energia fornecida
ao átomo seja suficiente para o elétron ultrapassar o nível n = 2, mas insuficiente para que o mesmo
atinja o nível n = 3. Esta energia será absorvida pelo átomo? Como se explica esta questão? Um dos
métodos de fornecer energia ao átomo é fazer que sofra colisões com um elétron, transferindo-lhe
energia necessária para levar o átomo ao estado de excitação correspondente. Neste caso, a quantidade
de energia excedente será mantida como energia cinética pelo elétron após a colisão. As colisões com
elétrons podem ser elásticas ou inelásticas. Em uma colisão elástica não ocorre alteração de energia
cinética, i. e., o elétron transmite uma pequena energia cinética ao átomo, devido à pequena massa do
elétron. Em uma colisão inelástica, há uma alteração interna na energia do átomo, ocorrendo uma
excitação, conforme descrito acima.
Outro método de fornecer energia a um átomo é fazer que sofra colisões com um fóton. Neste
caso, para que o átomo seja excitado, a energia da radiação eletromagnética incidente deverá ser
exatamente igual à diferença de energia de dois níveis atômicos. Isto se deve à característica
quantizada da radiação eletromagnética incidente. Nos processos em que o átomo absorve energia de
forma a ocorrer uma passagem de seu elétron para um nível mais elevado e, em seguida, seu retorno
ao nível de origem com a emissão de energia, dizemos que ocorreu uma fotoexcitação. No caso em
que a radiação que colide com o átomo possua energia no mínimo igual à energia de ionização do
átomo, o resultado poderá ser um íon e um elétron livre, i. e., o elétron não retornará ao nível de
origem. Temos, no final deste processo, uma ionização.
Como podemos constatar, o modelo de Bohr descreve uma série significativa de fenômenos,
mas é designada de ‘antiga teoria quântica’. A evolução das pesquisas em relação ao átomo levou a
outras versões da teoria denominada de ‘nova teoria quântica’. Essa evolução correspondeu ao modelo
de Erwin Schrodinger, que considerou o conceito de onda associada a cada partícula material. Nessa
versão o elétron passou a ser percebido não como um ponto material, mas como uma entidade
matemática denominada ‘função de onda’. Essa função é a solução da equação de Schrodinger e
assume diferentes valores em diferentes pontos do espaço. Nosso estudo, no entanto, não irá abordar
esse conceito, que deixamos como um tema que pode ser pesquisado pelo estudante de acordo com
seus interesses.
5 Os números quânticos
spin m l n
½ 0 0 3
½ -½ 1, 0, -1 1
½ -½ 0 0
½ -½ 0 0 1
Observa-se que existe uma relação entre os números quânticos dada por:
n = 1, 2, 3...
l = 0, 1, 2, 3... n -1
m = - l ... -1, 0, +1, ... , + l
O spin, indicado por uma seta, tem dois valores + ½ ou – ½.
Verifica-se que em n = 3, existe um estado semi-cheio, que pode ser preenchido por um elétron com
spin oposto ao spin existente.
Num cristal formado por átomos, os níveis de energia dos elétrons das camadas mais internas
de cada átomo não são afetados apreciavelmente pela presença de átomos vizinhos. Entretanto os
níveis de energia dos elétrons da camada mais externa são preenchidos parcialmente. As condições
para os níveis de energia de um elétron que se move em um campo de núcleos múltiplos são diferentes
em relação ao nível de apenas um átomo. Os níveis de energia no cristal são denominados de bandas.
Um cristal constituído de n átomos terá uma distribuição de elétrons similar aos níveis atômicos,
porém na forma de bandas. Portanto um subnível s (que contém 2 elétrons) se converte em uma banda
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com capacidade para 2N elétrons. Um subnível p se converte em uma banda com capacidade para 6n
elétrons. Na fig. 5 temos os átomos suficientemente afastados nos níveis de energia, que serão os
mesmos do átomo isolado. Se o espaço interatômico for diminuído, um átomo exercerá uma força
elétrica sobre os átomos vizinhos, resultando um grande número de níveis de energia discretos, mas
bastante próximos. São as bandas de energia. As bandas constituem estados de níveis moleculares
múltiplos correspondendo aos níveis atômicos de iguais energias de cada átomo.
A banda de energia proibida representa a não existência de estados que possam ser ‘ocupados’
por elétrons. Os elétrons dos estados internos não afetados pela aproximação dos átomos e são
denominados de elétrons centrais ou níveis internos. Os elétrons dos estados exteriores são
denominados de elétrons de valência. A energia do estado mais alto ocupado por elétrons (a 0K)
recebe o nome de Nível de Fermi. Em temperaturas elevadas a energia térmica levará os elétrons
acima do Nível de Fermi. Portanto um elétron poderá passar acima do Nível de Fermi, apenas se
receber energia suficiente.
Para o alumínio, Z = 13, sua configuração eletrônica é 1s2 2s2 2p6 3s2 3p1. O diagrama de
banda de energia para o sólido pode ser representado conforme a Fig. 6 para os níveis externos. Uma
banda pode ter todos os estados preenchidos ou parcialmente preenchidos com elétrons. Uma região
proibida corresponde a não existência de estados que possam receber elétrons. A banda de maior
energia (mais alta) está parcialmente cheia e recebe o nome de banda de condução.
Região proibida
Banda cheia
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7 Modelo de bandas para condutores, semicondutores e isolantes
proibida proibida
Os condutores são materiais nos quais a banda ocupada pelos elétrons de valência está em
contato com a banda de energia livre e inclusive se sobrepõe a esta. Em conseqüência, os elétrons
nesta região podem passar para a banda de energia livre com facilidade. Sob ação de um campo
elétrico esses irão constituir uma corrente elétrica.
Os semicondutores são materiais com uma estreita banda proibida, que dificulta a passagem de
elétrons para a banda de níveis de energia livre. Entretanto os elétrons podem atingir esta região de
energia livre, se recebere energia externa, tal como calor.
Os isolantes são materiais nos quais a banda de energia proibida é muito grande, dificultando a
passagem de elétrons para o nível de energia livre. Portanto a condutividade é muito pequena nesses
materiais.
Em um semicondutor, um elétron poderá saltar a zona proibida e atingir a região livre, com o
fornecimento de energia da ordem de 1 eV. A partir daí, este elétron poderá se deslocar sob ação de
um campo elétrico. Para o isolante esta energia deve ser da ordem de 4,5 a 7 eV.
As propriedades elétricas são determinadas pela estrutura da matéria, i.e., do modo como os
átomos (ou as moléculas) se organizam, não constituindo uma particularidade de um dado átomo.
Como exemplo, temos o carbono que, na forma de diamante é um isolante elétrico e na forma de
grafite apresenta condutividade elétrica alta. Portanto, o estudo da estrutura dos materiais deve levar
em conta, não apenas os diagramas de níveis de energia do átomo e de bandas de energia nos sólidos,
mas também a forma como os átomos e as moléculas se organizam na constituição do sólido. Este é o
estudo das estruturas cristalinas e amorfas.
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8 Estruturas cristalinas e amorfas
Os sólidos podem ser classificados em dois tipos segundo sua estrutura: amorfos e cristalinos.
Num sólido de estrutura amorfa os átomos (ou moléculas) não apresentam um ordenamento regular na
distribuição espacial. Nos sólidos cristalinos observa-se um ordenamento regular dos átomos (ou das
moléculas) formando um retículo (Fig. 8). De uma forma geral todos os átomos apresentam alguma
ordem. Mesmo os sólidos amorfos apresentam um determinado ordenamento em torno de cada átomo
denominado de ordem de curto alcance. Um sólido que não se cristaliza é aquele que suas moléculas
podem se imobilizarem em uma grande variedade de arranjos.
Estrutura amorfa
Estrutura cristalina
No estado cristalino os átomos mantêm-se unidos por ação de diversas forças que constituem
as ligações: iônica, covalente, metálica e molecular, conforme Fig.9. Os elétrons de ligação são os
elementos constitutivos dessas ligações.
Na ligação iônica um átomo perde elétron para outro constituindo íons. Esses íons obtêm um
arranjo regular graças ao equilíbrio entre atração e repulsão das cargas. Exemplo é o NaCl.
Na ligação covalente os átomos partilham seus elétrons constituindo o cristal com orientações
definidas. Como exemplo, temos o diamante, no qual cada átomo de C está ligado a quatro outros
átomos eqüidistantes resultando numa configuração tetraédrica.
Na ligação molecular existe uma fraca atração entre os átomos. Esse tipo de ligação pode
ocorrer entre líquidos e gases assim como em determinados cristais. Exemplo típico é o grafite no qual
lâminas de átomos de C, ligados por covalência, são fracamente unidos por forças de Van der Walls, o
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que possibilita que essas lâminas deslizem umas sobre as outras. Essa característica que faz do grafite
um material macio quando comparado com um metal, por exemplo.
Ligação iônica: Na Cl
9 Retículos cristalinos
Podemos caracterizar o cristal como uma estrutura geométrica, denominada rede cristalina, na
qual cada ponto é associado ao átomo ou conjunto de átomos, denominado de base. No cristal de NaCl
a base é constituída por átomos diferentes de Na e Cl. O paralelepípedo que gera a rede cristalina é
denominado célula unitária da rede. Quando temos paralelepípedos de diferentes tamanhos, o menor
paralelepípedo é denominado célula primitiva da rede.
10 Direções em um cristal
A direção de um cristal é definida por um vetor identificado por 3 números inteiros. Por uma
questão de simplificação deste estudo vamos considerar apenas o cristal cúbico. Esse cristal apresenta
3 direções, definidas a partir dos eixos x, y, z denominadas:
[100] – direção correspondente à aresta do cubo
[110] – direção correspondente à diagonal da face
[111] – direção correspondente à diagonal do cubo
A Fig. 11 apresenta os eixos x, y, z com as direções indicadas por vetores, para o caso específico da
célula unitária cúbica.
[111]
[100]
[110]
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Em um cristal cúbico define-se um plano cristalográfico como o plano perpendicular ao eixo
cristalino correspondente. Assim, ao eixo [100] corresponde o plano (100) que é a face do cubo.
Ex. 1 – Para o cobre a resistência à tração é função da direção cristalográfica conforme apresentado:
Direção [100] – 14,60 Kgf/mm2
[110] – 20,15 Kgf/mm2
[111] – 35,00 Kgf/mm2
Ex. 2 – O FeSi GO (grãos orientados) utilizado nos núcleos magnéticos dos transformadores 60Hz, a
magnetização é maior na direção [100] (Fig. 12). Observe que a melhor magnetização ocorre na
direção [100]. O tema será retomado no capítulo de materiais magnéticos.
direção [110]
direção [111]
Ex. 3 – Determinados tipos de cristais líquidos apresentam índice de refração da luz variável em
função da direção cristalográfica em que a luz incide no material.
Ex. 4 – A cianita é um mineral que forma cristais alongados em lâminas que pode ser facilmente
riscado na direção paralela ao comprimento do cristal e que apresenta alta dureza na direção
perpendicular.
18
a – Piezoeletricidade: formação de carga elétrica no cristal em função da aplicação de uma pressão em
uma determinada direção. O cristal que apresenta esse fenômeno não tem um centro de simetria.
Exemplo típico é o quartzo piezoelétrico, usado nos osciladores eletrônicos e que é obtido por
crescimento por vapor.
c – Luminescência: é o fenômeno de emissão de luz por um material que não seja resultado direto da
incandescência. Os 2 tipos principais são a fluorescência e a fosforescência. Na fluorescência o
material emite luz quando submetido à radiação ultravioleta, raio x e raios catódicos. Na
fosforescência o material emite luz sob radiação eletromagnética, porém a emissão perdura após a
interrupção da radiação excitante.
QUESTÕES
19
15 – Explicar como a luz é produzida em uma lâmpada se descarga em gás.
16 – Explicar o que é um material: monocristalino, policristalino e amorfo.
17 – Explicar o que é direção em um cristal e citar as direções preferenciais do cristal cúbico.
18 – Explicar o que é anisotropia cristalina de um material e citar aplicações na engenharia.
20
2
CONDUTORES
Os sólidos condutores mais usados em engenharia elétrica são os metais e de modo particular
as ligas metálicas, que juntam características importantes acima citadas para aplicações diversas. Uma
das formas de melhorar as características elétricas do metal é aumentar seu grau de pureza. Este
tratamento pode ser trabalhoso e muitas vezes a melhoria de uma propriedade pode resultar em
prejuízo para outras. O cobre encontrado em sua forma natural apresenta-se com uma pureza em torno
de 2,5%. Às vezes, requer-se deste metal com grau de pureza de até 99,9999% para aplicações
especiais. O alumínio é outro metal bastante empregado na engenharia elétrica. Encontrado na
natureza em forma de bauxita (50 % Al203) é abundante no Brasil, o que não ocorre com o cobre.
Alguns metais tem importância em aplicações específicas, como é o caso do níquel na construção de
baterias. Constitui fator de desenvolvimento de uma nação saber utilizar os recursos de que dispõe
21
dominando todo o ciclo tecnológico para a fabricação de produtos. O conhecimento dos fundamentos
da física desses materiais fornece ao engenheiro capacidade para tomar decisões quanto à definição de
projetos de engenharia, ao planejamento de processos de manutenção e à escolha, tanto econômica
quanto técnica, de suas aplicações tecnológicas.
A diferença estrutural entre os materiais é uma das principais razões de seu comportamento
diverso, razão pela qual é necessário estudar a própria estrutura molecular do material e suas
características de ionização e excitação. A circulação de corrente elétrica é notada em materiais sólidos
e nos líquidos, e sob condições favoráveis, também nos gasosos. A maior parte dos materiais
condutores no estado sólido são os metais e ligas. No grupo dos líquidos, temos os eletrólitos, os
metais em estado de fusão e o mercúrio, único metal que à temperatura ambiente se encontra no estado
líquido. O mercúrio solidifica-se a –39ºC. Os gasosos tornam-se condutores quando submetidos a
campos muito intensos, ocorrendo ionização. A corrente elétrica nos gases é um deslocamento de
cargas (elétrons e íons) que se realiza em virtude da aplicação de energia externa, fazendo com que as
partículas elementares que compõem o átomo elevem seu nível de energia. Neste capítulo o estudo dos
condutores elétricos será focalizado especialmente nos sólidos. Iniciamos esse estudo com o conceito
de condutividade elétrica.
