You are on page 1of 14
GUASC E USO, NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARANIS FREDERICO G. EDELWEISS Iv GUA8U, USU E ASO NO-LIVRO DE JOAO DE LERY (Continuagéo) A. despeito do longo coléquio, os aumentativos em Léry nfo ultrapassam €m ndmero os contides nos escritos de Thevet. Em compensaco, sio todos identificdveis, 0 que nfo acontece com os de Thevet, colhidos éreas mui- to dispersas (1). O significado dos aumentativos empregados por Léry é sensivelmente esclarecido pela grafia mais regular do que a de. Thevet epelas definicdes que os acompanham. Nessa tarefa contou com a permanéncia algo mais Jonga na Guanabara (2), ajuda mais eficiente, certamente obtida por sua curiosidade natural pelo dialeto tupinamba. Mas, o mérito principal de Léry consiste menos em ter aprendido um pouco de tupi, do que em ter assimilado © suficlente para consignar com algum discernimento aquilo que lhe iam comunicando os intérpretes, a cuja colaboracio, alids, alude repetidas. vézes, (1) Os que para éat balho: interessam fo: Les. Singularités de Ia Erange antarutiguoy os capltulos hetersates "an Bimal oq aan’ Gunemiarités, de, te Femelle © alguns escritos outros publicades io livro de Suzanne Euswgaet — be Brésil et les Bréstilens: chegou & Guanabara’no-coméco de marco de 1537 ¢ dall se retirou evet permanect (2) a 4 de janelro de i588. eu no Rio de Janeiro de 14 de novem- bro de i555 a 81 de janelro de 1556. a 52 . FREDERICO G. EDELWEISS Quanto & forma, somam pelo menos dezessete térmos em ghast (ouassou), nove em ust (oussow) e um ast (assou). O emprégo de ghasi obedece, com apenas uma excegio, & regra anchietana; nos em ust h& duas diserep&ncias, enquanto a tnica palavra em ast, tatast; — porco-do- mato, tem forma idéntica em todos os autores (3). Sendo, pois, como dissemos, reconstituiveis todos os aumentatives em- . Pregados por Léry, embora em diversos haja letras trocadas, provavelmente Pelo proprio Léry ao tomar as suas notas e principalmente ao tirar a limpo, tanto as suas, quanto as de outros, longe dos seus informantes, julgamos proveitoso aos estudantes transcrever téda a série e comentar-lhe as diver- géncias e interpretacées, Baseamo-nos para tal na edicio de Gaffarel, por ser ela mais acessivel 80 estudiosos. S6 o fizemos, porém, depois de comparar a transcricéo dos vocébulos tupis com as formas da terceira .edigfo francesa,- de 1585, e as da primeira edicio latina, de 1586. Na parte tupi as duas se completam. A latina, em geral algo inferior & francese, ainda que lhe corrija uns poucos térmos, serviu de base a Batista Caetano de Almeida Nogueira nas suas “corregées” (4) do Didlogo de Léry, Essas tais “corregdes’” merecem um lugar de destaque na lista das interpretagGes mais infelizes j4 cometidas Ungiiistica eomparada, por falta de conhecimentos do tupi, ao qual votava indisfarcado desprézo. Desgracadamente, foram essas “corregées” que servi- ram & feitura da traduc&o brasileira, de 1941 (5). Advertimos os pouco familiarizados com o tupi, que ghasi e ust tanto sHo adjetivos como advérbios; mas apenas num dos exemplos giast tem fun- sho adverbial. : Térmos em “Ghasi” (6) Grofia de Léry O térmo tupi em Tradugio Grafia Fonémica Acara-ouassou - — akaré-gdast, — acaré-guagu (peixe); (fr, If. 2, 27) . * camouroupouy-ouassou — kamurupy-gdasi — camaripu-guacu, pirapema (ir, 1. 2, 127 MD; commanda-ouassou _— kumandé-gtast — - fava grande (8); (fr. HL 27, 126) (8) Compare a pote 19, no capitulo aedicade 2 2 Toke Staden, (4) Nog Ensatos de Solencias IU. pp. 238) (3) Jean de Léry — Viagem & Terra do Brasil; *Sfo° Paulo, s.d. (1941), (9) ay escreve ounssou, pee eee ‘ora unido, ot ainda gage por hifen. feamos a gratia nessa do sempre o hifen. leach do volume e das paginas em ‘em Gaftarel @ precedida de fr, e da dicho brasticire (7) Maregrave (p. 178). Na traducSo Brasilelra tale ta wpdvertir que 2 qari. 2 wae corresponde ao nosso y. Na Gattarel o me é citado trés fas a. 2220. Ne _terceira eaitd ak ram cesa20 vem kamouroupony, que corresponde si Kassuripy sm nossa gratia. (8) -Damos o sentido ao pé da i falta de identificacho. E nume- rosa. variedade de fava | erandes. cap GOASO E USO NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARANIS 53 conomi-ouassou — kunumi-giasi — mégo (9); (fr. I. 125; Tt. 34; . br. 101, 169) . ¢0-ouassou — ko-giast — roga- grande; (i. I, 132) hu-ouassou — y-gtasi — rio grande; . (fr, I, 74) jacou-ouassou — faké-giast — Jacu-guagu (10); (fr. I, 71; I, 127) ijassi-tata-ousssou . — lasy-taté-gdasd —~ estréla grande, o planéta (fe, TI. 133) Vénus; maracca-ouassou — maraké-gasi = — marac& grande, sino, cam- (fr. TE..129) pa (11); moca-ouassou — mokab-usi — bombarda, canhée (12); (fr. I. 175; br. 138, 252) morgouia-ouassou. — murukufa-glasi — maracujé grande, laranja, (fr. I, 20, 126, 129, 143) liméo (13); oura-ouassow — ghyré-ghasi = ave grande, ave de rapina; (fr. IE 128, 142) . pagé-ouassou — paié-ghast — pajé grande (14); (fr. IL. 116, 125) pirdé-ouassou — piré-gtasi — peixe grande (15); (fr, IE 2, 142) . puissa-ouassou — pysi-giasi . — réde grande, réde de arras- (fr. Il, 7, 134) to (16); — sy-ghast ~— veado (17); ‘se-ouassou (fr. I. 160/61, IL. 127) (9) N&o atinamos com o emotive ue levou os fesponshv, vels pela traducho brasileira a eacrever curnmim, com r, quan do Lety pr n, tal qual os jesultas. B, por que aesG, que no caso née €'tupl e no Lary. (cap. Be 1a): (0) Também aqui a traduclio brasiicira aubstituia a forma certa ‘pelas erra- das: ‘neu (p. 138) 2 usu (p. 25. 