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umpontoum O que é psicolinguisti¢a? A mente ea linguagem humanas vém despertando a curiosidade de grandes pensadores ao longo da histéria do homem, No en fanto, com a grande revolugdo cientifica experimentada pelas iéncias humanas, sobretudo nas tiltimas cinco décadas, esses dois objetos — mente ¢ linguagem — passaram a receber espe- cial atengao nas pesquisas. Como mencionado em Godoy e Senna (2011), ainda hoje Pouco sq sabe sobre o percurso da evolugéo biolégica da espécie humana que levou 20 surgimento e desenvolvimento da lingua- gem. Porém, nao resta dlivida de que os impactos desse fato si0 _ Muito profundos, uma vez quea linguagem desempenha o papel primordial na evolusio cultural e recnglégica da humanidade, sendo intrinsecamente uma manifestagio biolégica € social ao mesmo tempo. Podemos afirmar que é a linguagem que temos que nos torna seres humanos. Isso nao significa que os animais nao tenham uma linguagem e uma comunicagao sofisticadas. Em 1967, 0 naturalista Desmond Mortis escreveu um livro invitulado O macaco nu. Esse livro, destinado ao grande piblico, Pretendia mostrar que os humanos sio uma espécie do a dos primatas e que, para um observador imparcial, a principal diferensa.em relagao 20s outros primatas é a visivel auséncia de pelo. No entanto, se nao nos ativermos aos aspectos meramente anatémicos ou epidérmicos, parece preferivel desctever o primata humano como um macaco falante. Naturalmente, poderfamos O_O estabelecer outras caracter{sticas que nos diferenciam dos nossos parentes bioldgicos mais préximos, como 0 fato de-sermos mais racionais que os macacos ¢, além disso, de sermos capazes de idealizar, fabricar e usar artefatos culturais. O problema é que ndo existe uma medida especifica da inteligéncia; a nogéo de ra- cionalidade é bastante confusa e os chimpanzés € os macacos japoneses demonstraram a capacidade de construgio e transmis- io de artefatos. Contudo, apesar de todas as habilidades comu- nicativas que os primatas nao humanos e outros animais alcangam, guisticas nao chegam perto das dos seres suas capacidades humanos. Todas as culturas huma- nas conhecidas na atualidade ¢ Apesar de todas as habilidades comuni que os primatas nao humanos e outros animais alcangam, suas capacidades linguisticas nao chegam perto das. dos seres humanos. também em outras épocas exi- bem alguma forma de linguagem articulada. Além disso, todas as linguas humanas s4o igualmente sofisticadas, de maneira que nao podemos falar de linguas “mais primicivas” ou “mais avangadas’. Esses fatos e outros que ve~ remos adiante sugerem que a lin- guagem é uma caracteristica biologica especifica da nossa espécie. Nessa perspectiva, estudiosos como Pinker (2004) consideram tivas. que a linguagem é mais um “instinto” (como a ecolocalizagao de golfinhos ou a habilidade tecedora de aranhas) que uma in vengio cultural (como a roda ou a escrita), enquanto outros au- tores, como Tomasello (2008), com base em pesquisas feitas com « 2quisig0, na produgao e na compreenséo da linguagem” primatas e também com criangas pequenas, defendem a idela de que a origem da linguagem é precisamente cultural. Com relagio & psicolinguistica, esta tem sido definida como “oestudo das conexdes entre a linguagem ea mente” (Trask, 2004, p. 243), Essa definigio ~ bastante abrangente — é indicativa de ‘um campo de estudo amplo'e diversificado, De modo mais espe- cffico, considera-se que a psicolinguistica é uma ciéncia encarre- gada do estudo dos ‘processos mentais envolvidos na aquisicio, nna produgio e na compreensio da linguagem” pelos seres huma- nos (Altmann, 2006, p. 258). Além desses trés aspectos, Anula Rebollo (2002) acrescenta que também interessa & psicolinguis- tica 0 estudo de casos de perda da linguagem. No que diz respeito & sua ‘Apsicolinguistica é uma origem, 0 nascimento da cién- -Siéncia encarregaca do cia psicolingufstica nos anos 50 estudo dos “processos * do século"XX esta intimamente mentais envolvidos na ligado a uma tendéncia geral de aparecimento de novas ciéncias a partir de fusées entre algumas jé pelos seres humanos existentes. Com efeito, a psicoline (Altmann, 2006, p. 258). Buistica surge com a necessidade de se oferecerem bases ¢ explica- s6es tebricas a varias tarefas praticas, para as quais as abordagens puramente linguisticas se mostraram’insuficientes por focarem a estrutura das linguas ¢ a andlise textual, excluindo de sua the vestigagao o sujeito falante, Essas tarefas priticas incliem o en- sino da lingua materna e das linguas estrangeiras, os problemas ‘eptacoboy wa sormvose os especificos da fonoaudiologia, a recuperagio da fala apés traumas eacidentes cerebrovasculares, a psicologia legal ea eriminologia, a tradugio auromética ea criagio da inteligéncia artificial. umpontodois Um pouco de histéria desenvolvimento da psicolingufstica, como ocorre com tan- tas outras disciplinas, implica a passagem por diferentes fases. Assim, é consenso entre diversos estudiosos da area que, na his- toria da psicolinguistica, podem ser observados quatro princi- pais perfodos, de acordo com Balieito Junior (2003): 1. Perfodo da formagio ~ © modelo mecanicista empres- tado da Teoria da Informaco (Shannon; Weaver, 1949), com nogdes como fonte, transmissor, canal, receptor, foi, amplamente usado pelas pesquisas da década de 1950, com fortes influéncias da psicologia behaviorista (com- portamental) dalinguagem eda linguistica estruturalista. scouncuiica RA FOCO-ANGuAGEM-AQUSICADE APRENDZAGEM . 9 2. Periodo linguistico ~ Com o predominio da influéncia da gramética gerativa de Noam Chomsky, as regras de geragao de sentengas dessa gramética — com status de modelo descritivo da linguagem — eram entendidas tam- bém como um modelo funcional que pode ser verificado pela experimentagio psicolégica. A busca de confirma- sa desse modelo alavancou os estudos de aquisigao da linguagem, abrindo, assim, um novo campo de pesquisa. 3, Periodo cognitive - K caracterizado pelas criticas das abordagens anteriores, pela forte atengdo A semantica e pelo estudo de falantes reais em contextos também reais, sem a formulagéo de teorias altamente formalizadas (ccorre uma ampliagao da psicolinguistica com base nas contribuigées de psicélogos ¢ fildsofos da linguagem). 4 Periodo atual ~ Trata-se do desenvolvimento da psicolin« guistica como ciéncia interdisciplinar que envolve varias tendéncias tedricas ~ a questio da realidade psicolégica mantém-se em lugar de destaque na teoria psicolinguis- tica, que busca pesquisar aspectos como a natureza do conhecimento e a forma como as representagdes mentais se estruturam e se articulam com esse conhecimento. Atualmente, podemes considerar que varias disciplinas convergem para © mesmo objeto dé estudo e mantém uma es- treita relagéo com a psicolinguistica. A linguistica, que &a ciéncia da linguagem, se divide em varias éreas que tratam dos aspectos mais especificos da linguagem: fonética, sintaxe, se- ‘mantica, pragmética, andlise do discurso etc. 20 [LA SoDOY LAA SHALHOSKIONAS A psicolinguistica, por sua vez, esta interessada no estudo dos processos cognitivos que possibilitam a compreensio e pro- dugio da linguagem. Assim, dispor de um bom conhecimento descritivo sobre a estratura ¢ as regras de fancionamento de uma lingua pode proporcionar um ponto de partida muito teil e até mesmo sugerit hipéreses sobre as estratégias que os fa- antes usam nos correspondences niveis de processamento. No entanto, os conhecimentos linguisticos geralmente nfo sio sufi ciences para explicar como a linguagem € processada. A linguis- tica nada diz a respeito das caracteristicas funcionais do sistema cognitive que executa o processamento da linguagem nem sobre os mecanismos e estratégias usados nesses processos. Como apontam Godoy e Senna (2011), 0s problemas de in- teresse da psicolinguistica arualmente abrangem aspectos coro: hs a eicounouisnica da raco-UNGUAGEM UII EAPRENDIKGEM + diferengas de percepgip e compreensio da fala oral e da escrita; . + 0 papel do contexto no processamento da falas + esprocessos de obtensio dos virios tipos de conhecimento; 0s niveis de representagio do discurso na meméri a construcao dos modelos mentais do conteddo textual; + 0 processamento do discurso; + aaquisi 10 da linguagem e das linguas part criangas e adultos; talares por + aprodugao da fala, considerando-se os diferentes niveis de sua geragio; e + os problemas neuropsicoldgicos da linguagem. Além disso, publicagées mais recentes sinalizam a neces- _ sidade de inclusio, no quadro dos problemas abordados pela psicolinguistica, de temas como a comanicagio intercultural, entre outros, Com essa diversidade de asguntos, é natural que se fagam intersegdes e até mesmo superposigdes dos problemas que tradicionalmente pertencem a psicologia cognitiva, & lin- guistica, ao campo da inteligéncia artificial e a pragmatica, Com todas essas possibilidades de abordagem, a psicolin- guistica esta se tornando mais eclética. Embora 0 estudo do pro- cessamento de sentengas como unidades da linguagem continue bastante popular entre os psicolingutstas, nas tiltimas décadas 0 foco foi eransferido para os estudos do discurso que permite interligar as pesquisas da linguagem que acontece em sieuages reais com os estudos sobre 0 processamento sintatico ¢ lexi- cal, Também a pragmética ~ que, entre outros assuntos, estuda como as regeas sociais ¢ os mecanismos cognitivos regem 0 uso da Hinguagem e fazem com que a fala ea escrita (e sua interpre- tagio) mudem com a situasio e com as habilidades linguisticas dos interlocutores ~ tem atraido o interesse de psicolinguistas. umpontotrés . Metodologia da psicolinguistica Na psicolingutstica, diferentemente de outras disciplinas que estudam a linguagem, hi o requisito de que as hipéreses conclusdes produzidas no Ambito de suas investigages scjam contrastadas sistemaricamente com os dados de observasées, experimentos efou simulagdes cuidadosamente controlados. Por isso, sao utilizados trés tipos de métodos de pesquisa psico- Linguistica: 0 mérodo observacional, o método experimental ea simulagio cognitiva. © mérodo observacional consiste na observagio do comportamento linguistico em diferentes atividades verbais de compreensio ¢ produgio da fala em situagSes comunicati- vas contextualizadas. Sao feitas gravagdes ocultas das conver- sas (0 corpus) sem que os patticipantes tenham sido avisados do fato. Além disso, por questées éticas, os nomes dos envolvides sao omitidos. nfvoco:unclwcent -AauISGRO€ APRENDAEM 3 Ouuso do método experimental pressupée a existéncia prévia de alguma hipétese sobre o fenémeno linguistico de in- teresse, deduzindo-se o tipo de consequéncias empiticas que a hipétese prediz, Com base nessas previsdes e dedugses, sio fei- tos os experiments que provam ou negam a realidade empirica ou a vilidade explicativa da hipétese. Com base na suposigio do método experimental de que apenas a observagio e descri- 40 dos fendmenos do comportamento linguistico sio insufi- + cientes, os experimentos se definem como situagées artificiais de observasao, nas quais So controladas as diferentes variveis importantes para 0 experimento, Nos estudos da produgio da linguagem, é mais dificil realizar experimentos em razao do fato de que o inicio do proceso sempre pertence ao sujeito e nao ao experimentador. Por isso, ndo h4 como manipulat as ideias, as, intengdes e os conhecimentos a partir dos quais 0 sujeito produz +a fala ow a escrita, A simulagao cogs iva € 0 terceiro método de pesquisa do comportamento verbal, Tal como’ a psicologia cognitiva, a psi- colinguistica se baseia na suposi¢io de que as fungbes darlin- guagem possam ser descritas como se fossem programas de computador, ou seja, em termos de representacées simbilicas e regras computacionais aplicadas a esses simbolos. 