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Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…

De onde vem a moeda?


Aula 01
Introdução e antropologia

Fontes nos últimos slides


O que será apresentado

1. Introdução ao tema Aula 01

2. Moeda ≠ Dinheiro ≠ Valor Aula 01

3. História da dívida e da moeda Aula 01

4. Moeda fiduciária e política fiscal Aula 02

5. Banco central e política monetária Aula 03

6. Moeda escritural e crédito bancário Aula ??

7. Crises financeiras do capitalismo Aula ??

8. Conclusões, fontes e discussões Aula ??


Introdução

O que as frases abaixo têm em comum?

O governo é como uma família que não pode gastar mais do que recebe

Os bancos são intermediários entre poupadores e investidores

Emitir moeda sempre gera inflação porque isso dilui o poder do dinheiro

Se a dívida pública for muito alta, o país quebra

Bancos corruptos multiplicam dinheiro com as reservas fracionárias

Quebrar o teto de gastos irá nos transformar na Argentina!


Introdução

Todas estão erradas

O governo é como uma família que não pode gastar mais do que recebe

Os bancos são intermediários entre poupadores e investidores

Emitir moeda sempre gera inflação porque isso dilui o poder do dinheiro

Se a dívida pública for muito alta, o país quebra

Bancos corruptos multiplicam dinheiro com as reservas fracionárias

Quebrar o teto de gastos irá nos transformar na Argentina!


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Por que estão erradas?

Vamos partir do começo…


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Você sabe de onde vêm a moeda?


Do meu salário.
De onde vem o seu salário?
Do lucro da empresa em que eu trabalho.
De onde vem o lucro da sua empresa?
De quem compra nossas mercadorias.
De onde vem a grana deles?
Do salário deles…
De onde vem o salário deles?
...
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

E se um novo país fosse fundado hoje?

De onde viria a moeda do governo? De onde viria a moeda dos bancos?


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

De acordo com o senso comum:

Governos se financiam com impostos Bancos emprestam fundos dos clientes

De onde vem a moeda do imposto? De onde vem a moeda dos clientes?

Sem moeda não existe imposto Sem moeda não existe empréstimo

E agora!?
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

De onde realmente vem a moeda?

Governos criam moeda fiduciária Bancos criam moeda escritural


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Como funciona esse processo?

Governos criam moeda ao gastar Bancos criam moeda ao emprestar

O pagamento de imposto deleta moeda O pagamento de dívidas deleta moeda

Imposto acontece após o gasto Poupança acontece após o empréstimo


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Governos gastam primeiro, colocando Bancos criam crédito primeiro. As


moeda em circulação. Depois, o aplicações financeiras vendidas aos
imposto é recolhido na mesma moeda. clientes vem após o crédito ser criado.

Um aumento dos gastos públicos Um aumento do crédito gera um


aumenta as receitas futuras. aumento das poupanças.
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Logo…

A disponibilidade de moeda pública A disponibilidade de crédito não


não depende da arrecadação, mas a depende das poupanças, mas as
arrecadação depende do gasto. poupanças dependem do crédito.

Se o governo não gastasse e os bancos não criassem


crédito, não haveria um único real na economia.
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

A moeda do governo e dos bancos é igual?

Não, mas são legalmente intercambiáveis

Você pode usar a moeda do banco para Você pode usar a moeda do governo
pagar tributos ao governo para quitar empréstimos no banco

Isso é possível porque as duas moedas


são medidas na mesma unidade: O Real
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Como chegamos nesse ponto?

O funcionamento das coisas, que foi


resumido nos slides anteriores, é uma
descrição da moeda nos dias de hoje.

Para entender como chegamos até aqui,


veremos um pouco de religião e de história.
Materialidade e Mitologia

Materialidade e Mitologia

Respire fundo…
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

As antigas religiões animistas acreditavam que pessoas, animais, plantas,


montanhas, rios, estrelas, o próprio Sol e até mesmo a chuva e o trovão tinham
uma essência espiritual. Tudo tinha vontade própria. Os fenômenos da natureza
eram intencionais, sendo causados pelas emoções das coisas.

A Lua veio nos visitar O trovão está com raiva

O rio está com pressa O céu está chorando


Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Com o passar do tempo, algumas dessas coisas se tornaram deuses. O Sol


era comumente um deles. A luz e o calor do astro brilhante, que permitiam aos
humanos enxergar o mundo, se aquecer, e até mesmo plantar, eram fruto da
generosidade do Sol.
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

As vontades e desejos das coisas podiam tanto punir como recompensar.


