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A Primavera Marcelista

Em 1968, Salazar foi substituído Marcello Caetano, no cargo de presidente do Conselho de Ministros, que
fez reformas mais liberais para a democratização do regime. Nos primeiros meses o novo governo até
deu sinais de abertura, período este conhecido por “Primavera Marcelista” (alargou o sufrágio feminino
por ex.). Contudo, o oscilar entre indícios de renovação e seguir as linhas do salazarismo, resultou no
fracasso da tentativa reformista. A PIDE mudou o seu nome para DGS e diminuiu, ao início, a virulência
das suas perseguições. No entanto, face ao movimento estudantil e operário, prendeu, sem hesitações,
os opositores ao regime; A Censura passou a chamar-se Exame Prévio; se este, inicialmente, tolerou
algumas críticas ao regime, cedo se verificou que actuava nos mesmos moldes da Censura;
A oposição não tinha liberdade de concorrer às eleições e a política Marcelista era criticada como sendo
incapaz de evoluir para um sistema mais democrático. Tudo isto levou á revolução de 25 de Abril de 1974.

Da revolução à estabilização da democracia

O Movimento das Forças Armadas e a eclosão da Revolução

O problema da guerra colonial continuava por resolver. Perante a recusa de uma solução política pelo
Governo Marcelista, os militares entenderam que se tornava urgente pôr fim à ditadura e abrir o caminho
para a democratização do país.

A Revolução de 25 de Abril de 1974 partiu da iniciativa de um grupo de oficiais do exército português


– O Movimento dos Capitães (1973), liderado por Costa Gomes e Spínola, que tinha em vista o derrube do
regime ditatorial e a criação de condições favoráveis à resolução política da questão colonial. Estes
acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora passava-se a designar por MFA –
Movimento das Forças Armadas), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as
liberdades cívicas, permitisse a tão desejada solução para o problema colonial. Depois de uma tentativa
precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar que, na madrugada do dia 25 de
Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo.

Operação “Fim-Regime”

A operação militar teve início com a transmissão, pela rádio, das canções-senha, que permitia às unidades
militares saírem dos quartéis para cumprirem as missões que lhes estavam destinadas. A resistência
terminou cerca das 18h, quando Marcello Caetano se rendeu pacificamente ao general Spínola.
Entretanto, já o golpe militar era aclamado nas ruas pela população portuguesa, cansada da guerra e da
ditadura, transformando os acontecimentos de Lisboa numa explosão social por todo o país, uma autêntica
revolução nacional que, pelo seu carácter pacífico, ficou conhecido como a “Revolução dos Cravos”. A PIDE
foi a última a render-se na manhã seguinte.
A caminho da democracia

O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

O acto revolucionário permitiu que se desse início ao processo de desmantelamento do Estado Novo. No
próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Junta de Salvação Nacional, que tomou de
imediato medidas:
 O presidente da República e o presidente do Conselho foram destituídos, bem como todos os governadores
civis e outros quadros administrativos; A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações da Juventude
foram extintas, bem como a Censura (Exame Prévio) e a Acção Nacional Popular; Os presos políticos foram
perdoados e libertados e as personalidades no exílio puderam regressar a Portugal; Iniciou-se o processo da
independência das colónias e organização de eleições para formar a assembleia constituinte que iria
aprovar a nova constituição da República. A Junta de Salvação Nacional nomeou para Presidente da
República o António de Spínola, que escolheu Adelino para chefiar o governo provisório.

Tensões políticas ideológicas na sociedade e no interior do MFA

O período Spínola

Os tempos não foram fáceis para as novas instituições democráticas. Passados os primeiros momentos
de entusiasmo, seguiram-se dois anos politicamente muito conturbados, originando graves confrontações
sociais e políticas. Rapidamente começaram as reivindicações, as greves e as manifestações
influenciadas pelos partidos da esquerda. O governo provisório mostrou-se incapaz de governar o país e
demitiu-se, o que fez com que o poder político se dividisse em dois pólos opostos.
 De um lado o grupo apoiante do general Spínola (procurava controlar o movimento popular que podia
originar outra ditadura, desta vez de extrema-esquerda)
 Do outro lado a comissão coordenadora do MFA e os seus apoiantes (defendia a orientação do regime
para um socialismo revolucionário.
O desfecho destas tensões culminou com a demissão do próprio general Spínola, após o falhanço da
convocação de uma manifestação nacional em seu apoio, e a nomeação de outro militar, o general Costa
Gomes, como Presidente da República.

