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Atualmente, os povos indígenas do Brasil compreendem

um expressivo número de diferentes grupos étnicos que


habitavam o atual território brasileiro antes da chegada
dos europeus no século XVI.
Estima-se que haviam entre 4 a 6 milhões de indígenas,
distribuídos em centenas de povos que falavam perto de
1.300 línguas.
Entre os principais grupos que existiam na América
Portuguesa, é possível mencionar pelo menos quatro
grandes troncos linguísticos e culturais: os Jês, os
Nuaruaques, os Caraíbas e os Tupis (com estes últimos,
A diversidade e a heterogeneidade devem ser as primeiras
os portugueses tiveram maior contato inicial) considerações a respeito dos povos indígenas.
Ao chegarem ao Brasil, os portugueses
encontraram um território povoado. Os tupis
ocupavam a região costeira que se estende do
Ceará a São Paulo. Os guaranis espalhavam-se
pelo litoral Sul do país e a zona do interior, na
bacia dos rios Paraná e Paraguai.
Noutras regiões, encontravam-se outras tribos,
genericamente chamados de tapuias, palavra tupi
que designa os índios que falam outra língua.
Apresentando enorme diversidade, ainda que
tivessem elementos comuns, esses grupos se
espalhavam por todo o território, desenvolvendo
vivências e experiências variadas.
Organização do trabalho no Engenho Açucareiro (Benedito Calixto)
 Naquela ocasião, os Tupis acabavam de ocupar o
litoral, expulsando para o interior as tribos que não
fossem Tupis.
 Portanto, manter relações de amizade e aliança com o
grupo dominante passou a ser fundamental para os
conquistadores europeus. "O Descobrimento do Brasil"
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo
 As tribos eram formadas por indivíduos cujas aldeias
ocupavam uma área contígua, falavam a mesma
língua, tinham mesmos costumes e possuíam um
sentimento de unidade.
 Cada uma das aldeias constituía uma unidade política
independente, com um chefe que não se distinguia dos
demais homens: caçava, pescava e trabalhava na roça.
“Dança Tapuia” Albert Eckhout
 Suas tabas (aldeias) abrigavam entre 600 e 700 habitantes. Levando em conta as possibilidades
de abastecimento e as condições de segurança da área, um conselho de chefes determinava o
local onde eram erguidas.
 As aldeias eram formadas por ocas (cabanas), habitações coletivas que apresentavam formas e
dimensões variadas.
 Em geral, as ocas eram retangulares, com o
comprimento variando entre 40 m e 160 m e a largura
entre 10 m e 16 m. Abrigavam entre 85 e 140
moradores. Suas paredes eram de madeira trançada
com cipó e recobertas com sapé desde a cobertura.
 O trabalho era dividido de acordo com o gênero e a
idade dos indivíduos, com funções para os diversos
integrantes da comunidade. Representação de uma Oca indígena com suas habitações
 As várias aldeias se ligavam entre si através de trilhas, que
uniam também o litoral ao interior.
 Algumas eram muito extensas como a do Peabiru, que unia
a região da atual Assunção, no Paraguai, com o planalto de
Piratininga, onde se situa a cidade de São Paulo.
 Descobertas arqueológicas confirmam contatos entre os
tupis-guaranis e os incas do Peru: objetos de cobre dos
Andes foram desenterrados em escavações, no Rio Grande
do Sul e no Estado de São Paulo.
 A alimentação dos índios do Brasil se compunha
basicamente de farinha de mandioca, milho, peixe, mariscos
e carne.
“Índio Tapuia” pintura de Albert Eckhout
 Com as fibras nativas dos campos e florestas, fabricavam-se
cordas, cestos, peneiras, esteiras, redes, abanos de fogo;
moldavam-se em barro diversos tipos de potes, vasos e urnas
funerárias, pois enterravam seus mortos. Desenvolviam
artesanato utilizando penas de pássaros e outros adornos.
 Na taba, vigorava a divisão sexual do trabalho. Aos homens
cabiam as tarefas de esforço intenso, como o preparo da
terra para o cultivo, a construção das ocas e a caça. Além
destas, havia a atividade que consideravam mais gloriosa - a
guerra.
 As mulheres, além do trabalho natural de dar a luz e cuidar
das crianças, semeavam, colhiam, modelavam, teciam,
“Índia Tapuia e seu filho” Albert Eckhout
faziam bebidas e cozinhavam.
Os tupi-guaranis acreditavam em duas entidades
supremas - Monan e Maíra - identificados com a origem do
universo.
Ao lado das divindades criadoras, figurava também uma
entidade - Tupã - associada à destruição do mundo, que
os índios consideravam inevitável no futuro, além de ter
ocorrido em passado remoto.
Acreditavam também na vida após a morte, quando o
espírito do morto iniciava uma viagem para o Guajupiá, um
paraíso (a terra sem males) onde se encontraria com seus
ancestrais e viveria eternamente.
A estava especialmente ligada a essa viagem sobrenatural, sendo uma espécie
de ritual preparatório para ela. O ritual de antropofágico servia, também, para reverenciar os
espíritos dos antepassados e vingar os membros da aldeia mortos em combate.