Agradar as entidades que compunham o mundo era questão de sobrevivência.
Seguir dogmas e até mesmo realizar sacrifícios eram parte do dia-a-dia.

O céu nos puniu O céu nos


com secas e recompensou
tempestades com sol e chuva
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Para outras religiões teístas, os deuses são entidades separadas das coisas,
atuando diretamente sobre o mundo. Esses deuses, ou o Deus único, pode
tanto punir como recompensar. A vontade destes seres, ou deste deus, está
acima das coisas. A humanidade é guiada pelos mandamentos divinos.

Deus nos puniu Deus nos


com secas e recompensou
tempestades com sol e chuva
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

O capitalismo nos trouxe uma nova religião, em que o mercado é uma entidade
com vontade própria e o dinheiro é uma manifestação dessa entidade. Da
mesma forma que os antigos interpretavam os sinais da natureza como
vontades divinas, economistas hoje são os interpretadores do mercado.

O mercado nos $ $ O mercado nos


puniu com crises recompensou
e pobreza com riqueza
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

A busca pelo dinheiro, análoga às buscas por iluminação divina, requer seguir
mandamentos e fazer sacrifícios. Isso é parte do nosso dia-a-dia, tanto que não
somos capazes de perceber que guiamos nossas vidas seguindo crenças
religiosas. Economistas hoje cumprem o papel de leitores das escrituras.

O mercado nos $ $ O mercado nos


fez perder dinheiro fez ganhar
porque… dinheiro porque…
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Parte comum da religião é tentar explicar a realidade de forma que os fatos se


adequem às crenças; não o contrário. Para os que crêem na economia
convencional, mesmo inconscientemente, a verdade passa a ser distorcida
pelos mitos… gerando contradições que são varridas para baixo do tapete.

Crença Fato Conclusão

Mercados são eficientes Crises capitalistas são Se o mercado é infalível. Existem


em alocar recursos. muito recorrentes forças externas causando a crise.
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…
As religiões convencionais se autodenominam como religiões.
Seus seguidores sabem que as respostas que buscam estão no plano espiritual.

A economia convencional, por outro lado, se autodenomina como ciência.


Seus seguidores acham que os mitos são a própria realidade.

Crença Hipótese Fato Conclusão

Mercados são eficientes Crises capitalistas são A hipótese é falsa. O mercado é a


em alocar recursos? muito recorrentes causa de suas próprias crises.
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Outra parte comum da evolução religiosa é adotar crenças antigas e adaptá-las


para se enquadrar na mitologia vigente. Uma das coisas que o capitalismo
adotou de outros sistemas foi a própria moeda e a dívida. Para o cidadão
comum, a moeda parece ser fruto do capitalismo, não algo externo à ele.

$
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Quando o capitalismo misturou moeda, dinheiro e valor em uma única


entidade, isso gerou uma falha crítica. Esse detalhe que aparenta ser pequeno,
é o motivo pelo qual a economia convencional é incapaz de explicar: impostos,
inflação, dívida pública, crises econômicas, bancos, e a própria moeda.

$
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

O objetivo desta apresentação é separar fatos de ficção, para mostrar que a


moeda e o dinheiro são coisas distintas. Embora o capitalismo tenha adotado
a moeda como meio de troca, essa não é a função fundamental das cédulas
em nossas carteiras nem dos bits em nossas contas bancárias.

$
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Compreender a natureza da moeda permite entender crises, inflação, dívida


pública, bancos, impostos, e muito mais. Ao enxergar a moeda como ela
realmente é, passamos a ver que o mundo não é movido pelas poupanças e
livres trocas… mas pelas dívidas e pelas punições aos que não podem pagar.

Dívidas são coisa $ Dívidas são uma


de indivíduos parte fundamental
gastando demais do sistema
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

A história da moeda e da dívida não é a história do comércio. Essa é a história


do autoritarismo, escravidão, militarismo, opressão e perda de liberdades.
Essa é a história dos devedores que perderam tudo…

Moeda é uma $ Moeda é uma


relação social relação social
voluntária imposta pela força
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

A história dos credores que tomaram terras, famílias e países dos devedores.
Após perderem tudo, os devedores entregaram a última coisa que ainda tinham:
sua servitude, na forma de mão-de-obra.