1) Os jesuitas consignaram ité-maraka — maracé de motel, que é mais descritivo, embora néo alt 80 tamanho. (cap. 20) (42) _O aumentativo ocorre no cap." 11 e o timo dimples & yp. 124, vol. I. mocap,’ mororo isto é, mokaba, inararaksbe, forma entre os au- | mentativos am mal apanhada por Léry Jo. endo. 'o" vocévulo’ singe ples “Sete Be eantuada, 0 een "36 ‘pode ser ‘tormado com ust. omentarisa ‘Ga edleto brastleira 56 lu, em nota, o deslise de Léry, certamente feseontecla’ a Segea xativa do" emprégo de Pie (cap, ie 20)" pine tek, Hi RMA, Vatiodade de maracuié, 9, mural fi, cue nome os tu- 0 Inranja € ugueses, ¥ib, lnrania yieate e (ruta Aelda) ou. uy ybictobe Tred peor portoguaae 3 mio também € designado por ybé-ais. mo ocorre, AS DD. 161, "sa ahs e268 Bs readucto. bala alee et ‘ga comentarista, ainda por, elma: “ache ma ° ge cnorgonta ‘deve "ser morgoniba be até Ihe dé uma etimologia! “Entretanto, na (ad) Batece’ jue os tupinambés ronunelavam ‘pajé. Pelo menos 6° 0. que se déduz das. grat! ea zl (br. pp. 22) @ 252), ® G5), Ember, a8 ocora infest, 0 comentarista achou conventente mos- trar sen ee pelos enginaments des mestres, escrevendo pira-usG, 2D. ar. & Sbr. pp. 4%, 268, 276 © 277). i que substituiu o coment entarista 9 certo de Joo de Léry, pysé-fasd, Por Watust? 29 P. a wale abalxo & nota 8. esta tno Léry merec edaiha registro desta palavra, orno a & gual be dectntos, se Myern, ‘Tecendo ob comentar Tals estapafirdios, a pelas etimologids fantasiadas de Martius, e de Batiste Caetano no ‘verbete 54 . : FREDERICO G, EDELWEISS sobouy-masson (18) — soby-glast — sho verdes (18); (fry I, 124) ynambou-ouassou — inambi-gtasi — inambu-guagu (19); (fr, I, 172, If, 127) Térmos em “Ust” arignan-oussou — arinham-usi — peru (20); (ir. I. 170) che remiac-oussou — xe remiausuba — meu escravo (20A); (fr. IZ, 138) Sonfgt Voge ylerlo, onde, allds, modifica 2 aus opiniso, anterior, manites: fada_ no Me faat Léry: e-Anst (por egéfiast — dlho grande) embota m8 ‘dé 8 de Sclencla, i. p. 29). SO vacebuldrio Jenuities ae Pe eee Oa NeCabUlO yetas, gue Léry ratitien plenamente pa sua gratia. Uma forma dialetal de sugdaad, poraue, o tuple transforma, 2 ‘mlddo emu. a nkramoae um tanto oa em. 10 _livro de regrave oa) sugdasi a sunset, vez por came ‘Zosmesticos “e “colonos € pequeno. Esta forma tes Bat yuneti, parece ter-se ‘desenvolvido ‘desde cedo, pois. 6,88, eucontra, emi SGardim Gabrict "Soares “de Sousa, Ambos sho Gone Patormantes, “ions ake suitoridades por sl a6 em minudenciss ice Wingllstieas. A. tranaformacio pode ter tido origem Reamo entre of tupls, pols em certos vocdbulos muito usados singular mela ‘A contrageo. itm, ybyz8) ybyr& — pou, vara e de apara — ourvo, vergado, Jé no: fempo" de nthieta “Se ‘eaeis ‘cont aldo em Smpare, ‘onde notamos também a Spofonia dey para. Alternincias semelhantes ge no guarani, onde, Dor contragac, 8 gone por ‘aygdnsa, (i) e onde os termos para arco Dph Cy” stilam Aconce Santee Sem° a neato ore primitive ybyrhpara, que Ines deu origem e os define Entretanto, 6 fato jeremovivel que suast se dirmous, generalizou-se no brasi- 1g, -ho seu descendent ‘bheengatu ‘e, finalmente, inesrporou-se. no portugues do Brasil. Mas, do 0 sett jesenvolyiniento tach dedustr, qua gtimologia s06-n84 — animal gr ence grande nfo passa de diletantismo & margem rmo pri- imitivo, Teles, watithologia popular, Pal Se, depois dessas consideragéea passarmos a examinar a tradu iletra ae, Edy inacheditavels Sea a eg aiteratelo ‘so-oune viene 06- " re i rando 2011 0 bs ua. Nem a0 menos foram "conseqentes.. Além eng em apoio de uma nem lude & forma ant juase correta, ‘de » corroborada, giindioui at aio jesulta, apes va alguém se i iuinas tantas uggye Bacio Aa yézes_representado bouy y tup!l vem vi zee ientac ir como em carmsroupery; outras vezen po ual, Dulsa. Oby “gobye robys tantS ‘Sighitica verde ‘como asul, Pel cologulo ds ae ten 20, Ye, aue os tamsios, para evi- tar a ambigulaade, veiignavain aaul -por oby-ot6 e verde por oby-goast.” oo ms meee eo por mason. auzido N Taam ven ane aranis tri r be voca~ pute tuphees ios eaultas 6 aplicado ‘te Soderaas e pha is ?pardizes,° alas as. tradu em alguma semelhanca. (20) ‘Thevet (Sing alstitee, & } 224) regist rh — linha, que em Léry & designada ‘por aciguan-mist” B pols, gavel EYP aoe ° je ralinhe grande — arinhan-usd. alinha de 8p) era, por identico raclocino, gayrh sap si. Notemos, porém, que An- ‘thietd: no Auto de his Lourenco, verso sit grafa arinhama. ‘te: ES teza ‘im Iverisma (galinha, ‘gallina = intinna, arinhama) . “Rambés: da Guanabara. mas no qual iT final parece .'