Theodore de Bry, Cena de Canibalismo 1592 – Obra baseada na narrativa de Hans Staden
 Nos primeiros anos da chegada dos
portugueses a América, os nativos foram
tratados "como parceiros comerciais", uma
vez que os interesses portugueses
voltavam-se ao comércio do pau-brasil,
realizado na base do escambo.
 Segundo os cronistas da época, os
indígenas consideravam os europeus,
amigos ou inimigos, conforme fossem
tratados: amistosamente ou com
hostilidade.

 Com o passar do tempo essa relação sofreu alterações. A partir da instalação do Governo Geral,
em 1549, intensificou-se a escravidão dos indígenas nas diversas atividades desenvolvidas na
Colônia, gerando constantes conflitos.
Não reconhecendo nos nativos uma cultura
própria, os portugueses pretendiam torná-los
súditos do rei de Portugal e cristãos.
Eram incapazes de entender os indígenas e seu
contexto sociocultural, reduzindo-os à condição
de selvagens, de acordo com os padrões
europeus.
Do mesmo modo, os padrões do ideal civilizatório
estão presentes ainda hoje em nossa sociedade.

A Primeira Missa no Brasil, Victor Meireles , 1860


Nesse sentido, os portugueses desenvolveram uma visão
ambígua sobre os povos indígenas:
Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei Dom Manuel,
descreveu-os como "rijos, saudáveis e inocentes". Ao
mesmo tempo, comparou-os com animais, chamando-os
de "gente bestial e de pouco saber".
Já Américo Vespúcio, em sua célebre carta Mundus Novus,
via-os como "índios mansos, vivendo de forma paradisíaca,
de acordo com a lei natural".
Os padres foram associados na imaginação dos tupis aos grandes xamãs, que
andavam pela terra, de aldeia em aldeia, curando, profetizando e falando de uma
terra de abundância. Os brancos eram ao mesmo tempo respeitados, temidos e
odiados, como homens dotados de poderes especiais.
FAUSTO, B. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006.
 Os padres jesuítas, como José de Anchieta e Manuel da
Nóbrega, ao mesmo tempo que zelavam pelos índios,
pretendendo torná-los súditos da sua fé, diziam que "são
cães em se comerem e se matarem, e são porcos nos
vícios e na maneira de se tratarem".

 Faziam distinção entre as tribos, sendo que algumas,


segundo eles, tinham costumes mais próximos dos
brancos, pois não praticavam a antropofagia, não eram
cruéis na guerra e vestiam suas mulheres, tendo,
portanto, mais condições de se converterem e se
tornarem fiéis súditos de Cristo e da Coroa Portuguesa.
Para melhor lidar com as tribos, os jesuítas aprenderam a língua tupi. Modificaram-
na, criaram uma gramática e a transformaram na língua comum a várias tribos – o
Nheengatú.
Assim, a identidade cultural dos nativos foi descaracterizada, tornando-os alvos mais
fáceis para os interesses dos missionários.

Nas diversas imagens, observamos Jesuítas atuando na catequização dos índios.