4 LA GODOY LUA SHA KORRAS Essa proximidade com as ciéncias da computago per- mite aos psicolinguistas desenvolver simulages de compreen- siio ¢ produgéo da linguagem. No entanto, diferentemente dos programas de inteligéncia artificial, nas simulag6es psicolin- guisticas interessa nao apenas que o computador seja capaz de executar uma tarefa com eficdcia, mas também que essa tarefa seja executada da mesma maneira como fazem os seres huma- nos. Assim, 0 programador precisa ter & disposi¢ao um modelo da atuagéo humana para elaborar 0 programa. Se o programa reproduz a execugio da tarefa feita por humanos (seus padroes de resposta, tipos de erros etc.), 0 modelo pode ser considerado validado. Caso contrario, o modelo e, consequentemente, 0 pro- grama sio modificados até que os dados coincidam (Cuetos, 1999). A pesquisa psicolinguistica se concentra em trés grupos de sujeitos para compreender os processos linguisticos envolvi- dos no comportamento verbal: 1. Adultos com a competéncia em uma ou mais linguas ~ Nesse caso, séo investigados os processos de compreen- so e produgio da fala, tanto em sua forma oral como na escrita. 2. Criangas em processo de aquisigio da linguagem ~ ‘A maneira como uma crianga adquire a linguagem pode proporcionar muita informagio sobre o funcionamento do sistema de processamento linguistico, porque, para chegar a ter o Sistema completo, a crianga precisa ir de- senvolvendo os diferentes componentes que 0 intégram. FSCOUNGUETEAEM FCO: LIGUAGEM - AUSGAO EAPRENDAGEN 8 3. Criangas e adultos com transtornos do comporta- mento verbal - As pesquisas sobre a linguagem desse tipo de sujeitos visam a descobrir os mecanismos cogni- tivos que nos permitem usar a linguagem. umpontoquatro Fundamentos biolégicos da linguagem humana Para initiarmos este tépico sobre os fundamentos bioldgicos da linguagem humana, convidamos voc, leitor, a refletir sobre a seguinte questo: Para aprofandarmos a compreensio dessa questio, 0 pri- meiro passo é levarmos em consideragio que a linguagem é uma faculdade psicolégica que se sustenta em um supotte bioligico. A atividade verbal depende do funcionamento de uma série de sis- temas neurofisiolégicos altamente especializados para sua tealiza- 40, sendd 0 mais importante de todos © sistema nervoso central, form&lo pelo cérebro, pelo tronco do encéfaloe pela medula espinhal. Esse sistema, Juntamente com 0, sistema nervoso Alinguagem é uma faculdade psicolégica que se sustenta em um suporte biologico. + ecounusnca em roco:uNduace perifévico (um conjunto de nervos que conecta o sistema nervoso central com o resto do corpo), participa da recepsio e da produsio da fala. Dessas atividades verbais participam outros sistemas, os quais recebem 0 nome de érgias perifricos de produgio e receprio. Os sistemas patticipantes da produgio sio 0 fonoasticulatério, «que usamos pata falar, e 0 manusdigital, que nos permite escrever. Para recepgio da fala, usamos 0s ouvidos e 0s olhos. Entre seus érgios periféricos de produgio de fala, 0 ser hu- mano dispoe de um chamado aparelho fonador que nao compat- tilha com nenhum outro animal de espécies proximas, embora todos os oss0s, miisculos e tecidos brandos tenham paralelos com os dos primatas superiores. As especificidades da evolugao da arquitetura do cranio e da mandibula humanos modificaram a anatomia facial, prin- cipalmente no que se refere 4s bochechas e & sua relagéo com fo tamanho da boca. Assim, gragas ao masculo das bochechas chamado bucinador e aos miisculos labiais, podemos articular sons oclusivos como (p] ¢ [b]. Como os nossos dentes caninos tém praticamente 0 mesmo tamanho dos outros dentes, po- demos articular sons fricativos como [f] e (v]. A nossa epiglote & muito mais baixa que em outros primatas ¢ nfo toca no pa- lato mole, fazendo com que 0 ar que expitamos nao precise sair obrigatoriamente pelo nariz; assim, os sons das vogais nio sio obrigatoriamente nasais. Essas sio apenas algumas caracteris- ticas da nossa anatomia facial que permitem a fala articulada. Entretanto nao devemos pensar que essas peculiaridades ana- sémicas humanas sejam determinantes. Por um lado, conhe- cemos algumas espéciés de passaros, como papagaios, que, no cc A0 E APRENDTAGEM 7 possuindo nossa anatomia craniana, sio capazes de pronunciar sequéncias bastante longas de eniinciados linguisticos com no- tavel perfeigio. Por outro lado, certas deformagées dos drgios fonadores, como o lébio leporino, nao impedem seus portadores de falacem. Voltemos ao sistema netvoso central, agora para destacar © papel desempenhado pelo cérebro na produgio, recepcio e processamento da linguagem, pois ele é o principal responsivel pela comunicagao verbal do ser humano, Figura 1.1 — O CENTRO DA LINGUAGEM cnt FONE Adopts de Garman coco per Adaatota, 2002p 20. Q cérebro humano é muito maior e mais pesado que g cé- rebro dos primatas e, além disso, tem as circunvolugées mais profundas. No entanto, tais diferengas por si s6s nao explicam por que o ser humano fala e os macacos nao. fen coDUY aA SAL HOODS 14.1 A lateralizagao de fungdes no cérebro E fato bastante conhecido que o cérebro humano possui uma es- trutura neuroanatémica muito complexa dividida em duas gran- 5 ~ o hemisfério esquerdo e 0 hemisfério direito -, as, des regi quais sio ligadas por uma estrutura conhecida como corpo caloso. ‘Com base na verificagio de que esses hemisférios se especializam. | em habilidades diferentes, surgiu o conceito de lateralizagao fun- cional. Quanto a linguagem, as evidéncias de sua lateralizagao \ provém de estudos de pacientes com afasia’, de testagem de ava- | liagao para neurocirurgia e da observacao, por meio de tecnologia de imagem e da ativagao cerebral (Rosa, 2010). | Os procedimentos de diagnés- A linguagem no se da somente em dreas especificas do cérebro, | mas também em outras, reas distribuidas tanto no hemisfério esquerdo quanto no direito, tico por imagem ea medigao da ati- vidade elétrica no funcionamento cerebral com romégrafos de resso- nancia magnética possibilitaram 0 mapeamento das Areas responsiveis pela linguagem e o entendimento de como estas se relacionam no cé- rebro. Foi possivel detectar que a linguagem nao se da somente em areas especificas do cérebro, mas também em outras Areas distribufdas tanto no hemisfério esquerdo como no direito. Outra descoberta feita com 0 auxilio * De acordo com Houaiss ¢ Villar (2008), afasia € 0 “enfraquecimento ou perda do poder de capracio, de manipulagso e por vezes de expressio de palavras como simbolos de pensamentos, em vrtude de esdes em alguns centroscerebras eno devido a defeito no mecanisnio auditive ou fonador; logastenia’ + scounousnic emroce- undue -AQUBIPAD PRENDAGEN 29 irae cece esse cas enisuanaeumcmstiacamsinoa cue cuniniocnontieemuaccsoueectomcanacaiunrcenmanas | da tecnologia refere-se 4 observagio de que as éreas subcorticais também sio importantes para o processatniento da linguagem. Quando a crianga nasce, os hemisférios nao sio idénticos quanto A sua estrutura, mas provavelmente sio idénticos fun- cionalmente. Na maioria das pessoas adultas, 0 hemisfério es- querdo & 0 dominante para as fiunges da linguagem, embora © direito também tenha uma participagio muito importante, como ilustra o Quadro 1.1. Quapro 1.1 ~ RELAGAO ENTRE A LINGUAGEM E OS HEMISFERIOS CEREBRAIS PROSODIA, Ritmo Domina Lo Entonagio Parvicipa Participa Timbre Participa Participa SEMANTICA Significado verbal | Domina SINTAXE, ‘Sequenciagio Domina RelagSes entre Domina 18 elementos FONTE cri casper Arla bts 2020.20 Conforme Godoy e Senna (2011), hé evidéncias de que 0 hemisfério esquerdo é mais bem equipado que o direito desde fo nascimento para abrigar as fungées linguisticas. No entanto, no caso de ocorter algum traumatismo ou enfermidade nesse hemisfério, o direito pode se encarregar dessas fungdes, mas a idade do paciente ser4 determinante pata o prognéstico. Em criangas muito novas, mesmo a retirada total do he- misfério esquerdo pode nao ser prejudicial para que elas desen- volvam a linguagem normalmente. Porém, com o avango da idade, ocorre a especializagao de cada hemisfério em fungdes es- pecificas, com diminuigao da fle- xibilidade cerebral, 0 que pode Em criangas muito novas, mesmo a retirada total do hemisfério esquerdo pode ndo ser prejudicial para Formagio cipa : convin “ Parcipa |_| Participa evar, em certas circunstancias, a - distairbios sérios da linguagem. que elas desenvolvam a Tmagens visuais Domina 5 linguagem normaimente. (oninn) 5 30 = — - AMA GODOY LIRA SCHALEOKIOS scouncuision en Foco-ncunen-"AQ¥S¢A0 EaPROwAGE ot | Questdo para reflexao | | | Vocé sabia que o hemisfério esquerdo € 0 responsivel por con- trolar boa parte do lado direito do nosso corpo e que o hemis- {rio direito conerola parte do lado esquerdo? Assim, seri que | a lateralizagéo da linguagem do lado esquerdo do cérebro tam- bém’vale para as pessoas canhotas? Conforme Rosa (2010), apesar de o hemistério esquerdo controlar boa parte de nosso lado diteito e de o hemistétio di- reito controlar parte de nosso lado esquerdo do corpo, a apli- cacao de um teste chamado Wada revelou a dominincia do hemisfério esquerdo para a linguagem em 70% dos canhotos & 96% dos destros testados. Entre aqueles que tinham dominan- cia manual esquerda, 15% demonstracam dominancia bilateral da linguagem, ou seja, 0 controle da linguagem nesses sujeitos ocorreria nos dois hemisférios. Sintese Neste capitulo, vimos que a psicolinguistica tem como objetivo a descrigio e explicagéo do funcionamento da linguagem, levando em consideragao a complexa interagio de muiltiplos fatores in- ternos ¢ externos e incluindo em sua perspectiva de investigacao © individuo nas interagées socioculturais. Para tanto, essa disci- plina usa trés tipos de métodos: 0 observacional, o experimental © 0 de simulagio cognitiva, Vimos também o percurso histérico Ps ma copay ua sc rose As 0 noe See Eee da psicolinguistica, que comegou sua existéncia como uma fussio da psicologia ¢ da Linguistica, reve uma forte influéncia da lin- guistica formal, crivicada posteriormente pelos estudiosos das ciéncias cognitivas, e transformou-se no que é atualmente ~ uma ciéncia profundamente interdisciplinar, Por fim, fizemos uma breve “excursio” pela neurobiologia humana necesséria para que tenhamos nossa linguagem. Indicagées culturais Artigo CASTRO, J. S. A pesquisa em psicolinguistica. In: AGUIAR, V. T. de: PEREIRA, V. W. (Org). Pesquisa em Letras. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2007, Disponivel em: . Acesso em: 24 jan, 2014. ‘Se voce tiverinteresse em conhecer mais sobre as pesquisas que tom sido reli- zadas na drea de psicolinguistca, sugerimos 0 acesso ao site indicado e a lei- tura do artigo “A pesquisa em psicolinguistica’, de Jselaine Sebem de Castro. Filme A GUERRA do fogo. Diregio: Jean-Jacques Annaud. Fransa: 20" Century Fox Film Corporation, 1971. 