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— Geralmente estou

nua em nossos
sonhos.
— Estamos
tentando não distrair o propósito deste
sonho — Zeph falou.
— Oh. — Limpei a garganta. —
Bem, todos vocês estão... — Acenei
com a mão para seus peitos nus e limpei
a garganta novamente. — Desculpem.
Qual é o propósito disso agora?
Kols riu.
— Acho que ela está bem, Zeph.
— Venha aqui, linda flor — meu
companheiro Guerreiro de Sangue
exigiu, estendendo o braço.
Normalmente, eu recuaria, mas eu
realmente queria obedecer desta vez.
Então me arrastei em direção à cama e
rastejei em cima dele para roubar um
abraço muito necessário. Embora eu não
conseguisse me lembrar do porquê
queria um. E tocá-lo fez meus olhos se
encherem de lágrimas.
Enterrei o rosto na curva de seu
pescoço, inalando seu cheiro familiar, e
estremeci contra ele.
— Não acho que ela esteja bem —
ele disse, fechando os braços ao meu
redor, em um abraço repleto de calor e
poder.
Segura, pensei. Eu me sinto segura
aqui.
Entre meus companheiros.
Mas não era real. Isso estava na
minha cabeça, e fez meu coração doer
com uma sensação de perda aguda.
— Não sei o que há de errado
comigo — admiti, engolindo em seco.
— Eu... eu... sinto... me sinto tão triste.
— Ele encantou a mente dela —
Shade murmurou em voz baixa. — Posso
ver as teias de sua magia enfiadas em
seus pensamentos.
— Ele? — repeti. — Ele quem?
— Zakkai — Zeph disse,
emoldurando meu rosto para fazer com
que eu olhasse para ele. — Ele te levou
a um paradigma.
Rainha dos Vampiros
Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
CONTENTS

Sinopse

Prólogo
1. Kols
2. Aflora
3. Zakkai
4. Kols
5. Aflora
6. Shade
7. Aflora
8. Zakkai
9. Zeph
10. Aflora
11. Zakkai
12. Aflora
13. Shade
14. Kols
15. Zeph
16. Aflora
17. Shade
18. Aflora
19. Zakkai
20. Aflora
21. Zeph
22. Zakkai
23. Kols
24. Aflora
25. Zakkai
26. Shade
27. Zakkai
28. Aflora
29. Zeph
Epílogo
Nota da autora
Rainha dos Vampiros: Livro Quatro
Sobre a autora
Mais Livros de Lexi C. Foss
Rainha dos Vampiros: Livro Três
Lexi C. Foss
Copyright de Midnight Fae Academy: Book
Three © Lexi C. Foss, 2020.
Texto revisado segundo o novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa.
Este livro é uma obra de ficção. Nomes,
personagens, lugares e incidentes são produtos
da imaginação do autor ou foram usados de
forma fictícia e não devem ser interpretados
como reais. Qualquer semelhança com
pessoas, vivas ou mortas, eventos reais,
localidades ou organizações é inteiramente
coincidência.
Todos os direitos reservados e protegidos pela
Lei 9610 de 19/02/1998. Exceto para o uso de
pequenos trechos em resenhas, é proibida a
reprodução ou utilização deste livro, no todo
ou em parte, de qualquer forma, sem a
permissão prévia por escrito do detentor dos
direitos autorais deste livro.
Tradução: Andreia Barboza
Copidesque da tradução: Luizyana Poletto
Designer de capa: Raquel Lyon, Crooked
Sixpence
Foto de capa por: CJC Photography
Modelo da capa: Jeffrey Violette
ISBN e-book: 978-1-68530-120-0
ISBN físico: 978-1-68530-121-7
Vingança.
Reforma.
Dois lados de uma revolução, ambos
disputando minha lealdade.
Não vou escolher nenhum deles.

Sou uma Fae Real da Terra ligada a


quatro Faes da Meia-Noite. Meus
poderes estão ficando mais fortes a cada
dia e estou cansada de ser um peão em
uma guerra que não entendo. Agora que
conheço todos os jogadores envolvidos
e os riscos em jogo, estou pronta para
ascender.

Chega de truques.
Sem mais mentiras.
Nem segredos mortais.

Meu nome é Aflora.


Sua a futura Rainha dos Faes da Meia-
Noite.
E parei de jogar seus jogos.

Bem-vindos ao novo reinado, rapazes.


Eu faço as regras aqui.
E não vou me curvar.

Nota da autora: Rainha dos Vampiros:


Livro Três é um romance paranormal
com Aflora e seus companheiros Faes
vampíricos. Este romance contém temas
sombrios, forte construção de mundo e
relacionamentos que se formam devagar,
aumentando a tensão aos poucos e
termina em um cliffhanger. O arco da
história de Aflora será concluído em
Rainha dos Vampiros: Livro Quatro.
EU NÃO SOU UM HOMEM MAU. CLARO ,
também não sou um homem bom. Faço o
que preciso para sobreviver, e isso
inclui fazer escolhas desagradáveis.
Como morder Aflora.
Eu só tinha dez anos na época. E
realmente não entendia por que meu pai
queria que eu acasalasse com ela, e
sempre presumi que iríamos cortar
nosso vínculo quando chegasse a hora.
Mas ela me chamou com sua música. E
depois, me puxou para um sonho.
Eu mal a reconheci. A mulher linda
diante de mim não fazia jus às minhas
memórias de infância da pequena Fae da
Terra. Mas seus olhos a entregaram.
Olhos azuis cerúleo brilhando com
minha magia.
Puta merda, era uma visão
impressionante.
Perdi o fôlego, incapaz de falar.
Quando percebi, sua língua falava em
nosso nome, seu corpo nu estava
pressionado no meu em um beijo sensual
que me recusei a negar.
Sim, eu deveria ter dito a verdade a
ela. Mas dei dicas. Até disse que não
era fruto de sua imaginação. No entanto,
ela escolheu entrar na fantasia, e quem
era eu para impedi-la?
Ela queria gozar, então eu a ajudei.
Várias vezes.
Não era o que eu pretendia ao me
reconectar com minha companheira
perdida há muito tempo, mas eu não
estava disposto a dizer não a uma
mulher nua e carente na minha cama. Os
outros companheiros não estavam
cuidando dela de forma adequada, então
lidei com o problema com a boca e as
mãos, nunca pedindo que ela retribuísse.
Mas deitado em minha cama, me
pergunto se deveria ter abordado isso de
forma diferente.
Houve várias oportunidades para
fazer tudo de outro jeito. Uma dessas
vezes aconteceu em uma cafeteria do
Reino Humano, onde encontrei uma Fae
Fortuna com muito a dizer.
Aflora esteve lá. Seu lindo cabelo
preto-azulado caía em ondas tentadoras
pelas costas enquanto esperava a
chegada de seu acompanhante.
Eu pretendia tomá-la.
Mas em vez disso, a mandei para
Shade.
Ele acha que não sei sobre seus
encontros com o tempo. Assim como
acha que vai mudar o destino brincando
com minha companheira.
Mas ele não consegue entender como
a vingança funciona.
Então vou ensiná-lo novamente.
Assim como vou ensinar a ela.
Suspiro, passando os dedos por seu
cabelo macio. Ela precisa de muito
treinamento para a luta que terá pela
frente e, em vez de prepará-la
adequadamente, passei todo o nosso
tempo juntos a mimando na cama.
— Vou corrigir isso em breve,
estrelinha — prometo, me inclinando
para beijar sua testa. Ela vai acordar em
breve. Quando o fizer, vamos conversar.
Não tenho nada a esconder.
Nenhum remorso.
Sem arrependimentos reais.
Tudo o que fiz foi para o bem da
espécie Fae da Meia-Noite. Ela vai
entender em breve, e então se juntará a
mim como rainha.
Meu pai não vai gostar. Ele quer que
o vínculo seja temporário, uma maneira
de protegê-la até que tenha idade e seja
capaz de ajudar nossa causa.
Mas não gosto da ideia de cortar
nosso destino.
Ela é minha.
Minha linda estrelinha.
Já fomos melhores amigos uma vez e
seremos novamente.
— Você vai ver — digo a ela
baixinho, passando os dedos pela base
do seu pescoço elegante. Ela está nua
novamente. Seu corpo é a imagem da
perfeição entre meus lençóis pretos. —
Mal posso esperar para você acordar,
estrelinha. Vamos nos divertir muito
juntos.
Mas por enquanto, vou te emprestar
um roupão.
Não sou bom, mas vou tentar ser por
ela.
Bem, até certo ponto.
Com outro suspiro, eu a deixo na
cama e vou para a varanda. Minha mente
está focada no futuro à frente e o que
esta guerra exigirá de nós.
Sacrifício, com certeza.
Sangue também.
Talvez até a morte.
Saberemos em breve. Assim que
minha estrelinha acordar. Então nossa
jornada juntos começará... de novo.
CAPÍTULO UM
KOLS

— O QUE VOCÊ QUER DIZER COM ELA


desapareceu? — meu pai exigiu,
olhando para Shade, que se demonstrava
audacioso.
Uma pergunta semelhante surgiu em
meus pensamentos enquanto eu me
sentava na junto à mesa do Conselho.
Para onde você a levou?, queria
perguntar. Mas, claro, eu não podia.
Tive que fingir indiferença e agir como
se nada disso me incomodasse.
Nem o episódio de Emelyn na aula
de Magia do Guerreiro.
Ou o fato de Aflora ter desaparecido
em algum paradigma com minha futura
ex-noiva.
Ou as consequências desse
paradigma ser derrubado por uma horda
de Guerreiros de Sangue, e Aflora
desaparecer com Shade ao seu lado.
Eu não podia alcançá-la, porque
ainda não estávamos vinculados nesse
nível.
Não podia falar com Zeph, porque
ele foi nocauteado pela magia.
E não podia fazer nenhuma pergunta
a Shade, porque o Conselho estava
reunido ali.
Foi preciso todo meu autocontrole
para não reagir.
— Comece desde o início — meu
pai ordenou em um tom que não tolerava
argumentos.
O olhar cor de gelo de Shade
encontrou o meu.
— Sua Alteza? — ele chamou. As
duas palavras estavam repletas do seu
desdém habitual. Eu não poderia dizer
se era fingimento ou se o tom era
proposital. Os eventos desta noite foram
culpa minha, algo que expliquei em voz
alta enquanto contava ao Conselho.
Eu disse a eles como Emelyn me
atacou com WarFire e que sua ira era em
decorrência do Baile de Gala de
Sangue. O que foi extremamente
exagerado. Sim, eu pretendia falar com
meu pai sobre nossa presença semanas
atrás, mas estive um pouco ocupado.
Claro, Emelyn não sabia disso.
Porque se ela soubesse, teríamos um
problema muito maior em nossas mãos,
já que eu estava noivo dela, mas tinha
acasalado com Aflora.
Limpei a garganta e continuei com as
consequências da briga, como Emelyn e
Aflora foram sugadas para algum
paradigma. Localizamos o coração dele
na Floresta Mortal, que foi quando os
Guerreiros de Sangue apareceram,
porque estavam caçando um fio similar
de magia. E então o inferno começou,
terminando com o desaparecimento de
Aflora.
Porque Shade a envolveu em
sombras e eles desapareceram,
adicionei na minha cabeça. E ele não
me contou o que aconteceu depois
disso porque ele é Shade e não acredita
em comunicação positiva. Um problema
que eu iria corrigir assim que essa
reunião terminasse.
— E como ela desapareceu? — meu
pai questionou, seu foco mudando entre
mim e Shade.
Arqueei uma sobrancelha para o
Sangue de Morte. Ele é quem deveria
explicar esta parte, porque eu não tinha
ideia do que ele fez.
— Não olhe para mim — o cretino
argumentou. — Ela também desapareceu
diante dos meus olhos.
Ah, tá, quase respondi, mas engoli o
comentário. Se ele não queria que o
Conselho soubesse que ele a levou para
algum lugar, então eu manteria o
segredo.
— Onde ela está agora? — Tadmir
perguntou, arqueando a sobrancelha
branca. — Você não pode senti-la com o
vínculo?
— Ela me excluiu — Shade
respondeu. Seu tom descontraído
assumiu uma pontada mais dura, que
sugeria seu aborrecimento. No que diz
respeito às habilidades de atuação, os
Sangue de Morte eram de alto nível. —
Não posso senti-la de jeito nenhum.
— Como foi que ela conseguiu te
bloquear? — Aswad questionou. O Rei
Sangue de Morte não era conhecido por
sua paciência, nem por ser gentil com 2
filho. Eu nunca me importei muito antes,
mas ver o jeito que ele falava com
Shade agora me fez arrepiar por razões
inexplicáveis.
Bem, talvez não totalmente
inexplicável.
Estávamos ligados através de
Aflora, tornando-o parte integrante do
nosso vinculo quádruplo.
Então acredito que ficar na
defensiva em seu nome vinha com nosso
novo relacionamento, mas eu não podia
deixar o Conselho sentir isso. Shade e
eu nos odiávamos – uma consequência
de nossos direitos de nascença.
— Quando eu encontrá-la, vou
perguntar. — Shade deu a resposta por
entre os dentes, então voltou a se
encostar na parede com sua atitude
despreocupada.
Invejei sua capacidade de parecer
tão imperturbável.
Porque, por dentro, eu estava
morrendo. Eu podia sentir que algo
estava errado, mas era impotente para
investigar a fonte daquele desconforto.
Tudo o que eu queria fazer era dizer a
este Conselho – o mesmo que escondeu
a verdade sobre os Quandary de Sangue
de mim por quase vinte e cinco anos –
para ir para o inferno. Mas em vez
disso, permaneci equilibrado e calmo,
esperando que eles dessem um
veredicto.
O que já estava levando duas horas.
No final da discussão, eu queria
matar todo mundo.
Eles desconsideraram o
comportamento de Emelyn e se
concentraram inteiramente em Aflora.
— A Fae Real da Terra foi
cúmplice.
— Concordo. Precisamos encontrá-
la. Ela é a chave para derrubar a
resistência.
— Podemos usar magia para
reforçar a conexão de Shadow com ela.
Suas palavras se misturaram depois
de um tempo, mas o plano final era usar
Shade para rastreá-la através do vínculo
e relatar assim que ele sentisse a
localização de Aflora. Então os
Guerreiros de Sangue a levariam sob
custódia e a matariam por fugir, ou a
usariam como isca mais uma vez e a
matariam mais tarde.
Independentemente disso, o plano
era destruí-la.
Minha companheira.
Minha linda e doce Aflora, que nada
fez para merecer essa insensibilidade.
Ela foi preparada para falhar desde o
início por este mesmo Conselho que
ordenou que Shade a mordesse. Tudo
porque queriam usá-la como isca.
E agora que ela foi levada, eles
foram rápidos em assumir que ela estava
ajudando os Quandary de Sangue em sua
busca por vingança. O Conselho alegou
que havia apenas um caminho que fazia
sentido: procurá-la e destrui-la.
Tentei argumentar que isso causaria
conflitos políticos com os Faes
Elementais. Também apontei que ela não
tinha mostrado um único indício de
apoiar os Quandary de Sangue e que
talvez ela tivesse sido sequestrada ou
levada contra sua vontade.
O Conselho e o círculo de Anciões
Faes da Meia-Noite me ignoraram.
Então meu avô – que havia tomado o
lugar de Lima na reunião – afirmou que
os Faes Elementais não seriam
problema. Seu comentário me lembrou
de que este foi o Conselho que matou os
pais de Aflora e manteve segredo por
quinze anos. Eles não se importavam
com a política Fae. Antes, tudo era
encenação com a intenção de colocar
Aflora no centro de uma armadilha.
Meu sangue ferveu e as linhas de
tinta em meus braços se contorceram
com descontentamento.
Este era o meu futuro – o conselho
que nasci para liderar.
E percebi, ao caminhar para fora da
sala, que odiava cada um deles,
incluindo meu pai, que me chamou
quando estava na porta.
Quase não escutei.
Mas uma cutucada de Shade me fez
virar para enfrentar Malik Nacht, o Rei
Elite de Sangue. Meu pai. O homem
encarregado do Conselho Fae da Meia-
Noite. O homem que eu idolatrei a vida
toda. Passei anos tentando ganhar sua
confiança e deixá-lo orgulhoso.
E para quê?
Para liderar um conselho de
assassinos.
A clareza repentina nublou meus
pensamentos, deixando meu humor
sombrio e fazendo a fonte girar dentro
de mim, antecipando minha crescente
necessidade de retaliação.
Meu pai franziu a testa como se
pudesse sentir.
— Você está bem?
Não, estou péssimo, pensei.
— Estou bem — respondi. —
Apenas irritado com a situação.
Meu pai bufou.
— Todos estamos.
— Você deveria estar mesmo — meu
avô disse, o tom duro de acusação
deixando sua voz sombria. — A Aflora
é o seu teste probatório de ascensão,
certo?
— Sim — concordei, fechando os
dedos na lateral do corpo quando ele
veio para ficar ao lado do meu pai. Os
dois eram parecidos, as feições eternas
iguais às minhas.
Cabelos ruivos.
Íris douradas.
Estrutura óssea real.
Nós parecíamos irmãos, exceto que
meu avô tinha um brilho antigo nos olhos
que parecia parcialmente formado no de
meu pai e que estava ausente no meu.
— Constantine — meu pai falou,
sempre se referindo ao meu avô pelo
nome em situações formais.
Considerando que esta era apenas a
quarta vez que o encontrava, eu
provavelmente deveria adotar o mesmo
hábito.
Este homem não era tanto da família
quanto era um legado.
Eu nem sabia onde ele morava.
Todos os Anciões desapareciam em seus
próprios quadrantes dos reinos, alguns
escolhendo conviver mais com humanos
do que com sua própria espécie.
Outros caíam em sono profundo por
incontáveis ​anos ou séculos.
A imortalidade vinha com vantagens
e consequências.
— Acredito que precisamos ter mais
uma conversa sobre o que acontece
quando uma ascensão falha —
Constantine continuou, erguendo a
sobrancelha e me desafiando a
argumentar.
— Ainda não falhei — respondi,
combinando seu tom altivo com o meu.
— Não tenho tempo a perder com uma
discussão hipotética. Tenho uma Fae da
Terra para encontrar. Então, se vocês me
derem licença.
Não esperei que eles respondessem.
Também ignorei meu pai quando ele
tentou me impedir.
E fui direto para um portal com
Shade ao meu lado.
Ele digitou o destino: Academia Fae
da Meia-Noite.
Segundos depois, os portões se
revelaram para nós e Shade me encarou.
— Zakkai está com a Aflora — ele
disse antes que eu pudesse questioná-lo
sobre sua localização. O tempo todo
assumi que ele a havia escondido em
uma de suas sombras infames.
— Quem é Zakkai? — perguntei.
— O companheiro Quandary de
Sangue dela.
CAPÍTULO DOIS
AFLORA

ESTOU NUA .
Normalmente, esse pensamento não
me incomodaria. Faes da Terra
frequentemente perambulavam sem
roupas.
Mas os lençóis macios que
acariciavam minha pele não me
pertenciam. Nem o aroma sutil do
oceano fazendo cócegas no meu nariz.
Zakkai.
Reconheci sua essência ao meu
redor, pude sentir seus poderes
Quandary arrepiando os pelos dos meus
braços em uma tentativa de seduzir
minha magia a sair para brincar, e pude
sentir sua familiaridade na minha língua.
Por um mês, pensei que ele era uma
invenção da minha imaginação. No
entanto, ele me deixou pistas do
contrário – pistas que escolhi ignorar.
Eu não estava ignorando agora.
— Sei que você está acordada,
estrelinha. — Sua voz calorosa veio até
mim em uma brisa, seguida por outro
aroma tentador de lar. Minha mãe
decorava nossa casa com fragrâncias do
Reino da Água. Era uma indulgência
secreta dela, que ela dizia combinar
muito bem com nossos perfumes
terrosos.
De alguma forma, Zakkai tinha
engarrafado aquela fragrância e a usava
em volta de si como uma espécie de
manto sensual. Ou talvez fosse apenas
seu cheiro natural.
— Aflora — ele murmurou. A
provocação em seu tom era
inconfundível. — Preciso me juntar a
você debaixo desses lençóis e acordá-la
com a minha língua? Porque ficarei feliz
em atender, assim como fiz em todos os
nossos sonhos.
Argh. Minhas bochechas queimaram
com as memórias – aquelas em que me
deixei levar completamente porque
achei que ele não era real. As coisas que
eu o fiz fazer comigo...
Estremeci.
Ele riu como se tivesse ouvido esse
pensamento. E talvez ele tivesse já que
alegava ser meu companheiro.
O calor de seu corpo me atingiu
quando ele se sentou ao meu lado na
cama – não perto o suficiente para me
tocar, mas o suficiente para sentir.
Sua familiaridade me enervava,
assim como a sensação de seus lençóis
sedosos se movendo por minhas pernas
enquanto eu me afastava dele. Ele não
tentou me impedir, apenas se acomodou
na cabeceira da cama e cruzou as pernas
compridas sobre os tornozelos.
Observei seus pés por um momento
antes de passar meu olhar pela calça do
pijama para o abdômen.
Porque é claro que ele escolheu
ficar sem camisa.
Assim como ficou em todos os meus
sonhos.
A perfeição esculpida de seu corpo
não deixou nenhum mistério sobre
porque eu achei que o tinha criado. Ele
era divino demais para ser real, com
aqueles longos fios de cabelo branco e
olhos azul-prateados.
— Continue me olhando assim e vou
entender como um convite, Aflora.
Argh, sua voz era tão aveludada
quanto o resto dele.
O homem emanava sexo.
E o sorriso curvando seus lábios
dizia que ele sabia disso também.
— Não é um convite — murmurei,
me enrolando mais nos lençóis de seda.
Um par de covinhas apareceu em
suas bochechas impecáveis.
Sim, ele tinha um sorriso matador
também. Porque não?
Talvez ele fosse um Incubus do reino
Fae do Inferno. Mas não, peguei o
lampejo de magia cerúleo espreitando
profundamente em seu olhar insondável.
Ele pegou minha varinha, me
lembrei, franzindo a testa. Não, ele disse
que era a dele.
Meu coração se apertou com a
memória e a indiferença de Shade
enquanto ele me entregava como se eu
não significasse nada para ele.
Por quê? sussurrei para ele. Por que
você fez isso?
Ele não respondeu. Não que eu
esperasse alguma resposta. Eu podia
sentir o bloqueio em nosso vínculo –
algo que ele havia colocado lá antes de
me entregar a Zakkai.
Zeph? tentei o outro vínculo em
minha mente, aquele conectado ao meu
companheiro Guerreiro de Sangue. As
extremidades do nosso vínculo pareciam
desgastadas, seu silêncio era
ensurdecedor.
Shade criou algum tipo de bloqueio
mental para me isolar deles.
Ele me avisou que eu o odiaria.
E tinha razão.
Confiei nele, o amei, acasalei com
ele, e ele me pagou me entregando ao
inimigo.
Deve haver uma razão, pensei. Ele
cuida de mim. Sei que ele se importa
comigo. Pude sentir em nosso vínculo,
testemunhei em seus pensamentos.
Talvez Zakkai o tivesse coagido... Mas
por que Shade bloquearia meus vínculos
de acasalamento?
Meu maxilar tensionou enquanto eu
considerava as infinitas possibilidades
de suas intenções. Então me concentrei
no homem ao meu lado – aquele que
deveria ter todas as respostas que eu
precisava.
— Por que estou aqui? — perguntei,
me sentando com o lençol agarrado ao
meu peito. — Por que você não me disse
quem era? E como você é meu
companheiro? Você nunca me mordeu
nos sonhos. — Acho que um Fae da
Meia-Noite não poderia reivindicar uma
companheira dessa maneira.
Se pudessem, seria perigoso.
Fae, a quem eu estava enganando?
Os Fae da Meia-Noite eram o perigo
personificado.
O macho ao meu lado emanava
letalidade enquanto fios de poder
giravam em torno dele. Eu podia sentir o
gosto de sua essência no ar e no fundo
da minha alma. Ele incorporava a fonte
de maneira semelhante a Kols.
Mentalmente, acariciei meus fios de
magia sombria, curiosa e cautelosa.
Seus lábios se curvaram em resposta
e sua energia se intensificou como se
quisesse dar as boas-vindas ao meu
estímulo.
— É fascinante, não é? — Sua voz
baixa me envolveu como uma carícia. —
Nossos dons cresceram mais ou menos
juntos ao longo dos anos, criando uma
conexão eterna. Acho que, mesmo que
eu quebrasse nosso vínculo agora, você
ainda manteria minhas habilidades
Quandary.
— Anos? — repeti.
— Hum-humm — ele murmurou,
respondendo de forma evasiva. Assim
como todo o resto.
— Por que estou aqui? — repeti.
— Por que você acha que está aqui?
— ele rebateu.
Meu aperto ao redor do lençol
aumentou.
— Somos companheiros.
— Sim — ele concordou.
— Como?
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Certamente você está
familiarizada com o funcionamento do
processo de acasalamento, não é? Quero
dizer, você recentemente acasalou com
um Guerreiro de Sangue, certo? E o
Shade?
— Você é sempre tão insuportável?
— Respondendo a cada pergunta com
outra. Varinha de Duende, nunca
chegaremos a lugar algum nesse ritmo!
— Acho que gostava mais de você
quando achava que era uma invenção.
— É porque você gostou da minha
língua entre suas pernas, Aflora. — Ele
inclinou a cabeça. — Um orgasmo te
acalmaria?
Um grunhido escapou dos meus
lábios.
— Onde estão as minhas roupas? —
Porque eu não podia continuar tendo
essa conversa nua em sua cama.
Ele acenou para um roupão de seda
enrolado nos lençóis.
— Você pode usar isso.
— Não, quero minhas roupas. —
Não conseguia me lembrar se as tinha
usado aqui ou se as tinha perdido na
Floresta Mortal. Eu realmente esperava
que fosse o último, porque o primeiro
implicaria que ele tinha me despido. E
eu realmente não queria pensar nisso
agora.
Claro, ele era um Fae divino.
E aparentemente meu companheiro.
Mas isso não significava que eu
queria ficar nua com ele.
Mesmo que ele tivesse uma língua
maliciosa e mãos habilidosas.
Limpei a garganta.
— Roupas.
— Não — ele respondeu. — Você
tem sorte por eu ter te dado um roupão,
Aflora. Não pressione.
— O quê? — Arqueei as
sobrancelhas. — Me deixe ver se
entendi. Você me estuprou em sonhos,
então...
— Te estuprei em sonhos? — ele
repetiu, sua expressão rivalizando com a
minha enquanto ele soltava uma risada
incrédula. — Você me pediu, querida.
Não o contrário. Vim até você para
conversar, mas você me mandou não
dizer nada e te comer com a minha boca.
Como seu companheiro, obedeci. Eu
dificilmente chamaria isso de estupro.
— Achei que você fosse fruto da
minha imaginação!
— E eu te disse mais de uma vez
para considerar que eu era real — ele
respondeu. — Podemos discutir sobre
isso o dia todo, ou você pode aceitar o
que aconteceu e podemos passar para a
fase de reconciliação. A escolha é sua.
— Como posso aceitar qualquer
coisa quando você nem me diz por que
estou aqui? — Não consegui segurar
meu tom estridente, minha paciência já
havia acabado há muito tempo. — Como
você pode ser real? Como você é meu
companheiro? Pare de falar em enigmas
e me dê algo útil!
— Que tal você parar de fazer
perguntas ridículas e olhar dentro de sua
mente para as respostas que já existem?
— ele sugeriu de forma categórica.
Minha mente? Ele queria que eu
entrasse na minha mente em busca de
respostas? Sim, tudo bem. Eu faria isso.
As brasas cerúleo queimaram dentro
de mim e minha magia vibrou em
antecipação. Passei os últimos meses
tentando diminuir o poder, contê-lo e
controlá-lo, mas o chamei agora.
Venha brincar, pedi, fechando os
olhos enquanto os fios giravam dentro
dos meus pensamentos, piscando com
eletricidade e chiando ao nosso redor.
Zakkai disse alguma coisa.
Eu o ignorei.
Ele me disse para entrar em minha
mente. Então eu faria isso. E agora ele
experimentaria as consequências dessa
sugestão.
Talvez eu pudesse nocauteá-lo e
correr.
Eu não tinha ideia de onde estava,
mas certamente havia um portal por
perto. Ou talvez eu pudesse descobrir
como me transportar de novo, ou o que
quer que eu tenha feito com Emelyn.
Mesmo que Shade tivesse me
bloqueado, eu ainda podia sentir sua
essência aquecendo meu sangue. Zeph
também estava lá. Até Kols.
E... Zakkai.
Sua presença era a mais forte, talvez
porque ele estivesse ao meu lado. Mas
eu suspeitava que fosse mais profundo
do que isso. Nosso vínculo era antigo.
Eu podia sentir as raízes dele na
juventude, sua magia de alguma forma
casada com minha conexão com a Fonte
da Terra.
Ele falou novamente.
E continuei a ignorá-lo, muito
ocupada seguindo as raízes, procurando
o começo e uma maneira de destruí-lo.
Não, não destruir.
Ferir.
Os Faes da Terra não eram
violentos. Nós criávamos a vida.
Sua espécie matava.
Era por isso que eu nunca seria uma
verdadeira Fae da Meia-Noite, não
importava com quem eu acasalasse ou
quais poderes vagassem por mim. Meu
espírito era todo Fae Elemental. Sua
Fonte dentro de mim era estranha e
errada, tinha me transformado em uma
abominação contra a minha vontade, e
eu ainda não sabia como isso aconteceu.
Porque ele não me contou.
Grunhi novamente, sentindo minha
raiva aumentar a cada segundo que
passava.
Este homem entrou na minha cabeça
sem minha permissão.
Ele tinha acasalado comigo em
algum momento.
Agora ele se recusava a explicar,
preferindo me sequestrar, me despir e
me dar só um roupão para vestir.
E queria que eu entrasse em minha
mente para procurar respostas.
Encontrei a Fonte da minha magia e
a enrolei em um ponto focal todo
voltado para ele. Zakkai não queria
explicar, e eu estava sem paciência para
este jogo.
Abri os olhos para encontrá-lo ainda
sentado ao meu lado, com a expressão
repleta de diversão.
Eu odiava aquele sorriso e aquelas
covinhas. Detestava a ruga nas laterais
de seus olhos azul-prateados.
Desprezava sua presença e a risada que
sacudia seu peito.
Ele achava isso engraçado?
Então eu daria algo para ele
realmente rir.
Chamas saíram dos meus dedos e
foram diretamente para seu peito
esculpido.
Só que, ao invés de queimá-lo,
foram absorvidas por ele e seu sorriso
se transformou de divertido para algo
completamente diferente. Caloroso. Suas
íris ardiam com o poder que eu tinha
acabado de liberar. E então ele abriu a
mão.
Tentei me esquivar, mas ele foi
rápido demais, a esfera espiralada de
eletricidade cravou em meu peito e me
prendeu em uma teia de poder intenso.
Meus pulmões se apertaram, meu
coração parou e uma lufada de ar
escapou dos meus lábios.
— Descubra como se desembaraçar,
Aflora — ele respondeu, e a cama se
moveu enquanto ele se afastava dos
lençóis e ficava de pé. — Quando
terminar, venha me encontrar e vamos
conversar.
Uma risada sem humor ameaçou
escapar do meu peito. Fale, repeti em
minha mente. Tudo o que você faz é me
dar enigmas!
Tente resolvê-los, estrelinha, ele
respondeu. Sua voz era como chocolate
líquido em minha mente. Comece com os
cordões em volta do peito antes de
sufocar até a morte.
Zakkai!
Nada.
Apenas o toque de uma brisa do
oceano em meus sentidos e o estalo
suave de uma porta se fechando.
Ele me deixou para desembaraçar
sua rede mágica sem uma varinha ou
qualquer instrução.
E eu já estava vendo manchas
devido à falta de ar em meus pulmões.
Zakkai!
Se concentre nos fios, Aflora. Me
encontre quando terminar.
Vou te encontrar e te matar, jurei.
Mal posso esperar para ver você
tentar.
CAPÍTULO TRÊS
ZAKKAI

AFLORA PERDEU A CONSCIÊNCIA QUANDO


tranquei a porta do quarto. Seus
pensamentos finais envolviam as
maneiras que ela pretendia me fazer
sofrer. Curvei os lábios em antecipação.
Como Fae da Terra, ela era toda
sobre vida, amor e paz.
Mas meu Quandary de Sangue deu a
ela uma vantagem letal que eu pretendia
explorar.
Em um momento, ela prometia nunca
matar uma coisa viva. E no instante
seguinte, ela jurava vingança e
devastação. Ou seja, minha morte. Mas
eu transformaria essa linha de
pensamento em algo mais útil.
Era tudo parte de seu treinamento.
Assim como a teia que coloquei ao
redor dela.
Ela descobriria como desembaraçá-
la, e eu estaria esperando por ela
quando o fizesse. Sua essência de vida
estava ligada à minha, puxando minha
energia para reanimá-la. Permiti,
sabendo que ela precisaria de ar para
começar o processo.
Seu rugido na minha cabeça ampliou
meu sorriso.
Me recusei a responder, ouvindo
enquanto ela se perguntava o que
precisava fazer. Sua mente me fascinava,
seus pensamentos complicados eram
muito semelhantes aos meus. Ela não
tinha ideia de como éramos parecidos,
só que eu aceitei meu destino, enquanto
ela ainda estava tentando encontrar o
seu.
O caminho se revelaria muito em
breve.
Ela finalmente se acalmou e sua
afinidade com a resolução de problemas
veio à tona quando ela começou a
desfazer habilmente a magia que
coloquei em torno dela.
Tão linda e astuta. Todas as minhas
intenções anteriores vacilaram,
incluindo os passos que dei em direção
às salas principais.
Meu pai queria uma atualização.
Mas tudo o que eu queria era voltar
para o quarto, encostar na parede e ver a
mulher deslumbrante brincar com a
magia em meus lençóis.
Infelizmente, eu tinha que aparecer
antes que ele se aventurasse em meus
aposentos para me procurar.
Estalei os dedos e pronunciei um
feitiço, acenando para minha varinha.
Ela me ignorou. A porcaria tinha
vontade própria e parecia preferir
Aflora no momento. Certo. Ela poderia
continuar a usar minha varinha
emprestada enquanto treinava. Ela
precisava mais do que eu.
Com um encantamento murmurado,
troquei meu traje por algo mais
adequado para um encontro com os
outros. Era uma abordagem preguiçosa,
mas também necessária, porque se eu
tivesse permanecido naquele quarto por
mais um momento, teria perdido toda a
vontade de sair.
Aflora era um espetáculo para ser
visto de tantas maneiras que iam além de
seu apelo físico. Ela era admiravelmente
talentosa nas artes das trevas, talvez
porque estivesse ligada a mim por
quinze anos.
Falei sério mais cedo. Era fascinante
ver como minha essência se uniu à dela.
Ela quase parecia uma Quandary de
Sangue. Exceto que eu podia provar sua
magia da Terra também. Assim como
sentia seu elemento vagando por minhas
veias, me beijando com um sopro de sua
vitalidade e bondade.
A conexão sempre esteve lá, mesmo
durante a nossa separação. Embora, os
encantamentos de meu pai o tivessem
entorpecido severamente. Então ela
quebrou esse encantamento com sua
música e quase me derrubou.
Imediatamente levantei minhas
paredes, protegendo nós dois, mas isso
não me impediu de brincar em seus
sonhos.
— Kai — meu pai chamou quando
entrou no corredor, semicerrando os
olhos para mim. — Há algum problema?
— Não. Só estou observando a luta
da Aflora contra minhas amarras —
respondi, fazendo o meu melhor para
manter o tom tedioso e sem emoção.
— Amarras? — ele repetiu. — Você
deveria falar com ela e trazê-la aqui
para conhecer os outros. Não era uma
tarefa difícil.
Quase bufei. Ele se lembrava da
florzinha impressionável da minha
juventude e não fazia ideia de como
Aflora se tornou formidável.
— Ela precisava de um enigma para
se preparar. Assim que ela resolver, vou
apresentá-la aos outros.
A mandíbula do meu pai tensionou.
— Não foi isso que discutimos.
— Tenho tudo sob controle. — Meu
tom era como aço, o lembrando da
minha posição entre a resistência. Ele
podia ser meu pai, mas eu era o
Arquiteto da Fonte.
Ele me observou por um longo
momento, seus olhos azul-prateados – o
mesmo tom dos meus – brilhando com
poder. Mas não eram iguais. Eu havia
ascendido há pouco mais de um mês,
assumindo seu papel como o Rei
Quandary de Sangue. Ele não tinha
chance contra mim, mesmo com sua
idade e experiência.
— Como ela está? — ele perguntou,
uma nota de preocupação em sua voz. —
Você falou sobre os pais dela?
— Não. Ela tentou me matar com
uma mistura muito interessante de
WarFire — respondi. — Mas vou tentar
esse tópico durante nossa próxima
conversa.
— WarFire? — ele repetiu,
erguendo as sobrancelhas loiras
acinzentadas. — Ela não percebe que
você é o companheiro dela?
— Ah, ela sabe. Acho que é a
versão dela de preliminares. — Uma
mentira completa. Eu a provoquei para
brincar comigo. E não me decepcionei.
— Estamos trabalhando nisso.
Quis dizer que ela estava
trabalhando na minha teia, o que lhe
daria todas as respostas que ela tanto
desejava.
— Ela está segura, pai —
acrescentei enquanto a preocupação em
suas feições crescia. — É isso que
importa.
Ele ficou em silêncio por um
momento, então assentiu.
— A dívida com os pais dela está
oficialmente paga.
— Não tenho certeza se eles
concordariam com isso — respondi. —
Você deixou o Conselho usá-la como
isca. — Era um assunto delicado entre
nós. Eu queria levá-la ao café há meses,
mas ele me convenceu a deixar Shade
mordê-la.
— Precisávamos que Constantine
saísse do esconderijo — ele disse,
repetindo a declaração que havia usado
várias vezes nos últimos meses.
— E você queria colocar uma
coleira no Shade — acrescentei. — Sim,
eu sei. Só estou dizendo que não acho
que os pais dela gostariam que ela fosse
usada como peão.
— O Conselho iria usá-la,
aprovássemos ou não. Isso apenas nos
permitiu fazer uso da situação. — Ele
deu de ombros. — Os pais dela
entenderiam. Eles a inscreveram para
este destino quando concordaram com o
acasalamento temporário.
— Quinze anos não é temporário —
eu disse, não gostando do termo.
Ele me deu um tapinha no ombro.
— Vai parecer temporário quando
você chegar à minha idade, Kai. Você
vai ver.
Forcei um sorriso.
— Certo. — Ele ainda acreditava
que eu pretendia desfazer os vínculos do
companheiro. Sempre foi meu plano
fazer isso. Mesmo quando a vi no café,
ainda pretendia quebrar nossa conexão.
Mas então ela desfez o encantamento
com a música aprendeu há anos.
E me juntei a ela em um sonho.
No momento em que nossos olhos se
encontraram, senti como se estivesse
olhando para minha alma e encontrando
minha outra metade. Minha melhor
amiga de infância se tornou uma mulher
linda com necessidades sexuais que eu
não podia deixar de satisfazer.
Vê-la dessa maneira parecia minha
primeira vez, o que era insano. Eu
transei com mulheres, a maioria delas
humanas e durante a alimentação. O
encantamento sobre nosso vínculo a
silenciou para uma dor surda, algo que
nunca pretendi manter.
Então ela quebrou tudo com um
gemido gutural e uma voz que acenava
para o sexo.
Eu não fui capaz de olhar para outra
mulher desde então, e tudo isso foram
apenas preliminares em nossos sonhos.
Era uma loucura total que eu não sabia
como consertar.
Bem, tive algumas ideias. A maioria
delas envolvia algumas noites entre os
lençóis. Mas meus instintos me diziam
que isso nunca seria suficiente. Havia
algo inebriante em Aflora. Nossa
história só aumentava a sensação, me
deixando totalmente em conflito sobre o
futuro entre nós.
O que ela vai pensar quando souber
a verdade?, me perguntei, verificando
seu progresso através de nossos
vínculos.
Ela ainda estava desmontando as
cordas encantadas em seu torso. Logo,
ela alcançaria as que estavam em sua
mente, e era aí que a verdadeira
diversão começaria.
Meu coração acelerou e senti a
antecipação correr por minhas veias.
— Vamos interrogar os outros —
meu pai falou, interrompendo minhas
reflexões internas. — Então Dakota
pode nos dizer o que a Zen falou na
clareira.
Zen. Cerrei os dentes com o nome. A
mulher irritante não parava de se
intrometer em meus planos, sua aptidão
para adivinhar o futuro era um
aborrecimento que eu queria acabar.
Foi por isso que colocamos Shade
na coleira. Ele era seu neto, amarrando-
os assim pelo sangue. O que significava
que Aflora agora tinha acesso a toda
aquela linha de poder,
consequentemente, me permitindo jogar
também.
Eu ainda não tinha explorado os
vínculos. Mas pretendia, assim que
Aflora se tornasse uma participante
voluntária. Caso contrário, eu corria o
risco de machucá-la no processo. E eu
só seguiria esse caminho se ela não me
deixasse escolha.
Até então, eu a seduziria do meu
jeito: com quebra-cabeças de magia.
Ela não iria admitir, mas a teia com
que lutava agora a intrigava. Eu podia
sentir a excitação vibrando dentro dela
enquanto desenrolava outro fio.
Minha estrelinha adorava um bom
desafio. E ela havia acabado de
conhecer o maior: eu.
CAPÍTULO UATRO
KOLS

— O QUE FOI QUE ACONTECEU? — MEU


gêmeo exigiu quando entrei em nossa
suíte. — Onde está a Aflora? — Tray
acrescentou enquanto observava que eu
estava sozinho.
— Essa é uma ótima pergunta —
rebati.
Shade tinha desaparecido depois de
lançar a bomba sobre o companheiro
Quandary de Sangue de Aflora.
Sem comentários ou explicação.
Apenas puf! Se foi.
Idiota, grunhi na minha cabeça,
furioso com o Sangue de Morte. Eu
pretendia dar um soco em seu rosto na
próxima vez que o visse. Ou talvez
matá-lo. Porque que não?
Arranquei a capa do meu pescoço e
joguei sobre o sofá.
— Onde está o Zeph? — Ele já
devia estar acordado. Caramba, ele nem
deveria ter desmaiado para começar.
Eu deveria saber que Shade estava
tramando algo.
Ele desapareceu com Aflora, e Zeph
desmaiou um segundo depois, me
distraindo de tentar segui-lo. Não que eu
pudesse. Sua propensão para as sombras
era uma magia que poucos de nossa
espécie poderiam replicar, incluindo
aqueles como eu, que estavam ligados
diretamente à Fonte.
— Nós o colocamos na cama —
Tray respondeu, me seguindo enquanto
eu me dirigia para o meu quarto. — Fale
comigo, Kols.
Olhei por cima do ombro para
encontrar Ella atrás de nós em silêncio e
balancei a cabeça. Eu já tinha trazido
meu irmão para isso por acidente. Não
iria arriscar a vida dela também.
— Ela já sabe tudo, Kols. — Tray
cruzou os braços. — E já fiz magia na
suíte para cancelar qualquer dispositivo
de escuta. Pode começar a falar.
— Devemos acordar o Zeph
primeiro — uma voz seca disse
segundos antes de Shade aparecer no
corredor.
— Você. — Pulei em sua direção,
mas bati na parede enquanto ele
desaparecia nas sombras atrás de mim.
— Se acalme — ele falou
lentamente, parecendo entediado.
— Me acalmar? — repeti, girando
em direção a ele. — Você está
brincando comigo? Você joga uma
bomba sobre um companheiro Quandary
de Sangue, desaparece e espera que eu
fique calmo? — Eu queria matá-lo. O
poder chamuscou em meus dedos
enquanto eu considerava minhas opções.
Primeiro, eu precisava que ele
parasse de sumir.
Então eu poderia forçá-lo a
responder.
Porque todo esse jogo de detalhes
fragmentados? Sim, nós não iríamos
mais jogar isso.
Shade ergueu as sobrancelhas meio
segundo antes de eu liberar um raio de
poder diretamente em seu esterno,
desabilitando sua capacidade de se
mover, pensar ou respirar.
Mas aquele pequeno movimento de
sobrancelha me disse que ele esperava.
O que acrescentou ainda mais à minha
teoria sobre suas habilidades de
adivinhação. Mais um item que eu
queria...
Um choque irradiou através do meu
sangue, me deixando de joelhos quando
Shade retaliou muito mais rápido do que
deveria ter sido capaz de reagir. Puta
merda!
Puxei a Fonte, preparando outro
ataque enquanto ele desaparecia atrás de
mim novamente.
Ele não deveria conseguir fazer isso.
Ele deveria ter sido nocauteado,
caindo de bunda no chão, por pelo
menos outro...
— Certo. Faremos do seu jeito —
ele disse no meu ouvido. Então afundou
seus dentes no meu pescoço, me fazendo
soltar um xingamento.
Eu não conseguia me mover,
enredado por qualquer feitiço que ele
havia tecido ao meu redor.
Sir Kristoff entrou na suíte, com
energia queimando enquanto engajava a
magia antiga que só sua espécie poderia
usar. Shade caiu no chão ao meu lado,
gemendo com qualquer tormento que
minha gárgula tinha acabado de
desencadear nele. Então Tray prendeu o
Sangue de Morte sob uma rede de poder
que Ella aumentou com outro feitiço.
Eu me enrolei, os efeitos duradouros
do ataque de Shade foram murchando
lentamente e morrendo sob um choque
de realidade.
Ele me mordeu.
O cretino nos vinculou!
Entreabri os lábios quando uma
série de declarações furiosas se
alinharam em minha língua, apenas para
um Paradoxo Fae aparecer com uma
espada roxa brilhante.
— De novo? — ele perguntou, seu
tom entediado.
— N-não, — Shade ofegou, seu
corpo estremecendo ao lado do meu.
Semicerrei os olhos.
— Quem é que....
— Vocês!— Sir Kristoff
desencadeou outra onda de energia
sombria de gárgula que o Paradoxo Fae
bloqueou com sua espada.
— Pare — o Paradoxo Fae disse
com um bocejo enquanto se inclinava
contra a parede. — Sério, isso está
ficando chato pra caramba.
Shade tossiu uma risada, então fez
uma careta sob o poder que o segurava.
Toquei meu pescoço, me
perguntando se eu tinha sonhado com
todo esse pesadelo. Mas, não. Eu estava
sangrando. E os lábios de Shade
estavam tingidos com meu sangue.
— Você perdeu a cabeça? —
questionei. — Você nos vinculou.
— Sim — Shade respondeu com a
voz áspera. — De nada.
Olhei boquiaberto para ele, em
seguida me levantei com os pés
instáveis. Meus músculos doíam como
se eu tivesse sido atropelado por um
trem de carga.
— Deixe-o ficar de pé — eu disse,
falando com Tray. — Não quero que ele
esteja incapacitado quando eu o matar.
O Paradoxo Fae grunhiu.
— De novo?
— Não — Shade retrucou.
— De novo o quê? — perguntei,
espantado com sua presença. — E quem
é você?
— Kyros — ele respondeu,
inclinando sua cabeça com cabelos
escuros para mim.
— O que você está fazendo aqui?
— Você sempre faz as mesmas
perguntas? — ele rebateu.
— As mesmas perguntas?
— Vejo que sim — Kyros
respondeu, se afastando da parede para
endireitar sua jaqueta de couro. Uma
sugestão de tatuagens espreitava por
baixo do casaco.
— Alguém comece a falar — Tray
exigiu, cruzando os braços. Ella
agarrou-se ao braço dele e seu cabelo
loiro se enrolou nos tentáculos da magia
que flutuavam do meu irmão.
— Libere o Shade de sua magia, e
ele fará outra tentativa — Kyros disse.
Semicerrei os olhos para ele, então
olhei para meu irmão novamente.
— Faça o que ele diz. — Porque eu
estava começando a entender a situação.
Kyros e Shade estavam brincando
com o tempo – um jogo muito perigoso,
na verdade. Nenhum de nós tinha ideia
de quantas vezes eles mudaram esse
momento, nem qualquer pista sobre o
que aconteceu antes. Eles também
poderiam ter saltado de volta para este
segundo de muitos dias, meses ou
mesmo anos no futuro.
Meu maxilar tensionou.
Por mais que eu quisesse matar
Shade, uma parte de mim reconhecia que
ele tinha uma razão para suas
travessuras.
Talvez tenha sido por isso que ele
me mordeu: para me dar um vislumbre
de compreensão sobre seus motivos. No
entanto, esse estágio não me
proporcionou muita percepção. Na
verdade, o ligava mais a mim do que eu
a ele.
Essa percepção me fez semicerrar os
olhos mais uma vez.
Ele estava tramando algo.
Claramente também tinha um desejo
de morte, porque eu duvidava que o
Conselho tivesse dito a ele para me
morder.
Tray removeu seu feitiço com
relutância, permitindo que Shade
iniciasse o processo de recuperação. Sir
Kristoff estava ao meu lado, com sua
espada de pedra estendida diante de si
como uma varinha.
As gárgulas eram pequenas, mas
poderosas, e sua magia era potente e
duradoura. Daí a contínua condição
enfraquecida de Shade no chão. O
feitiço de Tray apenas prolongou sua
miséria, negando sua capacidade de se
curar. Mas foi o encantamento de Sir
Kristoff que derrubou o Sangue de
Morte.
Kyros bocejou novamente, então
voltou a se encostar na parede, só que
desta vez ele fechou os olhos como se
estivesse tirando uma soneca.
Eu podia ver por que esses dois
idiotas eram amigos.
Sir Kristoff grunhiu como se
concordasse, exceto que eu sabia que
ele não conseguia ler mentes.
Mas Shade era capaz de ouvir meus
pensamentos. Era um presente raro que
vinha com alguns vínculos e, dadas
algumas de suas habilidades únicas, não
ficaria surpreso se fosse uma delas.
Aflora nunca mencionou isso, mas eu
também nunca perguntei.
Infelizmente, não podia ouvi-la.
O que só acrescentou insulto à
miséria nesta situação.
— Quem é Zakkai? — questionei.
— Quandary de Sangue. — As
palavras saíram em uma tosse do Sangue
de Morte ainda ferido no chão.
— Sim, você já disse isso.
— Então talvez você não devesse
repetir as perguntas — Kyros sugeriu,
abrindo seus olhos escuros. — Você
gostaria de acordar o Zeph agora?
Vacilei, surpreso com a mudança
abrupta de assunto.
— O que você fez com ele?
— Por que eu faria alguma coisa? —
ele rebateu.
— Não sei. Eu nem sei por que você
está aqui.
— Humm... eu acho que sabe, sim —
ele murmurou.
Tudo bem. Não vou continuar
envolvendo-o na conversa, porque ele
só me fez querer explodir um buraco de
magia sombria nele.
— Shadow.
O Sangue da Morte grunhiu em
reconhecimento, mas seus membros
ainda estavam em espasmos da magia
residual da gárgula. Eu teria pena dele,
mas não podia, porque eu realmente
gostava de vê-lo com dor. Ele merecia.
— Acorde o Zeph — Tray disse,
sem falar com ninguém em particular. —
Quem puder acordá-lo, acorde-o.
— Como? — perguntei. — Eu nem
sei porque ele ainda está dormindo.
A magia zumbia no ar ao redor de
Shade enquanto ele girava o dedo em um
ziguezague trêmulo, movendo os lábios
com um encantamento. Não peguei o
feitiço, suas palavras eram sem som.
Kyros inclinou a cabeça para o lado,
então assentiu como se estivesse
satisfeito.
E a porta do meu quarto se abriu
com um Zeph furioso, que parou no
corredor. Seu olhar imediatamente foi
para Shade.
— Que. Merda. Foi. Essa? — ele
exigiu, correndo em direção ao já
derrubado Sangue de Morte.
Cruzei os braços em diversão
enquanto meu Guardião desencadeava
uma onda de magia defensiva no macho
caído, fazendo Shade rosnar em agonia.
— De novo? — Kyros perguntou.
— Não! — Shade gritou.
Kyros suspirou.
— Certo.
Pressionei a palma da mão no ombro
do meu Guardião, impedindo-o de
continuar seu ataque ao Sangue da
Morte.
— Zeph — falei baixinho. — Eu
preciso que o Shade seja capaz de falar.
— Falar? — ele repetiu. — Eu vou
matá-lo.
— Tudo bem. Depois que ele se
explicar — falei. — Daí você pode
fazer o que quiser com ele.
— Eu não recomendaria — Kyros
interrompeu, fazendo Zeph girar em
direção a ele.
— Quem é você?
— Mais repetição — o Paradoxo
Fae suspirou, relaxando a cabeça contra
a parede atrás de si.
— Talvez você devesse parar de
brincar com o tempo — eu disse a ele,
cruzando os braços. — Quantas vezes eu
vivi esse momento?
Seus lábios se curvaram um pouco.
— Essa é uma pergunta interessante.
— E isso não é uma resposta —
retruquei.
— Não, não é — ele concordou. —
Acho que eles podem apenas ouvir você
desta vez, Shade.
O Sangue de Morte grunhiu um som
de concordância, em seguida cuspiu
sangue no chão. O encantamento de Zeph
foi o equivalente a alguns chutes severos
nas partes mais dolorosas do torso. Eu
sabia, por experiência, que doía pra
caramba. E Zeph geralmente se segurava
quando lutava comigo usando mágica.
Com Shade, ele não se conteve.
— Que merda está acontecendo? —
meu Guardião exigiu. — Onde está a
Aflora? Por que não posso senti-la?
— Você não pode senti-la? —
Endireitei a postura. — De forma
alguma?
Ele ficou em silêncio e seus olhos
verdes brilhavam enquanto se
concentrava.
— Não. Eu a sinto. Mas há... um
bloqueio. E posso senti-la lutando. —
Ele foi até o chão para segurar a camisa
de Shade. — Comece a falar, ou eu juro
pelo Fae, que vou...
— Me destruir — Shade murmurou.
— Eu sei.
Kyros sorriu.
— Sério, Shade. Você está passando
por muita dor por algo que nós dois
sabemos que é inevitável.
— Vá se foder — Shade retrucou.
— Eles não são o meu tipo — Kyros
falou.
— Dê a ele um segundo para
respirar — eu disse, tocando o ombro
de Zeph novamente. — Quero ouvir o
que o Shade tem a dizer. — Meus
instintos estavam aguçados e a sensação
de déjà vu era uma presença muito real
em minha mente.
Eu tinha vivido este momento antes.
Uma expectativa óbvia, dada a
presença de Kyros, mas era mais
profunda que isso. Eu podia sentir a
familiaridade dessa situação.
Assim como naquela vez em que
Aflora ameaçou desfazer nossos
vínculos. Sir Kristoff falou sobre um
Fae empunhando uma espada. Eu ignorei
seu comentário como consequência de
qualquer merda que Shade tivesse feito
com ele naquele dia.
Mas não era nada disso.
— Você está mexendo com nossas
vidas há um tempo — eu disse ao
Paradoxo Fae.
— Estou? — ele respondeu, seus
olhos escuros brilhando com
conhecimento.
— Você estava presente no dia em
que a Aflora ameaçou desfazer nossos
laços de acasalamento.
Ele me considerou por um longo
momento antes de olhar para Shade.
— Eu me corrijo. Você estava certo
em mordê-lo.
— Ela conseguiu, não foi? —
acrescentei, sentindo meu coração
disparado com o conhecimento. — Ela
desfez nossos laços.
— Ela fez muito mais que isso —
Shade murmurou. Sua voz rouca foi
diminuindo com cada palavra. Ele se
sentou, então se arrastou até a parede
para encostar nela enquanto engolia em
seco com uma careta. — Muito bem,
Kristoff. — Ele saudou minha gárgula
com o dedo médio, depois baixou as
mãos para o colo com um suspiro.
Deslizei pela parede para me sentar
em frente a ele. Zeph se juntou a mim,
com a postura cautelosa, mas sua
expressão não demosntrava nada.
— Quando ele te mordeu? — Zeph
me perguntou.
— Pouco antes de você acordar —
respondi, com o olhar focado no Sangue
de Morte.
— Vocês estão vinculados? — Ele
parecia tanto magoado quanto
preocupado. E com razão. De jeito
nenhum eu seria capaz de ascender se
estivesse vinculado a Shade.
Tudo bem, eu não poderia ascender
enquanto estivesse acasalado com
Aflora também.
E, francamente, eu não tinha tanta
certeza se ainda queria ascender depois
de tudo que descobri nas últimas
semanas.
— No primeiro nível — Shade
falou. — Isso fornece a ele a visão
necessária.
— Só que eu não posso ler sua
mente.
— Não, mas pode sentir minhas
intenções — ele respondeu. Seus olhos
gélidos exibiram uma exaustão que eu
não tinha notado antes.
Não gosto disso, pensei,
incomodado com a percepção que eu
parecia ter herdado com sua mordida.
— Eu também não gosto — ele
murmurou, confirmando que podia ouvir
meus pensamentos. Ou talvez ele tenha
lido pela minha expressão. Suspeitei do
primeiro, porque era de Shade que
estava falando.
Tray limpou a garganta, me
lembrando que ele estava no final do
corredor com Ella ao seu lado.
— Onde a Aflora está?
— Neste momento? — Shade olhou
para meu irmão. — Ela está em um
paradigma, lutando contra um feitiço que
o Arquiteto da Fonte teceu em sua
mente.
CAPÍTULO CINCO
AFLORA