Moeda é uma $ Moeda é o poder


representação da de se apropriar da
nossa riqueza riqueza alheia
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Sem perceber, os devedores perderam também suas religiões. Foram todos


consumidos por um novo deus chamado dinheiro, que demanda sacrifícios em
troca de moedas para pagar dívidas ilegítimas que nem a morte pode quitar.

As suas dívidas $ O mercado só


são uma punição funciona se todos
do deus mercado se endividarem
Materialidade e Mitologia

Respire fundo…

Espero que isso tenha te deixado curioso para ler o resto


Moeda, dinheiro e valor

Moeda, dinheiro e valor são a mesma coisa?

Não. Porém esses termos são usados indiscriminadamente pela mídia e pelo
senso comum, fazendo parecer que são equivalentes.
Moeda, dinheiro e valor

Quanto vale 1 REAL?

O senso-comum provavelmente vai responder que…

1 Real vale 1 Real

1 Real vale 100 centavos

Porém, isso não nos leva a lugar algum.


Moeda, dinheiro e valor

As respostas anteriores fazem tanto sentido quanto dizer que…

1 hora dura 1 hora 1 metro mede 1 metro

1 hora dura 60 minutos 1 metro mede 100 centímetros

1 minuto dura 60 segundos 1 centímetro mede 10 milímetros

Também não chegamos a lugar algum.


Moeda, dinheiro e valor

Uma forma mais adequada de responder seria comparando com algo concreto

1 dia dura aprox. 24 h 1 pé mede aprox. 0,3 m

1 piscada dura entre 0,1 e 0,4 s 1 lápis comum mede aprox. 19 cm

O coração tem aprox. 60-100 bpms 1 polegar mede aprox. 25 mm


Moeda, dinheiro e valor

Se quisermos ser cientificamente precisos…

1 segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação


correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do
estado fundamental do átomo de césio 133

1 metro é a distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um


intervalo de 3,33564095198152 x 10-09 segundos.
Moeda, dinheiro e valor

Voltemos à pergunta sobre quanto vale 1 real (R$)

1 Salário mínimo - 2022 R$ 1.302,00


1 Litro de gasolina - Janeiro de 2022 R$ 5,12
1 passagem de metrô em São Paulo - 2022 R$ 4,40
1 m² de construção popular - Janeiro 2022 R$ 1.525,48
1 tonelada de minério de ferro - 2022 R$ 442,00
… …
Moeda, dinheiro e valor

O Real é uma unidade de medida, assim como:


metros, segundos, quilogramas, graus celsius, calorias, volts, litros, etc…

O Real é uma unidade de valor

Dólares, Euros, Rubros, Ienes, Yuans, Libras


também são unidades de valor

Nós utilizamos dinheiro para medir o valor


das coisas, permitindo fazer comparações
Moeda, dinheiro e valor

Porém, temos um problema…

O dia vai continuar tendo 24 horas no futuro.


A velocidade da luz é uma grandeza constante.
Porém, o valor das coisas, medido em Reais (R$), não é constante.

Uma mesma mercadoria, por mais que seu valor de uso seja constante, pode
ter seu valor de troca (preço) em Reais (R$) flutuando com o passar do tempo.
Valor de uso ≠ valor de troca (preço)
Moeda, dinheiro e valor

E temos outro problema…

Existe uma definição científica exata para cada unidade de medida:


metros, segundos, quilogramas, graus celsius, calorias, volts, litros, etc…

Quando passamos a medir valor, não temos uma unidade fixa.


Sabemos os valores das coisas em relação umas às outras…
mas não temos uma unidade fundamental constante de valor.
Moeda, dinheiro e valor

Se tratando do dinheiro, não estamos limitados às moedas dos países.

Poderíamos medir o valor das coisas


utilizando algo concreto, como:
- Cabeças de gado
- Barras de ouro
- Garrafas de leite
- Sacas de arroz
- Etc…
Moeda, dinheiro e valor

E se utilizássemos sacas de arroz como unidade de valor?

Se soubéssemos o valor de tudo medido


em sacas de arroz… por consequência,
poderíamos medir indiretamente quantas
garrafas de leite vale uma barra de ouro,
ou quantas barras de ouro vale uma vaca.
Moeda, dinheiro e valor

Isso significaria que nós iríamos fazer compras utilizando sacos de arroz?

