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FELIPE LEIMANN BALANIUK

CERTEZA DA SALVAÇÃO:
O que as pessoas entendem e o que a Bíblia ensina.

Monografia apresentada para cumprir as


exigências da disciplina de TCC do curso
Bacharel em Teologia, ministrada pelo
professora Marivete Kunz.

FACULDADE BATISTA PIONEIRA


ÍJUI/RS
2014
2

FACULDADE BATISTA PIONEIRA

CERTEZA DA SALVAÇÃO
O que as pessoas entendem e o que a Bíblia ensina

____________________________________

Autor: Felipe Leimann Balaniuk

____________________________________

Orientador de Conteúdo: Claiton André Kunz

____________________________________

Avaliador de Forma: Claiton André Kunz

____________________________________

Avaliador de Português: Luciano Gonçalves Soares

____________________________________

Avaliador Final: Vanderlei Schach


3

_____________

Média Final

Aprovada em___/___/___

Ijuí/RS

30/11/2014
4

RESUMO

Essa monografia tem como objetivo mostrar que realmente o salvo por Jesus pode ter certeza
plena da sua salvação. Para a produção desta, foram utilizadas referências bibliográficas e em
meio eletrônico. Primeiramente é abordado o conceito de salvação, no contexto do Antigo
Testamento, também no contexto judaico extrabíblico, bem como no greco-romano, e no
contexto eclesiástico atual, para o qual foi realizada uma pesquisa com membros de igrejas.
Posteriormente é tratada a questão das bases falaciosas da salvação, e quais as bases bíblicas
confiáveis que podem comprovar realmente a salvação. Por fim, são abordadas as implicações
da salvação na vida do salvo, e consequentemente na igreja em que congrega.
5

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6

I. DEFINIÇÃO DE SALVAÇÃO ...................................................................... 8

1.1 Conceito...................................................................................................................... 8

1.2 Visão Judaica sobre salvação ................................................................................... 9

1.2.1 Visão sobre Salvação no Antigo Testamento ................................................. 9

1.2.2 Visão sobre salvação no contexto Judaico extrabíblico ............................... 12

1.3 Visão Greco-Romana .............................................................................................. 13

1.4 Visão Eclesiástica .................................................................................................... 14

II – BASES PARA CERTEZA DA SALVAÇÃO .......................................... 18

2.1 Bases falsas............................................................................................................... 18

2.2 Bases Bíblicas........................................................................................................... 23

2.2.1 Evangelhos .................................................................................................... 24

2.2.2 Cartas de Paulo ............................................................................................. 29

2.2.3 Outros Escritos.............................................................................................. 34

III – A CERTEZA DA SALVAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES .................. 38

CONCLUSÃO ................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 49
6

INTRODUÇÃO

É possível ao membro da igreja saber com certeza se é ou não salvo? É possível ter uma
certeza absoluta da salvação através de bases bíblicas? Quais são essas bases? Quais são as
bases erradas que existem? Qual é o pensamento da igreja contemporânea a respeito da
certeza da salvação? Os membros das nossas igrejas tem acesso a essa certeza?

Atualmente o homem se encontra em um mundo em que a certeza absoluta de alguma coisa


não é valorizada, mas, pelo contrário, é desvalorizada. O crente, verdadeiramente salvo por
Jesus, deve buscar essa certeza, e não há lugar melhor para baseá-la do que na Palavra de
Deus. Para tanto, o salvo deve entender quais são as fontes seguras da sua salvação e quais as
que não passam de um engodo.

Esse trabalho se preocupa primeiramente em estudar o tema da certeza da salvação tanto no


seu sentido bíblico, bem como na visão da igreja em relação a esse tema. Não se preocupará
em debater sobre a perda ou não da salvação do crente, visto que ambas as teorias necessitam,
em última análise, apoiar a certeza da salvação. O tema abordado é de extrema relevância,
pois é a questão central que deveria permear os indivíduos que se encontram na igreja e que
professam serem salvos por Jesus. Esse trabalho abordará a questão: pode o crente ter a
certeza da salvação? Quais as falsas bases dessa certeza? Quais as bases bíblicas que podem
comprová-la? E, por fim, quais as implicações que a certeza da salvação traz para o salvo e
consequentemente para a igreja em que congrega?

