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O primeiro escravo: as famílias e suas estratégias para fugir da

pobreza através dos registros das listas nominativas de habitantes da


vila de Itu, capitania de São Paulo

Carlos A. P. Bacellar**

Palavras-chaves: escravidão; pequenos escravistas; listas nominativas;


Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São
Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014.
**
Universidade de São Paulo.

1
O primeiro escravo: as famílias e suas estratégias para fugir da pobreza através
dos registros das listas nominativas de habitantes da vila de Itu, capitania de São
Paulo

Carlos A. P. Bacellar
Universidade de São Paulo

O presente ensaio visa desenvolver análises iniciais sobre as estratégias


familiares para aquisição de cativos, tendo como objeto de estudos os domicílios
detentores de até cinco escravos. Este segmento, que denominamos de pequenos
escravistas, pode ser descoberto através das listas nominativas de habitantes.
Selecionamos, para este fim, duas listas da vila de Itu, capitania de São Paulo, para os
anos de 1817 e 1825. Nosso objetivo é não somente perceber a presença desses
pequenos escravistas nesses dois momentos, mas também buscar identificar as eventuais
alterações de condição de seus domicílios entre uma data e outra. Desta maneira, não
apenas estaremos realizando duas análises transversais sobre os pequenos escravistas,
mas também lançaremos um olhar longitudinal para os mesmos. O objetivo último será
melhor compreender as estratégias que levavam núcleos familiares a passar da condição
de não-escravista à de escravista, tema ainda muito pouco explorado pela historiografia.
Sabemos, de antemão, que a historiografia vem detectando, como um padrão
bastante generalizado para o sistema escravista, a concentração da posse de escravos
numa minoria de propriedades. Não obstante, constata-se também que a escravidão
espraiava-se por um número ponderável de domicílios de pequenos e médios
proprietários, bem como de artesãos, mulheres solteiras e viúvas, pequenos negociantes,
demonstrando que a posse de cativos não era privilégio das camadas mais ricas da
sociedade colonial. Esta difusão pelo tecido social não foi, ao que tudo indica, uniforme
no tempo e no espaço 1.
Buscar domicílios presentes em ambas as datas pode, à primeira vista, parecer
tarefa simples, mas a realidade é bastante mais complexa. Nomes que se alteram de uma

1
Um importante trabalho sobre o papel da pequena propriedade escrava é de autoria de MOTTA, J. F.
Corpos escravos, vontades livres. Posse de cativos e família escrava em Bananal (1801-1829). São
Paulo: Fapesp: Annablume, 1999.

2
lista para a outra, muitos homônimos (principalmente de mulheres), idades que não
batem, domicílios em duplicata na mesma lista – tudo corrobora para tornar a operação
um grande desafio2. Apesar disso, diversos pequenos proprietários puderam ser
acompanhados entre uma lista e outra, permitindo que se desenvolvam algumas
reflexões.
Uma primeira aproximação sobre a representatividade da pequena escravidão na
vila de Itu é possível pela análise dos domicílios levantados nas duas listas de habitantes
compulsadas. O perfil da posse não nos oferece qualquer novidade em relação ao
quadro historiográfico conhecido3. Para o ano de 1817, temos um total de 1.062
domicílios, dos quais 376 (35,4%) possuíam escravos; estes eram em número de 3.968,
perfazendo uma média por domicílio de 10,6 cativos. Passados oito anos, a lista de 1825
indica uma realidade que não se alterou: 919 domicílios4, dos quais 331 (36,0%)
possuíam cativos; e tais cativos compunham um contingente de 3.349 indivíduos, com
uma média de 10,1 por domicílio5. Portanto, apesar do desmembramento territorial, a
realidade escravista da economia açucareira ituana permanece estável.
Neste quadro, a presença de escravistas detentores de um a cinco cativos sofreu
ligeira alteração entre as duas datas. Em 1817, conforme a Tabela 1, tais fogos eram em
número de 203 (54,0% do total de fogos escravistas), responsáveis pela posse de 621
escravos (16,0% do total de escravos); tais domicílios possuíam, assim, em média, 3,1
cativos. Para 1825, detectamos pequenas alterações. Os fogos desses pequenos
proprietários eram em número de 187 (57,0% do total de fogos escravistas) e
respondiam por 457 cativos (14,0% do total); a média de escravos por domicílio de
pequenos escravistas era de 2,4 indivíduos6. Portanto, em apenas oito anos ampliara-se
ligeiramente a representatividade desses pequenos escravistas sobre o total de
proprietários, ao passo que seus escravos passaram a ter menor significância diante do

