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O Coração Amarelo - Pablo Neruda
O Coração Amarelo - Pablo Neruda
CORAÇÃO AMARELO
– PABLO NERUDA –
Tradução de Olga Savary
Pablo Neruda deixou, ao morrer, oito livros inéditos de poesia, escritos quase simultaneamente: O coração
amarelo, Livro das perguntas, Elegia, A rosa separada, Jardim de inverno, 2000, O mar e os sinos e
Defeitos escolhidos, publicados pela L&PM Editores com traduções cuidadas, feitas por poetas brasileiros.
Nos poemas de O coração amarelo estão presentes os temas preferidos do autor — amor, amizade,
reminiscência do passado. Mas percebe-se também, nestes versos, uma nota leve, bem-humorada e
melancólica, como uma despedida de uma grande vida ou um prenúncio dos negros tempos da ditadura pela
qual seu país, o Chile, passaria.
No final da vida e no ápice do sentimento de compaixão pela humanidade, Neruda manteve a sonoridade, a
maestria de linguagem e o lirismo que o alçaram a um dos maiores nomes da poesia do século XX e que
fizeram dele um dos laureados pelo Prêmio Nobel (1971) mais populares já visto.
O autor recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1971
EDIÇÃO BILÍNGUE
Pablo Neruda
O Coração Amarelo
Edição Bilíngue
www.lpm.com.br
L&PM POCKET
LIVROS DO AUTOR NA COLEÇÃO L&PM
POCKET:
A Barcarola
Últimos Poemas
As Uvas e o Vento
ÍNDICE
Uno / Um
Otro / Outro
El Héroe / O Herói
Filosofía / Filosofia
Piedrafina / Pedrafina
Integraciones / Integrações
Desastres / Desastres
Subúrbios / Subúrbios
UNO
desatando melancolías.
a mi destino intermitente,
mi vanidad me conducía
UM
desatando melancolias.
vaidade me conduzia
a inauditos heroísmos:
pescar debaixo da areia,
OTRO
o si prefería la menta
Y de tanto no responder
OUTRO
se me agradavam as alfaces
ou se preferia a menta
OTRO MAS
y de repente me sentí
contento de mi desembarco
y únicamente terrestre.
su maquinaria extravagante
cadáver especializado,
a sumergirme en la marea.
mi depravado corazón
y acostumbrarme a submarino.
MAIS OUTRO
e de repente me senti
e unicamente terrestre.
Os jornalistas dirigiram
cadáver especializado,
a submergir na maré.
EL HÉROE
y lo vio la ciudadanía
y enterramientos en la ropa,
dedicados a la gimnasía.
al mostrar la transformación
de un diario desaparecido.
a su canario en la terraza.)
O HERÓI
e viu-o a cidadania
da calça e da casaca.
desapareciam os coletes
e voltavam certas lapelas,
dedicados à ginástica.
do habitante singular
ao mostrar a transformação
de um jornal desaparecido.
às investidas do inverno.
en la familia de Ostrogodo
de Candelario sepultado,
un abanico insoportable
si se atrevía a respirar:
Y si aminorados sufrían
se disputaban el sillón
Y conservando su decoro
de la frontera peligrosa
y no se dignaban hablar
enmudeciendo y falleciendo
na família de Ostrogodo
de Candelario sepultado,
um abano insuportável
E se aminorados sofriam
disputavam a poltrona
da fronteira perigosa
emudecendo e falecendo
FILOSOFÍA
y de la corteza terrestre:
la geografía y la ambrosia:
FILOSOFIA
e do córtex terrestre
— alimentam-nos os planetas
— a geografia e a ambrosia —
a un analítico final.
y decidió orgullosamente
olvidar se de mi organismo.
de si yo debo obedecer
a su decreto de morirme
Y en esta duda yo no sé
si dedicarme a meditar
o alimentarme de claveles.
NO ENTANTO ME MOVO
um por um se extraviaram
a um analítico final.
e decidiu orgulhosamente
se eu devo obedecer
se dedicar-me a meditar
ou alimentar-me de cravos.
PIEDRAFINA
horripilante y desmedido,
inaceptable y desmedido
desmedidamente dichoso
en mi insurgente desmesura.
a un funeral interminable,
de crisantemos putrefactos.
Y cuando resucité
a un corazón dibujado,
se enamoró de mi nariz,
Entonces desencadené
y la insaciable vanidad
y amargamente satisfecho:
PEDRAFINA
me aconselharam um a um,
horripilante e desmedido,
inaceitável e desmedido,
desmedidamente ditoso
a um funeral interminável,
de crisântemos putrefatos.