@.ma. 0 Auto de 800 Lourengo ¢ 8 : mutta vdéedda do. Guinhentos. BOs io caso em prética para Pies Bee mento 26 uso local, que, la “gramatica, aconselha quanto & morfologia” Tambam aqui a traducio -Bracllaira roca, usa, Bor Sian traducl ras| fa (p, 264) limitou-se, como quase, sempre, a re= petir:.a interpretache de Batista Gaetan (Disicpe, de Lary ne Ty Mis” que Sssa, reconstituigho delxou o interprete um {ames ’eastentsaay af vevsa Mee nab GOASO B USO NA .DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARANIS 55 Jeryoussou — reri-gtasi — ostra grande (21); (fr, TL 101, 123) ourauh-oussou .— ghyr4-ab-usti — Bena grande de ave (22); (fr, II, 129) : ‘78 (Pp. 129) dos Ensatos de Sctencla. Traduztdo literalmente, xe rembiar-ush & Ramey, capturada grande. Porém, como na traduclo de Léry: meu escrave, nie 4 nada que justifique o adietive ei — grande, cabla, antes do mais, examines 08 yoedbulos que no tupl correspondem a escravo. Batista Caetano teve come, mente a lembranca; entretanto, a sua Idéia ‘fixa unit&rla eo seu protundo dete Brézp pelas formas’ tupls o devem ter levado a examinar exclusivamente os aie flonérios guaranis. Nos de Montoya tera, assim, visto e comparado os. vervetus tembiayhu, b. — escravo € che remblayhu’— meu egoravo, sem conseguir cstabes lecer uma’ conexdo com o térmo de Lery. . Mas, se entio se desse ao incémodo de procurar no manugcrito do Vib, exis tente na Biblicteca_Naclonal, o vockbulo tup! correspondente, teria achade mine suba — escravo. Empregado como possessive xe, miausubs, exige o indice re- lativo dos participios ‘em mi. Desta forma teremds ‘xe remlousuba, ‘que corres: ponde ao exemplo de Montoya che rembiayhu, b. Os tupinambés da ‘Guanabara, segundo o testemunho de Léry, usavam a for- ma apocopada, de onde xe remlausG. £ isto que Léry ouviu e ade apareceria no feu livro, se néo se intrometesse um o para confundir os nossos tupinistas’ ate hoje. Como vemos, nfo se trata de forma aumentativa. (21) A iingua tupi néo possul o fonema !, mas o r iniclal déle se aproxima. Ainda hoje o lUnguajar do povo os confunde. Léry também trocou ouassou, por oussou, o que, neste caso, nfo é apenas estra- nhavel, mas lastimavel, por ter dado motivo A deturpacdo do térmo em‘outra obra, Nas eilcées do Tratade Desoritive de Braall, de Gabriel Soares de Sousn e coe: far Bela gnatignda, de 1801, aparece, no capitulo 140, parte If. 9 mesmo. vocabulO Jeriugu. Mas, af Varnhagen Gastiou o termo, nilo de acérdo com os cédices exae Tilnados, mas pela sua cabeca, alterando o certo de Gabriel Soares por amor co frro de Léry. Na primeira edicho, de 1895, no mesmo capitulo aparccem os Te mes de duas ‘ostras: Kerimasn ¢ lim, onde, por inadverténcta ou pela seme- dpanga das letras ¢ falta de conhecimento do tupl, o H infelal fol tracado' por E. Na edicko de 185i, Varnhagen, em vez de simplesmente trocar as inidlals 6 Faasu no eviderte uasu, ainda ‘converten fasd em ust, escrevendo lerlusi, ‘que havia encontrado em Léty. Cometeu assim dois erros fAcilmente evitavels. Quane fo go fonema 1, Varnhagen no reparou que o sel uso eatabelecla flagrante vons fradicko com o capitulo 150 do mesmo Tratndo’ Deseritive, onde se deciara, que a lingua dos tupinambds nfo possula nem % nem i, nem r (forte ou dobrado), ou, Se notou, deve ter-se estribado no proprio Gabriel Soares, que, no mesmo cat - pitulo, ainda fala em outras ostras, chamadas leripobas. Vé-se por al, tanto em Léry como em Gabriel Soares, a defeltuosa apreensao do r infelal brand dos tuple Pelos europeus. Introduziu-se, assim, no: livro de Gabriel Soares, uma alteracho, gue se vem reproduzindo em todas as ediedes, a partir da de 1851, O que Gabriel Soares escreveu fol Reritasu (rerfuaga) ou seja em nossa gratin rerlgfast, de Perfelto acordo ‘com o vocabulério Jesuita. Na nota 164 da traductio brasileira cita-se a suposta forma iryry, de Batista Gaetano, atribuindo-se inconsideradamente a forma rerl, registrada pelos jesuitas, 2 Proniincia dos colonos, Por outro lado, Batista Caetano, em seus comentarios Léry, alterou mul corretamente para gfiaeG a forma ust’ empregada erradamente Por Léry. © infellz anotador da edicho brasileira, entretanto, justamente neste Ponto elementar da gramética tupi, entendeu repudiar o seu mestre de toda hora, tornando a restabelecer o erréneo ust (D. 250). . @) Lér diz, no capitulo 14, que o genérico para ave é oura (= oyré), Ave grande, mas que est& em desacordo com o indleado por Lary.” A’ traducse brasileira Yestaura ourauh-oussou por uyré-ok-ust, isto 6, casa grande de ave, Genigede porém, por mals Inerivel pareca, a treduglo de Léry:* pens grande | OF% pena grande do ave, na grafla de Léry, é ouraab-oussou, que em nossa € slyri-sb-usG, ou ghyré-rab-ust, de, conformidade com os ensinamentos de An- chieta (fl, @, Tinka Zi “e.22). » e endo, que o h é af inadmissivel e, com arando ourauh com ouraab, ¢o- Tense a imprassko nitida, “gue Wallsie’ Cactase we Ree eee, Som, MEDAL, SO 36 FREDERICO G. EDELWEISS -OUS5O! — pindob-ust — pindoba grande; me I 143) » Mas, h& uma variedade de Pindoba, ainda hoje chama~ da de pindobugu (23); soouar-oussou — sogfer-usti — félha grande caida (24); (fr, II, 129) ‘tacouar-oussou — takfar-usii — taquarucu (25); (fr. II, 128/29) tapir-oussou — tapilir-usi — tapir, anta (26); (fr, I, 157/8, 161; 11,33, 125/6) tau-oussou — tab-usi — aldela grande (27); (fr, Il. 134) yguer-oussou — yegar-usti — canoa grande, navio (28). (fr, IL, 134) Térmo em “Asi” talassou — talasti — talacu, porco do mato (29). (fr. I, 160/61; HL. 127) cub, pelo pouco caso que fazia do tupi, falha que o impediu de assimiiar os ensi- Ramentos de Anchieta, sem os quais é arriscada qualquer andlise de textos tupis. (23) Veja o que dissemos a respeito desta palavra na nota 48, do capitulo ‘dedicado aos aumentativos tupis contidos em Thevet. . Batista Caetano retifica acertadamente pindo por pindob nesta combinacio 97 dos Ensnios), porque, mesmo no guaran! antigo, palmeira grande , segundo a lcho de Montoya, Infelizmente, o comentarlsta da edip&o brasileira prefere mals uma vez a for- ‘ma errada pind6-usti (p. 268). (24) JoBo Staden (Parte I. cap. 51) J& menciona uma aldela, cujo morubl- xaba tinha ésse nome, gratado ali Sowarasu. Note-se_a divergéncid asi por ust. ‘B estranhdvel que, nem com a traducio de Léry, Batista Caetano consegulsse weconatituir o legitimo vocébulo tupl, a que nos referimos exaustivamente na nota 17 do capitulo dedicado acs compostos com fast/astii do livro de" Staden. Na traducfo brasileira de Léry, a transcrigho do vocibulo tupi se atém & weconstituieho de Batista Caetano, com excegfio do h iniclal, que foi substituldo ‘por s (sob por hob) & p. 275. - Mag, incoerente como ¢, 0 comentarista desfaz a troca em sua nota 73, p. 273, * @ 0 que é plor, admite asd, em lugar de us empregado por Léry e mu! acerta- ‘damente mantido por Batista Caetano, Alnda nfio satlsfelto com @sses contra- =sengos, transforma até a traduco latina de Léry, na mesma nota, quando a sua ‘tarefa era tho 36 a restauracho do texto tupl e zelar pela sua traducio. (25) Léry tem sacounrr-oussow (II. p, 128) e tau-cousr-oussou (iI. p. 129). ‘No primero houve troca do t inicial por's, inadmissivel no caso. No segundo vem tau por ta. . (26) © nome taplira fol aplicado ao gado vact como j& transparece em Lary“ (IL, p. 135). " ® um (27) Goffarel tem tam, por téu que vem na terceira edico francesa, mas Smbas trazem ouscou em lugar de cussou. O térmo tomou naturalmente o sen- ‘tdo de cidade. A traducio brasileira, em vez de retificar o texto para téu-usd, Ou seja tab-usd, de acdrde com o Vib, impinge tava-usi, com flagrante desres- ‘Pelto & eufonia tupl (p. 260). (28) Ygarust generalizou-se entre os tupis do leste para navie, enquanto ‘0s guaranis denominaram os veleiros de ygaraté e 03 maiores ygaratar-usi. Com- pare © que dissemos a ésse respelto na ultima parte do capitulo O sufixo agente eran, asarae nas linguas tupl-guaranis, em nosso livro Estudes tupis e tupi-gus- (29) Veja nota 29 do capitulo dedicado neste estudo a Jodo Staden. GOASO E USO NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARAMS 57 Vv © EMPREGO DAS FORMAS “@0480, USC E ASO” NOS TRATADOS DE FERNAO CARDIM Quando, em 1583, Fernio Cardim encetou as suas andangas pelas ca- pitanias do Brasil, como secretdério de Cristévao de Gouveia, daria ao mesmo tempo os primeiros passos algo trépegos na aprendizagem da lin- gua brasilica. Nos térmos indigenas, que recolheu diretamente da béca dos portu- guéses e mesticos, parte j4 nfo era tupi de lei; aqui e ali consignaria pa- javras locais genuinas, mas discordantes do Vib. dos jesuitas, pois éste vi- sando 4 uniformizacio da lingua escrita (1), registrava de preferéncia, e, Bor assim dizer, oficializava das legitimas formas indigenas t&éo sé as mais correntes dentre os principais dialetos tupis costeiros. Aparecem, assim, nos escritos iniciais de Cardim (2) formas como amayact (3), guage (4), Guainumu (5), taepijguiri (6) ete. que no apografo posterior de fvora vém melhoradas para: guamayacu (7), sugoagu (8), guanhumig (9) e tapig-y- ‘mérin (10), mas onde, mesmo assim, ainda se notam Pequenas divergéncias com o Vib, . . Outros vocabulos, como candwagu (11) e guaracigoba (12) ficaram sem correcio, Ha também as incoeréncias gréficas, como sugoagu ao lado de suagu-apara (13} e até alteragdes para pior, como a de beijupird (14) para bigiuipird, que sio dois peixes completamente diferentes, como jé deixa- mos bem claro em outro estudo (15). . (2) Tendencla que se nota na época em vérlos paises da Europa, posta em Voga por diversos tradutores da Biblia. - Quanto ds duag partes: Do Clima © Terra do Brasil ¢ Do Principle 6 Orl- gem dos Endios do Brasil, os apégrafox que, se nao correspondiam exatamente soa Sriginats, Geviam aproxiinar-se-lhes mais, ‘foram certamente. aquéles que ‘servi- Fm f taducko publicada por Samuel Furchas, ne série Haldutus Posthimus vol. e , 1289-1 I. ndre: 1625, reprodu: com igumas emendas, no vol. by pp. 4-803, da ehlcko de Gisee aw oe ae * (3) Purehas; vol. 16, p. 488. {@ Yoidem; 'p. 450. Como de costume, © © no vem cedlihado, (3) hia * (8) Ibfdem; p. 447, . 