As Missões chegavam às aldeias e tribos, e assim nasciam os Aldeamentos, que representavam estratégias para garantir um número cada vez maior de índios
no processo de civilidade católica através dos Descimentos.
 Na imagem dos europeus os nativos da
América oscilavam entre uma visão
romantizada, em que os índios deveriam ser
catequizados e salvos; a uma visão que os
colocava como animais, capazes de atos de
crueldade, como o canibalismo.
 Em nenhuma dessas visões houve a tentativa de se compreender os valores e costumes
indígenas. Os europeus impuseram seus ideias as populações que habitavam o Novo
Mundo.
 Os habitantes da América, sofreram um dos maiores genocídios da história da
humanidade, aonde milhões de seres foram dizimados pelo poder das armas, das
doenças e das imposições de valores e costumes.
Representação da violência europeia no trato com as comunidades indígenas.
Terras Indígenas
regularizadas por
Região

Sul Centro Oeste


Nordeste Sudeste
A situação atual dos povos indígenas no Brasil, de acordo com a Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), a atual população indígena do Brasil é de aproximadamente 818.000 indivíduos,
representando 0,4% da população brasileira.
Os povos indígenas brasileiros enfrentam atualmente riscos mais graves do que em qualquer outro
momento desde a adoção da Constituição de 1988.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário, 92 indígenas foram assassinados em 2017; em
2018, esse número havia aumentado para 138, tendo o Mato Grosso do Sul o maior número de
mortes. Também foram paralisados os processos de demarcação.
Para preservar a unidade e a integridade de seu modo de vida, os índios optaram pela migração
para as áreas interioranas, cujo acesso difícil tornava o contato com o branco difícil ou
impossibilitava a este exercer seu domínio.
Essa alternativa, porém, teve um preço alto para as tribos indígenas, forçando-as a adaptar-se a
regiões mais pobres ou inóspitas.
Antes da chegada dos europeus, os povos do DIVISÃO REGIONAL DO CONTINENTE AFRICANO

continente africano estavam organizados em


clãs e reinos.
Havia grande diversidade entre eles em
aspectos físicos, características culturais,
políticas, étnicas, sociais, etc.

Para compreender o significado e a


importância dos africanos na formação do
povo brasileiro, é fundamental compreender
os caminhos percorridos por eles, até a
chegada ao que constituiria o Brasil.
Fonte: ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico. Ed. Moderna, São Paulo, 1998
Norte da África e África Subsaariana
África do Norte – Formado por Marrocos, Tunísia, Argélia,
Líbia e Egito. Recebeu grande influência dos povos fenícios,
gregos, romanos e árabes.

Deserto do Saara – Maior deserto do mundo (com mais de


7 milhões de km² ). Atravessa dez países e divide o
continente em duas partes distintas.

África Subsaariana - Provavelmente, a região do mundo


onde a situação linguística é a mais diversificada (com 1000
línguas) e a menos conhecida.

A comunicação entre as duas regiões foi possível porque


alguns grupos se adaptaram ao deserto
ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico.
Eram povos nômades do Saara que
realizavam as caravanas naquela
região, comercializando produtos
diversos e mantendo contatos com os
outros povos (o que foi de grande
importância para o intercâmbio cultural
que ocorreu no norte do continente).