Essa pergunta tem um sério problema,


chamado de “anacronismo histórico”, ao
supor que as sociedades antigas eram
como as modernas. Ou seja, que a
“sociedade capitalista de trocas mercantis"
existe desde a antiguidade…
Isso é historicamente falso!
Moeda, dinheiro e valor

A partir de que momento precisamos saber o valor das coisas?

Naturalmente sabemos que uma panela de barro


vale mais que um grão de arroz. Sabemos
também que uma casa vale mais que uma vaca.

Porém, a necessidade de saber exatamente


quantos grãos de arroz vale uma panela, ou
quantas vacas valem uma casa, existe apenas
em contextos sociais específicos.
Moeda, dinheiro e valor

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

Uma família não mede o valor dos cuidados que dá aos próprios filhos.

Dois amantes não medem o valor das horas que passam juntos.

Dois vizinhos de longa data não medem o valor das refeições que partilham.

Dois amigos não medem o valor dos favores que prestam um ao outro.

Você não mede o valor do casaco tricotado que sua avó te deu no aniversário*.

*Não deveria…
Moeda, dinheiro e valor

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

Todo o ano presenteamos pessoas próximas. Fazemos favores sem pedir nada
em troca. Ajudamos um colega que está atarefado demais. Damos carona para
conhecidos. Cuidamos dos filhos pequenos de um casal que viajou no
aniversário de casamento. É tudo parte da nossa vida social.
Moeda, dinheiro e valor

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

É óbvio que tudo que fazemos tem valor, mas não quantificamos precisamente
quanto cada coisa vale. Nossos amigos achariam estranho se, após passarmos
o dia os ajudando a descarregar caixas em uma mudança, pedíssemos 300g de
picanha, 2 salsichas, 1 litro de cerveja, e 1 potinho de sorvete…

? ? ?
?
Moeda, dinheiro e valor

A partir de que momento precisamos saber o valor das coisas?

Por outro lado, se um funcionário de uma empresa de mudanças tivesse


descarregado as caixas dos clientes, seria normal cobrar pelo serviço… Neste
caso, os envolvidos são estranhos que não irão se encontrar novamente, e que
desejam acertar as contas para não ficar devendo nada à ninguém.

$
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A necessidade de estabelecer valores numéricos para as coisas depende de


contextos sociais. Isso envolve situações em que uma das partes deseja garantir
que recebeu uma quantidade apropriada de algo que lhe era devido…
Moeda, dinheiro e valor

Quando os burocratas precisam saber o valor das coisas?

Nas civilizações antigas em que as terras pertenciam à uma entidade soberana,


era necessário quantificar os tributos que cada família deveria pagar para
usufruir da terra. Uma vez definidos os valores dos tributos, restava definir os
valores de cereais, animais, peles, vasos, dias de trabalho, etc.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os burocratas precisam saber o valor das coisas?

Impostos não são uma transação comercial. Os burocratas não querem trocar
sacos de trigo por vacas, mas saber quanto trigo ou vacas são necessários para
quitar tributos. As famílias que produzem para a própria subsistência, enxergam
o “valor” de sua produção apenas como um valor para quitar tributos.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Quando uma disputa entre famílias toma proporções violentas (causadas por
injúrias, danos materiais, lesões corporais ou até mesmo morte) a vítima exige
compensação. Definido o valor da compensação, resta definir os valores de
cereais, animais, peles, vasos, dias de trabalho, escudos, canoas, etc.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Novamente não se trata de uma relação comercial. As vítimas não querem


trocar porradas por vacas, mas saber quanto é necessário para pagar o que lhes
é devido. Quem produz para a própria subsistência, enxerga o “valor” de sua
produção apenas como um valor para quitar indenizações.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Se você furar o olho de uma pessoa e o juiz da tribo definir que você deve
entregar 2 vacas para a vítima, isso não significa que você pode furar o outro
olho dela e “pagar” com 4 vacas. Se você fizer isso, o resultado não será uma
transação comercial, mas uma possível guerra entre as duas famílias.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Nessa sociedade, uma pessoa não olha para seu próprio rebanho e pensa
“quantos olhos posso furar?”. Da mesma maneira que ninguém vê seus próprios
olhos no espelho e pensa “quantas vacas posso comprar com meu olho?”
Moeda, dinheiro e valor