AS ESTRELAS BRILHAVAM NO ALTO , CADA


uma amarrada a um fio invisível que eu
mais sentia do que via.
Eu os estudei, procurando um padrão
ou alguma razão para aquela loucura.
Zakkai me trancou dentro dessa teia
crivada, seu poder potente e
incrivelmente belo. Eu queria rolar em
sua essência e absorver tudo isso em
meus sentidos.
Mas recusei a inclinação.
Ele me colocou aqui com um
propósito, algo que eu pretendia
decifrar.
Removi com sucesso as cordas
invisíveis que sufocavam meu torso, me
permitindo respirar. E quase caí na
armadilha de pensar que era isso. Mas
então o lampejo começou. Era sutil, mas
potente. Ele queria que eu encontrasse
esse quebra-cabeça. Suspeitei que
ignorá-lo teria me deixado em um estado
pior.
Então fiquei absolutamente imóvel,
com a respiração estável enquanto
considerava cada rota.
Algumas estrelas eram mais
brilhantes que as outras. Elas pareciam
muito óbvias, então fui para aquelas sem
brilho, que emitiam uma sensação
quente. Seus fios invisíveis emanavam
energia que fez os pelos em meus braços
se arrepiarem.
Eu mordi o lábio. Qual delas? Voltei
para a estrela ostentando mais luz e
gentilmente a cutuquei. Um raio
atravessou minha espinha, me fazendo
estremecer na cama.
Essa, não, decidi, passando para a
próxima e experimentando a mesma
sensação.
Rosnei.
Zakkai pagaria por essa insanidade.
Ele criou uma mina terrestre na minha
cabeça! Que tipo de monstro fazia isso?
E com sua companheira?
Não que eu pretendesse permanecer
ligada a ele.
Não, eu encontraria uma maneira de
desfazer o vínculo. Assim que
descobrisse esse labirinto na minha
cabeça.
Cada estrela possuía uma assinatura
de calor que cantava a magia sombria
dentro de mim. A magia de Zakkai. Ele
era a fonte das minhas habilidades
Quandary. Mas como? Quando nos
vinculamos? E por que não me
lembrava?
Eu estava agindo sob a suposição de
que meus pais mentiram para mim sobre
meu direito de primogenitura, que eu era
algum tipo de abominação. No entanto,
era seu poder correndo em minhas veias.
Parecia tão profundamente enraizado,
semelhante à minha afinidade com a
Terra.
O que não fazia sentido.
Eu podia sentir o poder de Shade
também, de origem mais recente. O
mesmo com o Sangue de Guerreiro de
Zeph.
Mas a essência de Zakkai parecia
estar entrelaçada à minha, como se
nossas vidas estivessem conectadas por
um único fio.
Semicerrei os olhos quando uma das
estrelas brilhou mais forte por meio
segundo, como se me chamasse para
frente com esse pensamento.
Provavelmente era uma armadilha.
Ou talvez uma pista.
Eu a cutuquei em minha mente e me
preparei para a eletricidade, mas fui
sugada para uma imagem muito real do
meu quarto da minha infância: aquele em
que eu morava antes de meus pais
desaparecerem.
Mas o que...?
— Aflora? — uma voz masculina
jovem me chamou, me fazendo girar em
direção à porta. Olhos azul-prateados
encontraram os meus, fixados em um
rosto de menino com longos cabelos
brancos presos em um rabo de cavalo
baixo. — Você está se escondendo? —
ele perguntou.
Fiz uma careta.
— Zakkai?
Ele franziu a testa.
— Estou enrascado?
— Ah, sim? — Ele criou uma mina
terrestre na minha cabeça... e me
mandou de volta no tempo?
— Por causa da mordida? — Ele
apertou os lábios. — Eu já disse que
não quero fazer isso. Mas o papai disse
que preciso. É a melhor maneira de
protegê-la caso algo aconteça.
— Não entendo.
Ele soltou um suspiro e entrou no
meu quarto arrastando os pés de forma
desajeitada. Provavelmente porque ele
estava fingindo ser criança.
Exceto que, quando ele passou por
um espelho, peguei um vislumbre de
mim mesma e ofeguei com minha
aparência jovem. Santo Fae! Ele me
transformou em uma criança também!
— Quantos anos eu tenho?
— Hum? — Ele olhou para mim e
coçou a cabeça. — Sete?
Arregalei os olhos.
— O quê? — Foi neste ano que
meus pais morreram. Ele pretendia me
atormentar me fazendo reviver isso com
sua versão infantil ao meu lado?
— Olha, eu sei. Isso é muito ruim.
Mas o papai disse que é temporário. E
eu vou te proteger, Flora. Eu sempre
faço isso. — Ele me deu um sorriso de
menino com covinhas nas laterais, e uma
risadinha me escapou. Não que eu
quisesse rir, mas o corpo que eu possuía
parecia divertido.
Seu sorriso cresceu quando a
risadinha escapou. O que está
acontecendo comigo? E por que ele
está me chamando de Flora?
— Olha, eu sabia que você não
estava chateada — ele brincou. — Você
quer ir brincar com as flores do lado de
fora antes do jantar?
O jardim da minha mãe.
Olhei para a porta, depois para o
espelho novamente e de volta para
Zakkai.
Estávamos em algum tipo de loop de
memória. Só que ele se transformou para
estar aqui. Eu queria odiá-lo por isso,
mas fazia tanto tempo que eu não
sonhava com as flores da minha mãe e
seus belos aromas.
Eu poderia me recordar disso por
apenas alguns minutos, certo?
Era minha cabeça, portanto, minhas
regras.
Assenti.
— Sim.
Seu sorriso se ampliou enquanto ele
pulava para me levar pelos corredores
da minha antiga casa. Meus pais estavam
na cozinha, pude ouvir seus tons
abafados quando entramos. Um homem
que parecia Zakkai mais velho estava
com eles, sua expressão era sem
emoção.
— Aflora — minha mãe disse,
franzindo a testa para o meu vestido. —
Essa não é a roupa que preparei para
você esta manhã.
Suas palavras me atingiram, uma
memória se formou espontaneamente em
minha mente. Ela me disse isso antes...
mas quando?
— Carmella — meu pai murmurou.
— Ela pode usar o que quiser esta noite.
Minha mãe olhou para ele, então
suspirou.
— Sim. Sim, claro.
— Vamos brincar com as flores lá
fora — Zakkai anunciou, parecendo
orgulhoso.
Seu pai – ou presumi que o sósia de
Zakkai mais velho fosse seu pai –
grunhiu.
— Você não é um Fae da Terra, Kai.
— Eu sei, mas a Flora é. E ela gosta
de flores. — Ele sorriu para mim. — E
estrelas.
Por que tudo isso parecia tão
familiar? Eu nunca tinha vivido este
momento antes, e ainda assim, sabia o
que minha mãe estava prestes a dizer.
— Não há tempo para brincar no
jardim esta noite — ela disse, bem na
hora. — Nós conversamos sobre isso.
Parte da luz pareceu morrer nos
olhos de Zakkai.
— Eu só achei que... talvez... nós
pudéssemos brincar primeiro.
— Não estamos aqui para brincar,
Kai — seu pai disse e a severidade em
sua voz me fez estremecer.
— Calma, Laki — meu pai
murmurou, se aproximando até colocar a
mão na minha cabeça. — São apenas
crianças.
— Que estão prestes a se vincular
como adultos — minha mãe acrescentou
baixinho.
— Temporariamente — Laki
corrigiu. — Ele vai protegê-la até que
ela seja maior de idade, então vai
reverter o vínculo. Vou mostrar a ele
como.
Eu fiz uma careta.
— Vincular? — Eu sabia o que eles
queriam dizer, mas estava tendo
problemas para aceitar essa versão dos
acontecimentos.
— Sim, querida. Zakkai vai se unir a
você para mantê-la segura — meu pai
disse em voz baixa. — É só uma medida
de segurança no caso de algo acontecer
comigo e sua mãe, certo?
— Por que algo aconteceria com
vocês? — As palavras saíram dos meus
lábios antes que eu pudesse contê-las,
repetindo a pergunta que eu me
lembrava de ter feito naquele dia.
— Porque a vida é cheia de eventos
inesperados — meu pai respondeu,
então pressionou os lábios na minha
têmpora. — Esta é apenas a nossa
maneira de adicionar alguma proteção.
— Mas você já me protege —
apontei em minha voz infantil. — E Kai
também.
Kai? pensei, repetindo o apelido.
Por que eu o chamei assim? Porque era
isso que minha memória exigia.
Ou tudo isso era apenas uma
mentira? Outro teste torcido?
— Eu sempre vou te proteger —
Zakkai concordou, parecendo orgulhoso.
— Mas isso vai nos unir mais. Assim
posso sentir se você estiver em perigo.
Laki assentiu.
— Sim. E ele poderá te ajudar
mesmo se estiver em outro reino.
Sim, eu sabia de tudo isso. Mamãe e
papai haviam explicado isso na semana
passada.
Fiz uma careta. Semana passada?
Balancei a cabeça. Essa experiência
estava começando a parecer um pouco
real demais, como se eu tivesse sete
anos novamente.
Tudo ficou mais lento ao meu redor,
meus pais congelando no lugar quando
meu pai começou a falar. Laki também
se acalmou, com o rosto inexpressivo,
mas Zakkai apenas sorriu para mim, suas
covinhas brilhando orgulhosamente.
— Eu não entendo o que está
acontecendo — eu disse.
— É um feitiço de memória, Flora.
— Seus olhos brilharam quando ele
usou meu apelido novamente. — É para
que você possa se lembrar.
— Lembrar o quê?
— De mim — ele respondeu quando
tudo se dissolveu ao nosso redor em
uma nova imagem de estrelas reais e nós
dois deitados de costas do lado de fora,
sua mão na minha. — Eu não quero ir —
ele disse, olhando para o céu. — Mas
papai diz que eu tenho que fazer isso.
— Eu também não quero que você
vá — respondi, a voz infantil que eu
lembrava, mas a frase estranha. Eu nem
tinha pensado em falar essas palavras;
elas simplesmente saíram da minha boca
sem permissão.
— Ele diz que você tem que me
esquecer também — acrescentou,
franzindo a testa. — Eu não quero fazer
isso.
— Então não faça.
— Mas tenho que te proteger, Flora.
— Ele apertou minha mão. — Você é
minha melhor amiga, e é isso que os
melhores amigos fazem.
— Mamãe e papai vão me proteger.
— Minha boca continuou se movendo
sem minha permissão, dizendo coisas
antes que eu pudesse processar a reação.
— Eu não quero te esquecer, Kai.
Ele suspirou.
— Eu sei. Mas vou fazer você se
lembrar um dia.
— Quando?
— Não sei. O papai disse que pode
demorar um pouco. Temos que nos
esconder em um novo reino. — A
maneira como seus lábios se curvaram
para o lado me demonstrou como ele se
sentia sobre isso.
— Um novo reino? — repeti.
— Sim.
— Então você vai me deixar?
— Eu preciso, Flora. Os Faes
malvados estão chegando muito perto.
— Ele finalmente olhou para mim, com
os olhos cheios de lágrimas. — Eu não
quero ir, mas papai diz que é a única
maneira de estar seguro.
— E quanto a mim? — perguntei,
minha voz baixa.
Ele estendeu a mão para colocar a
sua sobre o meu coração.
— Estarei sempre aqui, Flora. Por
causa do vínculo.
Senti a conexão pulsar em resposta,
o fio nos unindo como um. Formigou um
pouco, aquecendo minha pele.
— Você é meu melhor amigo, Kai.
— Eu sei — ele sussurrou. — Você
também é minha, Flora. Lamento que
você não se lembre de mim.
— Sinto muito também — respondi
baixinho, e sua tristeza emanou uma
sensação sombria através do nosso
vínculo. Me envolveu como um manto
de desespero e seus olhos nublaram
quando a magia ganhou vida entre nós.
— O que você está...?
— Eu preciso — ele disse,
engolindo em seco enquanto uma energia
estranha deslizava pela minha pele. —
Papai disse que temos que ir hoje à
noite.
— Mas você não...? — Parei, não
me lembrando o que eu queria dizer. A
sensação se contorceu através de mim
como uma cobra, confundindo minhas
intenções e minha mente. Eu não
conseguia distinguir a realidade da
ficção.
Isso tudo fazia parte do jogo em
minha mente?
Zakkai, repeti, pensando nas luzes
piscando e na teia de poder que ele
jogou sobre mim.
Mas então uma imagem dele como
um menino apareceu novamente, com os
olhos cheios de lágrimas quando seu pai
o agarrou pelos ombros e lhe disse para
agir como um homem e terminar. Zakkai
balançou a cabeça, se recusando a
perder sua única amiga. Ele ficava
dizendo que não podia fazer isso, que
não podia me fazer esquecer.
Tudo ficou branco.
Depois preto.
E eu abri os olhos para me deparar
com seu quarto mais uma vez.
Lençóis de seda acariciavam minha
pele e a sugestão do oceano provocou
meus sentidos.
Memórias inundaram meus
pensamentos de noites de verão com
Zakkai, brincando sob as estrelas.
Cultivando flores para ele coletar.
Construindo castelos com pequenas
pedras. Perseguindo um ao outro em
jogos intermináveis ​de pega-pega. Jogos
mágicos de mistura de Terra com
habilidades Quandary.
A última noite passou pela minha
mente. A noite em que ele me mordeu
três vezes, então me fez esquecê-lo. Ele
colocou blocos no lugar para que eu não
o sentisse, mas ele podia me sentir... e a
dor que se seguiu.
Zakkai não queria fazer isso, mas
seu pai o obrigou. O garotinho caiu no
chão com um grito, uma agonia diferente
de qualquer outra que já presenciei.
Meus pais ficaram preocupados, mas
Laki insistiu que seu filho estava bem.
— Reescrever a magia para cortá-la
e forçá-la a esquecer requer a máxima
disciplina e habilidade. Isso dói. Mas
ele vai crescer com a dor. — Ele
estendeu a mão para Zakkai. — Vamos
lá.
O menino olhou para mim com
desgosto nos olhos, o rosto molhado de
lágrimas.
E então desapareceu.
Meu peito doeu com a memória e
minha mente em conflito se deveria ou
não acreditar. É verdade? questionei
através do nosso vínculo recém-
restaurado. O que você acabou de me
mostrar é real?
Venha se juntar a mim e descubra,
ele provocou em minha mente. Seu
roupão ainda está na cama.
CAPÍTULO SEIS
SHADE

S ENTI AFLORA SAIR DA TEIA DE ZAKKAI ,


sua mente ficando livre mais uma vez.
Sua confusão se transformou em ira
enquanto ela considerava tudo o que ele
havia revelado. Sua natureza teimosa
seguiu em frente enquanto ela se
recusava a acreditar em sua recontagem
dos eventos passados.
Normalmente, isso me faria sorrir,
mas eu não podia. Não com Zeph e Kols
sentados na minha frente com expressões
iguais de aborrecimento.
— Esta informação teria sido útil há
dois meses, Shadow — Zeph
resmungou.
Tensionei o maxilar.
— Se eu tivesse falado sobre o
Zakkai, o futuro teria mudado. — Kols e
Zeph não aceitaram Aflora como sua
companheira dois meses atrás. Eles
precisaram de tempo para descobrir
mais sobre ela, para perceber que não
era uma ameaça – pelo menos, não para
eles – e se apaixonarem por ela. Sem
tudo isso, esse destino nunca seria capaz
de se desdobrar. E a alternativa não era
boa. Eu sabia disso porque já passei por
essa situação sete vezes.
— Então a magia Quandary vem do
acasalamento com Zakkai, o Arquiteto
da Fonte, não de seus pais — Kols
reiterou. — O que significa que ela é a
verdadeira herdeira da Fonte da Terra.
— Sim — respondi, controlando
minha paciência para passar por essa
conversa. Sua gárgula tinha me atingido
com força, me deixando muito mais
fraco do que o normal. Eu ainda estava
parcialmente recuperado. Se Zeph e
Kols decidissem lutar comigo,
venceriam. Especialmente com Tray e
Ella ao lado deles.
Então eu teria que começar essa
conversa de novo.
O que eu realmente não queria fazer.
Já passamos por isso muitas vezes.
Kyros se encostou na parede do
corredor, esperando que eu sinalizasse
para ele voltar ao tempo mais uma vez.
Mas dessa vez, as coisas estavam indo
melhor, principalmente porque mudei o
jogo inteiro mordendo Kols. Conceder a
ele uma conexão com minha alma
pareceu acalmar um pouco sua magia.
Talvez ele pressentisse o que estava por
vir, como nossas vidas seriam alteradas
para sempre.
Ou talvez tenha sido apenas o
suficiente para mantê-lo focado.
Independentemente disso, eu estava
grato pelo alívio, pois eu precisava
desesperadamente me curar. Era difícil
bloquear Aflora da minha mente. Ter que
fazer isso com metade da força me
esgotava muito mais.
— Mas a magia dela se misturou
com a dele nos últimos quinze anos —
Kols continuou. — O que a torna uma
abominação.
— Sim — concordei. — E você a
teria matado há dois meses.
Ele baixou a cabeça em
reconhecimento.
— Verdade.
— E não vai fazer isso agora —
pressionei. — Daí a razão pela qual eu
não pude revelar isso antes.
— Eu entendo — ele repetiu, seu
tom cortante. — Mas não significa que
eu goste.
Eu grunhi. Ele achava que isso era
difícil? Ele deveria tentar viver todas
essas realidades e repetir cada
momento.
Kyros sorriu como se pudesse ler
minha mente. Porque, sim, ele se juntou
a mim neste inferno. Seus motivos eram
seus, mas nós compartilhamos um
objetivo semelhante.
— Tudo bem, e agora? — Zeph
questionou. — Onde ela está? Como
vamos recuperá-la?
— Nós não vamos — respondi. —
Ela tem que escolher.
— Escolher? — ele repetiu. —
Entre nós e Zakkai?
Hesitei em como responder a isso.
Sua pergunta era muito simplista. A
escolha real que ela tinha que fazer era
muito mais profunda do que um jogo
disso ou daquilo. Seu caminho mudaria
a vida para todos os Fae da Meia-Noite,
e potencialmente outros Faes também.
— Shade — Zeph me chamou. —
Escolher o quê?
Kols pressionou a palma da mão na
coxa de Zeph.
— Dê um momento a ele.
Pisquei, momentaneamente
atordoado pela compreensão no tom do
Elite de Sangue. Ele geralmente era o
primeiro a se juntar ao Guerreiro de
Sangue em sua pressão por detalhes, os
dois sempre se unindo contra mim. O
que estava bem, eu poderia lidar com
isso. Mas esse lado mais suave de Kols
foi inesperado.
Se eu soubesse que a maneira de
acalmar as reações dele era através de
uma mordida, eu teria feito isso há muito
tempo. No entanto, se ele soubesse o
verdadeiro motivo pelo qual fiz isso,
poderia não estar tão contente. Mas essa
era uma conversa para outro dia. Algo
que aconteceria muito em breve, se a
visão da minha avó se concretizasse.
— Brincar com o tempo traz
consequências, Shadow. Acredito que
este destino será um dos seus.
— O que fiz para merecer isso? —
perguntei, pela primeira vez apenas
dizendo o que eu sentia em vez de
fingir que nada disso importava.
— É o fardo do destino — ela
respondeu. — Você é o mais forte de
todos nós, Shadow. É por isso que seu
destino é o mais difícil.
Suas palavras soaram em minha
cabeça, me fazendo contorcer o rosto em
uma careta.
Veremos, pensei.
— Shade — Kols chamou,
arqueando uma sobrancelha ruiva. —
Como podemos trazer a Aflora de volta?
— Você considerou que ela pode
estar mais segura com o Zakkai? — Tray
interveio, seu tom calmo, mas pensativo.
— O que você vai fazer se encontrá-la?
Fugir? Porque o Conselho não vai
deixar você ficar com ela, Kols.
— Mais seguro com o Quandary de
Sangue que quer começar uma guerra?
— Zeph retrucou, com diversão em seu
tom. — Certo. Isso parece bem seguro.
— Ele não vai machucá-la — eu
disse baixinho. — Eu não a teria
deixado com ele se soubesse d
contrário.
— Vamos falar disso daqui a pouco
— Zeph respondeu, seus olhos verdes
brilhando com poder. — Quanto a
deixá-la com ele, a resposta é não.
— Onde você a manteria? — Tray
questionou. — No Reino Humano?
— Nós poderíamos levá-la de volta
ao Fae Elemental — Kols sugeriu.
— Para o Reino onde os Anciões
mataram seus pais e fugiram? — Tray
respondeu, arqueando uma sobrancelha.
— Talvez precisemos nos concentrar em
torná-lo um lugar mais seguro primeiro.
Embora fosse uma ideia admirável,
eu sabia que iria falhar.
Todo caminho levava à guerra.
Não havia alternativa.
Mas eu não poderia dizer isso.
Contar demais poderia criar mais
destinos, e tínhamos o suficiente diante
de nós para durar várias vidas. O que
dizia muito, já que éramos todos
imortais com potencial para viver para
sempre.
Todos ficaram em silêncio enquanto
consideravam a declaração de Tray.
Então Zeph limpou a garganta.
— Não posso deixá-la com Zakkai.
Vai contra todos os meus instintos. —
Ele me fuzilou com um olhar. — Você
tem que estar sentindo isso também.
— Sinto. Todos os dias. — O
bloqueio não era novidade para mim. Eu
o levantei desde o início, na tentativa de
manter Zakkai fora da minha mente. —
Mas se você baixar o escudo que
coloquei, Zakkai terá acesso à sua
mente. E ele é poderoso, Zeph. Você não
terá chance.
— Ainda estou tentando descobrir
como ele ascendeu sem sentirmos —
Kols falou, franzindo a testa. — Você
afirma que ele é o Arquiteto da Fonte.
Eu não deveria senti-lo na posição de
Herdeiro da Fonte?
— Você sente — murmurei,
suspirando. — E todos nós sentimos sua
ascensão. Na verdade, participamos
dela.
Zeph e Kols olharam para mim.
Eu olhei de volta.
Então o olhar de Kols começou a
arder enquanto sua mente o alcançava.
— A Floresta Mortal.
Assenti, confirmando que ele estava
no caminho certo.
— O quê? — Zeph olhou entre nós.
— A Floresta Mortal? Quando?
— Na noite em que Aflora implodiu
— Kols disse. — Quando eu perdi o
controle no quarto dela depois que
transamos pela primeira vez.
— Isso foi sua reação exagerada ao
vínculo — Zeph afirmou.
Eufemismo, pensei, revirando os
olhos.
— Senti uma enorme explosão de
poder naquela noite, que presumi estar
ligado ao nosso vínculo recém-formado.
— Kols voltou seus olhos dourados para
os meus. — Mas não foi nada disso, não
é? Você está dizendo que foi a noite em
que Zakkai ascendeu.
Dei de ombros.
— Pode ter sido uma combinação de
eventos. O destino gosta de fazer isso.
Mas a necessidade dela de expelir toda
aquela energia foi resultado da ascensão
ao poder.
— Foi o que meu pai sentiu também
— Kols sussurrou.
— Você acha que ele sabe a
verdade? — Tray perguntou, mudando
de posição ao lado de Ella. A garota
permaneceu quieta ao lado dele, com os
olhos azuis arregalados em crescente
apreensão. Sua personalidade impetuosa
ficou em segundo plano em relação à
conversa pesada que fluía ao seu redor.
— Talvez — Kols falou. — Ele sabe
que os Quandary de Sangue ainda estão
vivos. O que significa que ele sabe que
eu estava tentando esconder algo
dizendo que duelei com Shadow.
— Eu acho que ele sabe muito mais
do que você imagina — comentei, muito
ciente do que Malik sabia e escondia do
filho. Mas não era meu papel entrar
nessa conversa.
Os olhos de Kols brilharam.
— O que isso significa?
— Que você deveria falar com ele
— sugeri, balançando o pescoço
enquanto outro estremecimento descia
pela minha coluna. Gárgula filha da mãe.
— E o que devemos fazer sobre a
Aflora? — Zeph exigiu. — Não vou
deixá-la com Zakkai. Você diz que ele
não vai machucá-la, mas sua palavra não
é confiável.
— Nunca menti para vocês. — Só
guardei alguns detalhes. Ou muitos.
Independentemente... — Eu nunca
colocaria Aflora em perigo.
Ele ergue as sobrancelhas quando
soltou uma risada sem humor.
— Sim, eu acredito nisso. Ela foi
presa duas vezes por sua causa e depois
desapareceu em um paradigma onde não
posso alcançá-la mentalmente. Todas as
instâncias gritam segurança, não é?
Cerrei os dentes.
— Ela está bem.
— Vou acreditar nisso quando a vir.
— Então vou te levar até ela — eu
disse, abrindo as mãos. — É disso que
você precisa? Porque ele vai me deixar
entrar no paradigma. Quero dizer, ele
pode matá-lo no processo, já que você
está ligado a Kols, e ele quer que toda a
linhagem da família Nacht seja
dizimada. Mas, claro. Vamos dar uma
chance. Agora, talvez?
Eu estava farto dessa besteira sobre
confiança, mentiras e enganos. Eu não
entrei nesse papel por vontade própria.
Ele me escolheu. O destino decidiu me
pegar e virar meu mundo de cabeça para
baixo. Passei anos protegendo a todos. E
para quê? Ser atacado por uma porcaria
de uma gárgula e deixado para sofrer
sob um feitiço Elitista?
Que se dane essa merda.
Eu só queria tirar a porcaria de uma
soneca.
Não, eu queria abraçar minha
companheira.
Ah, mas ela me odiava. De novo.
Esse loop perverso precisava
acabar.
— Você sabe como localizá-la? —
Kols perguntou em voz baixa.
— Claro que sim — rebati,
terminando com essa dança.
Kyros arqueou uma sobrancelha,
surpreso com meu tom.
Eu o ignorei.
— Você pode descobrir uma maneira
do Zeph ver a Aflora? — Kols
pressionou. — Uma em que ele não seja
morto por Zakkai? Se o que você diz
sobre ele cuidar de Aflora é verdade,
então talvez ele esteja aberto a uma
reunião para discutir como resolver isso
entre nós.
Os lábios de Kyros se entreabriram.
Assim como os meus.
Porque Kols nunca sugeriu tal coisa.
Ele sempre quis atacar com toda a sua
energia Elitista e destruir.
Mas agora... ele queria conversar?
Buscar uma solução diplomática? Isso
não poderia ser apenas porque eu o
mordi. Talvez tivesse algo a ver com
Aflora ou o fato de o Conselho ter
compartilhado seu conhecimento sobre
os Quandary de Sangue. Essa foi outra
mudança nesta versão dos eventos,
assim como tudo o que ocorreu antes
dela.
Toda esta versão do tempo diferia
das outras.
A situação fez acender uma pontada
de esperança dentro de mim de que
talvez eu tivesse acertado.
Eu realmente esperava que esse
fosse o caso, porque não havia como
voltar atrás agora, não sem perder tudo
o que descobri no processo.
— Posso tentar falar com o Zakkai
— falei. Isso não teria sido possível no
passado, já que eu o traí em todos os
sentidos. Mas desta vez, trabalhei com
ele, pelo menos na superfície. Eu ainda
tinha toda a intenção de traí-lo no final.
A não ser que...
Não. Eu não poderia pensar assim.
Não depois de tudo que eu tinha visto.
Zakkai era perigoso para todos nós.
E Aflora também seria, se ela
escolhesse se juntar a ele.
O inferno esperava por nós,
independentemente de sua decisão.
— Também quero falar com ele —
Zeph disse. — Ele não me assusta.
— Deveria — Kyros interrompeu.
— Porque ele me assusta pra caramba.
— Seus olhos escuros pousaram em
mim. — Estamos bem?
Assenti.
— Por enquanto.
— Excelente. — Ele acariciou sua
espada e desapareceu.
Eu queria fazer a mesma coisa, mas
um olhar de Kols me fez permanecer no
corredor.
— Precisamos conversar sobre
nosso relacionamento daqui para frente
— ele disse.
Fiz uma careta e belisquei minha
perna, preocupado que talvez eu tivesse
caído em um estado de sonho após o
ataque da gárgula. Porque este não era o
Kols que eu conhecia. Talvez eu não
devesse ter mandado Kyros embora.
— Sei que você ainda está
escondendo coisas — ele continuou. —
E vou ignorar esse fato. Mas precisamos
trabalhar juntos, não uns contra os
outros.
Fiz uma careta quando olhei entre
ele e Zeph.
Quando o Guerreiro de Sangue
assentiu, eu soube que tudo isso tinha
que ser um sonho. Porque de jeito
nenhum esses dois decidiriam trabalhar
comigo.
— Vamos começar por você entrar
em contato com Zakkai para marcar uma
reunião — Zeph disse, com seus olhos
verdes em mim. — Quero uma
introdução a esse infame Arquiteto de
Fontes.
Kols assentiu.
— Eu também.
— Talvez eu não tenha sido claro
antes, mas o Zakkai quer te matar,
Kolstov. — Me assegurei de que cada
palavra fosse pronunciada com clareza
para que não houvesse erro na
interpretação. — Ele quer matar o Tray
e a Ella, e todos que estiverem
associados à família Nacht. Você
entende isso?
— Então a Aflora está em perigo —
Tray interveio. — Porque ela está
acasalada com Kols.
— Não totalmente — respondi. — E
o Zakkai pode ajudá-la a desfazer esse
vínculo, algo que será ainda mais fácil
para ele se Kols chegar perto.
— Ela não vai deixá-lo desfazer
nosso vínculo. — Kols parecia muito
confiante. — E mesmo que ela o faça,
vou mordê-la novamente.
— Se você estiver vivo para isso —
apontei, balançando a cabeça. — Você
está me pedindo para ajudá-lo a cometer
suicídio. — E eu o mordi para evitar
isso. — Posso não gostar de você, mas
não vou ajudá-lo a morrer.
— Eu não posso ser morto por você
falar com ele, posso? — Kols contra-
atacou.
Não, mas eu poderia, e depois?
pensei, exausto com essa conversa e
várias repetições dela antes desse ponto.
Claro, todos as outras terminaram de
forma bastante violenta, então preferi
esse lapso temporário de dor para
discutir com cordialidade.
Mas Kols aparentemente tinha um
desejo de morrer nesta versão dos
eventos.
Porque eu o mordi? Foi esse o
catalisador para essa loucura? Ou eu
tinha finalmente determinado a
sequência correta de eventos?
Balancei a cabeça. Essa ginástica
mental me deu uma dor de cabeça
colossal.
— Preciso tirar uma soneca antes de
falar com o Zakkai.
— Tudo bem — Kols concordou.
Eu o observei.
— Sério, tudo isso... — acenei para
ele, sem saber como definir seu
comportamento — é alarmante.
Ele contraiu os lábios.
— Tudo isso o quê?
Gesticulei para ele novamente,
porque eu nem sabia como descrever.
O resultado o fez rir e Zeph revirar
os olhos.
— Vocês dois precisam de um
quarto? — o Guerreiro de Sangue
perguntou, impassível.
— Não. Vou ficar bem na cama da
Aflora — murmurei, seguindo para o
quarto dela antes que qualquer um
pudesse discutir comigo. Seu perfume
floral me atingiu bem no peito,
despertando uma pontada de agonia
enquanto eu lutava contra o desejo de
alcançá-la novamente. Para me
desculpar pelo que eu tinha feito. Para
ver se ela estava bem.
Mas eu a senti nas amarras, sua fúria
quente e muito viva.
Dê-lhe o inferno, pequena rosa,
sussurrei para nossa porta mental
fechada. Esfole-o vivo.
Porque Zakkai merecia e pior.
Eu o odiava mais do que a mim
mesmo.
Ou queria, de qualquer maneira.
Se eu fosse honesto, eu também o
entendia. Foi por isso que fiquei do lado
dele em versões anteriores de nossa
história. E também porque permiti que
um pequeno lampejo de esperança
tocasse meus sentidos agora.
Talvez agora conseguíssemos
acertar.
Ou talvez... talvez essa fosse a
versão final que acabaria com todos nós.
CAPÍTULO SETE
AFLORA

ZAKKAI NÃO QUERIA ME DAR ROUPAS ?


Tudo bem. Eu faria as minhas próprias
com a varinha que ele deixou na mesa de
cabeceira.
Minha varinha, pensei, curvando os
lábios. Eu podia sentir o poder girar
através de mim, reconhecendo minha
magia interior. Talvez em algum
momento tenha pertencido a ele, mas
agora era minha.
— O que vestir? — pensei, batendo
em meu lábio.
Murmurei um encantamento e agitei
a varinha enquanto me olhava no
espelho. Calça e camisa era muito
simples. Humm, um vestido era muito
formal. Não, eu precisava de algo
rebelde e sensual.
Botas de cano alto. Sim.
Combinei com uma saia.
— Hum. — Proferi outro feitiço,
mudando o tecido para um padrão
xadrez com verde escuro como cor
primária. Adicionei uma blusa branca,
então fiz uma capa com um pingente de
cobra de três cabeças como fecho.
Zeph ficaria muito orgulhoso. Eu
parecia um Guerreiro de Sangue.
Bati em meu queixo. O que mais?
Acrescentei uma gargantilha à mistura,
com brilhos de seda vermelha tecida
entre fios pretos. Kols apreciaria o
toque Elite de Sangue.
E por último, criei uma pulseira com
fios violeta para representar Shade. Eu
não estava feliz com o que ele fez, mas
nunca escondeu suas intenções tortuosas
de mim. Ele até avisou que eu o odiaria,
o que senti que o magoava
profundamente. Então, o que quer que
ele estivesse fazendo tinha um propósito
mais profundo. Eu só não sabia o que
era ainda.
O único enfeite que faltava era um
toque cerúleo. Não. Não iria adicioná-
lo. Se Zakkai quisesse que eu usasse
suas cores, ele teria que me oferecer
mais do que um roupão.
Passei os dedos pelo meu cabelo
preto azulado, me olhei no espelho e
enfiei a varinha no bolso da capa.
Onde está você?, perguntei ao meu
companheiro Quandary de Sangue.
Me encontre, foi sua resposta
modesta.
Semicerrei o olhar. Você quer
mesmo que eu te machuque, não é?
Sua risada não fez nada para aliviar
minha ira. Só alimentou as chamas. Não
gostei de seu joguinho mental ou das
memórias que ele implantou na minha
cabeça. Não eram reais. Não podiam
ser. No entanto, não consegui encontrar
nenhum traço de magia em torno de sua
existência. Parecia que ele os havia
destrancado, não os colocado lá, e isso
era ainda mais enervante.
O que mais existia em minhas
memórias que eu não sabia?
Estremeci e me concentrei em
encontrar Zakkai.
Não foi difícil. Ele praticamente me
deixou um caminho de magia cerúleo
para seguir. Eu não podia vê-lo tanto
quanto senti-lo, a assinatura de energia
familiar era palpável aos meus sentidos.
Atravessei o corredor de pedra,
notei as lâmpadas de fogo bruxuleando
com magia ao longo do interior rochoso
e passei por várias portas fechadas.
Dois Faes da Meia-Noite estavam
de sentinela no final do caminho, um
deles abriu a porta para mim e revelou
outro corredor, este alinhado com
janelas de vidro. Olhei para fora deles e
vi a variedade de vida selvagem e
árvores. Estávamos cerca de três
andares acima, em algum tipo de
castelo. O sol nasceu sobre as
montanhas ao longe, me fazendo franzir
a testa.
Essa paisagem não era nada
parecida com os cipós ardentes no
terreno da Academia. Nada de lâminas
de carvão, pedras parecidas com corvos
ou mosquitos de fogo. Apenas um prado
de lindas flores, árvores saudáveis ​e
uma montanha de verde.
Não é hora de jardinagem, Aflora,
Zakkai provocou em meus pensamentos,
me lembrando da memória que ele
distorceu.
Fique fora da minha cabeça.
Receio não poder fazer isso, doce
estrela. Afinal, você é minha
companheira.
Por enquanto, retruquei. Vamos
quebrar o vínculo, pelo menos de
acordo com o evento falso na minha
cabeça.
Quem disse que é falso?
Eu, respondi, seguindo sua essência
novamente pelo corredor. Isso me levou
a outro corredor de pedra ladeado de
portas.
Alguns Faes da Meia-Noite se
misturaram, todos parando para me
encarar com olhos arregalados.
Eu os ignorei, mantendo a cabeça
erguida, e permiti que minha capa
ondulasse em meu rastro. Não fazia
sentido fazer amigos. Eu não planejava
ficar aqui por muito tempo.
Portas duplas estavam fechadas no
final do corredor, as bordas alinhadas
com a energia de Zakkai. Enviei uma
rajada de magia para abri-las, em
seguida atravessei a soleira com a
intenção de encontrar o homem
brincando na minha cabeça.
Só que era uma sala cheia de Faes
da Meia-Noite que pararam no meio de
uma mordida para olharem assustados
com minha entrada bastante avançada.
O lugar era emoldurado por janelas
com vista para a montanha, mesas
espaçadas uniformemente em um
ambiente de cafeteria, com Zakkai na
frente.
Ele estava sentado ao lado de Laki –
se esse era mesmo seu nome – e vários
outros Faes. Todos me encaravam
enquanto eu me aproximava, a conversa
se transformando em sussurros.
Ignorei a todos, mantendo o foco no
meu companheiro. Ele usava uma camisa
de botão e gravata, estava com o cabelo
branco solto e selvagem em torno de
seus ombros largos.
A imagem do pecado.
Ele até tomava uma taça de vinho
tinto – provavelmente enriquecido com
sangue – para finalizar sua aparência
vampírica. Tomou um gole enquanto
seus olhos azul-prateados corriam sobre
mim em clara apreciação. Em seguida,
colocou a taça na mesa enquanto a
morena ao lado dele se inclinou para
sussurrar em seu ouvido. Foi um gesto
inconfundivelmente íntimo que ela
reforçou passando a mão por baixo da
mesa, presumivelmente para apoiar na
coxa dele.
Observei suas feições familiares
com uma carranca.
Dakota, eu me lembrei. Ela se
referiu a mim como rainha.
E pelo que deduzi por sua linguagem
corporal, ela era muito amigável com
meu rei. Meu coração disparou com a
ideia e semicerrei os olhos.
Ela tinha que saber que Zakkai era
meu companheiro.
Sendo que ele pretendia quebrar
nosso vínculo, então talvez ela não se
importasse.
Eu também não deveria.
No entanto, parte de mim queria ir
até lá e tirar a mão dela da perna de
Zakkai. Um instinto ridículo,
considerando que eu nem queria que ele
fosse meu companheiro.
Eu já tinha três. Não precisava de
mais um. Isso era só temporário. Se ele
queria fazer flores com aquela Elite de
Sangue de cabelos escuros, que assim
fosse. Eu preferiria matá-lo de qualquer
maneira.
Você veio para jogar? ele perguntou
em minha mente, com a cabeça inclinada
para o lado, visivelmente tentando se
afastar de Dakota.
Isso é interessante, pensei,
ignorando sua pergunta.
Ela franziu os lábios carnudos
quando se endireitou, passando seus
olhos escuros rapidamente para mim.
— Ainda bem que você finalmente
se juntou a nós — ela disse, tirando a
mão da coxa de Zakkai para colocá-la
no encosto da cadeira dele em um
movimento de posse.
Ele não pareceu notar ou se importar
– provavelmente porque ela o tocava
com frequência – e sorriu para mim.
— Vejo que você decidiu pelo traje
da Academia. Isso significa que você
quer uma lição?
Um zumbido de conversa fluiu atrás
de mim e uma pontada de excitação
tocou o ar.
— A última vez que verifiquei, as
aulas com você não faziam parte do meu
currículo. Acho que vou ficar com o
programa que o Kols forneceu,
obrigada.
Seu sorriso se alargou.
— Ah, mas há tanta coisa que eu
posso te ensinar — ele disse. Sua voz
era como uma carícia pecaminosa que
parecia implicar muitos significados
para sua frase.
— Kai — seu pai disse, com um
toque de cautela na voz.
— Um momento — ele respondeu,
com os olhos brilhando com intenção
perversa. — Estou satisfazendo nossa
rainha.
— Eu não sou sua rainha. — Cruzei
os braços. — Você não é Fae Elemental.
— Não, não somos — ele
concordou. — Mas você é minha rainha.
— Ele empurrou a cadeira para trás,
afstando a mão de Dakota sem
cerimônia. Ela puxou o braço, curvando
os lábios para baixo em um breve
aborrecimento antes de achatar em uma
linha reta e sem emoção.
— Kai — seu pai tentou novamente,
mas Zakkai já estava se movendo ao
redor da mesa.
— Você teve problemas para dormir,
Aflora? — ele perguntou enquanto
seguia em minha direção. — Essa é a
causa do seu humor?
— Problemas para dormir? —
zombei. — É assim que você chama?
Ele sorriu e parou na minha frente
para colocar uma mecha de cabelo atrás
da minha orelha.
Doce estrela, você me insultou ao
entrar aqui enquanto usava roupas que
representam todos os seus
companheiros, menos eu. Ele segurou
minha bochecha. Se você se ajoelhar,
vou te perdoar. As palavras foram ditas
de forma suave em minha mente, em um
tom de promessa.
Este era seu território, não meu.
Seria sábio mostrar um pouco de
respeito.
O problema era que eu não tinha
mais respeito em mim para dar.
— Nunca vou me ajoelhar para você
— pronunciei as palavras para que
todos ouvissem. Talvez eu devesse ter
respondido mentalmente, mas não tinha
nada a esconder. E falei sério. — Não
me curvo a ninguém.
Suspiros acompanharam minha
declaração ousada.
Mas um vislumbre de diversão
brilhou nos olhos de Zakkai.
— Eu posso fazer você se ajoelhar.
— Você pode tentar — rebati.
A multidão irrompeu em sussurros, e
Laki soltou um suspiro audível da frente
da sala.
Aparentemente, minhas respostas o
incomodaram. Bem, ele poderia comer
um cipó ardente. Assim como Zakkai.
— Quebre o nosso vínculo e eu vou
embora — falei.
— Você trouxe minha varinha? —
ele perguntou, ignorando minha
declaração.
— Não, mas eu trouxe a minha.
Ele contraiu os lábios.
— Bom. Você vai precisar. — Ele
começou a enrolar as mangas da camisa
até os cotovelos, mantendo o olhar fixo
no meu. — Vou te deixar fazer o
primeiro feitiço para o nosso duelo. Sou
um cavalheiro.
— Duelo? Eu não vou duelar com
você.
— Ah, vai, estrelinha. Você me
desafiou, e eu aceito. Então vamos
duelar.
— Eu não te desafiei.
— Considere esta sua primeira
lição, Aflora. Quando você diz que não
vai se curvar ao rei depois de insultá-lo
com sua entrada e traje, isso resulta em
um desafio. — Ele estalou o pescoço.
— Ajoelhe-se ou faça seu primeiro
feitiço.
— Você não é meu rei. — Talvez
incitá-lo fosse a coisa errada a fazer,
mas meu senso de sobrevivência parecia
não existir mais.
— Eu sou o Arquiteto da Fonte. Isso
faz de mim seu rei. — A paciência em
seu tom teria sido admirável se eu
pudesse sentir admiração por ele.
— Um título não impõe respeito —
eu o informei em um tom semelhante. —
As ações, sim.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— O que isso significa?
— Você atacou uma academia cheia
de estudantes e uma vila de Faes da
Meia-Noite inocentes. Essas são ações
para as quais nunca me curvarei. — Sem
mencionar alterar minhas memórias,
acrescentei mentalmente fuzilando-o
com os olhos. Não sou uma florzinha
delicada que você pode manipular com
sua magia Quandary.
O silêncio encontrou minhas
palavras, a sala inteira parecendo ter
congelado ao meu redor.
Zakkai me observou por um longo
momento e suas íris azul-prateadas
giravam com poder.
— Respeito é um valor importante
aqui, Aflora. Algo que você parece não
ter. — Ele deu um passo para trás, com
a postura que reconheci dos cursos de
guerreiro de Zeph. — Lição número
dois, querida. Faça perguntas antes de
lançar acusações. É um insulto fazer o
contrário. Agora, nomeie seu primeiro
feitiço.
— Faça perguntas — eu repeti com
uma risada sem humor. — Eu te fiz
várias perguntas, Kai. Seu método de
respondê-las deixa muito a desejar.
— Assim como sua atitude — ele
respondeu enquanto chamas cerúleo
dançavam ao longo de seus dedos. Não
posso permitir que isso fique sem
resposta, Aflora. Você está me
insultando na frente do nosso povo.
Seu povo, rebati.
Nosso povo, ele repetiu. Você é uma
de nós.
Eu sou uma Fae da Terra. Membro
da Realeza.
— Não vou me curvar. Você não é
meu rei.
Ele tensionou a mandíbula.
— Desocupem as mesas.
Cadeiras foram arrastadas no chão
quando os Faes saltaram ao seu
comando. Todos se moveram para a
parede de vidro, com os olhares
cravados na luta que se desenrolava no
centro da sala. A magia emanou pelo ar
enquanto as mesas eram colocadas umas
sobre as outras para criar uma pilha
arrumada no canto, dando-nos um amplo
espaço para lutar.
— Tanta confiança, Aflora. Só
queria ver o que você poderia fazer, mas
agora, pretendo mostrar o que eu posso
fazer. — Ele se mudou para uma posição
defensiva novamente. — Você tem cinco
segundos para proferir um feitiço antes
que eu comece.
CAPÍTULO OITO
ZAKKAI

P UTA MERDA, ELA ERA MAGNÍFICA.