100 min, Un filme interessante para se pensar a questao do desenvolvimento da lingua- {gem humana é A guerra do fogo. O filme retrata um periodo na Pré-Historia dle dois grupos de hominideas,com diferentes formas de comunicacao e habitos. naa moulsneaefiroco InGuagcne-AQUSIGAO €APRENOAGE 3 i ee Video ‘A LINGUAGEM humana. 22 dez. 2009. Disponivel em: . Acesso em: 24 jan. 2014. Para ampliar seu conbecimento, sobre a neurobiolagia envolvida na capaci- dade linguistica humana, recomendamos que reserve un tempinbo para as- sistir a0 video indicado. Atividades de autoavaliagao 1 Conserando os temas estadados neste capttulo,anaise seas afirmagies a seguit sio verdadeiras (V) ou falsas (F). Depois, selecione a alternativa que apresenta a sequéncia correta: (_ ) O surgimento da psicolinguistica se deve & nevessidade de for- mulagao de novas teorias na psicologi )A psicolinguistica estiida o uso das Hinguas particulares em dife- rentes condiges em razéo da ago de farores internos ¢ externos. (Ao usarmos a linguagem, nfo temos consciéncia dos mecanis- ‘mos que aplicamos para reconhecer palavras, acessar 0 léxico, construir frases etc. A psicolinguistica pesquisa o comportamento verbal de erés gru- pos de individuost a) adultos que falam luencemence pelo menos ‘uma lingua; b) criangas que esto no processo de aquisigio da linguagem: e c) criangas adukos que tém o comportamento 2. Considerando o suporte biolégico da Kinguagem, assinale a al ternativa correta: 4,0 brgio responsivel pela realizagio da atividade verbal humana éaboca. As peculiaridades anatémicas do aparato fonador humano de- terminam a nossa capacidade linguistic. «. Aestrutura neuroanatémica muito complexa do cérebro hu- mano explica por que e.ser humano tem a capacidade da fala ¢ ‘0s macaces niio. 4. O misculo bucinador das bochechas e os miisculos labiais sto responsiveis pela nossa capacidade de articular sons oclusivos evocilicos. 4. Analise as proposigSes a seguir sobre as merodologias de pes- aquisa em psicolinguistica e, logo apés selecione a aleernativa que apresenta os itens corretos: No método observacional, sio feitas gravagbes ocultas das con- versas para se observar'o comportamento linguistico de diferen- tes atividades verbais. 1. Oso do método experimental tem como pré-requisito a existén- cia de alguma hipécese sobre o problema linguistico de interesse. ti, O mécodo experimental parte da suposigao de quea observagio e descrigio do comportamento lingufstico sio suficientes. \v. © método da simulagio cognitiva se aproxima das ciéneias da a verbal problematico. . a BBV. compuragio utlizando-se da ideia de que as funsbes da lingua > VVVBR gem sio passives de serem descrias, como se fossem programas cc VEE computacionais. @ VEY. . . ‘ a TamAcooUr/LUDASOAKOSI DAS, -PHOOUNGUSTIAY OCH: LNINGEM-ACISEAOE APRA CC EE EEE EEE 4 Somente as proposigées I, I e III estéo corretas. > Somente as proposigées I, Il e IV estio correras. © Somente as proposigées I, III e IV estio corretas. 1. Somente as proposigdes II, III e IV estéo corretas. 4 Quanto a relasio ene linguagem e cérebro, assinale a alternativa que “apresenca a sequéncia correca de palavras que preenchem as lacunas do enunciado a seguir: Considerando a relagio que se estabelece entre linguagem e cére- bro, temos que, na das pessoas adultas, ohhemisté- vio odominante paras fungées da linguagem, embora o hemisfério também cenha uma partici- Pago + 4 minoria — esquerdo — diteito — importante, » maioria ~ esquerdo ~ direito ~ impdrtante. © maioria ~ direivo ~ esquerdo importante. 4. maioria ~ esquerdo — direito ~ pouco importante. s. Em relagio as funges dos hemisférios cerebrais, assinale a al- termativa que apresenta corretamente as palavras que preenchem + aslacunas do enuuiciado a seguir: Emeriangas m im criangas muito mesmo a retirada toral do he- misfério pode ndo ser prejudicial para que elas desenvolvam a Linguagem normalmente. Porém, com 0 avango dda idade, cada hemisfério se especializa em —_ da flexibilidade cerebral. 36 mA GoDOY LUDA ScHAL ADA OS La —oooeeee a. velhas ~ esquerdo ~ funges especificas ~ diminuigio. j » novas — direito ~ fungSes variadas ~ diminuicio. novas ~ esquerdo ~ uma fungi especifica ~ aumento, 4 novas ~ esquerdo ~ fungies especificas ~ diminuigto. Atividades de aprendizagem Questies para reflexio 1. Tomasello (2003, p. 6, grifos do original) pondera que podem ser identificados erés tipos basicos de aprendizagem social: aprendizagem por imitaséo, aprendizagem por instrugio ¢ aprendizagem por colaboragio. Essestrés tipos de apren- dizagem cultural tornam-se possiveis devido a uma dnica ¢ muito especial forma de cognigdo social, qual sea, a ca- pacidade de cada organismo compreender os coespecificos como seres iguais a ele, com vidas mentais ¢ intencionais iguais as dele. Essa compreensdo permite aos individuos imaginaremse “na pele social” de outra pessoa, de modo que nao s6 aprendem do outro, mas através do outro. Considerando a citagao e também o exposto neste capitulo, re- flica sobre a aprendizagem das linguas. 2. Descreva algumas caracteristicas da anatomia facial humana que permicem a fala articulada + rw mula extrac unas AQUISGAD EAPRENDASEM a Atividade aplicada: pritica 1 Realize uma pesquisa na internet sobre a chimpanzé Washoe e © experimento realizado pelo casal que a criou, Depois prepare ‘uma apresentagao e socialize os principais resultados desse ex- petimento com seus colegas. LENA GODOT /LUZA SOULAORR BAS (No PRIMEIRO CAPITULO, apresentamos os assuntos de in- teresse da pesquisa psicolinguistica. Vocé deve lembrar que entre ‘esses assuntos esté a questi da aquisigio da linguagem pela cerianga. Agora, vamos explorar alguns aspectos relacionados & aquisigio e a0 desenvolvimento da linguagem durante a inféncia. Comegaremos introduzindo o conceito de aquisi¢ao. Em seguida, acompanharemos 0 caminho do desenvolvimento linguistico que a crianga percorte e examinaremos a linguagem dos adultos dirigida & crianga. Por fim, tratatemos das principais teorias que buscam explicar como a aquisigéo ocorre e por que, durante um periodo tio curto, 0 individuo chega a dominio completo da sua lingua materna, O nosso propésito € mostrar que, por meio da linguagem, a crianga tem acesso a valores, crengas € regras, adquirindo os conhecimentos de sua cultura. A medida que se desenvolve, ela alcanga um nivel lingufstico ¢ cognitive majs’ele- vaifo, enquanto seu campo de socializagio se estende. == doipontoum: . O caminho da aquisi matern cao da lingua A capacidade de o ser huméno falas e ter na fala uma poderosa ferramenta de agio é, sem divida, algo surpreendente! Dirfamos que ainda mais extraordinério é 0 proc fala e do modo de usé sso da aprendizagem da a. E realmente espantoso que a crianga fem poucos anos chegue a dominar sua lingua materna (que pode ser uma ou mais). Considerando esse fenémeno maravi- thoso, rémos que uma das principais tarefas da psicolinguistica €compreender ¢ explicar como as criangas aprendem a falar ea entender a lingua, o que é um fendmeno muito complexo, As discussées a respeito da y fe * natureza do processo de aquisigio ; da linguagemr pela crianga dividem r psicdlogos linguistas. Enquanto para uns ele é “natural”, 0 que significa dizer que seria biologica- mente especificado no genoma hu- mano, para outros se trata de um fendmeno “cultural”, ou seja, que é aprendido (God postura inais Senna, 2011). No entanto, atualmente a iceita € que a linguagem humana responde a fm “instinto” inato, Isso no quer dizer que alguma lingua especi- fica seja inata (por exemplo, as linguas portuguesa, inglesa, chi- nesa, russa ou outra qualquer). A ideia por eras dessa postura é 2 una cooor Ls gue a mente humana contém algumas estruuras inatas gerais muito poderosas para a andlise e a aquisigao da linguagem. de aquisi- Independentemente da natureza do proc gio da linguagem, 0 percurso de tal aquisigao apresenca algu- : confirmadas pela literatura especializada. mas fases definidas, ; 2 A linguagem se desenvolve em todas as Criangas normais, obe decendo a sequéncias cronolégicas semelhantes, embora possa haver variabilidade no ritmo de evolugio de até seis meses (Pefia-Casanova, 1994). Nasprimcieas sew a io est dormindo, chorando ou mamando, permanece nas de vida,amaioria dosbebés, quando ‘! (pape Figura 2.1 — SONS MOTIVADOS PELO DESCONFORTO (1D, DR 0-2 MESES) O choro da crianga significa que ela est experimentando algum desconforto. Porém, nesse période; 0 choro e outros sons que 0 bebé produz sio involuntirios, ou seja, trata-se de ma- nifestages sonoras condicionadas fisiologicamente, que sio chamadas de reflexivas. Entretanto, 0 impressionante é que re- cém-nascidos de apenas alguns dias (¢ até algumas horas, como Imostrararh experimentos recentes) jf reconhecem a lingua de seus pais, em razéo de padres prosédicos (entonagio, ritmo + tc) tipicos da lingua que ouviram no iiltimo trimestre de ges- tagéo, mas petmanecem indiferentes quando expostos a outras Hinguas. Isso explica por que, quando se fala portugués com um bebe brasileiro, ele reage, mas nio reagesealguém se dirigeaele em outra lingua (inglés, chinés, russo etc). Questo para reflexdo Ainda considerando 0 choro, voeé ja se perguntou qual seria sua importincia para o desenvolvimento da fala? Pode-se dizer que 0 choro tem um papel importante nesse processo, pois o bebé comega a aprender a controlar sua respiragio, sendo esse controle a base para a fala, Passados poncos meses, a crianga comega a produzir ou- tros tipos de sons que significam que esta tudo bem com ela, para a alegria dos pais. Esses sons sio anteriores a0 balbucio®, por isso, sao de dificil representacao grafica. ‘BeNAcoD0¥/ aA scHALOSK DAS €or FIGURA 2.2 — SONS PROVOCADOS PELA SATISFAGAO DO BEBE (DADE DE 2-4 MESES) nto Fea esse perfodo de sua vida, quando surge 0 chamadoarrulho' a crianga comega a distinguir 0s sons vocilicos ¢ consonantais ~ ainda que de uma forma difusa ~ eapidamente passaa eee ‘0s sons da voz de sua mae com experiéncias ou sensagées agrada- veis, normalmente reagindo com um sorriso, 0 qual é considerado + usos rl uaa iss cman ears meta ee ur tense pri er onions Srloedosstece) Pecunia sondo or ttt sepeopenesndp nde ito me as de sralmencewbeances, rounrsien eu reco: unc “AauX0E AHENDEAGIN como um indicio importante de que a crianga relaciona as coisas de seu interesse, de seu mundo, coni afali (Godoy; Senna, 2011) Seguindo seu instinto,a mie conversa coma crianga enquanto a alimenta, dé banho etc. periodo compreendido entre 4.e7 meses é absoluramente vital para o desenvolvimento da fala, pois é quando a crianga c mega a bilbuciar. " Ficura 2.3 — FASE DE BALBUCIOS (1DADE DE 4-7 MESES) O bebe emite sequéncias de sons de diversos tipos e re- pete as mesmas silabas, “brincando de falae”, Essa é a fase de lim w a . n verdadeiro treino fonético. As primeiras séries de sflabas 46 ENA GoDoY LUZ soHALOSO DIS TES se relacionam com a facilidade articulatéria das combinagées € sio iguais em todas as linguas: pa-pa, ma-ma, ba-ba, da-da, ta-ta. E por esse motivo que em todas as linguas do mundo essas com- binagdes sao escolhidas para se referir aos pais: papa, papé, papai, baba, mama, mamd, mamma etc. Como acontece no desenvolvimento de qualquer outra forma de aprendizagem (engatinhar, sentar, andar, agatrar etc.), nao é possivel distinguir claramente cada etapa do desenvolvi- mento da fala, por exemplo, por datas especificas, Também é preciso considerar que diferentes criangas passam por essas eta- pas em idades ligeiramente diferentes ¢ que a duragio de cada etapa de desenvolvimento também é individual, Porém, éimpor- tante ressaltar que todas as criangas sem sérias patologias obri- gatoriamente passam por todas as etapas do desenvolvimento da fala e da linguagem. Quando a crianga responde Todas as criangas sem sérias patologias obrigatoriamente passam por todas as etapas do desenvolvimento da fala e da linguagem com balbucio a voz de um adulto, ela esté comegando a envolverse fase, os bebés jé sio altamente so- cializados e, entre os 12 € 08 18 meses, muitos deles proferem cla- ramente palavras conhecidas. jeeuneuisroxeM rocouNculce.” AqUSGRO EAPRENDEAGEM 47 ee Figura 2.4 ~ EM1SSA0 DE PALAVRAS ISOLADAS (IDADE DE 12-18 MESES) A partir dessa fase, podemos afirmar que a crianga esté pronta para comegar a falar e desenvolver progressivamente sua comunicagio verbal. Questao para reflexdo | * Fagamos uma pausa no exame das fases de desenvolvimento da fala pelas quais passa toda crianga para refletirmos sobre a se- * Por que a crianga devé aprender a falar? | A fim de aprofundarmos um pouco essa reflexao, resgata- mos uma hist« tha que citcula entre psicdlogos e fonoaudiélo- 05, reproduzida por Godoy e Senna (2011, p. 43). EO Um casal tinha dois fill menino, dois anos mais novo, que nos seus primeiros anos de sma menina muito faladora e um vida nao havia proferide uma palavra sequer, para 0 deses- pero dos pais e dos avés. Elesfizeram de tudo para descobrir a causa. O menino foi levado a um otorrinolaringologista, que do constatou quaisquer problemas articulatérios nem de au- digdo. Foi levado também a um neurologista, o qual afirmou que estava tudo perfeits com o sistema neurolégico do me- nino ¢ que o cérebro da crianga funcionava as mil maravilhas 0 tempo passava e 0 menino continuava sem falar, embora ja tivesse feito seu quarto aniversdrio. Uma bela manba, quando a familia estava tomando seu café, de repente 0 menino falow em alto e bom som: ‘Esté faltando asticar no mew mingaw. [J] Enfim, a mae conseguiu gaguejar: ‘Pedrinho, meu bem, mas por que voct nunca falou antes”. E o Pedrinho respondeu: “Porque antes nunca faltou nadat” Como vocé deve estar imaginando, a principal mensagem dessa historia estd relacionada 4 necessidade de motivacao para se falar. A crianga do relato nfo precisava falar, por isso nio falava. Muitas vezes as necessidades da crianga s4o tao pronta- mente atendidas, bastando um simples gesto, que ela nao tera motivo para falar. Voltando a questio inicial, é vilido supor que, em princfpio, todas as criangas tém uma motivagdo para falar simplesmente porque pertencem a espécie humana. Além disso, qualquer crianga, em condigdes comuns e normais, rapidamente desco- bre que os sons que saem da boca daquelas pessoas que habitam seu pequeno mundo tém uma forga muito poderosa, pois as pa- lavras fazem com que “acontesam coisas", Nessa idade, criangas se expressam por meio de palavras isoladas, Durante esse periodo, o vocabulatio infantil é de mais ‘ou menos 50 palavras formadas por uma ou duas silabas, A drea conceitual, que corresponde a uma sequéncia sonora (palavea), se modifica e seu significado pode se expandir ou se contrair. Um exemplo claro é a palavea papd. A crianga entende que essa palavra se refere a uma pessoa (de barba, de fala “menos mansa’, de andar e gestos “menos suaves” etc.) que a mae chama assim. Passado algum tempo, ao sair com a mie para um passeio, basta que a crianga veja uma figura masculina para que ela grite ale- gremente ‘pap, papa’, deixando sua mae constrangida. Com 0 tempo, quando a crianga incorpora no seu vocabulatio a palavra “homem, o significado de papd volta a reduzir-se para passat a significar apenas aquele homem que’ é seu pai. Posteriormente também pode vir a usar a palavea papd com outro significado, como sindnimo de comida. E importante observar que as palavras da crianga nessas. primeiras fases da evolugao da linguagem nao se referem exata- mente a um objeto ou a um individuo. Assim, uma palavra como siu-au pode significar nao 98 a informagao sobre a presenga de ee = IEE STE AUER RES SOESNN I ''CS ESE TIE EROS: uum cachorro (ou qualquer outro bicho ~ 0 conceito expand o significado dessa palavea pode ser equivalenteao fica le uma sentenga:“Quero brincar com este cachorro,“Tenho medo de cachorro”, “Vem aqui, cachortinho!” etc. Psicolinguistas cha- mam essas primeiras palavras da erianga de palavrasfases ot holéfrases. Durante essa etapa, acrianga vive uma verdadetra e plosio linguistica’: ela adquire o vocabulétio a uma velocidade assombrosa de aproximadaniente uma palavra nova a cada duas horas. A essa fase se seguem outras: as de aquisi¢ao de estru- turas gramaticais, de aquisigio de novos conceitos e de refina- mento e maior precisio de significados. - Essa fase das palavras isoladas, ou palavras-frases, € bas- tante varidvele, dependendo da crianga, pode durar entre dois meses e um ano. Porém, como comenta Maewhinney (2007, como palavras isoladas néo dio conta de articular uma visio mais completa do mundo que cerca a crianga, esta precisa ser capaz de associat predicados, como quero, a argumentos, como ito, mama, historinha etc. a partie do segundo ano de vida, por volta dos 18 a 24 meses, a crianga comega a combinar palavras em sentengas de duas e, depois, trés unidades, Essa associacao é o primeiro passo no desenvolvimento da sintaxe. 50 ENA GOODY /LURR ScHALIOSK OAS pacin neusreaeM rotor inoue AausA0 EAPRENDRAGENE Ficura 2.5 ~ PRIMEIRAS COMBINAGOES DE PALAVRAS (IDADE DE 18-24 MESES) . «s$010 ter cm sen ‘Tem-se denominado a fala da crianga nessa idade de fala telegréfica, em virtude da auséncia de recursos coesivos, como ar- tigos, preposigSes e pronomes, Nessa fase, as sentengas normal- mente sio compostas de dois substantivos ou de um substantivo € um verbo: “Historinha neném” e “mamé cabé", por exemplo. Assim como no caso das palavras-frases, essas primeiras senten- sas podem ter significados diferentes, de acordo com a situacéo em que sio dieas. Por exemplo, “Hisgorinha neném” pode signi- ficar “Mamie, conta uma historinha para mim’, “Eu ganhei esse liveo de historinhas’, “Vocé quer ver meu livro de historinhas?”, entre outras possibilidades. Como foi possivel observar, o processo de aquisigéo da lin- gua materna se dé de acordo com os estagios bem difetenciados pelos quais passam todas as criangas. Entretanto, o desenvolvi- mento da linguagem nao se restringe apenas & aquisigio da es- trutura da lingua. Logo, as criangas aprendem que a linguagem permite lidar com os mais variados tipos de pessoas nos mais variados tipos de situasdes. Esse processo de expansio da di- mensio social da linguagem’acontece durante todo o periodo de aquisigéo, mas é especialmente saliente nos diltimos anos da idade pré-escolar e no comeso da idade escolar. Assim, as crian- as desenvolvem a competéncia pragmética, Tornando-se cons- cientes dos miltiplos usos da linguagem, elas se tornam mais capazes de adaptar sua fala 20 contexto, “Tornando-se conscientes dos miitiplos usos da linguagem, as criangas Quando a crianga se en- contra em condigées normais, nos sentidos biolégico e social, a aquisicio da linguagem se com- se tornam mais capazes pleta aos 10-12 anos de idade, e de adaptar sua fala 20 contexto. aidade de 13-14 anos é chamada 5 ENA GoDOY LUBA ScHALIOR OAS de periado eritico, que limita.a possbilidade de surgimento e de senvolvimento da linguagem. Podem ser listadas algumas provas relacionadas a existén- cia de um periodo critico. A primeira diz respeito & aprendi- zagem de uma segunda lingua. Na maioria dos casos, quando acontece em idade adulta, esse processo exige do aprendiz es- forgos muito grandes com resultados relativamente mai po- bres. Ao mesmo tempo, a dificuldade dessa tarefa é um indicio de que a aquisigio da linguagem nio depende das capacidades cognitivas dos individuos, visto que os adultos dispéem de mais conhecimentos de varios tipos e de maior ntimero de estraté- gias cognitivas e, mesmo assim, mostram-se menos competentes para chegar a assimilar uma segunda lingua com sucesso. No entanto, vale a pena acrescentar aqui que se, a rigor, a aquisi¢ao da fonologia se completa por volta de 7-8 anos, 0 de- senvolvimento da morfologia e da’sintaxe se aprimora ao longo dos anos e a aquisigao dos léxicos continua por toda a existéncia de um individuo. Outra prova da existéncia do perfodo critico para adqui- tir linguagem se encontra nos limitados progressos no dominio de uma lingua em criangas que foram privadas de experiéncias linguisticas por razées de isolamento social ou de confinamento. Existem registros de casos de evianyas raptadas por lobos ¢ maca- cos e de criangas mantidas pelas prbprias familias em condigées subumanas ou até desumanas. Quando essas criangas forem de- volvidas ao convivio humano em tenra idade, elas poderio atingir © desenvolvimento normal da linguagem e, quanto mais velhas forem essas criangas, menos suicesso linguistico elas alcancario. 54 ena Gooor Ln sora eo ts doispontodois O “manhés' Sit de sua vida a -as pessoas acreditam que nos primeiros anos curso intensivo de sua lingua materna ¢ Mi vianga passa por um a seus pais, avés e/ou outras pessoas que cuidam dela sto de {iro os mais dedicados ¢ abnegados professores. Essa ideia no pode ser romada como verdadeira pelas seguintes raz6es: .. Nem todos 0s pais sio preocupados com o desenvolvi- mento linguistico de seus filhos, por no terem tempo suficiente e/ou pela sua condigéo social. bh. Mesmo os pais mais abastados e dedicados nao conse- guiriam passat a seu filho todas as amostras das combi nagdes linguisticas possiveis na lingua. As criangas frequentemente sao insensiveis as corregSes linguisticas feitas pelos pais. “Todavia, foi demonstrado que os pais modificam sua fala quando interagem com seus filhos pequenos. Esse “estilo” es- prvi & conhecido por manbés e & usado principalmente pelas, inaes e em quase todas as culturas humanas, O uso do “manhés também & frequentemente abservado na fala de pessoas com seuss bichos de estimagio e até entre os namorados. A medida jue 05 filhos vio crescendo, 0 “manhés” aos poucos é abando- nado e substituido pela fala comum. E importante observar que as tragos caracteristicos»préprios do “manhés” nao sio usados scientemente pelos adultos. Esses tracos sto os seguintest + Aaarticulagéo dos sons é mais cuidada, o timbre é mais elevado, a entonagio & exagerada e 0 ritmo mais lento que o habitual, com as pausas mais longas e em maior quantidade. + Os enunciados séo mais breves que os habitualmente usados nas conversas entre adultos, é utilizado um menor niimero de sentengas subordinadas por enunciado e sio formulados mais enunciados sem verbo e um menor ni mero de formas verbais, + Oléxico contém ummimero limitado de palavras, quesio repetidas, e manifesta uma abundancia de diminutivos. +O discurso focaliza 0 “aqui e agora’; sio usadas mais sentengas imperativas e interrogativas com os pronomes quem, que, onde etc., as quais, devemos frisar, sio bem complexas por sua estrutura sintética, o que contraria a jdeia muito comum de que o “manhés” seria uma lingua simplificada. . doispontotrés As teorias de aquisigio da linguagem- As abordagens tedricas que propéem explicagses de comonas criangas aprendem a linguagem podem set organizadas em trés grupos: behavioristas (comportamentistas), inatistas ¢ intera- cionistas. Examinemos a seguir essas trés propostas centrais. 