2
Para uma análise dos problemas no uso das listas nominativas de São Paulo, vide BACELLAR, C. A. P.
Arrolando os habitantes no passado: as listas nominativas sob um olhar crítico. Locus: Revista de
História, v. 14, 2008, p. 107-124.
3
Cf. os diversos artigos reunidos em LUNA, F.V., COSTA, I. N. e KLEIN, Herbert S. Escravismo em
São Paulo e Minas Gerais. São Paulo: EDUSP: Imprensa Oficial, 2009.
4
O número de domicílios entre as duas datas diminui por conta de desmembramentos territoriais da vila.
5
Para o ano de 1829, e através da lista nominativa para a vila de Lorena, Renato Marcondes encontrou
uma média de 9,2 escravos por domicílio, muito próxima da encontrada para Itu. MARCONDES, R. L. A
arte de acumular na economia cafeeira. Vale do Paraíba, século XIX. Lorena: Editora Stiliano, 1998,
p. 127.
6
Para a vila de Itu, e trabalhando com a faixa de posse de uma quatro escravos, Renato Marcondes
identificou média quase idêntica, de 2,5 cativos. Op. Cit., p. 127.

3
total de cativos da vila. Com isso, a média de posse também caiu. Consequentemente,
podemos concluir que, embora houvesse proporcionalmente maior número de pequenos
escravistas, esse crescimento se deu entre os senhores de um único cativo, ao mesmo
tempo que os proprietários de 2 cativos caíram quase pela metade.

Tabela 1 – Distribuição dos fogos conforme a posse de escravos, Itu, 1817 e 1825
1817 1825
Faixa de posse
Fogos Escravos Fogos Escravos
203 621 187 457
1a5
(54,0%) (15,7%) (56,5%) (13,6%)
64 504 48 375
6 a 10
(17,0%) (12,7%) (14,5%) (11,2%)
109 2.843 96 2.517
11 e mais
(29,0%) (71,6%) (29,0%) (75,2%)
376 3.968 331 3.349
(100,0%) (100,0%) (100,0%) (100,0%)

É justamente sobre esta minoria de proprietários de um a cinco escravos que


vamos centrar nossas análises. A Tabela 2 permite uma primeira aproximação sobre este
universo. Tais pequenos proprietários encontravam-se em situação distinta em função
do sexo. Quando a chefia do domicílio era ocupada por homens, a grande maioria era
casada; quando este papel era exercido por uma mulher, havia uma nítida
preponderância de viúvas. Contudo, apesar dessa elevada presença das viúvas, percebe-
se que as mulheres solteiras eram muito mais frequentes que os homens na mesma
condição.

Tabela 2 – Condição dos chefes de domicílios proprietários de 1 a 5 escravos


Sexo do Condição
Ano chefe do
Solteiro Casado Viúvo Religioso Total
domicílio
1817 Homem 7 114 7 12 140
1817 Mulher 20 3 39 - 62
1825 Homem 14 99 7 10 130
1825 Mulher 18 4 30 - 52

4
Esta realidade sugere que, para os homens, o matrimônio era condição
fundamental para a ascensão rumo à posse de escravos. A união conjugal formal abria
possibilidades para o novo casal, desde que suas famílias tivessem condições de dotar
os nubentes, especialmente sob a forma de cativos. Herdar escravos era o caminho ideal
para se diferenciar da pobreza reinante.
A forte presença de mulheres viúvas indica, igualmente, a necessária passagem
pelo casamento. Mas permanecer solteiro não impedia que se adentrasse no universo da
escravidão. O celibato definitivo feminino era recorrente7, fazendo com que um número
importante de mulheres chefiasse seus próprios domicílios, principalmente na pequena
área urbana de Itu. Algumas logravam adquirir escravos, sobressaindo-se de uma
maioria que apenas sobrevivia sob as mais precárias condições. Não sabemos, contudo,
o que levava, por exemplo, uma costureira a alcançar a posse de uma cativa, enquanto
outras jamais o conseguia. Melhor qualificação profissional? Maior produtividade?
Relações de compadrio privilegiadas? Serem lembradas em algum testamento dos
poderosos? Diversas questões, hoje ainda impossíveis de serem respondidas.
Examinemos mais detidamente a condição dessas mulheres. Dentre as solteiras,
encontram-se algumas que efetivamente parecem ter permanecido em celibato
definitivo. A costureira Ana de Almeida, branca, solteira, de 43 anos de idade em 1817,
residente à Rua da Palma, declara possuir uma única cativa, Maria, 70 anos, também
solteira e preta. Uma escrava em final de vida, de muito baixo valor de mercado, mas
que teria serventia como auxiliar nas lides da costura de sua também idosa senhora. Em
outro domicílio urbano, na Rua Direita, encontramos Ana Eufrosina de Camargo, 31
anos, igualmente branca e solteira, que “vive de esmolas”; tinha, a seu lado, a escrava
Maria, solteira, 21 anos e preta. Embora possa parecer um contrassenso viver de
esmolas e possuir um cativo, esta situação é mais usual do que se possa imaginar.
Podemos supor, no caso, que as duas mulheres, talvez por condição de saúde precária,
não mais conseguissem suprir suas necessidades básicas, dependendo portanto da
caridade alheia8.