Os metais e ligas, conforme vimos no capítulo 1, caracterizam-se por apresentar uma estrutura
cristalina. Não obstante algumas ligas, dependendo de seu processo de produção, podem ter estrutura
amorfa o que lhes confere o nome de ‘vidros metálicos’. Na formação dos cristais, os átomos
individuais respeitam entre si determinados afastamentos evitando, assim, que se choquem. A
representação gráfica para os metais, indicando apenas os núcleos de seus átomos, pode ser uma
estrutura cristalina tridimensional. Na maior parte dos casos a célula unitária tem o formato de cubo
havendo casos de disposições hexagonais. O afastamento entre os átomos é da ordem de 10-8 cm. Os
átomos não permanecem parados, mas apresentam um movimento vibratório. Essa vibração está
associada a um equilíbrio de forças de atração e repulsão dando origem a uma situação designada
coesão. Se a temperatura for elevada, a amplitude aumentará até que os átomos rompam seu percurso
normal de vibração, fazendo com que a energia cinética supere a ação da força de coesão e o metal
passará para o estado líquido. Por isso, de um modo geral, os metais mais duros e resistentes
mecanicamente, com elevada coesão entre seus núcleos, são também metais cujo ponto de fusão é
mais elevado. Nos metais a estrutura cristalina resulta da ligação metálica, na qual os átomos
compartilham seus elétrons de valência. Na ligação metálica, devido à liberação dos elétrons de
valência, os átomos da estrutura tornam-se eletropositivos. Resultam nesta ligação, elétrons livres que
preenchem os espaços entre os átomos formando uma nuvem eletrônica que por sua vez exerce força
de atração entre os átomos eletropositivos.
A condutividade elétrica dos metais é realizada pelos elétrons livres da banda de valência. A
teoria eletrônica clássica considera o condutor sólido como um sistema formado por uma rede
22
cristalina (núcleo do átomo mais elétrons internos) sendo uma média de 1 a 2 elétrons livres para cada
átomo do metal. O elétron livre desloca-se nessa estrutura sofrendo colisões, conforme Fig. 1.
_ +
Fig. 1 – Deslocamento do elétron livre na rede cristalina metálica indicada pelas setas
O movimento destes elétrons chocando-se contra a rede cristalina, sob ação do campo externo,
resulta em perda de energia de deslocamento e consequentemente no aquecimento do metal. A
quantidade de energia perdida pela nuvem de elétrons por unidade de tempo (W) é dado por:
W = σ E2
Quando o metal é submetido a um campo elétrico, o movimento dos elétrons livres são
orientados de forma a constituir uma corrente elétrica. A existência do elétron livre é uma hipótese que
pode ser verificada por alguns tipos de argumentos, conforme descrito a seguir:
- se durante um grande período passa uma corrente elétrica de um metal para o outro, não
observa-e que os átomos de um metal penetram uns nos outros;
O campo elétrico E atua sobre o elétron de carga q com uma força F, que tende acelerá-lo:
F = qE
F = ma
ma = qE
qE
a=
m
23
O elétron sob ação dessa força não é acelerado indefinidamente, pois irá perder energia devido
a colisões com impurezas, imperfeições estruturais da rede e fónons (quanta de energia térmica sob
forma de onda). Essas colisões ocorrem em um tempo de relaxação, indicado pela letra τ. Ver Fig. 2.
Portanto, sendo a velocidade média do elétron igual a vm, a aceleração pode ser dada por:
vm
a=
τ
qEτ
v m = aτ =
m
0 2τ 4τ
J = nqv m
ou ainda:
nq 2 Eτ
J=
m
em que n é o número de elétrons livres por unidade de volume.
JαE
O fator de proporcionalidade é a condutividade elétrica do material (σ) que refere-
se à facilidade de condução de corrente elétrica de um material. Temos portanto:
J=σE
nq2τ
σ = -------
m
24
Conclui-se, portanto, que a condutividade elétrica é função do número de elétrons livres por
unidade de volume sendo que este número é maior nos metais e varia de metal para metal. A equação
demonstra ainda que a condutividade é função do tempo de relaxação que, por sua vez, depende da
temperatura, das impurezas e imperfeições do metal.
I
J=
A
A resistência de fio metálico de comprimento L e seção A (unidade em Ω) é:
L
R = ρ ----
A
O estudo da condutividade elétrica dos metais nos permite concluir que a condutividade é
função do número de elétrons livres e do tempo de relaxação. Esse tempo tem uma relação com o
número de colisões que o elétron sofre ao deslocar-se na estrutura do material. As colisões, por sua
vez, ocorrem em função da vibração térmica e dos defeitos estruturais, das impurezas e bolhas no
material. Assim, a resistividade do metal pode ser expressa em função de dois parâmetros
denominados resistividade térmica (ρT) e resistividade residual (ρR), resultando na equação de
Matthiessen:
ρ = ρT + ρR
K = ρ( 298 K ) / ρ( 4 ,2 K )
Considerando ρT ≅ 0 na temperatura de 4,2 K, resulta ρ = ρR . Portanto para esta
temperatura temos:
ρ
K≅
ρR
Assim, quanto mais puro o metal, menor o valor de ρR, consequentemente maior o valor de K.
Para metais puríssimos temos K = 100.000. Para materiais comerciais K pode chegar a 100.
25
Como vimos, a adição de impurezas aumenta a resistividade residual do material. A
variação de ρR em função da adição de impurezas, indicado na Fig. 3, é dado por:
ρR = Ax ( 1 − X )
onde: Ax é a constante de Nordheim para um dado metal base com uma impureza específica;
ρR = Ax
ρR A x(1-x)
ρ (x10-8) Ω.m Fe
2,5 Mn
Ag
1,7
26
4 Coeficiente de Temperatura
ρ = ρ0 ( 1 + α 0T )
onde ρ é a resistividade elétrica do metal na temperatura T
ρ0 é a resistividade a 0º C
α0 é um coeficiente relacionado à temperatura de 0º
região de supercondutividade
A variação da resistividade de um metal (ou liga metálica) com a temperatura, (T – T1) pode ser
calculada pela equação:
ρ = ρ1 [1 + α1 ( T − T1 )]
De uma forma geral os materiais podem apresentar coeficiente positivo de temperatura (CPT
ou PTC) ou coeficiente negativo de temperatura (CNT ou NTC). PTC constituem o grupo dos
materiais condutores (metais e ligas) e NTC referem-se aos materiais semicondutores e isolantes. A
Fig. 6 indica a curva da resistividade com a temperatura para esses grupos.
27
ρ NTC ρ PTC
T T
28
Deve-se observar que o valor de αT depende da escolha inicial da temperatura de
referência. Metais puros possuem uma estrutura cristalina perfeita, o que reduz sua resistividade. As
impurezas, mesmo em quantidades mínimas, alteram a perfeição da estrutura,
elevando consequentemente a resistividade do material. Pode-se referir a um material
indicando sua resistividade em função do padrão internacional.
Assim para o cobre duro comercial 97% 0 20ºC sua característica será:
ρ100
ρ97 =
0.97
Α 20/97 = αp . 0,97
No prisma da física quântica os elétrons nos materiais são distribuídos em níveis crescentes de
energia e atendem ao princípio da exclusão de Pauli segundo o qual “não mais que dois elétrons de
spins opostos podem ocupar o mesmo orbital energético”. Os elétrons de maior energia são os elétrons
que estão na banda de valência. Partindo, portanto, do diagrama de bandas de energia para os metais,
podemos considerar que:
- a zero K, a energia máxima que os elétrons podem apresentar corresponde ao Nível de Fermi (NF);
portanto, a zero K todos os elétrons estão abaixo do NF;
- os elétrons livres em um metal não estão sujeitos a quaisquer forças desde que não haja nenhum
campo no metal;
- para temperatura acima de zero K, alguns elétrons passam acima do NF;
- para que um elétron salte para fora da superfície do metal deverá adquirir uma energia mínima acima
da energia de Fermi, indicada por EW.
Os postulados acima podem ser representados na Fig. 7.
29
(a) (b) (c)
Figura 7a – indica que à medida que distanciamos do núcleo aumentam o número de elétrons livres
com energia próximo de EB.
Figura 7b - indica a densidade de elétrons com energia acima de EF para temperatura de 2500oK e
inclusive a densidade de elétrons que podem escapar para T > 2500oK.
d nE
ρ E =
dE
onde dnE = número de elétrons livres/m3
onde f(E) = probabilidade de ter um estado quântico com energia E, ocupado por 1 elétron.
A 0 K temos:
- a probabilidade de encontrar elétrons com energia En < EF é f(E) = 1, ou seja, a 0K todos os elétrons
estão abaixo no NF.
- a probabilidade de encontrar elétrons com energia En > EF é f(E) = 0, ou seja, a 0K nenhum elétron
está acima do NF
A expressão para f(E) é a função probabilidade de Fermi-Dirac.
1
f (E) =
e (E - E F ) / KT
+1
1 1
f (E) = =
e +1 2
0
1
f (E) = ∆E/0
=1
e +1
Para T = 0K e E < EF [∆E negativo]
1
f (E) = ∆E/0
=0
e +1
Para T = 0K e E > EF [∆E positivo]
A 2500K a probabilidade de encontrar elétrons com energia E = E1 (com < EF) é 0,75;
Ew = EB - EF
31
A corrente termoiônica resultante dos elétrons que podem ultrapassar a superfície do metal (com
E>EB) é dada por:
A corrente termoiônica ocorre sempre que uma superfície metálica sob campo elétrico intenso é
aquecida. Esse tema pode ser importante no efeito do arco voltaico que ocorre na abertura e
fechamento dos contatos a vácuo como é o caso dos disjutores e contatores a vácuo.
O efeito termelétrico que trataremos nesse tópico é denominado Efeito Seebeck. Considere a
Fig.8 em que uma barra metálica apresenta uma extremidade quente e a outra extremidade fria. Os
elétrons na extremidade quente ganham energia passando acima do Nível de Fermi e, como
conseqüência, difundem-se para a extremidade fria. Dessa forma, o lado quente fica positivo em
relação ao lado frio. É possível medir uma ddp ao longo da barra, desde que sejam usados materiais
diferentes entre a barra e o medidor. A ddp é função da diferença de temperatura entre as extremidades
da barra, não importando como esta se distribui ao longo da barra.
QUENTE FRIA
+ - V1
E V
V
V2
A tensão induzida pode ser medida por um voltímetro conectado nas extremidades quente/fria
da barra. Os condutores que fazem a ligação da barra ao voltímetro também estão sujeitos à
temperatura quente e fria. Dessa forma, surgem também nesses condutores a ddp com polaridades
positiva (no lado quente) e negativa (no lado frio). O modelo equivalente do efeito pode ser indicado
por duas fontes cc, com valores V1 e V2. Observe que, se o material do fio de conexão for o mesmo
da barra, teremos V1 = V2. Neste caso a leitura no voltímetro será zero e o efeito não será medido.
Para que o efeito possa ser medido no voltímetro, o material do fio de conexão deve ser diferente do
material da barra. Assim, V1 será diferente de V2 e o voltímetro indicará a diferença dessa leitura.
Essa variação da tensão com a diferença de temperatura define a potência termelétrica da junção:
ST = dV / dT
O Efeito Seebeck pode ser aplicado na medição de temperatura utilizando-se o par termelétrico. O par
termelétrico consiste de uma junção de dois metais diferentes em que uma extremidade é mantida
numa temperatura a ser medida (geralmente a junção quente) e a outra em outra temperatura (que pode
32
ser a temperatura ambiente). Nessa região utiliza-se um voltímetro para indicar a tensão induzida.
Mediante o potencial de Seebeck pode-se obter a temperatura no ponto de medição. Um dos pares
termelétricos mais usados é o ferro-constantan. A Fig 9 apresenta a força eletromotriz (fem) térmica
do par ferro-constantan. É fácil obter informações sobre outros pares comercialmente usados.
V
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0
0 400 800 1200 K
Neste tópico vamos dar ênfase às características e aplicações do cobre, do alumínio e de algumas ligas
metálicas empregadas na engenahria.
Conforme estudamos no capítulo 1 uma das propriedades importantes dos metais é a anisotropia
cristalina. A estrutura cristalina, no entanto, pode apresentar defeitos técnicos durante o processo de
solidificação, o que nem sempre possibilita a propriedade anisotrópica. No processo de solidificação
de um metal podem surgir defeitos técnicos na estrutura do mesmo entre os quais se destacam:
- bolhas e poros: durante a fusão os metais absorvem gases como oxigênio, nitrogênio, gás
carbônico e outros. No processo de solidificação esses gases podem se separar novamente dos
metais ou ser absorvidos pelos mesmos.
- fissuras: um resfriamento rápido ou a presença de materiais que não se combinam com o metal
leva a formação de fissuras, devido ao processo de contração metálica durante o resfriamento.
- impurezas: a presença de impurezas depende do ambiente e do processo de resfriamento do metal
e apresentam grande influência nas características elétrica e mecânica dos metais.
Nos itens seguintes vamos destacar algumas características de dois metais amplamente usados como
condutores elétricos na engenharia: o cobre e o alumínio.
33
COBRE
De uma forma geral, a fabricação de fios de cobre passa pelas seguintes etapas:
1. Refino eletrolítico – obtêm-se o cobre por tratamento eletrolítico com 99,9% de pureza e 100% de
condutibilidade elétrica, segundo normas internacionais.
2. Laminação – neste processo obtém-se os vergalhões utilizando-se um laminador e submetidos a
controles dimensionais, mecânicos e elétricos.
3. Recozimento – utilizado quando pretende-se obter o cobre semiduro ou cobre mole.
4. Decapagem – consiste na eliminação dos óxidos superficiais inerentes ao processo de laminação
sendo que a superfície externa é posteriormente tratada para evitar nova oxidação.
5. Trefilação – após a decapagem, os vergalhões de cobre estão em condições de serem trefilados, o
que envolve diversas etapas, nas quais o fio é puxado através de fieiras adequadas, dispostas em
sequências apropriadas, até alcançar o diâmetro final desejado.
Em muitos casos o cobre não pode ser usado na forma pura empregando-se então, ligas de
cobre conforme veremos adiante.