Tuaregue de grupo
nômade da região
sudeste da Líbia, no oásis
do lago Umm al Maa.. ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico.
Por volta do século IX, os muçulmanos
quebraram o isolamento da Europa e
Oriente, atravessando o Saara
buscando riquezas e conversão ao
islamismo.
Em razão da semelhança que
apresentavam com os povos já
instalados permitiu o surgimento de
uma civilização islâmica, que foi se
ampliando com o contato com os
povos subsaarianos.
ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico.
 África Ocidental: formada pelos povos de
origem haussa e ioruba.
 África Central e Meridional: formada
basicamente pelos grupos de agricultores e
pastores de origem Banto
 África Etíope: povos de religião cristã,
intitulavam-se descendentes do rei Salomão,
possuíam um grande comercio com árabes e
bizantinos.
 África da Costa Oriental: formada por bantos
e povos vindos da indonésia, foram
profundamente influenciados pelo islamismo,
da mistura cultural surgiu uma nova
denominada suaíli.
ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico.
Nas distintas regiões, os povos africanos
sempre transformaram a natureza,
constituindo grande diversidade, que
podem ser observadas nas dimensões
heterogêneas da vida social.
Algumas sociedades eram pequenas
aldeias de caçadores, coletores,
agricultores e criadores de animais.
Outras se desenvolveram formando
estruturas complexa, caracterizando o
que chamamos de Cidades-Estados,
ARRUDA, José Jobson de. Atlas Histórico e Geográfico.
Reinos ou Impérios. Vejamos alguns:
Eram ricos em ouro e praticavam com os
árabes o comércio transaariano, no qual
trocavam ouro por artigos de luxo,
especiarias, joias e sal.
Uma das principais cidades do Reino de
Gana foi Kumbi Saleh, que se tornou uma
importante rota comercial para a região.
Contudo, a riqueza de Gana também atraiu a
Na África Ocidental, ao sul do deserto do cobiça de outros povos africanos. No início do
Saara, formou-se o Reino de Gana, a século XII, os guerreiros do Reino do Mali
partir da união de diversas aldeias, entre invadiram e conquistaram a cidade de Kumbi
os séculos IV e XII. Saleh, passando a dominar a região.
O Reino do Mali abrangia um vasto território,
importante nas transações comerciais que
envolviam o vale do rio Niger, o deserto do
Saara, Sahel, Jenné (rio Bani), um grande
centro agropecuário que ligava savana, cerrado
e florestas. Assim o comércio interno prosperou
muito entre os séculos XIII e XIV.
Entre as atividades econômicas, destacava-se a
produção de tecidos, de ouro e o comércio de sal.
Desenvolveu-se no Alto Níger, alcançando Possuía importantes centros urbanos como
áreas dos atuais Mali, Burkina Faso, Tombuctu, que contava com cerca de 100 mil
Senegal e Gâmbia. Composto de várias habitantes, além de Djenné, importante centro
etnias, com destaque para os mandingas. cultural.
Possuía um grande centro de estudos onde os sábios reuniam-se para debater o
conhecimento e ensinar. Antes mesmo das universidades medievais, Mali já possuía um
centro acadêmico semelhante ao que o europeu criou décadas depois.

Uma narrativa interessante sobre o Reino de Mali


conta que o mansa Mussa (imperador), convertido
ao Islã, realizou uma peregrinação a Meca, em
1324, levando consigo duas toneladas de ouro.

Ao chegar a Meca, distribuiu milhares de peças de


ouro para suas oferendas religiosas. Se diz que a
quantidade de ouro distribuída foi tão grande que o
preço do metal desvalorizou.
Nas imagens, arquitetura em Tombuctu (esq.) e Djenne (dir), expressando a grandeza do Reino do Mali
Atualmente, Tombuctu está situada na
República do Mali. Recaem sobre ela várias
ameaças, como a desertificação e os
conflitos político-militares. Quanto à primeira,
o harmattan, vento seco proveniente do
deserto, tem provocado grandes destruições,
incluindo na destruição de no abastecimento
Arquitetura de Tombuctu, Patrimônio da Humanidade, em fotografia de 2016 de água.
Os segundos, para além de provocarem numerosas vítimas, parecem ter afetado
consideravelmente os valores culturais da cidade, como a valiosa coleção de manuscritos
guardada no Instituto Ahmed Baba, parte da qual parece ter desaparecido. Na cidade ainda
subsistem três mesquitas de grande valor religioso e cultural. Desde 2012 que a UNESCO
incluiu Tombuctu na lista mundial dos valores culturais em perigo.
O império era governado por um monarca, o
manicongo, consistia de nove províncias e três
reinos (Ngoy, Kakongo e Loango), mas a sua área
de influência estendia-se também aos estados
limítrofes, tais como Ndongo, Matamba e
Kissama.
Apesar da feição centralizada, o reino do Congo
contava com a presença de administradores locais
provenientes de antigas famílias ou escolhidos
Na segunda metade do século XIII,
pela própria autoridade monárquica.
povos bantos formaram o Reino do
Congo, ao sul do rio Congo, nos A aproximação entre portugueses e congoleses
territórios atuais de Angola, Congo e teve grande importância na articulação no tráfico
República Democrática do Congo. de escravos entre os povos africanos
Os iorubás ou iorubas, constituem um dos maiores grupo etnolinguístico na África
Ocidental, composto por 30 milhões de pessoas em toda a região.