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Quando uma instituição que detém vastos meios de produção entrega algo no
presente, esperando receber algo em troca no futuro, firma-se um contrato e
define-se um valor. Uma vez definido o valor futuro, resta estabelecer os valores
de tudo aquilo que a instituição aceita receber como meio de pagamento.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Neste caso, trata-se de uma relação comercial. A instituição deseja receber valor
no futuro em relação ao que entregou no presente. Porém, apenas as duas
partes do contrato enxergam o “valor” das coisas. As definições a respeito de
quanto cada coisa vale não existem fora desse acordo.
Moeda, dinheiro e valor

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Se essa instituição firmar múltiplos contratos com a sociedade, fazendo várias


pessoas se endividarem com ela, sua influência para definir valores aumenta.
Mesmo quem não tem contratos com a instituição pode reconhecer seus
valores; pois são os valores que os muitos devedores enxergam nas coisas.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Perceba que em nenhum dos exemplos foi feita qualquer menção à utilização de
moedas como forma de pagamento. Os tributos foram pagos em espécie; as
compensações foram pagas em espécie, e os produtos adiantados também
foram pagos em espécie. Moedas não foram necessárias em momento algum.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Além disso, se uma instituição centralizada detém o poder de estipular tributos,


julgar conflitos, e gerenciar as forças produtivas… essa instituição tem o poder
de definir o valor das coisas como sendo o valor que ela própria aceita para
quitar tributos, compensações e contratos.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Essa mesma instituição, pode definir qualquer coisa como meio de pagamento
para os valores devidos à ela mesma. Essas “coisas” poderiam ser moedas de
ouro, moedas de niquel, cédulas de papel, anotações em um livro contábil,
inscrições cuneiformes em um tábua de argila, ou bits em um computador…
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Se essa instituição aceitar órgãos como pagamento, as partes do corpo humano


imediatamente passam a ter valor como meio de quitação de dívidas. Uma
pessoa que esteja desesperada com problemas financeiros pode decidir vender
seu rim para pagar… ou roubar os rins de um terceiro.

$
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Durante a escravidão, seres humanos inteiros, com todos os órgãos, eram


negociados como propriedade. Essa propriedade era reconhecida juridicamente
pelo governo. Escravos eram aceitos como garantia para dívidas bancárias.
As pessoas tinham um preço… Que tipo de sistema era esse?

$
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A sociedade capitalista tem pouco mais de 300 anos de idade. Nós vivemos em
um contexto social no qual somos obrigados diariamente a levar nossas próprias
mercadorias ao mercado, seja na forma de produtos ou mão de obra, com o
objetivo de trocar essas mercadorias por outras e sobreviver.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Antes do capitalismo, as pessoas produziam seus meios de sustento, e os


mercados eram um pequeno satélite em que as pessoas trocavam excedentes.
No capitalismo, os mercados se tornam o centro da sociedade, e as pessoas
passam a buscar seu próprio sustento através da eterna troca de mercadorias.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A sociedade deixa de produzir para sua subsistência direta, fazendo com que os
valores de uso sejam apagados. O produtor de tabaco não planta apenas para
seu próprio uso, mas com o intuito de levar sua produção ao mercado e trocar
por comida, roupas, ferramentas, madeira e coisas produzidas por outros.
Moeda, dinheiro e valor

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Quanto uma sociedade inteira passa a viver dessa forma, os valores das coisas
começam a aparecer para todos na forma de preços. As coisas que antes
tinham apenas valor de uso, passam a ser produzidas pelo seu valor de troca.
Porém, em que momento aparece a moeda em meio a tudo isso?
Moeda, dinheiro e valor

Recapitulando…

Valor de uso: Utilidade real da coisa.

Valor de trabalho: Dispêndio de energia para produzir a coisa.

Valor de obrigação: Valor acordado com o propósito de quitar dívidas.

Valor de troca (preço): Valor construído socialmente através da troca.


Moeda, dinheiro e valor

Imagine uma pequena comunidade rural, onde as famílias produzem para sua
própria subsistência. Cada família planta seu alimento, faz suas roupas, cria
seus animais, etc. O mercado, nessa comunidade, é uma pequena parcela do
dia-a-dia, onde as famílias distribuem apenas coisas pontuais que não são
produzidas por todos. É o local onde os excedentes são trocados.
Moeda, dinheiro e valor

As pessoas dessa comunidade não produzem com o objetivo de trocar coisas


no mercado em troca de subsistência. As famílias já são auto-suficientes, não
precisando do mercado para sobreviver. O mercado é onde famílias podem
estabelecer relações bilaterais para trocar excedentes: queijo por cachaça; leite
de vaca por leite de cabra; maçãs por laranjas; sapatos por chapéus; etc.
Moeda, dinheiro e valor

Imagine que essa comunidade mede o valor das coisas em sacas de arroz, pois
esse é o item mais comum que os agricultores plantam e estocam.