ALUMÍNIO
34
TABELA 2 – Al, Cu, padrão IACS
CARACTERÍSTICA FÍSICA Al (DURO) Cu (DURO) PADRÃO
(IACS)
Condutividade mínima percentual a 61 97 100
20ºC
Densidade a 20ºC (g/cm3) 2.7 8.89 8.89
Resistividade máxima a 20ºC 0.0282 0.0177 0.0172
Calor específico (cal/gºC) 0.214 0.092 0.092
Condutividade térmica (cal/cm3 s ºC) 0.48 0.93 0.93
Coeficiente de dilatação linear (ºC) 23x10-6 17x10-6 17x10-6
LIGAS METÁLICAS
35
5 - Duralumínio – liga Cu-Mg-Al que pode ser aplicada em fio, cabos, tubos e barras condutoras é
também utilizada na confecção de dissipadores térmicos.
6 - Latão – liga Cu-Zn, de condutividade relativamente baixa, resistente à corrosão, empregada em
barramentos, bornes e conexões em equipamentos elétricos. Um dos problemas de emprego desta liga
é a tendência à formação de rachaduras (Season Cracking) efeito este que é mais acentuado quanto
maior for a quantidade de zinco empregado. O alívio das tensões internas de forma a diminuir estes
efeito é obtido submetendo-se o material ao recozimento.
7 - Bronze – liga Cu-Sn, de boa condutividade elétrica e elevada resistência à corrosão e à fadiga.
Outros dados referentes às ligas bronze e latão são referidos na tabela 5.
8 Efeito Corona
O efeito corona é mais significativo na tensão alternada senoidal, quando a tensão atinge o valor de
pico da senoide. O termo ‘corona’ é devido à formação de uma ‘coroa’ em torno do condutor. O
resultado é a produção de radiações eletromagnéticas. Inicialmente observa-se um ruído audível,
quando a tensão passa pelo valor de pico. Se o campo elétrico for mais intenso, pode chegar à
produção de radiação ultravioleta e mesmo à produção de arco voltaico entre as fases ou fase-terra. As
normas estabelecem limites máximos para o efeito corona, uma vez que uma rede elétrica poderá gerar
radiações da ordem de radiofreqüências causando radiointerferências nos equipamentos elétricos, além
de representar perdas elétricas na rede. O Efeito Corona representa também perdas no sistema elétrico.
9 Efeito Pelicular
36
Fig.11 Linhas de fluxo concatenado no filamento central do condutor maior que no filamento
perifèrico
Como conseqüência a corrente fica com menor densidade no centro do condutor metálico que
na periferia. A tendência da corrente é circular na periferia (película) do condutor. No cabo ACSR o
centro sendo de aço terá menor corrente que a parte externa que é de alumínio, o que constitui uma
solução para a resistividade do condutor. Observa-se ainda que o efeito pelicular é proporcional à
freqüência da rede (observe a Lei de Faraday). Esse efeito tem também importância fundamental nas
redes de alta freqüência, tal como nas linhas de comunicação.
10 Aplicações na engenharia
LIGAS FUSÍVEIS
A corrente necessária à fusão de um fio é função de seu diâmetro e pode ser dado pela
fórmula de Preece;
I = Ad3/2
Onde: I é a corrente com a qual o fio funde
A é a constante que é função do tipo de material
d é o diâmetro do fio
Vemos que a característica de fusão de uma liga fusível é função do tipo de liga tal como sua
emissividade térmica e geometria do material. A Tabela 4 fornece o valor de A (da fórmula de Preece)
para alguns metais e ligas.
37
BIMETAL
Usa-se a denominação bimetal para dois metais diferentes unidos entre si, de forma que, em
função das propriedades de cada metal possamos obter um comportamento do conjunto que venha
atender a certas aplicações em engenharia. Vamos citar em especial o bimetal ‘tipo copperweld’ e o
bimetal térmico.
a) Bimetal tipo copperweld
Em certos casos, para economizar o uso de metais não ferrosos e melhorar as
propriedades mecânicas dos condutores, emprega-se o chamado bimetal copperweld que consiste de
um fio de aço recoberto por uma camada de cobre. Com esta disposição obtêm-se maior condutividade
em corrente alternada, proteção do aço contra corrosão e aumento da resistência mecânica. Emprega-
se em linhas de transporte de energia e em hastes de aterramento. Podem ser aplicadas também em
chaves fusíveis para distribuição em função do seu efeito de mola.
b) Bimetal Térmico
Consiste na união de duas lâminas metálicas que apresenta valores de coeficientes de
dilatação térmica diferentes entre si. Este conjunto quando aquecido sofre um processo de deflexão,
uma vez que uma das lâminas irá dilatar linearmente mais que a outra. O bimetal térmico é utilizado
principalmente em relés térmicos bimetálicos e nos disjuntores térmicos para proteção de circuitos
contra sobrecorrentes.
CONDUTORES NÃO-METÁLICOS
Existem outros meios condutores que não são metálicos tais como as soluções iônicas
eletrolíticas (exemplo: solução NaCl) e a grafita. Um eletrólito pode ser usado, por exemplo, como um
resistor variável, mediante a variação do nível de eletrólito numa cuba. A grafita é uma forma
alotrópica do carbono, formado de lâminas hexagonais e pode ser usada como eletrodos e em
‘escovas’ para contatos elétricos móveis. A grafita usada como eletrodo de carbono possui coeficiente
de temperatura negativo i.e., a resistividade elétrica varia inversamente proporcional à variação da
temperatura, o que é uma vantagem nos contatos móveis que naturalmente sofrem aquecimento. Alem
desta vantagem a grafita pode ser usada como um lubrificante das partes móveis ao realizar contato
com um anel de cobre. A grafita é uma modificação do carbono puro, possui estrutura laminar e
anisotropia elétrica e mecânica.
CONTATOS METÁLICOS
Uma das grandes utilizações dos metais em equipamentos elétricos consiste em suas
aplicações como peças metálicas para contato. Os contatos podem estar sujeitos a efeitos físicos –
resistividade do material, capacidade térmica, transferência de elétrons, arcos voltaicos – e a efeitos
químicos – oxidação e gases corrosivos.
Ao estabelecer contato entre duas partes metálicas há uma distinção ente a superfície
real e a superfície aparente. Quando um contato móvel fecha-se sobre um contato fixo, a área de uma
peça que realmente mantém contato com a outra não corresponde à área geométrica (AG) dos
contatos. Na realidade a área de contato, que chamamos de área mecânica (AM) é muito menor que a
área geométrica (Fig. 12).
P
A=
H
Onde A é a área, P é a pressão e H é a dureza do material. Esses fatores são considerados nos
processos de fabricação dos contatos usados nos dispositivos elétricos.
Normalmente um contato elétrico é construído usando-se um metal base (geralmente o cobre)
revestido por um metal ou liga metálica que não sofre aumento significativo da resistividade elétrica
por influência da temperatura e oxidação. O revestimento pode ser uma fina camada de prata (Ag) ou
compostos como AgNi, AgCd, AgCdO (Fig. 13).
Outro fator importante a ser observado nos contatos elétricos consiste na conexão de metais
diferentes, como é o caso de conexão de cobre e alumínio. Nesse caso os materiais que apresentam
potenciais eletroquímicos diferentes, poderão sofrer corrosão galvânica, mediante a transferência de
um material para o outro. A resistividade do ponto de contato poderá ser muito alta com o passar do
tempo, trazendo uma série de problemas para o circuito. Esse problema pode ser resolvido utilizando-
se contato bimetálico, que consiste em usar um terceiro metal entre os dois metais, com potencial
eletroquímico intermediário. É o caso de usar o estanho na conexão do cobre com o alumínio.
ARCO VOLTÁICO
39
corrente e/ou alta tensão), são empregados meios adequados entre os contatos tais como: óleo isolante,
gases (como é o caso do SF6) e outros recursos similares, sempre com o objetivo de extinção rápida do
arco. A tendência atual é o uso de câmara de extinção a vácuo, como é o caso de contatores e
disjuntores a vácuo.
SUPERCONDUTORES
O fenômeno da supercondutividade foi observado pela primeira vez pelo físico Kamerling-
Onnes, em 1911, ao verificar que um anel de mercúrio colocado numa temperatura de 4,2K
apresentava resistência elétrica nula. O fenômeno recebeu a denominação de supercondutividade. Um
material torna-se supercondutor quando sua temperatura fica abaixo de determinado valor (geralmente
muito próximo de 0K) denominado de temperatura crítica. A Fig.14 indica o gráfico da resistividade
em função da temperatura para um supercondutor, com destaque para a temperatura crítica (Tc). Para
uma temperatura acima de Tc o efeito da supercondutividade desaparece.
Tc T
QUESTÕES
1 – Em um fio de cobre de 1,5 mm2 circula uma corrente de 10A. O cobre apresenta cerca de 8,4 x
1022 elétrons livres por cm3. Calcular a velocidade média do elétron no condutor e avaliar o resultado
considerando o conceito de Vetor de Pointing.
2 – Calcular a resistividade elétrica do cobre a 100oC. Usar os dados da resistividade do cobre a 20oC,
fornecidos na Tab. 1.
3 – Calcular a resistividade elétrica da grafita a 200oC. Dados: resistividade (20oC) = 5x10-5 Ωxm;
coeficiente de temperatura = - 5 x 10-4 oC-1. Interpretar o resultado e comparar com a questão n. 2.
4 – Calcular as perdas por efeito Joule por metro, em um fio de cobre de 2,5mm2, percorrido por uma
corrente contínua de: a) 10A; b) 20A. Idem para um fio de alumínio.
40
5 – Considere os dados fornecidos na Tab. 1. Calcular a queda de tensão em uma rede de cobre de 2,5
mm2 e 100m de extensão, percorrido por uma corrente contínua de 10A. Idem para uma rede de
alumínio.
6 – Com relação à questão n.5, o que altera no cálculo da queda de tensão se a corrente for alternada
senoidal (10 A eficaz) com freqüência 60Hz?
8 – Considere o Nivel de Fermi para o Tungstênio cujo valor é EF = 8,95 eV com N(E) = 1,99x1028
estados/eV.m3. Calcular quantos elétrons por m3 possuem energia entre 8,5 e 8,6 eV nas temperaturas
de: a) 0 K; b) 2500 K.
11 – Explicar, com base na teoria eletrônica e no diagrama de bandas de energia, como ocorre a
variação da condutividade elétrica para os materiais: a) CPT; b) CNT.
41
3
SEMICONDUTORES
Neste capítulo realizamos uma análise das propriedades dos materiais semicondutores
iniciando pelo modelo do diagrama de banda de energia. O estudo aborda as propriedades dos
semicondutores intrínsecos e extrínsecos, o comportamento dos semicondutores n e p obtidos
mediante dopagem, a condutividade elétrica, os processos de difusão, o efeito da luz e da temperatura
e as aplicações na eletrônica. A análise do nível de Fermi que é realizada neste capítulo possibilita
compreendermos a relação dos portadores de carga em função da temperatura e da luz nesses
materiais. Realizamos, ao final do capítulo, um estudo do diodo de junção pn.
Os compostos químicos são compostos formados entre elementos dos grupos conforme mostra a
Tabela 2. Quanto aos semicondutores simples destacam o Ge e o Si, sendo este último mais abundante
na crosta terrestre e de maior uso nos dispositivos eletrônicos.
Os dispositivos fabricados com materiais semicondutores apresentam maior duração, pequenas
dimensões, boa resistência mecânica, baixo consumo de energia e tornam-se econômicos quando
42
fabricados em grande escala. O desenvolvimento da técnica da microeletrônica possibilitou um maior
aperfeiçoamento destes dispositivos. O grande avanço da eletrônica nos últimos anos se deve ao
estudo da física dos semicondutores, amplamente desenvolvida a partir dos conceitos da física
quântica e ao desenvolvimento de tecnologias cada vez mais apropriadas ás pequenas dimensões.
Grupos Compostos
I - VIII CuCI, AgBr
I – VI Cu20, CuS
I–V K Sb
II –VII AzCl2, CdCl2
II – VI Zn0, CdS, ZnS
II –V ZnSB, Mg3Sb2
II –IV Mg, Sn, Ca2Si
III –VI Ga S, In2Fe3
III – V Ga P, GaAs
IV –VI GeO2, PbS
V – VI Bi2S3
VI – VI M003
VIII – VI Fe203
I – VII – VI Cu Al S2
2 Semicondutores intrínsecos
A teoria das bandas de energia nos sólidos caracterizam os semicondutores por possuírem um
estreita banda proibida, cuja energia para ser vencida é da ordem de 0,2 a 2,5 eV. A Fig. 3.1 representa
o diagrama de níveis de energia de um semicondutor intrínseco, no qual a banda de energia livre
recebe elétrons da banda de valência, indicado, nesse caso, pela seta.
Em uma determinada temperatura T vários elétrons passam da banda de valência para a banda
de condução, originando na banda de valência um número equivalente de lacunas. Portanto, o número
de lacunas é igual ao número de elétrons livres, de forma que a concentração de lacunas p é igual à
concentração de elétrons n, resultando: n = p = ni, onde ni é a concentração intrínseca.
O germânico e o silício são os dois mais importantes semicondutores usados em dispositivos
eletrônicos. A estrutura cristalina desses semicondutores tem o formato de um tetraedro com um
átomo em cada vértice. O silício possui número atômico 14. A sua configuração atômica é.
43
1s2 2s2 2p6 3s2 3p2
Portanto o átomo de silício possui quatro elétrons de valência e sua estrutura em duas
dimensões está representada na Fig.2. Cada átomo do cristal contribui com quatro elétrons de valência
constituindo desta forma uma ligação covalente ou par eletrônico.
Si Si Si
Fig. 2 - Estrutura do cristal de silício; cada átomo
possui 4 elétrons de valência
Si Si Si
Si Si Si
Uma vez que cada elétron de valência é utilizado para ligar os átomos entre si, isto faz com
que os mesmos estejam fortemente ligados (são os elétrons de ligação), não liberando elétron livre o
que resulta em baixa condutividade. Para o silício é necessário 1,1 eV para obter o elétrons livre. Isto
produz uma quebra da ligação covalente resultando uma lacuna que irá contribuir para a
condutividade.
3 Semicondutores extrínsecos
Doadores
As impurezas doadoras caracterizam-se por terem sua banda de valência próximo à banda de
energia livre do semicondutor no qual está localizado. Desta forma essas impurezas doam seus
elétrons de valência à banda condutora do semicondutor.
Fig. 3 – semicondutor
extrínseco tipo n
n>p
Esses elétrons, por sua vez, fazem parte da condução de corrente (Fig. 3).