0 OO OO 2.3.1 Abordagens behavioristas © behaviorismo tem a caracteristica de levar em conta apenas ‘0s aspectos comportamentais observiveis e mensuraveis, re~ jeitando quaisquer possibilidades de explicagées mentalistas (relacionadas 2 mente) do comportamento verbal, como 0 co- nhecimento implicito (internalizado) de regras gramaticai a competéncia. Os behavioristas procuram registrar condigées observaveis do meio (estimulos) que predizem comportamentos verbais es- pecificos (respostas). Eles nao negam a existéncia de mecanismos internos e reconhecem que © comportamento observavel tem uma base psicolégica interna. O que os behavioristas rejeicam aexisténcia de estruturas ou processos internos que nao tenham correlatos fisicos espectficos, como as graméticas internalizadas. © desenvolvimento da linguagem, que, para os behavio- ristas, nao é nada mais que a aprendizagem do comportamento verbal, é entendido como uina aprendizagem das associagées entre estimulos e respostas com adigio de varios reforgos e pu- niges proporcionados pelos agentes do ambiente (por exemplo, ‘0s pais). Nessa perspectiva, pais e professores treinam eriangas pata estas executarem comportamentos verbais adequados. Os adultos oferecem a elas exemplos de fala adulta para serem tados, como em: “Tehau. Diga ‘tchau’ pra titia. Que bonito! Ele imi- falou ‘tchau’!”. Ao ter executado 0 comportamento correto, a cerianga recebe um elogio, um reforgo. 8 NA GOODY LUBA SCHALDSOS Ao contestarem a posigdo behaviorista, muitos psicolinguis- tas argumentam que, em situagées reais, os pais normalmente nao se comportam como cuidadosos ¢ eficientes professores da lingiia e, mesmo quando o fazem, sea crianga nao apresenta uma maturasio suficiente, 0 treinamento nao funciona a contento. Vejamos um exemplo de tal treinamento infeliz: + Crianga: “Ninguém nao gosta de mim’, + Mie: “Nao, Diga: ‘Ningném gosta de mim”, + Crianga: “Ninguém nao gosta‘de mim” (O didlogo se re- pete oito vezes). + Mie: “Agora me escuta bem. Diga: ‘Ninguém gosta de mim”. + Crianga (chorando): "Ninguém nio gosta de mim! Nem voeé nao gosta de mim!”. Com certeza, vocé vai se’lembrar de outros casos seme- Ihantes a0 do nosso exemplo, No entanto, como jé dissegnos, é bastante raro os pais corrigirem a forma gramatical do enun- ciado de seu filho. 2.3.2. Abordagens inatistas Ainda ha persisténcia daqueles que supdem que a mente de um tecém-nascido & uma lousa branca, na qual podem ser registra- das quaisquer informagées. Esse modelo foi contestado ha, ao menos, 50 anos, desde que o linguista’Noam Chomsky (1959- 1983) elaborou o chamado argumento da pobreza de estimulo. que Chomsky questionou foi como as criangas adquitem suas Iinguas maternas com tamanha eficiéncia a partir de estimu- los tao aleatdrios e incongruentes. A contribuigio da linguistica chomskyana para a compreenséo da narureza humana foi a de evidenciar que os falantes de uma lingua natural produzem se- quéncias de sentengas infinitas a partir de recursos finitos, sem Jamais violar a leis gerais que governam as graméticas das Iin- guas nacurais. As abordagens inatistas supéem que a linguagem tem uma extrucura, uma gramética que independe do uso, e assumem também que todos os falantes nativos adultos tém o conheci- mento das regras dessa gramitica e que estas nao precisam ser ensinadas. Entretanto, os falantes podem nao se dar conta desse conhecimento e nao ser capazes de descrever as regras. Nessa perspectiva, a aquisigio da linguagem nada mais € que 0 pro- easo de descoberta pela crianga das regeas de sua lingua ma- terna, Por isso, é necessirio assumir que a linguagem tem uma base genética muito forte, o que explicaria a rapidez da aqui- tigio da linguagem. ow ests cor LUA iSCAO aPeNogAGER 7° Essa abordagem minimiza os efeitos de ambientes linguis- ticos variados e diferentes, considerando que o ambiente serve apenas como um desencadeador do dispositivo da aquisigao da linguagem. E provavel que a afirmagae dos inatistas de que a simples exposigéo 4 linguagem seria suficiente para o desen- volvimento linguistico normal seja falsa. Foi sugerido também que a aquisigéo de algumas regras sintéticas e semanticas pode acontecer até mesmo na idade adulta (Gould, 1982). Por ultimo, vale a pena mencionar que © postulado de Chomsky de que a linguagem é especifica do género humano é controverso. Nesse sentido, é interessante examinarmos breve- ‘mente o que as pesquisas com primatas nos dizem sobre o tema em questao. . Existem relatos de diversas pesquisas com primatas, prin- cipalmente com chimpanzés, nas quais o objetivo era ensinar mAcoDoy, UaK seHALIORR AS 2003, 2008). tases macacos a falarem inglés, embora nao oralmente, porque teu trato oral nao Ihes permite realizar as articulagdés sonoras humanas. Em alguns experimentos, foi usada a lingua dos sur- Para surpresa dos americanos ¢, em outros, Iinguas artifici dos cientistas, os chimpanzés conseguiram aprender nao so- mente algumas dezenas de palavras, como também reprodu- gram e até inventaram sequéncias linguisticas significativas e gramaticalmente bem construédas, além de tezem aprendido e tusado criativamente conceitos relacionais eabstratos (Tomasello, 3.3 Abordagens interacionistas mo vimos, behavioristas e inatistas ocupam posigdes ra- almente opostas quanto aos postulados tedricos funda- ntais, As abordagens interacionistas reconhecem e muitas 1s aceitam 0s argumeptos mais fortes de ambos os campos. interacionistas assumem que muitos fatores interdependén- 4 ~ biologicos, sociais, linguisticos, cognitivos etc. ~ afetam o crtoo wares apes curso do desenvolvimento; tanto os fatores sociais ou cognitivos podem modificar a aquisi¢ao da'linguagem, como a aquisigio, por sua vez, também pode modificar o desenvolvimento cogni- tivo e social, Analisemos a seguir, dois tipos principais de abordagens interacionistas: 0 interacionismo cognitivo de Jean Piaget ¢ sua escola e 0 interacionismo social de Lev Vygotsky e seus seguidores. conoy ua scHaORG OAS erusvuisnica en rBc0: LNGuXGE ‘itt waco toes FLeNAGOCOY LUMA SALAD OAS 2.3.4 O conexionismo ‘A visio conexionista da aquisi¢ao da linguagem surgiu a partir do inicio da década de 1990, Diferentemente dos inatistas, os conexionistas defendem a hipécese de que a aquisicao da lingua- gem nio depende de um médulo especifico na mente, mas pode ser explicada em termos de aprendizagem em geral. A abordagem conexionista para a aquisigao da linguagem busca descrever os processos cognitivos em termos computacio- hais, ou seja, em termos da estrutura de dados ¢ de processos que atuam sobre eles. Interessam a um modelo computacional da linguagem a compreensio, a produsao € as representagdes que permitem esses processos (Gasser, 1990). Os adeptos dessa vertente argumentam que o que as crian- «gas basicamente precisam saber esta a0 alcance delas por meio PuccAINGUISTICA EM FOC: UNGUAGEM -AQUISICADE APRENDAGEN 65 ee O_O T da lingua a que estéo expostas (Lightbown ; Spada, 2006, p. 23). Nesse sentido, pesquisadores conexioniséas, como Elman et al. (1996), citados por Lightbown e Spada (2006), buscam explicar como as criangas constroem conexées entre palavras e frases ¢ as situagdes nas quais elas gcorrem, Esses pesquisadores argu- mentam que, ao ouvir uma palavra ou frase em um contexto especifico, a crianga cria uma associago em sua mente entre a palavea ou frase e o que elas representa (objeto, evento ou pes- soa). No entanto, em um modelo conexionista, a aquisigio da linguagem vai além do processo de associagéo de palavras com elementos da realidade externa, Inclui também o proceso de associar palavras e frases com outras palavras e frases que ocor- tem juntas, conforme podemos observar nos exemplos citados em Lightbown e Spada (2006): + Criangas que estéo- adquirindo Jinguas que possuem substantivos com género gramatical (como é 0 caso do portugués) aprendem a associar a forma adequada do ar- tigo ou do adjetivo com os substantivos. + Blas aprendem a relacionar os pronomes com as for- mas verbais que apresentam a pessoa e 0 niimero correspondentes. + Ascriangas aprendem também a combinar os advérbios temporais com os tempos verbais adequados. A téoria conexionista postula que tudo isso é possivel pot causa da habilidade geral da crianga para fazer associagdes entre coisas que normalmente ocorrem juntas. © faro de que a crianga é exposta a milhares de opor- tunidades para aprender palavras e frases é particularmente importante para a ipétese conexionista. Nessa perspectiva f aprendizagem acontece gradualmente & medida que as a lagoes entre as formas linguisticas e o significado vao sendo construidas. 2.3.5 Abordagens mais recentes Quanto a0(3) fator(es) que poderia(m) explicaro comportamento Uinguistico em humanos e sua auséncia em ourras espécis, vale lembrar que, para Chomsky, esse fator € a habilidade linguis- tlea em si, © Finguista vé a linguagem como um mecanismo ge- nético que permite desenvolver a competéneia Linguistica, uma 66 ‘mA co00y uz scHALo OAS suncuisTeaen Focor URGE AadGAO EAPRENORAGEM - eee I SSP 2S IES adaptagio tinica da nossa espécje e autdnoma, independente de outras habilidades humanas. Michéel’ Tomasello, importante psicélogo estadunidense, discorda, enfatizando que comporta- ‘mentos cognitivos e sociais complexos so observados em nos- s0s “primos’, os chimpanzés. Vérias pesquisas mostraram que a comunicagao entre esses primatas é atipicamente complexa em comparagio com outros representantes do mundo animal, sugerindo que Chomsky provavelmente estaria equivocado ~ a0 separar a linguagem humana das nossas outras capacida- des cognitivas. A ideia que surge, entio, é que a linguagem que temos nao é um produto de um mecanismo genético auténomo, mas, pelo contrario, poderia ser aprendida por qualquer outra criatura, desde que ela tenha um conjunto préprio de padres cognitivos e sociais Os chimpanzés, por exemplo, podem ‘aprender a linguagem humana gestual, como a libras, dado que nao dispdem de um aparelho fonador'semelhante ao nosso, che- gando competéncia linguistica de uma crianga de 2a 2,5 anos (Tomasello, 2003, 2008). O autor ainda propde que sio justamente padrées cogniti vos € sociais especificos que subjazem a nossa competéncia lin- guistica. Esse pesquisador nao discorda de que os primatas nio tém uma habilidade para a aquisigio da linguagem como a que nés temos. Sua posicéo é semelhantg & proposta de Vygotsky (Tomasello reconhece que foi bastante influenciado por seus trabalhos, como também, e principalmente, pelos trabalhos do psicélogo Jerome Bruner nos anos 1970 ¢ 1980) e pode ser en- tendida como sociocognitivista (ou “interpessoal-cognitivista’) em vez de sociointeracionista, até porque, para Tomasello, so- cial é equivalente a interacional. , “Tomasello (2003, 