As comunidades constituintes dos


iorubas se desenvolveram no sudeste da
atual Nigéria (especialmente) e
constituíram um dos grandes centros
civilizatórios da Guiné, chegando a
influenciar outras civilizações da região.
Seus domínios se desenvolveram ao
longo da margem sul do rio Níger e
exerceram grande influência cultural.
Na Bacia do Níger se desenvolveram povos como os iorubás
A presença do rio Níger permitiu o povoamento daquela região e o desenvolvimento de importantes civilizações, com destaque para os Ibos e Iorubás.
Os povos africanos se fundamentam,
integralmente, em razão do poder da
oralidade, a qual, no caso das
tradições iorubas, se mantém ao
longo dos séculos no interior dos
Poemas Sagrados de Ifá (Nagô), de
onde este povo extrai a base
fundamental para preservar seu
legado, mesmo distante do lar, nas
Américas, especialmente nas
manifestações étnicas no Brasil e em
Cuba.
Representações artísticas das divindades da cultura dos povos iorubás
Celebração religiosa em homenagem às divindades iorubás Representação dos Orixás, divindades da tradição dos povos iorubás

A palavra oral tem um peso sagrado, pois traz em si o mistério do culto àquilo que se
encontra em uma dimensão invisível ao olhar humano.
Mais que isso, ela é o tecido estrutural que molda cada esfera da vivência dos povos
africanos, particularmente a dos iorubás. É ela que permite a uma geração transmitir
sua herança ancestral à que lhe sucede, preservando assim sua cultura original.
Séculos antes da chegada dos europeus,
os povos africanos já praticavam
largamente o escravismo, da mesma
forma que os gregos, romanos e os povos
muçulmanos.

Reinos africanos, tinham grandes


mercados espalhados pelo interior do
continente, abastecidos por guerras entre
as tribos, sequestros aleatórios, castigos
penais, intrigas políticas ou ainda a venda
de si mesmo por não poder se sustentar.
A forma mais comum de obtenção de
escravos era através das invasões aos
territórios (tribos) rivais, capturando e
aprisionando os moradores, que eram
submetidos de forma violenta às ordens
dos dominadores e depois transportados
Transporte de escravos capturados para serem vendidos nos mercados
para mercados de escravos.
Outra forma de apreensão dava-se por meio dos conflitos intertribais, ou seja, as
tribos entravam em conflito, e as vencedoras vendiam ou trocavam os derrotados,
negociando-os com os mercadores europeus, usando os mais diversos produtos.
Ou seja, tratava-se de uma prática que, para muitos, poderia ser considerada como
escambo.
Os africanos foram subjugados à
condição de escravos, relação que se
intensificou em razão dos grandes lucros
proporcionados pela empresa
mercantilista europeia, que se valia do
tráfico negreiro internacional.
Porão de navio negreiro, pintura de Jean-Baptiste Debret

No que se refere a Portugal, não se poderia pensar no processo de colonização do Brasil


sem o “braço do escravo” no desenvolvimento das atividades produtivas, com destaque
para a lavoura canavieira e a mineração.
Trazidos nos navios tumbeiros e submetidos a condições degradantes, os escravos,
trazidos da África, tinham suas famílias e tribos divididas para evitar rebeliões. Os
principais destinos eram os portos de Recife e Salvador (nos séculos XVI e XVII),
além do Rio de Janeiro (no século XVIII).