Eu queria tocar seus cabelos e beijá-
la, depois mordê-la em reprimenda por
sua desobediência. Ninguém nunca me
desafiou. Todos sabiam que não
deveriam. Mas Aflora estava diante de
mim em toda sua glória real, me
desafiando a reagir.
— Quatro segundos — disse a ela,
contando meu aviso.
Ela semicerrou os lindos olhos e sua
energia ganhou vida. Senti seus
companheiros no vento e a subcorrente
viciante de seu direito de primogenitura
Elementar. Forneceu uma mistura
inebriante e potente que eu queria
devorar.
Mas só falei:
— Três segundos.
Ela me insultou inúmeras vezes.
Permitir tal ato me faria parecer fraco, e
eu não poderia aceitar isso como
Arquiteto da Fonte. Poderia aceitá-la
como minha igual, mas não como
adversária. Não quando nosso povo
dependia de nós.
— Dois segundos, Aflora. — Eu já
sabia o encantamento que pretendia usar.
Nada duro, apenas um aviso...
Fogo verde disparou pelo chão para
circundar meus tornozelos. As cordas
deram um puxão, ameaçando me arrastar
para o chão quando uma raiz de árvore
irrompeu para prender minha
panturrilha. Franzi a testa com a mistura
bizarra de magia. Ela não falou nada,
apenas usou sua mente para liberar o
poder.
Eu teria ficado impressionado se
isso não tivesse sido uma violação
estrita do protocolo.
— Quem foi que te ensinou a duelar?
— Zephyrus — ela respondeu,
enviando outra explosão de magia no
meu torso que se assemelhava a chamas
vermelhas. — E Kols. — Ela
desapareceu em uma nuvem de fumaça
roxa, para aparecer atrás de mim com
uma bola de energia violeta. — E
Shade. — Ela lançou o WarFire
diretamente na minha cabeça.
Certo.
Ela não estava duelando.
Estava tentando me matar.
Eu me abaixei, peguei o WarFire
antes que ele pudesse atingir qualquer
outra pessoa, sufocando-o sob uma onda
de meu próprio poder. Então arranquei
as algemas em torno de meus tornozelos
e panturrilha com outro pensamento e
pulei para longe de sua esfera recém-
criada de chamas coloridas.
Eu o peguei com a mão – revestido
de magia cerúlea – o esmaguei como se
fosse uma bola física e joguei fora.
— Minha vez.
Ela arregalou um pouco os olhos
quando joguei uma teia elétrica em sua
direção, semelhante à que usei mais
cedo.
Só que, desta vez, ela se afastou,
fazendo com que a energia se esgotasse
ao bater no chão de pedra.
Inteligente, eu a elogiei, girando
para enviar outra. Mas ela se
transformou novamente, desta vez
desaparecendo tempo suficiente para eu
perceber sua verdadeira intenção.
Escapar.
Sorri e verifiquei meu relógio
enquanto todos olhavam ao redor em um
silêncio confuso, procurando por sua
rainha desaparecida.
Dez.
Nove.
Oito.
Bocejei.
Seis.
Cinco.
Ah, Aflora.
Três.
Dois.
Ela voltou com um grunhido alto
quando o feitiço que teci sobre ela
entrou em ação, puxando-a de volta para
mim como um elástico. Ela caiu sentada
e sua expressão assustada era divertida.
Não lhe dei um momento para se
acostumar e joguei outra teia.
Chamas cerúleas envolveram seu
corpo de bruços, desintegrando os fios
em um instante enquanto ela se levantava
em uma bela manobra defensiva. Bom,
eu disse. Ela desrespeitou todas as
regras, mas isso não me impediu de
aprovar sua forma geral.
A mulher podia lutar.
Suas habilidades claramente vinham
do vínculo com Zephyrus, o que
confirmou minhas suspeitas sobre ele
ser um adversário formidável. Se ela
podia canalizar essas manobras, então
ele seria uma força a ser enfrentada
pessoalmente.
Eu estava ansioso para conhecê-lo.
Talvez eu o deixasse viver – pelo menos
assim minha companheira permaneceria
tão ágil e talentosa quanto era agora.
Um cipó ardente brotou no meio da
sala, fazendo com que vários Faes da
Meia-Noite ofegassem. Estudei a
monstruosidade crescente, cauteloso
com sua intenção. Aquelas árvores
perigosas eram destinadas ao lado de
fora. Elas tinham uma propensão para
explodir em chamas.
Ela acrescentou um mar de lâminas
de carvão embaixo dela, a grama
notoriamente afiada.
— Aflora — avisei. — Este é um
duelo, não uma partida de morte.
— Me liberte e vou deixar você
viver — ela rebateu.
— Te libertar? — Eu quase ri. —
Você quer dizer permitir que seus
poderes floresçam em todo o seu
potencial ao invés de te prender com um
colar? — Olhei de forma incisiva para
seu pescoço. — Você criou isso, doce
estrela. Eu nunca diluiria suas
habilidades. — Embora, observando-a
agora, eu pudesse ver porque Kolstov
sentiu essa necessidade. Ela estava
absolutamente fora de controle e não
parecia entender toda a extensão de suas
habilidades.
Um fato que ela acentuou jogando
outra esfera WarFire na minha cabeça.
Uma segunda veio logo depois, quase
atingindo os Faes que estavam próximos
das janelas.
— Aflora.
Ela me ignorou e enviou mais duas
bolas ameaçadoras em minha direção,
seu controle desequilibrado enquanto
ela ficava mais poderosa a cada
segundo.
Puta merda.
Eu queria ver o que ela poderia
fazer.
Se estivéssemos do lado de fora,
tudo bem, mas ela criou WarFire e um
cipó ardente no meio do castelo.
Sustentar a complexidade do paradigma
já detinha metade do meu poder. Eu não
podia permitir que ela perturbasse esse
equilíbrio, ou arriscaria que ela
machucasse alguém.
Certo. Eu precisava acabar com isso
da maneira mais difícil.
Peguei seu próximo ataque e o
esmaguei antes que deixasse sua mão,
então a envolvi em uma corda de
eletricidade que chiou contra sua
contenção. Ela gritou e rasgou as
amarras com uma onda impressionante
de poder que fez meus lábios se abrirem
de surpresa.
E todo o inferno se soltou.
O fogo se derramou dela em ondas
de roxo, vermelho, verde e cerúleo, se
espalhando pelo chão com uma intenção
perigosa. Vários dos Faes atrás de mim
começaram a se debater, mas um deles
enviou um raio diretamente no peito de
Aflora, momentaneamente atordoando
minha companheira e mandando-a para o
chão com um grito angustiado.
Outro raio se seguiu, o zumbido
vermelho me dizendo a identidade do
perpetrador.
— Dakota — rebati. — Chega.
Ela enviou um encantamento final,
destinado a paralisar a presa, então
olhou para mim com um desafio astuto.
— Você não teve coragem de fazer,
então eu faço.
— Não pedi para você intervir. —
Nem teria pedido.
— Não precisava pedir.
— Sua presunção está fora de linha
— eu a informei, disparando um raio de
poder semelhante para deixá-la de
joelhos. — Nunca mais toque na minha
rainha.
— Kai — meu pai interrompeu.
— Não. Eu tinha tudo sob controle.
— Me concentrei em todo o poder
zumbindo pela sala e o cancelei com um
único aceno de mão. O cipó ardente se
desintegrou em cinzas, e as chamas
semelhantes a cordas de Aflora chiaram
em uma névoa calmante. Com outro
toque de meus dedos, a sala voltou ao
normal, o paradigma respondendo a mim
– seu mestre – e corrigindo todos os
erros.
Então me virei para o corpo trêmulo
de Dakota e enviei outro raio para
igualar o placar. Ela atingiu Aflora duas
vezes com aquela magia antes de
paralisá-la.
— Embora você possa ter agido com
boas intenções, a Aflora ainda é sua
rainha e eu sou seu rei. Você não pode
atacá-la sem motivo.
— Kai, ela se sentiu ameaçada e
reagiu — meu pai interrompeu.
Um eufemismo.
Dakota se sentiu ameaçada por
Aflora desde a primeira vez que
mencionei que ela era minha
companheira. A Elite de Sangue sedenta
por poder estava atrás do meu pau desde
o primeiro dia. Vi através de suas
travessuras: ela queria me usar para seu
próprio ganho. Assim como usou
Kolstov e Zephyrus. A diferença entre
mim e eles? Eu sabia pensar com a
cabeça.
Ela nunca seria bem-vinda na minha
cama.
Deixei isso claro desde o primeiro
dia.
Não tinha nada a ver com meus laços
com Aflora e tudo a ver com
preferência.
Assim como o ataque de Dakota não
teve nada a ver com defender os outros e
tudo a ver com seu crescente ciúme. Eu
não tinha perdido sua demonstração de
posse quando Aflora chegou. A única
razão pela qual não coloquei a Elite de
Sangue em seu lugar foi por causa da
irritação que isso despertou em minha
companheira.
Ela não gostou da ideia de outra
mulher me tocar. Eu entendia isso, já que
não gostava muito do fato de ela ter
outros companheiros. Mas estávamos
separados há anos, e a intenção sempre
foi quebrar nosso vínculo após nos
reencontrarmos.
Eu não era santo.
Transei com várias.
No entanto, eu não tinha acasalado
com mais ninguém.
Aflora era tudo para mim, algo que
soube no momento em que a vi nos
sonhos. Talvez até antes. Eu não
conseguia olhar para outra mulher desde
o café. Não era algo que passei muito
tempo avaliando até que ela chamasse
na primeira noite.
Desde então, eu era dela.
Ela só não sabia ainda.
Sua dor aumentou em nosso vínculo,
fazendo com que eu me virasse em sua
direção. Ela se enrolou em uma bola
trêmula no chão, o feitiço se desfez e a
deixou totalmente indefesa.
Puta merda, ela parecia tão pequena
e frágil assim. Uma florzinha esmagada,
sem vida.
Ninguém deveria ver uma rainha
dessa maneira.
No entanto, Dakota garantiu que
todos testemunhassem sua queda.
O poder lambeu minhas veias, a
inclinação para matá-la montando meu
espírito.
— Corra, Dakota — eu disse, minha
voz era um rosnado baixo. — Se
esconda.
Meu pai soltou outro de seus
suspiros infames. Seu aborrecimento era
palpável. Ele não ligava muito para o
meu temperamento. Engraçado,
considerando que herdei essa
característica dele.
Fui até Aflora e a peguei em meus
braços.
— Turma dispensada — informei a
sala, levando-a para a porta e para o
corredor. Senti meu pai me seguindo,
mas o ignorei.
Ele não falou até que estivéssemos
sozinhos na minha ala do castelo. Sua
decepção era inconfundível.
— Você deixou isso sair do controle.
— Eu testei os limites dela —
rebati. — Se você tivesse me permitido
recrutá-la mais cedo, teríamos tido
tempo de treiná-la. Mas agora, ela está
acasalada a outros três Fae da Meia-
Noite, necessitando da minha aula.
— Ela não estava pronta.
— Ela não está pronta agora —
retruquei, farto desse argumento
familiar. — Ela está pulsando com
poder e não tem saída para expulsá-lo.
Forneci o que ela precisava hoje, assim
como o farei novamente amanhã. No
entanto, vou fazer isso do meu jeito.
Porque eu sou o Arquiteto da Fonte. —
Acrescentei essa última parte
lembrando-o mais uma vez da minha
posição de poder. — Confie em mim
para lidar com isso.
— Você acabou de ameaçar um ativo
valioso — ele disse entre dentes. —
Fica difícil confiar em você, Zakkai.
Seu uso do meu nome completo –
além de sua declaração fútil – me fez
revirar os olhos.
— A Dakota não é valiosa. Ela é
uma vadia faminta por poder que vai
trair a todos nós ao primeiro sinal de
uma posição mais alta.
Ele rosnou com a minha franqueza.
— O que deu em você?
— A Dakota atacou minha
companheira — rebati, parando do lado
de fora da porta do meu quarto. — Não
vejo isso com bons olhos. — Como ele
poderia não ver o problema naquele
comportamento?
— Companheira temporária — ele
corrigiu.
— Esse sempre foi o seu plano —
falei, sem confirmar ou negar a intenção.
Ele forçou esse vínculo.
Depois me obrigou a alterar suas
lembranças.
Isso foi apenas o começo da minha
existência infernal. Cada curso que ele
ministrava desde então tinha sido pior
que o anterior. E agora ele queria que eu
passasse para o próximo nível
removendo o único pedaço de bondade
que restava dentro de mim – meu
vínculo com Aflora.
— Se você me der licença, vou
preparar um banho quente para ajudar a
remover o resto do encantamento de
Dakota. — Usei um comando mental
para abrir a porta, então tentei fechá-la
na cara dele, mas é claro, ele me seguiu
para dentro.
— Nós não terminamos esta
conversa.
— Você realmente vai me perseguir
por quase matar Dakota? — perguntei,
bufando uma risada. — Porque não é a
primeira vez que quase faço isso, pai.
— Uma vez eu a encontrei nua na minha
cama. Em vez de comemorar a
descoberta, fiz com que ela voltasse
para seus aposentos com a mesma roupa
com que entrou: sua pele.
Por alguma razão, isso só a fez se
esforçar mais para me conquistar.
— Estamos muito perto de nosso
objetivo — ele pressionou, colocando a
mão no meu ombro e suavizando seu
tom. — Cumprimos nosso dever com os
pais de Aflora protegendo-a. É hora de
seguir em frente e terminar o que
começamos. Essa é a única maneira de
realmente honrar sua memória e todas as
outras vidas tiradas pelas mãos dos
Anciões Faes da Meia-Noite.
Soltei um longo suspiro, relaxando
meus músculos no processo.
— Pai, não mudei o curso de nossas
intenções — respondi. Um pouco de
diversão com minha companheira não
iria alterar meu caminho. — E a Aflora
é muito mais do que apenas um dever.
Você viu o poder dela hoje. Ela é um
ativo.
Olhei para a mulher ainda trêmula
em meus braços, que estava com os
olhos azuis arregalados enquanto ouvia
sem falar. O feitiço paralisante
provavelmente a tornou incapaz de dizer
algo, mas eu suspeitava que fosse mais
profundo do que isso. Ela parecia
genuinamente interessada no que
estávamos discutindo. Eu não podia
culpá-la, dado o assunto.
— Os pais dela morreram por nossa
causa — acrescentei, olhando em seus
olhos. — Precisamos dar a ela a chance
de decidir se quer se juntar à nossa
missão de honrar sua perda. Não posso
esperar que ela tome essa decisão em
uma única noite, não depois de tudo que
ela passou.
— É isso ou a morte — ele disse.
— Sim — concordei, observando a
forma como as pupilas dela dilataram.
— O Conselho Fae da Meia-Noite nunca
a deixaria viver. A única razão pela qual
eles permitiram isso por todos esses
anos foi usá-la como isca para nos
encontrar. — Acrescentei para que ela
ouvisse, imaginando se ela sabia a
verdade.
A dilatação de suas narinas sugeria
que sim.
Kolstov lhe contou?, me perguntei.
Sim. Sua voz mental era forte e
completamente em desacordo com seu
frágil estado físico. Eu suspeitava que
ela ainda pudesse lutar mesmo nesta
forma.
— Ele lhe disse que os Anciões
mataram seus pais por ajudar os
Quandary de Sangue a sobreviver? —
perguntei em voz alta, não me
importando se meu pai ouvia. Isso não
era novidade para ele.
Sim, ela repetiu. Ele me contou
depois que o Conselho o informou.
Isso... é estranhamente admirável
da parte dele.
Ele não sabia de nada até
recentemente. Mas Shade, sim.
Shade sabe de muitas coisas,
concordei antes de olhar para meu pai.
— Kolstov contou a Aflora a
verdade sobre a morte de seus pais. —
O jovem Príncipe da Meia-Noite havia
sido introduzido recentemente no círculo
íntimo – um fato sobre o qual meu tio,
Tadmir, nos contou na semana passada.
Eu esperava que o herdeiro da família
Nacht abraçasse seu papel de rei e
aceitasse sua posição como assassino
principal da minha raça.
Mas ele contar a verdade a Aflora
era contraintuitivo para essa noção.
Ele também não havia informado ao
Conselho sobre seus laços com ela, algo
que assumi ser egoísmo da parte dele.
Se soubessem sobre seu acasalamento,
ele perderia seu direito ao trono. Ou
pior, o matariam por se associar a uma
abominação.
Claro, ele também não contou sobre
suas crescentes habilidades Quandary de
Sangue. Nunca entendi muito bem por
que ele manteve esse segredo, além de
assumir que também era para salvar a si
mesmo de alguma forma.
— Isso não muda o destino dele —
meu pai disse. — Toda a família Nacht
precisa morrer.
— Eu sei — respondi, ainda perdido
em meus pensamentos.
Você não pode matar o Kols, Aflora
disse, arregalando os olhos.
Me inclinei para pressionar os
lábios nos dela. Shhh, vamos conversar
mais depois que você descansar.
Não, Kai. Você não pode matar o
Kols!
Está tudo bem, estrelinha, assegurei
a ela. Vou te mostrar como quebrar os
vínculos para que a morte dele não te
machuque.
Ela começou a entrar em pânico em
meus braços, seu corpo estremecendo
enquanto ela lutava contra o processo de
recuperação e exigia que seus membros
reagissem.
Suspirei.
— Aflora, isso só vai piorar os
efeitos colaterais. — Eu a deitei em
minha cama e proferi um encantamento
para aquecer os lençóis ao redor dela. O
que ela realmente precisava era de um
banho, mas eu não poderia fazer isso se
ela continuasse se contorcendo. Enfiei a
mão em sua capa para recuperar minha
varinha, então lancei um feitiço suave
sobre ela, insistindo que ela dormisse.
Não! ela gritou em minha mente.
Kai, não!
Shhh, estou tentando ajudar, Aflora.
Apenas relaxe. Intensifiquei o feitiço,
lutando contra suas defesas fracas e
jogando-a em um sono profundo em
segundos. Em seguida, balancei a
cabeça.
— Ela é uma das mulheres mais
teimosas que já conheci.
— Os fortes geralmente são — meu
pai respondeu, batendo em meu ombro
novamente. — Quebre o vínculo
amanhã. Vai ajudar vocês dois.
Fiquei tenso com o comando em sua
voz, mas meu pai não percebeu. Ele me
deu outro tapinha e saiu, o tempo todo
esperando que eu obedecesse.
Não, pensei, colocando uma mecha
de cabelo atrás da orelha de Aflora.
— Prefiro ficar com você, doce
estrela. — Me inclinei para beijar sua
testa. — Bons sonhos.
CAPÍTULO NOVE
ZEPH

MEU PEITO QUEIMAVA, ME DESPERTANDO


para a consciência ao lado de Kols. Ele
permaneceu adormecido, com as feições
livres de desconforto. Outra pontada me
fez pressionar a palma da mão no peito
para massagear o músculo, mas fez
pouco para dissipar a agonia que
ondulava em minhas veias.
Algo está errado, pensei.
— Aflora.
— Ela está bem — uma voz grogue
disse enquanto Shade se materializava
no quarto de Kols vestindo uma boxer.
Ele coçou a nuca e soltou um suspiro,
estremecendo quando uma nova onda de
calor se espalhou por mim.
— Não me sinto bem — falei por
entre os dentes. E considerando que sua
reação rivalizava com a minha, ele
obviamente sentiu também.
— Hum? — Kols murmurou,
piscando para acordar. Então franziu a
testa ao encontrar o Sangue de Morte a
apenas alguns metros de distância. —
Onde estão suas calças? E por que é que
você está no meu quarto?
Shade revirou os olhos.
— Você tem sorte que estou vestindo
boxers — ele murmurou. — Geralmente
durmo nu na cama da Aflora.
Um visual que eu não queria ver.
— Que merda está acontecendo,
Shade? — exigi.
Ele colocou a mão na nuca e
inclinou a cabeça para trás para olhar
para o teto.
— A Aflora está extraindo poder de
nós para ajudar a se curar.
Isso me obrigou a me sentar. Kols
fez a mesma coisa.
— Você disse que ele não iria
machucá-la — falei, semicerrando o
olhar. — O que aconteceu, Shade?
— Não sei! — ele gritou, jogando os
braços no ar enquanto baixava os olhos
selvagens para os meus. — Não posso
chamá-la sem arriscar que Zakkai entre
na minha cabeça, e ele já sabe demais.
Arrisquei muito só de baixar a barreira
entre nós para ver como ela estava. Não
posso fazer isso de novo, mas acredite
em mim, gostaria de poder. Puta merda,
eu gostaria de poder fazer muitas coisas
agora.
Essa deve ter sido a versão mais
verdadeira de Shade que já esteve
conosco. E, infelizmente, não era bom o
suficiente.
— Vamos tentar os sonhos dela de
novo — eu disse a Kols. — Talvez ela
esteja dormindo.
— Você não pode — Shade
começou, mas levantei a mão.
— Sua cabeça é um problema por
causa de todo a merda do tempo.
Entendo. Mas não sei esses detalhes. Se
Zakkai quiser florescer em meus
pensamentos, ele é bem-vindo para
experimentar minha raiva.
— É mais do que isso — Shade
insistiu. — Ele é o Arquiteto da Fonte.
Pode reescrever poderes, Zeph. Ele
pode alterar os seus poderes.
— Não tenho medo de suas
habilidades Quandary — retruquei,
voltando a focar em Kols. —
Deveríamos...
— Ele pode desfazer o vínculo de
acasalamento — Shade interveio.
Poderíamos ter ouvido um alfinete
cair depois desse pronunciamento.
Alterar meus poderes era uma
consequência com a qual eu poderia
viver. Alterar meu vínculo com Aflora?
Não, isso não era um risco aceitável.
Kols limpou a garganta.
— E quanto ao nosso vínculo
Elemental?
— Não sei — Shade sussurrou. —
Mas talvez, sim.
— Ele já desfez nossos laços de
acasalamento antes? — perguntei.
Shade engoliu em seco.
— Não sei.
Fiz uma careta.
— Você não sabe? Mas tem certeza
de que ele pode fazer isso agora?
Através de um sonho?
Shade balançou a cabeça.
— Você não entende.
— Tem razão. Não entendo, porque
você não está nos contando tudo —
rebati, cansado desse enigma
complicado. — Me dê algo com que eu
possa trabalhar ou dê o fora daqui.
— Zeph. — Kols colocou a mão na
minha coxa. O cobertor era a única
coisa que separava seu toque da minha
pele. — Existem linhas do tempo das
quais você não se lembra? — Kols
perguntou para Shade.
— Provavelmente, sim. — As mãos
de Shade caíram para os lados em um
gesto impotente. — Existem certas
regras com o tempo. Se você se unir a
outro Fae – vínculo total, não apenas um
estágio inicial – então você não pode
voltar sem levar o companheiro
vinculado com você. E a única maneira
de garantir que um companheiro se
esqueça é sacrificar suas memórias
também. Então é possível que eu tenha
feito isso, mas eu não me lembraria.
— É por isso que não mexo com o
tempo — murmurei.
— Você não está ajudando — Kols
disse, apertando minha perna. — Shade,
o Zakkai já desfez nossos laços com
Aflora?
O Sangue da Morte parou.
— Já admiti que a Aflora teve
sucesso nessa empreitada — ele falou.
— Sua magia Quandary vem do Zakkai.
— Ou seja, se ela pode fazer isso,
ele também pode — Kols traduziu.
Shade assentiu.
— Não estou dizendo que ele vai.
Estou dizendo que a possibilidade
existe, e se você optar por falar com a
Aflora, precisa ter muito cuidado.
— Quem colocou o bloqueio na
minha cabeça? — perguntei,
semicerrando os olhos. Achei que era
por causa de sua localização em um
paradigma, mas algo na maneira como
ele se expressou me fez pensar o
contrário. Se eu optar por falar com a
Aflora. Significando que eu poderia
falar com ela.
— É uma medida de segurança — o
Sangue de Morte respondeu.
— Não foi isso que perguntei.
— Eu sei — ele respondeu.
— Remova o bloqueio, Shade —
exigi, lendo nas entrelinhas. — Vou
controlar meu próprio vínculo.
Shade começou a andar.
— Não é tão simples assim.
— É simples, sim — respondi,
conjurando minha varinha. — Saia da
minha cabeça.
— Não estou nela. — Ele parou
para me encarar. — Coloquei o
bloqueio na mente da Aflora.
— Então o remova — eu disse por
entre os dentes.
— Zeph.
— Pare de me repreender, Kolstov.
Não vou mais participar dos enigmas.
— Apontei a varinha para Shade. —
Remova o bloqueio. Agora.
Shade soltou um suspiro e se sentou
na cama, o que não era nada do que eu
esperava.
— Me torture o quanto quiser,
Zephyrus. Não é nada comparado à dor
que já estou sentindo.
Kols colocou a mão na minha,
abaixando a varinha.
— Ele não vai remover o bloqueio,
mesmo que você o machuque.
— Talvez não, mas machucá-lo vai
me fazer sentir muito melhor —
murmurei.
— Não, não vai — Kols falou
baixinho. — A única coisa que fará
qualquer um de nós se sentir melhor
agora é Aflora. Acho que devemos
tentar alcançá-la em seus sonhos, mas
com cuidado.
Shade bufou uma risada.
— A ironia.
— Que ironia? — Kols perguntou.
— Zakkai costumava visitá-la
enquanto ela dormia entre vocês dois.
— Ele contraiu os lábios. — Vocês
nunca perceberam. Talvez ele também
não perceba, mas acho que ele está
esperando por vocês.
— Já que você o conhece tão bem,
talvez devesse vir conosco — sugeri,
não tão satisfeito com essa sugestão.
— Na verdade, isso pode dar certo
— Kols murmurou. — Talvez você
consiga sentir a assinatura de energia
dele.
— Sua assinatura de energia? —
Shade repetiu. — A Aflora está repleta
da energia dele. Eles se uniram quando
ela tinha sete anos, e a magia cresceu
com a dela. — Ele puxou o joelho para
cima do colchão.
Um estranho tipo de silêncio caiu
entre nós três enquanto considerávamos
o que isso significava. Shade havia
mencionado a idade do vínculo de
Zakkai com Aflora mais cedo, mas ouvi-
lo novamente realmente levou o ponto à
tona.
Quinze anos.
Eu não estava vinculado a ela nem
há quinze dias.
— Aflora herdou a Fonte da Terra
logo após o acasalamento — Shade
acrescentou, seu tom sem o seu habitual
sarcasmo. — Vocês podem imaginar o
que isso fez com ela, certo?
— Isso fez com que seus poderes se
misturassem com os dele, que é o que a
marca como uma abominação. — Kols
parecia cauteloso, mas imitou a posição
de Shade, se inclinando na cabeceira da
cama com uma perna levantada e os
lençóis enrolados em seus quadris.
Se Aflora entrasse e visse isso,
provavelmente desmaiaria. Três de seus
companheiros, a maioria nus, sentados
em uma estranha forma de triângulo na
cama.
Eu teria rido se tivesse senso de
humor.
Mas nada nisso era engraçado ou
bom. E a dor surda no meu peito só
enfatizava esse fato.
— Você disse que era capaz de
derrubar a barreira para ver como ela
estava. Faça isso novamente. Quero
senti-la.
Os olhos azul-gelo de Shade
brilhavam mesmo na baixa iluminação
do quarto.
— Meu bloqueio mental não é o
mesmo que coloquei na mente dela.
— Então vamos para os sonhos dela
— respondi, terminando essa
negociação. — Preciso saber se ela está
bem, e não vou aceitar sua confirmação
do contrário. — Ele não ganhou minha
confiança. Na verdade, estava longe
disso.
— Chame o Kyros e coloque-o em
espera. Se isso der errado, vamos voltar
no tempo. — Kols deu de ombros, como
se mexer com a linha do tempo pouco
importasse para ele.
Todo o seu comportamento mudou
desde que Shade o mordeu – um ato que
fez meu sangue ferver.
Eu era o protetor de Kols. Seu
Guardião. E um Sangue de Morte
acasalou com ele no primeiro estágio
enquanto eu estava desmaiado por causa
de um feitiço.
Um feitiço lançado pelo mesmo
Sangue de Morte em questão.
Realmente não havia mistério aqui
sobre o porquê eu queria matá-lo.
A única razão pela qual eu ainda não
havia tocado nele era Aflora. Machucá-
lo iria machucá-la, e ela já estava com
dor suficiente.
Arqueei a sobrancelha com o
pensamento.
— Quebrar meu vínculo com a
Aflora não a machucaria? — perguntei,
interrompendo o que quer que o Sangue
de Morte tinha acabado de dizer para
Kols. — Se sua alegação sobre o
cuidado de Zakkai for válida, ele
arriscaria prejudicá-la dessa maneira?
Shade olhou para mim.
— Quebrar o vínculo a machucaria,
sim. Sobre se ele iria ou não seguir em
frente, direi apenas que ele não se opõe
a riscos.
— Significando que ele colocaria
Aflora em risco se a situação exigisse
— conclui com minha irritação
renovada. Não que ela tivesse
desaparecido. — Certo. Essa conversa
está encerrada. Vou entrar nos sonhos
dela. Se vocês dois quiserem se juntar a
mim, venham.
Me deitei e fechei os olhos.
Algo estava errado, além do óbvio.
E eu não ia apenas me sentar aqui e ficar
debatendo quando podia chegar ao cerne
da questão.
Na mente de Aflora.
CAPÍTULO DEZ
AFLORA

A MAGIA ME ENVOLVEU EM UM CASULO DE


cor.
Roxo.
Verde.
Cerúleo.
Um toque de vermelho.
Me deleitei com isso, absorvendo a
energia que minha alma tanto precisava
enquanto também estimulava minha
conexão renovada com a terra. Cheirava
a frescor e doce, a Fonte era uma
colmeia bem-vinda de sol que aqueceu
minha pele.
Lindo, pensei, girando em minha
cama de flores e inalando todos os
aromas frescos. Isso rejuvenesceu meu
espírito esgotado. No entanto, eu não
conseguia me lembrar como ou por que
esse rejuvenescimento era necessário.
Estranho.
Ah, mas o sol! Senti falta do sol.
Fiz uma pausa. Por que sinto falta
de um elemento tão vital da vida? Bati
o dedo no lábio, girando um pouco mais
devagar, tentando determinar o que
parecia tão estranho sobre este lugar.
Isso me lembrou de algo.
Um lugar seguro.
Um prado de flores com uma casa
escondida em uma árvore.
Shade, murmurei, suspirando
enquanto a energia violeta queimava ao
meu redor. A tristeza me dominou e uma
sensação de traição espreitou sob as
ondas de energia.
— Aflora... — Meu nome veio em
uma brisa, os tons profundos e
masculinos me lembrando de um
Guerreiro de Sangue.
Zeph, pensei, sentindo meu coração
acelerar. Ah, sim. Zeph.
Mas ele não estava no meu prado.
Apenas sua magia verde cintilava ao
meu redor, o tom sombrio me lembrando
de uma floresta de sempre-vivas. Meus
lábios se curvaram com o pensamento, o
cheiro de sua colônia amadeirada
tocando meus sentidos.
Segui a trilha criada por sua
presença masculina, procurando...
procurando... procurando.
Só que um fio de luz roxa me fez
parar. Shade.
Sua loção pós-barba mentolada
rodou ao meu redor, me chamando para
uma área mais escura na beira do prado.
Eu não tinha notado antes, o sol tendo
iluminado todos os cantos no início do
dia.
Humm, algo não estava certo neste
pequeno recanto.
Mas sua presença crescia a cada
passo, sua energia sombria seduzindo
minha Fae interior.
Magia sombria.
Enrolei um fio cerúleo em volta
dele, testando o espiral de fumaça, e
sorri enquanto ele puxava de volta.
Venha dançar comigo, pequena
rosa, ele estava dizendo. Ou foi assim
que interpretei o convite, de qualquer
maneira.
Meus pés descalços roçaram no
último resquício de grama ensolarada
antes de atravessar a soleira escura do
quarto da Academia de Kols.
Pisquei, assustada com a mudança.
Então fiquei boquiaberta com os três
homens sem camisa na cama de Kols.
— Isso deve ser um sonho —
sussurrei para mim mesma, notando suas
feições esculpidas e rostos lindos.
Kols, com suas mechas ruivas de
cabelos grossos e íris douradas.
Zeph, com seus fios escuros e olhos
verde-floresta.
E Shade, com aquele sorriso
perpétuo e olhar cor de gelo. Ele estava
sentado ao pé da cama, usando boxers
pretas.
Kols e Zeph estavam encostados na
cabeceira, os lençóis de seda em seus
quadris e deixando uma sugestão de
nudez.
Olhei para baixo e me vi vestida da
mesma forma, com uma regata surrada e
shorts masculinos, nada mais. Torci os
lábios em consideração.
— Geralmente estou nua em nossos
sonhos.
— Estamos tentando não distrair o
propósito deste sonho — Zeph falou.
— Oh. — Limpei a garganta. —
Bem, todos vocês estão... — Acenei
com a mão para seus peitos nus e limpei
a garganta novamente. — Desculpem.
Qual é o propósito disso agora?
Kols riu.
— Acho que ela está bem, Zeph.
— Venha aqui, linda flor — meu
companheiro Guerreiro de Sangue
exigiu, estendendo o braço.
Normalmente, eu recuaria, mas eu
realmente queria obedecer desta vez.
Então me arrastei em direção à cama e
rastejei em cima dele para roubar um
abraço muito necessário. Embora eu não
conseguisse me lembrar do porquê
queria um. E tocá-lo fez meus olhos se
encherem de lágrimas.
Enterrei o rosto na curva de seu
pescoço, inalando seu cheiro familiar, e
estremeci contra ele.
— Não acho que ela esteja bem —
ele disse, fechando os braços ao meu
redor, em um abraço repleto de calor e
poder.
Segura, pensei. Eu me sinto segura
aqui.
Entre meus companheiros.
Mas não era real. Isso estava na
minha cabeça, e fez meu coração doer
com uma sensação de perda aguda.
— Não sei o que há de errado
comigo — admiti, engolindo em seco.
— Eu... eu... sinto... me sinto tão triste.
— Ele encantou a mente dela —
Shade murmurou em voz baixa. — Posso
ver as teias de sua magia enfiadas em
seus pensamentos.
— Ele? — repeti. — Ele quem?
— Zakkai — Zeph disse,
emoldurando meu rosto para fazer com
que eu olhasse para ele. — Ele te levou
a um paradigma. Eu pude sentir sua dor.
Ele te machucou?
— P-paradigma? — Reconheci esse
termo. Mas não conseguia definir. Assim
como eu conhecia Zakkai, sua descrição
permanecia fora de alcance. — Isso...
— parei, franzindo a testa.
Tudo era tão mágico, perfeito e
bonito.
Meus companheiros estavam nus.
Humm, queria lamber todos eles.
Espere, pensei, balançando a
cabeça. Isso não está certo.
Eu tinha ido de... de algo... para...
Todos eles tinham que ser tão
perturbadores?
— Vocês precisam de roupas.
Kols estendeu a mão para mim, as
linhas de tinta ao longo de seus braços
se contorcendo com poder hipnótico.
Zeph soltou meu rosto, baixando as
mãos para meus quadris. Olhei para
baixo, notando como eu montava suas
coxas.
Por que estou usando roupas? me
perguntei, mordendo o lábio. Esse não é
o objetivo dos sonhos. Eu deveria estar
nua. Mas não acabei de dizer a eles...?
Eu me encolhi quando a palma de
Kols encontrou minha bochecha. Sua
pele queimava contra a minha, seu poder
era uma onda de choque que arrancou
um suspiro da minha garganta.
— Oh! — Arqueei o corpo e quase
caí, mas a mão de Zeph pousou na parte
inferior das minhas costas, me
segurando com firmeza.
A energia zumbiu através de mim
enquanto a magia guerreava dentro da
minha alma.
Fechei os olhos, caindo no buraco
sombrio de energia rodopiante,
procurando a causa da perturbação.
Vermelho e cerúleo lutavam.
Cores lindas.
Tão brilhantes e vibrantes.
Só que eles estavam tentando
destruir um ao outro.
Não, não, não poderia ser isso. Eles
eram bonitos demais para prejudicar um
ao outro.
Eu os puxei, separando as duas
cordas e empurrei-as para separar os
recessos da minha alma, então acordei
no colo de Zeph mais uma vez.
Ele estava gritando.
Kols tinha caído da cama, e Shade
estava tentando ajudá-lo a se levantar.
Fiz uma careta.
— O que aconteceu?
— Zakkai — Zeph grunhiu o nome.
Eu pisquei e ofeguei.
— Ele quer matar o Kols!
— Não me diga — Shade retrucou,
seu tom me assustando. Ele nunca falou
comigo assim.
E considerando como deixamos as
coisas, ele deveria estar rastejando.
— Você me deu para Zakkai — disse
a ele, tudo voltando para mim em um
cerco de insanidade. Essa parte não era
importante. Eu precisava contar a eles
sobre suas intenções para Kols. Mas,
espere, eu já tinha feito isso.
— Você está bem? — Zeph
perguntou, segurando minhas bochechas
mais uma vez. — Preciso saber que
você está bem. Pude sentir sua dor.
— Minha dor? — repeti, tentando
me afastar para olhar Kols, mas Zeph me
segurou com firmeza.
— Aflora, Zakkai machucou você?
— Não — respondi, franzindo a
testa. — Não, a Dakota me machucou.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Dakota?
— Uma Elite de Sangue — falei. —
Ela me atingiu com um feitiço horrível.
Isso... isso me paralisou. O Zakkai a fez
parar. Então ele me levou de volta...
para dormir... em seu quarto. — Olhei
ao redor enquanto o sonho começava a
se confundir. — Zeph, ele quer matar o
Kols. — Tentei agarrá-lo para garantir
que ele entendesse, mas minha mão o
atravessou.
— Aflora!
— Zeph! — gritei, saltando em sua
direção. — Ele quer matar o Kols!
Ele me pegou pela cintura quando eu
quase caí no chão e me puxou de volta
para a cama. Eu me enrolei em seu colo,
tremendo.
— Não sei onde estou — sussurrei.
— Não sei onde ele está me mantendo,
mas há montanhas e sol.
Olhei para cima, um apelo para que
ele me encontrasse se formando em
meus lábios, só que seus olhos ficaram
azul-prateados. E seu cabelo escuro
agora caía em ondas brancas ao redor de
seus ombros.
Zakkai.
Meus membros congelaram. Meu
coração parou de bater. Meus olhos se
arregalaram.
Ele sabia do meu sonho.
Ele sabia que eu o traí.
Ah, flores, sou uma Fae morta...
Seus lábios se curvaram.
— Não vou puni-la por lealdade,
Aflora — ele sussurrou, segurando
minha bochecha e pressionando os
lábios na minha têmpora. — Na
verdade, admiro bastante essa
característica em você. — Ele me
colocou contra seu peito nu, e o calor de
sua pele pareceu descongelar um pouco
do gelo que cobria minhas veias.
Ele... ele não parecia bravo.
Talvez ele estivesse escondendo?
Jogando algum tipo de jogo mental de
novo? Ele tinha mais memórias minhas
para alterar?
— As memórias são reais — ele
falou baixinho. — Passei os primeiros
dez anos da minha vida com sua família,
sete desses anos com você. Nós éramos
melhores amigos, Aflora.
Balancei a cabeça, negando cada
palavra.
— Você colocou essas memórias lá.
— Não. Mas as removi em algum
momento. — Ele suspirou, seu olhar
assumindo um brilho distante. —
Sabíamos que os Anciões haviam
descoberto nossa localização no reino
Fae Elemental, e era apenas uma questão
de tempo até que eles viessem atrás de
nós. Meu pai tentou convencer seus pais
a fugirem, mas eles se recusaram porque
isso significaria deixar a Fonte da Terra
para trás.
Ele ficou em silêncio por um
momento, sua expressão irradiando uma
dor que eu podia sentir através do nosso
vínculo. Apertou meu coração, fazendo
meus olhos se encherem de lágrimas.
Não porque doía, mas porque eu sofri
por ele.
— Nós nos comprometemos com o
vínculo. — Ele limpou a garganta, sua
voz mais baixa e mais rouca de emoção.
— Então eu apaguei todas as suas
memórias de mim e meu pai para
protegê-la dos Anciões. Foi o pior dia
da minha vida. A agonia de remover
todos aqueles momentos, saber que
minha companheira não me conhecia
mais, foi uma tarefa que nenhuma
criança de dez anos deveria ter que
suportar. Mas não tive escolha. Era isso
ou colocar sua vida em risco. Este
último era um destino inaceitável.
Me lembrei de vê-lo no chão, se
contorcendo em tormento enquanto a
magia girava no ar.
— Seu pai disse para você agir
como um homem. — As palavras saíram
em um sussurro.
Zakkai grunhiu.
— Uma de suas frases favoritas da
minha infância. Tenho certeza de que ele
ainda quer me dizer isso às vezes.
Eu balancei a cabeça.
Não é real.
Não acredite nas mentiras dele.
Mas parece ser verdade.
Não consegui encontrar nenhuma
evidência de adulteração dentro da
minha mente. O que era estranho, porque
ele tinha feito alguma coisa.
— Tudo o que fiz foi terminar de
desvendar o feitiço — ele falou. —
Você começou o processo com sua
música. Eu terminei com a teia. Parecia
a maneira mais fácil de convencê-la da
verdade, só que você ainda não acredita
em mim.
— Meio difícil de acreditar em
alguém que continua fazendo jogos
mentais comigo — murmurei.
— Justo — ele concordou, subindo e
descendo a mão em minha coluna. —
Mas o fato é que costumávamos ser
melhores amigos. Você era minha Flora,
e eu era seu Kai. Nós íamos a todos os
lugares juntos. — Seus lábios se
curvaram e ele balançou a cabeça
lentamente. — Às vezes, parece que foi
em outra vida. Eu nem me lembro mais
daquele menino.
Estudei seu perfil, notando a
sinceridade em suas feições. Parte de
mim queria acreditar nele, mas eu sabia
que não deveria me envolver por sua
história tão rapidamente. No entanto,
enquanto ele parecia disposto a fornecer
detalhes, decidi que uma pergunta não
prejudicaria nossa situação.
— Se você não é aquele garoto,
então quem é você?
Ele me considerou por um longo
momento. Tanto tempo, que pensei que
ele pretendia me ignorar, ou talvez
responder com outro enigma.
Em vez disso, ele estendeu a mão
para colocar uma mecha do meu cabelo
atrás da minha orelha, em seguida,
passou os dedos pela lateral do meu
pescoço.
— Sou um ser de vingança — ele
disse suavemente, seu olhar seguindo o
toque enquanto ele traçava minha
clavícula com as costas de sua mão. —
Quero justiça pelo que foi feito aos
Quandary de Sangue. Justiça por seus
pais. Um novo reinado para corrigir os
erros dos Elite.
— Um novo reinado?
— Humm. — Seu olhar voltou para
o meu. — Você não considerou como
poderia ser?
— Honestamente, só estou tentando
sobreviver.
Ele assentiu.
— Sim. Eu entendo mais do que
você imagina. — Ele deixou cair a mão
no meu quadril, e senti seu corpo
relaxado sob o meu. — Você aprova
como o Conselho opera hoje?
— Acredito que você se refira ao
Conselho Fae da Meia-Noite.
— Sim. Estou me referindo à
hierarquia dirigida por homens, onde se
espera que as mulheres se curvem e
apenas aceitem seu lugar. Você aprova?
— Claro que não. Quando o Shade
me mordeu, eles nem me deixaram
participar do meu próprio julgamento.
Disseram que meu noivo tinha que falar
em meu nome.
Ele sorriu.
— É ridículo, não é? Quero dizer,
prefiro lógica, mas também entendo o
papel que o sentimento desempenha nas
decisões. Mas Constantine Nacht criou
uma ditadura baseada apenas em
resoluções duras, sem qualquer
preocupação em como isso afeta os
outros.
— Constantine Nacht é a causa? —
perguntei. — O avô do Kols?
— Foi ele quem promulgou todas as
mudanças há pouco mais de um milênio.
Tudo porque ele temia a emoção
feminina. — Zakkai revirou os olhos. —
Shade lhe contou a história de Zenaida?
Como ela escolheu seguir seu coração
ao invés do dever? Porque ela é a causa
de tudo isso. Ou melhor, ela é o bode
expiatório que o Conselho usa para sua
decisão hierárquica.
— Ele me contou como Constantine
Nacht fez dela um exemplo. Ela se
escondeu com seus companheiros depois
que ele deu a ordem para erradicar os
Quandary de Sangue.
Zakkai assentiu.
— Sim. E o pai de Shade assumiu o
trono Sangue de Morte em vez de sua
mãe, porque Constantine declarou que as
mulheres não eram adequadas para
liderar. — Ele revirou os olhos
novamente. — Foi tudo uma manobra
para estabelecer sua hierarquia
grosseira. Pelo que meu pai disse,
Constantine sempre considerou as
fêmeas como o gênero mais fraco, já que
apenas os machos podem acasalar por
meio da mordida.
— Faes Elementais requerem um
acordo mútuo para o acasalamento.
— Sim, eu sei — ele respondeu,
curvando os lábios. — Você escolheu o
Kolstov.
— Sim. — Eu não ia negar. — Você
não pode matá-lo.
— Ele é um Nacht, Aflora. Eles têm
que morrer para que o poder seja
legitimamente restaurado.
— Mas ele não fez nada de errado.
O avô dele fez. Você não pode puni-lo
pelos pecados de outro homem.
— Na verdade, posso. Sua linhagem
manchou a espécie Fae da Meia-Noite
por mais de mil anos. Aqueles que
buscam retribuição exigem a
erradicação da linhagem Nacht. E
pretendo cumprir essa erradicação.
— Isso não faz de você melhor que
Constantine — argumentei. — Ele tentou
matar uma raça inteira por causa do
preconceito. Sua lista de mortes pode
ser menor, mas você ainda planeja tirar
vidas inocentes.
— É um sacrifício que devemos
suportar pela justiça.
— Não vou deixar você matar o
Kolstov.
Ele suspirou.
— Quando chegar a hora, você não
terá escolha, Aflora. Mas... — ele
pressionou o dedo nos meus lábios antes
que eu pudesse responder —concordo
em considerar o seu lado se você
concordar em considerar o meu.
Fiz uma careta.
— Não entendo.
— Eu quero que você me dê uma
chance de explicar esta guerra para
você, para te mostrar por que a família
Nacht precisa pagar por seus pecados.
E, em troca, também considerarei seu
ponto de vista.
Semicerrei os olhos.
Obviamente, eu não acreditava que
ele iria defender seu lado desse acordo.
Assim como eu sabia que nunca
concordaria que ele machucasse Kols.
No entanto, sua confiança me fez pensar
que truque havia em sua manga.
— O que você tem em mente? —
perguntei.
Ele sorriu.
— Quero que você participe do
Baile de Gala de Sangue comigo.
Baile de Gala de Sangue?
Esse foi o evento que Emelyn
mencionou na aula de Magia do
Guerreiro antes que o inferno
começasse.
Fae, quando foi isso? Ontem? No dia
anterior? Eu pisquei. Minha noção de
tempo estava uma confusão, graças às
intermináveis ​horas de sol – que ainda
entravam pelas janelas da sacada do
quarto de Zakkai – e todos os sonhos
bizarros.
Balancei a cabeça, tentando limpá-
la.
— Vai recusar? — Zakkai perguntou,
franzindo a testa. — Não pretendo fazer
nada no evento. Só quero que você
observe o evento social e me dê suas
considerações depois.
— Eu estava balançando a cabeça
em confusão — admiti, mordendo o
lábio. — Você quer minha opinião?
— Eu quero te ensinar — ele
corrigiu em voz baixa. — E para fazer
isso, preciso te mostrar como os Fae da
Meia-Noite operam.
— Em um baile? — pronunciei as
palavras lentamente, sem entender como
uma festa chique me explicaria algo
sobre Faes da Meia-Noite.
— O Baile de Gala de Sangue — ele
afirmou.
— Certo. Mas como um baile vai
mudar minha opinião sobre o Kols?
— Não é sobre Kolstov, Aflora. É
sobre propósito.
— Eu... eu não estou entendendo o
que você quer dizer.
Ele considerou por um momento
antes de dizer:
— Esse baile é político.
— Sim, eu entendo essa parte.
— Não, acho que você não entende
— ele murmurou com os olhos presos
nos meus.
Meu coração acelerou.
— Certo — a palavra saiu em um
sussurro. Porque a intensidade em seu
olhar me disse que eu não ia gostar do
que ele pretendia dizer a seguir.
— Aflora, o Baile de Gala de
Sangue é um evento anual que celebra a
morte dos Quandary de Sangue. É
oferecido pela família Nacht, e o único
objetivo é que eles se regozijem com
todo o sangue que derramaram. É isso
que eu quero que você veja.
CAPÍTULO ONZE
ZAKKAI

O SILÊNCIO DE AFLORA CONFIRMOU QUE


ela não sabia o propósito do Baile. Ela
não nasceu Fae da Meia-Noite, então
não cresceu com histórias de horror
sobre os Quandary de Sangue e nossas
terríveis intenções.
Quase bufei.
A família Nacht destruiu a sexta casa
Fae da Meia-Noite. Tudo por ganância e
poder. Infelizmente, essa era uma
história tão antiga quanto o próprio
tempo. Todos buscavam o controle. No
entanto, Quandary de Sangue foram os
que nasceram com ele.
— O que você planeja fazer no
Baile? — Aflora perguntou baixinho.
— Eu já respondi isso — falei.
— Você espera que eu acredite que
você só quer que eu observe?
— Não espero nada de você —
admiti. — Estou perguntando se você
vai comigo para que eu possa explicar
melhor nossa causa. Isso é tudo.
Fui sincero.
O baile era um lugar óbvio demais
para atacarmos. Além disso, nossos
disfarces já exigiriam uma quantidade
exorbitante de poder. Adicionar
violência à mistura não seria um bom
presságio para ninguém envolvido.
Ela me observou, seus olhos azuis
irradiando inteligência. Isso me fez
querer espiar dentro de sua mente, ouvir
seus pensamentos. Muitas vezes, ela os
verbalizava, tornando uma tarefa fácil.
Mas esperei que ela as pronunciasse
em voz alta, contente em continuar
segurando-a no meu colo. Ela não
resistiu muito, e gostei de como se
inclinou para o meu toque. Nosso
vínculo amadureceu ao longo dos anos,
apesar do feitiço para mascará-lo.
Quebrá-lo doeria mais do que fazê-
la esquecer – um fato que meu pai
parecia ignorar. A dor serviu como uma
ferramenta de ensino para ele, algo que
usou para fortalecer minha
determinação.
Mas desafazer minha conexão com
Aflora não tinha um propósito
verdadeiro. Permanecermos ligados nos
fortaleceria.
— Quero falar com meus
companheiros — ela disse de repente,
me fazendo franzir a testa.
— O quê?
— Você quer que eu confie em suas
intenções. Estou te dando uma maneira
de ganhar um pouco dessa confiança. Me
deixe falar com meus companheiros e
vou considerar participar do Baile de
Gala de Sangue.
Ela não estava em posição de
negociar comigo. Eu poderia tecer um
encantamento de submissão ao redor
dela, então arrastá-la para o evento.
Masa uma parte jovem e imatura de mim
desejava que ela participasse de boa
vontade.
Essa parte estava ligada ao menino
que eu costumava ser.
O menino que considerava Aflora
sua melhor amiga.
— Você quer falar com seus outros
companheiros — repeti em voz alta,
pensando em seu pedido. Isso me daria a
oportunidade de mostrar meu lado mais
gentil – um lado que eu provavelmente
só revelaria a ela. Mas seria em meus
termos, em um ambiente que eu pudesse
controlar.
Como o sonho que ela acabou de
experimentar.
Sim.
Eu poderia permitir isso.
Então eu não apenas conquistaria sua
aquiescência, mas também me daria a
oportunidade de descobrir mais sobre os
outros e o relacionamento deles com
Aflora.
Assenti lentamente, decidindo um
caminho a seguir que funcionaria para
nós dois.
— Tudo bem. Você pode sonhar com
eles. Mas não pode mencionar o Baile.
E eu estarei lá para supervisionar.
Ela franziu a testa.
— Isso dificilmente prova que você
é confiável.
— A confiança funciona nos dois
sentidos, Aflora — respondi. — Você
me mostra que posso confiar em você,
enquanto eu mostro que você pode
confiar em mim. Parece um
compromisso razoável para mim.
— Você quer matar o Kols.
Eu não ia mentir para ela.
— Quero.
— Você não pode fazer isso nos
sonhos.
— Na verdade, eu poderia — disse,
considerando a possibilidade. — Mas
não vou. — Seria terrivelmente
insatisfatório. E... — Não vou te usar
para machucar seus companheiros. Não
sou assim.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Quem é você? — Ela bufou uma
risada sem humor. — Você atacou uma
academia cheia de estudantes e a aldeia.
Tenho certeza de que sei quem você é
apenas por essas ações.
— Eu desocupei o prédio Sangue de
Morte antes de lançar um feitiço
inofensivo que eu sabia que seria
consertado em questão de horas. E não
ataquei a aldeia — corrigi. — Então,
por sua definição, você não me conhece.
— Você não atacou a aldeia? — Ela
franziu a testa. — Mas senti sua energia
por toda a rua.
— O dia em que você e Zephyrus
foram visitar o lugar? — Foi a minha
vez de soltar uma risada. — Estrela, o
que você sentiu foi minha proteção.
— Eu te ouvi rir.
— Sim, achei cativante que você
tenha pensado que poderia lutar comigo
— admiti. — Assim como a algumas
horas atrás.
Ela fez uma careta, e eu sorri.
Quando ela semicerrou os olhos,
senti pena e ofereci uma explicação
mais completa.
— Os Anciões atacaram alguns
conhecidos apoiadores dos Quandary de
Sangue na aldeia, e é por isso que a
essência em torno do crime era de Elite
de Sangue na natureza. Então eles
deixaram um presente encantado para
trás, um destinado a Quandary de
Sangue. Você me sentiu te proteger
contra aquele feitiço. E eu me diverti
porque você estava tentando lutar contra
minha proteção. — Eu suavizei suas
linhas de expressão com meu polegar.
— Não ataquei a aldeia, Aflora. Anrika
é uma velha amiga da família.
— Anrika? A dona da taverna?
— A própria. — Eu não a conhecia
tão bem quanto meu pai, mas ela era uma
defensora de longa data da nossa causa.
Os lábios carnudos de Aflora se
entreabriram, atraindo meu foco para
sua boca.
— Ela disse que sabia sobre mim...
por um velho amigo.
— Deve ser a Zenaida — murmurei.
— A avó do Shade. Eles sabiam sobre
nossa ligação, e Anrika conhecia seus
pais também. Ela e Zurik, seu
companheiro, foram os que ajudaram
meu pai e eu a escapar. Só que os
Anciões descobriram suas ações e, bem,
Zurik pagou por isso.
Engoli em seco, me lembrando da
cena. Foi minha primeira exposição real
à crueldade dos Anciões Faes da Meia-
Noite, e o conselho que se curvou a
todos os seus caprichos.
— Zurik disse aos Anciões que
forçou Anrika a ajudá-lo. Eles a fizeram
provar de alguma forma. Não sei os
detalhes, mas tem relação com sua
morte. Acho que eles a obrigaram a
fazer.
— Isso é horrível — Aflora
murmurou.
— É apenas a ponta do iceberg —
eu disse, dando-lhe um aperto. —
Constantine Nacht é a favor da pena de
morte. Na verdade, ouso dizer que ele
gosta. Por qual outro motivo ele
insistiria em um baile anual que celebra
o extermínio de uma raça inteira de
Faes?
O que nos trouxe de volta ao tópico
em questão.
— Tudo que eu quero é uma chance
de mostrar a você porque sou quem eu
sou, Aflora — acrescentei em voz baixa.
— Eu poderia forçá-la. Mas preferiria
sua participação voluntária.
— Você critica o Constantine por
favorecer a pena de morte, mas sua
intenção é matar toda a família dele —
ela respondeu. — Você não vê o erro
fatal nessa linha de pensamento?
Suspirei.
— A família Nacht é responsável
por milhares de Faes da Meia-Noite,
Aflora.
— Kols não é — ela insistiu. — Ele
ainda nem é o rei.
— Não, ele é apenas o herdeiro
destinado a assumir as rédeas violentas
de seu pai — falei, impassível. — Seu
destino é se tornar minha maior ameaça.
Nós vamos duelar. É inevitável.
— Você não o conhece como eu —
ela sussurrou. — Ele não está bem com
o que seu pai e os Anciões fizeram.
— Uma vez que ele ascender, seus
sentimentos pessoais não se aplicarão
mais. — Tentei suavizar a voz, mas ela
se encolheu. — Vamos deixar essa
discussão para mais tarde e focar em
nosso exercício de confiança. Leve-me
para seus companheiros. Vou me
comportar em seu sonho. Talvez você
considere ir ao baile comigo.
Ela engoliu em seco, arregalando os
olhos azuis.
— A-agora?
— É uma hora apropriada para
sonhar — eu disse, notando o sol do
meio-dia lá fora.
Claro, sempre fazia sol aqui. Fiz
isso para esconder nosso paradigma
neste reino.
No entanto, eu podia ler o tempo
porque conhecia as nuances da minha
criação. Era quase meio-dia no reino
Fae da Meia-Noite, tornando-se a
calada do dia para nossa espécie. Todos
estariam dormindo, ou deveriam estar,
de qualquer maneira. Se não estivessem,
o feitiço dela os puxaria para a terra dos
sonhos.
Eu a coloquei ao meu lado e fiz um
show ao deslizar sob os lençóis antes de
levantar a seda preta em convite.
— Prometo que não vou tocar em
nenhum deles. A menos que eles me
ataquem, então só vou me defender. —
Como fiz com Kolstov na primeira vez.
Ele tinha como alvo meu encantamento,
e eu retaliei. Parecia justo, considerando
nossos destinos sombrios.
Ela mordiscou o lábio novamente,
então se juntou a mim. Os lençóis se
movendo sobre sua pele atraíram seu
foco para suas pernas expostas, e ela
franziu o cenho.
— O que eu estou vestindo?
— Minha camisa — respondi,
achando graça que ela só tenha notado
agora. — Deite-se e nos leve para a
terra dos sonhos, Aflora. Quando estiver
satisfeita, vamos dormir.
Ela colocou a cabeça no travesseiro
com a testa ainda franzida e os olhos
azuis cautelosos.
— Não vou machucá-los — repeti,
fazendo o melhor para esconder minha
irritação. Tudo o que ela precisava fazer
era olhar para o nosso vínculo para
encontrar minha sinceridade.
Eu queria machucar seus
companheiros? Sim.
Eu faria? Ainda não. Talvez nunca.
Pelo menos no que dizia respeito a
Shade e Zephyrus. O primeiro me
divertia. O último, fornecia magia
defensiva a minha companheira. Os dois
motivos eram dignos para mantê-los
vivos.
Mas Kolstov morreria. Só que não
hoje.
— Aflora? — chamei quando tudo o
que ela fez foi olhar para mim. —
Preciso repetir minha promessa uma
terceira vez?
— Ah, não. — Ela limpou a
garganta. — É só... eu não tenho
certeza... Bem, eu não sei como... — Ela
parou, franzindo o nariz do jeito que
costumava fazer quando éramos
crianças.
Curvei os lábios. Eu amava esse
olhar. Parte confusão, parte
aborrecimento. Não por mim, mas por
ela mesma. Que foi como eu descobri o
que ela queria dizer.
— Você não sabe como invadir seus
sonhos.
Ela assentiu.
Meu sorriso cresceu.
— Que desonesto. Eu sei que eles
brincaram em sua mente inúmeras vezes,
mas ninguém te mostrou como retribuir o
favor?
— Aprendi a assumir o controle,
hum, do meu jeito.
Memórias de seu corpo nu debaixo
de mim povoaram minha mente,
aquecendo meu sangue.
— Ah, estou muito familiarizado
com seus métodos, estrelinha.
Suas bochechas ficaram vermelhas.
— Achei que você fosse uma
invenção.
— Eu sei — respondi, me
inclinando lentamente para dar a ela uma
chance de se mover. Quando ela não o
fez, toquei de leve meus lábios nos dela
em um beijo casto.
Ela estremeceu em resposta,
permanecendo imóvel.
Considerei isso uma pequena vitória
e um prelúdio para nossa longa batalha
pela frente.
— Cada pedacinho do que fiz com
você foi real — sussurrei. — Quando
estiver pronta para uma apresentação ao
vivo, me avise e vou te mostrar o que
acontece quando estou no controle. —
Eu a beijei novamente – um toque mais
ousado, mas ainda suave – e me afastei
para ver suas bochechas coradas.
Ela parou de respirar.
Não por medo, mas algo parecido.
Em vez de insistir no assunto, decidi
oferecer outro ramo de oliveira em
forma de lição.
— Feche os olhos, Aflora. Vou te
ensinar os encantos dos sonhos.
CAPÍTULO DOZE
AFLORA