E se uma família, a cada 5 anos, pedisse uma vaca para outra?

As duas poderiam simplesmente registrar que uma delas ficaria devendo X


sacos de arroz para a outra, a serem pagos ao longo de 5 anos.

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

E se a família que está devendo para a outra não produz arroz?

O arroz é apenas a unidade de medida de valor.


A família de João pode devolver um valor equivalente, em coisas que a família
de Maria não produz, quitando a dívida. Se essa relação fosse repetida a cada
5 anos, as famílias teriam um vínculo permanente entre elas.

Dívida quitada

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

Isso seria um caso de mercado de escambo?

NÃO. Maria não cria vacas para fazer uma troca imediata na feira. Ela já sabe
que João deseja uma vaca a cada 5 anos e se planeja para isso. João não
produz cestas mensais de produtos para depois fazer uma troca no mercado.
Ele já sabe que Maria deseja essa cesta todos os meses. É uma relação social.

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

A função do arroz foi apenas medir os valores das coisas.


Em nenhum momento o arroz, em sua forma física, foi usado ou trocado.

Se ao invés de arroz a dívida fosse medida em reais, dólares, libras ou até


mesmo uma moeda inventada (O Realovo), a sequência de eventos seria igual
… sem que uma única moeda física tivesse trocado de mãos.

25 Realovos
Dívida quitada

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

E se tiver uma terceira família?

Em que tipo de relação social é possível que João deva algo para Maria… Que
esse algo tenha um valor numérico… E que Maria possa transferir essa dívida
de João para outra pessoa?
Moeda, dinheiro e valor

No exemplo anterior, a moeda sequer precisaria existir.


O vilarejo poderia registrar valores e dívidas na unidade Realovo.

Mas, e se essa moeda tivesse uma forma física?


Por qual motivo uma das famílias aceitaria moedas que, intrinsecamente não
tem valor algum, como meio de pagamento por coisas que tem valor real?

25 Realovos
Pagamento

Tem Tem
Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

Outras perguntas importantes a serem respondidas são:

Em que tipo de contexto social a família de João deixaria de ter vínculos diretos
com a família de Maria e, ao invés disso, passaria a ter vínculos indiretos com
todas as outras famílias por meio de um mercado impessoal, onde todas as
famílias fazem trocas diretas através de dinheiro ou moeda?

25 Realovos
Pagamento

Família de João MERCADO


Moeda, dinheiro e valor

Outras perguntas importantes a serem respondidas são:

Em que tipo de contexto social as famílias deixariam de produzir para sua


própria subsistência e, ao invés disso, passariam a produzir com o objetivo de
levar todos os seus produtos ao mercado, trocá-los por moedas, e usar essas
moedas para comprar seu sustento de outras famílias?

25 Realovos
Pagamento

Família de João MERCADO


Moeda, dinheiro e valor

Por qual motivo uma nota de 25 Realovos é aceita como se tivesse valor?
Mais importante ainda… de onde diabos vieram os 25 Realovos!?

Para entender por que a moeda é aceita como meio de pagamento, ou como se
fosse a própria encarnação do valor; devemos primeiro entender o que
exatamente é a moeda… e porque o senso comum está tão errado.

25 Realovos
Pagamento

Família de João MERCADO


O que é a moeda

A moeda de acordo com o senso comum:

Meio de troca

Reserva de valor

Unidade de conta
O que é a moeda

A história do dinheiro segundo o senso comum:

Escambo primitivo

Metais preciosos

Crédito bancário
O que é a moeda

O que a moeda realmente é:

Meio de troca imposto por força de lei

Dívida legalmente transferível

Dívida quantificada em unidade nacional


O que é a moeda

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Crédito legalmente reconhecido

Moedas impostas militarmente

Escambo (durante colapso econômico)


A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos eram centros de poder
político e religioso, além de serem
câmaras de comércio e manufatura.

Sementes, animais, utensílios e vários


produtos eram oferecidos “à crédito”
para a população e mercadores.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


A dívidas eram reconhecidas
legalmente e registradas em tábuas de
argila utilizando o alfabeto cuneiforme.

