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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Graduação em História
História Do Brasil V
Prof. Carlos Eduardo Pinto de Pinto
Maria Luiza Gomes da Silva Rosa
Matrícula 201310177511

RESENHA

Golpe militar e remoções das favelas cariocas:

revisitando um passado ainda atual.

Desde a virada do século XIX para o XX a política de remoções das favelas é uma
realidade na cidade do Rio de Janeiro, no entanto, esse processo foi intensificado em
1960, tanto na esfera estadual com o governo de Carlos Lacerda, quanto na esfera federal
com o governo militar. Durante esse processo, muitas pessoas não perderam somente suas
casas e sua dignidade, mas também tiveram sua liberdade suspensa com diversas prisões
arbitrárias contra os moradores que resistiram contra a remoção das favelas.

As discussões em torno da habitação começaram a tomar forma a partir da


iniciativa da criação de um Projeto de Lei, resultado do Seminário sobre a Habitação e
Reformas Urbanas, realizada 1963. O projeto encaminhado ao Congresso Nacional tinha
o objetivo de resolver os problemas das habitações populares, mas logo foi embargado
pelo poder militar. Ao longo de vários anos, foram criados diversos programas com o
objetivo de urbanização ou erradicação das favelas ou como aporte para tais políticas.
Sob o comando de Carlos Lacerda e Sanda Cavalcanti, que estava à frente da
Coordenação dos Serviços Sociais, a questão da habitação no Estado da Guanabara tomou
amplitude e sofreu duras críticas, inclusive internacionalmente, no Relatório Wagner
(1966). Apesar disso, refletiu na formulação das políticas federais de habitação, que
desencadeou as parcerias entre a inciativa privada e o poder público, a criação do Sistema
Financeiro de Habitação, do Banco Nacional de Habitação (BNH) e instituiu o FGTS,
que alimentaria os fundos para manutenção do BNH. Já em 1965 a Companhia de
Desenvolvimento das Comunidades (Codesco) foi criada no governo de Negrão de Lima
com o objetivo de urbanizar as favelas, mas só conseguiu concluir este objetivo em apenas
na favela de Brás de Pina.

Entre os anos de 1968 e 1974, período de atuação da autarquia federal chamada


Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana, o Estado do Rio
de Janeiro sofreu o maior número de remoções, principalmente em favelas localizadas na
Zona Sul ou locais em que o solo urbano era mais valorizado. As políticas habitacionais
serviram não só para justificar e realizar remoções, mas para financiar empreendimentos
imobiliários que somente serviriam para enriquecer (ainda mais) a elite e aumentar a
lacuna social entre os ricos e os pobres. Em contraponto ao resultado dessas políticas,
surgiram organizações de movimentos, entre a parcela mais afetada negativamente
afetada pelas remoções, com o objetivo de reivindicar a permanência em suas moradias e
enfrentar os despejos. Esses movimentos se somaram aos movimentos de favelas
anteriores, como a União dos Trabalhadores Favelados e a Federação de Associação de
Moradores de Favelas do Estado da Guanabara, iniciativas que historicamente estiveram
na linha de frente da luta por moradia e pela democracia, se opondo ao regime militar.

A violência da ditadura assombrou da sociedade brasileira como um todo, mas era


ainda mais dura especialmente para aqueles que se opunham ao regime, inclusive,
afetando as lideranças comunitárias que lutavam contra o desaparecimento das favelas. O
processo de remoção da favela Ilha das Dragas ganhou grande repercussão após o
sequestro de quatro líderes da Associação de Moradores em fevereiro 8 de 1969, cujas
esposas dos desaparecidos foram recebidas até pelo então governador Negrão de Lima, e
amplamente divulgada pelo Correio da Manhã. Alguns dias depois, em 25 de fevereiro
no mesmo ano, a favela foi removida e os raptados nunca mais foram vistos. É certo
afirmar que esse não é um fato isolado, que o desaparecimentos de pessoas faveladas
ocorreu com em diversos outros territórios e tiveram o mesmo desfecho: pessoas
faveladas que desapareceram para sempre.

Entre 1969 e 1971 houve um enfraquecimento do combate às remoções por parte


dos movimentos de favela, quando até os liderem encorajavam os moradores a
cooperarem com as remoções, sem qualquer tipo de resistência. No entanto, esse breve
período logo foi superado quando uma nova onda geração de líderes comunitários que se
reverberou por muitas favelas e assumiu um caráter mais combativo quando comparado
aos seus antecessores. É inegável que os movimentos de favela foram entidades
importantíssimas que mobilizaram moradores de favelas, denunciaram as violações de
direitos humanos, impediram remoções de favelas e lutaram pela manutenção de moradia.
Apesar disso, Rafael (p.223) destaca que:

“é notório que, mesmo no período da redemocratização, esses discursos


de memória não sublinham a participação de moradores de favelas na
resistência ao regime
militar, contudo, ao mesmo tempo, reforçam a ação política desse
segmento da sociedade
desde os primórdios do século XX.”

Apesar de passados tantos anos desde o fim da ditadura militar, parece que os
problemas habitacionais da cidade do Rio de Janeiro continuam praticamente os mesmos.
A segregação territorial e social, a péssima infraestrutura de saneamento básico, a
ausência de estado, mas em contrapartida a ostensiva e opressora presença policial são
mazelas atuais dos moradores das favelas cariocas. No caso das remoções promovidas no
rio de janeiro com a desculpa de promover infraestrutura para receber a Copa de 2014 e
os Jogos Olímpicos de 2016 e deixar um legado para a população, nota-se que somente
se beneficiaram os empreendedores das grandes obras e à especulação imobiliária e em
troca ofereceram despejos e precariedade aos moradores.

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