44
alguns átomos da rede cristalina. Quatro de seus cinco elétrons de valência farão ligações covalentes
com os átomos de silício e o quinto elétron ficará não ligado. A energia necessária para deslocar este
quinto elétron a partir do átomo é da ordem de 0,05 eV. Este elétron será utilizado como portador de
corrente. A representação no plano de um semicondutor extrínseco tipo n de silício dopado com
fósforo está indicado na Fig.4. Um campo elétrico aplicado neste semicondutor, fará com que o elétron
livre desloque, resultando uma corrente elétrica.
Si Si Si
Para cada átomo de P corresponde 1 elétron livre introduzido na rede cristalina do Si. Temos,
nesse caso, n>p. O semicondutor é tipo n.
Receptores
Outras impurezas podem introduzir níveis que se situam na banda proibida do semicondutor,
próximo de sua banda de valência. A excitação térmica fará com que os elétrons da banda de valência
do semicondutor saltem para os níveis de energia introduzidos pela impureza. São denominadas de
impurezas receptoras. No semicondutor irá surgir uma concentração de lacunas maior que de elétrons.
Temos então um semicondutor extrínseco tipo p. Em virtude do afastamento dos átomos da impureza,
os elétrons nos níveis de energia livre das mesmas não participam da corrente elétrica.
p>n
45
4 Concentração de portadores
Desta forma a densidade total de carga no semicondutor pode ser dada por:
ρ = q(p + N D - n - N R )
5 Condução de corrente
Com a quebra desta ligação resulta o aparecimento de um elétron livre (n) e de uma lacuna (p) no
semicondutor intrínseco. Como vimos, a adição de impureza em um semicondutor intrínseco irá
resultar um semicondutor extrínseco cuja energia necessária para obtenção do elétron livre será menor
que no caso do semicondutor intrínseco base. Conforme vimos a quantidade de energia necessária para
deslocar o elétron que não participa da ligação covalente, para Ge e Si, com impureza doadora é;
• Ge (extrínseco tipo n ) 0,01 eV
• Si (extrínseco tipo n ) 0,05 eV
46
A condução devido aos elétrons na banda de condução é diferente da condução devido às
lacunas na banda de valência. No semicondutor intrínseco a quantidade de elétrons é igual à
quantidade de lacunas. Shockley usa a seguinte explicação para o processo de condução nos
semicondutores. Uma garagem com dois pavimentos possui o pavimento inferior completamente
lotado de veículos e o pavimento superior completamente vazio. Nestas condições não e permitido o
movimento de nenhum automóvel no pavimento inferior. Se um automóvel é deslocado para o
pavimento superior este terá liberdade de movimento devido ao grande espaço livre. No movimento
inferior os automóveis poderão deslocar no espaço deixado pela vaga do automóvel que foi
transportado para o andar de cima. A vaga de carros no andar de baixo corresponde às lacunas.
Quando um carro move nesse andar (banda de valência), equivale ao movimento de um elétron de
ligação. Dizemos que é a vaga (portanto a lacuna) que move. O carro no andar de cima corresponde ao
elétron livre que se encontra na banda de condução. Dessa forma, a mobilidade dos elétrons livres é
maior que a mobilidade das lacunas.
Fig. 7 – deslocamento de n e p
Com essa analogia, percebe-se que a condutividade no semicondutor depende das cargas livres
existentes constituídos por elétrons e lacunas. A corrente de elétrons em um semicondutor intrísenco é
mostrada na Fig. 7, para uma temperatura acima de 0 K. Vemos a indicação do movimento de um
elétron livre (para a placa positiva) e de uma lacuna (para a placa negativa). Observe que o movimento
da lacuna trata-se na realidade do deslocamento de um elétron de valência (elétron ligado) e não de
elétron livre. Considera-se o movimento de lacunas para efeito de aplicação de equações clássicas. A
seguir faremos um estudo da corrente de deriva e corrente de difusão no semicondutor.
Corrente de deriva
Deriva refere-se ao movimento dos portadores (elétrons e lacunas) sob ação de um campo
elétrico. A corrente é dificultada pela ação térmica. A densidade de corrente em um material é:
J = nqv
onde: n = número de portadores por unidade volume
q = carga do elétron
Resulta:
47
J=σE
σ = nqv/E
A razão v/E é denominada de mobilidade elétrica do material e é constante para uma determinada
temperatura:
µ = v/E
A equação para a condutividade elétrica aplica a mobilidade dos elétrons (µn) e das lacunas (µp), cuja
unidade pode ser obtida da própria definição: sendo v(cm/s) e E(V/cm) resulta µ(cm2/v.s). Como já foi
mencionado a mobilidade dos elétrons é maior que a mobilidade das lacunas.
n = Nd
σn = qnµn
σp = qpµp
As equações acima podem ser expressas em função da densidade de corrente. Assim temos.
J = q(nµn + pµp)E
48
Jn = qnµn E
Jp = qpµp E
Corrente de Difusão
A corrente de difusão irá ocorrer sempre que partículas móveis se encontrarem distribuídas
não uniformemente em um meio. Os efeitos que podem provocar essa distribuição não uniforme
podem ser, dentre outros, variações da temperatura, luminosidade e concentração de impurezas no
semicondutor.
Fig. 8 – Semicondutor tipo p com distribuição não uniforme de partículas (a); densidade de partículas
dp
J p = - q Dp ( )
dx
(b).
dn
J n = qD n (
dx)
49
6 Deriva e difusão simultâneos e relações de Einstein
Em situações nas quais estão presentes o gradiente de concentração e o campo elétrico teremos
as correntes de difusão e deriva ocorrendo simultaneamente, de forma que Jp e Jn poderão ser escritos
da seguinte forma.
Jp = Jp (deriva) + Jp (difusão)
Jn = Jn (deriva) + Jn (difusão)
→ →
J = q(pµ p E - D p ∇p)
→ →
J = q(nµ n E + D n ∇n)
Ou então
Dp KT
=
µp q
Dn KT
=
µn q
Influência da temperatura
p = p0 + p’
n = n0 + n’
50
Onde po e no representam o valor de equilíbrio da concentração; p’e n’os portadores em excesso
gerados ou concentração em excesso; p e n são os valores da concentração total. À temperatura To (
por exemplo 300K) temos:
p = po
n = no
p = p0 + p’
n = n0 + n’
Fig.10 - Variação de n e p em um
Fig.9 - Variação de ni com a
semicondutor tipo n, em função da
temperatura para um semicondutor
temperatura.
intrínseco.
para T =To p = po = 1e n = no = 3
p = po + p’=1+2 = 3
n = no + n’= 3 + 2 = 5
51
Como para cada lacuna gerada em excesso (p’) temos um elétron em excesso (n’)
correspondente, então n’≈ p’, resultando um semicondutor quase neutro. A carga total é
aproximadamente neutra. Em condição de equilíbrio temos que o produto pn de um semicondutor é
constante para um determinado valor de temperatura, ou seja:
pn = ni2
Influência da Luz
12.400
E= (eV)
λ c
n' p'
R= ou R =
τ τ
recombinação dessas cargas pode ser:
9 O efeito Hall
Considere um cristal semicondutor percorrido por uma corrente I. Considere ainda que exista um
campo magnético H transversal ao percurso da corrente (Fig. 13). Os elétrons em movimento ficam
submetidos a uma força magnética e são deslocados para uma das superfícies do cristal, dependendo
do sentido relativo entre o campo magnético e a corrente. Entre as duas superfícies opostas surge,
como conseqüência, uma ddp denominada de tensão de Hall (VH).
VH H I corrente convencional
++++++++++++
Fig. 13 – Efeito Hall
O efeito Hall pode ser utilizado em instrumentação como no caso de medição de campo. Pode-se ainda
determinar se um semicondutor é tipo n ou p. A Fig. 13 indica o tipo n. Para o tipo p a polaridade da
tensão seria invertida.
Para o semicondutor intrínseco o N.F. está no meio da Banda Proibida (também denominada
Gap). O número de n e de p depende da temperatura, porém, no intrínseco n=p.
53
Fig. 14 – N.F. [EF] no semicondutor intrínseco
A 300oK temos algumas lacunas na BV e alguns elétrons na BC. Todavia, 50% dos estados ocupados
(dos elétrons) têm energia igual a EF.
Se no semicondutor tipo n aumentamos a temperatura, o N.F. pode baixar, pois a BV irá injetar
elétrons para BC e consequentemente aumentam as lacunas na BV (Fig. 16). EF, nesse caso, tende a
equivaler a EI. Compare o que ocorre na Fig. 16 com o que ocorre na Fig. 10. Nos dois casos observe
que quando a temperatura aumenta, aumentam os pares elétron-lacunas no material.
54
Figura 16 – Deslocamento do N.F. com o aumento da temperatura no tipo n
Para uma melhor compreensão da relação de portadores com a temperatura, vamos fazer uma
analogia com a atmosfera terrestre em que o número de partículas na atmosfera descresse
exponencialmente com a altura.
n = n0 e-V/KT
A concentração de n e de p é:
n = ni e (EF – EI)/KT
p = ni e(EI – EF)/KT
Para EF = EI, ou seja, para um semicondutor intrínseco em que EF = EI, temos n = ni.
2 (E F - E I ) + E I - E F )
np = n i e KT
2
55
np = n i
Para um semicondutor intrínseco ou extrínseco podemos escrever as concentrações de elétrons livres
ou lacunas de acordo com as equações.
n = N c e - (E c - E F ) / KT
p = N V e -(E F - E V ) / KT
2
np = n i
então :
- (E C - E F ) - (E F - E V )
np = N C N V e
KT
np = N C N V e -(E C - E V ) / KT
np = N C N V e -E G / KT
N C = K 1T 3 / 2
N V = K 2T 3 / 2
Então :
N C N V = K 1 K 2T 3 = KT 3
2
n i = A 0T 3 e -E G /KT
Fazendo K = Ao:
56
11 Materiais com propriedades semicondutoras
Germânio
Silício
Apresenta a rede cúbica do tipo do diamante. É um dos elementos mais abundantes na crosta
terrestre, 26% aproximadamente. Amplamente utilizado na fabricação de dispositivos semicondutores,
o silício pode ser empregado em níveis de temperatura mais elevado que o germânio. A maioria dos
circuitos integrados (CI) usados na microeletrônica são construídos com pastilhas de silício grau
eletrônico.
Varistores
Um composto de elementos usado como vartistor é o SiC que apresenta a seguinte composição
estequiométrica: 70,00% de Si e 30% de C (em massa). Raramente encontrado na natureza pode ser
obtido em fornos. Com adição de impurezas pode ser semicondutor do tipo n ou p. Para o SiC a
característica tensão-corrente do varistor é não linear.
Fig. 14
Característicatensão-
corrente do SiC.
(b)
(a) Pára-raios
GaAs
A largura da banda proibida do GaAs é maior que a do Ge e do Si, sendo também maior a
mobilidade de seus elétrons. Estas características são importantes na fabricação de circuito integrado
de alta qualidade. Apresenta também uma característica interessante quanto ao retorno dos elétrons
para a banda de valência, processo no qual há a emissão de luz em contraste com a liberação de
energia calorífica resultante no Ge e Si.
57
TABELA 3 – dados para o Ge e o Si
PROPRIEDADES Ge Si
Número atômico 32 14
Peso atômico 72,6 28,1
Densidade, g/cm3 5,32 2,33
Constante dielétrica rel. 16 12
Átomos/cm3 4,2 x 1022 5,0 x 1022
Wg, eV a 300K 0,72 1,12
Constante A (300K) 1.83 x 1021 7,96 x 1021
Resistividade intrínseca, Ω.cm a 300K 45 230.000
µn , cm2/V.s a 300K 3.800 1.300
µp , cm2/V.s a 300K 1.600 500
Ni, cm-3 a 300K 2,5 x 1013 1,5 x 1010
12 Diodo de junção pn
O diodo é um dispositivo constituído por uma junção de material semicondutor p e n (ver Fig.
15). No lado p as impurezas receptoras são indicadas por um círculo em branco (íon negativo) e no
lado n as impurezas doadoras são indicadas por um círculo com um sinal + (íon positivo). São
representados também os elétrons e as lacunas (indicado na Fig 15). Existe uma região na junção pn
denominada ‘região de carga espacial’ ou ‘região de deplexão’. Nessa região os elétrons e as lacunas
se recombinam. Como resultado desse processo de recombinação pn, surge uma densidade de carga
negativa no lado p e positiva no lado n, devido às impurezas receptoras (NR -) e doadoras (ND +).
Haverá, dessa forma, um campo elétrico interno (Ei) na camada de deplexão.
Tipo p Tipo n
lacuna(p) elétron(n)
58
Devido ao campo elétrico interno há uma barreira de potencial para lacunas que impede o livre fluxo
das lacunas (p) para o lado n e uma barreira de potencial de elétrons que impede o livre fluxo dos
elétrons (n) para o lado p. Na condição em que não há polarização externa não ocorre fluxo de cargas
na região de deplexão. O fluxo de carga através dessa região surge quando o diodo for polarizado. O
diodo pode ser polarizado por uma fonte cc de duas maneiras: polarização direta e polarização reversa.
Polarização direta
lado p lado n
-Vp -Io Vi v
Reversa Direta
59
Polarização reversa
Na polarização reversa o terminal positivo fica ligado no lado n e negativo no lado p. Neste
caso, à medida que a tensão da fonte cc aumenta, o campo elétrico aplicado no diodo aumenta no
mesmo sentido do campo elétrico interno Ei. As lacunas são atraídas para o terminal positivo e os
elétrons para o terminal negativo. Como consequência a largura da camada de deplexão aumenta.
Dessa forma, não há circulação de portadores majoritários na junção e não há corrente no diodo, i.e., o
diodo não conduz corrente. Porém, os portadores minoritários (elétrons no lado p e lacunas no lado n)
fluem através da junção constituindo uma corrente de minoritários (Io). Se a tensão inversa aplicada
ultrapassar um determinado valor (Vp) – denominada de tensão de pico inversa ou de ruptura – ocorre
um aumento súbito da corrente inversa gerando um avalanche no diodo. Isso ocorre devido ao
processo de colisão das cargas com os átomos do cristal que vão arrancando mais portadores e
produzindo o avalanche de cargas que pode danificar o diodo por excesso de calor.
