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Universidade Federal de Santa Catarina

Hospital Universitário Professor


Polydoro Ernani de São Thiago
Tipo do POP.XXX.001 - Página X/X
PROCEDIMENTO / ROTINA
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Título do Intervenção Fonoaudiológica no paciente Emissão: Próxima revisão:
Documento traqueostomizado: emergência, unidades de Versão:
internação e UTI Adulto

1. OBJETIVO

Descrever a avaliação estrutural e funcional da deglutição no paciente traqueostomizado,


assim como as condutas para treino de desmame da traqueostomia.

Considerações iniciais

A presença da traqueostomia pode ocasionar ou potencializar alterações na deglutição


ocasionando a aspiração laringotraqueal de saliva e/ alimentos. Dentre os mecanismos responsáveis
pela piora da aspiração após a traqueostomia pode-se citar:
1- A diminuição da elevação laríngea após a deglutição devido à presença da cânula e da
fixação da traqueia na pele anterior do pescoço – quanto maior a fixação, maior pode ser a
aspiração;
2- Compressão da parede do esôfago pela presença do cuff insuflado – acúmulo de restos
alimentares nos recessos piriformes;
3- Ausência de fluxo aéreo respiratório para realizar limpeza de resíduos alimentares após a
deglutição- o fluxo aéreo é redirecionado pela traqueostomia;
4- Perda da sensibilidade laringe e redução do olfato/paladar;
5- Fechamento incoordenado da laringe – tempo de fechamento das pregas vocais é menor
durante a deglutição com a traqueostomia (Macedo, Gomes e Furkim, 2000).
A presença do cuff insuflado não sela completamente a traqueia de modo que impeça a
aspiração de alimentos ou fluidos, sua função é evitar o escape de ar e permitindo o uso da
ventilação mecânica. Além disso, restos alimentares e de secreção podem ficar retidos acima do
cuff propiciando a colonização de bactérias.
A oferta de alimento com o cuff insuflado deve ser evitada e muitos profissionais somente
iniciam avaliação funcional da deglutição (com alimento) quando o paciente for capaz de tolerar o
cuff totalmente desinsuflado. No entanto, alguns autores discutem o longo período sem alimentação
por via oral e consequentemente maior tempo com sonda enteral, maior tempo de internação e piora
na qualidade de vida e aspectos psicológicos (Sherlock et al. 2009). Além disso a população de
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pacientes traqueostomizados é heterogênea e a evidência a respeito do risco de aspiração em adultos


com o cuff insuflado é inconclusiva (Goff e Patterson, 2018).
Portanto a avaliação funcional da deglutição no paciente traqueostomizado esteja ele na
ventilação mecânica, com a traqueostomia plástica ou metálica, com cuff insuflado ou não, é
considerada caso a caso pelo Fonoaudiólogo especialista em disfagia orofaríngea.

2. MATERIAL:

Cadastro do paciente:
• Computador
• Impressora
• Papel A4
• Caneta
• Arquivo de Documentos

Equipamentos e acessórios:
• Válvula de fala e deglutição com sistema “BIAS closed” diâmetro interno de 15mm
• Aferidor de pressão de cuff (cmH2O)
• Conectores para Ventilação mecânica: Espaço morto 22mmX22mm + Cachimbo/cotovelo

• Ponteira da cânula de intubação orotraqueal para adaptação em cânulas metálicas conforme


descrição:
- CÂNULA METAL N.6= ponteira de cânula IOT 7,5 ou 8,0
- CÂNULA METAL N.5= ponteira de cânula IOT 7,0 ou 6,5
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- CÂNULA METAL N.4= ponteira de cânula IOT 5,5


- CÂNULA METAL N.3= ponteira de cânula IOT 5,0
- CÂNULA METAL N.2= ponteira de cânula IOT 4
• Manômetro para avaliar pressão intra-traqueal
• Monitorizador de sinais vitais (Frequência Cardíaca, Saturação de O2, Frequência
Respiratória)
• Sistema de Vácuo
• Sonda de aspiração
• Luvas (procedimento/estéreis)
• Máscara
• Óculos de proteção
• Estetoscópio