Acometidos pelas mais diversas


moléstias que alcançavam os
porões fétidos, muitos acabavam
morrendo, alguns cometiam suicídio
devido à profunda tristeza e à
saudade de suas terras e famílias
(banzo)
Porão de navio negreiro, infográfico da Revista Aventuras na História (nov. 2012)
Dos povos africanos que vieram para o
Brasil, os principais foram os Bantos
(trazidos dos territórios onde atualmente
são Congo, Moçambique e Angola) e os
Sudaneses (oriundos das áreas onde hoje
são a Costa do Marfim, a Nigéria e o
Benin).
A Igreja garantiu o suporte ideológico para a escravidão ao empregar argumentos de
ordem religiosa para justificar sua existência. Dentre as afirmações, defendia-se que:
“A África era o inferno e a América era o purgatório. Os africanos deveriam, por
meio do trabalho escravo, obter a redenção e, consequentemente, o expurgo de
seus pecados.”
As seis principais rotas negreiras* Escravos que chegaram: Escravos que saíram:

1 – Carolina (EUA) – 47 mil A – Serra Leoa – 66.974


2 – Cuba – 502.998 B – Costa do Ouro – 80.597
3 – Jamaica – 69 mil C – Baía de Benin – 222.407
4 – Guiana – 65.049 D – Baía de Biafra – 217.781
* Dados de 1801 a 1862, obtidos do estudo The Trans-atlantic 5 – Bahia – 161.883 E – Congo e Angola – 952.937
Slave Trade Database, da Universidade de Cambridge 6 – Sudeste do Brasil – 893.925 F – Moçambique – 236.504
Não suportando as humilhações e o sofrimento, os povos africanos, trazidos para o
Brasil, passaram a reagir: fugas, motins, execuções de feitores e senhores,
sabotagens, etc. Ciladas eram armadas, além dos suicídios e abortos, buscando
impedir a perpetuação da escravidão.

Algumas práticas religiosas, incluindo rituais de feitiçaria, eram formas de oposição


diante da religião cristã oficial. Acreditavam que lançar feitiços poderia ocasionar
enfermidades e até a morte de membros da família do senhor de Engenho.
Das formas de rebelião negra, a que exerceu maior impacto foi a constituição de
quilombos, cuja existência se espalhou por todas as regiões do Brasil, com
destaque a Palmares, localizado na região da Serra da Barriga, atual Estado de
Alagoas.
Palmares chegou a reunir, segundo estimativas, 50 mil habitantes, alcançando
crescimento significativo durante a invasão holandesa a Pernambuco, o que gerou
desordem no sistema de controle escravista, acarretando maior número de fugas
para o quilombo.
Seus habitantes não se constituíram apenas por negros fugitivos, como ainda de
mestiços, brancos pobres foragidos da justiça e índios, constituindo um significativo
crescimento, ganhando importância regional, comunicando-se com áreas vizinhas e
promovendo atividades de troca.
O heroísmo da resistência à escravidão se imortalizou na figura de Zumbi, liderança
que foi mitificada como bandeira da resistência negra contra a exploração no Brasil.
O Quilombo de Palmares que tanto resistiu às diversas incursões sobre os seus
arraiais foi destruído por completo no ano de 1695, com a derrubada de seu núcleo
principal, a Cerca Real dos Macacos, pela ação do grupo liderado por Domingos
Jorge Velho (bandeirante).
No dia 20 de novembro, data da
execução de Zumbi, é comemorado o
Dia da Consciência Negra, uma
bandeira pela resistência ao racismo,
contra a exploração de minorias
étnicas e o símbolo da luta racial e
democrática no Brasil.
A presença e a experiência africana na América Portuguesa pode e deve ser
compreendida para além da escravidão e de seus impactos humanos. É possível,
inclusive, afirmar que se construiu uma África á parte na América Portuguesa.

Outro aspecto significativo diz respeito às recentes políticas afirmativas constituídas


para garantir a maior inserção das populações descendentes de povos escravizados,
seja no reconhecimento de suas terras, seja na incorporação de direitos à cidadania.

Por fim, é importante fugir das armadilhas dos relativismos e dos negacionismos científicos,
tais como o Mito da Democracia Racial. A miscigenação confere uma condição extraordinária
na formação da sociedade brasileira, contudo, importante, tão processo ocorreu sob intensa
violência e despersonalização.

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