Na junção pn sem polarização o N.F. indica o mesmo patamar para n e p (Fig. 17). Ao
polarizar o diodo diretamente, ocorre um desequilíbrio entre os dois lados, com o N.F. (n) ficando
acima do N.F. (p). Como conseqüência os elétrons fluem de n para p. Na polarização reversa o
desequilíbrio do N.F. entre os dois lados impede esse fluxo.
p n p n
NF
desnível (NF)
Modelo do diodo
O diodo ideal pode ser modelado como uma chave aberta na polarização reversa e fechada na
polarização direta. Na polarização direta, o diodo apresenta uma tensão de limiar (Vi) que é
representado, no modelo do circuito equivalente, por uma fonte cc em oposição ao fluxo da corrente
(indicada por Vi). No Diodo real há também uma resistência R que limita a corrente e que produz a
inclinação da reta do diodo. O modelo do diodo é indicado na Fig. 18. Na polarização direta é
representado um circuito com uma chave fechada com a fonte Vi e resistência R.
+ -
Vi R
60
Corrente no diodo
I = Io [e kV/T – 1]
Observe que V pode ser positiva (na polarização direta) ou negativa (na polarização reversa).
Observe ainda que para V = 0, I = 0. Para V positivo e valor acima de Vi, a corrente tem forma
exponencial. Para V negativo (antes de atingir –Vp) I = Io.
LED e fotodiodo
O LED (light emitting diode) é uma junção pn que é polarizada diretamente. Nesse caso, os
elétrons, ao recombinarem-se com as lacunas, emitem radiação eletromagnética na freqüência da luz
visível. Já o fotodiodo é uma junção pn polarizada reversamente. Neste caso, o fotodiodo conduz
apenas quando recebe radiação eletromagnética na junção, devido á geração de portadores p e n.
Célula fotovoltaica
Uma junção pn constituída com dopagem adequada, ao receber luz (fótons com determinada
frequência), produz pares elétrons-lacunas. Os terminas operam como uma bateria podendo produzir
uma corrente elétrica em um circuito fechado. A descrição detalhada dos dispositivos descritos acima
fica indicada como pesquisa complementar.
QUESTÕES
61
10. Explicar: a) corrente de deriva; b) corrente de difusão.
11. Explicar como a luz e a temperatura influenciam a condutividade dos semicondutores.
12. Explicar o funcionamento do diodo de junção pn.
13. Comparar os metais com os semicondutores considerando: a) influência da temperatura; b)
influência das impurezas; c) influência da luz.
62
4
DIELÉTRICOS
Neste capítulo abordamos o estudo dos materiais dielétricos destacando os seguintes pontos:
polarização, condução de corrente, perdas e perfuração nos dielétricos. O tema é complementado com
diversas aplicações dos dielétricos na engenharia elétrica. O estudo da polarização visa destacar como
esse fenômeno ocorre nos dielétricos e quais suas implicações para a aplicação desses materiais sob
campo elétrico. As características dos capacitores, tanto para eletrônica quanto para aplicações em
tensões elevadas, especialmente o valor da capacitância, relacionam-se ao fenômeno da polarização. O
estudo da condutância tem como foco a compreensão desse fenômeno nos isolantes elétricos e suas
implicações para as redes elétricas e equipamentos. As perdas constituem um ponto importante a ser
considerado na qualidade dos dispositivos e dos equipamentos e das instalações elétricas (de baixa e
de alta tensão). A perfuração é importante na segurança das instalações e dispositivos elétricos, tanto
para as pequenas tensões quanto para as tensões elevadas. Esses conceitos constituem uma base
essencial para a compreensão das características dos materiais dielétricos e suas aplicações nos
dispositivos e equipamentos eletroeletrônicos.
Aspectos teóricos e fundamentos conceituais dos dielétricos que deverão ser compreendidos:
- polarização: conceito, tipos e grandezas físicas relacionadas à polarização;
- condução de corrente: tipos de correntes e fatores que interferem na condutividade nos dielétricos;
- perdas: conceito, tipos e métodos de redução;
- perfuração: rigidez dielétrica e tipos de perfuração nos gases, líquidos e sólidos.
1 Dielétricos e isolantes
Dielétricos são materiais que polarizam quando submetidos à presença de um campo elétrico.
Existem, no entanto, alguns materiais que polarizam sob determinadas condições, mesmo sem a
presença de campo elétrico. Geralmente os dielétricos e isolantes são tratados como equivalentes,
porém esses termos apresentam diferenças conceituais. Os isolantes são dielétricos que apresentam
resistividade elétrica elevada. Isso significa que, na prática, um dielétrico que tenha características de
isolante elétrico impede a passagem de corrente elétrica significativa pelo material, até o limite de
determinado valor de campo elétrico. Normalmente usa-se simplesmente o termo “isolante elétrico”
para esses materiais. Portanto, um material pode ser um bom isolante até um determinado valor de
campo. O valor crítico de campo elétrico que um material isolante suporta sem perfurar é definido pela
rigidez dielétrica do material. Alguns dielétricos podem suportar altos valores de campo elétrico sem
conduzir praticamente nenhuma corrente elétrica, enquanto outros materiais dielétricos conduzem
correntes mesmo quando submetidos a pequenos campos elétricos. Além do valor do campo elétrico,
outros fatores interferem tanto na polarização quanto na condutância dos materiais dielétricos, tais
como a temperatura, a poluição, a umidade, a pressão etc.
No presente capítulo o estudo dos dielétricos com foco nos materiais para uso na área
eletroeletrônica abrange os seguintes tópicos: 1) a polarização dos dielétricos e os parâmetros físicos
que envolvem a avaliação da polarização; 2) a condução de corrente nos dielétricos e os parâmetros
relacionados à condutividade elétrica com foco principalmente nos isolantes elétricos; 3) as perdas
dielétricas, os tipos de perdas e os parâmetros físicos relacionados às perdas; 4) a perfuração dos
dielétricos, os tipos de perfuração e os parâmetros físicos relacionados. Ao final desse capítulo há um
destaque para aplicações dos dielétricos não lineares, cristais líquidos e fibra optica.
+- +- -+ -+
+ + _
-+ -+ -+ -+
Fig. 1 – Dielétrico sem campo externo (a); dielétrico sob campo elétrico externo (b)
Cada par [+ -] constitui um dipolo elétrico que pode ser dado por um vetor p indicado do lado
negativo para o positivo:
p=q.d
Na Fig. 1b há um campo elétrico externo aplicado nas placas. Como consequência as cargas
elementares do dielétrico sofrem uma ordenação, com o lado negativo indicado para a placa positiva e
o lado positivo para a placa negativa. Neste caso as cargas do dielétrico se somam resultando uma
polarização P que será a somatória dos vetores p num volume infinitesimal.
n ∆V
P = lim [1 / ∆V] Σ pi
∆V 0 i=1
A unidade de P é C/m2.
64
3 Vetores E, P e D
Na Fig.2 temos duas placas paralelas (como em um capacitor) com área A e uma distância d
entre si. Entre as placas há vácuo. Uma fonte de tensão V é ligada aos terminais de cada lado
produzindo um campo elétrico externo V = E/d. Surge um fluxo elétrico φ entre as placas carregadas.
Supondo que as linhas de fluxo são paralelas e sem dispersão, temos uma densidade de fluxo Do= φ/A.
Assim como o fluxo, a densidade é proporcional ao campo elétrico E cujo valor da constante de
proporcionalidade é εo. Dessa forma o valor de Do (no vácuo) é:
Do = εo E
+ -
_ P +
+ - + -
+ - + _ +-
+ -
Ao introduzir um dielétrico entre as placas sem alterar a configuração das mesmas e sem mudar o
valor da tensão V aplicada, irá surgir uma polarização no dielétrico e, consequentemente um vetor P.
A nova densidade de fluxo nas placas será acrescida do vetor P:
D = εo E + P
Observe que a densidade de cargas nas placas aumenta quando existe o dielétrico e é proporcional à
densidade de cargas polarizadas no dielétrico.
D=εE
P = χeεo E
εr = ε / εo
ε E = εoE + P
Ou ainda:
ε E = εoE + χeεo E
65
Dividindo os dois termos da equação acima por εo,obtemos:
εr = 1 + χe
Os dados da Tabela 1 são válidos para a temperatura ambiente (300K) e em condições tais que o
campo não varia com o tempo. A rigidez dielétrica no vácuo não é avaliada, pois não existe meio
material para perfuração. A rigidez dielétrica no óleo mineral depende do grau de pureza e da
densidade do mesmo, além da temperatura e pressão.
4 Capacitância
C = ε [A/d]
C = εr εo [A/d]
Q = Qo + QD
onde Qo é a carga nas placas sob vácuo e QD é a carda devido à polarização do dielétrico.
Quando um dielétrico é polarizado surge um campo elétrico ED oposto ao campo externo aplicado
(Fig. 3). O campo resultante no interior do dielétrico é E = E(ext) + ED.
66
- ED +
+ _
- E +
E(ext)
Os dielétricos podem ser subdivididos em duas classes: polar e não-polar. Uma molécula não-
polar apresenta uma disposição geométrica das cargas de modo a não ocorrer uma resultante em um
determinado sentido. Temos como exemplo o CO2 (que apresenta um centro de simetria) e a molécula
de benzeno. Quando a disposição geométrica das cargas na molécula apresenta uma resultante temos
uma molécula polar. É o caso de H2O (água) e KI. O iodeto de potássio constitui o exemplo típico de
um dipolo elétrico.
6 Tipos de polarização
1 – Polarização eletrônica: consiste da alteração da disposição da camada eletrônica dos átomos sob
campo elétrico. Ocorre em um tempo de aproximadamente 10-15 s, não há perdas por aquecimento e
está presente em todos os dielétricos.
2 – Polarização iônica: consiste no deslocamento parcial dos íons em um sólido de estrutura iônica
quando um campo elétrico é aplicado. O tempo de polarização é da ordem de 10-13 s e produz perdas.
3 – Polarização dipolar: consiste na orientação das moléculas dipolares de um líquido sob influência
do campo elétrico externo. O tempo de estabelecimento da polarização depende das características do
líquido dipolar assim como da temperatura. Resulta em perdas. A Fig. 1 ilustra um caso típico de
polarização dipolar.
Um mesmo material pode estar sujeito a mais de uma dessas polarizações simultaneamente, o que
pode depender da temperatura e da frequência do campo. Cada tipo de polarização contribui
separadamente com um valor de εR.
67
Polarização nos gases
Os gases apresentam moléculas distantes entre si, o que resulta em uma constante dielétrica relativa
próxima da unidade. A temperatura e a pressão interferem na constante dielétrica do gás. Maior
pressão implica em maior quantidade de moléculas por unidade de volume, portanto maior εr. Maior
temperatura implica em maior vibração térmica das moléculas, portanto menor εr. Como está indicado
na Tabrela 1, εr do ar é 1,00054 o que na prática, indica que o ar equivale ao vácuo em termos de
efeito da polarização.
Os líquidos podem ser polar ou não-polar. As curvas da Fig. 4 indicam a variação da constante
dielétrica em função da frequência e da temperatura para líquidos não-polares e polares. Para um
líquido não-polar, quando este entre em ebulição, εr fica próximo de 1. Para líquido não-polar εr não
varia com a frequência. Para líquido polar a constante dielétrica consiste na somatória de dois tipos de
efeitos de polarização: ε = εE + εD, i.e. polarização eletrônica e polarização dipolar. Para um campo
elétrico variável, quando a frequência aumenta a ponto de impedir o efeito da polarização dipolar,
devido á intensa vibração das moléculas, fica apenas o efeito da polarização eletrônica. Para líquido
polar, o aumento da temperatura implica no aumento da viscosidade assim como no aumento da
vibração térmica, resultando uma curva em que εr aumenta até determinado valor e depois decai.
ε ε ε ε
T f f T
não-polar polar
Fig. 4 – Constante dielétrica em função da frequência e da temperatura pra líquido não-polar e polar.
O gráfico é linearizado e considera valores genéricos de T e f.
A constante dielétrica dos líquidos não-polares varia em torno de 2 a 2,5. Estes são valores ideais para
aplicação como líquidos isolantes em campo variável (ca) desde que a rigidez dielétrica seja
compatível.
A constante dielétrica nos sólidos pode apresentar valores diversos dependendo da estrutura do sólido.
Nos sólidos podem ocorrer vários tipos de polarização. Apresentamos alguns casos típicos como
segue. Parafina (molécula não-polar): εr = 2,2; NaCl (iônica): εr = 6; celulose (orgânico): εr = 6,5;
BaTiO3 (ferroelétrico): εr = 1500. Os ferroelétricos são materiais da classe de dielétricos não-lineares e
apresentam características e aplicações especiais.
Considere a Fig. 5 que representa um circuito com uma fonte de corrente contínua em kV
aplicando tensão em um corpo de prova (um material isolante entre duas placas) no qual é possível
medir a variação da corrente no instante em que a chave é fechada. A corrente que pode ser observada
é indicada no gráfico de ixt. Inicialmente a corrente decai exponencialmente (corrente de polarização)
até estabilizar num determinado valor constante (corrente de fuga).
68
i
kV iP R C
iF
A corrente de polarização corresponde ao aumento das cargas nas placas até que essas fiquem
totalmente carregadas. A variação da corrente ocorre devido ao aumento gradual das cargas,
equivalente ao que ocorre em um capacitor ao se polarizar. A corrente de fuga ocorre devido à
presença de cargas livres no dielétrico e corresponde à corrente em um resistor. Portanto, IP equivale a
IC e IF equivale a IR. A corrente de fuga, por sua vez, divide em corrente superficial e volumétrica. A
corrente superficial depende de vários fatores tais como as características da superfície do dielétrico
(rugosidade, presença de impurezas, presença de líquidos etc) e do meio ambiente (pressão,
temperatura, umidade relativa do ar etc). A corrente volumétrica corresponde à corrente no interior do
material e da mesma forma depende de suas características como porosidade e impurezas além de
fatores ambientais como a temperatura.
Assim como a corrente de fuga se divide em volumétrica e superficial, a resistência pode ser
considerada também a partir desses parâmetros em volumétrica (RV) e superficial (RS):
RV = ρV [L/AV]
RS = ρS [L/LS]
A partir do modelo RC paralelo do dielétrico pode-se obter a constante de tempo τ = RC, que
corresponde ao tempo durante o qual o capacitor é carregado.
τ = RC = ρ εr εo
A constante de tempo é maior quanto maior forem R e C. Se R é grande, implica que a corrente
demora a descarregar pelo resistor. Se C é grande, implica que gasta-se muito tempo para descarregar
toda a carga armazenada no capacitor.
9 Isoladores elétricos
69
geometria (denominada de “saias”) cuja função é aumentar a resistência superficial, reduzindo a
corrente de fuga superficial que, por sua vez, depende dos fatores externos tais como poluição, chuva e
umidade. Essa geometria tem também a função de dispersar as linhas de campo elétrico no isolador,
reduzindo as descargas elétricas superficiais, especialmente quando o mesmo é submetido à
sobretensão. A Fig. 6 apresenta imagem de isolador de porcelana onde podemos observar detalhes das
“saias” com as funções acima descritas.