8 Tratados’ ete. ie 87, — Em vista de Rodolfo Garcia afirmar que nada térmos tupis, flamo-nos da sua grafia na edicho de 1925, i 38, claramente tapyy-mirf, em nossa grafia fonémica. Tratados; p. 40 — Vela a nota 32, _ + D.°462, — Tratados; p. 52. — Em lugar de qraracigaoba, (= dus alteragies introdislaas fold lingua total doe eenatieoe ecdiongs meme las ai ies introduzidas pel ingua-geral los mest e a (28) "Onde vendo tem duse formas tupis: suacu'e weghset, dae quale nenkut- ™a confere com o Vib, que traz cigguact syedast (ay p. 4e4"—"Tratades; p. Si, “2 aeser >. Lré, alls, ‘mbeluypies em tupi ints bizjuipirs alles mytub pire, segunde’ 3 qj iy . al myiul by ve ‘'0 pelxe vondor, que Cardim relere b ps3, eatretanto, sem Cltar-lne'e. nome a5) Nea o verbete 25, pirabitG, em nosso estude Os Topénimos Tndigenas ao mage Sanelr Quinkentists, En: Rev. do Inst. Hist. © Geogr, Braallelco; vol, 275, Pp. 58 7 FREDERICO G, EDELWEISS Dando de barato uma série de erros de transcricéo, ainda mesmo na cépia revista de Evora (16), podemos desde logo deduzir das. observagées precedentes que, na pentltima década do Quinhentos, o Vib. talvez dife- risse em alguns pontos dos exemplares hoje existentes, mas que, sem di- vide alguma, os conhecimentos de Cardim, no dominio do tupi, deviam com- preensivelmente ser limitados, por ocasifio das suas viagens em companhia do pe. Gouveia.e, ainda bem falhos quando, anos apés, reviu os térmos tupis citados nos seus primeiros relatos brasileiros. Entretanto, nos dezoito aumentativos em giast, ust, e asi, apenas dois em ast; merecem reparos: canduagu e suacuapare, como veremos na sua enumeragéo a seguir. Como Cardim certamente nao os inventou, deviam ser formas locais, talvez do falar mestico, segundo as tendéncias j& bem pronun- ciadas em Gabriel Soares de Sousa. Nas notas de Rodolfo Garcia muita restrigfo teriamos que fazer, prin- cipalmente as suas etimologias, se nestas linhas coubesse uma critica ge- ral, H que o seu tupi & quase todo haurido do vocabuldrio guarani, de Batista Caetano de Almeida Nogueira. Impagdvel mesmo, como ja disse- mos alhures, é a sua traducio da frase tupi ocorrente a p. 339 dos Tra- “tados de Cardim (17). 5 lastimdvel, que nunca se desse ao trabalho de recorrer ao vocabulério tupi dos jesuitas, do qual existe um “apégrafo in- completo na Biblioteca Nacional. Aumentativos em “ghasi”, “ust” e “asi” nos Tratados de Cardim . I. Térmos em aghast» Grafia nos apégrafos Grafia fonémica Tradugdo: de Bvora: "segundo o Vib: abaré-guacu (p. 303) — abaré-giasa _ paare superior, prelado D5 goembégoacu, (p. 75) — gtembé-gtasi — uma planta (19); (46) Notemos: plrambé (p. & por Biramba, (= piré.ambi); puré (p. 88) r puraqué; Gulgratéotéo tested; pagnay abi » 102) ie euapepelar taeanuge (p20) por twoniughs eumtaangusge’ (pr S005” por" puaia- Aesetuando alguns e280, grafla dos nomes indi; is € mais correta nos apégtatos de Evora. Ha t Imbert alteracées, tanto cortes como geréacimos, entre ° “a8 Bo Rota Eee 05 ae Evora. Capistrano indica algumas delas. De actrdo cine ‘que ficou dito na note 20, do capitulo II, separamos Beate, estudo o adjetivo tupt’ por um ‘nifen em nossa gratia, Tespel itando, porem, a ainda do o Gent ‘Abate-sdeat @ sinoniima: de, a-paaad. de abaré © ai Igniti- cado rrgiome, explicagao wh tanto iebulosa de Montoya: ne ou quista “Espl- rita! 2b mate ae vel 6 dog Anals da Biblioteca ‘Nacional, Rio de Janelro. yor. Rip’ ete cubeeuaoul” Gueehe ieee ake connate ue vemos, em, Pure vara Re felta por Caralm depole Ga G_gnoprafo de Evora, primeira odolfo Gar ti : tanto, Bieta Bona ners Bi sraimologte, reece de Batiste Gretane, Entree Slee ee aa te i eae Sy emhegar SM, gas, aaa ovmesmo térmo:gratado, ainda erradamente, cmbeguaga ©" ‘*160S encontra-se GOASO E USC NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARANIS 59 guaranaguacu (p. 201) — gQatang-gtasi = — uma tribo (20); guatapigguact (p. 93) — giatapy-goasi — um bizio grande (21); iequigtiygoaci (p. 66) — kyty-gtast. — saboeiro (22); maracaguaci (p. 202) — maraké-gtasd — uma tribo (23); nhandugoaca (p. 56) — nhanda ema (24); paraguacd (p, 102) — paré-goasi — Paraguacu (25); payguagt (p. 314) — pal-glasi = — padre superior, prelado sugoagt (p, 36) — sy-g0ast — veado (27). Il, Térmos em «usin camuguyara (p. 201) = — kam-usi-lara = — uma tribo (28); jaguarugt (p. 43) — fagté-rayr-usi © — cachorro do mato (29); Jararacugh (p. 47) — laverak-usii — jararacugu; . 