2010) reconhece que a linguagem é uma forma de cognigéo que as eriangas desenvolvem quando esto em interagio regular com adultos. Ou seja, as criangas nascem com certas capacidades cognitivas que permitem que elas desen- vyolvam sua competéncia linguistica e também com certas habi- lidades sociais que as motivam nesse desenvolvimento. Assim, 08 chimpanzés (e outros primatas) nao teriam algumas dessas capacidades cognitivas e interpessoais que representam um pré-requisito para o desenvolvimento da linguagem. Esse autor considera que a linguagem é o resultado “dos desenvolvimen- tos histdrico e ontogenético, que trabalham em conjunto com os padrdes cognitivos humanos preexistentes, alguns dos quais s40 compartilhados com outros primatas e alguns outros so unica- mente humanos” (Tomasello, 2003, p. 208). : ‘Tal como Piaget, e ainda visando a explicagao do proceso © evolutivo (que nao foi o objetivo de Piaget), Tomasello (2010) “jugere que a linguagem nZo é 0 pré-requisito para a cogniséo umana, Pelo contrario: linguagem é vista como um produto 68 Leva 90000 ua scuntosH Os i 69 OINGUSTEAEM FOCOHUNGLGOM- AQISADE APENDZAGEM 9 | | . Esse estudioso néo acredita que entender a intencionali- | dade do outro seja uma caracteristicd exclisivamerite humana, mas a considera como uma das capacidades fandamentais ¢ necessérias para que um individuo possa adquirie a linguagem, Assim, um individuo que é capa de “ler as intenges” do outro, ‘entrar na mente” do seu interlocutor, reconhecer a intenciona- lidade em otieros ser4 também capaz de entrar em periodos da chamada atengao compartilhada com os outros, e é justamente nesses periodos que acontece a aquisigio de novas palavras ¢ novos enunciados. Ou seja, de acordo com Tomasello (2003), os pré-trequisitos necessérios para que o individuo desenvolva a lin- guagem sao: + entender que ele, esse individuo, é um ser intencional; e + terahabilidade de tragar analogias entre seus comporta- mentos e os dos outros ¢ reconhecer a intencionalidade das ages dos outros. . Essa “leitura de intengio” permite entender que 0 outro age com alguns objetivos, fazendo escolhas entre os compor- tamentos possiveis para atingir esses objetivos. Para Tomasello (2003, 2010), a crianga passa a fazer a “leitura de intengao” por volta dos 9 meses de idade. Com o tempo, ela vai perce- b : a jendo que 0 adulo também pode sbres humanos tenham uma motivaggo para compartihar intencionalidade, compreender suas intengées co- municativas ¢, com isso, passa a~ usar os simbolos linguisticos que 9s adultos usam, manipulando, | assim os estados intencionais [A GoDOY LUZ SALADS AS deles. Possivelmente apenas seres humanos tenham uma mo- tivagdo para compartilhar intencionalidade. Como jé mencionames, de acordo com Tomasello (2010), para que a crianga possa entender novas formas linguisticas € chegue a desenvolver a linguagem, a interagio dela com o adulto deve acontecer nos contextos especificos chamados de quadros de atengao conjunta ou compartilbada, quando os interlocuto- )) dentro de um res tém algum interesse comum (‘a relevancia’ contexto comum. Nessas situacdes, os dois definem intencio- nalmente as referéncias externas (brinquedos, comida etc.) ¢ as atividades realizadas. Tomasello (2008, p. 74, tradugio nossa) ainda explica que 0 contexto comunicativo “nao € simplesmente tudo 0 que se en- ‘contra no ambiente imediato, desde a temperatura do lugar até 08 sons de pissaros no patio, mas o que é ‘elevante’ para a inte- rao social, ou seja, o que cada participante vé como relevante ¢ sabe que o outro também vé como relevance’, Se, nessa situa~ 40, o interlocutor usa alguma forma lingufstica que a crianga desconhece, ela (a crianga) faz uma inferéncia: se o falante est usando aquela expressio desconhecida com a intengio comuni- ccativa X, entio, é relevante para seus objetivos neste quadro de fAtengao conjunta que eu também saiba tal expresso (Tomasello, ~ 2003, p. 25). ~—Tmaginemos uma determinada mae dando banho em sua filha de 1 ano de idade. Se, num certo momento, a mie, pegando © um frasco, diz: “Agora vamos passar o condicionador” (sendo que é a primeita vez que a mie decide passar 0 condicionador © jo cabeld da filha), a crianga enrenderd que a mae compreende n EE OSSSSSSSSGSSSSSSS NTS RR que esse fluxo de sons condicionador é relevante para seu objeti como do ambiente, Para © sociointeracionismo, o meio ici levante p: pjetivo — inato jiente, Par: i “ : de lavar o cabelo. Segundo Tom: 200: it i i e determina o desenvolvimento da crianga, lavar lo. Seg asello (2003), sem ter feito a in- social praticamente determi : a a ivismo piagetiano privilegia 0 amadureci- feréncia de relevincia, dentro do quadro de atengio conjunca, 2 enquanto 0 construtivismo piagetiano prvileg Pa mento “interno”, que se apoia no ambiente. Jé Tomasello adota crianga ndo seria capaz de determinar 0 significado e, com isso, : e {fa e, a0 mesmo tempo, sociointeracio- aprender uma nova expressio linguistica. uma postura cognitiv ee _ dizagem Assim, para esse psicélogo, quando a crianga € capaz de nista. Seu foco esta na aquisigdo, ou melhor, na aprendizags entender o significado de um ato comunicativo, ela ser capaz das fungGes da linguagem e nfo nas estruturas linguisticas. também de expressar 0 mesmo significado por entender o prin- . cipio de intercambialidade de papéis exercidos dentro dos qua. Indicagdes culturais dros de atengio conjunta, ou seja, por entender que em algum Artigo sentido ela € “como os outros’, por conseguir se imaginar no ; ‘atin lugar do outro. MORATO, E.M.A concrovétsiainatismo x interacionismo no campo guistica: a que seré que se destina? ComCigncia, 10 out. 2013. Dispontvel Sintese em: . Acesso em: 24 jan, 2014, Vimos, nesce capitulo, que todts os estudos que tratam da aqui- sigéo da linguagem mostram que os compartamentos em de- se aig de Morte € ua etara indiana pare prfindar «com senvolvimento ocorrem numa ordem inalterdvel, existindo uma preensio em regio ao embate entre esas duas abordagens tericas ~ina- combinagio dos fendmenos biolgicos ¢ ambientai . Trata-se, tismo e interacionismo ~ para a aqusiao da linguagem: sem diivida, de um assunto que interessa a psicélogos, linguistas, professores e outros profissionais, A teoria behaviorista partedo Filmes Pressuposto de que o processo de aprendizagem consiste numa NELL. Direc: Michael Apted. EUA: 20ch Century Fox Film Corporation, cadeia de estimulo-resposta-reforgo, Por outro lado, a teoria ina- © sso. _fista chomskyana defende que todo ser bumano nasce com um = CO ENIGMA de Kaspac Hauser. Dirego: Werner Herzog Alesana: New dispositivo inato que possibilita a aquisigao da linguagem, Nessa = rete te perspectiva, supoe-se que, naturalmente, a crianga ativa um me- = A indicamos esses dois filmes, que sao muito canismo mental para o desenvolvimento da linguagem. Piaget Sobre aquisigto da linguagens, indicaros esses dois filmes, 4 © Vygotsky reconhecem a importancia tanto do componente interessantes. ” Videos DESENVOLVIMENTO da linguagem infantil (025 anos), 10 bs. 2012, Disponivel em: . Acesso em 24 jan. 2014. Para ampliar seu conbecimento a respeito das etapas do desenvolvimento da linguagem’ recomendamos esse video. Atividades de autoavaliagao 1. Levando em conta a trajetéria de aquisigéo da linguagem pela crianga em seu ambiente, analise se as afirmagées a seguir sio verdadeiras (V) ou falsas (F): _ | ) Odesenvolvimenco da linguagem consiste na aquisigio dos sons eda estrueura da lingua: 5 (_ ) Durante o primeiro ano de vida, a criangaadquire as habilidades fonéticas e pragméticas. (No estagio de palavras isoladas, a crianga pode usar tais pala- vras para se referir a uma situagio e no a um objeto ou a uma pessoa apenas. «(1 Durante todo 0 perfodo de aquisigéo da linguagem, é muito importante que 0s pais ¢ os educadores participem da rarefa de ensinar as criangasafalarem. Assinale a sequéncia corretat a VVER ’ EVR REY. : o VBBY. . DC LTSE-SOCW Oe’ i ee No que se refere a discussio sobre as teorias de aquisigio da linguagem, assinale a alternativa correta: Os sociointeracionistas supdem que a mente de uma crianga recém-nascida pode ser comparada a uma lousa branca, na qual seriam registradas as informagées recebidas do ambiente. Os es- tadiosos das abordagens sociais se arém A ideia de que a mente um construto empitico da culeura. ara os inatistas, a linguagem apresenta uma estrutura e uma gramética préprias, das quais os falantes nao se dao conta. Por isso, é necessirio que a gramitica seja ensinada na escola para que as criangas aprendam a falar bem. Na abordagem inatista, a crianga é vista como um “pequeno cientisea’, pois ela analisa a fala dos outros e descobre as regras sgramaticais da sua lingua materna. Para a escola piagetiana, o desenvolvimento cognitivo ¢ 0 lin- guistico sio independentes. ‘Analise as proposigées a seguir considerando o periodo eritico para o desenvolvimento da linguagem ¢, apés, selecione a alter- nativa que apresenta os itens corretos: Em condigées normais, nos sentidos biolégico e social, a aqui- sigio da linguagem da crianga se completa entre 10 e 12 anos de idade, ‘Aiidade de 13-14 anos é denominada periodo critico, uma vez que a possibilidade de surgimento e desenvolvimento da linguagem seria limitada a partir dessa fase. Considera-se uma prova da existéncia do petfodo critico para [ENA GODOT LI ScHALADS DS de experiénciaslinguisticas, por razdes deisolamento social ti; 5 i veram pouco progresso no dominio de tima lingua. 1 IV. Considera-se que o ao de os adultos terem mais facilidade que ' as criangas para aprenderem uma segunda lingua seria um in- dicio conteévio a existéncia de um periodo crtico para o desen- volvimento da linguagem. , Somehte as afirmativas I, Ile IIT estdo corretas. Somente as proposigées I, IIe IV estio corretas, Somente as proposigses I, IIe IV estio correras. d Somente as proposigées II, III e IV esto corretas. a Bo. ; 4. Quanto as abordagens tedricas da aquisigio da linguagem, assi-. i Bc. nale a alternativa que apresenta a sequéncia correta de palavras que preenchem as lacunas do‘enunciado a seguir: Assim, a0 contrério de = , pos- tula que as estrucuras linguisticas nao sfo inatas. No entanto, a0 contrario do que afirmam os para , a linguagem tampouco é aprendida: as estru- ‘uras lingufsticas “emergem’ como resultado da interagio entre © funcionamento cognitivo da crianga e seu desenvolvimento e seu ambience, Piaget ~ Chomsky ~ behavioriscas — Piaget. Chomsky ~ Piaget ~ construtivistas - Piaget. Piaget ~ Chomsky ~ inatiseas ~ Chomsky. Chomsky ~ Piaget ~ behavioristas ~ Piaget. ENA coDOF LAA ScHALKDSAOS pouncusnic em FOC0;BNOUAGEM = AQUIICAD E APRENDZAGEM Considerando as abordagens mais recentes do comportamento linguistico em humanos, assinale a alternativa que apresenta a sequéncia correta de palavras que preenchem as lacunas do cenunciado a seguir: Naperspectiva de Tomasello, para que a crianga possa entender novas formas ¢ chegue a desenvolver a lin- guagem, a deve acontecer nos contextos especificos chamados de dela com. linguisticas —interagao ~ o adulto — quadros de atengio conjunta. de vida — interagio ~ 0 adulto — quadros de atengio conjunta. linguisticas ~ interagio — © meio ~ quadros de imaginasio coletiva, de pensamento ~ comunicagéo ~ o igual ~ quadtos de atengi0 conjunta. Atividades de aprendizagem 0 para reflexio Por que uma perspectiva sociocognitiva, a exemplo da pro- posta encabegada pelo psicélogo norte-americano Michael Tomasello (1999, 2003), poderia contribuir para uma aborda- dda linguagem que conjugue fatores biolégicos gem da aquisigi ce socioculturais? oO I Acividades aplicadas: pratica, 1. Allinguagem é inata ou é adquirida? E programada genetica- mente ou é um construto social e cultural? Com base na leicura do artigo de Morato (2013) mencionado na segio “Indicagses culeurais’: ® tente explicar, com suas palavras, a hipétese inatista para a aqui- 10 da linguagem; 5. procure descrever a hipétese interacionista para a aquisigio da linguagem pela erianga; © explique quais sio as prineipais crticas softidas pelas abordagens, 2, Quando criangas que foram privadas do concato com outros seres humanos séo devolvidas ao convivio humano em tenra idade, elas podem atingir 0 desenvolvimento normal da lingua- gem ¢, quanto mais véthas forem essas criangas, menos sucesso linguistico elas alcangario, Por que isso ocorre? Considerando © que foi estudado neste capitulo sobre aquisigio da linguagem, escreva um parigrafo explicando o(8) motive(s) dessa diferenga. 