ρ Material não-polar
Material polar sem poros
Material polar com poros
Umidade relativa do ar
10 Perdas dielétricas
IR
IC Fig. 8 – Diagrama
fasorial para um
δ I
dielétrico com modelo RC
paralelo
V
70
A corrente de fuga é I = IC + IR. Consideramos, no modelo RC paralelo, os elementos ideais.
No capacitor a corrente está adiantada 90o da tensão e no resistor a corrente está em fase com a tensão.
O ângulo entre I e IC é o ângulo de perdas dielétricas δ. Definimos a tangente desse ângulo como
tangente de perdas dielétricas:
tgδ = IR / IC
O valor de δ é maior quanto maior for a IR. Desta forma, se IR for zero, o que caracteriza uma situação
ideal, as perdas serão nulas. Maior δ significa maiores perdas dielétricas. O inverso da tgδ é o fator de
qualidade do dielétrico:
Q = 1/tgδ
P = VIR = V IC tgδ
P = V2 wCtgδ
A equação das perdas acima indica que os fatores que interferem nas perdas dielétricas são
relacionados ao material assim como ao campo elétrico. Quanto ao material considera-se parâmetros
como a tgδ e a capacitância. Em relação ao campo a intensidade e freqüência influem também no valor
das perdas. A tgδ e a capacitância, por sua vez, são dependentes da freqüência do campo.
A corrente de fuga (IF) nos dielétricos surge devido à presença de cargas elétricas no material que
podem ser internas (IV) ou na superfície (IS). Fatores externos tais como temperatura, umidade e
presença de impurezas (devido à poluição ou à maresia, por exemplo) podem aumentar as correntes de
fuga e, portanto, as perdas. Pelo modelo RC paralelo o aumento de IF implica no aumento da tgδ.
Fatores externos, como a poluição, aumentam a corrente de fuga superficial e, consequentemente, as
perdas. Nos equipamentos elétricos essas perdas podem ser reduzidas mediante procedimentos de
manutenção adequada nas partes isolantes da rede e dos equipamentos.
São perdas que ocorrem nos dielétricos de estrutura dipolar e iônica. A vibração térmica dos dipolos
elétricos e íons, sob ação de corrente alternada, produzem dissipação de energia e aquecimento. Existe
um valor característico de frequência de campo para o qual a vibração é máxima e, portanto, a perda é
máxima. A temperatura também interfere nessas perdas. Como as perdas são proporcionais à tgδ,
existe uma temperatura para a qual a tgδ é máxima, que corresponde ao valor máximo de vibração dos
dipolos.
71
3 – Perdas por ressonância
Estas perdas ocorrem quando a frequência do campo fica próxima à frequência natural de oscilação
das cargas no dielétrico. Para cada tipo de material existe uma frequência natural de oscilação que
caracteriza o máximo de perdas por ressonância.
São típicas de dielétricos no estado gasoso e ocorrem quando o campo elétrico aplicado produz o
início da ionização no gás. Seu efeito mais prejudicial pode ocorrer em dielétricos sólidos com poros
contendo gás. Nesses poros surgem descargas parciais que produzem desgastes no interior dos poros
podendo resultar em danos para os materiais. Nas redes elétricas as perdas por ionização no ar
resultam no fenômeno denominado Efeito Corona que implica em perdas na rede. Os fatores resultam
em aumento do Efeito Corona relacionam-se à geometria do campo elétrico (entre fases e fase-terra), à
superfície do cabo (que pode ser lisa, com pequenas pontas, com curvatura irregular etc), à umidade
(como acúmulo de gotas de água na superfície do cabo), às impurezas depositadas no cabo (poluição,
maresia etc) dentre outros fatores. Efeitos similares podem ocorrer nos isoladores elétricos.
Existe um valor de campo elétrico para o qual os dielétricos perdem suas características
isolantes e passam a conduzir correntes abruptamente. Nesses casos o material sofre uma perfuração.
O valor do campo que produz a perfuração do isolante é denominado de rigidez dielétrica e é dado
por:
ED = VR / d
Onde VR é a tensão de ruptura do material e d é a distância entre as placas onde o campo elétrico é
aplicado.
A fig. 9 indica dois eletrodos com distância d e um dielétrico entre os mesmos. O gráfico de ixV
indica que a perfuração ocorre quando a tensão atinge o valor de ruptura (VR) e a corrente aumenta
subitamente entre as placas.
V
+ - kV VR
Fig. 9 – Dielétrico (isolante) entre dois eletrodos e curva ixV indicando a perfuração
72
13 Perfuração nos gases
Em muitas situações nas instalações elétricas e nos equipamentos elétricos o ar é usado como
isolante. A rigidez dielétrica do ar é, no entanto, inferior à de diversos outros gases assim como
inferior à dos líquidos e sólidos de uma maneira geral. Quando um gás é submetido a um campo
elétrico, há a liberação do elétron livre no catodo que pode ocorrer com os fenômenos de emissão de
campo ou emissão termoiônica. Dessa forma os íons e elétrons livres no meio gasoso adquirem uma
energia adicional dada por:
W = q.Vx
Onde q é a carga do elétron e Vx é a tensão ao longo do espaço livre percorrido x. Sendo o campo
homogêneo a intensidade de campo é:
E = Vx / x
Resulta:
W = q.E.x
Se o deslocamento das partículas (elétrons e íons) no espaço livre resultar em um valor de energia W
maior que a energia de ionização do gás (Wi), pode ocorrer excitação ou ionização das moléculas do
gás com conseqüente produção de fótons e/ou mais elétrons livres no meio gasoso. Esse processo
tende a acelerar até um fenômeno de avalanche que caracteriza a perfuração do gás. Nos meios
gasosos esse fenômeno é caracterizado como arco voltaico, que consiste em um meio de alta energia
produzindo altas temperaturas e desgaste dos materiais envolvidos no processo.
A rigidez dielétrica dos líquidos é muito maior que a dos gases em condições normais. A
perfuração nos líquidos pode ser de três tipos, conforme descrito a seguir.
1 - Perfuração eletrônica
De forma semelhante ao que ocorre nos gases este processo de perfuração desenvolve devido à
existência de elétrons livres que adquirem energia suficiente para ionizar as moléculas do líquido. A
liberação do elétron livre no catodo pode ocorrer com os fenômenos de emissão de campo e emissão
termoiônica. Observa-se que um dos fatores que eleva o valor da tensão de ruptura dos líquidos, em
relação aos gases, é o fato das moléculas dos líquidos estarem mais próximas entre si que a dos gases.
Este efeito está relacionado com a formação de bolhas no líquido. Quando surge uma bolha
esta tenderá alongar-se na direção do campo de forma a minimizar a energia potencial sob ação do
campo. O formato adquirido pela bolha facilitará a perfuração do líquido. A Fig. 10 indica uma bolha
normal que não está submetida à ação do campo elétrico e o efeito na bolha sob ação do campo que
caracteriza o processo de perfuração.
73
Fig.10 - Bolha em um líquido sem campo elétrico e alongamento da bolha sob efeito do campo
elétrico.
Se o líquido apresenta partículas suspensas, essas partículas serão polarizadas sob ação do
campo elétrico mediante ação de uma força que tenderá a alinhá-las entre os dois eletrodos. Desta
forma as partículas formarão uma ponte entre os dois eletrodos podendo constituir um caminho para a
perfuração do dielétrico líquido. A Fig. 11 representa esquematicamente esse fenômeno. A presença
de umidade é também um fator determinante na perfuração de um líquido isolante. A Fig. 12 indica a
variação da rigidez dielétrica do óleo mineral isolante com a temperatura, considerando o óleo puro
(curva 1) e o óleo com umidade (curva 2).
Fig. 11- Efeito das partículas suspensas no líquido sob campo elétrico.
74
15 Perfuração nos dielétricos sólidos
1 - Perfuração elétrica.
Esta perfuração desenvolve-se por um processo puramente eletrônico, no qual poucos elétrons
livres iniciais criam no sólido um avalanche eletrônico. Caracteriza-se por desenvolver muito
rapidamente (10-7 a 10-8 s). A movimentação dos elétrons resulta dissipação de energia na rede
cristalina. Os elétrons que alcançam uma velocidade crítica determinada arrancam novos elétrons o
que significa produzir no sólido uma ionização por choques com elétrons. Observa-se que em
materiais com maior energia de ligação da rede cristalina a tensão de ruptura é maior. Em monocristais
de estrutura uniforme, como alguns polímeros, Ed atinge valor muito elevado.
2 - Perfuração térmica
A perfuração térmica ocorre devido ao aquecimento do material sob ação do campo elétrico,
atingindo valores de temperatura correspondente às perdas de suas propriedades isolantes com o
correspondente aumento da condutância transversal e das perdas dielétricas. Os dielétricos orgânicos
apresentam valores mais baixos de tensões de ruptura correspondente à perfuração térmica que os
inorgânicos. Para calcular a tensão de perfuração térmica do dielétrico deve-se considerar sua tgδ e
constante dielétrica em função da temperatura. Alguns materiais acusam crescimento brusco da tg δ
quando a temperatura ultrapassa 20 a 300C. Outros materiais já apresentam a variação da tgδ dentro do
intervalo amplo de temperatura (150 - 2000C). A perfuração térmica irá ocorrer em torno destes
valores de temperatura. A temperatura de aquecimento de um isolador se estabelece quando o calor
desprendido é igual ao calor transferido ao meio ambiente. Para os sólidos existe uma classificação em
“classe de isolamento” que indica a temperatura que o material pode ser submetido sob campo elétrico
sem causar danos ao mesmo.
Alguns tipos de isolantes apresentam cavidades ou poros contendo gases com menor valor de
tensão de ruptura que o sólido. A constante dielétrica do material dos poros é normalmente menor que
a constante dielétrica do isolante sólido, o que causa uma intensidade de campo maior nos poros. Essa
característica dos sólidos pode resultar em um fenômeno denominado de descargas parciais. A Fig. 13
indica o efeito do poro no interior de um sólido, considerando-se os parâmetros D, E e P.
75
Fig. 13 – Vetores D,E,P em um dielétrico com poros, sendo ε = constante dielétrica do sólido e ε1=
constante dielétrica no poro.
D
E = campo eletrico no solido
ε
D
E1 = campo eletrico no poro
ε1
Se ε > ε1 , então
E < E1
Sob condições normais de trabalho a tensão na cavidade pode exceder o valor de ruptura do dielétrico.
Podemos propor um modelo para um circuito que represente a situação do dielétrico acima, conforme
Fig. 14.
76
C = capacitância do dielétrico;
ε 0 ε r1 E1 = ε 0 ε r E
ε r 1 E1 = ε r E
V1 V
= εr para d1 << d
d1 d
Sob uma tensão V, quando V1 alcança o valor de ruptura na cavidade irá ocorrer descarga elétrica
nesta cavidade. A Fig. 15 mostra a sequência de descargas sob tensão alternada senoidal na cavidade.
A linha pontilhada indica a tensão (V1) que apareceria na cavidade se não houvesse descarga. Assim
que V atinge o valor V1 a descarga ocorre e a tensão cai. Novamente a tensão na cavidade aumenta até
V1 quando então ocorre nova descarga. Portanto diversas descargas ocorrerão. Teremos então pulsos
de corrente positivos e negativos dentro da cavidade.
Alguns elétrons colidindo no anodo podem ter energia suficiente para quebrar as ligações
químicas do sólido na superfície. De forma análoga, bombardeios no catodo por íons positivos podem
causar danos pelo aumento da temperatura e produção de instabilidade térmica local. Como resultado
dessas descargas haverá uma degradação química com consequente produção de 03 e N02, aumentando
assim das perdas dielétricas. Esta deterioração da malha produz descargas parciais no material e
consequentemente reduz a espessura do sólido até resultar em sua total perfuração. O tempo para
ocorrer a perfuração por descargas parciais pode ser de poucos dias ou vários anos.
77
Fig. 15 - Sequência de descargas em uma cavidade sob tensão alternada.
A Tabela 2 indica o valor da rigidez dielétrica de alguns materiais sólidos na frequência de 50Hz.
Dielétricos lineares são caracterizados pelo fato de sua polarização P ser diretamente
proporcional à intensidade do campo dielétrico E, isto é:
P = χE εoE
Sendo ε0 constante e χE susceptibilidade dielétrica. Nos dielétricos não-lineares essa relação entre P e
E não obedece, como o próprio termo indica, a uma relação linear i.e., χE varia com o campo. Os
principais dielétricos não-lineares são descritos a seguir.
Ferroelétricos
Este tipo de dielétrico apresenta as seguintes características:
78
a) histerese sob ação de uma tensão alternada, semelhante ao ciclo de histerese magnético, no que se
refere à relação entre carga e tensão aplicada;
b – alto valor de permeabilidade ε;
c - suas propriedades variam significativamente com a temperatura;
d – pode ocorrer polarização espontânea sem presença de um campo elétrico atuando no dielétrico.
Portanto, o comportamento dos ferroelétricos sob ação de um campo elétrico, assemelha-se ao
dos ferromagnéticos sob ação de um campo magnético. Exemplo de ferroelétrico: sal de La Rochelle
(Na K C4 H4 )6 . 4H2 0) e Ba Ti 03. A polarização espontânea nos ferroelétricos desaparece em certas
temperaturas, denominada ponto de Cúrie do ferroelétrico. Equivale dizer que a constante dielétrica ε
varia com a temperatura.
Electreto
Um electreto é um dielétrico que conserva sua polarização por um longo tempo depois de ter
sido retirado o campo dielétrico que produziu esta polarização. Podemos fazer analogia com os
materiais magnéticos que permanecem magnetizados mesmo depois de retirado o campo magnético.
Piezoelétricos
Quando um cristal não possui um centro de simetria, ou seja, o cristal não apresenta
distribuição simétrica dos átomos, este cristal pode ser polarizado por deformações mecânicas devido
ao deslocamento dos íons. Os cristais piezoelétricos aplicam-se em transdutores que transformam
energia elétrica em mecânica e vice-versa, em microfones, acendedor de chamas , etc.
A Fig. 16 mostra um cristal com centro de simetria que não apresenta a característica de
piezoeletricidade e um cristal sem simetria que, submetido a uma deformação mecânica irá provocar o
aparecimento de um pulso de tensão devido à energia fornecida aos íons assimetricamente
distribuídos.