7
Para uma análise do celibato definitivo na vila colonial de Ubatuba, capitania de São Paulo, vide
MARCÍLIO, M. L. Caiçara: terra e população. Estudo de Demografia Histórica e da História Social
de Ubatuba. São Paulo: Paulinas: Cedhal, 1986, p. 142-3.
8
O problema da mendicância e da miséria é constantemente mencionado nas listas de habitantes.
Todavia, tal condição merece certo cuidado, pois observações de listas subsequentes indicam que esta
declaração nem sempre é constante, sendo mais comum ocorrer pontualmente em uma única lista.

5
Algumas das solteiras eram bastante jovens. Inácia Maria de Jesus, mulata de 20
anos, costureira, residente à Rua de Santa Cruz, contava com uma menina, Maria, de
somente 11 anos, preta, no que poderia configurar uma estratégia de formação de uma
auxiliar nas artes da costura. Tal como nos casos anteriores, contavam com cativas de
baixo valor de mercado para lograr a compra das mesmas.
Em situação geralmente oposta se achavam as viúvas. Embora no momento atual
não tenhamos condições de identificar quem eram seus maridos, e em que condições
econômicas tinham com eles vivido, podemos encontrar várias dessas viúvas sem
grandes recursos, dependendo exclusivamente da força de trabalho de seus cativos. Na
lista nominativa de 1825 encontramos dona Maria Leite, viúva de 70 anos, branca, que
declara viver dos jornais de sua única escrava, Maria, uma preta de somente 25 anos.
Condição que diríamos simultaneamente privilegiada – por possuir uma cativa – e, ao
mesmo tempo, precária, já que esta escrava estava sujeita a uma mortalidade elevada,
que poderia deixar no desamparo sua idosa senhora. Em condição semelhante
encontrava-se Ana Francisca da Costa, branca e viúva de 70 anos de idade, que vivia na
companhia de sua filha Ana, 40, solteira, e dependia dos jornais de seu escravo
Inocêncio, crioulo preto de apenas 20 anos. Estas viúvas provavelmente alquebradas
pela idade podiam contar com essa restrita força de trabalho, que devem ter herdado de
seus falecidos cônjuges.
Após esta breve e inicial ponderação sobre a condição feminina, podemos
melhor caracterizar os domicílios dos pequenos escravistas. Se observarmos as idades
dos chefes, separando-os por sexo (Tabelas 3 e 4), perceberemos uma tendência
consistente de homens mais jovens nessa faixa de posse de uma a cinco escravos. Nos
domicílios com um único cativo, os chefes homens tinham em média 40,1 anos em
1817 e 39,2 em 1825, contra respectivamente 51,0 e 52,0 para as mulheres. Na quase
totalidade dos casos, conforme se visualiza nas mesmas tabelas, os homens eram em
média mais jovens que as mulheres a encabeçar domicílios.
Ao que tudo indica, essa maior precocidade masculina se deve ao fato de em sua
maioria estarem representados enquanto cabeças de casal, por conta do matrimônio. Já
as mulheres, que raramente surgem representadas casadas – exceto na ausência do

Semelhante constatação parece sugerir que, nesses casos, a mendicância seria situação conjuntural do
domicílio.

6
marido9 – somente têm oportunidade de serem registradas na condição de viúvas ou
solteiras. Evidentemente o elevado contingente de viúvas empurra as idades médias para
cima.

Tabela 3 – Idade média e mediana dos chefes de domicílio com 1 a 5 escravos, 1817
Chefes homens
Número de Número de chefes Idade Média Idade Mediana
Escravos
1 37 40,1 33,0
2 36 43,8 41,5
3 28 46,1 43,0
4 3 57,0 50,0
5 3 34,0 32,0
Chefes mulheres
1 20 51,0 55,0
2 27 53,6 52,0
3 8 54,1 52,0
4 25 41,2 39,0
5 13 40,9 41,0

Tabela 4 – Idade média e mediana dos chefes de domicílio com 1 a 5 escravos, 1825
Chefes homens
Número de Número de chefes Idade Média Idade Mediana
Escravos
1 50 39,2 40,0
2 25 47,1 44,0
3 20 45,9 44,0
4 21 43,6 45,0
5 14 44,0 43,0
Chefes mulheres
1 19 52,0 40,0
2 10 42,4 42,0
3 8 48,0 43,0
4 11 47,1 46,0
5 5 44,8 40,0

9
As mulheres registradas como casadas, mas sem o marido – muitas vezes descrito como ausente, sendo
seu nome informado ou não – , nada mais eram do que esposas de tropeiros ou de negociantes, que se
ausentavam por meses a fio em suas viagens para outras paragens, como o Continente de São Pedro,
Goiás e Rio de Janeiro.