20) , Bm Purchas, I. ed. vem Gueinoguacy, que a relmpressiio de 1906, vol. BoP: 446, alterou para Gualanagnacu. arabe’ por guaiana deve ‘ser érro de (21) .Gabriel Soares J& traz, além da forma positiva oatapu, a aumentativa ge, fepusn, muito contrate pelos mesticos, mostrando a rapidez com que oO 1éxieo iP enacreditavel, elo Mesase et nent dos. princl cama at nacreditavel, pelo desconhecimento dos principios de gramética mals rudi- mentares que implica, é a etimologia’ dor, , transcrite por Pirajé da Bliva, nos “comentarios & Sua ealehs Go Mivre de aedea mserite POF Pires (22) Maregrave, p. 113, traz quity (=kyty) — pau doe sabio. Parece que Cardim confundiu kyty — ‘saboeiro com.a forma verbal lekytyka — csfregar-se. Em_Purchas, vol. 16, ae 473, vem lequitim, onde aparece a voz reflexiva do verbo yt? — cortar, fazendo presumir outra confusho anterior de Cardim. Hyty-gdast Seria uma espécle grande: de sabociro, Nos Tratadea hé na palavra ainda a troca de tig por tly. 1g 6 a gratia anchietano para representar o ¢ gutural tupi, valor que no correr do Selscentos fo! atribuldo pelos jesuitas ao y.. (23) Marac& Grande deve ter sido imiclalmente nome de um maioral. Ma- rac&s_conserva-se na Bahia como denominacio de um municipio, (24) Como Marcgrave, que utillzou as notas de um Portugués conhecedor da lingua brasilica do Nordeste, também designa a ema por nhanduguacu, 0 térmo deve alj ter sido corrente; e, nfo apenas para ema, mas ainda para aranha caranguejelra.. O Vib. procurou eliminar posstvels confusdes, reservando a palavra nhandu para designor a ema eo diminutivo nhandt para as aranhan em reral, formas usuals na Bahia, segundo Gabriel Soares (cap, 78 e 118): mas, Para as aranhas caranguejetras j4'traz nhanduagu, uma alteracdo da lingua-geral Por nhandt-ginsG em luni. (25) Embora a sem&ntica de paré J4 se nos apresenté bem confusa através da onomastica geogratica, parece que a tendéncla mais comum. era dar a Q sentido de rio extenso ‘e a paré-gOesi o de rio extenso caudaloso, Note-se a divergénela entre o tupl e o guarant. . Gr) "texto “mngtea (vo. 36, te do de_cnacuapars ‘oO 1B (Vol » PB. 450) m cuaco ao lado de a1 BR Teer aR, SAINT deat ea at&t Eg ee : ces 8 temos formas secundérias, ou Huéncla da geral’ (dos, mesti Ns le Se nfo quer confundida com ‘o tupi, a lingua bras! ‘original, cultivada ¢ ansmitida pelos jesuitas, forma tupl que a etimologia espalhada por Batista Caetano ‘a o mostra e T. Sampaio é ‘pura fantasia, nada tendo jue ver com so6 — animal, quadrépede, ve ed taaeae et Bio 2 eee Ppalavra. compost le — Pe a ust — gran e —o quo ‘tem, “dono, senhor, ou sea, no plural, "oa 8, deslgnacho que confere Goma fantasiésa descticho, que oa tramnitin "Sirutoe deslenactio a Cerdim aplica o mesmo nome a dois animals diversos. A p. 43 néo fol muito ‘exato no registro da palavra. O cachorro do mato, peio seu tamanho nfo Poderle ta ytide, designado Por ingaur-aet —"onga granite. dAtcrabmonts 8, sel home fol fiiho de onca e grande de onca, s¢; io ressalta dos térmos tupis conslgnades no ‘Vib, “dos jesulinst tagus-ragra’¢ “ast, 102, tage ‘0. che d'égun do Vib, Quanto descricgo: ‘+, maior que nenhum bol, tem dentes de grande palmos, Cardim fol vitima 60 , FREDERICO G, EDELWEISS tetigcugh (p. 73) — letyk-usi — batata de roe (30); tucanugo (p.. 200) — tukan-usi — ume tribo (31); IM. Térmos em casi» canduacG (p, 40) -— kQandd-ghasi — ourigo-cacheiro (32); suaguapara (p. 36) — sy-goaci-apara — veado galheiro (33); tayagd’ (p, 37) — talasi — queixada (34), vi AS FORMAS “GUASU”, “USO” E “ASU” NA ONOMASTICA DE GABRIEL SOARES DE SOUSA Para compreendermos a rapidez com que o tupi se foi abastardando na Ungua-geral, basta comparar as formas assumidas pelos térmos brasi- licos da Notfcia, de Gabriel Soares de Sousa com as correspondentes legi- timas do Vib. dos jesuitas, ou mesmo com as dos 7'ratados do cronista contemporfneo menos ortodoxo, o pe. Fernfo Cardim, Os. lingitistas jesuitas iniclaram-se laboriosamente, com certo preparo e método, nas tabas indigenas segregadas, enquanto Gabriel Soares reco- theu os nomes em ambiente de crescente mesticagem, de elementos inter- mediarios, no dominio da Kngua-geral,.um tupi em franca dissolucao. Este dialeto, fruto da fusiio. de duas racas,.do contato de duas culturas, néo deve ser confundido, como geralmente acontece, com o tupi, o legitimo lin- guajar dos indios, coordenado pelos jesuitas e por éles razoavelmente re- gistrade com as. indispensfveis ampliacGes semanticas, perfilhadas, a seu modo, pelos préprios. indigenas, premidos pela necessidade de enunciar con- ceitos novos, inerentes @ cultura forasteira. Alentada série de estropiamentos praticados nos vocébulos tupis do livro de Gabriel Soares j& ressaltamos. no estudo Os. tupinismos do “Tra- tado Descritivo’, de Gabriel Soares de Sousa, nossa: perfunctéria contri- buigho a0. Quarto Coléquio. Internacional. de Hatudos. Luso-Brasileiros, Bahia, ga gua credulidade, Gabriel Soares fornece verstio a} da TT, parte. | Pelo. que o iaforsaae a ‘Vocabulério Honbuguee-Brasdleo go mo, Nate “avate mesmo animal.o nome de gab-usd — pélo No comentario de Rodolfo Garcia. Note-se mais uma vez 6 Seteonbeatinen as regres do emprego de waned? (80) Rodolfo Garcia retificou mas niio com: sigh da ‘palavra tupl, cujo entido Utsret 8 buiata enon “arnase oS _ (81) Purchas, vol. 16, p. 445, corrigiu a tia da i. edicio ira tucanucu ‘tukan-und), que deve correaponder drovked! mente ‘ao nome de ferto tubixaba @ se traduz pot tucano grande, ou Seja, a espécle maior. ‘Ga Gafelim “cscrevgu" conan, enguanto Maregrave. tem cuandu, Mais rocen- - fe, ho as formas guandi gandu, que ocorrem na onoméstica geogréfica. No- ue. oo, ib oy Jesul has 86 figura o térmo tup! kuirpara ourica-cacheiro, Em oper autores, Gabriel