2B : LEA Go00Y Luna soHLARBO AS (nos dois PRIMEIROS capitulos foram apresentados os objetivos ¢ a metodologia da psicolinguistica, os fundamentos bioligicos da linguagem, a descrigio do processo da aquisi¢ao da linguagem e as principais teorias que tratam de aquisicéo de lingua materna. Neste capitulo, vamos tratar de alguns aspectos relacionados 4 perda da linguagem e as dificuldades da aquisigio. ~ Comesaremos apresentando um panorama geral eum pouco da histéria dos estudos sobre distirbios da linguagem e abordare- © mos alguns contetidos referentes 4 neurofisiologia. Em seguida, Iremos nos ocupar das afasias, que séo as patologias desenca- deadas por algum dano no cérebro. Posteriormente, trataremos - de outros transtornos linguisticos que sao bastante comuns du- ite o desenvolvimenta escolar de criangas. Assim, este capi- ~ tulo tem como objetivo 0 conhecimento dos principais aspectos igados a perda da linguagem e aos problemas de aquisig tréspontoum |patologias no se manifestam nos niveis tradicionais da lingua- Probl logias” ‘gem (fonologia,fonétca, morfossinsaxe, semantics), mas ela ropremas © patologias lam-se com as competéncias pragmética e discursiva, que —_ a ser exploradas apenas nas tiltimas décadas do sé- gulo XX. . © A linguagem dos esquizofrénicos, por exemplo, faz parte “da sintomatologia geral da esquizofrenia, em associagée com alucinagées, ansiedade, paranoia, misantropia, fixagao, hiper ou “hipoatividade ete. O estudo das patologias da linguagem pertence a uma area de pesquisas bastante diferente daquelas que vimos anteriormente: aneuropsicplogia cognitiva da linguagem, Nao se trata de uma area toralmente nova, pois alguns neurologistas do século XIX Jd tinham o interesse em conhecer os efeitos que uma lesio ce- “rebral provoca no paciente. No entanto, foi nos tiltimos anos do século pasado que a neuropsicologia cognitiva da linguagem se estabeleteu como uma disciplina que estuda transtornos lin- guisticos, tais como: + comportamentos cognitives desviantes que produzem . alguma manifestagao linguistica especifica, como a lin- guagem dos esquizofrénicos; + deficiéncias mentais gerais que tém thanifestacées cogni- tivas nao diretamente linguisticas, mas verificdveis por meio da linguagem; + deficiéncias ou perdas da linguagem, como a afasia; + deficiéncias anatémicas, fisiolégicas e/ou neuroldgicas que se refletem no uso da linguagem, como a linguagem dos surdos. Até as iltimas décadas, as demais desordens da lingua. gem eram consideradas de menor interesse para a psicolinguis- tica, embora fossem de reconhecida importincia neurolégica e clinica, Esse desinteresse se deve ao fato de que algumas dessas & ELENA Goooy uaa sosneo5R OAS a i ees A deficiéneia cognitiva faz referéncia ao desempenho in: telectual abaixo da média que comprorhete a aprendizagem eo ajuste social e/oua maturagao do individuo. Aproximadamente 2% das criangas em idade escolar demonstram algum grau de deficiéncia cognitiva. As criangas com essas deficiéncias se. guem as mesmas etapas do desenvolvimento da linguagem que . as criangas consideradas “nor: Aproximadamente 296 das mais’, mas com maior lentidao cfiancas em idade e: frequentemente no alcangam as erapas scolar finais. Essas demonstram algum grau criangas podem “pular”a etapa do balbucio € posteriormente apresentar fa e deficiéncia cognitiva Ihas de articulacéo © problemas sintaticos semelhantes aos dos afisicos (que serio tratados mais adiante). A relagao entre o desenvolvimento cognitivo e o linguis tico é um dos temas que estéo no centto de intensa pesquisa psicolinguistica. Essa relagio mostra que as duas facetas do desenvolvimento humano progridem em paralelo ¢ s6 ocasio- nalmente apresentam padroes dissociados. E possivel que as caracteristicas da habilidade Linguistica e do uso da linguagem ” de criangas com deficiéncia cognitiva nao se originem nos dé- ficits cognitivos, mas na orientagio cognitiva que produz pa drées de comportamento social e motivacional diferentes dos padrdes observados em criangas com desenvolvimento ‘nor mal. Assim, a passividade prépria das criangas com deficiéncia cognitiva pode ser a causa do seu lento desenvolvimento cogni- tivo e linguistico, : tre eae a were TT Oe ee Certas deficiéncias anatémicas e fisiolégicas, apesar de indo serem patologias da linguagem propriamente ditas, podem. Interferir de forma negativa na expressio linguistica. Entre os problemas mais comuns estio a surdez, a mudez, a cegueira e A miformagio dos dtgios articularérios. Essas deficiéncias di- liculram ou impedem a produgio ou a recepgio da fala oral ou \ evita, mas em geral nao dificultam a aquisigo de um sistema linyuistico operativo, como a linguagem de sinais e o sistema de | ewcvita braille. | > para reflexd i Questo para reflexao nsiderando que, tal como as linguas orais, as linguas de si- G tuaissfo Linguas humanas com eserucura e organizagao proprias © sio especificas de cada comunidade, pode-se dizer que, assim como o portugues brasileiro é diferente do portugués peninsu- lure o inglés americano é diferente do inglés britanico, sto dife- rentes também as respectivas linguas de sinais? | No que se refere & surdez, durante os primeiros meses de vvkla, uma crianga surda se comporta exatamente como uma ee ee ee oe ccrianga nao surda: ela chora, ri e balbucia. No entanto, néo con- segue relacionar uma determinada jposigio dos érgios articu latérios com um determinado efeito acistico, porque nao se ouve, assim como nao ouve as outras pessoas. Mais tarde, essa ctianga vai abandonando as tentativas de balbucio e fica def nitivamente muda. A partir desse momento, ela passa a recor- rer principalmente a procedimentos gestuais para se comunicat, desenvolvendo uma mimica extremamente expressiva e ainda usando sons que nao pertencem ao repertério sonoro de ne nhuma lingua oral. trépontodois Afasias e outros problemas de linguagem ligados.a lesées cerebrais ¢ O fendmeno da afasia foi observado desde a Antiguidade, pois 8 pessoas noravam a relagao entre certas lesdes cerebrais e al- guma “deformidade” dos enunciados lingufsticos, Entretanto, “os estudos cientificos sobre esse fendmeno comegaram no sé-| culo XIX, quando 0 médico francés Paul Broca constatou | que uma lesio na regio da diviséo Superior da artéria cerebral média do hemisfério esquerdo resulta sistematicamente em Ue- ficiéncias na produgao linguistica. Assim, para entender melhor | como acontecem essas patologias, vocé ter de aprofundar um On eee m cc sa esses EE pouco mais 0 seu conhecimento sobre neurobiologia da lingua- gem (Morato, 2003). ‘A regito do cérebro apontada por Broca como a respon- Uvel pelos problemas linguisticos ¢ conhecida como drea de Broca. O médico alemio Karl Wernicke deu mais um passe nessa investigagao ao determinar em que consistiam as deficién- las, comparando as lesses em varias regides e os problemas da Hnguagem correspondentes. Enquanto os traumatismos na rea de Broca se traduziam em desordens da produgio (Fala entre- tortada, articulagbes defeieuosas), os traumatismos no Iébulo temporal (lateral), na regiéo desde entdo chamada de drea de Wernicke, originavam desordens da percepgao ¢ a incapacidade [pata entender a linguagem oral ou escrita. Frouna 3.1 — Areas oe Broca pe Wennrexe a tg | \ ‘ \ a Posterior mente foram feitas sérias objeg6es & “localizagio’ | 0 EE a das diferentes fungées linguisticas em partes concretas do cére bro ~ observagées e experimentos demonstraram que as zonas cerebrais suscetiveis de produzir afasias sio muito mais amplas Nas dltimas décadas.do século XX, a primeira caracteri zagio do fendmeno de afasia foi substieuida por distingdes mais sutis, Foram propostas classificagées mais elaboradas que com binam as descrigdes puramente funcionais com uma andlise de talhada das desordens linguisticas especificas, a saber: 1. Afasia de Broca (afasia gramatical ou afasia expressiva) ‘Sua origem mais frequente é alguma lesio na drea de Broca € caracteriza-se por um discurso agramatical, no qual sao eliminados os morfemas e as palavras funcio- nais (artigos, preposigdes, conjungdes, flexes, auxiliares) © permanecem quase unicamente os nomes (substanti vos, pronomes), os verbos em suas formas nominalizadas (infinitivos, participios) e os advérbios, como em: “Filha chegar noite. O discurso habitual e formulaico (cumpri mentos, despedidas, agradecimentos) é mais bem reali zado que enunciados espontaneos, Afasia de Werneck (afasia semantica) — Essa afasia se origina em lesdes na area de Wernicke. O discurso é fuente © gramaticalmente’ correto, mas carece de ter ‘mos especificos, que sao substitufdos por palavras gené ricas ou por longas e complicadas parfrases, como em: “Comprowa coisa, a maquina de fazer comida’, “Esté bus- cando a coisa para escrever". As vezes so substituidos 88 [eA coDGY um sHAL¥DSe As fonemas ou sflabas, como em: drajem por trajem, caplecho por capricho. 3. Afasia central (afasia fonémica) ~ Sua origem sio as le- s6es na regio tempo-parietal (lateral-posterior). A afa- sia central consiste em uma falha especifica da habilidade para reproduzir material verbal e produz desordens na leitura em voz alta e na escrita, principalmente quando se trata de palavras Tongas, plurissilbicas, como em: “Veio um cir... mm... ciro... mm.. cirdo...” por cirurgido. 4. Anomia - Nao é facil precisar sua localizagao. A anomia se caracteriza pela falta de termos concretos que nao sio substituidos por paréfrases, como na afasia de Wernicke. | O discurso é interrompido por longas pausas e é de difi- | “Meu amigo... mm... trouxe cil compreensao, como e1 um... mm... para comer”. 5, Afasia global - Origina-se em lesdes generalizadas que i afetam simultaneamente os Iébulos frontal, temporal e | parietal do hemisfério esquerdo. Bssa afasia é um trans- torno muito grave que afeta a fala, a leitura ea escrita de maneira que o paciente se torna praticamente ineapaz de usar a linguagem. 6, Afasia transcortical motora (afasia dinamica) - Tem origem em lesdes na zona do Iébulo frontal anterior & 4rea de Broca e caracteriza-se por dificuldades para co- mecar a falar, mas, quando superadas, 0 discurso se pro- duz sem problemas." 