7
Interessante, em seu todo, é a relativa baixa frequência de chefes homens
solteiros. Alguns poucos eram celibatários efetivos, dada sua avançada idade; outros, no
entanto, parecem ser jovens ainda não casados, que haviam se lançado na vida e
provavelmente haviam recebido algum dote – sob a forma de escravos - para
impulsioná-los na vida independente.
No ano de 1825, o negociante de fazenda seca Bento Jose Cardoso era, aos 54
anos de idade, um celibatário: vivia exclusivamente na companhia de seu escravo
Joaquim, preto Angola de 20 anos, que deveria auxiliá-lo em seu pequeno negócio. Em
situação semelhante, Manuel José Vaz, solteiro de 40 anos que dizia viver de suas
agencias, surge recenseado ao lado da agregada Manuela, branca e solteira em seus 26
anos, acompanhada de sua filha Maria, de apenas 6 anos. A servi-los, uma única
escrava, Josefa, mulata solteira de 60 anos. Embora a expressão “vive de suas agencias”
não permita que delimitemos com precisão a atividade provavelmente braçal
desenvolvida por Manuel, podemos imaginar que este solteirão talvez vivesse
concubinado com Manuela, não sendo improvável que Maria fosse fruto dessa
convivência informal.
Se contavam com dotes, podemos desconfiar que muitos desses pequenos
proprietários pertenciam a famílias de certas posses. Já analisamos, em outra
oportunidade, a possibilidade concreta de jovens de famílias de elite receber dotes para
se instalarem anteriormente ao casamento. Mas, enquanto integrantes do diminuto
contingente de famílias poderosas, são pouco representativos, e talvez por isso o
número de pequenos escravistas homens e solteiros seja pouco significativo10. É o caso
de José de Carvalho, pequeno lavrador de 31 anos em 1817, casado e com dois filhos
menores, que então possuía somente uma escrava, Luiza, de 15 anos. Oito anos mais
tarde, em 1825, sua condição se alterara completamente: descrito como senhor de
engenho e possuidor de 24 escravos (e Luiza aí permanecia), crescera fortemente, muito
provavelmente após herdar bens dos pais ou sogros.
O lavrador Elias de Mello Rego também passou por trajetória semelhante. Em
1817, com 28 anos, já casado e com três filhos menores, declarava possuir 4 escravos.

10
Cf. BACELLAR, C. A. P. Os senhores da terra: família e sistema sucessório entre os senhores de
engenho do Oeste paulista, 1765-1855. Campinas: CMU/Unicamp, 1997. Para uma importante análise
sobre o papel e composição do dote, vide NAZZARI, Muriel, O desaparecimento do dote: mulheres,
famílias e mudança social em São Paulo, Brasil, 1600-1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

8
Em 1825, a realidade se transformara: era, agora, senhor de engenho, e dono de 12
escravos.
Muitos dos pequenos proprietários pertenciam às milícias da terra, variando
desde o simples soldado até algumas patentes, como sargentos e tenentes. Dentre todos
os proprietários homens, nada menos que 39,2% possuíam alguma posição nas tropas
locais, indicando que poderia haver uma relação entre adquirir algum escravo e
pertencer a essas tropas. Ser um simples soldado miliciano não teria grande importância
econômica, já que todo homem válido tinha essa obrigação. Por outro lado, alguma
patente, por menor que fosse, talvez resultasse da posse de escravos, mesmo que
restrita. A ascensão econômica poderia abrir as portas para a obtenção de tais patentes.
Se olharmos para o perfil demográfico dos escravos dentro dessas pequenas
propriedades, vamos descobrir um padrão bastante interessante. Em 1817, 82,1% dos
cativos das posses entre um e cinco indivíduos eram solteiros, mas 16,3% eram casados.
Nos plantéis com dois cativos, surpreendentes 14,8% eram casados, geralmente entre si,
mas por vezes com cônjuge externo não especificado – talvez libertos11. Nessa situação
se encontrava a escrava Josefa, preta crioula pertencente ao carpinteiro Antônio da Luz;
casada, mas com o marido, provável forro, não coresidente. Nas escravarias com três
indivíduos os casados compunham 24,1% dos casos. Padrão elevado, superior ao
detectado em três vilas paulistas – Mogi das Cruzes, Itu e São Paulo - por Luna e Klein,
com taxas de casamento para os proprietários com até cinco escravos de,
respectivamente, 19%, 18% e 10%, todos para o ano de 182912.
Para o ano de 1825, a presença de escravos casados nas faixas de posse
consideradas é significativamente menor, da ordem de 8,5%, sem que saibamos explicar
com segurança as razões dessa substantiva diferença para menos. Talvez o processo de
contínuo crescimento da lavoura açucareira em Itu, nesse período, tenha resultado em
uma tendência de concentração da força de trabalho13. Não seria impossível, também,
que o encarecimento do escravo africano, num momento em que as primeiras pressões