As dívidas agrárias, concedidas à As dívidas comerciais, concedidas às


população rural, eram medidas em elites comerciais, eram medidas em
Bushel de cevada. Shekel de prata.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos não emprestavam moeda,
o que a população agrária e as elites
comerciais recebiam eram produtos.

O bushel de cevada e shekel de prata


eram apenas as unidades nas quais os
valores devidos eram medidos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos tinham preços tabelados
para os produtos, representando aquilo
que estavam dispostos a pagar/vender.

Embora as dívidas fossem quantificadas em cevada e prata,


elas podiam ser pagas com qualquer coisa em função dos
valores que o templo definia para quitar obrigações.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Um agricultor da Suméria iria pagar as
dívidas usando aquilo que produzia em
suas terras ou trabalhando no templo.

Um comerciante da Suméria iria viajar para outras civilizações, onde iria trocar os
produtos que pegou do templo Ao retornar, as dívidas seriam pagas com os
produtos que foram trazidos. A diferença era o lucro do comerciante.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Não pagar dívidas resultava em perda
temporária do usufruto da terra e
transformava pessoas em servos.

Essas perdas eram revertidas toda vez que uma guerra acabava, quando
um novo rei subia ao trono, ou quando a sociedade corria risco de colapsar.
Esse evento era chamado de Amar-gi (Retorno à mãe / Retorno à origem)
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

O Amar-gi, representava a devolução das terras às suas famílias de origem,


a libertação dos servos que haviam vendido sua força de trabalho, assim
como o perdão das dívidas não-comerciais e dos impostos atrasados.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

O perdão das dívidas e impostos, a libertação dos servos, e a restauração


das terras, eram vistos como parte da ordem social. Sem o Amar-gi, a
população suméria, no longo prazo, seria composta apenas de servos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

A elite da Suméria sabia que ao tomar as terras e a liberdade de alguém,


isso seria temporário. No próximo amar-gi, tudo seria restaurado. O Credor,
nesse caso, se apropriava temporariamente do valor gerado pelo devedor.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

Na tradição judaico-cristã, o Amar-gi recebeu o nome Ano do Jubileu,


aparecendo no velho testamento em Levítico 25. Para nós, isso parece uma
política revolucionária, mas na época, era visto como conservadora.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Sendo assim, as coisas tinham valor
como forma de quitação de tributos,
dívidas e contratos.

Além disso, o não pagamento de


dívidas resultava em perda temporária
de terras, de bens e de liberdade.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


Antigas leis indígenas e saxônicas
estipulavam que injúrias e mortes
deveriam ser compensadas.

A família infratora deveria pagar à


família vítima um valor que dependia do
rank social e dano causado.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


A multa deveria ser paga como forma
de evitar uma represália ou até mesmo
uma guerra entre famílias.

Diferentes coisas tinham seus valores


tabelados por lei, significando que o
pagamento era feito em espécie.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


Sendo assim, as coisas tinham valor a
partir do momento que podiam ser
utilizadas para pagar compensações.

O não pagamento resultava em


derramamento de sangue e conflitos
bélicos entre famílias e clãs.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Os impérios grego e romano tinham
natureza bélica, com uma “economia”
baseada nas conquistas militares.

O império se expandia, explorando


outros povos através da captura de
escravos, pilhagem e tomada de terras.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Exércitos profissionais necessitavam de
treinamento constante e não podiam
ser formados por camponeses.

Manter grandes exércitos necessitava


de vastos “pagamentos” na forma de
distribuição dos espólios.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


O fruto das pilhagens era utilizado para
pagar as tropas, em especial na forma
de ouro e prata.

Esses metais eram roubados dos


templos conquistados, mas também
retirados das minas por escravos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


As moedas eram cunhadas e
padronizadas pelo governo, utilizando
metais das minas e das pilhagens.

Os povos conquistados (e a população)


deveriam pagar seus tributos utilizando
essas moedas que o governo cunhava.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Para obter moedas, os civis e os povos
conquistados deveriam oferecer
produtos e serviços ao governo

Alternativamente, essas pessoas


deveriam trabalhar para entes privados
em troca de salário nessa moeda.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


As pessoas também poderiam obter
moeda através de empréstimos junto
aos credores privados (proto-bancos).