7. Alexia — Trata-se de um transtorno que afeta a capa ‘cidade de ler, mas indo atinge a capacidade de escrever. einsisrcncm rocofuneuace USI APHENDASEN 89 ne E provocada por lesdes no corpo caloso (que liga os dois hemisférios), interrompendo patticularmente a ligagio entre a zona da visio no hemisfério direito e as areas da | linguagem. | 8. Agrafia/disgrafia - Uma lesio no giro angular pode levar a agrafia, que consiste na inabilidade de escrever, ou a disgrafia, que se apresenta como uma grave dificul- dade para escrever, e também pode provocat a alexia. * 9. Afemia ~ B uma dificuldade para articular sons cuja ori- gem se dé em lesées das fibras subcorticais que unem 0 sistema articulatério a 4rea de Broca. Os dados obtidos dos pacientes com les6es cerebrais sio | mais uma forma de testar os modelos de processamento linguis- sico fundamentados no principio de universalidade dos pro- cessos cognitivos. Assim, o eseudo de um paciente afisico pode ser considerado uma espécie de experimento e, dada a singula- ridade de cada paciente, a nica maneira de extrair inferéncias | vilidas sobre o sistema cognitivo é o estudo de caso (com todas as limitag6es que tais estudos apresentam). trépontotrés . Outras patologias A disfasia € uma forma de patologia da linguagem que acon- tece na auséncia de impedimentos cognitivos, sensérios, emocio- nais ou socioculturais dbvios. As criangas disfasicas apresentam ee a “setardos em todos 0s aspectos da linguagem, embora a fonologia “nA sntaxe se mostrom mais atingidas, As vezes os distebios {em ser qualitativos, nao existindo retardos. Mesmo quando a tianga disfisica adquire alguma estrutura linguistica na mesma quéncia em que as criangas normais 0 fazem, ela pode evitar uso dessa estrutura, preferindo estruturas mais simples ou, to, os recursos nao verbais de comunicagao. ‘Outra deficiéncia que temi uma origem constitucional e in- spende do grau de instrusao, da inteligéncia ou das oportunida- © des socioculturais do individuo é a dislexia, que consiste em uma “ dificuldade para ler. Os chamados disléxicos superficiais podem ler qualquer avea, seja familiar, seja desconhecida, desde que ela se ajuste regeas grafema-fonema. Em contrapartida, esses disléxicos sio apazes de distinguir os homéfonos, como sexta e cesta, € con- tem palavras em pseudopalavras (palavras que nao existem sua lingua). Os psicolinguistas interpretam essas dificulda- # como uma leicura “fonolégica’, baseada nos sons da fala, que terfere no acesso as representagdes ortogriticas das palavras. Os disléxicos fonolégicos, por sua vez, apresentam dificul- les para ler palavras infrequentes ¢ pseudopalavras e come- erros visuais que os obrigam a substituir a palavra escrita outra visualmente semelhante e usada com maior frequéncia. 1 exemplo, a palavea conceito pode ser substituida por conse- . A explicasao que se propoe é que nesses disléxicos acontece a espécie de destruisio dorprocedimento fonoldgico, mas pre- jacse 0 procedimento lexical, ot seja, 0 acesso 20 significado realizado de uma maneira direta com base nos signos graficos. idsica raco:UNGUAGEM AQUISIADE PPRENDLAGEM Outro tipo de dislexia ¢.a chamada dislexia profunda, que é interpretada como uma alteracao tanto da via fonoldgica como da direta. Os principais sintomas da dislexia profunda sio a incapacidade para ler pseudopalavras, como consequéncia da destruigio da via fonolégica, e a produgio de erros semanticos (de significado). Esses altimos erros (por exemplo, ler “capita onde esté escrito coronel ou “quarta-feira” em vez da palavea es- ctita quinta-feird) sao interpretados como uma leitura baseada “no sistema semntico, ou seja, na proximidade de significado. Outros sintomas da dislexia profunda, como a dificuldade para ler certas glasses de palavras ~ palaveas abstratas, verbos, pa- lavras funcionais (preposigSes, conjungées, artigos, flexdes, au- xiliares) -, s4o considerados como consequéncia de um mau fancionamento da via diteta. “ Oautismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo psi- quiatra Leo Kanner, que concluiu que a causa desse distiirbio seria a existéncia de alguma falha no desenvolvimento emocio- nal da crianga (Jakubovicz, 2002). De acordo com Kanner, de cada 10 mil recém-nascidos, 5 serio autistas, Outro fato consta- tado pelo estudioso é que o autismo é quatro vezes mais fre- quente em meninos do que em meninas. Os “estados autistas” podem ser observados ocasionalmente também em pessoas que do aprtesentam esse distiirbio no seu *O autismo 6 quatro. vezes mais frequente ‘em meninos do que em dia a dia e, portanto, néo poderiam ser, consideradas autistas. Conforme estu- dos recentes, as causas do autismo meninas. J podem ser de varias naturezas: desde a rubéola contraida pela mae durante a ey LENA GOODY LUZ SOHALHEBR OS _gravidez ou a ingestéo de certas substincias quimicas por ela esse period até deformidades congénitas do feto no tronco ce- “gebral ou na formagio reticulae, ou nos lobos fronts, ou ainda, 0 sistema Iimbico, entre outras. Alguns estudes apontam tam- “bem para a origem genética do autismo. (Os sintomas apresentados por autistas também sio dos ais variados, incluindo os motores, os cognitives, os emocio- = ais ¢ 08 comportamentais (sciais). Embora a maioria dos aur «tists apresente valores baixos em testes de QI, nao é incomum “jos portadores de autismo eerem babilidades especificas impres- “pionantes em misica ou matemética, por exemplo. Os estudos gealizados até agora sugerem que o ponto-chave 6 fala no com- ortamento social (jsolamento autista), comportamento este que nvolvimento da linguagem. O autista nao se envolve na coope~ cio comunicativa, no demonstra o interesse pela comunicagio, o estabelece ¢ néo participa dos quadros de atengao conjunta ropostos e analisados por Tomasello (de acordo com o que foi isto no Capitulo 2), nao desenvolve a “leitura” das intengdes do £0 e possivelmente nao reconhece as préprias intengdes. Com “sso, entre as caracteristicas da fala de autistas, encontramos: + auséncia do uso do pronome eu + fala monétona (linha prosédica distorcida); + auséncia da reagio & fala do outro ¢ do contato visual com 0 interlocutor: ecolalia (repetigao ithediata ou com atraso da tiltima pa- Javra do outro); puNcUITICA BM FOCKLNGUAGE-AQUISKADE APRENDIAGEN falhas na linguagem nio.verbal(gestos, mica e srvsos inadequados). Como podemos observar, 0 sujeito autista tem sua lingua- gem afetada de diversas formas, fato que desperta 0 interesse de estudiosos da linguagem humana, como os linguistas ¢ os psicolinguistas, . Para finalizar, outra patologia que apresenta repercussées sérias na fala do portador é a sindrome da paralisia cerebral, a * qual provoca, atualmente, varias discuss6es entre os estudiosos, que contestam até o proprio termo paralisia (pois a atividade cerebral mio cessa). No entanto, eles concordam que a principal causa da sindrome é algum dano encefilico que provoca a dit fungio cerebral, Esse dano (lesio ou defeito) pode ser congénito, pode ocorrer durante a gestagio ou durante 0 parto ou pode acontecer nos primeitos oito anos de vida. Entre as caracteristi cas comuns exibidas pelos portadores dessa enfermidade estio 0s transtornos motores, que podem apresentar-se de diferentes formas. Portanto, o individuo com paralisia cerebral apresenta principalmente os problemas de fala relacionados aos movimen- tos dos miisculos (fraca coordenagio dos movimentos) que par- ticipam da articulagio dos sons. Com isso, observamos esforcos para articular, imprecisées na articulagéo dos sons consonantais‘gu trocas desses sons, mo- dificagio na articulagao dos sons vocilicos, pausas mais frequen- tes e mais longas e alteragdes prosédicas. Contudo, foram observados também problemas sintéticos, como a dificuldade em produzir sentengas encaixadas (subordinadas), ¢ semanticos, ELENA O00 Lua scHALEEBN DAS i eee tomo a diregao de uma agio (ir/voltar, puxar/empurrar) as difi- tuldades na precisio de tempo, modo ¢ aspecto, 0 que sugere {gue as lesdes nao atingem apenas as Areas motoras. Nos tiltimos anos, observa-se um forte desenvolvimento “da neuropsicologia cognitiva computacional, que permite rea- flzar simulagées por computador nao s6 dos processos cogniti- “Yos normais, como também dos “fanstornos produzidos por lesdo gerebral. Essa nova metodologia © individuo com a paralisia cerebral apresenta principaimente problemas de fala relacionados aos movimnentos dos musculos (fraca coordenacao dos movimentos) que participam da articulagao dos sons Incrementa consideravelmente = conhecimento sobre o fun- tlonamento dos processos cogni- vos relacionados & linguagem e jobre as caracteristicas dos pa- nites afasicos. Atendéncia atual éa de que simulagdes computacionais Lo sejam limitadas aos casos de da ou dererioragio de algum processo cognitive, mas pos- 1s, como as limita- 1m ser aplicadas a outros aspectos cognit s de atengao ou de meméria. neuen F000 nine -AdsgRo areNOCAGEN 95 Sintese : Neste capitulo, patologias da linguagem, como a perda da linguagem e os dis- tirbios de desenvolvimento da fala e da escrita. Nesse sentido, exibimos varios aspectos relacionados & perda da linguagem e is dificuldades da aquisi pouco da histéria dos estudos sobre as patologias da linguagem ¢, além disso, tratamos de alguns contetidos referentes 4 new: ». Apresentamos 0 quadro geral e um rofisiologia. Também discutimos os diferentes tipos de afasias, Por fim, examinamos outros transtornos linguisticos bastante comuns'e que podem interferir no sucesso escolar da crianga, Podemos concluir, portanto, que os aspectos tratados neste capitulo permitiréo ao educador estar mais consciente diante das dificuldades demonsteadas por criangas na escola, além de alerté-lo, em alguns casos; sobre a necessidade de consultar es- pecialistas das areas médicas, pois lembremos que, chegado 0 periodo critico, o desenvolvimento verbal seré freado. Indicagées culeurais F AFASIA de Broca. 16 set. 2012: Dispontvel em: watch?v=IIR778K8UDs>. Acesso em: 24 jan. 2014. AFASICOS. 28 nov. 2009. Disponivel em: . Acesso em? 24 jan. 2014, leos hetp://www.youtube.com/ Amplie seu conbecimento sobre as afasias asistindo aos videos sugeridos. CONVIVENDO coma dislexia 8 fev. 2012. Dispontvel em: . Acesso em: 24 jan, 2014 Avwwiyouttbe, COMO estrelas na Terra. 5 jun. 2012. Dispontvel em: sheep: com/watch?v=b6J0CCuA Llw>. Acesso em: 24 jan. 2014. Aprenda mais sobre a dislexia assstindo aos video inicados AUTISMO. 9 jul. 2008. Disponivel em: . Acesso em: 24 jan. 2014. watch?v=t Para saber mais sobre o autism infantil indicamos esse video. Arvigo COELHO, D.T. Dislexia, disgrafia, disortografiae discalculia, 22 ou. 2013. Disponivel em: . ‘Acesso em: 24 jan, 2014. Indicamos também a leitura desse artigo, que trata de diferentes problemas de lingaage. Atividades de autoavaliagao 1 Considerando a discussio sobre os problemas e patologias da linguagem e seu desenvolvimento, analise se as afirmagbes a se- | (Y) ou falsas (F): gquir sio verdadei * ( )A Libras ¢ outras linguas de sinais foram construfdas para aten- dors necessidades de pessoas com problemas anatémicos e/ou

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