11
Uma análise preliminar sobre o casamento entre forros e escravos está em BACELLAR, C. A. P.
Unidos, porém distintos: o matrimônio entre escravos e libertos em São Paulo colonial, séculos XVIII e
XIX. Paper apresentado no VI Congreso ALAP - Asociación Latinoamericana de Población, Lima, Perú,
2014.
12
LUNA, F. V. e KLEIN, H. S. Escravos e senhores no Brasil no início do século XIX: São Paulo em
1829. In: LUNA, COSTA e KLEIN, op. cit, p. 316.
13
Sobre a evolução da economia açucareira paulista a partir de finais do século XIX, vide a clássica obra
de PETRONE, M. T. S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São
Paulo: Difel, 1968.

9
inglesas pela abolição do tráfico se faziam sentir, tenha levado a um processo de
decréscimo da pequena propriedade escrava. De toda forma, a presença de cativos
casados em pequenas propriedades escravistas parece apontar para estratégias muito
pensadas de reprodução da mão-de-obra. Demonstra, antes de tudo, que o matrimônio
era possibilidade concreta nesse ambiente de escravidão restrita, desde que os senhores
tivessem a preocupação em comprar cativos com essa intenção. São senhores que, de
alguma maneira, planejavam contar com um casal de cativos, provavelmente visando à
sua reprodução natural.
No fogo do lavrador Bento Leite do Amaral encontramos dois escravos e
duas escravas no ano de 1825. Embora não fossem casados entre si – pelo menos assim
está indicado na lista nominativa -, descobrimos, através dos registros paroquiais de
batismo, que Tiago e Luzia mantinham ao menos uma união consensual. Assim tiveram
quatro filhos cujos batismos puderam ser identificados: Antonio (1824), Generoso
(1826), Benedito (1829) e Vicente (1831). Mesmo que não tenhamos, no momento,
condições de acompanhar longitudinalmente este domicílio ao longo das listas
nominativas posteriores a 1825, percebemos um óbvio esforço de reprodução vegetativa
dessa mão-de-obra. Claro que a mortalidade pode ter cobrado seu preço, ceifando em
tenra idade essas crianças, mas a intenção de permitir a reprodução natural dos cativos é
inegável.
O ferreiro Felix dos Santos Lisboa (que, após a Independência, passou a assinar
Felix dos Santos Brasil) possuía, em 1817, somente a escrava Gracia, preta de 40 anos
de idade. Na série de batismos da paróquia não consta qualquer filho da mesma. Seja
como for, Gracia deve ter falecido após esta lista, e Felix deve ter tratado de comprar
outra escrava, Rita. Igualmente solteira, trará ao mundo dois filhos: Eduardo, em 1820,
e Benedito, em 1829. O primeiro permanecia vivo na lista de 1825. Crianças cativas
eram esperança de futura força de trabalho; mas, principalmente, uma reserva
monetária, disponível para eventuais conjunturas, inclusive para dotação de filhas e
acerto de contas de legítimas.
A ideia de comprar um casal de cativos não eram incomum. São diversos os
fogos onde os primeiros dois escravos já podiam constituir um casal. A viúva Ana de
Camargo, 60 anos, tinha consigo os escravos pretos Inácio, 30, e Teresa, 20; embora
declarados solteiros, não seria difícil imaginá-los em união informal. Já o lavrador
Francisco Bueno de Camargo, solteiro e branco, 57 anos, contava com o casal