MEU CORAÇÃO ACELERADO TORNOU


difícil ouvir o feitiço sussurrado de
Zakkai. Mas acabei entendendo o que
ele queria que eu dissesse e pronunciei
o encantamento em minha mente
enquanto focava em Zeph. Sua
propensão para a magia defensiva fazia
dele um candidato ideal para afastar
Zakkai se ele escolhesse ir contra sua
promessa.
Não vou machucá-los, ele murmurou
através do nosso vínculo. Você vai ver.
Se você me trair, nunca mais vou
confiar em você, respondi.
Eu nunca usaria você para
machucá-los, pois isso te colocaria em
risco também. Ele pronunciou as
palavras com tal firmeza que, por um
momento, quase acreditei nele.
Então meu cérebro me lembrou que
ele queria matar Kols, e voltei a me
preocupar com esse sonho.
Não está funcionando, eu disse.
Porque você está pensando demais
e se preocupando comigo em vez de se
concentrar em seu Guerreiro de
Sangue, ele respondeu. Apenas respire e
relaxe, Aflora. Imagine onde você quer
ir e tente novamente.
Ele fez parecer muito fácil. Sob
quaisquer outras circunstâncias, eu teria
concordado com ele. Mas tê-lo ao meu
lado e saber o que ele pretendia fazer
me deixou cautelosa para envolver meus
companheiros.
Uma onda de emoção aqueceu meu
vínculo com Zakkai; a sensação me
pegou desprevenida enquanto ele
inundava minha mente com seus
pensamentos.
Todos de uma vez.
Sua frustração por eu perder tempo
me preocupando com um item
inconsequente, seguida por suas
garantias de que ele não queria me
machucar e aos outros, e finalizado por
uma onda de energia protetora que
destacou sua necessidade de me manter
segura.
Esse fio final de seus pensamentos
mostrou o conflito que ele se recusava a
se envolver – prejudicar meus
companheiros através da minha mente
me prejudicaria também.
— E eu não vou fazer isso — ele
disse em voz alta. — Me dê uma chance,
Aflora. Você me conheceu no passado.
Posso não ser mais aquele garoto, mas
meu voto de proteção ainda permanece.
O que minha alma provou nestes últimos
meses. Você usou meus poderes mais de
uma vez. Eu poderia ter te parado. Mas
eu nunca coloquei uma trava em você.
Ou um colar.
Essas três palavras me fizeram
estremecer.
— Você sabe disso?
— Eu podia sentir — ele respondeu
por entre os dentes. — Houve muitos
momentos em que eu queria te encontrar,
mas sabia que você não estava pronta.
Esse era todo o propósito da música. No
momento em que você cantou aquelas
palavras, a contagem regressiva
começou. E aqui estamos.
— Você está sendo muito mais
aberto agora — sussurrei, pensando em
seus enigmas. Isso foi ontem? O tempo
realmente importava?
— Sempre fui acessível, Aflora.
Mesmo em seus sonhos, eu te disse a
verdade.
— Você expressou a verdade como
perguntas.
— Sim, para fazer com que você
considerasse alternativas.
— Você poderia ter apenas
expressado essas alternativas —
apontei.
Senti seu sorriso – algo que não
pude ver porque meus olhos estavam
fechados, mas senti através do nosso
vínculo. Ou talvez fosse apenas sua
diversão e minha mente criou a imagem
de suas covinhas.
— Há muitas coisas que eu poderia
ter feito, estrelinha. Acho que mereço
algum crédito por não tirar vantagem de
uma situação muito voluntária.
Minha pele aqueceu com o
significado em seu tom.
— Achei...
— Sei o que você achou — ele
interrompeu. — É por isso que teria
sido fácil. — Sua voz era como seda,
envolvendo meus nervos e me afogando
em sensações quentes.
Abri os olhos para encontrá-lo
pairando sobre mim. Seu quarto não
estava mais ao nosso redor. Em vez
disso, estávamos deitados em um
canteiro de flores, o paraíso do aroma
da Terra para os meus sentidos.
— Ahh — murmurei enquanto minha
alma se regozijava com as deliciosas
oferendas no ar.
Zakkai passou os lábios na minha
bochecha até chegar ao meu ouvido.
— Você prefere esse sonho,
estrelinha? — ele perguntou, sua
respiração quente e sedutora na minha
pele. — Podemos fazer o que você
quiser aqui. Uma fantasia. Sem regras.
Sem destinos sombrios. Apenas nós nos
divertindo em um vínculo que nunca
consumamos de fato. — Ele beijou o
ponto de pulsação sensível do meu
pescoço, enviando um choque pela
minha coluna.
Minhas coxas se apertaram em torno
de seus quadris musculosos. Ele ainda
usava a boxer e mais nada. E eu estava
nua debaixo dele – algo que deveria ter
me preocupado, mas o leito de Terra
parecia bom demais contra minha pele
para reclamar.
— Isso... — parei com um suspiro
quando seus lábios encontraram minha
clavícula.
— Você conhece o feitiço — ele
disse. — Use-o, ou vamos ficar aqui e
brincar. — Ele começou a beijar meus
seios, fazendo com que minha mente se
desfocasse enquanto eu lutava para
manter nosso propósito.
Zeph, pensei. Eu deveria... sonhar...
com Zeph.
— Tique taque, Aflora — Zakkai
murmurou, roçando os dentes em meu
mamilo. — Faça uma escolha.
Enfiei os dedos em seu longo cabelo
branco e o puxei de volta para minha
boca.
— Pare de me distrair.
Ele pressionou os lábios nos meus,
apoiando a mão em minha bochecha. Me
obrigue, ele provocou em minha mente,
traçando com a língua um caminho ao
longo da minha boca.
Se eu o deixasse entrar, perderia
todos os meus sentidos.
Porque Zakkai era um deus do beijo.
Aprendi isso em sonhos. Ele sabia como
me tornar totalmente inútil com sua
língua habilidosa.
Não, não, não, pensei, lutando pelo
controle.
Zeph me ensinou melhor do que isso.
Me concentrei em nosso vínculo de
companheiro e na porta que me
bloqueava de sua mente. Pare com isso!,
exigi, irritada com o bloqueio.
O feitiço não é meu, Zakkai
respondeu, roçando o nariz em minha
bochecha. — Shade o colocou, estrela
— ele sussurrou em meu ouvido. —
Desfaça-o.
— Por que ele o colocou?
— Imagino que ele esteja
preocupado que eu possa acessá-los
através de sua mente. — Ele roçou meu
pescoço com os dentes, então se
concentrou no meu pulso novamente.
— Você pode fazer isso?
— Não sei — ele murmurou. — Mas
se o Shade sentiu a necessidade de me
bloquear, sugere que ele previu o ato ou
aconteceu em outra linha do tempo.
— Linha do tempo? — repeti.
— Ele não te contou sobre sua
propensão a brincar com o tempo? —
Zakkai se apoiou nos cotovelos, fazendo
seu cabelo branco cair como uma
cortina ao meu redor. — Um de seus
melhores amigos é um Paradoxo Fae.
Kyros.
— Trapaceiros — sussurrei, me
lembrando da vez que Shade mencionou
brincar com um habitante do tempo. Ele
estava conversando com Ajax sobre isso
antes da aula de Conjuração Avançada.
Foi o dia em que peguei uma pedra e
sobrevivi à explosão na Academia.
Uma explosão que Zakkai havia
orquestrado.
— Você plantou a pedra — falei,
gelo correndo em minhas veias com a
memória. — Você me fez viver através
da explosão.
Zakkai olhou para mim com uma
pontada de confusão em seus olhos
azuis.
— Que pedra?
— Da aula de Conjuração Avançada.
— Não sei do que você está falando.
— O diretor Irwin nos ensinou um
feitiço de psicometria para invocar a
história dos objetos. Meu objeto era uma
pedra. Eu era você. Balancei minha
varinha e disse: Alqisian, e uma voz me
disse que este era o meu futuro, que um
dia eu seria você.
Zakkai saiu de cima de mim, se
apoiando no cotovelo ao meu lado, com
a expressão nublada.
— Quem estava com você durante
esta aula?
— Shade — eu respondi.
— Envolva-o em um sonho
primeiro. Quero saber o que ele sentiu.
Pisquei para ele, confusa.
— O que ele sentiu?
— Não fui eu, Aflora. Estou curioso
para saber se ele sabe quem enviou a
pedra ou se ainda a tem. Conhecendo
Shade, ele a guardou. Vamos perguntar?
— Mas ele... Eu não... — Limpei a
garganta. — Você não enviou a pedra?
— Não é meu estilo — ele falou. —
Vamos falar com o Shade. Pode ser mais
fácil se conectar com ele.
— Por quê?
Zakkai deu de ombros.
— Porque ele é bem-vindo dentro de
minhas alas.
— É?
— Sangues de Morte sempre
serviram a Quandarys de Sangue. A
maioria deles ainda o faz. — Ele deu de
ombros novamente. — É por isso que os
Sangue de Morte costumavam ser a
realeza dos Faes da Meia-Noite.
Quandarys de Sangue usaram Sangues de
Morte para aproveitar o poder da Fonte.
Muitos acreditavam – e ainda acreditam
– que Quandarys de Sangue trabalhavam
para os Sangue de Morte. Mas nunca foi
assim.
Isso era... muita informação
interessante. Mas meus pensamentos já
haviam se voltado para a rocha. Se
Zakkai não a enviou para mim, então
quem o fez? Ele estava mentindo?
Talvez. Embora, eu não tivesse certeza
do que ele tinha a ganhar com essa
mentira.
A menos que ele quisesse me incitar
a sonhar com meus companheiros.
Não, isso não podia estar certo. A
ideia foi minha. Bem, não uma ideia,
mas uma ordem. E eu estava perdendo
tempo discutindo isso em vez de agir.
Balancei a cabeça, afastando os
pensamentos, e fechei os olhos para
focar em Zeph novamente. Zakkai havia
pedido Shade, mas eu queria meu
companheiro Guerreiro de Sangue. Não
foi ele que me entregou de bom grado.
Embora eu soubesse que existia uma
explicação razoável – ou esperava que
existisse – ainda não havia perdoado
Shade. Eu consideraria isso depois que
ele me dissesse por que havia tomado
essa decisão.
A conexão entre mim e Zeph estava
cheia de linhas roxas. O feitiço de
Shade.
Cutuquei e estudei a estrutura.
Era um encantamento sólido. Mas eu
podia ver os fios minúsculos no final –
aqueles que me permitiram desenrolar
lentamente e aprender o feitiço.
Considerei parar, ciente de que
Shade tinha colocado isso aqui para
bloquear Zakkai, mas se eu pudesse
desvendá-lo, meu companheiro
Quandary de Sangue também poderia.
Isso tornou tudo um ponto discutível e
mais um obstáculo do que uma
necessidade.
— Muito bem, Aflora — Zakkai
sussurrou.
Suas palavras me distraíram
momentaneamente do meu objetivo,
fazendo com que a faixa voltasse ao
lugar.
— Pare de me espionar.
— Eu não estou espionando — ele
respondeu, roçando os dedos em minha
bochecha. — Posso apenas sentir sua
magia. Você é talentosa.
— Você quer dizer uma abominação
— corrigi, olhando para ele.
Ele sorriu.
— Você diz isso como se fosse uma
coisa ruim. Suponho que você foi
ensinada a acreditar, mas essa é uma
avaliação errônea conduzida por
aqueles que estão no poder.
— O Shade disse algo semelhante.
Ele disse que os responsáveis ​não
gostam de cruzamentos.
— Ele tem razão — Zakkai
murmurou, descendo seu toque até meu
pescoço. — Volte para sua tarefa,
Aflora. Prometo não interromper
novamente.
Eu o considerei por um momento,
então fechei os olhos novamente.
A magia de Shade reapareceu e
minha afinidade com quebra-cabeças
ganhou vida. A mão de Zakkai deixou
minha clavícula para descer pelo meu
braço, onde ele uniu nossas mãos e sua
magia floresceu em minhas veias.
Ativei meu vínculo com ele enquanto
brincava com os fios de Shade, minha
mente memorizando a magia no caso de
eu precisar substitui-la. Zakkai ainda
seria capaz de desfazê-la, mas talvez eu
pudesse adicionar algumas melhorias
para atrasá-lo.
Se isso fosse mesmo necessário.
Sua energia protetora parecia zumbir
ao meu redor, me garantindo que ele não
me colocaria em risco. Podia ser tudo
mentira. Mas uma parte infantil de mim
queria acreditar nele. Para testá-lo. Para
ver se ele falava a verdade.
Ele tocou meu pulso com o polegar,
em um toque reconfortante.
— Se tudo isso for um truque, vou te
odiar para sempre — sussurrei enquanto
puxava o último fio do feitiço de Shade.
Zakkai não respondeu.
Quase parei, mas decidi que só
havia uma maneira de saber suas
intenções. Então empurrei o vínculo
para a mente de Zeph e cantarolei o
feitiço que Zakkai me ensinou.
Tanoomeen Ma Ana.
A energia zumbiu ao meu redor
enquanto eu imaginava o lugar que eu
queria – o parque na cidade de Nova
York para onde ele me levou – e abri os
olhos para encontrá-lo encostado em
uma árvore, usando jeans e camisa de
botão. Ele semicerrou os olhos verdes
para mim antes de olhar por cima do
meu ombro.
— O que é isso?
— Acredito que chamam de sonho
— Zakkai falou enquanto se aproximava
para envolver os braços em minha
cintura. — Muito bem, estrelinha — ele
sussurrou em meu ouvido antes de dar
um beijo embaixo da minha orelha.
Fiquei tensa, esperando que ele
dissesse ou fizesse mais, mas tudo o que
fez foi me abraçar. Seu calor era um
cobertor de conforto nas minhas costas.
Zeph nos estudou sob seu olhar
intenso, os lábios achatados em uma
linha.
— Quem criou o sonho? — ele
finalmente perguntou depois de um longo
minuto de silêncio.
Engoli em seco.
— Hum, eu criei. — Achei que seria
óbvio pelo cenário, mas vi que ele
poderia pensar que Zakkai o havia
fabricado a partir de uma memória na
minha cabeça. Afinal, o Quandary de
Sangue gostava de brincar com minha
mente.
Ele mordiscou minha orelha.
— Eu ouvi isso.
— Fique fora da minha cabeça —
respondi.
— Isso não faz parte do nosso
acordo, estrela. Ao sonhar, estarei
monitorando todas as comunicações e
pensamentos. É um exercício de
confiança, lembra?
Torci os lábios quando Zeph
semicerrou ainda mais os olhos.
— Exercício de confiança? — ele
repetiu.
— Ele concordou em me deixar
andar nos sonhos com meus
companheiros em troca de...
— É um teste de confiança —
Zakkai interveio. — Estou provando que
não vou prejudicá-lo através da conexão
dela com você. Você não pode contar a
eles sobre o Baile, ele acrescentou em
minha mente. Eles não podem saber
sobre nossos planos de participar.
Oh. Certo. Limpei a garganta.
— Ele está tentando me tornar mais
bem-disposta.
— Você parece muito bem-disposta
para mim — Zeph respondeu, olhando
para os braços de Zakkai em volta da
minha cintura. — Ele está com você há,
o que, um dia? E você já está permitindo
que ele te ensine feitiços?
A advertência em seu tom me fez
eriçar um pouco.
— Se bem me lembro, deixei você
me levar para uma loja de roupas
mágicas em nosso primeiro dia juntos.
— Você não me deixou fazer nada,
Aflora. Você protestou contra tudo, até
contra o espaguete.
— Você não gosta de espaguete? —
Zakkai interveio, parecendo se divertir.
— Ela não gosta de muitas coisas —
Zeph o informou, se afastando da árvore.
— Por que estou aqui, Quandary de
Sangue? Que feitiço você teceu na mente
dela?
— Vários — Zakkai respondeu. —
Mas esse sonho é dela. Eu nem sei onde
estamos.
Zeph bufou.
— Você espera que eu acredite
nisso? Depois de colocar o Kols em
coma mágico?
— Kols está em coma? — repeti em
um suspiro. Girei nos braços de Zakkai.
— Você prometeu não machucar
ninguém!
Zakkai revirou os olhos.
— Eu não o machuquei. Ele atacou
meu feitiço, e eu retaliei, exatamente
como disse que faria. E isso aconteceu
no seu primeiro sonho, não neste. Ele
também está bem.
Zeph parou ao meu lado, seu foco
em Zakkai.
— Ele estava inconsciente na cama
segundos atrás.
— Da última vez que verifiquei,
cochilos não eram dolorosos — meu
companheiro Quandary de Sangue falou.
— Traga-o para o sonho, Aflora. Faça
com que ele confirme por si mesmo.
— Não — Zeph advertiu. — É uma
armadilha.
Zakkai apenas balançou a cabeça.
— Você deveria ter começado com o
Shade. Ele é muito mais agradável.
Considerei os dois, minha mente
alcançando a conexão para ler os dois
companheiros. A desconfiança inata de
Zeph me atingiu no coração enquanto a
essência de Zakkai ostentava
tranquilidade e sinceridade.
Encontrei seus olhos azul-prateados,
estudando-o atentamente.
Era um risco.
Algo que eu precisava correr para
saber a verdade.
— Tanoomeen Ma Ana — sussurrei,
concentrando minha mente em Kols para
trazê-lo para o sonho.
CAPÍTULO TREZE
SHADE

OLHEI PARA KOLS E ZEPH NA CAMA E


franzi a testa.
A essência de Aflora floresceu ao
redor deles, sua magia tecendo um
feitiço de sonho que manteve os dois
cativos em sua mente.
Zakkai deve ter mostrado a ela como
fazer isso, mas não consegui descobrir
por quê. Ele nunca permitiu que ela
entrasse nos sonhos de seus
companheiros antes.
Claro, isso era o máximo que ela já
tinha chegado a qualquer um de nós.
Pelo menos, até onde eu sabia.
Seria finalmente a versão do nosso
destino que funcionava? Ou era um sinal
do fracasso?
Um Paradoxo Fae não poderia evitar
a morte – algo que Kyros e Tadmir
tinham me alertado desde o começo.
Uma vez que um fio de vida terminasse,
ele não poderia ser trazido de volta para
uma linha do tempo.
Não sem uma âncora, de qualquer
maneira.
E eu nem tinha certeza se isso
poderia funcionar.
Considerei os dois homens na cama,
debatendo meu próximo passo. Eu
queria me juntar a eles. Também
precisava falar com Ajax.
Todos os outros caminhos que tentei
falharam, e finalmente descobri o
porquê: todos eles giravam em torno de
Aflora. Então eu estava tentando um
novo caminho que Zakkai não seria
capaz de perceber. Algo que não estava
ligado a ele.
Outro risco.
Outro destino potencialmente
horrível.
Mas eu estava ficando sem opções.
Um puxão na minha consciência me
fez olhar para a cama novamente. Aflora
estava derrubando meu bloqueio, seu
poder parecendo ter crescido da noite
para o dia.
Por causa de Zakkai.
Suspirei. Ela estava adiantada. Eu
esperava que ela levasse pelo menos
mais uma semana para quebrar minhas
barreiras. Pelo menos, ela saberia como
colocá-los de volta quando chegasse a
hora.
Com um aceno de minha varinha,
conjurei meu telefone e mandei uma
mensagem para Ajax, dizendo que
queria encontrá-lo mais tarde. Eu tinha
que lidar com esse sonho primeiro,
assim como visitar Chern – ele esperava
que eu aparecesse em uma hora para
discutir métodos de rastreamento de
Aflora – e então eu poderia continuar
minha exploração do plano alternativo.
O descanso era para os fracos.
E eu não tinha tempo para fraqueza.
Então me deitei na cama perto de
Kols e fechei os olhos, cedendo ao
chamado de Aflora.
Pequena rosa, eu disse em sua
mente enquanto me materializava ao
lado dela e de Zakkai. O Central Park é
uma escolha interessante.
Então você pode me ouvir, ela
respondeu, seus olhos azuis brilhando
com poder.
Sempre posso te ouvir, murmurei,
enfiando as mãos nos bolsos da calça
jeans. Outra escolha interessante.
Estávamos todos igualmente vestidos em
trajes casuais, como se estivéssemos nos
preparando para um passeio pelo
parque. Se ao menos fosse tão fácil.
— Zakkai.
— Shade — ele respondeu. —
Preciso da pedra da aula de Conjuração
Avançada.
Era típico de Zakkai dar uma ordem
no lugar de uma saudação. Neste caso,
foi algo inesperado.
— Você está falando daquela que
quase sugou toda a vida da Aflora? A
que você deu a ela?
— Eu não a dei para a Aflora — ele
respondeu, franzindo a testa. — E o que
você quer dizer com quase sugou a vida
dela?
— Ela quase desmaiou com o
feitiço. E sua essência estava por toda
parte.
— Você atacou o edifício Morte de
Sangue? — Kols perguntou, com aquele
tom de aborrecimento arrogante que ele
gostava de usar.
Zakkai o ignorou em favor de mim.
— Deixe a pedra no lugar de
sempre. Quero rever a magia.
— Claro. Vou adicionar isso à minha
crescente lista de coisas a fazer —
respondi.
O Quandary de Sangue arqueou uma
sobrancelha branca.
— Hoje.
Dei de ombros.
— Por que não? — Eu não tinha
intenção de dormir, de qualquer
maneira. Mudei meu foco para Aflora,
observando seu olhar cerúleo cauteloso.
— Ele está te tratando bem?
— Você se importa? — ela rebateu.
— Você sabe que sim, pequena rosa.
— Estendi a mão para puxar uma de
suas mechas soltas de cabelo e lhe dei
um meio sorriso. Tudo bem, Aflora.
Posso lidar com o seu ódio.
Não te odeio, Shade, ela sussurrou
de volta. Mas não estou feliz com você.
Posso aceitar isso também,
respondi, sentindo meu coração se
apertar com a suavidade em sua voz. Eu
esperava sua ira, não sua compreensão.
Ela se afastou de Zakkai para me
abraçar. Ainda estou brava, ela avisou
enquanto eu retribuía o gesto. Mas você
ainda é meu companheiro, Shade.
Beijei o topo de sua cabeça e
encontrei o olhar surpreso de Zeph. Ele
não esperava por isso. E confirmou
semicerrando os olhos para Zakkai.
— Certo, agora eu sei que isso é
tudo besteira. Por que você nos trouxe
aqui? Para nos dar uma falsa sensação
de conforto?
Zakkai apenas o olhou e se
aproximou para encostar em um tronco
de árvore. Um zumbido de energia me
disse que ele sussurrou algo na mente de
Aflora. O que quer que fosse a fez olhar
por cima do ombro para ele.
O silêncio caiu enquanto eles se
comunicavam, então ela assentiu
lentamente e se virou em meus braços
para encarar Zeph.
— Kai quer me ensinar mais sobre
magia Quandary — ela disse. — Em
troca da minha cooperação voluntária,
ele vai me deixar sonhar com vocês.
Kai, repeti para mim mesmo,
olhando para o Quandary de Sangue. Ele
trabalhou muito mais rápido para baixar
suas reservas desta vez. Porque eu a
tinha dado a ele? Ou porque ele estava
jogando um novo jogo?
Ele sorriu para mim, então fechou os
olhos como se fosse tirar uma soneca.
— Eu deveria acreditar nisso? —
Zeph perguntou, chamando minha
atenção. — Tente de novo, Aflora.
— Não sei o que você quer que eu
diga — ela respondeu. — Ele quer que
eu coopere. Exigi acesso aos meus
companheiros em troca dessa
cooperação. É realmente tão difícil de
acreditar, Zeph? Ele não vai me deixar
ir embora. Vocês não podem me visitar.
Então estou fazendo o que posso para
ver vocês.
— Estou achando difícil acreditar
que ele permitiria que você nos visse
sem uma pegadinha — Zeph respondeu.
— Com certeza tem uma —
concordei. — Mas suspeito que ainda
não sabemos o que é.
Os lábios de Zakkai se curvaram,
seus olhos ainda fechados.
— Ele quer matar o Kols — Zeph
enfatizou.
— E toda a linhagem Nacht —
Zakkai concordou em tom baixo e
preguiçoso. — Talvez eu queira dar a
Aflora a chance de se despedir de seu
companheiro.
— Você não vai matar o Kols — ela
retrucou.
Zakkai apenas abriu as mãos em
resposta, como se dissesse: É o que é.
— Por mais divertido que seja
discutir minha destruição – uma
experiência que vou recusar – tenho uma
sugestão. — Kols permaneceu
estranhamente quieto durante toda a
conversa.
Suspeitei que fosse por causa do
poder que o circundava em uma nuvem
de proteção, destinada a retaliar no
momento em que Zakkai tentasse
qualquer coisa. Ele era o futuro rei. A
Fonte o protegia.
Mas a fonte não era realmente dele –
uma lição que ele acabaria aprendendo
com Zakkai. Supondo que chegasse a
isso.
O Quandary de Sangue abriu os
olhos.
— Gosto de sugestões.
— Que bom. Porque acho que você
vai aprovar esta — Kols respondeu, sua
arrogância rivalizando com a do
Arquiteto da Fonte. — O Conselho e os
Anciões usaram a Aflora como isca.
Agora eles querem rastreá-la através do
Shade. Suspeito que você já sabia que
isso aconteceria e tem salvaguardas para
proteger a você e a ela. Minha sugestão
é que trabalhemos juntos para manter a
Aflora segura. Com você. E vamos usar
os sonhos noturnos para planejarmos os
próximos passos.
— Então, sua sugestão é manter o
status quo, permitindo que eu fique com
a Aflora – uma situação sobre a qual
você não tem absolutamente nenhum
controle e não pode alterar. Claro. Isso
funciona para mim. — Zakkai fechou os
olhos novamente.
— Minha sugestão é aceitar o ponto
onde estamos e não perder tempo
lutando contra isso — Kols reiterou. —
E discutir uma resolução futura.
Pisquei. Essa reviravolta do destino
me fez endireitar a coluna.
Aflora pegou meu movimento,
porque suas costas estavam
pressionadas no meu peito. O que foi?
Kols nunca se ofereceu para
trabalhar com Zakkai, eu disse, incapaz
de esconder meu choque. Eles
geralmente... brigam.
As pálpebras do Quandary de
Sangue se ergueram enquanto ele
estudava o Príncipe Fae da Meia-Noite.
— Resolução futura? E como seria
isso para você, Nacht?
— Por um lado, seria um futuro onde
a Aflora vive. O que não é o que o
Conselho ou os Anciões têm em mente.
— Seu tom continha uma pontada de
irritação que ele normalmente reservava
para mim. Era muito bom ouvi-lo
dirigido a outra pessoa para variar. —
Acho que podemos concordar que
algumas mudanças na estrutura
hierárquica são necessárias. Ainda não
tenho certeza de como devem ser, pois
só tomei conhecimento dos desafios há
alguns dias, mas estou aberto a discuti-
los.
— E se eu disser que a única
maneira de tudo isso funcionar é matar
toda a linhagem da família Nacht? Você
concorda? — Zakkai perguntou,
erguendo a sobrancelha mais uma vez.
Ele esperou um pouco antes de sorrir e
dizer: — Sim, foi o que pensei.
— A morte nem sempre é a solução
— Aflora murmurou. — A menos que
você queira assumir o manto de matar e
acabar com vidas?
Os olhos de Zakkai se voltaram para
nossa companheira.
— Vingança requer sacrifício.
— Assim como a reforma — ela
rebateu. — Às vezes, temos que
sacrificar nosso desejo de vingança para
encontrar um caminho mais eficiente a
seguir.
Entreabri os lábios com sua
declaração.
Parecia algo que minha avó diria.
A expressão de Zakkai dizia que ele
sentia o mesmo. Ele bufou e voltou para
sua soneca.
— Cuide de seus companheiros,
Aflora. Precisamos dormir um pouco
antes de suas aulas amanhã. Seu novo
diretor não vai pegar leve com você.
— Mudar de assunto não resolve
nada — ela murmurou. — E de que aula
você está falando?
— Magia Quandary 101 — ele
respondeu. — Comigo como seu tutor
pessoal.
— E os outros cursos dela? — Zeph
perguntou. — Ela ainda está aprendendo
habilidades defensivas e ofensivas.
— Use os sonhos — Zakkai
respondeu, bocejando. — Ou não. Mas
não vou te deixar entrar no paradigma.
Não enquanto você estiver ligado ao
Elite de Sangue.
Kols e Zeph trocaram um longo
olhar. Eles não conseguiam se falar
mentalmente, mas senti que estavam
conversando de outra maneira. Talvez
através de olhares.
— A Aflora vai ficar onde está —
Kols falou. — Não vamos brigar por
isso, mas vamos ajudar o Shade a
esconder sua localização. Isso é para a
segurança pessoal dela mais do que
qualquer outra coisa.
— E vamos treinar nos sonhos —
Zeph acrescentou. — Para que ela possa
se defender se algo mudar ou acontecer.
— E discutiremos como uma
unidade como seguir em frente — Aflora
disse com o foco em Zakkai.
O Quandary de Sangue sustentou seu
olhar.
E ela ficou mais ereta diante dele,
como a rainha que seria.
Um fio de esperança se enrolou em
meu coração, a noção de que todos nós
poderíamos trabalhar juntos em um
sonho que sempre esteve tão fora de
alcance.
Deixei que ela florescesse por três
segundos. Apenas o suficiente para
espalhar um fio de calor pelas minhas
veias.
Então me lembrei de todas as
histórias em que falhei.
Eu não podia me dar ao luxo de ter
esperança.
Não até o fim.
— Tudo bem, doce estrela — Zakkai
falou baixinho. — Vou concordar com
esses termos por enquanto.
Suas palavras provocaram um
arrepio na minha coluna. Não por causa
da maneira como ele as falou, mas pela
implicação por trás delas.
Eles tinham acabado de fazer um
acordo.
Algo que nenhum de nós podia ouvir.
Mas eu sabia com o que ela tinha
acabado de concordar.
O Baile de Gala de Sangue.
Em dez dias, nossos destinos seriam
decididos.
Novamente.
CAPÍTULO CATORZE
KOLS

— NÃO GOSTO DISSO .


Zeph pronunciou uma variação
dessas três palavras após cada sessão
de sonho com Aflora esta semana. Eu
preferia as fantasias em que todos
acabávamos nus. Mas isso era
impossível com Zakkai observando do
canto.
O Quandary de Sangue raramente
falava. No entanto, sua presença era
sentida.
Esse arranjo não poderia durar para
sempre, como evidenciado por Zeph
andando ao meu lado.
— Volte para a cama — eu disse a
ele. — Ainda faltam algumas horas antes
de precisarmos sair. Devemos tentar
dormir um pouco. Enquanto os sonhos
permitiam que nossos corpos
descansassem, eles mantinham nossas
mentes ocupadas. O que nos deixava
cansados ​depois de intermináveis ​lições
na cabeça de Aflora.
— Como eu deveria dormir quando
aquele Quandary de Sangue está com a
nossa companheira?
— Ele é um dos companheiros dela
também — eu o lembrei.
— E você está bem com isso? —
Zeph questionou, girando para me
encarar. — Como você não está furioso
com isso, Kols? Você tem sido o
epítome da calma, como se essa situação
não significasse nada para você. Eu não
entendo.
— Como se não significasse nada
para mim? — repeti, arqueando uma
sobrancelha. — Isso significa tudo para
mim, Zeph.
— Mas você nem reagiu ao fato de
que a Dakota está lá. Você não ouviu a
parte de que ela atacou a Aflora?
Isso de novo, não.
— O que você quer que eu faça?
Que eu reclame e fique furioso? Nós
dois sabemos que quero matar aquela
vadia faminta por poder. E eu vou. se a
vir novamente. — Não apenas porque
ela machucou Aflora, mas também por
causa de nossa experiência passada. Ela
era como um mosquito de fogo que
simplesmente não sabíamos como nos
livrar.
— Então como você espera que
qualquer um de nós durma? Eu mal
consigo me concentrar, muito menos
tentar relaxar. — Ele retomou seu ritmo.
— Acabamos de aceitar que ele levou
nossa companheira a um paradigma em
algum local não revelado, cercada por
Faes que não conhecemos, e Dakota está
lá. E não fizemos nada para resolver
isso. Sem mencionar todas as besteiras
com o Conselho e os Anciões.
Ele passou os dedos pelo cabelo
escuro, seu torso flexionando com o
movimento.
Zeph tinha passado muitas horas na
academia esta semana, e o movimento
demonstrou. Ele estava mais musculoso.
E agora, aqueles músculos estavam
tensos.
— Você está mesmo me ouvindo? —
ele questionou, seus olhos verdes
brilhando com poder.
— Estou — respondi. E admirando,
acrescentei a mim mesmo. — Não estou
certo do que você espera que eu faça.
Não gosto da situação, mas a Aflora está
mais segura com o Zakkai no momento.
Não podemos protegê-la de forma
adequada com meu pai e Constantine no
meu pé.
Já tínhamos recebido ordens para
uma visita ao meu pai esta noite. Ele
queria discutir os preparativos para o
Baile de Sangue. E em uma estranha
reviravolta do destino, exigiu que Zeph
fosse comigo para a Mansão Nacht.
— Mais segura — ele falou com o
desdém transformando a palavra em um
tom mais sombrio. — Não tenho certeza
se concordo com essa avaliação, dado
seu histórico na Academia.
— A Aflora disse que não foi ele,
mas uma armadilha do Conselho. —
Considerando tudo o que eles fizeram,
não achei muito difícil de acreditar.
— Sim, nos levando para um tópico
e uma questão totalmente diferentes: ela
parece estar acreditando nas besteiras
dele, o que me faz questionar seriamente
sua inteligência.
Suspirei.
— Você não está falando sério. —
Chegamos longe demais para que ele
realmente se sentisse assim em relação a
Aflora. — Você sabe que ela é brilhante.
Também sabe que ela não é de confiar
com facilidade. Ela foi traída muitas
vezes. Por nós.
— Você está dizendo que
merecemos? — ele perguntou, o fogo
verde cintilando nas pontas dos seus
dedos. — Que isso é algum tipo de
punição por todos os erros que
cometemos?
— Não, Zeph. Estou dizendo que
precisamos confiar em nossa
companheira. — Rolei para fora da
cama e entrei em seu caminho, forçando-
o a parar.
— Não.
Eu o toquei mesmo assim, sem medo
de seu temperamento. Ele poderia
descontar em mim o quanto quisesse.
Nós dois poderíamos aproveitar uma
boa sessão de luta. Ou talvez de sexo.
— Olha, já estabelecemos que ela
não pode deixá-lo sem lutar e também
que não temos um lugar seguro para ela
aqui. O Conselho e os Anciões planejam
matá-la assim que ela se mostrar inútil.
E pelo que entendi, Zakkai a localizará
mesmo se conseguirmos resgatá-la.
Então, por que não trabalhar com ele
para protegê-la enquanto tentaamos
solucionar o problema maior?
Sua mandíbula flexionou quando ele
cerrou os dentes.
— O que te faz pensar que o Zakkai
não é o problema maior?
— Eu acho que ele vai se tornar um
— admiti. — Mas o Conselho e os
Anciões estão mais prementes agora. —
Como podemos ver nos fios de poder se
contorcendo em meus braços. — Eu
deveria ascender a um trono cheio de
corrupção.
— Você sabe disso há anos.
— Não da extensão — respondi
enquanto passava as mãos para cima e
para baixo em seus braços nus. — Não
sabia dos problemas maiores, só aceitei
tudo porque não havia alternativa. E
agora, não tenho ideia do que vou fazer.
Estou unido a Aflora. O Shade também
acabou de me morder. Ainda tenho três
testes de ascensão, mais o que estou
falhando atualmente. Meu avô quer adiar
minha herança do trono por causa disso,
e acho que meu pai também está
considerando essa possibilidade. Então
o que eu faço, Zeph? Devo Fugir? Nós
devemos fugir? Nos esconder em um
paradigma?
Balancei a cabeça e dei um passo
para trás para me sentar na cama
novamente, apoiando a cabeça nas mãos.
— Não tenho mais ideia de quem
sou. — Tudo o que eu achava que sabia
tinha virado de cabeça para baixo desde
que Aflora chegou. Parte de mim a
odiava por isso. Uma parte mais
inteligente reconheceu que não era sua
culpa. Ela foi apenas o evento quw
culminou nessa confusão.
— Você é o príncipe Kolstov —
Zeph disse.
— E o que isso significa? —
perguntei a ele, apoiando os antebraços
nas coxas enquanto olhava para ele. —
Nós dois sabemos que não posso
ascender. Não com meus vínculos com
Aflora e Shade.
— Você acha que a Fonte vai rejeitá-
lo?
— A Fonte, não — murmurei. — O
Conselho. Os mais velhos. Todos da
espécie Fae da Meia-Noite. Eles vão me
rejeitar. — Eu teria sorte se eles não me
matassem.
E ainda assim, eu não me
arrependia.
— Desisti de muita coisa por eles.
Minha identidade. Minha vida. Cada
momento tem sido sobre o meu futuro
como rei. Mas eles me colocaram em
julgamento pelo incidente da Academia,
sabendo o tempo todo que não era eu.
Eles nunca pediram desculpas ou mesmo
reconheceram o descuido. Enquanto
isso, estavam ocupados atacando a
aldeia e incriminando Zakkai? —
Formulei a frase como uma pergunta,
porque ainda não tínhamos provas. Mas
era uma acusação fácil de acreditar,
dado todo o resto.
— Ele pode estar mentindo — Zeph
apontou. Foi sua reação imediata quando
Aflora nos contou o que Zakkai havia
dito sobre a aldeia. Aparentemente, ele
também não tinha deixado aquela pedra
para ela na aula de Conjuração
Avançada.
— Ele pode estar mentindo —
repeti, concordando com Zeph. — Mas
por quê? O que ele ganha com isso?
— A cooperação da Aflora — Zeph
respondeu. — Que parece ser o que ele
quer. Daí os sonhos.
— Talvez, mas ele tem que saber
que ela vai odiá-lo se descobrir que ele
mentiu.
— Você supõe que o ódio dela o
incomodaria.
Considerei, franzindo a testa.
— Não te incomodaria? Como seu
companheiro?
— Eu não sou o Zakkai.
— Não é — concordei. — Mas
dado tudo o que o Conselho e os
Anciões estão escondendo, acho
razoavelmente fácil de acreditar que
eles estavam por trás disso. — Também
confiava nos instintos de Aflora. Ela não
explicou porque acreditava em Zakkai,
mas eu não precisava que ela
acreditasse.
E nem Zeph.
Era de sua natureza protetora
questionar tudo e todos. Meu Guardião
exigia controle, e não havia nenhum
aspecto dessa situação que ele pudesse
controlar. Foi isso que o deixou
chateado.
Ele voltou a andar de um lado para o
outro, com os ombros tensos.
Desamparo não era bom para ele.
Também me senti assim, mas cresci em
um mundo onde eu não tinha voz sobre
meu futuro. Tudo foi mapeado para mim
antes que eu respirasse pela primeira
vez. Desde então, estava seguindo por
esse caminho, seguindo cada diretriz ao
pé da letra.
E para quê?
Para descobrir que estava na linha
de frente de uma guerra que pensei ter
acabado há mais de mil anos. Não só
isso, mas eles esperavam que eu lutasse
também. Matasse. Que aproveitasse o
poder da Fonte e o usasse para
assassinar aqueles que tecnicamente o
criaram.
Puta merda.
— Preciso de uma distração — eu
disse, olhando ao redor. — Precisamos
de uma distração. — Nossa vida estava
ruindo, e estávamos sentados, vendo
tudo desaparecer.
Eu me levantei novamente, parando
em frente a Zeph enquanto ele me
encontrava no meio do caminho. Suas
íris queimaram com poder. Ele queria
machucar alguém. Eu podia ver essa
necessidade à espreita em seu olhar.
— Me use — eu disse. — Desconte
em mim.
— Não.
— Faça isso, Zeph. — Coloquei a
mão em sua nuca e agarrei seu quadril
com a outra. — Me destrua.
— Não.
— Idiota teimoso — eu disse,
beijando-o.
Ele enfiou os dedos em meu cabelo,
puxando com força para me afastar, mas
afundei meus dentes em seu lábio
inferior para segurá-lo.
Ele rosnou.
Eu rosnei de volta.
Era isso ou nós lutaríamos, e a
segunda opção seria destrutiva.
Pelo menos, o sexo nos forneceria
uma válvula de escape.
Meu nome saiu de sua língua, o
aviso claro.
Aceitei como um desafio e o beijei
novamente. Ele me mordeu, tirando meu
sangue. Deveria ter me forçado a parar,
mas ao invés disso alimentei a essência
em sua boca com minha língua e
aumentei meu aperto.
Ele rosnou, meu sangue fornecendo o
impulso de poder que eu sabia que ele
desejava.
Como meu Guardião, ele poderia me
morder quantas vezes quisesse.
Absorver minha essência foi uma parte
fundamental de seu vínculo de
fidelidade quando éramos mais jovens.
Mas havia uma coisa que eu nunca
tinha feito: nunca o mordi de volta.
Isso colocaria um vínculo de
acasalamento entre nós, algo que nos
uniria ainda mais por toda a eternidade.
Meus dentes doíam para fazer
exatamente isso.
Mas por que não? Se Shade podia se
unir a mim, então eu poderia me unir a
Zeph. Nós já estávamos jurados um ao
outro de qualquer maneira. Podíamos
muito bem levar isso ao próximo nível.
Capturei seu olhar, então afundei os
dentes em seu lábio inferior novamente,
desta vez com força suficiente para fazê-
lo sangrar.
Ele arregalou os olhos.
— Kols...
Lambi a ferida e engoli, provocando
um suspiro agudo dele. Eu o choquei.
Puta merda, eu me choquei.
Isso foi imprudente.
Bruto.
Errado demais.
Mas eu não dava a mínima.
Ele balançou a cabeça em
descrença, os olhos arregalados com
uma infinidade de emoções.
— Você não deveria ter feito isso.
Dei de ombros. Eu já tinha arruinado
tudo, então por que não criar meu
próprio inferno?
— Me beije — exigi.
— Não.
— Puta merda, Zeph. — Suguei seu
lábio, lambendo a ferida e segurando
seu olhar enquanto fazia isso.
Suas narinas se dilataram.
Então repeti a ação.
Em seguida, criei uma nova ferida,
mordendo-o novamente, e ele sussurrou
em resposta.
— Kolstov.
— Zephyrus — respondi. — Devo
fazer isso de novo? Quero dizer, por que
não agora?
Suas narinas dilataram, seu peito
arfou. Então ele puxou meu cabelo e me
deu um beijo cheio de energia selvagem.
Gemi, sentindo seu gosto viciante,
perfeito e adoçado pela essência de
Aflora.
Eu podia senti-la nele, sua energia
era um sabor que eu sentia falta com
toda a minha alma.
Sua vida zumbiu através de mim
enquanto engoli mais sangue de Zeph. Eu
podia senti-la dentro de mim, como se
ela abençoasse nossa união com sua
presença.
Só que ela não estava aqui.
E eu sentia sua falta.
— Diga a ela o que estamos fazendo
— gemi enquanto Zeph me levava de
volta para a cama. — Diga a ela.
— Eu já disse — ele respondeu,
com os dedos no meu cabelo, seus
lábios roçando os meus. — Ela pode
sentir.
— O que ela está dizendo?
— Está ficando excitada. — Ele
sorriu com as palavras, então passou a
língua ao longo do meu lábio inferior. —
Ela gostaria de estar aqui.
— Eu gostaria que ela estivesse aqui
também — admiti.
— Suba na cama, Kols. Tire a cueca.
— O comando em seu tom era algo que
eu queria contrariar, mas sabia que ele
precisava do controle agora.
Eu disse a ele para descontar em
mim, para me usar. E o olhar em seus
olhos me disse que ele faria exatamente
isso.
Então o obedeci, tirando a boxer
preta e deslizando para o meio da cama.
Ele pegou o lubrificante da mesa de
cabeceira e o jogou para mim. Eu o
segurei e arqueei uma sobrancelha para
ele, esperando.
Sua mandíbula tensionou.
Ele geralmente preferia minha boca,
mas senti que precisava de algo mais
esta noite.
— Ela pode sentir a nova conexão
— Zeph disse.
— Ela está bem com isso?
— Sim. — Ele se ajoelhou na cama.
— Ela não percebeu que o Shade tinha
te mordido, mas viu agora. Ela diz que
se sente mais perto de você.
— Eu me sinto mais perto dela
também — admiti, meu olhar caindo
para seu pau. O tecido mal o continha,
sua boxer estava esticada ao longo de
seu comprimento endurecido.
— Eu vou te comer — ele disse com
a voz sombria cheia de emoção
desimpedida.
— Eu sei.
— Não vou ser legal.
Sorri.
— Eu sei.
— Fique de joelhos.
CAPÍTULO UINZE
ZEPH