A radicalização do processo revolucionário

No período entre a demissão de Spínola (Setembro 1974) e a aprovação da nova Constituição da República
(1976), Portugal viveu uma situação política revolucionária repleta de antagonismos sociais. Durante estes
dois anos, o poder esteve entregue ao MFA, a Vasco Gonçalves, que assumiu uma posição de extrema-
esquerda e uma forte ligação ao Partido Comunista. A data-chave é 11 de Março de 1975: tentando
contrariar a orientação esquerdista da revolução, António de Spínola tentou um golpe militar (fracassado).
Em resposta, a MFA cria o Conselho da Revolução, ligado ao PCP, que passa a funcionar como órgão
executivo do MFA e tornou-se o verdadeiro centro do poder (concentra os poderes da Junta de Salvação
Nacional e do Conselho de Estado), e propõe-se orientar o Processo Revolucionário em Curso - PREC que
conduziria o País rumo ao socialismo.

As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário

Das eleições de 1975, sai vitorioso o Partido Socialista, que passa a reclamar maior intervenção na
actividade governativa. Vivem-se os tempos do Verão Quente de 1975, em que esteve iminente o
confronto entre os partidos conservadores e os partidos de esquerda. É em pleno “Verão Quente” que um
grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução, encabeçados pelo major Melo Antunes, crítica
abertamente os sectores mais radicais do MFA: contestava o clima de anarquia instalado, a
desagregação económica e social e a decomposição das estruturas do Estado. Em consequência, Vasco
Gonçalves foi demitido. Era o fim da fase extremista do processo revolucionário. A revolução regressava
aos princípios democráticos e pluralistas de 25 de Abril, que serão confirmados com a Constituição de
1976.

Politica Económica anti-monopolista e intervenção do Estado a nível económico- financeiro

Os tempos da PREC tinham em vista a conquista do poder e o reforço da transição ao socialismo. Assim,
nessa altura, tomaram-se um conjunto de medidas que assinalaram a viragem ideológica no sentido do
marxismo-leninismo:
 o intervencionismo estatal (em todos os sectores da economia), as nacionalizações (o Estado apropriou-
se dos bancos, dos seguros, das empresas, etc., passando a ter mais controlo da economia), a reforma
agrária (procedeu-se à colectivização dos latifúndios do Sul e à expropriação e nacionalização pelo Estado
e a constituição de Unidades Colectivas de Produção (UCP). Graças ao partido comunista foi aprovada a
legislação para a reforma agrária com protecção dos trabalhadores e dos grupos económicos mais
desfavorecidos através das novas leis laborais, salário mínimo nacional, aumento de pensões e reformas.)

A opção constitucional de 1976

Depois de um ano de trabalho, a Assembleia Constituinte terminou a Constituição, aprovada em 25 de Abril


de 1976. A constituição consagrou um regime democrático e pluralista, garantindo as liberdades
individuais e a participação dos cidadãos na vida política através da votação em eleições para os diferentes
órgãos. Além disso, confirmou a transição para o socialismo como opção da sociedade portuguesa.
Mantém, igualmente, como órgão de soberania, o Conselho da Revolução considerado o garante do processo
revolucionário. Este órgão continuará a funcionar em estreita ligação com o presidente da República, que o
encabeça. A nova constituição entrou em vigor no dia 25 de Abril de 1976, exactamente dois anos após a
“Revolta dos Cravos”. A Constituição de 1976 foi, sem dúvida, o documento fundador da democracia
portuguesa.
O reconhecimento dos movimentos nacionalistas e o processo da descolonização O processo
descolonizador

A nível interno, a “independência pura e simples” das colónias colhia o apoio da maioria dos partidos que se
legalizaram depois do 25 de Abril e também nesse sentido se orientavam os apelos das manifestações que
enchiam as ruas do país. É nesta conjuntura que o Conselho de Estado reconhece às colónias o direito à
independência. Intensificam-se, então, as negociações com os movimentos aos quais Portugal reconhece
legitimidade para representarem o povo dos respectivos territórios. No entanto, Portugal encontrava-se num
a posição muito frágil, quer para impor condições quer para fazer respeitar os acordos. Desta forma, não foi
possível assegurar, como previsto, os interesses dos Portugueses residentes no Ultramar. Fruto de uma
descolonização tardia e apressada e vítimas dos interesses de potências estrangeiras, os territórios
africanos não tiveram um destino feliz.

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