Conjunto de acessórios para higienização


• Água morna
• Detergente neutro
• Recipiente para imersão

3. PROCEDIMENTO

a) Prontuário: coletar dados de identificação do paciente, motivo de internação/doença de base,


histórico clínico e cirúrgico prévio à internação, comorbidades associadas, estado nutricional,
condição pulmonar/respiratória e medicamentos em uso.

b) Anamnese: entrevista inicial com o paciente, ou acompanhante, analisar nível de


consciência do paciente, habilidades comunicativas e condições de respostas, investigar hábitos
alimentares, dificuldades de deglutição, modificações prévias na dieta via oral, queixas
estruturais (orofaringolaríngeas), perda de peso recente e condição respiratória.
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c) Sinais Vitais: verificar no repouso os sinais vitais do paciente; utilizado como parâmetro para
monitorar o indivíduo durante a avaliação estrutural/funcional, bem como para decidir se no
momento há critério para a intervenção.

d) Avaliação Estrutural: contempla a observação de órgãos fonoarticulatórios no repouso, bem


como a avaliação da mobilidade/velocidade/amplitude/ precisão/força/sensibilidade dos mesmos.
Importante identificar reflexos orais e a capacidade de proteção de vias aéreas (tosse), se há
deglutição espontânea de saliva e ao comando com o cuff insuflado, como estão as habilidades
comunicativas, se cumpre ordens, se compreende a linguagem oral. Materiais utilizados: luvas,
máscara, óculos, avental, sonda de aspiração, espátulas e gaze.

e) Avaliar a possibilidade de desinsuflar o cuff – em consenso com a equipe multidisciplinar. Deve-


se considerar as seguintes contra-indicações para desinsuflar o cuff:
• Desconforto respiratório;
• Alterações dos sinais vitais:queda de saturação, aumento da frequência cardíaca e
respiratória, alteração da pressão arterial;
• Instabilidade hemodinâmica;
• Mudança no nível de consciência;
• Dificuldade de remover secreção/ expectoração;
• Aspiração maciça de saliva.

f) Assim que o cuff puder ser desinsuflado: esvaziar o balonete e monitorar os sinais vitais do
paciente, que deve permanecer confortável e estável (caso contrário reinsuflar o cuff). Caso haja
dúvida se há broncoaspiração de saliva, pode-se realizar o Blue Dye Test com anilina culinária azul
desde que não haja contra-indicações em relação ao aumento da permeabilidade gastrointestinal, o
que inclui pacientes com sepse, queimaduras, trauma, choque, intervenções cirúrgicas, insuficiência
renal, doença celíaca ou doença inflamatória intestinal (Swigert,2003), ainda assim, considerar
possibilidade de 50% de falso-negativo e reavaliar posteriormente (Brady e Hildner, 1999).
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Caso haja aspiração de saliva e impossibilidade de desinsuflar o cuff, iniciar fonoterapia para
sensibilidade e ganho muscular e funcional, capacidade de tosse e defesa das vias aéreas e treinar o
desmame do cuff. Conforme melhora da biomecânica da deglutição e condições clínicas, manter o
cuff desinsuflado assim que possível para melhorar sensibilidade de via aérea superior possibilitar
fonação e potencializar a deglutição.