S E VOCÊ ESTIVESSE AQUI , EU FARIA VOCÊ


chupar o pau do Kols, falei na mente de
Aflora. Ele está duro pra caramba,
linda flor. Ainda tem um pouco de
esperma na ponta para você lamber.
Estendi a mão para limpar a
umidade com o polegar, depois o levei
aos lábios.
Aflora gemeu em meus pensamentos
enquanto eu descrevia sua essência para
ela em detalhes.
Zephyrus...
Sim?
Você está me fazendo querer... fazer
coisas comigo mesma.
Então se toque, eu disse.
— Aflora gostaria que você
estivesse na em sua boca agora — eu
disse a Kols. — Da próxima vez que
estivermos juntos, quero que ela te
chupe enquanto eu te como.
Seu pau pulsou visivelmente com as
palavras enquanto eu me ajoelhava atrás
dele. Ele ficava lindo assim, de quatro
diante de mim. Me inclinei para dar um
beijo em suas costas, ciente de que essa
não era sua posição favorita.
Mas ele estava fazendo isso por
mim.
Para me dar uma saída.
Para me fornecer um pouco de
controle.
Obrigado, falei, beijando suas
costas novamente enquanto acariciava
sua coxa. Então mudei o foco em minha
mente, envolvendo a conexão que Aflora
havia deixado em aberto nos últimos
dias. Eu podia senti-la guardando-a,
esperando que Zakkai abusasse disso,
mas até agora, ele permaneceu fora da
minha cabeça e da nossa conexão.
Você está se tocando, Aflora?
perguntei a ela enquanto pegava o
lubrificante. Kols estremeceu quando
abri a tampa. Esguichei um pouco em
minha mão, então a estendi para
acariciar seu pau, provocando-o. Estou
tocando o Kols, acrescentei baixinho.
Ele está gemendo bem alto.
Dei um pequeno aperto, pegando
mais do líquido pré ejaculatório.
Em seguida, apliquei o lubrificante
em seu traseiro e joguei o frasco sobre a
cama.
Aflora, chamei. Estou começando a
preparar o Kols para receber o meu
pau. Ele é quase tão apertado quanto
sua boceta.
Ela gemeu algo incoerente em minha
mente, me fazendo sorrir. Era quase
como se ela estivesse conosco, sua
excitação vibrando nosso vínculo.
O que você está fazendo, linda flor?
Está se acariciando enquanto eu como
o Kols com o dedo?
— O que ela está dizendo? — ele
perguntou, gemendo enquanto eu
aplicava um pouco mais de pressão com
um movimento dentro dele.
— Ela está brincando consigo
mesma — eu disse, sentindo seu prazer
crescente. — Está imitando meu ritmo
com a própria mão.
— Puta merda. — Ele arqueou
quando penetrei com mais firmeza e sua
pele corou com sua contenção.
— Não se atreva a gozar — eu
disse, repetindo as palavras em minha
mente para Aflora. — Sei que já faz um
tempo, mas vamos prolongar isso.
— Idiota — Kols murmurou.
Apertei seu membro.
— Sim — concordei, empurrando
meus dedos mais fundo nele,
preparando-o para o inevitável.
Diga-me onde você está, Aflora. O
que está fazendo. Descreva para mim.
Eu podia senti-la engolindo em seco,
seu calor era como um abraço bem-
vindo através de nossa conexão. Estou
no chuveiro, ela sussurrou, como se
tivesse medo de ser pega. Estou... estou
encostada na parede. Minhas pernas
parecem que não vão me sustentar.
Onde estão suas mãos?
Uma está me segurando, ela
respondeu, com a voz rouca e muito
doce. A outra está entre as minhas
pernas.
Fazendo o que, linda flor? Eu quero
todos os detalhes. Quantos dedos você
está usando?
Dois, ela admitiu.
Use três, eu disse, adicionando um
terceiro ao traseiro de Kols.
Ele apertou em torno de mim, então
acariciei um pouco mais seu pau para
soltá-lo.
— Eu avisei que não seria suave.
— Eu. Sei — ele grunhiu as
palavras, seu corpo tenso e quente. Me
inclinei para beijar sua coluna
novamente, incapaz de conter a gratidão
em meu toque. Ele estava sacrificando
muito nesta posição, me permitindo ter
todo o poder e se curvando para mim
quando deveria ser o contrário.
Tentei diminuir um pouco o ritmo,
mas ele grunhiu, ciente da minha
intenção.
— Não se atreva — disse. — Me dê
tudo, Zeph. Nós dois sabemos que posso
aguentar.
— Pode, sim — concordei,
removendo os dedos para puxar minha
boxer. — Espero que você esteja pronto.
— Estou.
Ele não estava.
Não exatamente.
Mas não ia lutar comigo sobre isso.
Fazia muito tempo para todos nós, e com
a respiração ofegante de Aflora em
minha mente e o sacrifício de Kols, fui
para o momento. Eu me alinhei com seus
quadris e o penetrei, provocando um
silvo de dor de Kols que rapidamente se
transformou em um gemido quando eu o
alcancei novamente para acariciar seu
pau.
Eu me curvei sobre ele, precisando
de seu toque, seu calor, sua alma.
Então agarrei seu quadril com a
outra mão e comecei a me mover.
Detalhei tudo para Aflora em minha
mente, dizendo a ela meu ritmo,
descrevendo os sons de resposta de
Kols, disse a ela que estávamos suando
e transando com uma intensidade crua
que ameaçava destruir a todos nós.
Ela estava com três dedos dentro da
boceta apertada, imitando o movimento,
e seus pequenos gemidos eram como
música através do nosso vínculo.
— Ela está perto — eu disse a Kols.
— Eu também — ele gemeu, sua
excitação pulsando contra minha palma
em concordância.
— Ainda não. — Eu queria que
gozássemos juntos, reacendermos os fios
de nossos laços e a chama entre nós.
Talvez isso estivesse só em minha
mente – uma consequência de nossa
distância.
Mas eu precisava desse momento
compartilhado para renovar a esperança
dentro de mim.
Zeph, Aflora gemeu. Por favor. Eu
preciso gozar.
Oh, sua voz era perfeita. Aquele
beijo refrescante do destino que eu
precisava para me levar ao limite
enquanto Kols se apertava ao meu redor,
me incitando a comê-lo com mais força
e rapidez.
Os dois juntos me empurraram para
o precipício do prazer, fazendo com que
eu quase perdesse de vista nosso
objetivo. Mas minha determinação
assumiu o controle, me dando tempo
suficiente para dizer:
— Agora.
O calor invadiu minhas veias quando
Aflora gozou em minha mente, então
Kols estremeceu debaixo de mim, seu
orgasmo se derramando em minha mão e
me forçando a chegar com ele a um
clímax de parar o coração.
A realidade me escapou.
O esquecimento me acolheu.
As estrelas brilharam para mim.
E por um momento fantástico, tudo
foi perfeito, como deveria ser, com os
três perdidos nos espasmos da paixão.
Sinto sua falta, Aflora, eu disse,
caindo sobre Kols, minha energia
esgotada, minha alma se acalmando pela
primeira vez esta semana.
Sinto saudade de vocês dois
também, ela respondeu enquanto eu
rolava Kols para se deitar na cama. Ele
tremeu, e eu o abracei após a nossa
brutalidade. Beijei seu ombro e seu
pescoço, sussurrei palavras de gratidão
em seu ouvido e acariciei seu abdômen.
A submissão não era natural para
ele.
E eu queria que ele soubesse que eu
entendia e apreciava o presente.
Ele me mordeu. Duas vezes. Me
obrigou a transar com ele. Sabia que era
o que eu precisava para finalmente
relaxar.
— Não te mereço — falei baixinho,
beijando o ponto sensível de seu
pescoço. — Mas nunca vou deixar de
tentar ser bom o suficiente para você.
Ele balançou a cabeça.
— Você sempre foi bom o suficiente
para mim, Zeph. Para a Aflora também.
Eu podia senti-la gemer em
concordância, sua mente de alguma
forma captando nossa conversa. Ou
talvez eu tenha falado para ela. Eu não
sabia mais dizer. Estávamos tão
conectados, tão ligados, que desisti de
tentar entender as nuances de nossas
conexões.
Em vez disso, permiti que a
segurança desse vínculo me embalasse
no sono.
Com Kols em meus braços.
Aflora em minha mente.
E o calor prosperando em meu
coração.
CAPÍTULO DEZESSEIS
AFLORA

P RESSIONEI A BOCHECHA NO AZULEJO


frio do chuveiro, com as pernas
tremendo com o poder do orgasmo que
tinha acabado de ameaçar consumir
minha alma inteira.
Zeph se acalmou, seus pensamentos
se transformando em sono.
Eu deveria estar me preparando para
mais um dia de treinamento com Zakkai,
e mal conseguia andar. O orgasmo não
foi suficiente. Não depois de tudo que
ele disse e fez em minha mente.
Kols e Zeph sempre foram sensuais
juntos, mas o vínculo intensificou tudo.
Eu não podia acreditar que eles
tinham se mordido.
E Shade? Quando ele mordeu o
Kols? Por que ele fez isso? Não era
característico do Sangue de Morte. Eles
se odiavam.
Engoli em seco, balançando a
cabeça e desliguei a água. Então caí
contra a parede.
— Fae — murmurei, sentindo meu
coração acelerado no peito. Isso foi
intenso e eu nem estava lá.
Levei vários minutos para encontrar
coragem suficiente para me mover.
Me enrolei em uma toalha e saí do
banheiro para o quarto de Zakkai.
Para encontrá-lo deitado na cama
usando jeans e um suéter preto justo,
com uma expressão de conhecimento.
— Tomou um bom banho, Aflora? —
ele perguntou, seu olhar azul-prateado
brilhando.
Limpei a garganta.
— Foi adequado — respondi com a
voz mais rouca do que eu pretendia.
— Apenas adequado? — Ele
arqueou uma sobrancelha. — Isso faz
com que me pergunte como é quando
você está realmente satisfeita.
Minhas bochechas aqueceram. Eu
não tinha me segurado no chuveiro,
muito perdida no momento para me
lembrar de sua presença do outro lado
da porta.
— Isso também me leva a acreditar
que eu era apenas adequado em nossos
sonhos anteriores. Talvez eu precise de
mais prática.
— Tenho certeza de que a Dakota
ficaria feliz em te atender — respondi
enquanto ia pegar minha varinha. As
palavras meio que escaparam da minha
boca. A Elite de Sangue era um
aborrecimento à espreita em minha
mente.
Ela estava em todos os lugares.
No almoço.
No jantar.
Aparecendo durante minhas sessões
de treinamento com Zakkai.
Ela se desculpou desde o início,
dizendo que a assustei com meu poder.
Era uma desculpa boba, algo que me
recusei a engolir. Porque nada sobre ela
me parecia genuíno.
Zakkai sorriu.
— Ah, ela se ofereceu várias vezes.
Mas não é meu tipo.
— Bonita, poderosa e disposta? —
perguntei antes de murmurar um feitiço
para trocar minha toalha por um
conjunto de saia e blusa. Adicionei
botas e outro colar de fios verdes,
vermelhos e roxos.
— Adoro ver você fazer feitiços
com seu guarda-roupa — ele disse,
passando os olhos por mim. — Só
queria que você os colocasse na cama e
os vestisse devagar. Não é como se eu já
não tivesse visto você nua inúmeras
vezes.
— Então você não deveria se
importar em perder esta oportunidade.
— Terminei meu conjunto com uma capa
e deslizei a varinha para dentro
enquanto ele observava. — Que lição
você vai me ensinar hoje?
— Espero que uma com a minha
boca.
Parecia que ele tinha uma mente
unidirecional. Assim como meus outros
companheiros.
— Feitiços geralmente requerem
habilidades orais, sim — eu disse a ele,
sorrindo. — Então eu espero que você
use sua boca e voz.
— Talvez eu rosne no seu clitóris —
ele respondeu, rolando para fora da
cama e andando em minha direção com
os pés descalços.
Era um visual bem sexy com seu
longo cabelo branco solto em volta dos
ombros, emoldurando o suéter escuro
que levava ao jeans justos.
Bem casual.
Confortável.
Ele segurou meu rosto com a palma
da mão, sua pele quente contra a minha.
— Minha oferta permanece, Aflora.
Apenas me avise quando quiser usar a
minha boca, e ela será sua enquanto
você quiser. — Ele se inclinou para
roçar seus lábios contra os meus. —
Quanto à lição de hoje, vamos lá fora.
Há alguém que quero que você conheça.
Ele enfiou a mão na minha capa para
pegar minha varinha e a usou para se dar
um par de botas marrons e uma jaqueta
de couro. Então a devolveu ao meu
bolso com uma piscadela.
— Vamos lá. — Ele se virou,
esperando que eu o seguisse.
O que eu fiz, porque ele mencionou
um dos meus lugares favoritos. A área
externa.
Estava morrendo de vontade de
explorar o exterior deste castelo, mas
não consegui encontrar uma porta. E
sempre que eu me afastava muito de
Zakkai, um feitiço laçava minha cintura
e me puxava de volta para seu lado.
Vagamos pelo labirinto de
corredores de pedra e vidro enquanto eu
olhava as tochas e o exterior o tempo
todo. Realmente era lindo aqui. Único
também. As chamas cintilavam ao longo
das paredes como um fio de luzes, sua
cor subjacente era azul cerúleo. Portas
apareciam esporadicamente – todas com
maçanetas adequadas e sem gárgulas – e
as janelas pareciam estar
estrategicamente posicionadas para
permitir o máximo potencial de
visualização do exterior.
— Onde estamos? — perguntei em
voz alta quando a parede se moveu
diante de nós para revelar uma escada
secreta que não estava ali. Fiz uma
careta. — Como você...? — Parei,
entreabrindo os lábios enquanto as
chamas desciam para iluminar os
degraus de pedra ao longo do chão.
— Estamos em um paradigma —
Zakkai respondeu. — Um que eu criei.
Ele reage aos meus desejos e
necessidades.
— Então é como aquele em que caí
quando a Emelyn e eu estávamos na
Floresta Mortal? — Isso me lembrou de
estar dentro de uma bolha mágica.
Parecia real, e era até certo ponto.
Como uma realidade alternativa dentro
de uma realidade.
— Esse foi um paradigma grosseiro,
mas semelhante — ele respondeu,
descendo. — Este é muito mais
complexo. Também está escondendo
cerca de cinquenta Faes dentro das
paredes de fronteira. O paradigma para
o qual você foi convidada foi criado às
pressas com o único propósito de
fornecer um lugar seguro para
conversarmos. Mas como você viu, os
Guerreiros de Sangue descobriram a
magia e a destruíram.
Fiz uma careta.
— Eles podem descobrir este?
— Só se souberem onde procurar.
— Ele parou no último degrau quando
outro lance de escadas se formou, então
continuou sua descida. — A chave para
um paradigma é colocá-lo em algum
lugar longe dos Faes da Meia-Noite.
Podemos sentir a magia. Também requer
muita energia para criar, e foi assim que
os Guerreiros de Sangue encontraram o
da Floresta Mortal. Felizmente, esse
paradigma não deveria permanecer. Este
é fortificado pela minha magia. Assim
como o do Shade é protegido por seus
avós. E ambos estão estrategicamente
localizados.
— Você quer dizer o prado dele? —
perguntei, pensando no sol, nas flores e
na casinha que Shade escondeu dentro
de uma árvore.
— Sim. Ele construiu esse
paradigma como um apego ao que seus
avós mantêm.
— Então, como uma bolha dentro de
uma bolha... dentro de uma realidade.
Ele parou no final da escada ao lado
de uma grande porta e olhou para mim
com uma sobrancelha arqueada.
— Uma bolha?
— É como eu visualizo os
paradigmas. Como uma bolha de
realidade alternativa dentro de uma
realidade.
Seu lábio se curvou de um lado.
— Mais como uma porta invisível
para outro mundo criado por magia. —
Ele deu um passo para trás através da
madeira e estendeu a mão para mim. —
Você precisa me tocar para que o castelo
permita que você saia — ele disse do
outro lado, sua voz abafada pela porta.
— Sempre? — perguntei, segurando
sua mão.
Ele me puxou e sorriu.
— Por enquanto. — Ele entrelaçou
nossos dedos e me levou para um jardim
cheio de flores coloridas.
Engoli em seco com a visão, minha
afinidade com a Terra florescendo para
a vida.
— Oh. — Eu o puxei em direção a
uma deslumbrante flor rosa e branca, e
minha mão livre alcançou a flor mágica.
Ele permitiu, sem dizer nada
enquanto eu acariciava as pétalas para
descobrir o nome da linda flor.
Lírio oriental.
— Nunca ouvi falar disso —
comentei. — De onde é?
— Do Reino Humano — ele
respondeu baixinho.
Acariciei outra flor a alguns metros
de distância, as brasas crepitando ao
longo de meus dedos. Beijo Acheron, a
essência sussurrou em minha mente. Fiz
uma careta. — E quanto a esta?
— Submundo — ele respondeu. —
De um Fae do Inferno.
Arqueei as sobrancelhas.
— Fae do Inferno? — Eu estava
familiarizado com as espécies infames.
Seu reino era considerado a terra dos
Faes rejeitados. — Você tem contato
com Faes do Inferno? — Eles eram
estritamente proibidos por todos os
reinos, seus poderes muito voláteis e
imprevisíveis. Muitos os queriam
mortos, como abominações.
— Conheci alguns. Eles não são
muito agradáveis — Zakkai respondeu,
seu polegar acariciando minha mão. —
Mas não trouxe você aqui para um
tutorial de flores, Aflora. Tenho alguém
para você conhecer.
— Mas como você encontrou esta
planta? — perguntei. — Tudo isso é
criado por magia?
— Minha magia, sim — ele
murmurou, gentilmente me puxando de
volta para o caminho. — Todo esse
paradigma é meu. Escolhi as cores e a
paisagem, e até criei o sol para rivalizar
com o do nosso exterior. Sua descrição
de uma bolha funciona nesse sentido –
assegurei que nosso sol nasça e se ponha
com o mundo exterior, para nos ajudar a
nos misturar.
— O sol nunca se põe — apontei.
Era uma característica que eu gostava
em seu pequeno oásis.
— Durante esta época do ano, não
— ele concordou. — Mas em seis
meses, não vai mais nascer.
Fiz uma careta.
— Nunca mais?
— Apenas por alguns meses, depois
voltará. — Ele me conduziu por um
portão de videiras deslumbrantes, e eu
levei um momento para apreciar a falta
de cobras e criaturas cruéis. Isso me
lembrou mais da minha casa com toda a
vida próspera e felicidade.
— Que reino tem sol por apenas
meio ano? — perguntei enquanto olhava
para as árvores e montanhas além.
Todos sussurraram suas espécies de
volta para mim, a miríade de nomes
incendiando minha alma Fae da Terra.
Eu queria brincar entre eles, aprender
tudo sobre suas raízes e criar vários
meus próprios.
— Existem certos lugares no Reino
Humano com iluminação única. Este é
um deles.
Fiz uma pausa no meio do passo.
— Estamos no Reino Humano?
Ele assentiu.
— Em um lugar onde nunca vão
procurar — acrescentou. — Este
continente é praticamente inabitável
para seres mortais, tornando-o um lugar
perfeito para esconder esse paradigma.
Entreabri os lábios, surpresa com
sua honestidade. A não ser que ele
estivesse mentindo apenas para me
testar.
— Eu poderia dizer isso a Zeph.
Ele deu de ombros.
— Poderia, mas não vai.
— Como você sabe? — pressionei.
— Deixei minhas conexões abertas para
ele. — Shade me bloqueou novamente, o
que permiti porque sabia que ele tinha
seus motivos. Ele estendia a mão uma
vez por dia para me verificar e se juntou
a alguns dos sonhos esta semana. No
entanto, na maioria das vezes, resistiu ao
meu puxão, algo que eu poderia ter
forçado, mas optei por não fazer. O que
quer que ele estivesse fazendo ficaria
claro em algum momento.
— Você valoriza a vida dele —
Zakkai respondeu.
Parei de andar novamente.
— Você está dizendo que vai matá-
lo se eu contar?
— Não diretamente — ele
respondeu, me puxando para frente mais
uma vez. — Minhas paredes são
reforçadas. Se ele tentar forçar a
entrada, não sobreviverá. Ninguém vai.
Melhor não tentar o destino?
— Você está dizendo que ele vai
tentar me encontrar se eu disser onde
estamos — traduzi.
— Não vai? — Zakkai perguntou
com os olhos brilhando ao sol enquanto
olhava para mim. — Ele não é adepto a
esconder suas frustrações, Aflora. Ele
não gosta que eu tire o controle dele
sobre você e seu destino. Mas, neste
caso, sou o único que pode protegê-la.
Eventualmente, ele vai ver isso.
— Por quanto tempo? — perguntei,
olhando para o aglomerado de árvores
no final do caminho. Parecia que
estávamos indo para a floresta.
— O que você quer dizer?
— Por quanto tempo você pretende
me manter aqui? — reformulei.
Ele deu de ombros.
— Ainda vamos decidir.
— Certo, então qual é o objetivo
final de tudo isso? — perguntei
novamente. — Você mata a família
Nacht — algo que eu nunca permitiria
que acontecesse — e depois? Você mata
todos os Anciões e os Conselheiros
também?
Ele pareceu considerar por um longo
momento, as árvores bloqueando o sol
enquanto ele nos guiava para a floresta.
Achei que ele pretendia me ignorar
depois de vários minutos de silêncio,
então ele disse baixinho:
— Então restabelecemos a ordem.
Será meu trabalho realinhar a Fonte e
definir uma nova monarquia.
— Uma nova monarquia para se
parecer com a antiga? Com Shade sendo
o rei legítimo? — Era um palpite
baseado em seu relacionamento estranho
e nos comentários sobre Sangues de
Morte e Quandarys de Sangue.
— Ele certamente terá uma posição
de poder, mas não estará no comando—
, Zakkai respondeu. — Suspeito que ele
será nomeado para o conselho
reformado pelo novo monarca.
— E quem será o novo monarca? —
instiguei. — Você?
— Eu sou o Arquiteto da Fonte,
Aflora. Não um monarca
— Mas você afirma ser rei.
— Uma designação apropriada, mas
não a mesma coisa — ele repetiu de
forma enigmática.
— Onde eu me encaixo nisso tudo?
— perguntei. — Como suposta rainha?
Ele apenas sorriu.
— Você deveria estar mais focada
no presente, Aflora. E o caminho bem à
sua frente, não a quilômetros de
distância.
— Se você quer minha cooperação,
precisa me dizer como eu me encaixo
em tudo isso — respondi. — Seu pai
parece pensar que vamos quebrar nosso
vínculo. — Ele havia tocado no assunto
novamente ontem, perguntando por que
não tinha sido feito. Zakkai tinha
acabado de mudar de assunto, como
sempre fazia quando falava comigo.
— Meu pai pensa muitas coisas. Isso
não torna nenhuma de suas declarações
ou teorias corretas.
— Isso não esclarece suas intenções
ou planos.
— Verdade — ele concordou,
apertando minha mão novamente antes
de me soltar.
Fiz uma careta.
— Achei que você havia dito que
precisávamos nos tocar para eu estar do
lado de fora.
— Acho que indiquei que era
temporário. — Ele sorriu ao apoiar a
mão na parte inferior das minhas costas.
— Agora se concentre, Aflora. Olhe a
sua volta.
Eu achava que Shade era um enigma
ambulante. Agora eu sabia como era
com Zakkai. Tudo o que ele dizia era
distorcido, me confundindo ainda mais.
Me enervava como ele podia revelar
tanto e tão pouco ao mesmo tempo.
Pelo menos, ele me disse onde
estávamos. Não que eu pudesse fazer
qualquer coisa com esse conhecimento.
Porque ele estava certo, Zeph viria atrás
de mim, independentemente do risco.
Precisávamos avançar, não
retroceder.
E eu estava temporariamente segura
aqui.
E também... contente.
Eu não queria admitir isso, mas esse
paradigma era muito mais confortável
do que a Academia Fae da Meia-noite.
Eu poderia respirar aqui, brincar com
minha magia Elemental e realmente
aprender. Não havia deficiências, nem
colares, nem fingimento. Eu era apenas
eu — Aflora. E isso me deixou me
sentindo rejuvenescida.
Em vez de pressionar Zakkai para
obter mais informações – uma tarefa que
eu sabia que não terminaria bem –
decidi jogar o jogo dele e observar a
vegetação ao nosso redor. As belas
árvores cantavam sua história, vida e
promessa, a felicidade em florescer
dentro dessa pequena bolha de realidade
alternativa.
Passei os dedos pelos galhos,
aprendendo sua magia e memorizando
para uso futuro.
Então parei quando um grasnado
gentil ecoou em meus ouvidos. Clove.
Eu me virei para encontrá-la em um
galho de uma das árvores, suas gloriosas
asas de penas pretas e brancas dobradas
ao seu redor.
— Ah, menina bonita! — Olhei para
Zakkai. — Você a chamou aqui?
— Não. Ela te seguiu no paradigma.
— Ele me observou. — Os
encantamentos nunca ficam longe. São
uma extensão do nosso poder,
semelhantes às varinhas. Ela não ficava
próxima de você na Academia?
— Não sei. Nos conhecemos há
pouco tempo — admiti. — Kols me
ensinou como chamá-la depois que o
encantamento de Zeph a matou. Fiz uma
careta para a lembrança e passei os
dedos por suas penas para neutralizar a
memória. — Ele se desculpou com ela...
depois que ela me trouxe um pica-pedra.
— Franzi o cenho. — Foi você que
mandou?
— Um pica-pedra? — Ele riu. —
Não. Mas suspeito que sei quem deu a
ela. — Ele estalou a língua, então se
agachou quando uma fera peluda correu
em direção a ele.
Arregalei os olhos quando a bola
branca de pelos o jogou no chão, seu
focinho grande o suficiente para
envolver a garganta de um homem. Mas
tudo o que ele fez foi passar a língua
pela bochecha de Zakkai em uma
recepção calorosa.
O Quandary de Sangue riu.
— Você deu um pica-pedra para a
Clove? — ele perguntou em um tom
caloroso, que me fez querer sorrir. Só
que suas palavras me fizeram franzir a
testa.
— Você sabe o nome dela?
— Claro que sim — ele respondeu.
— Você não sabe o nome do meu?
— Não. Mas presumo que aquela
fera seja seu encantamento, certo? —
Parecia apropriado.
— Ele não é uma fera. É um lobo.
Um lobo branco do Ártico deslumbrante
que adora a neve, não é mesmo, Zimney?
— Ele coçou a orelha pontuda do bicho
e sorriu para mim. — A lição de hoje
será sobre ouvir nossos encantamentos.
Podemos até perguntar sobre o pica-
pedra. Quando você o recebeu?
— No dia em que você atacou a
Academia — respondi.
Isso fez com que seu sorriso
vacilasse.
— Oh. — Ele franziu a testa. —
Você ainda o tem?
Argh, não, pensei, tremendo com a
lembranças daquela pobre criatura
morta no meu colo. Então limpei a
garganta e disse:
— Zeph o destruiu depois que Shade
o avisou que os Guerreiros de Sangue
estavam chegando.
— Interessante — ele murmurou, se
levantando devagar. — Dois incidentes
com meu suposto envolvimento em que
Shade se inseriu. Eu ainda preciso pegar
aquela pedra. Farei isso hoje depois da
nossa aula.
— Você está sugerindo que ele está
tramando alguma coisa?
— Ah, ele está sempre aprontando
alguma coisa — Zakkai respondeu, com
um tom divertido. — Se ele deve ou não
interferir desta vez, não estou certo. Não
o vejo tentando aborrecê-lo de
propósito, e pelo jeito que você se
encolheu em relação ao pica-pedra, não
foi uma experiência positiva.
— Eu não gosto da morte.
Ele assentiu.
— Sim, eu sei. Ele também parecia
bastante angustiado com a questão da
pedra, então duvido que tenha colocado
esse feitiço nela. Mas isso me deixa
imaginando quem está puxando as
cordas desta vez. — Ele deu de ombros.
— Independentemente disso, vamos
chegar ao fundo da questão. Depois da
nossa aula de hoje.
CAPÍTULO DEZESSETE
SHADE

— COMO ESTÃO SEUS PAIS ? —


perguntei enquanto me sentava na cabine
em frente a Ajax. Fazia alguns dias
desde a última vez que nos falamos, e
embora eu me importasse com sua
família, esse não era o verdadeiro
propósito da visita. Mas eu tinha que ser
legal para que meu plano funcionasse.
Eu não ia arriscar. Estávamos muito
envolvidos para esta rodada falhar. Se o
fizéssemos, eu perderia tudo: Aflora,
minhas memórias, possivelmente até
meus avós.
Não.
Isso tinha que funcionar.
O que significava que eu precisava
que Ajax atuasse como catalisador para
que todas as outras peças se
encaixassem.
— Estão se sentindo melhor — ele
respondeu. — Mas se recusando a sair.
— Ele se inclinou para frente, baixando
a voz. — Estão com medo de serem
atacados novamente.
O que não foi dito foi por eles.
Assenti para mostrar que eu entendia
a implicação e também que concordava
com a avaliação. Principalmente porque
eu tinha uma forte suspeita de que foram
os Anciões que atacaram a aldeia, não
Zakkai, algo que Aflora havia
confirmado durante uma conversa em
sonho na outra noite.
A confissão de Zakkai também
explicava o coma em que os pais de
Ajax haviam caído, algo que Malik
Nacht estava encarregado de monitorar.
Ou foi ele que os colocou naquele
coma? Era ele quem deveria acordá-los.
No entanto, levou vários dias, algo que
não deveria ter acontecido.
Havia três lados dessa revolução.
O Conselho Liderado pelos Anciãos.
Aqueles que acreditavam na
reforma, como minha avó.
E aqueles que desejavam vingança,
como Zakkai.
Enquanto as duas últimas partes não
concordavam, elas nunca foram
violentas uma com a outra. Então não
fazia sentido Zakkai atacar aqueles na
aldeia que ajudaram outros Quandary de
Sangue a sobreviver. Alguns podiam ser
mais a favor de resolver tudo
politicamente, mas ele nunca os
machucou por isso no passado.
Os Anciões, no entanto, sim.
Era muito mais provável que eles
fossem os responsáveis ​pela violência.
Os pais do Ajax eram pró-reforma, algo
que poucos sabiam. Embora o ataque
sugerisse que eles não foram tão
cuidadosos quanto pensavam.
— Oi, meninos — Anrika
cumprimentou, seu longo cabelo branco
estava preso em um coque hoje.
Conhecimento brilhou em suas feições
suaves, sua percepção infalivelmente
astuta. Ela sempre sabia o que eu estava
fazendo, assim como agora. Eu podia
sentir na maneira como ela me avaliou
com seus olhos verdes afiados. Sua
idade transparecia naquele olhar, lhe
dando uma aparência quase sinistra —
uma alma de mais de mil anos presa no
rosto de uma mulher de trinta.
— Oi, Anrika — respondi. —
Estamos aqui só para um lanche rápido.
— Eu sei. Já disse à cozinha para
preparar dois maltes de sangue. Sai em
alguns minutos.
— Você é a melhor — Ajax falou,
mostrando as covinhas quando lhe deu
um sorriso genuíno. Ele deixou o
piercing do lábio em casa, talvez porque
não estava com vontade de se furar
novamente.
Faes se curavam rapidamente, o que
significava que ele tinha que enfiar o
metal em sua pele toda vez que
desejasse usar o acessório. Isso lhe
dava um apelo que combinava com seu
cabelo escuro e olhos preto-azulados.
Um contraste surpreendente com nosso
amigo Seif, que tinha longos cabelos
prateados, olhos da mesma cor e presas
por causa de sua recente transição para
Fae Fortuna. Na verdade, eu não tinha
visto as mudanças pessoalmente, mas
meu avô me contou sobre elas.
— Como está o Seif? — perguntei,
já que eu estava pensando nele e
conversando com sua mãe. — Alguma
notícia sobre sua perseguição errante
pelos reinos?
— Ele anda quieto ultimamente —
ela respondeu, pensativa. — Acho que
pode ter encontrado sua ômega.
Contraí os lábios.
— Aposto que ela está dando
trabalho a ele.
— Espero que sim — Anrika
murmurou, com a expressão divertida.
— Ele precisa de um desafio.
— Precisa mesmo — concordei,
pensando no meu próprio desafio.
Aflora puxou minha corda mental como
se soubesse que meus pensamentos se
voltaram para ela, então abri nossa
conexão. Olá, pequena rosa.
O Zakkai quer falar sobre a pedra,
ela disse sem rodeios. Agora.
Fiz uma careta. Coloquei-a no local
desejado há vários dias. O que ele quer
discutir?
— Bem, vou deixar vocês dois
conversarem. — O tom de Anrika
implicava um significado subjacente que
ela confirmou acrescentando: — Diga
olá para Aflora por mim.
— Assim que a encontrar, passarei a
mensagem — respondi com cuidado.
Então murmurei: Anrika disse oi. Já
que, tecnicamente, encontrei minha
companheira em minha mente e isso se
qualificava, certo?
Aflora não disse nada, mas senti que
ela ainda estava em nossa conexão.
— Você está tramando alguma coisa
— Ajax falou assim que Anrika estava
fora de alcance. — Tem alguma coisa a
ver com uma linda Fae da Terra?
— Tudo o que faço tem algo a ver
com a Aflora. — Essa foi
provavelmente a maior verdade que já
revelei, mas eu disse isso com um
sorriso torto, destinado a confundir os
outros.
Não tínhamos como saber quem
estava ouvindo.
E como o Conselho estava atrás de
mim para localizar minha companheira
desaparecida, eu não deixaria que eles
tivessem acesso à informação, através
de feitiços de espionagem.
O Zakkai quer te encontrar, Aflora
disse de repente. Ele disse que você
sabe onde.
Diga a ele que só vou se você
estiver lá também, respondi, meu sangue
zumbindo com a possibilidade de ver e
tocar minha companheira.
Eu já disse isso, e ele concordou.
Foi uma pontada de diversão que ouvi
em sua voz?
Isso me fez sorrir, uma reação que
me rendeu uma sobrancelha arqueada de
Ajax.
— Algo divertido?
— Sempre — concordei quando
nossas bebidas chegaram com uma
gárgula com cara de pedra. — Vamos
precisar disso para viagem — eu disse
com um tom de decepção. — Acabou de
surgir alguma coisa.
A gárgula murmurou algo sobre
pirralhos Faes ingratos em resposta e
desapareceu com nossas bebidas.
— Ele vai adicionar pedrinhas —
Ajax comentou. — E o que aconteceu?
— Vou explicar no caminho —
respondi, saindo da cabine. — E uma
gorjeta saudável vai melhorar o humor
da gárgula — acrescentei em voz alta
para que a criatura de pedra me ouvisse.
Coloquei o dobro do pagamento na mesa
enquanto esperava que ele voltasse.
Com certeza, ele estava com um
humor muito melhor na chegada.
— Obrigado, Príncipe Shadow —
ele disse, se curvando. Não de maneira
zombeteira, mas respeitosa, que
demonstrava sua apreciação pela minha
generosidade.
Sério, as gárgulas eram as criaturas
mais fáceis de agradar.
Se certos Faes pudessem ser tão
receptivos.
Adicionei mais algumas moedas por
diversão, fazendo Ajax revirar os olhos.
Então pegamos nossos shakes, nos
despedimos de Anrika e nos
aventuramos pelas ruas de
paralelepípedos da vila.
— Espero que você não espere que
eu me curve, Príncipe Shadow — ele
falou.
— Não acho que você ficaria tão
bem de joelhos, Ajax — eu disse,
olhando para seu corpo alto e
musculoso. — Não é meu tipo também.
— No entanto, Aflora poderia se
ajoelhar para mim a qualquer dia, a
qualquer hora. E eu faria o mesmo por
ela também.
Ajax grunhiu.
— Como se eu fosse me oferecer.
— Eu me lembro de você ter dito
isso sobre uma certa Elite de Sangue
recentemente — respondi enquanto
conduzia o caminho de volta para o
vestiário. — Tenho certeza de que você
cai aos pés dela agora. — Era uma frase
falsa, uma que eu esperava que ele
pegasse e me desse a atualização que eu
desejava desesperadamente.
— Sim, bem, foi o que fiz. Então
você recomendou que eu dissesse a ela
para ficar calma, e agora ela não está
falando comigo.
— Oh? — Tentei não parecer muito
interessado, mas meu coração acelerou
com suas palavras. — Ela não quer se
esconder? — Eu sabia que ela não iria.
O que era inteiramente o ponto.
— Não, idiota, ela não quer. Então,
obrigado por essa recomendação.
— Você sabe que está melhor agora
— eu disse, tentando fazê-lo se sentir
um pouco melhor. Se tudo saísse como
esperado, eu agradeceria a ele mais
tarde. E então permitiria que ele me
desse um soco na cara. Porque, sim, se
esse plano se concretizasse, eu ganharia
sua ira e muito mais.
— Tente dizer isso a ela.
— Eu diria, mas tenho certeza de
que ela me odeia. — E com razão.
— Bem, agora ela também me odeia.
— Ela vai te perdoar — falei
enquanto atravessava a soleira para
pegar minha capa. — Tentando fazer
uma reverência. Tenho certeza de que
vai funcionar.
Ele resmungou.
— Eu te odeio às vezes.
Não, você não odeia, mas vai,
pensei enquanto usava um feitiço em
minha capa. Era difícil fechá-la com
uma mão, e eu realmente queria o meu
shake. — Preciso sair em uma missão.
— Algo que eu suponho que você
não vai explicar — ele respondeu
enquanto usava um encantamento
semelhante para colocar sua capa.
— Você me conhece bem — falei.
— Sim, sim. — Ele me dispensou.
— Tenho dever de casa para fazer de
qualquer maneira. Assim como você,
mas tenho a sensação de que se
esqueceu tudo sobre o nosso curso
ultimamente.
— Temos curso? — perguntei,
fingindo surpresa. — Pensei que
tivéssemos nos formado.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Te vejo em algum momento.
— Em breve — prometi. — Talvez
eu apareça no Baile de Sangue.
Ele bufou.
— Essa seria uma surpresa
divertida.
— Você acha? — fingi considerar a
questão. — Talvez eu realmente devesse
ir apenas para chocar todo mundo.
— Você ainda tem terno?
— Talvez — respondi, sorrindo. —
Mas por que eu usaria um?
Ele bufou uma risada divertida e
atravessou o vidro para usar o portal.
— Até mais tarde, Shade — ele
disse por cima do ombro,
desaparecendo de vista.
— Até mais, Ajax — murmurei,
olhando para o meu reflexo por um
momento. Sinto muito, murmurei,
incapaz de dizer as palavras em voz
alta, mas sentindo-as mesmo assim.
Cada um tinha sua parte a
desempenhar.
Esta era a minha.
Segurei minha nuca e soltei um
suspiro, exausto e ainda ansioso para
ver minha companheira. Eu não te
odeio, Shade, ela disse. Ela não tinha
ideia do que aquelas palavras
significavam para mim. Eu as repassei
várias vezes na cabeça durante a última
semana, usando-as para me acalmar
quando o medo e a resignação
ameaçavam me consumir.
Tínhamos mais três dias até o Baile
de Gala de Sangue.
Três dias antes de eu descobrir se
tudo isso tinha sido em vão. Novamente.
Engoli em seco e fechei os olhos,
então soltei outra respiração. Se
contenha. Você consegue fazer isso.
Duas frases que eu estava muito cansado
de dizer. Mas não havia alternativa.
Estou a caminho, pequena rosa, eu
finalmente disse, com meus nervos sob
controle mais uma vez. Te vejo em
breve.
CAPÍTULO DEZOITO
AFLORA

— ESTOU CONFIANDO EM VOCÊ —


Zakkai disse, estendendo a mão para
mim. — Não me decepcione.
Era o que ele dizia antes de cada
sonho. Eu geralmente retribuía o
sentimento, mas desta vez, era realmente
sobre ele confiar em mim e não o
contrário.
Porque ele estava me deixando sair
do paradigma.
Assenti, demonstrando que aceitava
seus termos novamente.
Nada de correr.
Sem saltar no portal.
Sem camuflagem.
Sem problemas.
Eu não colocaria em risco minha
chance de ver o Shade, então concordei
com todas as regras de Zakkai. Ele
deslizou a mão em minha capa para
pegar minha varinha e a enfiou em sua
jaqueta de couro.
Arqueei uma sobrancelha.
— Sério?
— Minha confiança vai até certo
ponto — ele respondeu. — Mas eu
também posso precisar.
— E se eu precisar?
— Então a chame — ele murmurou.
— Parece estar mais em sintonia com
seus desejos do que com os meus, então
deve te ouvir.
Não era uma discussão que valesse a
pena, então assenti novamente.
Ele contraiu os lábios.
— Não sabia que ver o Shade
poderia torná-la tão agradável, Aflora.
Eu deveria ter oferecido isso dias atrás.
Revirei os olhos.
— Ver qualquer um dos meus
companheiros me deixa agradável.
— Qualquer um de seus
companheiros que não seja eu — ele
corrigiu.
— Obviamente.
Ele bufou uma risada e balançou a
cabeça.
— Vamos, estrelinha. — Ele
estendeu a mão novamente, e eu a
peguei, assim como fiz quando ele me
levou para fora mais cedo. Parecia
natural, como se minha mão tivesse sido
feita para estar contra a dele. Um fato
que me recusei a avaliar e ao invés
disso vi como uma necessidade.
Seguimos pelos corredores
novamente, mas em uma direção
diferente. Desta vez, ele me levou para
mais perto do refeitório principal, mas
desviou para um novo corredor que
apareceu diante dele, mas paramos de
repente quando Dakota apareceu. Ela
franziu a testa para nossas mãos unidas,
então observou minha capa e a jaqueta
de Zakkai.
— Vocês estão saindo para outra
lição? — ela perguntou, olhando pelas
janelas. — Não sei dizer que horas são,
mas acho que é tarde.
— Não sabia que tínhamos um toque
de recolher — Zakkai falou, dando um
passo ao redor dela e me puxando junto.
— Não temos uma reunião? — ela
perguntou atrás de nós. — O Baile de
Sangue está chegando.
Meu coração se apertou com as
palavras.
Zakkai havia dito que não havia nada
planejado para o baile, mas a
declaração de Dakota sugeria o
contrário. Olhei para ele e notei a tensão
em sua mandíbula.
— Vamos discutir isso mais tarde.
— Mais tarde quando? — ela exigiu,
seus saltos estalando sobre o mármore
enquanto ela andava em nossa direção.
— Entendo que você esteja um pouco
enfeitiçado pela abominação no
momento, mas precisamos de um plano,
Kai.
Vacilei com o termo abominação.
— Enfeitiçado é um termo infantil
— ele respondeu, parando para olhar
por cima do ombro. — E não há nada
para planejar. Eu já disse que não.
— Sim, mas como seu pai disse...
— Meu pai não é mais o Arquiteto
da Fonte. A opinião dele é dele. A
minha, é a lei. Não vou discutir mais
isso. Sinta-se à vontade para fornecer
esse relatório na reunião. — Ele
retomou nosso ritmo, ignorando seus
protestos.
— Você está perdendo a cabeça com
essa paixão de infância! — ela gritou
quando ele deu outra volta. — Você
deveria quebrar o... — Uma parede se
formou atrás de nós, impedindo-a de
seguir.
Olhei para ele.
Sua expressão não revelou nada,
mas senti sua irritação pelo vínculo.
— O que deveria acontecer no Baile
de Sangue? — perguntei quando um
painel do portal apareceu.
— Nada vai acontecer — ele disse,
digitando um código que ignorei. Não
adiantava tentar. Eu sabia que seu
paradigma nunca me permitiria acessar
essa área sem ele. — Eu já disse que
será difícil o suficiente comparecer
disfarçado. Não vou adicionar mais
magia à mistura. Haverá muito poder
presente para arriscar.
— Eles sabem que estamos
planejando participar?
Ele deu de ombros.
— Não são eles que decidem.
— Isso não responde à minha
pergunta.
— Não, não responde — ele
concordou enquanto as paredes se
derreteram ao nosso redor para revelar
quilômetros de neve.
Meus lábios tremeram com a queda
repentina de temperatura. O que...?
Zakkai me puxou para seus braços,
me cobrindo com o calor de seu corpo
enquanto o portal se engajava para nos
levar embora. Mas não antes de meu
cabelo ficar quebradiço por causa da
temperatura abaixo de zero.
Eu ainda estava tremendo quando os
redemoinhos mágicos cessaram ao nosso
redor.
Enterrei o rosto no peito de Zakkai,
buscando seu calor para aquecer meu
corpo.
— O que você fez com o cabelo
dela? — uma voz familiar perguntou
atrás de mim enquanto os dedos
penteavam meus fios gelados. — Você a
deixou cair na neve?
— Calculei mal a mudança do
paradigma para a realidade antes do
portal ser ativado —Zakkai murmurou,
com os braços apertados ao meu redor.
— Meu feitiço não a cobriu a tempo.
— Hum. — Shade se aproximou, seu
corpo fornecendo outra camada de calor
que eu desejava desesperadamente.
Mais, implorei, ainda congelada e
tremendo com o choque do frio.
Ele alinhou o peito nas minhas
costas enquanto Zakkai colocou as mãos
nos meus quadris, os dois homens
fazendo o melhor para me fornecer o
calor que eu precisava para funcionar.
Foi um choque para o meu
organismo e minhas pernas estavam
travadas em uma combinação bizarra de
terror e gelo.
— A Antártida é fria, mesmo durante
o verão — Zakkai disse, pressionando
os lábios na minha têmpora. —
Desculpe, Aflora. Não estou acostumado
a levar os outros comigo.
Não pude responder, pois meus
lábios estavam dormentes, apesar do
meu maxilar trêmulo.
Shade passou as mãos para cima e
para baixo em meus braços, roçando a
boca na pulsação do meu pescoço.
— Vai passar em alguns minutos,
pequena rosa — ele sussurrou.
— Talvez agora você entenda como
sei que não vai contar a Zeph nossa
localização. — Zakkai encostou a testa
na minha. — Ele não duraria mais do
que alguns minutos fora das minhas
paredes.
Eu queria assentir, mas não tentei.
Shade beijou meu pescoço
novamente antes de dizer:
— A Aflora me disse que você quer
falar sobre a pedra. Você descobriu
quem o encantou?
— Não, porque ainda não a vi.
Shade parou atrás de mim.
— O quê? Eu a coloquei na mesa.
— Não estava lá quando cheguei.
— Então alguém a pegou — Shade
disse.
— Assim como alguém enviou um
pica-pedra para Aflora através do seu
falcão — Zakkai acrescentou, seu olhar
deixando o meu para focar em Shade. —
Ela disse que foi destruído depois que
você avisou que os Guerreiros de
Sangue estavam chegando.
— O que você está querendo dizer?
— Shade contra-atacou. — Que estou te
sacaneando?
— Ah, nós dois sabemos que você
está fazendo isso, Shadow. É o que você
faz de melhor. Mas neste caso, acho que
alguém está sacaneando a nós dois. Com
quem você tem falado?
— Converso com muita gente.
— Eu sei. Quem?
— Olá, Zakkai — uma voz feminina
interveio, seu tom tinha uma cadência
mágica que eu reconheci da Floresta
Mortal.
Zakkai suspirou longa e fortemente.
— Claro que você pegou a pedra.
— Foi a única maneira de garantir
que você terminasse onde eu queria — a
mulher respondeu enquanto se movia em
nossa direção. Eu ainda não conseguia
me mover, mas peguei a imagem dela
pelo canto do olho – seu cabelo longo e
escuro inconfundível. Zenaida. A avó de
Shade. — Não é quem você pensa,
Zakkai. E as intenções eram boas, não
indelicadas.
Meu companheiro Quandary de
Sangue soltou outro suspiro, seus olhos
encontrando os meus antes de cair na
minha boca.
— Podemos precisar usar um feitiço
para aquecê-la. — Ele segurou minha
bochecha, desenhando uma linha quente
ao longo do meu lábio inferior com o
polegar. — Você ainda está azul,
estrelinha.
— Ele a expôs ao clima antártico —
Shade explicou.
— Acidentalmente — Zakkai
corrigiu em um tom cortante enquanto
sua magia se derramava sobre mim,
descongelando meus membros e
removendo as amarras que me prendiam
no lugar.
Respirei fundo, sentindo seu cheiro
oceânico calmante que acolhi em meus
pulmões. Então a essência de Shade foi
adicionada à mistura, seu aroma
refrescante fornecendo uma camada de
tranquilidade que me fez relaxar entre os
dois.
Obrigada, sussurrei na mentes deles.
Sinto muito, Zakkai respondeu,
pressionando os lábios na minha
têmpora novamente antes de olhar para
Zenaida. Segui seu olhar para ver a
pequena fêmea que Shade chamava de
avó.
— Não tenho nada a dizer a você —
Zakkai falou sem rodeios.
— Isso é bom. Você pode ouvir. —
Seu tom era muito matronal para uma
mulher que parecia não ter mais de trinta
anos. Ela usava um top azul-marinho de
tiras grossas em torno de seu torso que
deixavam a barriga exposta. E abaixo de
sua cintura estava uma saia combinando
que fluía até o chão.
Ela era deslumbrante.
Eu esperava conseguir ser assim em
mil anos. Supondo que eu ainda
estivesse viva.
— Humm, bem, eu também não tenho
interesse em te ouvir — ele acrescentou.
— Apenas escute, Zakkai — uma
voz rouca disse quando um homem de
cabelos prateados apareceu na linha das
árvores. Um segundo homem entrou na
clareira ao lado dele – aquele que
parecia uma versão um pouco mais
velha de Shade.
Zakkai olhou para meu companheiro
Sangue de Morte.
Shade levantou as mãos enquanto se
afastava de mim.
— Não tive nada a ver com isso. Eu
nem estava aqui quando a Aflora
chamou minha mente.
— Ele não sabia que peguei a pedra
— Zenaida murmurou. — Fiz tudo
sozinha. Me dê apenas trinta minutos.
— Você acha que meia hora vai
mudar minha opinião? — Zakkai parecia
estar se divertindo. — Tudo bem, Zen.
Desafio aceito.
— Não é sábio apostar com uma Fae
Fortuna — o homem de cabelos
prateados disse, seus olhos azuis
brilhando enquanto ele sorria para
revelar suas presas.
— Não estamos apostando —
Zenaida disse, e suas saias farfalharam
quando ela se virou para os dois
homens. — Me sigam. Eu tenho cookies.
— Cookies? — Zakkai repetiu,
olhando para Shade.
— Isso significa que ela tem notícias
preocupantes — ele murmurou. — Ela
sempre faz cookies quando está chateada
com alguma coisa.
— Ela os faz para Shadow para
ajudá-lo a se sentir melhor — o homem
de cabelos escuros corrigiu. Seus olhos
encontraram os meus. — Olá, Aflora.
Adorável encontrá-la em melhores
circunstâncias.
Limpei a garganta, o último dos
encantamentos de Zakkai e Shade
deixaram meu corpo e me devolveram
um pouco ao normal.
— Oi.
— Este é meu avô — Shade
acrescentou, afirmando o óbvio. —
Vovô Vadim. — Ele gesticulou para o
homem de cabelos grisalhos, que se
virou para caminhar com Zenaida. —
Esse é o Vovô Kodiak. Eles são os
companheiros da minha avó.
— Achei que Faes Fortunas
requeriam um círculo de Betas — eu
disse, lembrando meu breve
conhecimento de Faes Fortunas e sua
estrutura social.
— Nem tudo é preto e branco, minha
querida — Zenaida me respondeu, seu
tom novamente não combinando com seu
traje ou idade física. — Agora venham.
Eu só tenho vinte e oito minutos
restantes.
Zakkai sorriu e balançou a cabeça.
Então ele pressionou a palma da mão na
parte inferior das minhas costas.
— Vinte e sete, Zen.
Ela acenou com a mão no cabelo,
descartando seu comentário.
— Na próxima vez que eu precisar
de algo, você virá até mim — Zakkai
disse a Shade quando começamos a
andar. — Quero essa pedra quando você
terminar, Zen — ele acrescentou, com a
voz suave demais para cobrir a distância
que ela colocou entre nós. Eu não podia
nem vê-la através das árvores.
— Sim, sim — sua voz soou na
brisa, me surpreendendo.
Fae Fortuna, Shade sussurrou em
minha mente. Nunca os subestime.
Nunca subestimo ninguém, rebati.
Fui queimada muitas vezes para confiar
com facilidade. Mas eu sentia um tipo
estranho de parentesco com Zenaida,
que percebi quando a conheci na
Floresta Mortal. Isso me fez mover um
pouco mais rápido, curiosa para saber o
que ela tinha a dizer.
Então entramos em uma clareira
cercada por casas.
Vários dos Faes colocaram suas
cabeças para fora para nos olhar
boquiabertos.
Engoli. Hum, Shade?
Tudo bem, Aflora. Ele entrelaçou os
dedos nos meus, andando ao meu lado
enquanto Zakkai caminhava do outro
lado, com a mão ainda na parte inferior
das minhas costas. Tudo vai ficar bem.
Você não parece muito certo sobre
isso, observei, ouvindo a hesitação em
seu tom.
Ele não respondeu, apenas apertou
minha mão.
Então ele nos levou até a porta de
Zenaida.
Vamos acabar com isso, Zakkai
disse em minha mente. — Vinte e cinco
minutos, Zen.
— Só preciso de dez — ela
respondeu. — Sente-se.
CAPÍTULO DEZENOVE
ZAKKAI