E quando ressuscitei
Então desencadeei
e a insaciável vaidade
e amargamente satisfeito:
eres tú mi predilección
mi corazón, mi dentadura,
mi claridad y mi cuchara,
CANÇÃO DO AMOR
és minha predileção
és a taça do depois
e a garrafa do destino.
o cuando se condecoraban
en la molicie de la arena,
en mi callada exploración
no se susurra ni murmulla:
por eso me quedé a vivir
transcurren en un hemisfério
encadenados al silencio.
ou quando se condecoravam
na molície da areia,
na música do silêncio.
os automóveis resvalam
e as multidões políticas
transcorrem em um hemisfério
encadeados ao silêncio.
INTEGRACIONES
estuvieras eternamente
Cerca de ti es cerca de mí
un arrebato repetido.
INTEGRAÇÕES
estivesses eternamente
na noite do terremoto
um arrebatamento repetido.
GATOS NOCTURNOS
me preguntaron en Paris
GATOS NOTURNOS
me perguntaram em Paris
a espreitar as constelações:
cintilam os minerais.
as circunstâncias do deserto
ou as estrelas do espaço.
Centella, tú me dedicaste
de tu fosfórica amenaza
a buscar adentro de mi
agonizando, el meteoro.
Aprendí la velocidad
y de mi lento movimiento
Y no lo pienso desdeñar
y me remito a mi verdad
RECHAÇA OS RELÂMPAGOS
Centelha, tu me dedicaste
as abundâncias do outono.
as galerias da terra,
agonizando, o meteoro.
Aprendi a velocidade
do manifesto submarino.
DESASTRES
y me fui a Valparaíso.
En Valparaíso caían
de mi perdida biblioteca
y un Cervantes desmantelado.
me expulsaron de la ciudad:
DESASTRES
Em Valparaiso caíam
e um Cervantes desmantelado.
Em Santiago as eleições
me expulsaram da cidade:
e na rua os assassinos.
e as estrelas inimigas
foram tragadas pela luz
RECUERDOS DE LA AMISTAD
la de mi amigo Rupertino
y le corté mi vecindad.
Presidente de Costaragua
me designo Generalísimo,
a cargo de su territorio:
Nadie sabe lo que es morder
el polvo de la derrota:
se derritieron de calor
RECORDAÇÕES DA AMIZADE
Presidente de Costaragua
me nomeou Generalissimo,
as monarquias cafeeiras
Ninguém sabe o que é
morder o pó da derrota:
derreteram de calor
EL POLLO JEROGLIFICO
la aproximación de la sombra,
de posesiones terrenales
el crepúsculo inevitable?
y alcoholes extravagantes,
nadó en espuma de cerveza,
farmacopeas y almanaques:
o palpitaba demasiado
el advenimiento fatal
mi amigo desinteresado.
a un restaurante de Paris
la aproximación de la noche.
un jeroglífico inquietante
O FRANGO HIEROGLÍFICO
a aproximação da sombra,
de possessões terrenais
ou as palmeiras de Sumatra:
o crepúsculo inevitável?
e álcoois extravagantes
nadou em espuma de cerveja
farmacopéias e almanaques,
ou palpitava demasiado
o advento fatal
a um restaurante de Paris
a aproximação da noite.
um hieroglífico inquietante
na cabeça do benigno
do serviçal desorientado.
Es mi deber de sacerdote,
de geógrafo arrepentido,
de naturalista engañado,
y detengo su bicicleta:
Olvidas, le digo, villano,
a la exclusiva transparencia.
en el callejón de la muerte,
El transeúnte me clavó
Y me dejó — triste de mí —
MANHÃ COM AR
se as folhagens inocentes
de geógrafo arrependido,
de naturalista enganado,
Olvidas, digo-lhe, vilão,
e os rincões humilhados?
se assassinam as alimárias,
se despedaçam as pombas
e se degolam as melancias?
Arrepende-te do oxigênio,
à exclusiva transparência.
O transeunte me cravou
a continuidade do vazio,
as montanhas da tristeza
a estrada do destino
Terminaram-se os lamentos.
OTRA COSA
de un enrevesado destino
de soledad a capitolio,
se ha convertido en un anillo
OUTRA COISA
Ninguém me dá asfodelos
de um arrevesado destino
SUBÚRBIOS
en la fugacidad de un corredor
SUBÚRBIOS
na fugacidade de um corredor