eater (Parte II. cap. 108).vé animais distintos ehr'Kaandu es kul’ O inesmo ‘ainda parsee: tec side Peerteags Mnlmals, dlstintos atu. + pare as notas 13 ¢ oe is Veja a nota, 29 do capitute 1, relative a Jofo Staden. GOASO E USO NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUPI-GUARANIS él 1959. Muitos outros poderiamos aqui registrar, se coubessem nesta apre- ciacio restrita de um adjetivo isolado. Entretanto, ainda assim, quanta alteragio se operou em seu emprégo no curto espago de quatro décadas incompletas! . A forma g@asi praticamente cedeu o seu legitimo lugar ao espirio asi, enquanto ust, salvo raras excegdes, conseguiu manter a sua prerroga- tiva. Essa verificacio é muito interessante, por comprovar, na quase des- conhecida Ingua-geral do Leste, a manutengio da forma ust ao lado da maudanca de gf@asi em ast, enquanto na Ungua-geral do Norte, no brasi. iano, ust’ alterado em ost assume preponderancia quase absoluta: até o fim do século dezoito. Dai por diante, no curso do desenvolvimento da Ungua-gerat moderna do Amazonas, do nheengatu, oxi foi nela tio radi-- calmente substituido por ast, como g@asi o féra na Ungua-gerat do Leste, desde o Quinhentos. : O escriipulo daqueles que acham duvidosas algumas das retificacdes de Varnhagen, nfo tem aqui raziio de ser. Quaisquer alteragdes que ve- nham a ser impostas por uma possivel edigio critica, pouco modificartio a parte adjetival dos aumentativos tupis do nosso estudo. Varnhagen nfo era versado em tupi ao elaborar as suas Reflexdes Oriticas. A gramatica de Anchieta e a de Figueira ser-lhe-iam, pois, de reduzida utilidade diante do contraditério Dicionério Portugués e@ Brasi- Wane, Valeu-se principalmente de velhos tratados e, & Gitima hora, dos. estudes comparativos de trés apégrafos da obra de Gabriel Soares, que Pode consultar. Doze anos apés o aparecimento das Reflexdes _Criticas, de 1839, publicou. uma nova edigio da Nottcia do Brasil, mudando-lhe o titulo para Tratado Descritivo do Brasil em 158% e, & sua morte, deixou novas emendas e adigées,. que foram aproveitadas na reimpressio de 1879.- Nela o final em agu, guacw e wou tem acento agudo, que suprimimos, de acérdo com a ortografia atual. Palavras em “Ast” Grafia na edi- Forma tupi, grofia Tradugtio portuguésa’ Parte Il. cao de 1879 fonéinica : cap. 83 — ageruacu — aluri-glasié © —- um papagaio (1); cap: 89 — atiacu — ti-gtast — alma-de-gato (2); cap.: 78 cabureacu: — kaburé-gaasit — uma coruja (3); cap, 27 — igaracu — Ygar-usi — Igaracu (4); ° E, i. do Amaz Farh bs leiro, ote rhe Sheath go” a SIRT AMES BSS Daou Poucas décadas. A edicho de 1825 tem ageruetecu. ‘A. traduélo. literal é “bico-grande; “‘Trgoast tem sido confundido .com ating-usG, que no tupi designa as gaivotas.” A ed. de 1825 traz atiboou. (3) 86 figuram no Vib. os compostos Kaburé-yba e kaburé-yb-ysyka — 9 dr- vore caburefha e o seu bélsamo: Na ed. de 1825 vem cabuleazu. (4) Generatizou-se na onoméstica geogréfica a forma Igaragu em lugar de Agarucu. O significado canoa grande fol aplicado pelos tupis ao navio.. Em Buarant ‘navie € Yearata. ‘Ov apégrato reproduzido pela ed.-de 1825 tem igoaracu. FREDERICO G, EDELWEISS cap, 81 — jacuacu — fakd-gdast um jacu (5); - cap. 72 — jucuriagu — ? — uma frvore (6); cap. 84 — matuim-acu — matui-gQasi — uma ave (7); cap. 118 — nhanduacu. — nhandi-gdasi — aranha caranguejeira (8); cap. 93 — nhatium-agu — nhatiii-gQast — mosquito pernilongo (9); cap, 142 — oapuagu — gdatapy-gQasi — um buzio (10); cap, 97 — suagu _— = vetast — veado (11); cap. 69 —— suacucanga — pau-marfim (12); cap. 97 — suagupara _ = gytasi-apare = veado-gaihelro (13); cap, 100 — tajacu - — — wm porco-do-mato (14); cap. 100 — tajagueté — tease — queixada (15); fo — tajacutirica - 1 — um porco-do-mato; ap. 100 — tadagu © queixada ruivo (16); cap. 102 — tatu-agu - — tati-ghast — tatuagu (17); cap. 114 — tijuacu — teli-gdasi — teluacu; cap, 124 — tungagu — tung-ust_ — pulga, Palavras em “Ust;” e “Osi” Parte Il. cap. 136 — aimoreocu — amoré-gitasti ~— amoré-guacu (18); (5) A descricio de Gabriel Soares nfo coincide com a de Ihering (Diclonério dos Antmais), Pirajé também o nfo Identificou. Jaconqu ¢ o que se 1é na ed. de Fie) a0 figura no Vib, © editor de 1825 leu jucuriasu. (2) Néo figura no Vib, A ed. de 1825 tem matuimasce. (g) No Vib. s6 ocorre o genérico nhanduf para aranha. Mas em Marcgrave encontra-se nhanduguacu, designando tanto a ema quanto a aranha carangue. Jelro, Namduacu ¢ a gratia na ed. de 1925. (9) © Vib, s6 registra a forma nhatia. para os pernilongos, que Gabriel soa- re8 divide em Pause espécies de tamanhos diferentes. grafia inhatium € protético, Juthum parece hoje a promuncla nals’ correntec este ovo. A ed. de 1895 traz nhabruasu, (10) Itulo dos bizios menciona aigu nhamente altera- done contraiaa Oi, Be Teplstie ean 2 ingle dea damped, Bor aati ete., perfiihada por ehraie’ Booted sing jconhecimento do fuipi. ade, 285 aparece © estranho aleljio jatetaosa. Coa mpare o mesmo verb Gay A mesma forma é usadi ftulo dedicad este a a foe ag 8 a. zor Tevet Vela, no a jo a este, raducho