Fig. 16 - Piezoeletricidade
79
Cristal líquido
Os cristais líquidos constituem uma classe de materiais denominados eletro-ópticos. O efeito
eletro-óptico aparece em função de uma alteração na permissividade da substância sob ação de um
campo elétrico. O cristal líquido foi descoberto em 1888, porém aplicado comercialmente cerca de 100
anos depois. Estas substâncias apresentam um estado intermediário entre líquido e sólido, com as
propriedades específicas dos cristais (anisotropia) e dos líquidos (fluidez). O estado característico do
cristal líquido depende da temperatura. Abaixo de uma determinada temperatura o material poderá
apresentar-se no estado sólido, acima de uma determinada temperatura no estado líquido. Na fase
cristal-líquido em que a substância apresenta uma fase intermediária de transição é denominada
mesofase.
A molécula do cristal líquido apresenta uma forma alongada. Assim para a molécula de p-
metoxibenzilidene-p-n-butyl-anilina, cuja mesofase corresponde à faixa de temperatua de 22 a 480C,
tem a forma.
De acordo com sua estrutura classificam-se os cristais líquidos em: nemático - as moléculas alongadas
são dispostas enfileiras; sméctico - as moléculas são orientadas em camadas ou em grupos; colestérico
- as moléculas são dispostas em camadas porém orientada na forma de espiral. Fig. 17.
O cristal ácido n-heptyl-oxienzóico varia de fase com relação à temperatura da seguinte forma:
80
Fig. 18 - Índice de refração versus temperatura para o p-azoxy-anizole
Vidro
O vidro é uma substância amorfa constituída por sistemas complexos de diversos óxidos. A
densidade do vidro varia de 2000 a 8000kg/m3 e a resistência à compressão é muito maior que à
tração. Como se trata de um composto amorfo o vidro não apresenta uma temperatura de fusão em
definida. Ao aquecer a viscosidade diminui paulatinamente, começando a deformar entre 400 e
16000C. Quando se aquece ou esfria o vidro repentinamente, aparecem tensões mecânicas que tendem
a quebrá-lo, devido à irregularidade de distribuição de temperatura através do material. A maioria dos
vidros é transparente aos raios visíveis do espectro eletromagnético. Havendo impurezas de óxido de
ferro o vidro absorve os raios ultravioletas. O índice de refração varia entre 1,47 e 1,96. Vidros de
peso atômico pequeno são transparentes aos raios X. Vidro com pouca estabilidade hidrolítica
apresenta pouca resistividade superficial, sendo que o quartzo é tipo mais estável. Dependendo de sua
composição a resistividade varia de 106 a 1015 Ωm, ε varia de 3,8 a 16,2 e tg δ varia de 0,0002 a 0,01.
A condutividade superficial depende do estado da superfície, sendo que em tensões contínuas e campo
homogêneo Ed chega a 500kV/mm. Na fabricação do vidro o material deve ser fundido rapidamente.
81
Se a substância é fundida lentamente aumenta a probabilidade desta passar ao estado cristalino. A
matéria prima utilizada é areia de quartzo Si02, Na2C03, K2C03, CaC03 MgC03, Na2SO4, etc. Dentre
diversas aplicações do vidro, vamos destacar a fibra óptica, cuja função é transmissão de dados.
Fibra óptica é um filamento fabricado com material de vidro ou plástico, usado para
transmissão de informação por intermédio da luz. A informação é transmitida ao longo da fibra de
comunicação óptica através de um sinal de luz variável. Isto pode ser comparado a sinais elétricos
variáveis em um fio de cobre. A fibra é análoga a um condutor de um cabo elétrico no sentido de
transmitir informações. Um cabo óptico pode ter uma ou mais fibras envolto por uma capa protetora.
As fibras de comunicação óptica são eletricamente seguras, transportam grandes quantidades de
informações, são imunes à interferência eletromagnética, apresentam boas características dielétricas,
não apresentam perigo de incêndio e são flexíveis.
Uma fibra única apresenta diâmetro na faixa de 0,02 a 2mm. Um filamento de fibra ótica (Fig.
19) é constituído de um núcleo e uma capa externa de vidro de composição e índices de refração
diferene entre si. Sendo n1 e n2 os índices de refração do núcleo e da capa respectivamente é necessário
que n1 seja maior que n2. Um raio de luz que incidir do meio mais denso (núcleo) com o meio menos
denso (revestimento), irá refletir internamente e desta forma prosseguirá ao longo da fibra sem sair do
espaço circundante, até a extremidade da fibra.
Um raio de luz incidindo sobre a interface entre materiais óticos transparentes com índices de
refração diferentes será totalmente refletido internamente se o raio estiver no material mais denso e
desde que o ângulo formado pelo raio com a normal para a interface for maior que um ângulo crítico.
Um raio de luz atravessando uma fibra de 50µm de diâmetro pode ser refletido 100 vezes por
centímetro de comprimento da fibra. Este número aumenta em proporção direta à diminuição do
diâmetro. A reflexão interna total entre dois meios ópticos transparentes resulta numa perda de menos
de 0,001% por reflexão.
A temperatura máxima de operação das fibras de vidro pode situar-se em torno de 4000C. As
fibras de sílica podem ser usadas em temperaturas muito mais altas. A fibra óptica apresenta grande
flexibilidade e resistência mecânica devido à orientação das moléculas de sua capa superficial e ao
processo de fabricação onde o filamento de vidro fundido é resfriado rapidamente. Na fabricação o
vidro é fundido numa cuba em alta temperatura. No fundo da cuba contém orifícios por onde saem fios
de massa vítrea. Este fio é enrolado em cilindro mantendo-se flexível. Como a principal função da
fibra ótica é o transporte de luz a capacidade e característica da transmissão depende de perdas da
reflexão superficial de entrada e saída, da dispersão interfacial do núcleo, do tamanho da fibra, da
homogeneidade do vidro do núcleo, dos defeitos do núcleo e do revestimento. A fig. 20 apresenta um
esquema simplificado de transmissão e recepção de sinal por uma fibra óptica. Os índices
apresentados indicam:
82
1 - Chave ou contato NA
2 - relé
3 - Circuito eletrônico
4 - LED
5 - Fibra ótica
6 - Fototransistor
7 - Circuito eletrônico
8 - Relé
9 - Contato NA do relé B
10 - Lâmpada de sinalização
QUESTÕES
83
17 – Explicar como ocorre a perfuração por descargas parciais em um sólido com poros.
18 - Um isolador apresenta tgδ = 2x10-2. Um ensaio realizado no isolador com tensão de 10kV, 60Hz,
resultou em 0,01W de perdas. Calcular: a) a capacitância equivalente do isolador; b) a resistência
equivalente. Considere o modelo RC paralelo.
19 - Um isolador de material homogêneo e forma cilíndrica apresenta as seguintes dimensões:
altura = 10 cm; diâmetro = 6 cm. As resistividades, volumétrica e superficial para o isolador são: ρV =
5x1012Ω.m e ρS = 8x1011Ω. Calcular a resistência equivalente. Calcular as correntes IV e IS para uma
tensão aplicada de 5kV, 60 Hz.
84
5
MATERIAIS MAGNÉTICOS
Neste capítulo o estudo direciona-se para o comportamento dos materiais sob ação do campo
magnético. Assim como foi realizado nos capítulos anteriores faremos um estudo do comportamento
magnético dos materiais, inicialmente focalizando esses aspectos no nível microscópio e a partir daí
estudar suas principais propriedades e aplicações na engenharia. Veremos que os efeitos magnéticos
são produzidos pelos elétrons circulando em torno do núcleo do átomo e que um campo magnético
externo poderá produzir momento de dipolo magnético induzido em um material, modificando o
campo original. Iniciamos nosso estudo pela análise do movimento do elétron em uma órbita circular
e do momento magnético resultante, definindo o magnéton de Bohr. Apesar de destacarmos os
vários tipos de materiais quanto ao comportamento sob campo magnético, o foco desse estudo será
principalmente os materiais ferromagnéticos, tendo em vista analisar suas propriedades e aplicações
nos equipamentos elétricos.
Aspectos teóricos e fundamentos conceituais que deverão ser compreendidos:
- o princípio de magnetização nos materiais e o magnéton de Bohr;
- os tipos de materiais em função do comportamento magnético;
- análise qualitativa e quantitativa envolvendo as grandezas: campo magnético, magnetização,
permeabilidade magnética, susceptibilidade magnética;
- o ciclo de histerese magnética;
- as perdas magnéticas e os meios usados para reduzi-las;
- as principais ligas magnéticas e suas aplicações.
1 O Magneton de Bohr
Seja um elétron movendo-se com velocidade V numa órbita circular de Bohr (Fig. 1).
85
→
O momento angular Pθ será.
→ →
d P = τ dt
temos
→ → →
F = m a = m d v/ dt
m = massa do elétron
Sendo
→ →
τ = d pθ / dt
Então
→ →
d pθ → → dv →
= r x F = m x r
dt dt
Resulta
→
Pθ = mvr
h
mv =
λ
Sendo
nλ = 2πr
Resulta
2πr
λ =
n
h
λ =
mv
2πr h
=
n mv
O valor de r será
86
nh
r =
2πmv
nh nh
Pθ = mv =
2πmv 2π
h
Pθ = n
2π
h
mvr =
2π
Ou então
h
r =
2πmv
Por outro lado podemos considerar o elétron circulando no átomo de H equivalente a uma corrente.
q q
I = =
t 2π / w
m = IA
q qw 2
m = A = πr
t 2π
87
qwr 2
m =
2
v = wr
h 1
r =
2π mwr
r
2
h 1
=
2π mw
qw h hq
mB = =
2 2πmw 4πm
hq
mB =
2m
Onde
h
h =
2π
O magnéton de Bohr é uma unidade natural que mede o momento de dipolo magnético
atômico, ou seja, mede o momento do elétron girando em sua órbita, para uma órbita circular de Bohr.
O valor de mB é 9,3 x 10-24 A.m2.
2 Diamagnetismo
Vamos analisar como ocorre esse efeito nos materiais. Considere um elétron numa órbita
circular de raio r, com momento de spin ms (Fig. 3). Sem campo externo, temos morb = ms, portanto
morb + ms = 0. O material, neste caso, não apresenta magnetização.
88
Fig.3 - Elétron numa órbita circular de raio r.
Momento orbital morb e momento de spin ms.
3 Paramagnetismo
4 Ferromagnetismo
Nos materiais ferromagnéticos, como é o caso do Fe, Co e Ni, o momento de spin supera os
demais momentos magnéticos, resultando em cada átomo um momento de dipolo alto e
consequentemente resulta a constituição dos domínios magnéticos. Portanto a magnetização é devida
aos spins paralelos e não aos momentos de dipolos magnéticos orbitais. Estes momentos magnéticos
alinhados paralelamente constituem os domínios magnéticos que surgem em pequenas regiões do
material, que apresentam magnetização individualmente.
Sem campo magnético externo os domínios magnéticos anulam-se. Não temos magnetização
resultante no material. Quando aplicamos um campo magnético externo os domínios magnéticos
sofreram um crescimento e rotação na direção do campo resultando um grande valor de campo
magnético interno (Fig.4).
89
Fig.4 - Domínios magnéticos: com campo e sem campo externo aplicado no material
A força mútua entre esses dois imãs faz com que assumam posição antiparalela (Fig. 5b) que é
uma posição de equilíbrio estável e de menor energia. Da mesma forma, em um material
ferromagnético, são gerados um grande número de domínios magnéticos, de modo a reduzir a energia
interna. A configuração de menor energia é aquela em que os domínios tendem a formar um ângulo
reto (Fig. 6) resultando um envoltório fechado do campo magnético.
A “energia das paredes” e “energia de troca” pode ser analisada conforme descrito a seguir.
A parede dos domínios magnéticos é uma transição gradual e requer uma pequena quantidade
de energia para mover-se (Fig. 7). A parede é a região de transição de dois domínios (Fig. 7).
Desta forma, para que todos os dipolos ficassem antiparalelos teria que vencer a energia das
paredes, que opõe à rotação dos mesmos. Existe um ponto no qual os dois processos se compensam,
i.e, há um ponto de mínima energia no qual a energia das paredes e a energia para girar os momentos e
torná-los antiparalelos se equilibrarão.
Para o Fe temos o subnível d com 6 elétrons. A energia de troca é a energia dos quatro elétrons
em cada átomo, do subnível d, dispostos como indicado na Fig. 8.
Podemos imaginar os spins como pequenos imãs. Esses imãs tendem a alinhar-se para ocupar
um estado de menor energia. Da mesma forma que no caso da energia das paredes, processo que
conduziria o sistema a um volume infinitesimal de pequenos imãs antiparalelos, é compensado pela
energia de troca. Portanto, assim como acontece com os imãs, os momentos de spins tenderão a uma
menor energia.
91
Analisaremos agora como ocorre o movimento dos domínios magnéticos quando aplicamos
um campo magnético no material. Sob ação de um campo externo em um material não magnetizado
observamos primeiramente o crescimento dos domínios magnéticos e finalmente a rotação dos
mesmos. Este fenômeno é explicado a seguir.
5 Ferrimagnetismo e antiferrimagnetismo
92
6 Magnetização e vetores H, M e B
A indução magnética B0 resultante no vácuo, quando temos neste meio um campo magnético
H, é dada pela relação
B0 = µ0H onde,
µ0 = permeabilidade no vácuo e tem valor 4π x 10-7 H/m.
a – no vácuo
b – com material
A Fig.11 mostra os polos norte e sul de um imã gerando campo magnético H. Quando o meio
entre os polos é o vácuo, a permeabilidade é µ0 e o campo induzido é B0 . Se entre os polos
introduzimos um material de permeabilidade magnética µ, então a indução magnética B neste meio
será:
B = µH
Sendo µ > µ0 , o campo induzido é maior no meio em que existe um material ferromagnético.
Nesse caso o campo aumenta nesta região. Podemos também escrever a indução magnética B na
seguinte forma.
B = µ0H + µ0M
93
µ
µr =
µ0
M = Xm H
µ M
= 1 +
µ0 H
Resultando
µr = 1 + χm
MATERIAL CLASSIFICAÇÃO µR
Bismuto Diamagnético 0,99983
Ar Paramagnético 1,0000004
Alumínio Paramagnético 1,00002
94
Os materiais diamagnéticos apresentam µr < 1 e implicam numa magnetização negativa da
ordem de 10-5 . Os materiais paramagnéticos apresentam µr > 1 com valor muito pequeno e
magnetização positiva da ordem de 10-5 . Para os ferromagnéticos µr e χm são muito grandes resultando
em alta magnetização.