BOCEJEI , JÁ ENTEDIADO COM O DISCURSO


de Zenaida sobre a reforma ser o
caminho mais apropriado a seguir.
Salvaria mais vidas. Criar um conselho
mais inclusivo. Realinhar a Fonte com
todas as linhagens Faes da Meia-Noite.
Blá.
Blá.
Blá.
Como a antiga Rainha Fae da Meia-
Noite, ela merecia meu respeito.
Também era acasalada com um
Quandary de Sangue, Kodiak.
Bem, tecnicamente, Kodiak virou as
costas para a Fonte, rejeitando-a em
favor de se transformar em um Fae
Fortuna, mas sua transição foi
interrompida por uma das visões de
Zenaida. Eles interferiram no destino
tentando impedir a aniquilação da raça
Quandary de Sangue por Constantine mil
anos atrás e estavam tentando consertá-
lo desde então.
Fingi verificar o pulso como se
procurasse a hora, mas Zenaida avançou
sem preocupação.
Seus dez minutos se transformaram
em quinze, porque ela sentiu a
necessidade de refazer a história por
algum motivo.
— Então seu pai era um Quandary
de Sangue? — Aflora perguntou, absorta
na história.
— Um antigo, sim. Ele fez a
transição completa para Alfa Fae
Fortuna. Mas tecnicamente tenho
Quandary de Sangue em mim por causa
de sua origem — Zenaida respondeu. —
Mesmo que eu seja considerado uma
Ômega pura. Acho que eles fazem isso
para evitar a verdade sobre a
ascendência Fae Fortuna vinda de Faes
da Meia-Noite.
— Sim, porque todas as formas de
abominações são desaprovadas — falei.
— Então, devemos considerar todo e
qualquer cruzamento como natural?
— Exatamente — Zen concordou.
— Mas isso faria de Shade parte
Quandary de Sangue, certo? — Aflora
questionou, olhando para seu
companheiro Sangue de Morte. — E Fae
Fortuna?
— Já estabelecemos que sou uma
abominação, pequena rosa — ele
respondeu antes de colocar um cookie
na boca.
Evitei o doce, preocupado que Zen
pudesse tentar me envenenar.
Ela nunca me mataria. Mas faria o
que pudesse para me controlar.
Estávamos nessa batalha há anos.
Houve um tempo em que eu concordei
com ela, assim como todos os outros.
Então os Anciões me mostraram sua
propensão à morte. E eu percebi que
havia apenas uma maneira de acabar
com isso.
Vingança.
— Você acha que há uma maneira de
alinhar todas as linhagens? — Aflora
estava perguntando ao meu lado. Ela se
sentou entre mim e Shade na mesa da
sala de jantar. A Ômega Fae Fortuna e
seus dois companheiros estavam
sentados diante de nós.
Era quase como olhar para o futuro
para ver onde estaríamos em mil anos,
só que Aflora argumentaria que faltava
Zephyrus e Kolstov.
Quase suspirei, mas Zenaida estava
se lançando em seu plano político, nos
aproximando dos vinte minutos dessa
conversa.
Foi quando finalmente percebi que o
objetivo de tudo isso não tinha nada a
ver comigo e tudo a ver com a mulher ao
meu lado.
Uma risada me escapou quando
balancei a cabeça e interrompi sua frase.
— Ah, Zen.
Seu olhar brilhou quando ela olhou
para mim.
— Honestamente, pensei que levaria
dez minutos. Mas sua arrogância me deu
mais tempo.
— Não entendi — Aflora murmurou,
olhando entre mim e Zenaida.
— Ela está te recrutando — eu
disse, segurando o olhar de Zen. — Há
apenas uma coisa que ela não mencionou
em tudo isso, e é o conhecimento dela
sobre a morte de seus pais. Que tal você
nos presentear com essa história, Zen?
Sobre o fim de semana em que os
Anciões massacraram os pais dela sem
um pingo de remorso antes de vir atrás
de inúmeros outros?
O silêncio encontrou minhas
palavras, os olhos de Zen endurecendo.
— Devo começar a nomear a todos?
— perguntei, arqueando uma
sobrancelha. — Ou você se esqueceu de
todo o sofrimento e dor em sua busca
contínua pela diplomacia?
— Matar os Anciões não os trará de
volta, Zakkai — ela falou baixinho. — A
morte é um destino que nenhum de nós
pode escapar. — Ela olhou para Shade
com aquele comentário, mas o Sangue
de Morte estava muito ocupado
comendo seu cookie para notar.
— Como meus pais morreram? —
Aflora perguntou, chamando minha
atenção para seus lindos traços. Ela
olhou para mim e depois para Zen. —
Eu quero saber.
Esperei para ver como a ex-rainha
responderia. Ela sabia mais do que eu.
Estava com meu pai naquele dia, fugindo
para nos salvar.
No entanto, Zen havia previsto o
destino deles. Foi ela quem nos avisou
que os Anciões estavam chegando. Ela
também foi a pessoa que tentou falar
com Constantine naquele dia.
Tentou e falhou.
Ele quase a matou, mas sua tríade
com Kodiak e Vadim provou ser muito
poderosa para ele. E era por isso que eu
desejava que ela se juntasse a nós. Eles
tinham o poder de derrubar o Conselho,
mas optaram por continuar a seguir um
curso diplomático.
A única maneira de a reforma
acontecer seria com Constantine Nacht
fora de cena.
— Seus pais foram pegos logo
depois de deixar você com Primrose e
os dois filhos — Zen explicou. — Os
Anciões os consumiram com magia
sombria, cortando seus laços com a
Fonte da Terra. É por isso que você
ascendeu cedo.
— Você quer dizer que eles
torturaram os pais dela — esclareci. —
Ao forçar a essência da Fonte sombria
neles, algo que senti através de Aflora e
absorvi em seu nome para protegê-la. —
Então, pouco depois disso, eu a protegi
novamente quando aquela abominação
enlouquecida tentou tirar a Fonte dela.
Não me arrependi. Nem teria
mudado um segundo disso, a não ser
talvez tê-la levado comigo em vez de
deixá-la com o Fae Elemental.
— Esse foi um fardo que você nunca
deveria ter suportado — Zen interveio.
— Eu disse isso a Laki, mas ele insistiu
em te unir a Aflora. — Ela balançou a
cabeça. — Sei que você salvou a vida
dela, mas havia outras opções, Kai.
— Outras opções — repeti com
amargura. — Como tentar falar com
Constantine e quase morrer no
processo? — bufei. — Claro, Zen. Isso
tem funcionado.
— Pelo menos eu tentei — ela
respondeu, parecendo triste. — Mais
mortes não é a solução.
— Diga isso para Constantine —
sugeri. — Tenho certeza de que ele vai
ouvir. O que, entre atacar a aldeia para
nos tirar do esconderijo e usar Aflora
como isca, ele fez um trabalho fantástico
ao provar que está disposto a conversar
sobre as coisas. — Eu não podia
acreditar que tinha desperdiçado os
últimos trinta minutos com esse absurdo.
— Só há um caminho a seguir, Zen. E é
respondendo à violência com violência.
— Eu me levantei e estendi a mão. — A
pedra.
Ela deu um suspiro, e Kodiak passou
o braço ao seu redor.
— Não é tarde demais — ele disse
em voz baixa.
— Mas isso é — ela sussurrou,
balançando a cabeça. — Este caminho
leva à morte, Kai. Eu te desafio a sair
disso e considerar alternativas.
— Meu caminho começou com a
morte — rebati. — É apropriado que
termine da mesma forma. — Olhei para
Shade. — Por curiosidade, em todas as
versões dessa conversa, foi exatamente
a mesma coisa? Ou essa foi diferente?
Ele não se incomodou em tentar
esconder suas travessuras de mim, seu
olhar cor de gelo demonstrando exaustão
enquanto me olhava.
— Sempre igual.
— Foi o que eu pensei. — Voltei
meu foco para Zen. — A pedra. Agora.
— Está na gaveta de cima — ela
disse, apontando para os armários ao
lado da pia da cozinha. — E seu tio
criou o feitiço. Eu perguntaria a ele por
que antes de você atacá-los.
— Tio? — Aflora repetiu, a cadeira
se movendo enquanto ela se levantava.
— Tadmir — eu disse, com um leve
grunhido na voz. — Meio-irmão da
minha mãe. — Eu deveria saber que ele
estava se metendo em meus assuntos.
A falta de reação de Shade me disse
que ele também não estava surpreso com
essa notícia, sugerindo que ele sabia
muito mais sobre meu tio do que eu
esperava.
O que levantou várias suspeitas.
Estudei o Sangue de Morte por um
momento e notei sua expressão vaga.
— Eu poderia usá-la para entrar em
sua mente — falei.
— Poderia — ele concordou. —
Mas acho que ela vai ser um grande
desafio para permitir que você faça isso.
Sim, eu a senti brincando com o
feitiço inicial em sua mente, aprendendo
a criar seus próprios blocos com cordas
de magia Quandary. Eu poderia quebrá-
los se fosse preciso. Mas iria machucá-
la no processo, e eu realmente não
queria fazer isso.
— Bem, mande meus cumprimentos
ao Tadmir. Talvez eu faça uma visita a
ele em breve — respondi, recuperando a
pedra e passando minha própria magia
sobre ela.
Em segundos, confirmei que a
afirmação de Zen era verdadeira. Com
um aceno de cabeça, eu o coloquei no
balcão.
— Para registro, o feitiço na
Academia foi uma mensagem para o
Conselho. Ninguém ficou ferido – algo
de que me assegurei – e não mandei o
pica-pedra para Aflora. Eu nunca a
colocaria em risco dessa maneira. E a
aldeia também não fui eu.
A declaração foi mais para a Aflora
do que para qualquer outra pessoa.
Mas parecia certo incluir todos eles.
— É hora de ir, Aflora. — Estendi a
mão para ela. — A menos que você
tenha mais perguntas sobre as diferenças
entre reforma e vingança?
— Não, acho que já entendi — ela
disse, dando um passo em minha
direção. — Um lado quer negociar. O
outro lado quer tirar sangue. O problema
é que nenhum dos lados está cem por
cento certo.
Arqueei uma sobrancelha.
— Oh?
Ela olhou para Zen.
— Zakkai está certo. Você não pode
negociar com um conselho misógino de
homens que se recusam a ouvir alguém
além de si mesmos. Eles já escolheram
matar qualquer coisa e tudo o que
temem, o que inclui sua linhagem
Quandary de Sangue. Isso por si só
garante que eles nunca concordarão com
uma trégua.
Uma avaliação justa, que eu teria
aplaudido, mas ela me encarou no
segundo seguinte, seus olhos azuis
brilhando com censura.
— E matá-los não faz de você
melhor que eles. Você está apenas
aniquilando a ameaça sem dar a chance
de se defender ou conversar, que é
exatamente o que eles fizeram com os
Quandary de Sangue. Você vai matar
tantos inocentes quanto eles, talvez até
mais.
Shade sorriu enquanto se levantava e
veio abraçar Aflora.
— Bem-dito, pequena rosa — ele
sussurrou em seu ouvido antes de beijá-
la na bochecha.
Parte de mim quase concordou com
ele. A outra parte tinha visto demais
para aceitar uma avaliação de tão alto
nível. Ela assumiu que eu pretendia
matar cegamente, mas eu tinha uma lista
específica de alvos, todos os quais
mereciam seus destinos.
Ela entenderia em breve.
Depois do Baile de Gala de Sangue.
Então conversaríamos sobre isso.
Porque eu precisava dela do meu lado, e
uma vez que ela percebesse o que
realmente estávamos enfrentando, eu
sabia que ela veria a razão.
Ela teria que ver.
Não havia outra alternativa clara. Os
Anciões se recusaram a ouvir a razão,
então por que eu deveria? Eles
precisavam pagar pelo que tinham feito.
Encontrei o olhar de Zen, sua
expressão era de derrota. Ela sabia que
eu nunca me alinharia com ela
novamente, não depois do jeito que ela
falhou com minha mãe e tantos outros.
— Cuide-se, Zen — eu disse.
Não desejava seu mal.
Ela era uma Fae poderosa com boas
intenções. Ela simplesmente não tinha a
inclinação para fazer o que precisava
ser feito. Felizmente para ela, eu tinha.
E em breve, Aflora também.
Hora de ir, estrela, sussurrei em sua
mente.
Posso ter alguns minutos para me
despedir de Shade?
Assenti.
— É claro. — Apertei a mão dela e
a deixei, sabendo que não havia nada
que ela pudesse dizer que ele já não
soubesse.
E se ele a seguisse em algum lugar,
eu tinha um feitiço esperando para trazê-
la de volta.
Mas não era necessário.
Depois de alguns minutos de abraços
e vários beijos íntimos, ela se juntou a
mim do lado de fora e pegou minha mão
novamente, sua gratidão aquecendo
nosso vínculo.
— Eu não quero mantê-la longe
deles — admiti. — Mas sua segurança é
mais importante.
Ela assentiu.
— Estou começando a entender isso.
— Ela olhou para mim. — Acho que
estou começando a entender você
também.
— Acho que não, mas vai —
murmurei, levando-a para o portal. —
Vou me certificar de não deixar você
congelar desta vez.
— Ficaria muito agradecida — ela
respondeu, liberando um arrepio da
memória.
Meus lábios se curvaram.
— Ou talvez eu devesse fazer isso
para que eu possa aquecê-la à moda
antiga depois.
Suas bochechas ficaram rosadas.
— Apenas me leve para casa,
Zakkai.
Casa, repeti para mim mesmo, meu
peito se aquecendo.
Eu sabia que era apenas um deslize
de linguagem, um pensamento que ela
não pretendia expressar.
Independentemente da causa, gostei de
como soou.
Então assenti.
E a levei para casa.
Em seguida, eu a liberei para sonhar
com seus companheiros, onde ela contou
a Kolstov e Zephyrus sobre sua visita a
Zen.
Que pequeno círculo estranho nós
criamos aqui, um onde eu saciava minha
rainha muito mais do que imaginava. No
entanto, eu não conseguia parar. Ela era
muito especial.
Meu pai queria que eu rompesse o
vínculo.
Vários dos Quandary de Sangue, e
Dakota, queriam atacar no Baile de Gala
de Sangue.
E aqui estava eu, descansando em
um canto enquanto ela se sentava entre
um Elite de Sangue e um Guerreiro do
Sangue, contando a eles tudo sobre seu
dia.
Fechei os olhos e relaxei, ouvindo
sua voz e pensando no futuro.
As guerras exigiam sacrifícios.
O que o meu se tornaria? E quando
chegasse a hora, eu estaria disposto a
fazer isso?
Duas perguntas que perseguiam meus
pensamentos, dando várias voltas, mas
nenhuma delas me fornecendo uma
resposta sólida.
Aflora estava me mudando. Essa
percepção deveria ter me feito dar
vários passos para trás. Mas em vez
disso, olhei para ela no sonho
novamente e sorri.
Talvez a mudança pudesse ser boa.
Ou talvez me obrigasse a pagar o
preço final.
CAPÍTULO VINTE
AFLORA

EU ME OBSERVEI NO ESPELHO , FRANZINDO


a testa para os cachos loiros brilhantes
caindo em meus ombros. Eu tinha olhos
verdes para combinar com eles, e um
vestido vermelho escuro decotado e
ajustado.
— Você tem fetiche por Faes de
Inverno? — perguntei em voz alta
quando Zakkai entrou usando um
smoking e com uma peruca escura e
curta. — Pareço um Elfo Real. — Sem
as orelhas. Ele arredondou as pontas
para combinar com as dele.
Ele me olhou com seus olhos cor de
safira – uma mudança de cor
surpreendente – e sorriu.
— Você não se parece em nada com
um Elfo Real. — Ele se aproximou de
mim, passando o braço na minha cintura
enquanto apoiava o queixo no meu
ombro. — Você está deslumbrante,
estrela.
Olhei para o meu decote.
— Você só está dizendo isso porque
aumentou meus seios e os colocou neste
top muito desconfortável. — Eles
estavam praticamente transbordando,
quase indecentes.
Ele seguiu meu olhar, suas pupilas
queimando enquanto sussurrava um
feitiço para devolver meus seios ao seu
tamanho normal.
— Melhor? — perguntou baixinho.
Engoli em seco, a intimidade de seu
aperto e proximidade fez meu coração
se apertar antes de sussurrar:
— Sim. Obrigada.
Ele beijou meu pescoço e me soltou.
— Para que conste, você é linda,
não importa o que veste ou como está.
Senti sua sinceridade através do
vínculo e pensei o mesmo sobre sua
própria aparência. Ele ficou muito bem
com o cabelo curto, escuro e o olhar cor
de safira. Também alterou um pouco o
rosto, dando a si mesmo um queixo mais
arredondado e sobrancelhas mais finas.
Meu rosto estava mais anguloso, com
várias sardas nas bochechas e no nariz.
Nós estávamos completamente
diferentes.
Mas eu podia sentir o encantamento
em minha pele como um fio vivo, meu
verdadeiro eu espreitando por baixo e
esperando para ser revelado.
Zakkai abotoou o paletó assim que
alguém bateu na porta. Deu um passo em
direção a ela e cumprimentou seu pai
com:
— Vamos ficar bem, pai.
— Famosas últimas palavras —
Laki respondeu.
O homem alto entrou. Estava usando
calças cinza e camisa branca de botão.
Sem gravata. Esse estilo parecia ser seu
traje preferido. Eu raramente o via em
qualquer outra coisa.
— Você veio para discutir mais? —
Zakkai perguntou enquanto deslizava
minha varinha no bolso de seu paletó.
Ele ainda alegava que era sua, mas os
fios mágicos respondiam a mim, não a
ele. Logo, minha varinha.
Seu pai enfiou as mãos nos bolsos.
— Não. Você deixou claro que não
deseja ouvir a razão.
— Pelo que me lembre, você me
levou a um Baile de Gala de Sangue
depois do meu aniversário de dezoito
anos, dizendo que me daria uma
perspectiva. Estou fazendo o mesmo
pela Aflora.
Laki observou meu vestido antes de
voltar para seu filho.
— Ela é um farol, Kai. Vão
reconhecer o poder dela.
Zakkai foi até sua cômoda para
pegar uma pequena caixa de joias. Ele a
abriu para revelar um colar de ouro com
um pingente de estrela de diamante
pendurado na ponta.
— Posso? — ele perguntou, se
aproximando de mim com o colar.
— Será como o colar que eu usava
antes?
— Mais ou menos. — Ele o segurou
para que eu inspecionasse. Parecia uma
corrente comum. Toquei o metal,
esperando que me atingisse, mas não
senti nada.
— Tudo bem — falei e segurei meus
cachos rebeldes, expondo meu pescoço.
Zakkai gentilmente passou a corrente
em volta do meu pescoço, permitindo
que o pingente ficasse pendurado ao
longo do meu esterno e o fechou.
— Como se parece?
— Como um colar — sussurrei.
— Pai?
Laki franziu o lábio.
— O farol do poder se apagou.
Zakkai sorriu.
— Vai esconder seus laços de
acasalamento também. — Ele me
mostrou um relógio em seu pulso. —
Assim como esse está escondendo meu
vínculo com você, além de entorpecer
meu poder.
Fiz uma careta para o lindo pingente.
— Mas não me sinto diferente.
— Bom. Isso significa que meu
feitiço funcionou. — Ele deu um passo
para o meu lado, sua atenção no pai. —
Mais alguma coisa, pai?
— É um risco.
— Assim como quando você me
levou, há sete anos — Zakkai murmurou.
— Ela precisa ver o que eu vi.
— Nosso dever com a Aflora era
mantê-la segura, Kai. O que você quer
fazer é o oposto disso.
— Assim como deixá-la ser mordida
por Shade e levada para a Academia —
Zakkai retorquiu. — No entanto, você
considerou um risco aceitável, apesar
dos meus protestos. Pelo menos, dei a
ela uma escolha.
Seu comentário avivou uma memória
onde Shade indicou que alguém o havia
enviado para mim. Algo sobre como ele
avisou Shade que eu seria linda.
Eu nunca descobri a quem Shade
estava se referindo. Foi Zakkai ou outra
pessoa?
O Conselho Fae da Meia-Noite
disse a Shade para me morder. Mas
conhecendo meu companheiro, ele só
obedeceu porque quis.
O que me deixou imaginando quem
realmente disse a ele para me morder. E
porquê.
Shade, falei baixinho mentalmente,
batendo na porta que ele havia criado.
Eu poderia passar por ela, mas preferia
que ele respondesse de bom grado.
Mas ele não o fez desta vez, sua
mente estava estranhamente quieta.
Eu estava prestes a tentar de novo
quando Zakkai entrelaçou seus dedos
nos meus, me distraindo.
— Preparada?
— Sim — respondi. Nenhum dos
meus companheiros sabia que eu iria ao
baile. Mantive a confiança de Zakkai em
troca da minha habilidade de andar em
sonhos sem sua interferência. Ele havia
cumprido sua parte no trato, então eu
cumpriria a minha.
Essas duas últimas semanas, ou pelo
menos essa era minha estimativa do
tempo, foram reveladoras e envolventes.
Zakkai passou quase todo o seu tempo
me ensinando mais sobre a magia
Quandary enquanto também explicava
vários pontos da história Fae da Meia-
Noite. Ele era paciente e disciplinado.
Gentil, mas severo. E um enigma
ambulante que de alguma forma
conseguia explicar tudo sem explicar
nada ao mesmo tempo.
Dividíamos a cama todas as noites, e
ele me permitia brincar com meus outros
companheiros em minha mente. Não de
forma sexual. Nenhum deles se sentia à
vontade para fazer qualquer coisa na
frente de Zakkai. Ele também se manteve
comportado, além de alguns toques aqui
e ali.
Como esta noite, quando ele passou
os braços em volta de mim. Ele mostrou
carinho sem me deixar desconfortável. E
nunca exigiu nada em troca.
Nossas fantasias eram as mesmas.
Ele sempre me dava prazer sem pedir
reciprocidade.
Isso me deixou em conflito. Eu
deveria odiá-lo. Ele se vinculou a mim
quando criança e foi embora. E, no
entanto, ele também era uma criança.
Nada disso jamais foi nossa escolha.
Ele deveria desfazer o vínculo, mas se
recusou. No entanto, eu suspeitava que
se eu exigisse, ele me permitiria fazê-lo.
Eu não tinha certeza se queria.
Então permiti que ele me guiasse em
direção à porta. O comportamento de
seu pai confirmou que Zakkai não tinha
nada de nefasto planejado para esta
noite. Claro, tudo poderia ser uma
encenação, uma noção que guardei no
fundo da minha mente quando saímos
para o corredor.
— Tenha cuidado, Kai — seu pai
disse. — Você também, Aflora. Seu tom
tinha um toque de emoção quando ele
falou meu nome, algo que cintilou em
seu olhar e desapareceu em um segundo.
— Vou mantê-la segura — Zakkai
respondeu. — Assim como sempre fiz.
Seu pai assentiu em reconhecimento.
— Vou esperar uma atualização.
— Eu sei. — Zakkai estendeu a mão
para tocar o ombro do pai em um gesto
quase reconfortante, então ele usou a
outra mão – que ainda segurava a minha
– para me puxar pelo corredor.
Seguimos um caminho semelhante ao
que fizemos no outro dia ao encontrar
Shade. Eu não tinha falado com meu
companheiro Sangue de Morte desde
então, sua conexão fechada e silenciosa.
Tentei novamente, querendo perguntar a
ele sobre a mordida, mas ele ainda não
respondeu, me fazendo franzir a testa.
— O que há de errado? — Zakkai
perguntou quando o corredor mágico
apareceu diante de nós, dando-nos
acesso ao portal perto do final.
Não respondi de imediato, sem
saber como expressar minha
preocupação.
Mas quando ele me puxou para
dentro do portal, levantou meu queixo
para que olhasse para ele.
— Aflora, me diga o que há de
errado. — Ele não digitou o código, em
vez disso me segurou dentro do casulo
de calor do seu corpo, seus olhos azuis
escuros possuindo sua intensidade
familiar. Parecia que nenhum feitiço
poderia esconder aquele olhar.
Limpei a garganta.
— Eu... estou pensando no Shade.
Não falo com ele desde que o vimos na
outra noite. E eu queria perguntar uma
coisa a ele.
— Perguntar o quê? — Zakkai
perguntou, traçando minha mandíbula
com o polegar.
— O Conselho disse a ele para me
morder — sussurrei. — Mas uma vez
ele me disse que alguém o havia avisado
sobre mim. E eu estava me
perguntando... — parei, mordendo o
lábio. Então decidi falar. Ou ele me
diria a verdade ou se desviaria. Que mal
faria perguntar? — Bem, eu estava me
perguntando se esse alguém era você.
— Entendo — ele respondeu, seu
toque indo para o meu cabelo antes de
envolver a parte de trás do meu
pescoço. — Shade e eu nos conhecemos
há muito tempo. Mas eu não disse a ele
para te morder. O Conselho disse. E
suspeito que meu tio Tadmir também
tenha participado disso.
— Quem é Tadmir? — perguntei,
procurando seu olhar. — Quero dizer, eu
sei que ele é seu tio, mas não o conheci.
— Ele é um Conselheiro Fae da
Meia-Noite — Zakkai respondeu.
Franzi o cenho.
— O quê? Como? Se ele é seu tio,
então ele não é um...?
— Quandary de Sangue? — Zakkai
sugeriu, seus lábios se curvando. —
Sim, em parte. Ele é meio-irmão da
minha mãe. Eles compartilhavam a mãe
Quandary de Sangue. Mas seu pai era
um Paradoxo Fae.
Eu pisquei.
— Uma abominação.
— Sim. Aquele que pode reescrever
o poder, que é como ele está atuando
como um Maléfico de Sangue. Ele
acasalou na linhagem real e tomou o
manto de sua companheira, porque as
mulheres não são permitidas no
Conselho.
— Então... então... ele tomou a
posição de Conselheiro dela,
acasalando em sua linhagem e usando
suas habilidades de Quandary de Sangue
para reescrever sua magia para...
combinar? E todo mundo pensa que ele é
um Maléfico de Sangue puro? — Queria
ter certeza de que entendi aquele pedaço
complicado da história.
— Sim, isso mesmo — ele
respondeu. — E mais, ele fez tudo antes
de Constantine iniciar sua busca para
destruir Quandarys de Sangue. O que me
diz que ele sabia que tudo isso ia
acontecer e usou suas habilidades de
Paradoxo Fae para voltar no tempo e
alterar a história.
— Isso é... uau. Não tenho certeza
do que dizer — admiti.
— Ele jogou o jogo longo —Zakkai
murmurou, roçando meu pulso com o
polegar. — É por isso que não estou
surpreso que ele esteja trabalhando com
o Shade. Ele viu algo se desenrolar que
deseja mudar. E então, suspeito que seja
a verdadeira razão pela qual Shade
concordou em te morder.
— Mas você sabia que ele ia me
morder.
— Sim. — Seus olhos se nublaram
com uma emoção mais sombria. — Meu
pai me informou sobre o plano depois
que um Conselheiro, talvez até um
Ancião, ou talvez Tadmir, contou a ele
sobre a intenção do Conselho de Shade
te morder. Ele queria que isso se
concretizasse e me disse para cooperar.
Como eu ainda não era o Arquiteto da
Fonte, não tive escolha a não ser fazer o
que ele disse.
Engoli em seco, sem palavras.
Todo o meu futuro havia sido
roubado por meio de eventos em que eu
não tive voz. Tudo porque meus pais
decidiram ajudar os Quandary de
Sangue.
Não. Não foi por isso.
Foi porque Constantine Nacht
iniciou um genocídio entre os Fae da
Meia-Noite. Meus pais fizeram o que
achavam certo: protegeram vidas. E
abriram um caminho para mim, algo que
me enredou em uma guerra da qual eu
nunca deveria fazer parte.
Ou talvez sempre tenha sido meu
destino estar ligada a quatro Faes da
Meia-Noite. No centro de um conflito.
Uma Fae da Terra que favorecia a
vitalidade em meio a um mar de
violência.
— Shade e eu temos uma longa
história,— Zakkai disse, tirando-me dos
meus pensamentos. — Quando descobri
as intenções do Conselho, fui até ele e
exigi que te protegesse. Ele já sabia tudo
sobre você, porque contei quando
éramos mais jovens, quando eu ainda
estava me recuperando do feitiço que
nos separava. Na verdade, foi assim que
conheci o Shade. Ele me encontrou no
chão e me perguntou o que eu estava
fazendo.
Ele bufou uma risada com a
lembrança, uma que eu teria
compartilhado, exceto que não me senti
bem com nada disso.
— Eu contei a ele tudo sobre você.
Disse que você era linda, adorava flores
e falei sobre o quanto eu sentia falta da
nossa amizade. Ele assentiu em
compreensão, então disse que sabia
como era ter outros exigindo ações que
machucavam.
Ele ficou em silêncio por um
momento, sua diversão desaparecendo
quando seu olhar assumiu um brilho
distante.
— Nós não éramos exatamente
amigos, mas nos entendemos de uma
maneira única que se manteve ao longo
dos anos — ele continuou. — Eu não
estava empolgado com a ideia de ele te
morder, mas admito que o preferia a
qualquer outro.
Houve outros?, queria perguntar,
mas não conseguia encontrar minha voz.
E ele não havia terminado de falar.
— O Shade sempre soube que você
era minha. Mas ele acasalou com você
mesmo assim. Não estou exatamente
surpreso com isso. Ele é desafiador por
natureza. Mas também sei que é muito
mais profundo. — Ele pressionou a testa
na minha, seus olhos se fechando. — É
muito mais profundo para mim também.
— Você o avisou que eu seria linda
— sussurrei, lembrando das palavras de
Shade naquele dia.
— Não, eu disse a ele que você era
linda. Devo ter dito isso mil vezes
quando era mais jovem. Contei a ele
tudo sobre suas flores, seu amor pela
vida e como você era linda. Foi um
comentário infantil na época, porque eu
quis dizer que você era uma pessoa
bonita. Agora eu te chamaria de
deslumbrante.
Ele afastou a testa da minha, abrindo
os olhos enquanto deslizava seu olhar
sobre mim.
— Mesmo com o feitiço, ainda
posso ver você, Aflora. E você me tira o
fôlego toda vez, mesmo com os cachos
loiros e olhos verdes. Você ainda é a
minha Flora por baixo de tudo. Minha
estrela brilhante. Nunca vou ver ninguém
além de você.
Um nó se formou na minha garganta,
minha mente em conflito sobre como
responder. Era uma história tão
comovente emas muito errada.
Todos tomaram muitas decisões
sobre minha vida, removendo as minhas
escolhas.
No entanto, eu também entendia
essas decisões.
E se eu realmente os avaliasse,
decidisse por mim mesma, não tinha
certeza de quanto minhas escolhas
teriam variado do resultado. Talvez eu
tivesse lutado por um resultado
diferente, mas sabendo o que eu sabia
agora, não conseguia ver outro caminho
para eu trilhar.
Parecia que havia passado anos que
estive sentada naquele café esperando
Glacier chegar. Eu não era mais aquela
flor delicada, ansiando por um garoto
que não me valorizava.
Agora eu estava nos braços de um
homem que desistiu de muito para me
proteger.
Se tudo isso era um ardil, era uma
mentira muito convincente. Porque eu
podia sentir suas emoções em nosso
vínculo, sua sinceridade como uma
sensação quente rastejando pelas minhas
veias e indo diretamente para o meu
coração.
Não havia palavras.
Sem acusações ou desabafos.
Eu poderia brigar com ele para
sempre, odiá-lo por decidir tudo isso em
meu nome, ou poderia escolher
reconhecer quantas de suas escolhas
foram roubadas também. Eu poderia
escolher admirar como ele lidou com
todo o peso em seus ombros. Poderia
escolher perdoá-lo por suas ações.
Confiar nele. Eu poderia escolher
abraçá-lo.
Envolvi meus dedos em seus braços,
sentindo seu calor e masculinidade
através da seda macia de seu paletó. E
então fiquei na ponta dos pés para
pressionar os lábios nos seus, fazendo a
escolha de beijá-lo. Fazendo a escolha
de conceder a ele um pedaço do meu
coração. De permitir que este momento
entre nós crescesse. Fazendo a escolha
de aceitar nosso destino entrelaçado.
Não era perfeito.
Não era um conto de fadas.
Não era nem gentil.
Mas parecia certo.
Escolho acreditar em você, eu disse
a ele com meus lábios, beijando-o
suavemente. Eu escolho nos aceitar.
Ele passou o braço ao meu redor,
sua mão oposta ainda contra o meu
pescoço, e ele retribuiu meu abraço,
deslizando sua língua em minha boca
para encontrar a minha.
Sua essência girava ao meu redor,
seu poder era um sabor viciante que eu
queria me deleitar por toda a eternidade.
Minha alma se alegrou, com a vida
prosperando dentro de mim enquanto ele
despertava uma parte adormecida do
meu espírito.
Meu companheiro perdido há muito
tempo.
Meu Kai.
Agarrei-me a ele, entregando-me ao
calor e à prosperidade de nossa
conexão. Então suspirei quando o beijo
lentamente chegou ao fim.
— Sinto muito — ele sussurrou
contra minha boca. — Mas se
continuarmos com isso, nunca
chegaremos ao Baile e devo a verdade a
você, Aflora. Você tem que ver tudo
para entender nosso destino.
Assenti, concordando com suas
intenções.
— Me prometa que não vai fazer
mal a ninguém.
— Prometo que não vou machucar
ninguém que não me provocar — ele
respondeu, capturando meu queixo entre
o polegar e o indicador. — Se alguém
quiser nos prejudicar, vou retaliar.
Isso parecia justo, então concordei.
— Eu aceito.
Ele sorriu.
— Bom. — Ele roçou seus lábios
contra os meus mais uma vez. — Agora
segure-se em mim. Vamos pular de
portal várias vezes para cobrir nossos
rastros.
CAPÍTULO VINTE E UM
ZEPH

ENTREI NO QUARTO DE KOLS E PAREI AO


vê-lo curvado sobre o banco ao pé de
sua cama.
— Estou quase pronto — ele disse
sem olhar para mim, seu foco em
amarrar o sapato.
Eu me inclinei na porta e cruzei os
braços, mais do que contente em
apreciá-lo naquele terno todo preto.
Nosso relacionamento se aprofundou nas
últimas semanas, os laços de sangue
com Aflora e um com o outro
despertando sensações estranhas dentro
de minha alma que me deixaram
avaliando a vida de forma um pouco
diferente.
Kols tinha me mordido, tomando
conta de nosso relacionamento de uma
maneira que nunca fez antes.
Então ele se submeteu a mim no
momento seguinte, sabendo que era o
que eu precisava.
O macho que eu conhecia toda a
minha vida se tornou um homem muito
além do meu valor. Eu não tinha ideia do
porquê ou quando ele me escolheu. Fae
sabia que eu não o merecia. Mas quando
ele se virou para mim, suas íris
douradas girando com poder, eu não
poderia reivindicar um único
arrependimento.
Exceto pelo nosso elo perdido.
Aflora.
— Eu gostaria que ela estivesse aqui
também — Kols disse, andando até mim.
— Lendo minha mente?
— Sua expressão — ele respondeu.
Ele passou a palma da mão em volta do
meu pescoço e me puxou para um beijo,
sua ousadia me derrubando. Agarrei seu
pescoço, apertando um pouco enquanto
assumia o controle.
Ele pressionou a virilha na minha
quando o fogo acendeu entre nós.
Não nos tocávamos assim desde a
outra noite, nosso foco em outras coisas.
Mas o vínculo estava vivo e quente,
implorando a Kols para terminá-lo com
uma mordida final.
Entre Kols e Aflora, me senti tão
completo que quase não me reconheci.
Eles deram nova vida aos meus
pulmões, deram ao meu coração uma
razão para bater, e provocaram um calor
escaldante dentro de mim que implorava
para ser saciado.
Eu precisava dela.
Precisava dele.
Necessitava dos dois.
Rocei os dentes em seu lábio,
ameaçando morder. Eu podia senti-lo me
incitar a fazê-lo através do nosso elo
parcialmente formado. Não podíamos
ouvir um ao outro, não exatamente. Mas
anos de experiência, juntamente com o
vínculo aprofundado, nos deixaram com
uma nova visão.
— Zeph — ele gemeu, seu aperto na
parte de trás do meu pescoço. — Eu...
O pigarrear interrompeu o que ele
estava prestes a dizer, a presença atrás
de mim me lembrando que eu tinha
deixado a porta aberta.
Puta merda.
— Olha, não me importo com o que
vocês dois fazem a portas fechadas.
Mas, por favor, estejam cientes de que
outros vivem nesta casa. E sua mãe não
gostaria disso. A voz de Malik Nacht
mantinha seu tom rude habitual, mas uma
pitada de diversão espreitava em suas
íris douradas quando eu lentamente me
virei para encará-lo.
O Rei Elite de Sangue estava com
um humor extraordinariamente bom nos
últimos dias, o que Kols e eu não
entendíamos. Tudo foi para o inferno
com Aflora. Shade não conseguiu
localizá-la, pelo menos no que dizia
respeito ao Conselho, e Kols falhou em
seu julgamento. No entanto, Malik
procedeu como se tudo estivesse
normal, indo tão longe a ponto de me
convidar para sua casa como ele
costumava fazer quando eu servia como
guardião principal de Kols.
— Desculpe, pai — Kols falou,
batendo o ombro no meu quando parou
ao meu lado. — Tudo pronto para o
Baile?
— Sim. Apenas algumas coisas que
precisamos analisar primeiro. E Zeph
está se esquecendo de uma peça-chave
de seu traje.
Fiz uma careta, olhando para o meu
terno todo preto – exatamente o mesmo
estilo do terno de Kols, só que a gravata
dele era mais fina que a minha. Olhei
para ele para ver minha confusão
refletida em sua expressão.
Malik enfiou a mão em seu paletó
para tirar uma caixa. Ele me entregou
com um olhar expectante.
— Acho que isso vai na sua lapela.
Meu coração parou.
Não podia ser...
Ele não queria dizer...
Olhei para Kols novamente e peguei
o mesmo brilho em seus olhos que senti
em meu peito. Esperança.
Levou toda a minha força de vontade
para não reagir externamente.
Guerreiros de Sangue eram ensinados a
ser estoicos. Sérios. Duros. Eu não
podia me dar ao luxo de mostrar nenhum
pingo de emoção, especialmente se isso
era o que eu achava que poderia ser.
Limpei a garganta e levantei a
tampa, o familiar pingente dourado e
vermelho dentro piscando para mim sob
a iluminação. Meu broche de Guardião.
Malik o tirou de mim depois de tudo
que aconteceu com Dakota. E agora...
agora ele o estava devolvendo...
— Isso significa que estou
reintegrado? — perguntei com a voz
calma.
— Sim — Malik respondeu. —
Acho que você já foi há um tempo. Isso
só torna oficial. — Ele me deu um
tapinha no ombro, então se virou para
Kols. — Agora precisamos conversar
sobre esta noite. Tem algumas coisas
que não te contei.
Assim, o momento terminou.
Parabéns, Zeph. VocÇe está
oficialmente perdoado. Pode continuar
arriscando sua vida por meu filho. Siga
em frente...
Quase revirei os olhos, mas forcei
minhas feições a permanecerem
indiferentes e, em vez disso, me
concentrei em seu comentário sobre o
Baile.
Ele começou com a besteira de
sempre sobre brindes e celebrações da
independência Fae da Meia-Noite da
interferência nefasta dos Quandary de
Sangue.
Era tudo a típica porcaria política
até que ele disse:
— E tomei a liberdade de escrever
seu discurso. — Ele tirou um papel do
bolso. — Dadas as complexidades de
nossa posição atual, particularmente
com seu avô pedindo um atraso na
ascensão, achei melhor prepará-lo para
você. Se você fizer tudo direito, no
próximo ano você deve estar a caminho
de assumir meu trono.
As palavras Se você não fizer tudo
direito pareciam pairar entre nós sem
serem ditas. Uma ameaça persistente que
exigia conformidade.
Ou talvez seu pai simplesmente não
visse nenhuma alternativa.
Kols olhou para a nota, seus olhos
endurecendo enquanto lia.
— Certo — ele disse quando
terminou. — Obrigado, pai.
Pai, não papai.
Isso indicava que ele não estava
entusiasmado com o discurso que Malik
havia elaborado para ele.
— Brilhante — seu pai respondeu,
obviamente alheio ao desagrado de seu
filho. — Agora há apenas mais uma
coisa que eu preciso deixar você ciente,
pois não quero que o anúncio o
surpreenda mais tarde. — Ele parou
para olhar para mim, considerando. —
Bem, você está reintegrado, então não há
problema em contar o segredo. Você está
protegendo o futuro rei, afinal.
Pisquei, fazendo o meu melhor para
não reagir.
Mas eu realmente não gostava de
onde isso estava indo.
— Os esforços para encontrar a
Aflora se provaram difíceis e,
infelizmente, ainda não a localizamos.
Mas Chern e Shadow conseguiram
identificar o paradeiro de outra pessoa
que os Anciões caçavam há mais de mil
anos.
Kols ficou tenso.
— Quem?
— Zenaida — Malik respondeu,
suas íris douradas girando com triunfo.
— Os Guerreiros de Sangue estão a
caminho para levá-la sob custódia. E
pretendemos apresentá-la à justiça como
nosso ato de encerramento.
— Zenaida, a antiga Rainha Fae da
Meia-Noite? — perguntei, me
certificando de ter entendido este
anúncio corretamente.
— Exatamente. A mulher que virou
as costas para todos nós por seus
companheiros. Finalmente a
encontramos. — Malik desistiu de tentar
conter sua excitação. Aparentemente, o
ato de caçar uma Fae e fazer um show
foi o que o deixou animado.
— Achei que ela estava morta —
respondi, fazendo o meu melhor para
não perder a cabeça. Porque, que merda
era essa?
— Assim como todos nós — Malik
disse. — E em breve, ela estará. — Ele
pronunciou essa última parte com a
alegria de um vilão ansioso por seu
próximo crime.
Kols forçou um sorriso.
— Muito bem, pai. Tenho certeza de
que Constantine está emocionado.
— Ele está com os Guerreiros de
Sangue agora, garantindo que tudo corra
conforme o planejado — Malik
respondeu. — Vamos lá. Melhor deixá-
los. Vejo você mais tarde. E tente ser
gentil com a Emelyn esta noite. Ela será
sua companheira em breve.
Ele saiu em um redemoinho,
desaparecendo no corredor com um
passo acelerado que indicava sua
empolgação com os próximos eventos.
Fechei a porta e a tranquei, depois
me virei assim que Tray e Ella entraram
no quarto. Eles claramente ouviram pela
porta adjacente do quarto de Tray.
— Eu ouvi direito? — Tray
questionou. — O Shade deu a
localização da própria avó? E os
Guerreiros de Sangue estão a caminho
para capturá-la e trazê-la para a festa
para julgá-la?
— Um jeito sofisticado de dizer que
vão torturá-la e matá-la — murmurei,
sabendo exatamente o que Malik Nacht e
o Conselho pretendiam fazer.
— Essa é minha maior preocupação
— Kols disse, seu foco na porta.
— Aflora? — Tray adivinhou. —
Ela está com a Zenaida?
— Não, ela está com o Zakkai. Ela
está bem. — Kols se virou para mim. —
Zeph. Aquele homem não era meu pai.
— O quê?
— A magia ao redor dele estava
toda errada. E meu pai nunca celebraria
o julgamento de um Fae em um ambiente
tão público. Ou ele foi enfeitiçado, ou
alguém estava usando sua imagem. E
isso? — Ele segurou o discurso. — Não
é algo que meu pai pediria para dizer.
Ele me entregou o discurso como se
quisesse provar.
Li três frases e tive que concordar.
— Você tem razão. Isso é a cara de
seu avô.
— Algo está muito errado — Kols
falou.
Assenti. Aflora?, chamei, abrindo
nosso vínculo.
Silêncio.
Fiz uma careta e tentei novamente.
Mais silêncio.
— A Aflora não está me
respondendo — eu disse, franzindo a
testa. — Mas nosso vínculo não está
fechado. É... é quase como se só ouvisse
estática.
— Puta merda. Isso não é bom. —
Kols pegou o bilhete e o enfiou no
bolso, então começou a andar de um
lado para o outro. — Podemos tentar
localizar o Shade?
Normalmente, eu riria de um pedido
tão ridículo. Mas eu não estava me
divertindo no momento.
— Não sei como encontrá-lo.
— Eu também não — Tray
acrescentou.
Aflora? Tentei pela terceira vez,
esperando que talvez tivesse errado nas
duas primeiras chamadas.
Nada ainda.
— Você não acha que ela tentaria
participar do baile, não é? — perguntei,
pensando em voz alta.
Kols parou para olhar para mim.
— Quem? Aflora?
— Sim.
Ele bufou e retomou sua caminhada
ao redor da sala.
— Por que ela compareceria?
— Por que Zakkai permitiria que ela
sonhasse conosco todas as noites? —
contra-ataquei.
— Para torná-la mais receptiva.
— Sim, para que fim? — pressionei.
— Nós sabíamos desde o início que ele
queria algo dela. Essa foi a razão para
que permitisse que ela falasse conosco.
E se participar do Baile de Gala de
Sangue fosse seu pedido?
— Ele seria louco de vir aqui. Os
Guerreiros de Sangue estão triplicados
na fronteira esta noite. Sem mencionar a
miríade de proteções e feitiços. Ele
morreria na chegada.
— Ele é o Arquiteto Fonte — eu o
lembrei. — Pode desfazer tudo isso.
— Para que propósito? Para invadir
o baile? — Kols começou a rir com o
pensamento, então parou novamente. —
Os Guerreiros de Sangue estão
procurando por Zenaida. — Ele se virou
para me encarar. — Isso significa que há
menos guardas do que o normal. Porque
eles estão distraídos.
— Você acha que ele está
planejando alguma coisa?
— Acho que se estiver, vai ter que
pagar por isso — Kols respondeu. —
Mas não explica o que aconteceu com o
meu pai. Ou a porra do discurso.
Verdade. Apoiei a mão na parte de
trás do meu pescoço, tentando pensar,
sem ideias.
— Talvez o Shade esteja no baile.
— Não é provável — Tray
interveio. — Ele nunca participou.
— Se ele está tramando alguma
coisa, estará lá hoje à noite — rebati. E
aquele Sangue de Morte estava sempre
tramando alguma coisa.
— Talvez devêssemos dar uma
olhada — Ella sugeriu. — Ver o que
está acontecendo.
— É muito cedo — Kols respondeu.
— Tenho que esperar a Emelyn chegar
também. — Ele pronunciou essa frase
entre os dentes, seu aborrecimento
palpável.
Ele tentou várias vezes convencer o
pai a permitir que fosse sozinho, mas
não adiantou. As tradições eram
importantes para a família Nacht.
— Eu poderia ir mais cedo — eu
disse. — Na verdade, poderia ir agora,
então me encontrar com você depois
para informá-lo sobre minhas
descobertas.
Foi o melhor plano que poderia
bolar.
E o olhar que Kols me disse que ele
concordava.
— Eu não vou fazer esse discurso —
ele murmurou. — Eu preferiria meu
acasalamento com todos vocês a isso.
Meus lábios se contraíram.
— Eu adoraria esse discurso.
— Sim, até o ponto em que os
Anciões pedissem nossas mortes, tenho
certeza — ele falou.
Peguei o broche da caixa, joguei-a
para o lado e coloquei meu símbolo de
Guardião.
— Não me importo se foi seu pai ou
não. Vou ficar com isso.
— É onde pertence — Kols
respondeu, andando até mim novamente
e agarrando meu rosto entre as palmas
das mãos. — Não faça nada ousado.
— Eu não sou impetuoso.
— Geralmente, não — ele
concordou. — Mas a Aflora tem a
tendência de nos encorajar a agir fora do
personagem.
Contraí os lábios. Ele não estava
errado.
— Eu vou me comportar.
— Não foi isso que eu disse — ele
respondeu, com uma pontada de
provocação em seu tom. Ele pressionou
os lábios nos meus, o que parecia
apenas acentuar seu comentário sobre
nós agindo fora do personagem. Porque
ele nunca foi tão ousado comigo. E
nunca na frente dos outros.
Claro, Tray sabia que transávamos.
Mas mantivemos só entre nós.
E o jeito que Kols estava me
beijando agora era o oposto de entre
nós.
Era absolutamente indecente, e
retribuí afundando os dentes em seu
lábio inferior e tirando sangue. Suas íris
douradas giraram em resposta enquanto
eu lambia a ferida.
Então dei um passo para trás antes
que ele pudesse repetir a ação no meu
lábio.
Ainda não estávamos prontos para a
fase final.
Não sem Aflora.
— Vou te encontrar mais tarde —
jurei. — Tente não matar a Emelyn
enquanto eu estiver fora.
Kols grunhiu.
— Não vou prometer nada.
Sorri, então acenei para um Tray
confuso. Ele parecia sem palavras após
a demonstração de afeto entre mim e
Kols. Enquanto isso, Ella estava
sorrindo como louca.
Revirei os olhos e saí.
Aflora, murmurei no vazio de nossa
conexão. Se eu descobrir que você está
aqui, vou te inclinar sobre uma mesa e
bater na sua bunda, depois te comer
até te deixar em carne viva.
Sem resposta.
Meu maxilar tensionou.
Eu deveria ser capaz de pelo menos
senti-la, mas não conseguia ouvir nada.
Era quase como se ela tivesse sido
completamente isolada de mim... como
quando ela estava usando o colar no
pescoço.
Fiz uma pausa no meio do passo,
levantando as sobrancelhas. Ah, merda...
CAPÍTULO VINTE E DOIS
ZAKKAI

A MANSÃO NACHT ME DAVA CALAFRIOS .