Esses credores privados tinham seus


direitos garantidos pela lei e podiam
demandar o pagamento das dívidas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


O não pagamento de tributos pelos
territórios conquistados gerava
penalidades militares.

O não pagamento de tributos/dívidas


pela população gerava penalidades
civis e até escravidão por dívidas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A moeda era utilizada pelo governo
para financiar exércitos e infraestrutura,
além de pagar servidores públicos.

Os impostos não serviam para


arrecadar moeda, mas sim para criar
demanda para a moeda do governo.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Os impérios não eram sustentados por
metais preciosos, mas pelos escravos,
pilhagem e terras conquistas.

Os exércitos e os metais preciosos


eram os meios pelos quais o império
continuava a se expandir.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A moeda tinha valor porque as pessoas
eram obrigadas a obter essas moedas
para pagar impostos e dívidas.

O não pagamento resultava em


penalidades que poderiam incluir a
expropriação de terras e a escravidão.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A antiga tradição do amar-gi e o ano do
jubileu ainda faziam parte da religião do
povo hebraico (Judeu).

Revoltas populares pedindo perdão de


dívidas e redistribuição de terras eram
comuns no império Grego e Romano.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Políticos subiam ao poder, com apoio
popular, prometendo reforma agrária e
perdão de parte das dívidas…

Assim como políticos eram


assassinados pelas elites, os patrícios,
por prometer esse tipo de coisa.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Havia uma disputa constante entre os
plebeus que desejavam reaver suas
terras perdidas e sua liberdade…

E os credores patrícios que desejavam


manter suas terras e seus servos.
Credores contra Devedores
Por que a moeda tem valor?

Segundo o senso comum, a moeda tem valor porque:

Confiamos no governo

Podemos comprar coisas com ela

Ela é aceita culturalmente


Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

Perdemos a casa se não pagarmos o banco

Perdemos terras se não pagarmos IPTU / ITR

Perdemos direitos civis ao não pagar impostos

Ficamos sem água e sem eletricidade se não


pagarmos as contas das distribuidoras

Perdemos acesso ao crédito se não pagamos


nossas dívidas (SERASA e SPC)
Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

Governos criam moeda e controlam:

O poder judiciário que define o


valor de multas e compensações Empresas estatais que definem o
valor dos produtos/serviços ofertados
O poder tributário que define o
valor dos impostos a serem pagos Bancos públicos que definem o
valor das dívidas e dos juros
Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

O setor privado cria moeda e controla:

Bancos privados que definem o Poder tributário indireto que define o


valor das dívidas e dos juros valor dos impostos privados

Falaremos disso em outro momento…


Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

É aceita para quitar passivos com o


governo e com o sistema bancário.

Por consequência, a moeda se torna a


unidade nacional de conta.

Logo, se torna o preço de produtos e serviços.


Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

Ela é um ativo financeiro legalmente aceito


para cancelar passivos financeiros.
Por que a moeda tem valor?

O que são ativos e passivos financeiros?

Ativos são valores positivos ( + ) Passivos são valores negativos ( – )

Representam valores à receber Representam valores à pagar

Fazem parte do balanço dos credores Fazem parte do balanço dos devedores
Por que a moeda tem valor?

Todo o passivo tem um ativo correspondente

Ativos ( + ) Passivos ( – )

Impostos a serem recebidos Impostos a serem pagos

Dívidas bancárias a serem recebidas . Dívidas bancárias a serem pagas


Por que a moeda tem valor?

Governo População
Ativos Passivos
Impostos a receber Impostos a pagar

Passivos Ativos

Moeda do governo é um cheque Moeda do governo é um cheque


assinado pelo poder público. Valor que assinado pelo poder público. Valor que
o Estado deve ao detentor do cheque. nós temos a receber do Estado.
Por que a moeda tem valor?

Bancos População
Ativos Passivos
Dívidas a receber Dívidas a pagar

Passivos Ativos

Moeda do banco é um cheque digital Moeda do banco é um cheque digital


assinado pela instituição financeira. assinado pela instituição financeira.
Valor que o banco deve aos clientes. Valor que o banco nos deve.
Recapitulando

Recapitulando
1. Moeda é um passivo do emissor
2. Moeda é um ativo do usuário
3. Governos criam moeda fiduciária
4. Bancos criam moeda escritural
5. O gasto ocorre antes das receitas
6. As poupanças ocorrem após o crédito
7. Moeda é uma criatura jurídica
8. O uso da Moeda é uma imposição

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