10
Francisco, 41, e Maria, 31, ambos pretos e formalmente casados, e seu único filho Jose,
de 11 anos. Ou então o lavrador Francisco da Silveira Leite, casado, branco, com 25
anos, que possuía o casal Maurício, 48, e Maria, 46, com uma filha, Domingas, 7 anos,
todos pretos. Todos compartilhavam da perspectiva de usufruir dessas crianças,
importantes para domicílios de posses diminutas.
Perceber uma possível estratégia de reprodução da restrita mão-de-obra cativa
destes pequenos escravistas é tarefa que diríamos ousada. Nossa tentativa de
interpretação dos dados atualmente disponíveis não é exatamente simples, pois
contamos com somente duas listas nominativas. Para o futuro, quando as listas de cada
ano consecutivo estiverem informatizadas, o processo de rastreamento dessas micro
escravarias se tornará factível. Isto, apesar das inerentes e notórias dificuldades que se
enfrenta na tentativa de cruzamento nominativo de escravos, ou mesmo de seus
senhores.
A composição de uma pequena escravaria pode nos trazer pistas sobre as
eventuais estratégias daquilo que seria a porta de entrada no mundo dos proprietários de
escravos. Os aqui observados, nas duas listas de habitantes, são indivíduos que muitas
vezes estão ensaiando os primeiros passos no ser escravista. Em 1817, a jovem
lavradora Manuela Pires, solteira e com 31 anos, possuía nada menos que 3 cativas,
todas pretas como ela. Duas eram adultas: Catarina, de 25 anos, e Efigênia, de 29. A
terceira, também Efigênia, de 9 anos, talvez fosse filha de uma das duas primeiras. Seja
como for, não há a presença de escravo homem. Uma hipótese para justificar esta
ausência é a possível morte prévia de um companheiro de cativeiro. Outra, era a decisão
de restringir a compra a mulheres, que podiam costumeiramente vir a engravidar de
terceiros e depois declararem desconhecer quem seria o pai da criança.
Em outra situação, vemos o caso da viúva Vitória Lucinda Pacheca, de 33 anos,
que vivia na companhia de quatro filhos menores. Declarou sobreviver dos “aluguéis de
casas”, e ter colhido 6 arrobas de café, evidenciando que possuía alguma terra, ou ao
menos lavrava em terras de terceiros. Seja como for, sua mão-de-obra é composta de
somente três cativos, todos muito jovens e pretos: Manuel, de 13, Benedita, de 10, e
Gertrudes, de 2. Estes escravos deviam compor a totalidade da mão-de-obra herdada
após o falecimento de seu marido, já que os filhos menores não podiam ter levado suas
legítimas para fora do domicílio paterno. Portanto, estas crianças cativas eram as únicas

11
14
responsáveis por qualquer atividade de trabalho junto ao cafezal , e deveriam ser
depositários de esperanças de um futuro reprodutivo, onde trouxessem ao mundo filhos
que, pensamos, poderiam ser a moeda de pagamento das legítimas dos órfãos filhos de
Vitória Lucinda.
Para tentar buscar melhor mapear as possíveis estratégias de aquisição de
cativos, a Tabela 5 resume o perfil de sexo e faixa etária dos escravos solitários
encontrados nos fogos com apenas um cativo. O resultado indica uma forte tendência
por mulheres da faixa etária dos 11 a 20 anos de idade. Mesmos os escravos homens,
minoritários, também se concentram na mesma faixa etária. Temos, portanto, uma nítida
preferência por escravos bastante jovens, entrando no mundo do trabalho adulto, que
hipoteticamente poderiam ter uma expectativa de vida duradoura, já escapando das
elevadas mortalidades da infância e já em condições de serem efetivamente úteis como
mão-de-obra.

Tabela 5 – Distribuição por sexo e faixa etária dos escravos presentes em domicílios
com um cativo.
Sexo
Faixa Etária 1817 1825
Masculino Feminino Masculino Feminino
0 a 10 0 1 2 3
11 a 20 11 15 10 19
21 a 30 6 9 9 11
31 a 40 2 3 3 4
41 a 50 1 2 2 1
51 e mais 2 5 3 3
Total 22 35 29 41

A Tabela 6, por seu turno, continua a apontar para o maior número de mulheres
cativas e o predomínio da mesma faixa etária dos 11 aos 20 anos. Mas informa um
componente novo: a presença de crianças, o que parece sugerir que a reprodução natural
tenha um papel importante na ampliação dessas diminutas escravarias. Embora os
números sejam pequenos, e portanto sujeitos às inevitáveis precauções analíticas, chama
também a atenção o desequilíbrio entre os sexos nessa faixa etária até os 10 anos. Essa

14
E provavelmente trabalhavam lado-a-lado com sua senhora, que não era uma “dona” e sim uma
lavradora.

12
evidente desproporção pode talvez indicar a ocorrência de um processo de
redistribuição dos meninos, vendidos no mercado e trazendo recursos para seus
senhores. É uma hipótese que mereceria maiores investigações.

Tabela 6 – Distribuição por sexo e faixa etária dos escravos presentes em domicílios
com três cativos.
Sexo
Faixa Etária 1817 1825
Masculino Feminino Masculino Feminino
0 a 10 5 12 3 9
11 a 20 12 19 18 17
21 a 30 17 10 7 8
31 a 40 4 9 4 6
41 a 50 7 7 4 6
51 e mais 3 3 4 1
Total 48 60 40 47

De qualquer maneira, os pequenos escravistas analisados tinham que


necessariamente comprar seus primeiros escravos. Mercadoria não acessível à grande
maioria dos domicílios, que dispunham tão somente da força de trabalho familiar.
Infelizmente não é fácil conhecer a qualidade desses escravos pertencentes às pequenas
escravarias. Seus senhores quase sempre não dispunham de bens suficientes para, no
momento da morte, provocarem a realização de inventários. Com isso, ficamos com
grandes dificuldades para melhor caracterizar estes cativos, conhecer seus valores de
avaliação, saber se eram portadores de algum defeito físico, doença ou, pelo contrário,
se tinham especialização artesanal. Teriam esses senhores condições de comprar
escravos em pé de igualdade com os proprietários de grandes escravarias, os senhores
de engenho? Ou para eles restariam os cativos de pior qualidade, rejeitados pela maioria
dos compradores e, com isto, tornando-se mais acessíveis aos poucos capitalizados?
Esta segunda hipótese teria alguma lógica, mas não temos qualquer comprovação
empírica que permita sua sustentação.