As cordas que pareciam cobras,
gárgulas e outras animais selvagens
sombrios percorriam os jardins, todos
com um objetivo em mente: proteger a
família Nacht.
Levei trinta minutos para reconstruir
os feitiços defensivos. Aflora ficou em
silêncio ao meu lado enquanto eu
trabalhava, sua mente sintonizada com a
minha. Pelo menos, isso nos forneceu
mais uma lição sobre magia diluída.
— Você memorizou tudo o que
acabei de fazer? — perguntei a ela
quando entramos no Grand Hall,
entregando nossos convites para um
Guerreiro de Sangue.
Ninguém nos notou, nem mesmo as
duas gárgulas aos pés do Guerreiro de
Sangue.
— Sim — ela sussurrou. — Foi
fascinante de assistir. É assim...? — Ela
parou, seus olhos encontrando os meus
enquanto fazia uma pergunta que eu não
conseguia ouvir.
Eu franzi a testa.
— É assim o quê?
Ela segurou meu olhar por outro
instante, depois seus lábios se curvaram
também.
— Você não pode me ouvir?
— Estou te ouvindo bem.
— Não, quero dizer... — Ela fez um
gesto rápido para sua cabeça.
Ah. Você quer dizer em sua mente?,
perguntei, envolvendo nosso vínculo.
Ela continuou olhando para mim.
Você não pode me ouvir?, perguntei.
Nada.
— Hum. — Peguei a mão dela,
coloquei meu braço em sua cintura e a
guiei para o salão de baile, não
querendo que ninguém notasse nossa
hesitação.
Ela seguiu minha liderança, se
movendo sem esforço ao meu lado
através dos convidados vestidos de
vermelho e preto. Era o mesmo tema
todos os anos: mulheres de vermelho,
homens de preto. Eu teria comentado o
quanto isso era clichê para Faes
vampiros, mas suspeitava que houvesse
uma razão pela qual os humanos
associassem as cores às criaturas da
noite.
Decoração dourada e vermelha
adornava as paredes, bem como uma
variedade de tochas e velas. Todas
mantinham fogo real, assim como os
lustres no alto.
Gárgulas andavam com bandejas,
oferecendo bebidas.
As mesas foram cobertas com seda
preta.
E o palco continha um trono no meio
de várias outras cadeiras ornamentadas,
cada uma representando um Conselheiro
ou progênie.
Forcei sorrisos enquanto seguíamos
juntos, sem parar para conversar com
ninguém. Peguei duas taças de vinho
tinto com infusão de sangue de uma
bandeja que passava. Entreguei uma a
Aflora e fiquei com a outra, depois a
levei a uma das mesas. Outros casais se
comportavam da mesma forma, todos
querendo selecionar um assento ideal
para o evento desta noite.
Porque esse não era um baile
comum.
Era mais uma produção teatral, tudo
destinado a homenagear o atual regime
político.
Haveria gente se misturando e
conversando sobre o vinho.
Depois haveria uma grande entrada
do Conselho Fae da Meia-Noite,
incluindo todos os representantes do
segundo em comando e quaisquer
progênies.
E então a festa real começaria,
liderada por Malik Nacht.
Uma história seria tecida pelo ar,
acompanhada de charadas mágicas
enquanto eles atuavam nas cenas com
figuras ardentes.
Após o retrato impreciso de nossa
história, haveria brindes e palavras
encantadoras de cada jogador de poder,
o último vindo do Rei Elite de Sangue.
Eu suspeitava que o príncipe
Kolstov seria forçado a falar hoje à
noite.
Mal podia esperar para ouvir o que
ele tinha a dizer sobre tudo isso,
principalmente como acasalou com uma
Quandary de Sangue este ano.
Aflora limpou a garganta, arqueando
a sobrancelha.
— Por que não podemos nos ouvir?
— Ela perguntou em voz baixa.
Coloquei o vinho na mesa e estendi
a mão para acariciar seu colar.
— Isso é realmente adorável, linda
— falei, esperando que ela entendesse
insinuação no meu comentário. Eu não a
estava ignorando. Estava respondendo a
ela. Ou pelo menos proporcionando o
meu melhor palpite. Nós dois estávamos
usando joias que mascaravam energia.
Provavelmente era a causa da nossa
incapacidade de ouvir um ao outro.
Ela desfez a carranca.
— Ah.
Sim, ela recebeu a mensagem.
— Não percebi o quanto seria
impactante contra a sua pele —
acrescentei. — É realmente
impressionante.
— Obrigada — ela respondeu,
tocando o pingente de estrela, seus olhos
me dizendo que havia entendido.
A mensagem era dupla. Primeiro, eu
não tinha percebido o impacto que isso
teria no nosso vínculo. E segundo, havia
olhos e ouvidos por toda parte. Portanto,
não poderíamos ter uma conversa
sincera aqui.
Ela foi pegar a bebida, mas
pressionei a mão em seu pulso, me
inclinando para a frente para dar um
cheiro no conteúdo.
— Oh, acho que usaram B negativo
neste, linda. Sei que você não gosta
disso. Felizmente, podemos encontrar
uma bandeja com outro sabor.
Seus olhos se arregalaram quando
ela quase largou a taça.
Sim, eu só os peguei para me exibir.
Daí a razão pela qual deixei o meu na
mesa.
Ela colocou a taça de lado,
franzindo o nariz enquanto limpava a
garganta.
— Obrigada, querido. Eu odiaria
beber algo tão azedo.
Contraí os lábios. O sangue não
estava azedo, mas deixei que ela usasse
essa desculpa.
— Ah, eu não sei. Ouvi dizer que B
negativo pode ser bastante saboroso
quando combinado com vinho tinto —
disse uma voz profunda quando um
Guerreiro de Sangue parou ao lado de
Aflora. Os pelos ao longo de seus
braços se arrepiaram em resposta, seus
mamilos intumesceram sob o vestido. —
Talvez você devesse experimentar,
querida.
Zephyrus semicerrou os olhos
verdes para ela antes de se voltar para
mim. Sua expressão me desafiava a
reagir.
Apenas dei de ombros, depois olhei
o alfinete em sua lapela.
— Guardião Zephyrus. Você não
deveria estar com o príncipe Kolstov, se
preparando para os eventos desta noite?
— Você sabe, eu estava — ele
mencionou, relaxando em sua cadeira.
— Mas ele me enviou mais cedo para
aproveitar o cenário. Acho que ele quer
que eu pegue um lanche para esta noite.
— Ele baixou o olhar para os seios de
Aflora. — E eu encontrei o que quero
comer.
Ela corou.
— Isso é muito ousado para se dizer.
— É mesmo? — Ele rebateu, se
inclinando para a frente para sussurrar.
— Eu reconheceria esse corpo em
qualquer lugar, linda flor. Mas é um
vestido lindo. — Ele puxou um cartão
do bolso, repassou-o pelos dedos e o
colocou na mesa. — Você tem trinta
segundos para me dizer o que é que
estão fazendo aqui.
— Truque legal — eu disse,
revisando mentalmente o encantamento
de seu dispositivo de cancelamento de
conversa. Para todos ao nosso redor,
estávamos apenas trocando gentilezas
típicas. E quaisquer transmissor
pegariam o mesmo. — Não estamos aqui
para causar problemas. Só quero que a
Aflora ouça a visão da família Nacht
sobre os Quandarys de Sangue.
— Isso é fascinante — ele
comentou. — Por que não consigo ouvir
minha companheira.
— O colar dela está escondendo sua
essência e poder, assim como meu
relógio está cobrindo o meu. — Segurei
o pulso dele enquanto Zeph se movia
para tocá-la. — Não o remova. No
segundo em que você fizer isso, ela vai
se iluminar como um farol. — Não era
meu termo favorito, mas meu pai estava
certo em usá-lo.
Zephyrus segurou meu olhar por
vários segundos, depois desviou os
olhos e abaixou a mão para seu colo.
— O Kolstov acha que o pai dele
está sob algum tipo de feitiço. E os
Guerreiros de Sangue estão a caminho
para pegar a Zenaida. Ela deveria ser o
ponto culminante de hoje à noite.
Arqueei as sobrancelhas com
aquelas informações.
Aflora ofegou.
— O quê? — Ela olhou para mim,
arregalando os olhos. — Precisamos
contar ao Shade.
— Acalme sua expressão — falei
rapidamente. — O feitiço de Zephyrus
cobre apenas nossas vozes, não nossas
aparências. — E eu já havia chamado
um pouco de atenção ao segurar o pulso
do Guardião. Felizmente, todos
pensaram que estávamos apenas nos
provocando sobre a minha
acompanhante.
Caramba, ele anunciou que queria
levá-la para os aposentos de Kolstov e
transar com ela sem nenhum tipo de
introdução ou conversa preventiva.
Felizmente, isso correspondia ao
que eu sabia de seu comportamento
típico no que se referia as mulheres. Ele
não media palavras ou sugestões.
Aflora acalmou suas feições, me
impressionando por um breve momento
com sua capacidade de fingir
indiferença.
Então as palavras do Guardião
voltaram para mim.
— Não há como eles a encontrarem
— eu disse.
— De acordo com o Malik
enfeitiçado, Shade forneceu o...
O cartão na mesa se transformou em
cinzas, cortando a explicação de
Zephyrus.
Mas foi o suficiente para eu concluir
o que ele pretendia dizer.
Shade entregou a localização de sua
avó.
Isso não era algo que ele faria de
bom grado. O que significava que havia
outra manobra em jogo aqui, uma em que
eu temia que Zephyrus tivesse acabado
de entrar diretamente.
Se o conselho soubesse de seus
laços, eles usariam esses vínculos para
tentar provocar Aflora a sair de seu
esconderijo. E eu a levei ao coração do
território Nacht.
Meus sentidos ficaram à flor da
pele, avaliando nosso ambiente e me
concentrando no broche de Zephyrus.
Merda de Fae.
O Guardião os levou direto para
nós. Eu deveria tê-lo estudado mais de
perto quando ele se sentou e procurado
sinais de encantamentos.
Porque Aflora não era o farol.
Zephyrus era.
— Deveríamos ir — eu disse,
minhas palavras para Aflora.
— Ah, não. Acho que você deve
ficar — disse uma voz baixa atrás de
mim.
O olhar de Zephyrus se arregalou e
Aflora endureceu.
Eu apenas balancei minha cabeça e
suspirei.
— Olá, Constantine. — Nunca tive o
desprazer de encontrá-lo pessoalmente,
mas seria capaz de reconhecer sua voz
em qualquer lugar.
— Zakkai — ele cumprimentou,
pegando a cadeira ao meu lado, pois
vários Guerreiros de Sangue apareceram
de uma névoa encantada para ocupar o
resto da nossa mesa.
Isso não iria acabar bem.
O que eu não conseguia descobrir
era como eles sabiam que iríamos
comparecer hoje à noite. Fui cuidadoso
com todas as proteções e Aflora não
havia dito uma palavra para...
Dakota, percebi, seus cabelos
castanhos aparecendo na minha visão
periférica. Aquela vadia.
Ela me deu uma aceno como se
tivesse me ouvido e veio ficar atrás de
Constantine, seus dedos provocando
levemente os ombros dele.
— Vai precisar de mais alguma
coisa? — ela perguntou.
— Não, querida. Você foi perfeita,
obrigado. — Ele se inclinou para beijar
seu pulso, descartando-a como fazia
com a maioria das mulheres.
Zephyrus tensionou a mandíbula e
colocou a mão na coxa de Aflora.
Porque sim, Dakota estar aqui
significava que Constantine sabia de
tudo. Não era à toa que ela estava tão
obcecada com minhas intenções para o
baile. Ela esperava provocar um
incidente que os Elite de Sangue
poderiam desperdiçar em alguma grande
exibição. Mas tudo o que eu pretendia
fazer era mostrar a verdade a Aflora.
Esse plano não saiu exatamente pela
culatra. Ela estava prestes a descobrir
algumas verdades duras muito
rapidamente. No entanto, não era assim
que eu pretendia mostrar a ela.
— Onde está o Kols? — Zephyrus
perguntou com a voz calma.
Constantine deu de ombros.
— Ocupado com outra coisa.
Porque ele sabia dos laços de
Kolstov com a Aflora. Brilhante.
Honestamente, eu quase queria aplaudir
Dakota por sua trapaça.
— Então, qual era o plano? —
perguntei, pegando meu vinho para girá-
lo na taça. — A Dakota deveria me
seduzir como ela fez com Kolstov e
Zephyrus? — Porque sim, eu sabia tudo
sobre aquele incidente. — Ela deveria
ter acesso à Fonte através de mim? E
relatar para você?
— Algo assim — Constantine
admitiu. — Mas sua falta de interesse
tornou a manobra difícil.
— Sim, vadias famintas por poder
não são realmente minha praia — falei,
olhando para Zephyrus. — Sem ofensa.
Ele não respondeu ou reconheceu a
declaração, sua atenção estava na nova
leva de Guerreiros de Sangue que se
aproximou da mesa. Eram vinte agora.
Um número razoável. Mas Constantine
subestimou minha habilidade se achava
que isso me intimidaria.
— E agora, Nacht? — perguntei,
pousando a taça sem beber. Dado que
eles sabiam que eu estava vindo,
provavelmente estava envenenado com
algo. Mesmo que não estivesse, eu nunca
aceitaria suas esmolas alcoólicas. —
Você está esperando por um show?
Algum grand finale para apaziguar seus
admiradores?
— Ah, estamos todos prontos para
um grande show — ele disse, parecendo
achar graça. — E estarei fornecendo a
você e sua linda abominação assentos na
primeira fila.
— Embora eu aprecie a oferta
intrigante, acho que vamos ter que
passar. — Mexi na minha gravata, então
sorri para o velho idiota ao meu lado.
— A menos que você queira uma prévia
bastante violenta para o seu evento
principal, sugiro que nos deixe sair.
— E eu insisto que você fique — ​ele
respondeu.
Uma risada arranhou minha garganta,
sua arrogância era surpreendente. Como
se eu...
Aflora soltou um gemido ao meu
lado, seus braços começando a tremer.
— Kai... — Meu nome deixou seus
lábios em um tremor de som. — Eu... eu
não... — Ela apertou o peito, seu corpo
estremeceu violentamente sob algum
tipo de choque invisível, e ela revirou
os olhos.
Zephyrus estendeu a mão para ela,
mas um tremor semelhante percorreu
seus membros, e ele agarrou seu peito
um momento depois, seus lábios se
abrindo em choque enquanto olhava para
Constantine.
— Não.
— Tinha que ser feito —
Constantine respondeu, virando o
pescoço. — Ele manchou o nome Nacht.
Então vou fazer o que faço de melhor e
restaurá-lo. — Ele flexionou os dedos
enquanto o poder girava pela sala, a
Fonte gritando em agonia dentro da
minha cabeça.
Mergulhei para descobrir o que
estava acontecendo, mas fui atingido por
um raio de energia que me derrubou da
cadeira.
— Que comece o show —
Constantine anunciou.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
KOLS

Vários minutos antes

S E EMELYN J YN PUDESSE CUSPIR FOGO ,


ela estaria fazendo isso agora. Ela se
recusou a me reconhecer desde que
chegou, sua raiva palpável e,
francamente, exaustiva.
Eu não tinha paciência para isso.
Se ela soltasse WarFire em mim
novamente, eu devolveria o presente na
forma de um inferno. Eu não queria estar
aqui mais do que ela. Tentei convencer
meu pai a permitir que fôssemos
separados a semana toda. Infelizmente,
ele recusou.
Procurei por ele, me perguntando se
o que eu senti antes tinha sido um acaso.
Mas ele não estava por perto.
Outra esquisitice.
Meu pai nunca se atrasava. E nem
minha mãe.
— Você viu a nossa mãe hoje, Tray?
— perguntei baixinho, absorvendo o
espaço decorado de forma moderna.
Nossa mãe havia escolhido a decoração
desta sala de reuniões – uma que nossa
família raramente usava. Era para
assuntos do Conselho que não podiam
acontecer no complexo principal. E uma
vez por ano, todos nós nos reunimos
aqui antes do Baile de Gala de Sangue
enquanto esperávamos nossa deixa para
entrar no grande salão de baile.
Taças intocadas de champanhe com
infusão de sangue estavam ao longo de
uma bancada na parede dos fundos.
Algumas também foram colocadas na
mesa de carvalho, mas as dezesseis
cadeiras estavam vazias, todos
preferindo ficar de pé.
Meu irmão balançou a cabeça.
— Não tive notícias dela o dia todo.
E é um pouco estranho que ela ainda não
esteja aqui.
— Verdade — concordei, passando
a mão na gravata. — Talvez devêssemos
ir... — Parei quando Shade entrou na
sala usando um terno adequado. Ergui as
sobrancelhas. — Minha nossa. — Ele
nunca havia participado do Baile de
Sangue antes. Por sorte, ele escolheu
estar aqui esta noite. Bom.
Precisávamos conversar.
Encontrei seu olhar e fui em direção
a ele, determinado a ter uma palavra,
mas seu pai se interpôs entre nós.
— Há algo em que eu possa ajudá-
lo, príncipe Kolstov?
— Você pode me ajudar saindo do
meu caminho para que eu possa falar
com Shadow.
— Está tudo bem, pai — Shade
falou. — Essa conversa sempre foi
inevitável.
Seu pai suspirou.
— Tudo bem. Estarei aqui se
precisar de mim.
— Claro — ele respondeu, me
fazendo franzir a testa para sua troca
bizarra. Eles geralmente estavam em
desacordo um com o outro, não jogando
no mesmo time.
Isso me deixou imaginando se as
informações sobre Zenaida eram
verdadeiras.
— Você realmente deu a localização
da sua avó? — perguntei a ele, não me
incomodando em falar baixo.
— O Conselho sabe o paradeiro da
minha avó há anos — ele respondeu. —
Então, sim, eu dei, mas não
recentemente.
Certo. Eu... perdi alguma coisa.
Algo vital.
Olhei ao redor novamente, desta vez
absorvendo a tensão da sala. E o
aumento da presença de Guerreiros de
Sangue – algo que pensei que era para
proteção, mas agora suspeito que servia
a um propósito totalmente diferente.
— Ah, o que você fez, Shade? Eu
perguntei, observando as expressões de
todos os Conselheiros.
Até Lima parecia sombrio.
Mas Emelyn estava ao lado dele
com uma expressão de confusão que
rivalizava com os olhares de Tray e
Ella.
— Eles sabem de tudo — Shade
falou, enfiando as mãos nos bolsos e
encostando na parede. — Eles sabem
que você se vinculou a Aflora. Assim
como sabem que ela esteve com o
Zakkai esse tempo todo. E agora, seu
avô está usando seu Guardião para
localizá-los na festa. Porque eles
também sabem que os dois estão aqui.
— Eles estão aqui? — repeti,
arqueando as sobrancelhas. O resto era
catastrófico, mas pensar que Aflora
estava aqui... Ah, merda.
Shade assentiu, confirmando meu
medo mais sombrio.
— Você vê, eu tenho relatado a eles
desde o início. Porque foi o que eles me
pediram para fazer. E é meu dever como
futuro rei fazer o certo pela minha
espécie. Assim como era seu dever fazer
o certo por todos os Faes da Meia-
Noite. Mas você falhou. Bastante épico,
se estou sendo honesto.
Semicerrei os olhos para ele. Esta
não era o Shadow que eu conhecia. Isso
me lembrou daquela sensação que tive
com relação ao meu pai, só que não
parecia estar consumindo Shade da
mesma maneira.
— De qualquer forma, eu tentei,
Kolstov. Mas você continuou tomando
todas as direções erradas. Eu realmente
fiquei sem escolha. Talvez um dia você
entenda. Supondo que você sobreviva à
descensão.
— Descensão? — Entendi o termo,
pelo menos em princípio. Mas até onde
eu sabia, isso nunca foi feito. — Você
não pode estar falando sério.
— Ah, ele está falando muito sério
— meu pai disse ao entrar na sala,
aquela energia bizarra ainda o
envolvendo. — Você acasalou com uma
abominação. Fatos importantes foram
ocultados sobre seus poderes
crescentes. Mentiu para mim e para o
Conselho sobre seu paradeiro. A
escolheu sobre todos nós e sua própria
espécie. — Ele balançou a cabeça, seu
olhar dourado tinha mais censura do que
tristeza.
Este não é meu pai, pensei,
procurando o homem sob a concha,
aquele que nunca concordaria com uma
emboscada dessa natureza.
Sim, eu tinha ferrado com tudo.
Mas ele me deu a vida. Me criou.
Me amou.
— Pai, eu...
— Quieto — ele retrucou, chamando
Tray com um aceno de mão. O poder
disparou de seus dedos, cravando no
peito de meu irmão e o derrubando no
chão com um gemido que senti em minha
alma.
— Que merda é essa? — questionei,
dando um passo à frente, pronto para
derrubar esse impostor. Nosso pai nunca
se comportaria dessa maneira.
No entanto, ninguém parecia notar.
Todo mundo tinha essa aceitação
vaga, como se estivessem assistindo a
algum filme no Reino Humano, não um
pai agredindo seu filho.
— Você foi julgado e considerado
culpado por conspirar com Quandarys
de Sangue, de abusar de sua posição
como herdeiro do trono de Elite de
Sangue e perjúrio contra o Conselho —
meu pai anunciou. — Cuja punição é a
descensão imediata e a recusa de seus
laços Elite de Sangue.
Ergui as sobrancelhas.
— Quando foi o julgamento?
— Hoje.
Eu quase ri.
— E não tive a chance de falar em
meu próprio nome? Para o meu próprio
Conselho?
— Eu falei por você — Shade disse.
— Como seu companheiro.
Entreabri os lábios quando a
compreensão me atingiu em cheio.
— Seu filho da puta. É por isso que
você me mordeu!
O cretino teve a audácia de dar de
ombros. Ele deu de ombros. Como se
não significasse nada que ele tivesse
tirado todos os meus direitos com uma
única mordida!
E não, a ironia desta situação não
passou despercebida para mim.
Porque ele tinha acabado de fazer
comigo o que fez com Aflora no
começo.
— Isso é muito fodido — eu disse,
balançando a cabeça.
— Fodido é meu próprio filho, meu
sangue, escolher uma abominação sobre
seu dever para com a coroa. — Meu pai
– ou quem quer que fosse esse idiota –
balançou a cabeça. — A descensão
começa agora.
— Quem é você? — questionei.
— Seu rei — ele respondeu, as
palavras estavam repletas de poder e
envolveram meu pescoço como um laço.
— Agora, se ajoelhe.
— Puta merda — ofeguei quando
meus próprios dons rugiram para a vida,
me preparando para uma luta.
Eu não ia me curvar e aceitar essa
merda. A Fonte me escolheu por uma
razão. Eu era o futuro rei. E eu os deixei
sentir essa realidade liberando todo o
meu poder em uma onda rápida de fogo
que engoliu a sala em brasas vermelhas.
— Kols! — Ella gritou, seu pequeno
corpo desmoronando sobre Tray, seu
escudo defensivo derretendo
rapidamente sob minha fúria.
Fogos da Fênix! Eu puxei minha
essência de volta, poupando-a e a meu
irmão, apenas para sentir a energia do
meu pai explodir. Me acertou
diretamente no peito.
Meus joelhos dobraram sob o
impacto e o ar escapou de meus
pulmões. Não! Dei um passo para trás,
criando um escudo para me proteger
contra o ataque, mas era tarde demais.
A energia sombria ondulou por meus
braços, a Fonte chamando meu espírito
para abrir mão do controle. Me atingiu
por dentro, espalhando uma demanda
aguda por minhas veias, sugando a vida
da minha alma.
Gritei, a agonia me rasgando no
meio. Parecia que meu propósito de
vida morria diante dos meus olhos.
Não faça isso. Por favor, não faça
isso! implorei quando a Fonte sombria
renegou todas as promessas que já fiz.
O Conselho não ajudou.
Meu pai continuou puxando...
puxando... puxando.
— Você o está matando! — Ella
gritou.
Lágrimas escorriam dos meus olhos
e minha visão ficou turva enquanto eu
tentava puxar um pouco do poder de
volta para minhas veias, minha alma
gritando de angústia por ter minha
essência arrancada de mim sem
permissão.
Isso não pode estar acontecendo,
pensei, confuso e atordoado. Como isso
está acontecendo?
Não me deram um julgamento.
Eu não tive a chance de falar.
— Pare! — Emelyn exigiu ao
mesmo tempo que Tray ofegou:
— Pai...
O vento ondulou pela sala,
silenciando a todos e focando no meu
peito enquanto outro feitiço batia no meu
coração.
A descensão.
Ele estava eviscerando minha
essência. Tirando meu sangue. Eu tinha
visto isso ser feito. Sabia que as chances
de sobrevivência eram pequenas, e
depois de ter a fonte arrancada de mim?
Eu nunca me recuperaria.
Eu ia morrer.
Pelas mãos do meu pai.
Por me apaixonar por uma
abominação.
Por escolher o certo.
Por não querer submeter uma
inocente à pena de morte só porque
nossas leis arcaicas a condenavam.
Eu me enrolei em uma bola, minha
alma chorando enquanto o sangue era
drenado do meu corpo, tirando cada
pedaço de vida que restava de minhas
veias.
Sinto muito, pensei para Aflora.
Sinto muito por ter falhado com você.
E Zeph.
Ah, merda, Zeph.
Ele morreria também. Não por causa
da minha morte, mas porque o Conselho
exigiria.
Todos eles pagariam por isso.
Porque eu não podia protegê-los.
Porque falhei com eles. Porque deixei
de ver o que estava bem na minha frente
o tempo todo.
Tray, sussurrei, meu gêmeo, minha
outra metade, estava chorando ao longe.
Ele estava inconsolável. Seus sons
ecoavam contra meus ouvidos.
Estendi a mão para ele, meu espírito
ansiando por sua familiaridade. Ele se
foi. Todos se foram.
O Conselho era vil e depravado.
Corrupto pra caramba. Terrivelmente
atrasado.
Eu não posso morrer assim!, pensei,
procurando minhas últimas reservas,
precisando fazer alguma coisa, qualquer
coisa, para aguentar.
Mas não havia nada em que me
agarrar.
Tudo tinha ficado escuro. Escuro.
Demais.
Nenhuma Fonte.
Nenhuma essência Fae da Meia-
Noite.
Nenhuma mágica.
Eu era a concha de um Fae. Deixado
para murchar e morrer sozinho. Porque
eu não terminei os vínculos de
acasalamento. Eu não tinha ninguém. A
não ser Night.
Um grasnado ao longe respondeu ao
meu chamado, penas negras tocando
minha bochecha enquanto meu
encantamento se enrolava em mim com o
som horrível da morte deixando seu
bico. Isso destruiu o que restava da
minha reserva, sabendo que falhei com
ele também. Meu doce e leal corvo. Tão
bonito. Tão cheio de vida. Então...
então... ainda...
Não, chorei, agarrando-o a mim
enquanto as lágrimas escorriam pelo
meu rosto. Você também não.
A injustiça de tudo apertou meu
estômago, meu mundo desaparecendo
em uma nuvem de tormento.
— Nããão! — O grito perfurou meu
ouvido. Aflora. Tentei desesperadamente
vê-la, dizer-lhe para fugir. Mas eu não
conseguia me mexer.
Aflora, pensei, tentando imaginar seu
lindo rosto e falhando. Por que não
podia vê-la? Porque não estávamos
acasalados. Não totalmente. Ela nunca
foi minha. E pela minha vida, eu não
conseguia me lembrar do porquê. Foi
uma terrível reviravolta do destino.
Não haveria volta.
Fuja, sussurrei. Fuja, linda. Fuja.
O silêncio caiu e o arrependimento
ameaçou me dominar.
Nunca tivemos nossa chance.
Escolhi o dever. A arrogância tinha me
consumido. Uma vida sem fim de
imortalidade. Mas às vezes, o destino
prega peças em todos nós.
Aflora...
Minha história foi o desfecho de uma
piada cruel. Não dei valor ao que tinha.
Eu deveria saber.
Há tanta coisa... que eu teria feito...
Isso não pode ser o fim...
Ofeguei, a última das minhas
respirações escapando. Eu a usei para
murmurar o nome dela, meu pedido de
desculpas e arrependimento sussurrados
ao vento.
Deixando-me sozinho com uma alma
murcha e meu corvo moribundo.
Olhando para o abismo.
De uma eterna.
Noite.
Sem estrelas.
CAPÍTULO VINTE E UATRO
AFLORA

EU NÃO CONSEGUIA RESPIRAR.


Eu ouvi Kols na minha cabeça, me
implorando para perdoá-lo, gritando por
outra chance. E me dizendo para fugir.
Mas meus membros estavam congelados
pelo ataque de sua agonia.
Muita dor.
Muito arrependimento.
Muita solidão.
As lágrimas umedeceram minhas
bochechas, e meus joelhos se curvaram
contra meu peito enquanto eu lutava para
recuperar o controle dos meus pulmões.
Mas a separação de sua vida me deixou
imóvel.
Ele se foi, pensei, sentindo a última
respiração deixar seu corpo. Ele se foi e
eu nem consigo vê-lo!
Gritei, sem me importar com quem
ouviu, desistindo de todos ao meu redor,
da vida, do mundo. A injustiça! A
decisão incrível e horrível. E porquê?
Por causa de um vínculo? Um que
criamos?
Os Faes da Terra eram focados na
vida.
Valorizávamos a vitalidade, o sol e
belas criaturas. Eu ansiava por minhas
folhas. Minhas raízes. Minhas lindas e
adoráveis ​flores.
Este reino era cheio de morte e
miséria.
Eles mataram Kols.
Por quê? Eu queria gritar, meu
coração se despedaçou. Nós não
terminamos!
Ele era meu companheiro. Minha
rocha. Minha metade escolhida.
A Fonte da Terra gritou com a perda,
algo que soltei pelos meus próprios
pulmões, com minha alma em
frangalhos. Como você pôde? Eu queria
exigir. O que há de errado com você?
Ele era apenas um homem.
Um membro da realeza.
Um bom Fae.
Com um coração bondoso.
Meu Kols. Meu príncipe. Meu
companheiro Elemental.
Parecia que eles tinham cortado uma
das minhas raízes, a árvore dentro de
mim murchando e morrendo com a
perda. Queimava. Ah, Elementos,
queimava!
Eu esqueci como respirar.
Parei de permitir que meu coração
batesse.
Tudo estava perdido.
Ele se foi.
Meu Kolstov...
— Como você pôde? — Minha voz
um sussurro abafado de som, rouco de
todos os gritos. — Como. Você. Pôde?
A energia saiu de mim, derramando-
se no chão enquanto eu liberava toda a
minha fúria, dor e angústia. Eu estava
cheia. Cheia disso!
Eu odiava todos eles.
Eles iriam queimar.
As chamas saíram dos meus dedos,
queimando o chão.
Gritos se seguiram.
O poder ondulou.
E ainda assim, o soltei, furiosa com
aqueles que prejudicaram a mim e aos
meus. Meu. Companheiro.
Eles o tiraram de mim. Eles
destruíram tudo. Eu os odiava! Eles
pagariam pelo que fizeram. Vozes
chamaram meu nome. Eu os ignorei,
minha agonia muito alta, minhas
lágrimas muito ferozes, meu fogo muito
quente.
Os Fae da Terra criam.
Os Fae da Meia-Noite destroem.
Eles me consideravam uma
abominação – uma combinação dos
dois.
Tudo bem.
Eu aceitaria. E agora? Agora eles
podiam sentir o que acontecia quando eu
usava os dois poderes.
A Fonte de Terra se iluminou quando
arranquei o colar do meu pescoço e
soltei as rédeas. Criar e destruir. Criar.
E. Destruir.
Ilumine tudo.
Então queimei.
Vida.
E.
Morte.
Bem-vindos ao meu mundo.
Preparem-se para se curvar.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
ZAKKAI

ESPLÊNDIDO .
Aflora parecia uma deusa, com o
poder saindo dela a uma proporção
impressionante, virando mesas e
provocando gritos em seu rastro
glorioso.
Cipós ardentes brotaram por todo o
salão de baile, seus membros
carbonizados atirando em direção ao
teto e liberando chamas de proporções
monstruosas.
Ela gritou novamente enquanto
enviava seus galhos, espetando todos
aqueles em seu caminho.
— Aflora! — Zephyrus gritou, seus
olhos verdes selvagens preocupados.
Ele arrancou o broche no momento em
que percebeu como tinha sido usado, seu
aborrecimento palpável. Agora, ele
parecia um guarda desgrenhado, seu
cabelo escuro selvagem e seus olhos
cheios de lágrimas não derramadas.
Se alguém deveria entender a reação
de Aflora, era ele.
No entanto, ele parecia determinado
a impedir sua demonstração de poder.
— Deixe-a em paz — eu disse,
adorando essa demonstração apaixonada
de temperamento. Era literalmente um
sonho vê-la se soltar, usar toda aquela
energia aproveitada em glória vingativa.
Mas todos que mereciam o impacto
de sua explosão não estavam aqui.
Todos os conselheiros e anciãos
estavam em outra sala. A não ser
Constantine.
Ele serviria. Merecia isso mais do
que ninguém.
No entanto, seus olhos estavam
brilhando com aprovação quando ele
encontrou meu olhar, seu sorriso
vitorioso me fazendo parar. Como um
interruptor, aquele olhar se dissolveu em
horror quando ele se afastou da mesa,
gritando:
— Abominação!
Levei dois longos segundos para
perceber seu estratagema e me xingar
por não ter visto antes.
— Corram! — ele gritou, seu poder
crescendo quando assumiu uma postura
defensiva, alinhado com os Guerreiros
de Sangue. — Corram!
Puta merda.
Ele usaria Aflora como exemplo.
Uma demonstração de poder como uma
plataforma para se manter em guerra
contra Quandarys de Sangue e
abominações.
Um fato alarmante que se
concretizou quando os sussurros se
espalharam pelo salão de baile, o terror
crescente alimentando sua performance.
Este era o verdadeiro show.
E Aflora respondeu ao seu papel na
mesma moeda enquanto as chamas
engoliam todas as saídas, suas emoções
conduzindo as reações, não a lógica.
Havia muitos inocentes nesta sala.
Se ela explodisse agora, nunca
estaria apta a liderar, mesmo sob um
novo regime. Todos a temeriam,
perceberiam que Constantine estava
certo em abolir aqueles com muito
poder, e sofreríamos outros mil ou mais
anos dessa segregação imposta.
Destruir Constantine e o Conselho
era o que sempre desejei, e Aflora
poderia conseguir isso neste estado.
Mas não era o caminho certo.
Não era o momento certo.
Não seria nos termos de Constantine
Nacht, mas nos nossos. Eu não podia
permitir que ele a usasse como um peão,
não depois de tudo o que ele tinha feito.
Ele não ganharia. Não nesta rodada.
Nunca.
Arranquei meu relógio e engatei
minha conexão mental com minha
companheira. Aflora. Você precisa se
acalmar. É isso o que o Constantine
quer. Ele vai usar este episódio como
uma plataforma para se manter em sua
busca para aniquilar a todos nós.
Ela não respondeu, a concentração
na destruição crescendo dentro dela,
aquela linda bola de energia cerúleo se
misturando com verde e roxo, além da
Terra.
Vida e morte. Ela estava repetindo
as palavras em sua cabeça com outra
frase. Criar e destruir.
Não, Aflora, eu disse, rastejando até
ela.
Minha companheira caiu da cadeira
momentos depois que o caos irrompeu
na Fonte, e eu não me levantei depois
que Constantine me atingiu com um
feitiço. Eu estava muito atordoado e
confuso com a descida do poder para
tentar lutar. Meu pai incutiu a estratégia
em minha mente desde muito jovem, um
presente pelo qual eu estava grato agora.
Agarrei seu pulso. Aflora.
Chamas surgiram entre nós enquanto
ela tentava me empurrar para longe com
seu WarFire cerúleo. Inalei o feitiço
com minha mente, desmontando-o antes
que ela pudesse me queimar. Então nos
envolvi com uma bolha impenetrável.
Zephyrus caiu dentro dela, meu
encantamento ligado àqueles com os
melhores interesses de Aflora no
coração – que aparentemente o incluíam.
Certo.
Ele poderia ficar.
— Me ajude — exigi, encontrando
seu olhar. — Precisamos acalmá-la.
Eu me encolhi quando Constantine
atingiu meu escudo com um feitiço
destinado a corroer o tecido da minha
camada externa. A Fonte de energia me
deu uma pausa momentânea, e meu olhar
encontrou o dele através da barreira
invisível.
Então peguei as linhas se
contorcendo em sua pele, a Fonte
Sombria crescendo nele a cada segundo,
confirmando sua reascensão. Só que não
era a forma tradicional. Sem
julgamentos. Sem rituais. Apenas uma
chamada para a Fonte Sombria para
conceder-lhe acesso, para nomeá-lo o
legítimo rei.
E outra peça do quebra-cabeça se
encaixou.
Ele estava usando este incidente
para retomar o trono. Ele alegaria que
Malik não era poderoso o suficiente
para parar Aflora, então assumiria o
manto para proteger seu povo.
Uma plataforma fantástica para um
ditador.
Tudo com Aflora no centro. Então
ele usaria sua recém-descoberta
ascensão ao poder para pedir o
extermínio em massa novamente e, desta
vez, ele teria o apoio total do povo.
O medo era um motivador.
E Constantine era um manipulador
experiente.
Vi tudo acontecer em minha mente,
sua estratégia magistral.
— Zakkai! — Zephyrus gritou
enquanto mais WarFire saía de Aflora,
indo direto para o meu escudo. Eu a
puxei de volta com minha mente,
empurrando-a para o chão.
— Pare! — ordenei, colocando as
mãos em seus ombros, montado sobre
ela. — É o que ele quer!
— Precisamos mordê-la —
Zephyrus disse. — Já ajudou antes.
— As outras implosões não foram
intencionais. — Cerrei os dentes quando
ela começou a criar uma parede própria
em sua mente para bloquear a todos nós.
Se ela conseguisse, minha barreira se
dissolveria sob seu poder, e ela
destruiria o lugar.
Me inclinei para beijá-la, colocando
toda a força do meu poder em exibição
enquanto assumi o controle dela como
Arquiteto da Fonte. Teci minha energia
através dela, desmantelando sua parede,
bloco por bloco. Ela rosnou, criando
mais, cada vez mais rápido, mas rebati
cada um e a beijei com mais força.
Vamos, Aflora. Me ouça.
Não! ela gritou, sua agonia era como
uma lâmina contra minha alma. Eles o
mataram! Eles mataram o Kolstov!
Eu sei, eu sussurrei.
Você o queria morto, ela acusou.
Você. Isso tudo é por sua causa!
Suspirei, ouvindo a dor naquelas
palavras e percebendo o quanto ela teria
me odiado se eu cumprisse meu plano de
acabar com toda a linhagem Nacht. Era
tarde demais agora, a ação já estava
feita, e nenhum pedido de desculpas
corrigiria esse erro para ela.
Então tentei outro caminho. Há
muita vida inocente nesta sala, Aflora.
Os que merecem vingança não estão
aqui. Olhe para as almas deles, doce
estrela. Veja quem são.
Ele está aqui, ela rosnou. Ele está
bem ali!
E ele está cercado de inocentes,
tentei novamente. Este não é o caminho.
É o que você queria.
Eu sei, concordei. Mas não assim.
Outro grito entreabriu seus lábios e
mais poder saía dela em fúria
atormentada, suas emoções partiam meu
coração e silenciavam meus sentidos.
— Aflora — Zephyrus murmurou
enquanto ele desabava ao nosso lado,
segurando seu peito, com os olhos
arregalados enquanto a energia ardente o
envolvia como um cobertor letal. Suas
defesas ganharam vida quando ele tentou
lutar, mas o poder dela o destruiu em um
flash, tocando sua pele e provocando um
grito torturado.
— Você vai matá-lo! — gritei,
movendo as mãos para sua garganta e
dando-lhe um aperto. — Foco, Aflora.
Veja o que você está fazendo!
Ela rosnou para mim, então segurei
sua bochecha e inclinei sua cabeça em
direção a Zephyrus. As chamas o
envolveram completamente, e eu não
tinha energia para desmantelar aquele
feitiço e manter nossa barreira – que
Constantine quase havia superado com
sua crescente magia.
Um suspiro ficou preso na garganta
de Aflora, a energia morrendo em um
instante enquanto ela tentava se
contorcer em direção a ele. Eu me movi,
permitindo que ela alcançasse o corpo
agora imóvel.
Constantine lançou outro feitiço
mortal em nossa direção, um que peguei
e devolvi para ele enquanto a energia
perigosa de Aflora se transformava em
vida e vitalidade.
Ela pressionou as palmas das mãos
no peito de Zephyrus, seu novo feitiço
era quente e reconfortante enquanto ela
puxava o encantamento negativo de seu
espírito.
Ele inalou bruscamente em resposta,
então murmurou um xingamento e
apertou o peito. As lágrimas caíam pelas
bochechas de Aflora e pedidos de
desculpas escapavam de seus lábios.
Mas não tínhamos tempo para isso.
Tínhamos um Elite de Sangue irado
martelando na minha carapaça com força
total.
Ascensões levavam tempo por uma
razão. Tinham relação com controle e
equilíbrio, nenhum dos quais ele parecia
possuir no momento.
E ele estava cercado por Guerreiros
de Sangue e Maléficos de Sangue. Suas
energias combinadas formavam uma
arma letal que destruiria a todos nós se
não encontrássemos uma saída.
— Aflora — sussurrei. — Preciso
que você nos esconda.
Não estávamos preparados para esta
batalha.
E ainda havia muitos inocentes, as
chamas de Aflora bloquearam suas
saídas.
— Aflora, eu preciso que você nos
esconda — repeti, fazendo uma careta
quando a camada final do meu escudo
começou a desmoronar. — Agora,
porra!
Ela agarrou meu pulso, ainda
tocando Zephyrus com a outra mão, e
engajou sua conexão com Shade. Foi
visceral e real, minha mente tão
conectada à dela que senti sua energia
crescente.
Ela encontrou o que precisava sem
pensar muito, seus poderes trabalhando
apenas por instinto. Então ela nos girou
em uma nuvem de magia sombria e nos
levou para um lugar que não reconheci.
Eu desabei no chão, minhas reservas
de energia esgotadas e precisando
urgentemente de restauração.
Aflora caiu ao meu lado, com os
ombros tremendo enquanto ela se perdia
em soluços. Zephyrus a puxou para si,
abraçando-a com uma ferocidade que
me deixou com inveja. Eu queria fazer
isso. Queria confortá-la. Mas não
conseguia me mexer.
E eu sabia que ela não me queria
agora.
Você o queria morto, ela disse, e a
acusação estava firme em meus
pensamentos.
Se eu soubesse o que isso faria com
ela... eu... eu não tinha certeza se seria
capaz de seguir em frente. Sempre foi
meu objetivo. Mas vê-la agora, ouvir
seus gritos, vê-la desmoronar... Eu nunca
quis ser responsável por tamanha
agonia.
Ela era minha companheira.
Minha outra metade.
Minha Flora.
Eu nunca a faria passar por algo
assim. Puta merda, ela já passou por
tanta coisa. Ela não merecia nada disso.
Isso me deixou imaginando o que
teria acontecido se eu tivesse recusado a
ordem do meu pai. Nada de vínculo.
Nada de puxá-la para este mundo de
guerra e destruição. Ela estaria em um
canteiro de flores agora? Brincando com
sua magia de Terra? Sorrindo para
algum garoto, um bom companheiro, que
fazia suas árvores e outras formas de
vida florescente?
Meu coração batia
descontroladamente contra minhas
costelas, minha mente formando a
imagem perfeitamente.
Doce Aflora, crescendo em seu
status de Rainha Fae da Terra.
Feliz.
Girando em círculos.
Com flores em seu cabelo.
Tão linda.
Mas seus gritos me lembraram de
sua realidade, seu cabelo escuro se
espalhando pelo tapete enquanto seu
corpo tremia sob soluços violentos.
O encantamento havia passado. Ela
voltou a si. Só que suas íris cerúleas
estavam borradas com lágrimas, suas
bochechas vermelhas, seus ombros
caídos.
Não era assim que ela deveria estar.
Me lembrou uma flor murcha, com suas
pétalas caindo no chão enquanto a vida
desaparecia de suas feições.
Sinto muito, sussurrei em sua mente,
com meu coração partido por ela, por
nós. Sinto muito, Aflora.
Estendi a mão para ela, precisando
fazer alguma coisa, quando os pés
pousaram à minha direita, a essência de
Shade arranhando meus sentidos e
atraindo meu olhar para ele e o corpo
em seus braços.
— Preciso que todos vocês me
ouçam e façam exatamente o que eu digo
— ele declarou. — Ou perderemos o
Kolstov para sempre.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
SHADE

Vários minutos antes

— A MORTE DELE SERÁ SEU FARDO —


minha avó havia me avisado semanas
atrás.
— Acho que estraguei tudo — eu
disse a ela naquela noite.
— Venha — ela respondeu. —
Vamos discutir isso com cookies.
Então eu soube que ela tinha más
notícias para mim. Mas isso... eu não
esperava que ela me avisasse sobre
isso.
Ela disse que a vida de Kolstov era
o preço que eu pagaria por todas as
minhas interações com o tempo.
Bem, eu não aceito esse preço,
pensei, repetindo as palavras que disse
a ela naquela noite.
Não havia como voltar da morte.
Uma vez que um fio de vida terminasse,
nenhuma quantidade de magia ou
manipulação do tempo poderia consertá-
lo.
E era por isso que eu não podia
permitir que a vida de Kolstov
terminasse de forma permanente.
Vamos, Emelyn, pensei. Faça sua
parte.
Ela era minha distração. A bomba
relógio. O que eu sabia que explodiria
se pressionasse o suficiente. E eu
precisava que ela explodisse para mim
agora.
Só preciso de alguns segundos.
Cerrei um pouco os dentes com o
pensamento, mas mudei minhas feições
mais uma vez e cobri o descuido com
um bocejo. Ninguém podia sentir minhas
intenções. E eu só tinha uma chance de
acertar isso.
Vamos. Vamos. Vamos.
Meu pulso acelerou um pouco.
Só um pequeno colapso. Sei que
você pode fazer isso. Eu já vi.
— Você o está matando-o! — Ella
gritou, avançando e sendo jogada para
trás por um dos feitiços de Malik. Lima
estremeceu quando Ella bateu na parede.
Alguns Conselheiros trocaram
olhares.
Olhei para Tadmir. Ele inclinou um
pouco o queixo, dizendo: Ainda não.
Ele sabia o que eu planejava fazer.
Ele me ajudou a planejar todo o
evento.
Ele também sabia o que aconteceria
se eu fizesse algo errado.
— Só há uma chance, Shade. E você
estará arriscando tudo — ele avisou.
— O Kolstov não merece morrer por
minhas escolhas — eu disse.
— Se ele conhecesse o destino
alternativo, poderia discordar.
— Não vamos ter essa discussão —
rebati. — Ou me ajude a consertar tudo,
ou vá se foder.
Eu raramente perdia a paciência,
mas estava no limite com toda essa
besteira. Aflora havia detonado sete
vezes sob minha vigilância. Quase
destruiu inúmeras vidas. E quase tirou a
própria vida depois de perceber a
extensão da dor que causou aos outros.
Nunca mais isso se repetiria.
Esta noite, nós acertaríamos.
Assim que eu resolvesse esse
problema.
Malik juntou energia na palma da
mão, preparando a próxima fase da
punição de Kolstov. Alguns conselheiros
ficaram boquiabertos com sua decisão
de forçar o próprio filho a cumprir as
duas sentenças consecutivas. Isso o
mataria, e todos sabiam.
Mas ninguém falou nada.
Meu pai até sorriu.
Ninguém podia ver a verdade? Que
não era Malik, mas Constantine
assumindo o controle?
— Pare! — Emelyn gritou enquanto
o poder crescia.
— Pai — Tray sussurrou, com os
olhos arregalados de horror.
Emelyn disparou, o WarFire se
formando na ponta dos dedos.
Este era o meu momento.
Cinco segundos, pensei, me
concentrando na alma de Kolstov e
sussurrando um encantamento em minha
mente. Alqiama Fi Al Mawt. A energia
zumbia ao longo da minha pele, sutil e
disfarçada pela explosão de Emelyn
enquanto ela jogava seu poder em
Malik.
Vários suspiros se seguiram, então o
Rei Elite de Sangue atingiu Emelyn com
um encantamento paralisante que a
surpreendeu em silêncio imediato. Lima
praguejou, pegando a filha quando ela
caiu.
— É por isso que as mulheres são
proibidas em assuntos do Conselho —
Malik fervia, as palavras que ouvi
Constantine dizer quase literalmente. —
São muito emocionais. Tire-a daqui.
Lima não discutiu, levando a filha
com passos rápidos.
Tray puxou Ella para perto,
protegendo-a com o corpo, os olhos
arregalados de horror enquanto o pai
retomava o feitiço.
Um choque atingiu meu peito
enquanto eu absorvia o feitiço com
Kolstov, meus vínculos com sua alma
me forçando a suportar a dor com ele.
Meu fardo, pensei, rangendo os
dentes. Eu aceito. Este. Fardo.
Queimou pra caramba, sugando a
vida dos meus pulmões e enfraquecendo
meus joelhos. Para todos os outros, eles
veriam nosso vínculo morrer e
atribuiriam minha reação à dor de
perder um companheiro.
Eu planejei esse momento
perfeitamente.
A experiência anterior havia me
preparado com um plano de
manipulação no qual eu informava
Constantine de tudo o que acontecia.
Incluindo os vínculos de companheiro.
Porque ele já sabia de tudo através
de Dakota.
Ela foi seu trunfo o tempo todo,
tendo seduzido Zephyrus e Kolstov para
ensinar ao futuro rei uma lição valiosa.
Então se infiltrou entre os Quandary de
Sangue sob o pretexto de ter sido
expulsa da sociedade depois que o
príncipe arruinou sua reputação.
Em vez de me esconder, me
apresentei como acessível e confiável.
Mas só fui a Constantine com minhas
informações, então ele me disse o que
dizer aos outros.
Ele achou que eu era sua marionete,
que eu acreditava em suas mentiras
sobre me preparar como futuro rei.
Joguei todos os jogos, venci todos
os enigmas e me ofereci para as tarefas
que ele desejava, sabendo o tempo todo
como elas realmente me beneficiariam
no final.
Constantine usou o desaparecimento
de Aflora como forma de desacreditar
Kolstov, afirmando que ele falhou em
seus testes. Então ele me disse para
deixar Chern sentir os outros vínculos
para que ele revelasse a verdade ao
Conselho.
Aleguei inocência.
— Suas pulseiras esconderam o
vínculo de mim — eu disse. — Mas
Chern os detectou enquanto procurava
por Aflora. Sua essência leva a Zeph e a
Kols.
Vários conselheiros queriam trazer
Kolstov para interrogatório.
Constantine os acalmou, disse para
observá-lo e sugeriu que eu ficasse
encarregado de monitorar o Príncipe
Fae da Meia-Noite.
E foi aí que recomendei a mordida.
— Isso fará com que eu consiga
realmente ficar de olho nele, assim
como em Aflora.
A aprovação nas íris de Constantine
foi enervante.
Então Malik discordou.
E os dois se despediram para se
envolver em uma conversa particular,
uma onde Constantine teceu um feitiço
que ninguém parecia ver, exceto eu.
Talvez porque eu tenha testemunhado
variações em outras linhas do tempo.
Independentemente disso, a
permissão foi dada.
O vínculo foi formado.
E todo mundo achava que eu tinha
feito isso por dever.
Meus joelhos dobraram quando o
resto da vida de Kolstov começou a se
esvair, seu corvo aparecendo do nada
para grasnar em devastação contra o
peito de seu mestre.
Ella caiu em prantos.
Tray ficou atordoado.
E eu me concentrei nesse fio... a
única partícula de vida de que eu
precisava... para trazer Kolstov de
volta.
Não se atreva a me soltar, pensei,
ciente de que ele não podia me ouvir,
seu último suspiro tocando o ar.
Trabalhe comigo aqui, Kolstov. Não
desista.
Mas eu o senti se afastar, seu
coração desacelerando enquanto as
manchas de seu sangue desapareciam.
Totalmente seco.
Esgotado de sua essência.
Morto por todas as definições da
palavra.
Abaixei a cabeça, sentindo meu
coração em frangalhos. Se esse era o
sentimento ao perder um companheiro
de primeiro nível, não podia imaginar o
que aconteceria se algo acontecesse com
Aflora.
A morte me consumiu, minha energia
murchando sob o ataque da perda. Mas
aquele lampejo de vida permaneceu,
puxando minha essência, sugando o
poder necessário para permanecer vivo.
Não me solte, eu sussurrei. Estou
com você.
Lágrimas borraram meus olhos, o
impacto da perda esmagadora e
aterrorizante.
Puta merda, Kols. Apenas... espere.
Porque eu não suportaria perdê-lo. E
eu nem gostava muito dele. Isso devia
estar destruindo Aflora.
Como se ela pudesse me ouvir, um
estrondo de poder atravessou o chão,
sua energia ganhando vida.
Arregalei os olhos com o impacto e
entreabri os lábios quando um cipó
ardente disparou do chão, dizimando a
mesa.
Ah, merda.
Os conselheiros reagiram, Malik
correu para a porta e deixou o cadáver
de seu filho para trás sem pensar duas
vezes.
Tray se arrastou em direção a seu
gêmeo, com uma expressão que eu nunca
queria ver em outra pessoa novamente.
Devastação. Perda. Terror abjeto.
— Tray — Ella sussurrou, com a
voz embargada.
Mas ele não a ouviu, seu corpo
desmoronando sobre o irmão em um
grito angustiado.
Engoli em seco, sentindo meu
coração partido martelando contra
minhas costelas.
Tadmir estava ao meu lado,
ajoelhado com a palma da mão nas
minhas costas.
— Agora, Shadow. Você tem que
levá-lo agora. — As palavras foram um
sussurro contra meu ouvido, perdidas
para todos os outros quando começaram
a sair da sala, correndo em direção à
intensa destruição de Aflora.
— Ele vai ficar bem — Tadmir falou
em um tom mais alto, um sorriso em sua
voz. — Mas não posso dizer que não
estou gostando da dor dele.
— Ah, vá se foder — meu pai
resmungou.
— Vamos, Aswad. Está colocando
um pouco de cabelo muito necessário
em seu peito — Tadmir zombou.
Eu sabia o que ele estava fazendo –
incitando meu pai a outra distração para
me dar tempo de agir.
Uma vez que eu fizesse isso, todos
conheceriam minha verdadeira lealdade.
O jogo terminaria.
Uma decisão final. Porque não
haveria volta depois disso. Brincar com
o tempo não se aplicaria mais, não com
a ressurreição de Kolstov.
Estou com você
Estou com você, repeti, puxando seu
espírito minguante, sua vida literalmente
escorregando por entre meus dedos a
cada segundo que passava. Podemos
fazer isso, Kols. Nós. Podemos. Fazer.
Isso.
Eu me levantei, sentindo meus
membros tremendo com o esforço. Mas
a adrenalina me empurrou para a frente.
Tray rosnou para mim quando me
aproximei, sua fúria era como uma
chicotada em meus sentidos. Então ele
caiu novamente em um grito de agonia
que fez Ella se despedaçar ao lado dele.
— Vou resolver isso — eu disse a
eles em um sussurro abafado, minha voz
mal saindo.
Eu nem tinha certeza se eles me
ouviram e não tinha tempo de dizer isso
de novo.
A essência de Kolstov quase se foi.
Agora, pensei, usando uma explosão
de poder para afastar Tray de seu irmão.
Então me abaixei e peguei Kolstov.
— Shadow? — A confusão do meu
pai era palpável.
Eu o ignorei e mudei meu foco para
Aflora enquanto ela engajava nosso
vínculo. Me escondendo nas sombras,
ouvi seus instintos sussurrando.
Empurrei o dom para ela e disse para
onde ir sem palavras.
Então eu a segui com Kolstov.
E aterrissei trêmulo ao lado de
Zakkai.
Suas íris azul-prateadas brilharam
quando ele olhou para mim.
— Eu preciso que todos vocês me
ouçam e façam exatamente o que eu digo
— eu disse. — Ou perderemos o
Kolstov para sempre.
Então desabei ao lado dele, o fio
para Kolstov se arrebentando dentro da
minha alma.
Sua essência estava flutuando...
flutuando... até que se foi.
CAPÍTULO VINTE E SETE
ZAKKAI