g) Avaliação Funcional (com o alimento): poderá ser realizada 24 horas após a colocação da
traqueostomia, conforme a experiência do avaliador e condições de cada paciente.
Preferencialmente avalia-se com o cuff desinsuflado e oferta de uma consistência de cada vez
(mel, néctar, pudim e líquida) previamente colorida (como gelatina) ou com adição do corante
culinário azul Blue Dye Test modificado quando não houver contraindicação. A avaliação
estrutural direciona a funcional; a opção de qual consistência e volume podem ser ofertados com
segurança, bem como as manobras de deglutição que podem beneficiar o paciente, são
inicialmente decididas pela condição das estruturas do paciente (associado à capacidade de
proteger via aérea e responsividade). Além de analisar a biomecânica da deglutição e suas
possíveis alterações, identificar sinais clínicos de disfagia (escape anterior do bolo alimentar,
tempo de trânsito oral aumentado, mastigação deficiente, cianose, sudorese) e/ou
broncoaspiração (tosse, pigarro, ausculta cervical positiva, queda na SpO2, dispnéia/desconforto,
voz molhada, saída de alimento ou líquido pela traqueostomia). Durante a avaliação funcional
são utilizadas manobras de deglutição quando necessário.

h) Após a oferta de alimento e sempre que necessário é realizada aspiração traqueal conforme POP
da fisioterapia. Caso o paciente não tolere ficar com o cuff desinsuflado, a medida da pressão é
aferida com um cuffômetro e deixada entre 25 e 30cm H2O, com o paciente posicionado 30º.
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*Blue Dye Test: O Teste do Corante Azul ( Blue Dye Test), consiste em aplicar 4 gotas de
corante culinário azul (anilina) na cavidade oral do paciente a cada 4 horas por 2 dias
consecutivos para analisar a deglutição, verificando a presença ou não de aspiração traqueal.
O paciente deverá deglutir após aplicação do corante e deve ser reaçlizada aspiração
endotraqueal imediata e ao longo do dia pela equipe multiprofissional (fonoaudiologia,
enfermagem, fisioterapeuta). Contraindicações: aumento da permeabilidade gastrointestinal,
o que inclui pacientes com sepse, queimaduras, trauma, choque, intervenções cirúrgicas,
insuficiência renal, doença celíaca ou doença inflamatória intestinal. Avaliar possibilidade de
falso negativo.

Tabela 1: Blue dye test – teste com corante


culinário azul
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REFERÊNCIAS
1. MACEDO FILHO, E.D. GOMES, G.F., FURKIM, A.M. Cuidados do paciente
traqueostomizado. In:Manual de Cuidados do Paciente com Disfagia. São Paulo, Lovise,
2000a. cap. 9, p. 81-99.
2. SHERLOCK, Z.V., WILSON, J. A., EXLEY, C. Tracheostomy in the acute setting: patient
experience and information needs. Journal of Critical Care, v. 24., n. 4, p. 501–507,2009.
3. FOSTER, A. More than nothing: the lived experience of tracheostomy while acutely
ill. Intensive and Critical Care Nursing, v. 26, n. 1, p. 33–43, 2009.
4. GOFF, D., PATTERSON, J. Eating and drinking with an inflated tracheostomy cuff: a
systematic review of the aspiration risk. International journal of language & communication
disorders, 2018
5. SWIGERT N.B. Blue dye in the evaluation of dysphagia: is it safe? The Asha Leader
Online. Março, 2003
6. BRADY, S.L., HILDNER, C.D., HUTCHINS, B.F. Simulateous videofluroscopic, swallow
study and modified evans blue dye procedure: an evalution of blue dye visualization in cases
of known aspiration. Dysphagia. v.14, p.146 – 49, 1999.
7. SINGH, R.K., SARAN, S., BARONIA, A.K. The practice of tracheostomy decannulation—
a systematic review. Journal of Intensive Care, v. 5, n. 1, p. 38, 2017.
8. Thompsom, H. Blue Dye Test Modificado 1995.

1. HISTÓRICO DE REVISÃO
VERSÃO DATA DESCRIÇÃO DA ALTERAÇÃO
1.0 11/03/2019 Mariana de Toledo Lins
1.1 15/01/2020 Mariana de Toledo Lins Diane de Lima Oliveira
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(Poderão ser incluídas no quadro abaixo as identificações dos responsáveis pela


elaboração/revisão e avaliação)

Validação Data: ____/____/________

Aprovação (Nome, Função, Assinatura) Data: ____/____/________

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte.

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