Segue o comentário sobre a curva BxH. Considerando H a partir de zero, vemos que
inicialmente o aumento de H irá provocar uma pequena variação de B. O valor de B irá aumentar mais
rapidamente a partir de H1 até H2 . A variação de B torna novamente pequena a partir de H2 quando
inicia a indução de saturação Bs. A partir daí aumentando-se o valor de H, B permanecerá
praticamente constante. Isto ocorre porque todos os domínios magnéticos foram orientados.
Se agora o valor do campo H reduzir, o valor de B irá diminuir, porém não passando pela
curva original. Desta forma, quando H = 0, teremos B = Br resultando no material um campo induzido
remanente quando é retirado totalmente a ação do campo externo. Para continuarmos reduzindo o
valor de B é necessário invertermos o sentido do campo H (H fica negativo). Quando B = 0 o valor de
H = -Hc , denominado força coerciva. O valor de H continuará aumentando neste sentido até
atingirmos B = - Bs. O processo de variação de B em função de H continua no sentido oposto até
retornarmos ao valor de BS positivo. A curva obtida com a variação do campo sobre o material é
denominada ciclo de histerese. O trabalho necessário para obtermos este ciclo é proporcional à área da
curva e será considerado no item de perdas por histerese magnética.
8 Ponto de Curie
95
ocorre porque a agitação térmica quebra o alinhamento dos dipolos magnéticos. Temos os seguintes
valores de temperatura de Cúrie - Tc.
Fe 1043K
Co 1400K
Ni 631K
Para valores de temperatura abaixo de Tc, podemos considerar que sendo N = número de spins
alinhados paralelamente no ferro de µ R = 1000, a magnetização será dada por.
M = N.mB
1,6 x 109 A / m
N = - 24 2
= 1,7 x 1032 spins / m3
9,3 x 10 AXm
9 Anisotropia ferromagnética
96
Fig. 14 - Magnetização em função do campo para as direções [100], [110] e [111].
a - ferro b - níquel
10 Magnetostricção
O efeito de um campo magnético através de um sólido faz com que suas distâncias
interatômicas alterem-se, dependendo do sentido de aplicação do campo. Essas distâncias podem
aumentar ou diminuir. Esse fenômeno é denominado magnetoestricção (Fig. 15) que ocorre devido à
rotação dos momentos magnéticos do dipolo em campo alternado.
a - ferro b - níquel
11 Perdas magnéticas
As perdas magnéticas ou perdas no ferro são de dois tipos: perda por histerese e perda por
correntes parasitas.
97
Perda por Histerese (PH)
PH = K . f . Bα
f = frequência de magnetização
PF = R.i2 = Kf2B2
i = corrente de Foucault
K = constante que depende do tipo e espessura da chapa
R = Resistência elétrica do material
A perda por correntes parasitas pode ser reduzida mediante dois processos. Um meio é o uso
de chapas de ferro laminadas e isoladas entre si de forma a diminuir a área de circulação das correntes
de Foucault. Outro procedimento consiste em adicionar silício ao ferro de modo a aumentar sua
resistividade elétrica.
98
Fig. 16 - Circuito magnético com tensão alternada
dN∅ dN d∅
P = e • i = i = i ∅ + N
dt dt dt
t2 ϕ2
W = ∫t1
p dt = N ∫ϕ 1
dϕ
N= constante
Temos:
Ni = HL
dϕ = A dB
Resulta
B2 B2
W = ∫B1
H • L • A • dB = A • L ∫
B1
H dB
99
Fig. 17 - Área de densidade de energia de materiais ferromagnéticos
A energia total neste processo corresponde à área OAMO. Quando H é reduzido a zero
somente uma parte da energia que foi absorvida durante o processo ascendente é devolvida. Esta
energia devolvida é dada pela área AMN. Com a redução de H a zero o retorno se faz pelo caminho
AN. Neste ponto temos o B remanente. Uma parte da energia é dissipada como pedra no núcleo
causada pela histerese e pelas correntes de Foucault. Se H for aumentado e diminuído de modo a
obtermos um ciclo de histerese, a área envolvida por este ciclo representa a energia gasta no processo
de magnetização e desmagnetização. Esta energia é gasta ao forçar os fragmentos do cristal e aparece
em forma de calor.
Portanto as perdas no ferro estão ligadas à variação do fluxo magnético no mesmo e à perda de
energia devida à histerese magnética. Um núcleo de transformador com corrente alternada 60Hz, será
percorrido pelo ciclo de histerese 60 vezes por segundo. O trabalho para efetuar o ciclo de histerese é
o necessário para empurrar as paredes dos domínios magnéticos para trás e para frente. Para diminuir a
perda de energia a área do ciclo de histerese deveria ser a menor possível e a permeabilidade e indução
de saturação deveriam ser bem grandes. Da mesma forma as correntes parasitas causam perdas em
função da frequência. O aumento da resistividade do material para diminuir os efeitos das perdas por
correntes parasitas, em contrapartida, pode causar aumento das perdas por histerese.
13 Lei da Ampére
Seja um condutor reto percorrido por uma corrente i. A uma distância R deste condutor será
induzido um campo magnético B cuja relação de proporcionalidade com i e R será.
µ i
B = •
2π R
µ i µ0
∫ B • dL =
2π
•
R ∫ dL =
2πR
2 π R = µ0 i
∫ B • dL = µ i
A equação é valida para todos os casos em que a integração é feita ao longo de um caminho fechado.
100
Figura 18 - Fio percorrido por uma corrente i e o campo induzido a uma distância R
B
H=
µ
Obtemos, portanto
∫ H dL = i
A relação acima é conhecida como lei de Ampère: “a integral de linha de H ao longo de um único
caminho fechado é igual à corrente envolvida pelo caminho”. Para o circuito magnético simplificado
da Fig. 19 podemos tratar o segundo membro da equação como um produto Ni (número de espira
vezes a corrente). Vamos também supor H constante ao longo de um percurso L, de forma que
obteremos a relação.
H . L = N.i
B = µH
A unidade de B é weber/m2 , onde 1 weber é igual a 108 linhas de campo magnético. Para o
vácuo temos µ0 = 4π x 10-7 weber/(A.m). Por sua vez a unidade de H é A/m. Ao longo do circuito
magnético haverá um fluxo magnético ∅. Considerando para o circuito magnético uma seção
transversal constante de área A, a indução magnética poderá ser considerada uniforme através desta
área, de forma que o fluxo será.
∅=B•A
101
Esta relação pode ser expressa em termos de ∅ da seguinte forma:
B ∅ • L
Ni = HL = = L =
µ A • µ
O termo N.i é chamado força magneto-motriz (f.m.m.) e pode ser expresso em função da relutância do
circuito magnético ℜ da seguinte forma:
L
f . m. m. = ∅
A • µ
f . m. m = ∅ • ℜ
L
onde, = ℜ
A • µ
14 Lei de Faraday
A variação de um fluxo magnético ∅ através de uma bobina de uma única espira irá induzir
na mesma uma força eletro-motriz (f.e.m) "e" igual à taxa de variação do fluxo, cuja equação
correspondente é:
d∅
e = -
dt
O sinal negativo é devido à Lei de Lenz: “a corrente induzida numa espira ocorre sempre num
sentido tal que produz um fluxo que se opõe à variação do campo magnético sobre esta espira”.
Para uma bobina de N espira a f.e.m. induzida será.
d∅ d
e = - N = (N∅)
dt dt
A Fig. 20 indica uma espira colocada em um campo magnético B que varia com o tempo.
102
A variação do fluxo magnético através da espira produz um campo elétrico induzido E em todos os
pontos da espira. Podemos escrever:
d∅
∫ E dL = -
dt
Esta é a Lei de Faraday: “a f.e.m. total induzida num circuito fechado é igual à taxa de variação em
relação ao tempo do fluxo magnético que atravessa o circuito”.
Consideremos agora uma bobina de N espiras, na qual não estejam presentes materiais
magnéticos, atravessada por um fluxo variável ∅. A corrente resultante nesta bobina será proporcional
a N∅ , i • e.,
N∅ α i
N ∅ = Li
d d
e = - (N∅ ) = (Li)
dt dt
di dL
e = L + i
dt dt
di
e = L
dt
Obtemos, portanto
e
L =
di / dt
103
15 Aplicações dos matérias magnéticos
Materiais magneticamente moles apresentam baixa força coerciva, pequenas perdas por
histerese, alta permeabilidade magnética e são usados em núcleo de transformadores, eletroimãs,
motores dentre outros aparelhos onde pretende-se obter a maior indução possível com o menor gasto
de energia. Nos materiais moles as paredes dos domínios são movidas facilmente (Fig. 21a).
Materiais magneticamente duros possuem elevada força coerciva, são difíceis de serem
magnetizado e apresentam dificuldade à movimentação das paredes de seus domínios (Fig. 21b). São
usados como imãs permanentes.
B B
H H
Os materiais moles são geralmente usados na forma de ligas que são descritas a seguir.
Antes de 1900 aplicava-se o aço pobre em carbono nos núcleos de equipamentos de baixa
frequência tais como transformadores, geradores, motores. Para estas aplicações atualmente emprega-
se a liga ferro-silíco (FeSi). A adição de silício no ferro aumenta sua resistividade elétrica reduzindo as
perdas por corrente de Foucault e por histerese. O ferro com silício apresenta também maior
permeabilidade magnética. Normalmente emprega-se o ferro-silício laminado. Quando este processo
de laminação se realiza de forma a orientar os monocristais numa direção favorável à magnetização
temos o ferro-silício de grãos orientados ou FeSi GO. A magnetização ocorre mais facilmente numa
determinada direção de aplicação do campo no monocristal. Se os monocristais estão orientados
caoticamente, denominado de FeSi GNO, os grãos não orientados dificultam a magnetização do
material.
104
Fig. 22 - Lâmina de FeSi indicando os cristais: FeSi GNO e FeSiGO
a - com orientação caótica ou FeSiGNO
b – com grãos orientados ou FeSiGO
Na Fig. 23 temos a comparação da curva B x H para o ferro fundido com 3% de carbono (1) com
menor permeabilidade magnética que o ferro silício com orientação caótica (2), e este por sua vez,
apresentando magnetização inferior ao ferro-silício orientado (3).
B 3
2
1
Fig. 23 – Curva B x H
1 - ferro fundido
2 - ferro silício não orientado (FeSi GNO)
3 - ferro silício orientado (FeSi GO)
105
O permaloy e mumetal apresentam maior permeabilidade magnética inicial e menores perdas
por histerese e por correntes de Foucault que as ligas ferro-silício. Observa-se que a permeabilidade do
FeSi para campos fracos é relativamente baixa. Este problema pode ser solucionado empregando-se
ligas FeNi. Portanto aplicam-se as ligas FeNi em equipamentos eletrônicos de alta sensibilidade e
fidelidade. As características magnéticas da liga FeNi são sensíveis a tratamentos térmicos e
mecânicos. O permaloy apresenta grande anisotropia em relação à direção de aplicação do campo
magnético. Deformações plásticas na liga FeNi reduz drasticamente sua permeabilidade. A Tabela 2
apresenta algumas características dos materiais magnéticos moles.
O tratamento térmico adequado da liga FeNi permite obter altas permeabilidades magnéticas.
Resulta deste processo o ciclo de histerese quadrado (Fig. 24).
Ferrite
Ferrites são materiais magnéticos com condutividade elétrica muito pequena, sendo sua
resistividade elétrica 106 - 1011 vezes maior que a do ferro. Portanto as perdas de energia em altas
frequências são pequenas e as propriedades magnéticas são altas. As ferrites são aplicadas em altas
frequências. A fórmula geral da ferrite é XOFe203 onde X é um metal geralmente divalente,
apresentando rede cristalina cúbica.
106
Tal como os ferromagnéticos existem ferrites duros e moles. Os grupos de ferrites mais usados são
níquel-zinco (Ni 0-Zn0-Fe203), lítio zinco (Li20-Zno-Fe203), manganes-zinco (Mn0-Zn0-Fe203). A
Tabela 3 indica a gama de frequência que se aplicam estas ferritas.
TABELA 3 - Ferrites
A ferrite com 50% Mg0 e 50% MnO apresenta ciclo de histerese quadrado e aplica-se em
memórias de equipamentos eletrônicos. Normalmente transformadores de equipamentos de alta
frequência, como televisores, utilizam-se núcleos de ferrite. As granadas ferrimagnéticas possuem a
fórmula 3M203 - 5Fe203 , onde M é um elemento terra rara (Sm, Eu, Gd, etc). A granada 3Y203 -
5Fe203, denominada granada itrio-ferro ou YIG, possui uma elevada resistividade e pequenas perdas
por histerese na frequência de micro-ondas.
Imãs Duros
W=B.H
Esta energia pode ser obtida da curva B.H em função de H. O valor máximo de B.H se
denomina produto de energia do imã. Na Fig. 25 temos o produto de energia de dois materiais
diferentes com suas curvas de desmagnetização. Em geral, a energia disponível de qualquer imã é
aproximadamente igual ao produto do volume do imã por seu produto de energia.
107
Fig. 25 - produto de energia de dois materiais
Wmáx = BHmáx
Isto indica o valor de energia em que o imã pode ser melhor utilizado. Este é um fator importante para
definir a qualidade de um material usado como imã permanente. Os imãs permanentes comercialmente
usados são:
Cunife - Cu - Ni - Fe
Cunico - Cu - Ni - Co
Alnico - Ni - Co
Alnico V - 14%Ni - 24%Co - 8%Al - 3%Cu - 51%Fe
Ferroxdur - BaFe12019 - Ferrita magnética dura
As fitas magnéticas para gravação são constituídas de uma película de óxido de ferro ou de
cromo sobre material plástico. O óxido magnético é depositado na forma de pequenas partículas e
recebem orientação magnética através de um eletroimã, de forma que todos os dipolos magnéticos se
orientem numa determinada direção.
A gravação na fita é realizada, conforme indica a Fig. 26, usando um núcleo de material
ferromagnético com entreferro e uma bobina que é o cabeçote de gravação.
108
Fig. 26 - Cabeçote de gravação
QUESTÕES
- Ferromagnetismo e antiferrimagnetismo
110
APÊNDICE
CONSTANTES FÍSICAS
111