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Tabela 7 – Razão de masculinidade segundo o número de escravos possuído
Lista Nominativa
Nº de escravos no fogo
1817 1825
1 54 68
2 83 80
3 80 80
4 155 94
5 186 149

Se observarmos, através da Tabela 7, a razão de masculinidade segundo o


tamanho da escravaria, percebemos com nitidez um aspecto crucial dos processos de
aquisição de cativos. Fica bastante evidente que os primeiros escravos adquiridos no
mercado eram preferencialmente mulheres, numa proporção de cerca de 2 para 1 no ano
de 1817, e um pouco menos em 1825. Entendemos que esta preferência se deva ao
perfil mais polivalente da escrava: poderia executar desde os serviços da roça até uma
enorme gama de atividades artesanais tipicamente femininas, como costureira e
fiandeira, além das rotinas domésticas da cozinha e limpeza. E ainda poderia incorporar
os eventuais filhos tidos ao domicilio de seu ou sua senhora.
Progressivamente, contudo, a presença de homens se amplia, até se tornar
preponderante. A mudança de padrão se dava, em 1817, nas posses de quatro escravos,
enquanto que me 1825 ocorria somente nas posses de cinco. No caso de 1817, a razão
de sexo de 186 já aponta para um padrão de grande lavoura. Em outras palavras, temos
aqui indícios substantivos de que o crescimento da força de trabalho escrava a partir da
simples posse unitária se dava no sentido de reforçar a presença masculina. Não
sabemos, lamentavelmente, se tais homens eram crioulos ou africanos, pois as listas dos
dois anos trabalhadas não traziam essa informação de maneira confiável. Mesmo assim,
podemos argumentar que a posse de quatro ou cinco escravos começava a produzir
gêneros em maior volume, e assim transformava-se em atividade dependente do
mercado atlântico de escravos. Ou seja, quatro ou cinco cativos (não consideramos aqui
quantos eram adultos, idosos e crianças) era o grande ponto de virada do senhor de
escravos: a partir de então ganhava uma grandeza de produção diferenciada do simples
lavrador escravista, que apenas vendia seus parcos excedentes15.

15
Para uma análise da diferente produtividade entre domicílios com e sem escravos, vide BACELLAR,
C. A. P. Viver e sobreviver em uma vila colonial. Sorocaba, séculos XVIII e XIX. São Paulo:
FAPESP: Annablume, 2001, especialmente o capítulo V.

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Ao comprar seu primeiro cativo, seu proprietário estava certamente buscando
melhorar sua condição de vida. É fato, no entanto, que alguns pequenos escravistas não
logravam permanecer com essa mão-de-obra, enquanto outros tinham recursos
suficientes para garantir a substituição de um escravo que falecia. A costureira
Constantina Maria, por exemplo, dispunha, de acordo com a lista nominativa de 1817,
de dois escravos: Roque, 29 anos, e Joaquina, 20 anos. Segundo se informa na lista, sua
senhora vivia não apenas de costuras, mas também dos jornais desses escravos. Seja
como for, a lista nominativa de 1825 indica que esses escravos não mais constavam do
fogo. Se foram vendidos, foi uma opção de sua senhora; se, no entanto, faleceram,
provocaram uma perda indesejada e irremediável dos recursos neles investidos.
O carpinteiro Inácio do Vale também não teve sucesso em manter sua única
cativa, Metildes. Listada em 1817 como tendo 40 anos, solteira e preta, não mais
aparece em 1825. Talvez tenha morrido. Já a costureira Joana Teresa, viúva de 36 anos,
declarou, em 1817, possuir a escrava Tomásia, solteira e preta, de 19 anos; em 1825,
não estava mais presente. Projetos fracassados, ao que tudo indica.
Mas havia o outro lado da moeda: inúmeros casos de aumento da posse de
escravos entre 1817 e 1825. O lavrador Venâncio Borges de Almeida tinha, em 1817,
quatro escravos. Todos permanecem no fogo em 1825, mas com dois novos parceiros de
infortúnio: Eva, de 17 anos, e Mariana, de 19. Comprados ou herdados, permitiram uma
ampliação substantiva da escravaria do já velho Venâncio, com 61 anos de idade em
1825.
Outro lavrador, Leonardo Martins, surge, em 1817, aos 30 anos de idade,
acompanhado somente por sua esposa e do escravo Antonio, 11 anos. Em 1825, a
situação melhorara bastante: além de Antonio, havia agora Francisca, de 10 anos, e
Isabel, de 16. Novamente não sabemos se essa ampliação foi por compra ou herança.
Alguns dos proprietários iniciaram suas vidas em condições melhores. Salvador
Dias Ferraz, jovem de 23 e já casado com Antonia Dias, de 15 anos, identificava-se
como lavrador que “planta para o gasto”, mas já possuía quatro escravos: Paulo, 24
anos, Elesbão, 14, Rita, 18, e Efigênia, 6. Seu sobrenome sugere que pertence à família
Ferraz, proprietária de engenhos de açúcar. Apesar da idade, já era cabo de esquadra,
sinal de algum prestígio. Alguns anos mais tarde, em 1825, torna-se efetivamente um
pequeno senhor de engenho; sua escravaria estava aumentada em dois indivíduos,
Francisca, de 7 anos, e Albina, de 5, filhos do casal Paulo e Rita. Mas, segundo os