literal do térmo de veado; lembramo: paste, epmposto,, Maver, certo contato recente entre suague’ sod-gansa rattan de forma ‘Intermediétia, de" Gagan ate green © ‘marfim bruto, matéria_ prima Bara og, Indios, fol aeuignade, ie “acrue com a Procedéncla, pelo ‘neotogismo rs gaos araigtore, ‘tndigone” 6 fol ‘dente ae animal grande: . Se de fato fol essa a ori~ digena ore: ecent forma tu correta do irmo de Gabriel soa seme ge A Ber, MUM “eds0, ay-g0asdbanga’G no outso, soe. 3)" _Note-se a queda do a» iniclal no adjetivo apara. Na ed. de 1825 aparece Veja ta na ea gilts d a ea i no capitulo de Joio Staden e compare as notas de Pirajé e mi 1-3 li por fla epgele | nalor 03 oreo-do-ma 3 em tradu¢ho Literal, o porco-do-mato & &, No Vine nde poee. Suiaeudtraatin, ‘put lupt 8 Seer © coieepgndents Sone, tate. Bm portugues tatuagu 6 sinonimo Na ed. de 1635 ‘ver aa) tem nomes muito variados, com de ver no Vooabusito 3” Welelonie aE Alberto Vasooncalon, Verbete "amen “S BGCe a5 tem GOUASO E USO NA DIACRONIA DAS LINGUAS E DIALETOS TUFI-GUARANIS ‘3 cap. 71 — copaubucu — kopayb-usi © — gameleira branca (19); cap. 91 —'capuerugu — kopder-usi — uma abelha grande; cap. 84 — carabucgu ~ ? — uma garceta (20); cap. 59 — caraobucu > ? — earobucu (21); cap. 68 — envirocu — ybyr-usti. — imbirugy (22); Parte I. cap. 14 — igarugu — year-usi — navio (23); Parte Ii. cap. 96 — jaguaracangocu — fagdar-akeng- — canguou (24); , cap. 96 — jaguarugu — lagdar-usi — uma onga (25; cap. 61 — jeticugu - fetyk-usi — batata-de-purga; cap. 55 — pindobucu — pindob-ust — pindobugu (26); cap.. 44 — talobuou — taiaob-usi — taioba (brava); cap. 94 — tapirucu — tapiir-eté — tapir, anta (27); cap, 142 — tapugu — g0atapy — um buzio grande (28); cap, 133 — timugu — timuké: — pelxe-agulha (29), _ 9 verbete amore correspondente a aimoré, de Gabriet Soares. Maregrave descre- Ye 0 amoré-soaaG A p. 166, Note-se a substituicho de elect Winer fom sivel no fupl apos iozal acentuada, por osG, que vemos Predominar no brasillano. Na eadleto de 1635 temos amiroxos. (19) an de ‘ios traz cobambuca, (20) Nao vem mencionade, nem no Vib. nem por Maregrave. A ed, _ de 1635 insta segundo @ descrico de Plrajé, 0 nome tup! seria kaé-rob-usi — grande BOB, 2) Nes puma, dag etiologies transcritas por Pirajé 6 ydimissivel; devem ser a stituldas por: ybyra — estopa, fibro, Zibroso, e, yb — haste, tronce, 0 que da. Bande estops, pau fibroso, ‘ (23) Ygar-ust 6 a forma coi Irreta, que ‘ot onomastica gratica cedeu o lugar vege a ‘gar-asd, de onde paste, . © sentido li € canon-grande, navio, laa nol (24) uma onca pintada, O tamanho indicado por Gabriel Soares nfo con- fere com o da 2 once, que hoje em dia se chama cangugu. A traducio literal é ona cabeca grande, ongs cabeouda, (25) Paral p abe tratar-se da onca préta, com atributos fantastleos, Fer- niio Cardim, mm de outiva, refere-se ao mesmo animal, & D. 102, mi Pp. 43, descrevende’ o orro-do-mato, dé-Ihe o mesmo nome de thgtar‘usd, No ¥ib. mh. seneonteainos o térmo. N&o designa apenas as fdlhas novas fechadas, mas também certa va- oda de pindoba. Veja o que expendemos a respelto’ na nota 48, do capitulo eado gos aumentativas om Thevet. oor primitiva deve ter sido tapiira, sem qualiticativo (Anchieta) Quand a pi transterirem © nome ao gado vacum, a anta passou a ser desig- nada por — tay legitimo (Cari Marcy pzavey €.0 boi ou a vaca por Sapient ee a © x rorma epime, (Cordim. Marograve) e, “correta, ‘Na ed. “Ge Ba eenetativo tapy-giasi.. As denominacSes de Gabriel Soares ladas eas etimologias perfilhadas ‘por ‘PiAle Bora bazes if sho moult Seon Be todo inaceltavals ‘Walt, eszonads Bapesi. (29) _Pirajé deixou-se enganar pela grafia da edicéo de 1879, aceltando a for- ma timucu, que nfo existe. Varnhagen, em suas Reflexdes Criticas, termo correto: timueu, do = wackz, fociako, bloo, & puke (aie fae eae dapsone nemas ‘nasals) — longo, ou ‘seja. tocinhe ‘lc ge, nome aplicado Ao apenas ao pelxe-neu 7 cal, Omas sins oo gern, ‘que “ant a mesma carncteristicn. Puled conful m i. tempo grose! ie Em resumo, timukai enao4 aes tempo grosso. Na' ed. de 1825 Jé-se timoem. ndo cabe entre os amentativos, em ust, BA REDERICO G, EDELWEISS Palavra em “Ghasit” cap. 25 e.seg. — paraguagu — pard-giast — Paraguagu (30). Palavras em “Casi” cap. 145 — potiuacu — poti-giast — pitu, um camario . grande (31); cap. 85 — uracagu , 77 Sayré-giasil — caracar& préto (32). (continua) 80) Mi deslgnava no tupi, nko apenas 0, maior rio que dessgua na dg des oe, Sen, mas. o lprégiio. lagemar "toado por Sea 10. "0 que admira é que até balanos possam defender a etimologia de mar grande, come ge um rio, ou mesmo a majestosa Bahia pudesse figurar de mar da imensidade do Atlantico, ainda mesmo que, em tupl, paré signititasse ‘mar, nossa onoméstica geo; ica antiga, par&é se aplica aos rios axtensos, de onde se edu, ave. Ps corresponde & Tio extenso caudaloso, Na’ edigho de 1Ba5: : (32) ly sentido literal ave grande, € o genérico das aves de especifico. em raping. -Em .tupi caracaré préte deve ter tido um nome Na edicio de vem uracacu.

You might also like