P EGUEI O FEITIÇO DE S HADE EM MINHA


mente, trazendo-o de volta à vida e
percebendo com clareza o que ele tinha
feito.
Kolstov.
Ele lançou um feitiço de
necromancia Sangue de Morte,
destinado a manter a vida pelo maior
tempo possível, normalmente usado
quando se quer questionar um espírito na
vida após a morte.
Um truque inteligente.
Algo que precisava funcionar.
— Aflora — falei, precisando que
ela reforçasse o feitiço, minha energia
diminuindo rapidamente. Me ajude,
exigi em sua mente, empurrando o
encantamento para ela e forçando sua
magia sombria à vida.
Ela ofegou, mas sua confusão se
derreteu para uma compreensão
chocada.
— Kols — ela murmurou, se
jogando no corpo no chão.
Sua essência, sussurrei, puxando seu
foco mental de volta para mim e o
feitiço que eu mal tinha controle. — O
que fazemos com isso? — questionei
por entre os dentes. — Shadow. Me diga
o que fazer com isso. — Porque eu
estava prestes a perdê-los.
Aflora se juntou a mim, sua mente
formando um galho parecido com uma
árvore que ela usou para firmar o
feitiço, sua alma funcionando como a
raiz.
Ela começou a tremer sob o poder, a
vida após a morte exigindo o que lhe era
devido.
Este era o coração da verdadeira
magia sombria.
E ela estava usando sua afinidade
com a vida para manter a alma de
Kolstov em nossa realidade.
Shade começou a cantar em um tom
rouco.
— O que é que está acontecendo? —
Zephyrus exigiu.
— Mantenha-a firme — Shade
rosnou. — Morda-a. Dê tudo a ela.
Zephyrus olhou para o Sangue de
Morte apenas uma vez, então enfiou suas
presas no ombro de Aflora. Ela gritou
quando sua essência a envolveu em um
manto de energia defensiva. Suspirou,
seu alívio era palpável enquanto seu
galho crescia, se enroscando no fio
mágico, centímetro por centímetro, e
desaparecendo no éter.
Eu nunca tinha visto nada parecido.
A combinação de magia era uma
visão deslumbrante.
— Você também — Shade disse por
entre os dentes. — Agora, Zakkai.
Aflora estremeceu novamente e seus
lábios se abriram em agonia.
Imitei a posição de Zephyrus, me
ajoelhando ao dela com a forma de
Kolstov ainda no chão diante de nós, e
mordi seu pescoço. Seu sangue, que era
como um afrodisíaco na minha língua,
me fez gemer. Puta merda, fazia muito
tempo. Quase nunca bebia da veia. E
ultimamente, só tinha me entregado a
alimentos com infusão de sangue.
Mas Aflora...
Querido Fae, Aflora...
Ela gritou, fazendo com que minha
magia reagisse instintivamente à sua dor,
envolvendo-a em energia e dando-lhe
acesso ao que ela precisasse.
Enigmas percorriam sua mente
enquanto ela classificava a cacofonia de
informações que minha essência
fornecia.
Então ela enfiou todos esses detalhes
em seu galho, usando-o para reforçar
seu controle sobre a vida de Kolstov,
infundindo-o com magia sombria mais
uma vez.
Shade se juntou a nós, tomando uma
posição em frente a Kolstov, passando
os dedos pelo cabelo de Aflora e
puxando sua boca para a dele. Em vez
de tomar o sangue dela, ele forneceu o
seu, alimentando-a com sua essência
antes de guiá-la para seu pescoço e
encorajá-la a morder.
Ela não hesitou, absorvendo seu
poder diretamente da veia e envolvendo
meu lado Quandary para descobrir todos
os feitiços de Sangue de Morte que ela
precisava para forçar a alma de Kolstov
a atender seu chamado.
Então ela se mudou para Zephyrus,
forçando-o a soltar seu ombro para que
ela pudesse afundar os dentes em seu
pescoço. Ela usou seu vínculo de
Guardião com Kolstov para localizar os
restos da alma do Príncipe Fae da Meia-
Noite na Fonte, guiando-os de volta ao
seu ser, um pedaço de cada vez.
Shade se inclinou sobre Kolstov,
sussurrando algumas palavras, com as
palmas das mãos no peito do outro
homem.
O ar girou ao nosso redor, a Fonte
respondendo ao chamado para restaurá-
lo.
Fechei os olhos, mergulhando na
minha casa sombria e concedendo a
permissão necessária para criar. As
potências responderam com calorosas
boas-vindas, reconhecendo o Arquiteto
escolhido e permitindo que o
encantamento de Aflora florescesse.
Meu cabelo voou para trás, meus
dentes deixaram a garganta de Aflora
enquanto ela me puxava para um beijo
exigente, seus incisivos perfurando
minha língua.
Eu permiti, gemendo enquanto ela
sugava minha essência, engolindo
avidamente. Então eu a guiei até o ponto
de pulsação do meu pescoço e fechei os
olhos enquanto ela mordia.
A euforia se derramou através de
mim, minhas reservas se reabasteceram
de alguma forma, como se ela tivesse
acabado de me presentear com a
mordida da vida. Eu a senti puxar tudo o
que podia da minha alma e transferi-lo
através de sua ligação com Kolstov.
Vacilei, pois o redirecionamento de
poder era desconfortável.
Mas eu a senti fazendo o mesmo com
os outros laços.
E depois com ela mesma.
Ela derramou a mistura em seu
galho, infundindo o fio com intensa
vitalidade.
Shade segurou o cordão mental, seu
zumbido da magia da Morte fazendo
todos os pelos dos meus braços se
arrepiarem enquanto ele fechava os
olhos e soltava tudo através de suas
mãos no peito de Kolstov.
Seguiu-se o silêncio.
Nenhum de nós se atreveu a respirar.
Aflora estremeceu, suas íris cerúleas
focadas em Kolstov, seu lábio sangrando
cerrado entre os dentes.
Engoli em seco.
Tudo foi feito por instinto, Aflora
assumindo o comando e demonstrando
por que o destino a escolheu para esse
destino.
Mas será que ela fez certo?
As palmas das mãos de Shade
permaneceram no peito de Kolstov, seu
foco no rosto do príncipe. Ele
semicerrou o olhar, levantou o pulso
dele e o mordeu.
— Sangue — Shade disse. — Ele
precisa de sangue. — Ele começou a
baixar o braço para Kolstov, mas Aflora
o segurou.
— Ele precisa do meu. — Ela
mordeu o pulso e o pressionou nos
lábios de Kolstov.
A energia se acumulou ao redor dela
enquanto combinava todas as nossas
essências e a derramava através de sua
linhagem diretamente na boca do
homem.
Segundos se passaram.
Nada aconteceu.
Encontrei o olhar de Shade,
cauteloso.
Zephyrus tinha uma expressão
similar de preocupação enquanto eu
olhava para ele.
Então um baque sutil encontrou meus
ouvidos.
Depois mais um.
E o terceiro.
Seguido por um suspiro do macho
quando seus olhos se abriram, suas íris
douradas esmaecidas para um bronze
queimado. Seu foco caiu inteiramente
em Aflora, e vimos sua garganta se
mover enquanto ele engolia seu sangue.
A magia girou ao redor de todos nós,
revestindo nossa pele com uma essência
única que cheirava a flores
desabrochando.
Aflora.
Ela estava reivindicando a todos nós
com sua alma Elemental.
Protegendo nossos laços.
Fortalecendo-nos com a Terra.
Sua fonte nos deu as boas-vindas,
admirando nossos diferentes poderes e
se concentrando em mim como um
Arquiteto conhecido.
O calor tocou meu espírito, o poder
acendendo, fundindo e criando vida ao
nosso redor.
Videiras rastejavam ao longo das
paredes, flores brotavam nas pontas,
adicionando um toque de cor ao quarto
moderno.
Uma cama de grama se formou no
chão abaixo de nós, ultrapassando o
tapete e criando nosso pequeno oásis.
Aflora se mexeu, chamando minha
atenção de volta para ela e Kolstov. Ela
se curvou para passar os dedos pelos
cabelos dele, as mechas ruivas tingidas
de cinza nas pontas.
O beijo da morte, percebi, notando
suas íris queimadas novamente.
Ele não carregava mais a marca da
Fonte Sombria, mas uma marca da vida
após a morte.
Estudei sua magia com a minha,
notando a forma como tudo se
manifestava dentro dele.
Parte Terra.
Parte Sangue de Morte.
Parte Quandary de Sangue.
Parte Guerreiro de Sangue.
E um pouquinho de Elite de Sangue.
Uma verdadeira abominação. Uma
obra de arte completa. Um milagre.
Olhei para Aflora, impressionado
com seu poder e bondade. Finalmente
entendi porque o destino nos instruiu a
trilhar esse caminho juntos.
Ela possuía todas as qualidades que
um membro da realeza deveria ter.
Era uma verdadeira monarca.
Minha rainha.
O tipo de mulher pela qual valia a
pena desistir de todos os meus planos, o
que eu fiz quando a ajudei a reviver o
príncipe que eu estava destinado a
matar.
Ou talvez nunca tenha sido ele.
Mas o rei que assumiu sua ascensão.
Constantine Nacht. O Elite de
Sangue que começou tudo.
— Ele precisa de mais sangue —
Aflora sussurrou, ainda penteando o
cabelo de Kolstov com os dedos.
Zephyrus mordeu seu pulso e o
estendeu para o outro homem, seus olhos
se fecharam enquanto seu amante e
amigo o agarrava para beber.
Aflora afastou o próprio braço, com
o ferimento ainda fresco. Peguei sua
mão e puxei seu pulso para minha boca,
lambendo a laceração e beijando a pele
macia.
Ela se inclinou para mim, buscando
a força que eu forneci.
Shade deu sangue a Kolstov também,
as sobrancelhas do Elite de Sangue se
curvando para a oferta, mas aceitando
quando Aflora sussurrou:
— Beba.
Eu fui o último.
Me deixando com uma escolha.
Dar a ele a essência de que
precisava para terminar o processo de
cura, ou ir embora.
Uma semana atrás – caramba, há
uma hora – eu teria rido e o deixado à
própria sorte. Mas entendi o destino
diante de nós, o caminho que sempre
deveríamos trilhar, e a razão pela qual
Shade foi tão longe para nos persuadir
nesta linha.
Segurei meu pulso na boca de
Aflora, permitindo que ela fizesse as
honras com seus dentes, então baixei a
oferta para o homem perplexo no chão.
Ele estremeceu quando meu sangue
tocou sua língua, o poder dentro de mim
se contorcendo em resposta à essência
do ex-herdeiro, banhando-o em magia
sombria e restaurando as últimas de suas
reservas.
Um vínculo se estabeleceu entre nós,
unindo nossas almas pela eternidade e
desperdiçando oficialmente minha
capacidade de matá-lo.
Porque nossas vidas estavam ligadas
agora, e a dilatação de suas narinas
confirmou que ele sentia também.
Senti seu vínculo finalizado com
Zephyrus e um brotando com Shade.
E sua ligação quase completa com
Aflora.
Obrigada, ela sussurrou em minha
mente, ciente do que eu tinha acabado de
sacrificar ao permitir que ele
absorvesse minha essência. Minha
retribuição precisaria ser redefinida.
Mas eu já sabia disso.
Ficou óbvio no momento em que
senti sua dor. Eu nunca permitiria que
ela experimentasse tal agonia
novamente.
Inclinei-me para beijá-la, permitindo
que minha boca falasse sem palavras.
Com um braço ao seu redor e a mão
na boca de Kolstov, formamos um
triângulo bem estranho. Apenas
intensificado pelos outros dois homens
no círculo, a presença deles era um
conforto inesperado para a situação em
questão.
Isso me permitiu devorá-la, sem ter
que manter minha guarda para protegê-
la.
Porque eu sabia que Zephyrus e
Shade cuidariam dessa parte.
Então Kolstov soltou meu pulso, sua
energia aquecendo o ar. Aflora se
afastou do meu beijo, seu olhar cerúleo
caindo para o antigo membro da realeza
no chão.
Eles se encararam por um longo
momento, sua expressão intensa. Então
ele olhou para Shade, semicerrando os
olhos.
Uma corrente sussurrante flutuou
pelo ar, o Sangue de Morte
estabelecendo uma ligação telepática
com Kolstov que o resto de nós podia
sentir, mas não ouvir.
Eles só estavam acasalados no
primeiro nível, mas Shade não era um
Fae comum. Não fiquei surpreso que ele
pudesse conversar mentalmente no
estágio inicial de um acasalamento. Ele
provavelmente poderia ter feito o
mesmo com Aflora.
— Em voz alta — Zephyrus disse
em tom de comando.
— Estou dizendo a ele como o
salvamos — Shade respondeu com a voz
suave e reverente. — Como Aflora o
salvou.
— Nós — ela corrigiu. — Você
estava certo em dizer nós.
— O que aconteceu? — Zephyrus
perguntou. — Como... Porque...
— Constantine sabia sobre o
acasalamento — Shade disse, ainda
olhando para Kolstov. — Sabia desde o
começo. E não foi por mim.
— Dakota — murmurei.
— Sim — ele confirmou. — Mas eu
sabia, por experiência anterior, que ela
estava dando as informações. Então fiz o
mesmo para ganhar a confiança dele.
— Quantas vezes isso aconteceu? —
perguntei.
Mas eu já sabia a resposta.
Não havia como voltar no tempo
com a morte.
Estávamos na versão final dos
acontecimentos, com Kolstov para
sempre neste estado. Se voltássemos,
correríamos o risco de deixá-lo para
trás.
— Tudo sempre vem à tona no Baile
de Gala de Sangue — Shade respondeu
com a voz rouca. — Aflora detona.
Pessoas morrem. Mas esta é a primeira
vez que Kols foi despojado da Fonte.
— E a sua avó? — Kolstov
perguntou. — Eles iam pegá-la?
Shade bufou.
— Isso foi um estratagema para
fazer vocês dois reagirem. Mas é
verdade que Constantine sabe a
localização da minha avó. Dakota disse
a ele, assim como eu – novamente, para
ganhar a confiança dele. Mas ele não
pôde usar a informação por causa de
onde ela criou o paradigma.
Eu sorri.
— Sim, o reino Fae Inferno
normalmente não gosta de visitantes.
Sempre me perguntei como Zen os
convenceu a permitir que ela se
escondesse lá. — Ela deve ter feito um
acordo com Lúcifer. Pelo que entendi do
velho Fae, ele os apreciava.
Kolstov e Zephyrus olharam para
mim por um momento, então o último
balançou a cabeça.
— Certo, então o que mudou? —
Zephyrus exigiu. — Por que Constantine
escolheria agir agora e não antes?
— Os vínculos — Shade sussurrou.
— Eles não existiam antes. Não para
você. Não para Kolstov. Não assim.
— Ela sempre os desfez — Kolstov
disse com a voz rouca. — Na minha
suíte.
— Sim — Shade confirmou em voz
baixa, seu olhar indo para uma Aflora
atordoada. — Você cumpriu sua ameaça
de várias maneiras, às vezes naquele
dia, às vezes alguns dias ou semanas
depois. Mas sempre terminava do
mesmo jeito. E foram necessários sete
eventos catastróficos para perceber do
que você precisava. Do que nós
precisávamos. E finalmente está feito.
Estamos... aqui.
O silêncio caiu, todos nós
consumindo essa informação à nossa
maneira.
Eu já suspeitava disso, tinha
sonhado com muitos casos diferentes
que pareciam reais demais para serem
fantasia. Aflora detonando... depois
nada.
— Você nunca a deixa terminar —
falei em voz alta. — É por isso que não
há fim.
— Não exatamente — ele
respondeu. — Eu... eu a vi se perder... e
vi o que isso fez com ela. Todas aquelas
vidas tiradas e destruídas por sua mão...
— Ela se destruía depois — eu
disse, engolindo em seco. — Isso é o
que você previu. — Ou talvez Zen.
Ele assentiu uma vez, confirmando.
— Todas as vezes.
— Eu nunca... eu nunca poderia... —
Aflora balançou a cabeça, olhando entre
todos nós. — Nunca me deixem fazer
isso.
— Nós a impedimos esta noite — eu
a lembrei. — O que eu acho que nunca
aconteceu antes.
— O catalisador para sua erupção
mudou — Shade falou. — Constantine
sempre encontrou uma maneira de
provocá-la, mas ele nunca usou o Kols.
— Porque Kolstov sempre ficou do
lado dele — traduzi.
— Sim — Shade respondeu.
Kolstov balançou a cabeça com
firmeza.
— Eu nunca ficaria do lado dele.
— Você ficou — Shade assegurou.
— Várias vezes. Zeph também.
— Não acredito — Zephyrus
retrucou.
Shade suspirou.
— Ela cortava os vínculos. O que
exigia muito poder. E a experiência
mudou a todos nós de várias maneiras.
— Porque cortar os vínculos requer
sacrifício — eu disse, algo que meu pai
tinha que saber, mas nunca me disse. No
entanto, fazia sentido para mim agora.
— É a magia da alma. Desfazê-lo...
— Dói — Shade terminou por mim.
— Dói. Muito. O que você já sabe.
— Eu nunca rompi nosso vínculo.
— Mas vocês construíram uma
gaiola em volta dele e se impediram de
senti-lo — ele respondeu. — Você sabe
o que é preciso e o que pode fazer.
Olhei para ele por um longo
momento, entendendo sua declaração.
— Isso muda você — eu disse,
repetindo o que ele já havia dito. — Faz
você não reconhecer quem costumava
ser.
Todos esses anos, achei que era o
treinamento do meu pai que havia me
alterado em um nível fundamental. Mas
não era.
Fechar nosso vínculo, ignorar
metade do meu espírito, foi o que me
transformou em uma pessoa mais
sombria e com desejo de vingança. A
experiência também ajudou, mas foi
muito mais profundo.
— É como matar metade da sua alma
— sussurrei.
— Exatamente — Shade respondeu.
— E demorei muito para perceber isso.
Mas quando se altera o destino dessa
maneira, você é sobrecarregado com um
preço.
— Kolstov — eu disse.
— Kolstov — ele concordou,
olhando para o macho em questão. —
Mas eu não estava disposto a pagar esse
preço. Então mordi você e trabalhei com
Tadmir para bolar um plano que salvaria
sua vida. E funcionou.
— O que significa que alteramos
outro fio do destino — murmurei,
semicerrando os olhos. — Em que
caminho estamos agora?
— Um que ainda não foi escrito —
Shade respondeu, com a voz cheia de
emoção. — Um do qual nunca
poderemos voltar.
Porque colocaria em risco tudo o
que acabamos de sacrificar por Kolstov.
Outro momento de silêncio caiu, nós
quatro ajoelhados no chão ao redor do
corpo de Kolstov. Apertei Aflora, meu
braço ainda em volta de suas costas.
Ela olhou para mim e depois para
cada um de seus companheiros, seu
olhar cerúleo aceso com poder
renovado.
— E agora? — ela perguntou.
— Nós matamos Constantine — eu
disse, sem perder o ritmo.
— Nós matamos Constantine —
Zephyrus e Shade concordaram ao
mesmo tempo.
Todos olhamos para o ex-Príncipe
Fae da Meia-Noite, esperando seu
veredito.
— Vamos precisar de um plano —
ele finalmente falou. — Algo bom. —
Então ele olhou ao redor, franzindo a
testa para o quarto. — Onde é que
estamos, afinal?
Ótima pergunta, pensei, seguindo
seu olhar para absorver todas as
decorações terrenas de Aflora.
— Em um paradigma — ela
sussurrou. — Shade o criou.
O Sangue de Morte sorriu.
— Foi sim, pequena rosa.
— Eu posso sentir sua energia por
toda parte — ela admitiu, fechando os
olhos. — Eu posso sentir toda a nossa
energia aqui. — Ela curvou os lábios
enquanto mais Terra brotava para a vida
ao nosso redor, seu poder zumbindo
pelo ar com força renovada.
Força renovada e repleta de
necessidade.
Ela expeliu muita energia.
Tinha trocado muito sangue.
E agora a Fae da Terra nela estava
ansiando por um tipo diferente de
revigoramento.
Curvei os lábios. Ah, pequena
estrela. Você precisa de algo de seus
companheiros?
Seus músculos ficaram tensos ao
longo enquanto ela apertava as coxas
sob o vestido, seu pulso um farol
implorando para ser mordido. Zephyrus
percebeu também, seus olhos verdes
vagando sobre ela com o conhecimento
de um homem bem versado na leitura da
anatomia feminina.
Olhei para Shade, notando seu
sorriso.
Todos nós sentimos. Até Kolstov
estava reagindo, embora um pouco mais
devagar.
Este era um lugar seguro. Eu podia
sentir na infraestrutura do paradigma.
Mas adicionei um toque da minha magia,
reforçando as paredes e adicionando
alguns avisos de gatilho, apenas por
segurança.
Porque eu tinha a sensação de que
estávamos prestes a ficar ocupados por
um tempo.
Bem, pelo menos Aflora ficaria. Eu
poderia ficar parado e vê-la trabalhar.
Eu não queria que nossa primeira vez
fosse com público.
Mas se ela continuasse irradiando
toda aquela energia sexual, eu poderia
estar inclinado a mudar de ideia.
O que há de errado, Aflora?
murmurei em sua mente, bem ciente do
que a incomodava. Mas ela não
respondeu à minha pergunta, que na
verdade era mais uma oferta.
Foi um dia intenso. Todos nós
poderíamos aproveitar um pouco de
alívio, e o sexo proporcionaria isso.
Eu... eu sinto... Ela parou, mordendo
o lábio inferior.
Está carente? sugeri, me inclinando
para mordiscar seu pescoço. Excitada?
Sim, ela gemeu em minha mente.
Mas eu não... eu...
Sorri. Para alguém tão feroz, achei
bastante divertido que ela pudesse
reverter tão rápido ao seu lado tímido e
delicado. Ou talvez ela ainda não tenha
entendido que seu corpo precisava de
nutrição para ajudar a reabastecer suas
reservas. Ela expulsou tanto hoje, mais
do que provavelmente já havia feito. E
agora seu espírito exigia nutrientes
suplementares de seus companheiros.
Tecnicamente, um pouco de sangue
ajudaria.
Mas preferi a sugestão do corpo
dela.
— Aflora? — Kolstov murmurou,
suas pupilas dilatando enquanto a
energia sensual rolava sobre ele. O
macho também estaria desejando vida
depois de estar tão perto da morte.
Todos nós estávamos.
Um zumbido se agitou entre nós,
fervendo de desejo e anseio – um anseio
que apenas nosso coração poderia
aplacar. Nossa Aflora.
Kolstov sussurrou seu nome
novamente, estendendo a mão para ela
enquanto ela abria os olhos.
— Kols — ela gemeu e seus
instintos assumiram enquanto ela
praticamente desabava em cima dele.
Seu corpo se moldou a ele, sua boca
reivindicou a dele.
Meu sangue esquentou, seu poder era
um puxão sedutor que me deixou inútil
para detê-la.
Curve-se para a rainha, sua
essência sussurrou.
E então eu me curvei, minha alma
era dela.
CAPÍTULO VINTE E OITO
AFLORA

A VITALIDADE ME CERCAVA, MINHA


essência da Terra zumbia ao nosso
redor.
Nós criamos a vida.
Renovamos uma alma destruída.
Agitamos a energia em um ser que
merecia muito mais.
O fogo floresceu em minhas veias e
meus poderes se misturaram em um
momento culminante de retidão, com
Kols no centro de tudo.
Eu o beijei como se minha vida
dependesse da dele, porque dependia.
Amarrei a todos nós, enraizei minha
alma em cada um dos meus
companheiros, garantindo que
estivéssemos conectados para sempre.
Um círculo de vida em sua forma
mais verdadeira.
Podíamos não ter planejado que isso
acontecesse. Podíamos até não gostar
muito um do outro. Mas isso não
importava. Pertencíamos um ao outro
agora, e seria assim por toda a
eternidade.
— Me morda de novo — sussurrei,
implorando a Kols para terminar nossa
conexão. Senti seu vínculo de
acasalamento se encaixar com Zeph, e
queria experimentar o mesmo. Eu
precisava pertencer a Kols tanto quanto
ele me pertencia. — Por favor, Kols.
Por favor, me morda novamente.
Ele levantou a mão, entrelaçando os
dedos no meu cabelo enquanto me
segurava com firmeza. Em seguida,
puxou meu pescoço para sua boca,
perfurando minha pele com seus
incisivos em uma deliciosa onda de
êxtase que senti até os dedos dos pés.
De alguma forma, estávamos todos
vestidos.
Um milagre, considerando o inferno
que aquecia minha pele.
Eu queria estar nua.
Para acasalar com meus homens.
Experimentar a luxúria em sua forma
primitiva.
Me dispa, implorei a Zeph. Abra
meu vestido. Por favor.
Senti sua diversão em meus
pensamentos. Adoro quando você
implora, linda flor.
Mas ao invés de me forçar a repetir,
seus dedos foram para minhas costas,
puxando o tecido para expor minhas
costas nuas.
O vestido era muito justo para usar
qualquer coisa por baixo, um fato pelo
qual estava muito satisfeita. Porque isso
significava que eu não tinha mais nada
para retirar.
Só que o zíper terminava perto da
base da minha coluna, me deixando
ainda muito mais vestida do que eu
queria. Tire. Tire isso de mim. Por
favor, Zeph.
Eu o escolhi porque sabia que ele
exigia controle.
Os outros fariam o que eu pedisse.
Mas Zeph faria o que ele preferisse.
Felizmente, ele concordava comigo,
porque rasgou o restante do vestido,
depois puxou as alças, arrebentando-as
com facilidade.
Dei um suspiro de alívio, o ar mais
frio era um toque bem-vindo aos meus
sentidos.
Então Zeph passou a palma da mão
na parte de trás da minha coxa. Eu sabia
que era ele pelo calor e curso medido de
seus movimentos, sua mão era como uma
carícia e uma marca contra minha pele
superaquecida.
Kols soltou meu pescoço com um
gemido.
— Puta merda, é estranho ter você
na minha cabeça.
Zeph riu quando se inclinou para
beijar meu ombro, seu toque subindo
para a umidade crescente entre minhas
coxas. Me sentei nos quadris de Kols,
colocando meu centro diretamente sobre
sua excitação crescente – uma excitação
que Zeph podia sentir agora conforme
deslizava a mão entre nós. Ele se
ajoelhou atrás de mim, seu calor era
como um cobertor bem-vindo contra
minhas costas.
— Beije-o de novo, linda flor — ele
sussurrou. — Acho que ele não teve o
suficiente de sua boca.
Estremeci com a dominância em seu
tom, meus mamilos eriçaram contra a
camisa de Kols enquanto eu o beijava,
exatamente como Zeph exigia.
Minha essência revestiu sua língua,
meu sangue nos uniu no nível final que
acasalava nossas almas.
Quatro companheiros, pensei,
suspirando enquanto todos os seus
espíritos se misturavam com o meu.
De alguma forma, eu havia unido
todos eles no terceiro nível como Fae
Elemental, faltando apenas um ato final.
Algo que exigiria outro Fae Elemental
para administrar.
Faríamos isso mais tarde.
Por enquanto, eu precisava que eles
preenchessem outra necessidade. Algo
que rivalizava em cada um deles. Até
Zakkai. Embora ele tenha escolhido
ficar há alguns metros de distância,
contente em assistir Zeph agir.
Não vá embora, eu disse.
Eu não iria nem se pudesse, estrela,
ele respondeu em minha mente. Além
disso, você vai precisar de mim depois
de sua experiência ‘adequada’ com
eles.
Sorri contra a boca de Kols, me
divertindo com a provocação de Zakkai.
Eles são mais do que adequados.
Veremos.
— Existe algum lubrificante nesse
paradigma? — Zeph perguntou,
descendo seu toque do meu centro
úmido para o meu traseiro, provocando
um arrepio na minha coluna. Eu não
tinha certeza se ele planejava usar isso
em Kols... ou em mim. Era algo que
ainda não tínhamos feito. Algo que eu
nunca tinha feito.
— Sim — Shade respondeu. — Na
mesinha de cabeceira.
— Pegue — Zeph exigiu.
Se o seu Guerreiro de Sangue tentar
me controlar, ele vai aprender que a
única pessoa a quem vou considerar me
ajoelhar é você, Zakkai murmurou em
minha mente. Então vamos torcer para
que ele não pense que vou concordar
com tanta facilidade quanto os outros.
Ele gosta de controle, eu respondi,
arqueando quando Zeph inseriu um dedo
em meu bumbum.
— Oh — murmurei, afastando os
lábios dos de Kols.
— Que tal levá-la para a cama? —
Shade sugeriu. Ele ficou ao lado com o
frasco na mão, exatamente como Zeph
havia pedido.
Bem, exigido.
Eu também gosto de controle,
Zakkai me informou. Acha que pode
lidar com dois machos alfa em sua
vida, doce estrela?
Tenho certeza de que estou cercada
por quatro, respondi quando Zeph me
levantou em seus braços e me levou para
a cama.
— Kols. Tire a roupa — ele disse
enquanto me colocava no colchão.
— Me obrigue — Kols respondeu
com um desafio em seu tom que me fez
apertar as coxas. Ele se levantou. Sua
postura real era um espetáculo para ser
visto depois que esteve tão perto da
morte. No entanto, de alguma forma,
parecia ainda mais real agora com seu
cabelo com pontas cinza e as íris cor de
bronze.
Ele parecia um conquistador.
Conquistador da Morte, pensei,
gostando do novo título.
— Você quer que eu te faça se
despir? — Zeph arqueou uma
sobrancelha escura, virando-se para
Kols enquanto tirava o próprio paletó,
colocando-o ao meu lado na cama. —
Sim, vou fazer isso — decidiu em voz
alta, andando até ele e agarrando-o pelo
pescoço. Zeph capturou a boca de Kols
em um beijo destinado a machucar, me
fazendo gemer na cama com a visão
erótica.
Eu adorava vê-los juntos. Era tão
sensual. Toda aquela luta de
masculinidade e dominação. Isso me
fazia desejar estar no meio, o que senti
que era o plano.
Mas também havia uma emoção
subjacente nos movimentos de Zeph. Seu
toque era rude, mas gentil. Exigente, mas
reverente.
Ele está vivo, Zeph sussurrou para
mim.
Eu sei.
Você o trouxe de volta.
Nós o trouxemos de volta, corrigi.
Agora dispa-o para mim. Eu quero
transar.
Zeph soltou Kols com uma risada e
olhou por cima do ombro.
— Ah, diga isso em voz alta, Aflora.
Você sabe o quanto eu amo essa boca.
— Dispa-o para mim para que
possamos transar — reiterei.
As íris de Kols encontraram as
minhas e suas pupilas cintilaram com a
declaração.
— Vou te morder de novo.
— Que bom — respondi. — Vou te
morder de novo também. — Porque
beber seu sangue foi estranhamente
revigorante, algo que eu nunca poderia
ter previsto.
— Vou prová-la primeiro — Shade
disse, se ajoelhando na cama. Ele tirou o
paletó e a gravata, ficando só de camisa
e calça, seus olhos azuis cor de gelo
cheios de intenção. — Abra suas pernas
para mim, pequena rosa.
Estremeci, mas fiz o que ele pediu.
Ele deu um beijo em meus lábios e
se moveu para se deitar na cama entre
minhas coxas. Sua língua lambeu minha
boceta, seguindo até circular meu
clitóris.
Gemi, com meu corpo em chamas
apenas com aquele mero toque.
Puta merda, você é linda, Zakkai
sussurrou em minha mente.
Procurei por ele e o vi encostado ao
pé da cama, os braços cruzados
enquanto admirava a vista. Ele ainda
usava o paletó – sem gravata – seu olhar
azul-prateado cheio de luxúria. Queria
alcançá-lo, puxá-lo para mim por um
punhado daquele longo cabelo branco,
mas a boca de Kols de repente estava na
minha e sua mão apertando meu peito.
Achei que tinha te perdido, eu disse
através do nosso vinculo, falando em
sua mente pela primeira vez. Fiquei
arrasada sem você, Kols.
Estou aqui, ele respondeu. Estou
aqui por sua causa. Por causa do
Shade. Do Zeph. Até do Zakkai. E
nunca me senti mais vivo. Ele
aprofundou nosso beijo, sua língua
sussurrando uma bênção contra a minha.
Os incisivos de Shade roçaram meu
clitóris, me puxando de volta para ele, e
eu gritei. Você vai precisar aprender a
prestar atenção em todos nós, pequena
rosa. Somos companheiros muito
exigentes.
Eu sei, gemi, me abaixando para
segurar sua cabeça enquanto envolvia a
outra mão no pescoço de Kols. Vocês
estão me matando.
Então ouvi a tampa do lubrificante
se abrir.
— Aqui — Zeph disse, entregando
para Shade. — Prepare-a.
Você gosta de anal, doce estrela?
Zakkai perguntou. Ou só o Zeph que
gosta disso?
Eu... eu gosto de estar no meio,
admiti, me curvando para fora da cama
quando Shade deslizou dois dedos
dentro de mim. Mas eu não... nós não...
geralmente um está na minha boca, e o
outro, ohhh...
Os lábios de Shade cobriram minha
protuberância sensível, sugando com
força enquanto levava minha umidade
para a entrada mais apertada. Ele
colocou lubrificante, me acariciando
com as mãos e a boca enquanto Kols
devorava minha boca, apertava meu
mamilo e aplacava a dor.
Ele fez uma trilha de beijos do meu
pescoço até meus seios, então tomou um
bico rígido em sua boca enquanto
segurava meu olhar.
Foi intensamente erótico,
especialmente porque eu podia ver
Shade atrás dele com sua cabeça entre
minhas coxas.
Então Zeph apareceu de repente
diante de mim, sussurrando sobre os
meus lábios, com um sorriso. Ele havia
tirado a camisa, revelando todos aqueles
músculos que eu adorava lamber. Mas
ele tinha outras ideias para a minha
boca.
Eu me perdi em seu beijo, seu
domínio abrangente e exigindo minha
submissão com cada carícia sensual de
sua língua contra a minha.
Senti sua falta, linda flor, ele
sussurrou em minha mente. Eu nunca
mais vou deixar ninguém tirar você de
mim.
Eu também senti sua falta,
respondi, soltando Kols e retribuindo a
ferocidade de seu beijo. Quero que você
me coma.
Eu pretendo, ele prometeu. Mas o
Kols vai primeiro.
E-eu pensei que você queria minha
bunda. Termos grosseiros eram os
favoritos de Zeph, então eu sempre
tentava usá-los quando falava com ele.
Também queria muito experimentar os
dois dentro de mim ao mesmo tempo.
Sua aprovação irradiava através do
vínculo.
— Você me quer na sua bunda,
Aflora?
— Sim. Eu quero que você me coma
com o Kols, — eu disse em voz alta,
ganhando um gemido do homem no meu
peito. — Dupla penetração —
acrescentei, caso não estivesse sendo
clara.
— E o Shade? — Zeph perguntou.
— Ele está comendo sua boceta. Acho
que ele merece algo em troca.
— Eu quero a boca dela — Shade
respondeu, suas palavras eram como um
zumbido contra meu clitóris sensível.
Apertei mais seu cabelo, meu corpo
tensionando em resposta às suas caricias
e suas palavras.
Porque, os três juntos?
Ah, sim... A fantasia passou pela
minha mente, meu corpo ficou tenso.
— Estou perto — gemi, precisando
que Zeph soubesse. Ele gostava quando
eu pedia permissão, e estava na ponta da
minha língua fazer isso agora. Mas
Zakkai falou.
— Nós sabemos, estrela. — Ele
ainda estava ao pé da cama, os braços
cruzados. — Você pode lidar com os
três de uma vez?
Era o tipo de coisa que Zeph
perguntaria, como evidenciado pelo
brilho em seu olhar enquanto olhava
para Zakkai.
— Eu posso lidar com eles — eu
disse, meu estômago revirando com
antecipação. Sim. Sim por favor.
Eles eram meus companheiros.
Eu confiava neles para cuidar de
mim e garantir minha segurança. Suas
essências me cobriram de proteção, seu
respeito e adoração claros através dos
laços.
Meus músculos se contraíram, meu
espírito ganhou vida com a expectativa
de tomá-los de uma vez enquanto Zakkai
assistia.
Ah, Fae...
— Eu quero — sussurrei,
encontrando o olhar de Zeph. — Preciso
disso.
Ele sorriu, então me beijou de leve,
a carícia gentil tão em desacordo com o
inferno que crescia dentro de mim. —
Você quer gozar, linda flor?
— Sim — sussurrei, meu sangue
zumbindo em antecipação. — Por favor.
Ele passou o nariz pela minha
bochecha, mordiscou o lóbulo da minha
orelha enquanto murmurava:
— Eu adoro quando você implora,
doce flor. — Ele beijou o ponto sensível
abaixo da minha orelha, então roçou
minha garganta com os dentes. —
Morda-a — disse, enfiando seus
incisivos em meu pescoço enquanto
Kols seguiu o exemplo no meu peito.
Gritei. As mordidas atiçaram minha
chama interior a um nível perigoso.
E então Shade culminou o ato
afundando os dentes no meu clitóris.
As palavras saíram da minha boca
em uma onda de sensação diferente de
qualquer outra da minha existência.
Levou-me sob uma nuvem de
incoerência, girando em torno de mim
em um clímax catastrófico que abalou
minha alma.
Me esqueci de como respirar, como
falar e como me mover.
Eu estava me afogando em
masculinidade e virilidade, uma escrava
de suas bocas enquanto eles engoliam
minha essência, me deixando acabada na
cama. Shade me soltou primeiro, sua
língua proporcionando alívio temporário
contra a ferida sensível. Kols foi o
próximo, seus lábios beijando meu
mamilo antes de tomar o outro em sua
boca em uma carícia amorosa.
E, finalmente, Zeph se afastou do
meu pescoço, com as pupilas dilatadas e
cheias de uma fome insaciável. Ele me
beijou, seu próprio sangue tocando
minha língua enquanto me alimentava
com sua essência, reabastecendo a
minha.
Então Kols rastejou pelo meu corpo
e repetiu a ação com sua própria boca,
seu sangue era uma mistura intoxicante
de poder que me deixou gemendo
quando ele terminou nosso beijo.
Shade terminou o ato, sua boca era
como uma oração contra a minha
enquanto sua energia de Sangue de
Morte escorria por minha garganta.
Engoli cada gota, minha mente
zumbindo com eletricidade enquanto
eles terminavam. Mas entrei novamente
em curto-circuito ao encontrar os três
nus. Até mesmo Zeph.
Zakkai ainda estava ao pés da cama,
seu olhar vagando sobre mim com
interesse. Ainda adequado? ele
perguntou baixinho.
Mais do que adequado, respondi,
umedecendo meus lábios repentinamente
secos.
Zeph segurou meu queixo para atrair
meu olhar de volta para si. Ele estudou
minhas feições por um longo momento,
então seus lábios se curvaram.
— Ela está pronta.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
ZEPH

OS OLHOS DE KOLS BRILHARAM, SUAS


íris estavam com um tom de bronze
sedutor. Preferi-o ao ouro. Essa cor o
iluminava de alguma forma, talvez
porque me fizesse pensar na terra.
O que me lembrou de nossa
companheira, como se ela o tivesse
marcado de alguma forma durante a
transição.
Passei o dedo por seu esterno, todo
o caminho até o ápice delicioso entre
suas coxas. Você quer a boceta dela,
Kols? perguntei através de nosso elo
mental – algo de que eu pretendia
abusar.
Eu a quero, ele respondeu.
Qualquer parte dela.
Humm, gemi em concordância. Ela
disse que quer que a gente a coma e o
Shade deseja sua boca. Então o que vai
ser, pequeno príncipe? Bunda ou
boceta?
Não há nada de pequeno em mim,
ele retrucou, me divertindo
imensamente. E também não sou mais
um príncipe.
Eu o encarei, segurando sua
mandíbula.
— Você ainda é um príncipe para
mim — falei em voz alta, puxando-o
para um beijo que fez Aflora gemer de
aprovação na cama. Ela adorava nos ver
juntos, e eu gostava de mimá-la.
Também gostava de beijar Kols. Então
era uma situação positiva para todos
nós.
Ele mordeu meu lábio inferior,
tirando sangue.
— Quero transar — ele disse. —
Agora.
— A ressurreição te fez bem —
respondi, achando graça de sua
impaciência. — Vá se deitar na cama.
Seus olhos brilharam, mas ao invés
de me desafiar novamente, ele escolheu
obedecer.
— Monte nele, Aflora. Coloque-o
dentro de você. Devagar.
Idiota, Kols murmurou em minha
mente.
Deite-se aí e aproveite, respondi.
Ele me surpreendeu com seus
pensamentos, então gemeu quando
Aflora fez exatamente o que exigi, sua
boceta lisa tomando-o até o fim.
— Tão linda — elogiei, admirando
sua posição. — Não se mova.
Eu vou te matar, Kols ameaçou.
— Isso vale para você também,
pequeno príncipe — acrescentei em voz
alta. — Shadow?
O Sangue de Morte olhou para mim,
então se ajoelhou perto de Kols e
Aflora, sua mão envolvendo a parte de
trás do pescoço dela.
— Vou assumir esta parte daqui —
ele disse, guiando-a para sua boca e
beijando-a profundamente.
Ela estremeceu, sua pele se
arrepiando enquanto ela devia estar
provando de sua própria excitação.
Peguei o lubrificante e apertei um pouco
na mão e acariciei meu pau enquanto
observava os dois homens brincarem
com nossa companheira.
Kols segurou seus seios, e Shade
apertou seu pescoço, contente em beijá-
la por enquanto. Respeitei o fato de que
ele não queria apressá-la e decidi seguir
o exemplo enquanto subia na cama atrás
dela.
Não tínhamos feito isso juntos, e eu
suspeitava que fosse algo novo para ela
também. Já fez sexo anal, linda flor?,
sussurrei em sua mente.
Ela gemeu, seus músculos se
contraindo. Não.
Então preciso que você me diga se
isso for demais, eu respondi. Você sabe
como me sinto sobre comunicação.
Certifique-se de usar suas palavras.
Pode deixar, ela prometeu.
Estou confiando em você, Aflora, eu
disse, deslizando dois dedos em seu
traseiro para testar sua preparação.
Muito?
Não, ela respondeu. Insuficiente.
Adicionei o terceiro, e ela gemeu.
Melhor?
Sim, ela gemeu, a aprovação
irradiando através dela.
Você pode aguentar mais?
Ela assentiu, inclinando a cabeça
para trás enquanto Shade a soltava. Sua
boca foi para os seios dela à medida que
Kols colocava as mãos em seus quadris.
Manteríamos o foco em nós dois
primeiro, então, dependendo de como
ela se sentisse, Shade poderia tentar sua
boca. Ele parecia saber disso, o Sangue
de Morte estava mais sintonizado
conosco do que eu jamais poderia ter
previsto. Talvez por causa de seu
vínculo com Kols.
Independentemente disso, funcionou.
Eu nem me importei com Zakkai
assistindo, ciente de que ele estava
agindo como protetor enquanto
transávamos.
Ele provou a si mesmo... Eu não
tinha certeza se realmente confiaria nele,
mas esta noite, confiei.
Aflora gemeu quando comecei a
mover meus dedos dentro dela, e Kols
xingou em minha mente. Eu preciso me
mover, Zeph.
Ainda não.
Eu te odeio.
Não, não odeia, respondi. Você sabe
que estou prestes a tornar tudo muito
bom para você também.
Ele não discutiu, plenamente
consciente de que eu cumpriria essa
promessa. Mas sua necessidade
aumentou quando Aflora começou a se
contorcer, seu corpo se perdendo para
as sensações de ser preenchida em
ambas as extremidades.
Beijei seu ombro, permitindo o
desvio do meu comando, e lentamente
me retirei de seu traseiro. Um protesto
deixou seus lábios, para se transformar
em um som de aprovação quando a
cabeça do meu pau empurrou contra sua
entrada. O impulso inicial é o mais
difícil, eu avisei, pressionando-a
lentamente.
Shade sugou seu mamilo, e Kols
pressionou o polegar em seu clitóris, os
dois fazendo o seu melhor para distraí-
la da dor inicial.
Seu gemido rapidamente se
transformou em um pequeno zumbido
carente, seu corpo tremendo entre nós
enquanto eu a penetrava até o fim.
— Oh — ela gemeu, inclinando a
cabeça para trás contra o meu ombro
novamente. — Oh, Fae.
— Ah, me foda — corrigi. — Esse é
o termo que você está procurando.
— Humm — ela murmurou,
movendo os quadris de forma sensual.
Apoiei a mão em sua barriga para
segurá-la.
— Ainda não — eu disse, querendo
que ela se acostumasse.
— As duas palavras favoritas de
Zeph — Kols murmurou.
— Me come — Aflora exigiu. —
Me come agora.
Zakkai riu, mudando de posição para
ter uma visão melhor.
— Sim, Zephyrus. Coma nossa
rainha.
Eu o ignorei para me concentrar em
Aflora, roçando meus lábios em seu
pulso enquanto me retirava e a penetrava
de volta. Um pequeno suspiro devasso
deixou sua boca bonita, seguido por um
grito de prazer quando repeti a ação.
Agora você pode se mexer, eu disse
a Kols.
Obrigado, ele respondeu, estocando
no ritmo dos meus movimentos.
Aflora praticamente se derreteu
entre nós, sua doce excitação
perfumando o ar enquanto a
penetrávamos em conjunto, levando-a a
um clímax que ela nunca esqueceria.
Então Shade entrelaçou os dedos em
seu cabelo e guiou sua boca até a virilha
dele. Suas mãos foram para a cama para
estabilizar a parte superior de seu corpo
enquanto ele embalava sua cabeça em
um toque muito mais suave do que o
ritmo que Kols e eu estabelecemos entre
suas pernas.
Deslizei meu dedo por sua coluna,
monitorando as respostas de seu corpo
para garantir que não doeria, um pouco
preocupado com a posição
contorcionista em que ela se colocou
para chupar Shade. Mas ela moveu os
quadris de uma maneira que sugeria sua
excitação, seu corpo praticamente
ronronando com êxtase.
Continue acariciando o clitóris
dela, eu exigi.
Eu sei, Kols respondeu, sua voz
rouca de prazer. Segure os seios dela.
O comando fez meus lábios se
contorcerem, mas alcancei seus seuios e
os apertei porque gostei bastante da
ideia. Seu gemido em torno do pau de
Shade fez valer a pena concordar com a
ordem não tão sutil de Kols.
Ela está perto, Kols falou. Ela está
apertando meu pau.
Tive uma sensação semelhante
contra o meu enquanto sua bunda me
apertava. Penetre-a com mais força
Ele empurrou seus quadris para cima
ao mesmo tempo em que empurrei para
baixo, fazendo Aflora gritar ao redor do
pau de Shade. Os dedos dele se
enroscaram em seu cabelo, segurando-a
contra ele enquanto os músculos do
estômago dele se flexionavam, o
orgasmo se aproximando.
— Puta merda, Aflora — ele gemeu.
— Esses sons... da sua garganta... estão
vibrando... meu... puta merda... — Ele
inclinou a cabeça para trás e outro
xingamento deixou sua boca enquanto
ela o engolia profundamente,
persuadindo-o ao orgasmo.
Danadinha, sussurrei em sua mente.
Você o fez gozar mais cedo.
Só estou fazendo o que me
ensinaram, ela respondeu, seu tom
mental tímido e ainda cheio de
satisfação enquanto ela engolia a
essência com pequenos goles
gananciosos.
Alguém estava com sede, murmurei,
estocando nela. Você está pronta para
mim?
Sim, ela gemeu, arqueando entre nós
e soltando Shade.
— Oh!
— Sim. Oh. — Assumi o controle,
segurando seu cabelo e puxando-a de
volta para mim enquanto eu estocava
com firmeza dentro dela, fazendo-a
sentir cada centímetro de mim e Kolstov.
Então afundei meus dentes em seu
ombro, segurando-a enquanto eu a
comia.
Minha mordida, juntamente com o
nosso ritmo, a enviou para outro clímax,
me fazendo desejar gravar e reproduzir
seu grito de prazer por anos a fio.
Ou talvez eu apenas me esforçasse
para fazê-la repetir esse som por toda a
eternidade.
Sim, eu gostava mais desse plano.
Tão gostosa, eu disse a ela. Você é
perfeita, Aflora.
Ela gemeu, movendo os quadris
entre nós enquanto seu orgasmo se
estendia com nossa penetração. Então
Kols gozou dentro dela, abrindo a boca
em um som arrebatador cheio de vida e
êxtase, exigindo que eu me juntasse aos
dois nessa euforia delirante.
Eu gemi, liberando-a de minha
mordida, então puxei sua cabeça para
trás para encontrar meu beijo enquanto
gozava dentro dela, reivindicando-a da
maneira mais íntima conhecida pelos
Faes.
Ela era minha.
Não. Ela era nossa.
Para acalentar e adorar.
Proteger e cuidar.
Admirar e amar.
Tremi com as emoções
avassaladoras, minha mente incapaz de
entender o que tudo isso significava para
mim. Para nós.
Mas eu sabia que ela nos pertencia,
assim como pertencíamos a ela.
Para sempre.
Nossa companheira poderosa.
Nossa Aflora.
Nossa rainha.
MEUS COMPANHEIROS ME DERAM BANHO E
depois me alimentaram. Eventualmente,
me colocaram na cama entre eles.
Zakkai ajudou, mas permaneceu
vestido o tempo todo.
Quando tentei arrastá-lo para os
lençóis para brincar depois dos meus
dois orgasmos anteriores, ele apenas
segurou meu rosto entre as mãos e me
beijou. Então sugeriu um banho quente
para aliviar meus músculos tensos.
Não precisa...? expressei a pergunta
em sua mente, incapaz de completar a
frase inteira sem corar.
Nossa primeira vez não será em
grupo, ele respondeu. E não, os sonhos
não contam. Ele me beijou de novo, o
gesto íntimo.
Mas então ele desapareceu depois
da nossa refeição.
Eu o procurei, sua mente acordada
enquanto ele vagava pelo paradigma,
reforçando os limites. Zeph, Kols e
Shade estavam desmaiados ao meu
redor.
Você vem para a cama? perguntei a
Zakkai.
Hoje não, estrelinha. Mas talvez eu
tire uma soneca quando vocês
acordarem.
Fiz uma careta. Você está nos
guardando.
Estou.
Por quê?
Porque a guerra está apenas
começando, ele respondeu. E ainda que
esse paradigma seja lindamente
construído, não posso deixar de sentir
um pavor iminente. Alguma coisa está
acontecendo.
Considerei suas palavras, então
estendi meus sentidos para o paradigma,
procurando o que ele disse e
encontrando uma perturbação
semelhante na Fonte. Constantine.
Sim, Zakkai respondeu. Sua aura
está em todo lugar. Mas não descobri o
que ele fez. Não tenho certeza se já
está completo.
Eu estremeci. Acha que ele sabe que
trouxemos o Kols de volta?
Provavelmente, sim. Ele vai usá-lo
para aumentar a urgência de nos caçar.
Eles iriam nos caçar de qualquer
maneira, eu apontei.
Verdade, ele concordou. Mas agora
meu povo vai nos caçar também. Salvei
um Nacht. Eles não verão isso com
bons olhos.
Ele não é o Constantine.
Eu entendo isso agora, Zakkai
admitiu. Mas meu pai... acho que ele
nunca vai entender.
E a Zenaida? perguntei.
Zakkai ficou em silêncio, pensando.
Acho que precisamos perguntar ao
Shade. Mas espere até o anoitecer.
Vocês precisam de descanso.
Você também precisa descansar.
Eu vou. Depois, ele prometeu, sua
voz soando como um beijo contra minha
mente. Vá dormir, Aflora.
Está bem, eu concordei, me
aconchegando mais ao peito de Kols. Eu
também estava com a perna dobrada
sobre a dele. Shade estava de conchinha
comigo, enquanto Zeph descansava do
outro lado de Kols com o braço esticado
e a palma da mão na minha coxa.
Era como um pretzel, mas aqueceu
meu coração.
Bons sonhos, querida estrela,
Zakkai sussurrou.
Eu murmurei incoerente, então franzi
a testa. Por que você me chama assim?
perguntei. Estrela, quero dizer. O
apelido sempre me fez sorrir, mas nunca
entendi por que ele o usava.
Você não se lembra de amar as
estrelas quando criança? ele perguntou.
Você sempre queria sair à noite, se
deitar no chão e admirar o céu.
Eu sorri. Eu me lembro disso.
Bem, é por isso que você é minha
estrela.
Meu coração se aqueceu. Eu gosto
disso.
Eu sei, ele respondeu. Agora vá
dormir. Sonhe comigo.
Achei que você tinha dito que os
sonhos não contam.
Não para a primeira vez, mas não
disse que não poderíamos brincar. Eu
podia ouvir o sorriso em sua voz, sua
provocação palpável. Prefiro ser sua
invenção.
Meus lábios se curvaram. Tudo bem.
Tanoomeen Ma Ana.
Sua risada me seguiu até meus
sonhos.
Só que o que me esperava quando
abri os olhos não era uma fantasia, mas
um pesadelo.
Coberto de sangue.
Meu sangue e o de meus
companheiros.
— Olá, Aflora — Constantine
cumprimentou, seu sorriso cruel. —
Acho que está na hora de você e eu
batermos um papo.

Continua...

Obrigada por ler Rainha dos Vampiros:


Livro Três.

Aflora e seus companheiros retornarão


em Rainha dos Vampiros: Livro
Quatro.
NOTA DA
AUTORA

Caro leitor,

Muito obrigada por ler a Rainha dos


Vampiros! Quando embarquei nesta
jornada com a Aflora, pretendia
escrever uma trilogia. Mas então Zakkai
jogou uma chave inglesa nos meus
planos. Ele queria mais de um livro para
contar sua história, e percebi que o final
requer muito mais para lhe fazer justiça.

O que nos leva a Rainha dos Vampiros:


Livro Quatro.
Essa série é dona de um pedaço do meu
coração. Eu realmente amo as vozes e a
magia deste universo. Tudo começou
quando conheci Aflora, em Rainha dos
Elementos. Ela era uma adorável Fae da
Terra com uma história épica para
contar, e estou muito agradecida por ela
ter me escolhido para fazer isso.

Obrigada novamente por ler. <3

Abraços,
Lexi
RAINHA DOSVAMPIROS : LIVRO
Q UATRO

Bem-vindo ao mundo Fae da Meia-


Noite.
Ele é sangrento.
Escuro.
E liderado por um vampiro antigo que
precisa morrer.

Meus dias como peão nesta guerra


acabaram. Estou assumindo como rainha
neste tabuleiro e, na minha versão do
jogo, todos se curvam à mim. Até
mesmo Constantine Nacht.

Ele se acha inteligente me prendendo a


esses testes de ascensão destinados a
matar a mim e a meus companheiros.
Mas vou provar que ele está errado.
Somos mais fortes do que ele pensa.
E vamos fazê-lo sangrar.

Faes da Terra são ligados à vida.


Os Faes da Meia-Noite, preferem a
morte.
Eu sou uma mistura dos dois.
Então vamos ver o que acontece quando
a vida se casa com a morte, certo?

Entregue minha coroa, Constantine.


É hora de você se curvar diante de sua
rainha.

Amazon
Lexi C. Foss é uma escritora perdida no mundo
do TI. Ela mora em Chapel Hill, na North
Carolina, com o marido e seus filhos de pelos.
Quando não está escrevendo, está ocupada
riscando itens da sua lista de viagem. Muitos
dos lugares que visitou podem ser vistos em
seus textos, incluindo o mundo mítico de
Hydria, que é baseado em Hydra nas ilhas
gregas. Ela é peculiar, consome café demais e
adora nadar.
MAIS LIVROS DE LEXI
C. FOSS

Série Aliança de Sangue


Inocência Perdida
Liberdade Perdida
Resistência Perdida
Rebeldia Perdida
Realeza Perdida
Crueldade Perdida

Rainha dos Elementos


Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Rainha dos Vampiros
Livro Um
Livro Dois
Livro Três
Livro Quatro

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Ilha Carnage
Antologia: Entre Deuses

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