15
registros paroquiais de batismo, o casal também teria tido a filha Maria, em 1824 (e já
falecida em 1829) e também Teresa, em 1829. Estes cativos passaram por um grande
processo de reprodução natural, atestado pela sequência de batismos. Efigênia, presente
no fogo desde pelo menos os 6 anos de idade, torna-se mãe solteira de Rita, em 1830;
logo a seguir, passa a se relacionar com Paulo, que enviuvara da primeira Rita, e juntos
concebem Jacinta, batizada em 1831. Quanto aos filhos de Paulo e Rita, vemos que
Teresa torna-se mãe solteira de uma filha também chamada Teresa, e batizada em 1847.
E Francisca, que nascera em 1819, torna-se mãe solteira e tem os filhos Emilia, em
1840, e Vicente, em 1843. Depois, une-se a José, escravo que deve ter sido comprado
por seu senhor, e juntos batizam Inácia, em 1846, e Lucio, em 1847. Em suma, dez
crianças nascidas no fogo de Salvador Dias Ferraz, numa clara e efetiva política de
reprodução vegetativa de sua escravaria.
O lavrador Elias de Mello Rego é outro caso de lavrador que vira senhor de
engenho. Do mesmo modo, seu sobrenome atesta o pertencimento a famílias de
senhores de engenho. Sua estratégia, no entanto, foi diferenciada daquela observada
para Salvador Dias Ferraz. Em 1817 contava com dois cativos homens e adultos, Jose,
26 anos, e Fortunato, 19 anos, e uma cativa adulta, Feliciana, de 22 anos. Esta tivera
uma filha enquanto mãe solteira, em 1816, Benedita. Na lista nominativa de 1825 Elias
de Mello surge como senhor de engenho, com uma escravaria ampliada de 4 para 12
indivíduos. Este crescimento da escravaria não se deu, porém, mesmo após 1825, pela
reprodução natural. Somente dois batismos de crianças foram registrados: Eva, em
1826, filha de José e Feliciana, que falece logo a seguir, em 1827; e Caetana, também
filha de Feliciana, mas com pai descrito como incógnito, batizada em 1831. De fato, a
ampliação da escravaria se deu pela entrada de oito adultos. Mais uma vez, não sabemos
se por compra ou herança, à exceção do gentio João, adulto batizado em 1823. Haviua
somente uma mulher dentre estes oito escravos incorporados, deixando transparecer que
este senhor não tinha interesse em escravas engravidando.
No atual estado da questão, resta bastante difícil entender a lógica econômica
diversa adotada por dois senhores de trajetórias muito semelhantes. Apostar na
reprodução natural era opção menos onerosa, porém de retorno em longo prazo e sujeita
às vicissitudes inevitáveis da elevada mortalidade. Na direção contrária, apostar na
compra de cativos exigia disponibilidade de recursos, ou então assumir dívidas
parceladas a juros de lei, a serem pagas com a renda da terra. Nenhuma das duas

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possibilidades tinha garantia de sucesso, e eram comuns os casos de compras de um
primeiro escravo que não perduravam. Talvez o cativo comprado desse o azar de falecer
muito prematuramente, ou então o pagamento de seu preço se tornasse inviável diante
da dura realidade dos domicílios de parcas posses.
Seja como for, a proposição deste breve ensaio era levantar as possibilidades de
análise das condições de posse de poucos escravos através das listas nominativas. Aqui
pudemos exercitar o acompanhamento longitudinal recorrendo a somente duas listas; o
objetivo futuro é poder contar com a série completa das listas nominativas de Itu, bem
como poder cruzar as trajetórias de vida assim recuperadas com os registros paroquiais
de batismo, casamento e óbito. Por esse caminho, imaginamos que, não sem um bocado
de esforço, teremos condições de intentar um melhor aprofundamento no estudo dessas
histórias tênues dos escravistas mais esquecidos pela historiografia.

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