O primeiro capítulo preocupa-se em definir o termo salvação e o uso desse termo tanto entre
os judeus do Antigo Testamento, no contexto judaico extrabíblico, greco-romano e por fim
nas igrejas contemporâneas.

O segundo capítulo, por sua vez, mostra as bases falsas para a certeza da salvação, quais suas
implicações e quais as bases bíblicas para tal certeza. Quais seriam os versículos bíblicos que
nos dão essa certeza e se há realmente na Bíblia fundamento para crer substancialmente que o
indivíduo está salvo.

O terceiro e último capítulo abordará sobre as implicações da certeza da salvação no


indivíduo e na igreja. Quais são as diferenças entre o membro que tem a certeza da salvação
com uma base correta, e que não possui essa certeza, e ainda como isso influencia na vida
cristã e na obra de Deus.
7

Essa monografia contará ainda com uma pesquisa realizada com membros das igrejas batistas
do Rio Grande do Sul, tendo assim uma visão apurada daquilo que é pertinente a esse assunto,
mostrando, através de gráficos, quais as principais dúvidas e no que essas pessoas baseiam a
sua fé.
8

I. DEFINIÇÃO DE SALVAÇÃO

1.1 Conceito

A salvação é um termo que genericamente refere-se à libertação de um estado ou condição


indesejável. O conceito de salvação eterna, faz alusão à salvação da alma, pela qual a alma se
livraria de uma condenação eterna que esperaria depois da morte.1

A raiz da palavra “salvação” vem do latim salvare, que significa “salvar”, e dee salus, que
significa “saúde” ou “ajuda”. A palavra hebraica traduzida em português por “salvação”
indica segurança. O termo grego soteria, e suas formas cognatas, têm a ideia de cura,
recuperação, redenção, remédio, bem-estar e resgate. Essa palavra pode ser usada em
conexões totalmente físicas e temporais, ou no que diz respeito ao bem-estar da alma,
presente e eterna. A ideia de “salvar”, quando usada para indicar a salvação espiritual, fala do
livramento do pecado, da degradação moral e das penas que devem seguir-se, como o
julgamento divino.2

A palavra grega sõzõ ,tem o significado de salvar, conservar do mal, preservar. Em primeira
instância, esse substantivo tem o sentido de salvação ou livramento em algum perigo de vida,
como em alguma guerra, ou ainda pode ser o livramento de uma doença. Pode também conter
o significado de preservar, ou ainda voltar em segurança para casa. 3 No Novo Testamento, o
verbo sõzõ com seus cognatos diasõzõ e soteria aparecem 159 vezes. 4

Em sua forma mais simples, o verbo salvar significa ser resgatado de uma
situação perigosa ou ameaçadora. Biblicamente, quando Israel escapava das
derrotas nas mãos de seus inimigos em batalhas, dizia-se que foram salvos.
Quando as pessoas se recuperam de uma enfermidade grave, experimentam
salvação. Quando a colheita é poupada das pragas e das secas, o resultado se
chama salvação. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade.5

1
SALVAÇÃO. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Salva%C3%A7%C3%A3o>. Acesso em: 03 mar.
2011.
2
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, v.6, p. 55.
3
BROWN, C. swzo. In: COENEN, L; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento, p. 2001.
4
Ibidim, p. 2007.
5
Disponível em: <http://www.teuministerio.com.br/BRSPIPBRAIPDBD/vsItemDisplay.dsp&object
ID=D3CBE4EA-5B5A- 4BBA-82A62F8A9CD81A6&method=display>. Acesso em: 03 mar. 2011.
9

A Bíblia também usa o termo salvação num sentido específico, para referir-se à redenção
suprema do pecado e à reconciliação com Deus. Neste sentido, se é salvo da pior de todas as
calamidades - o juízo de Deus. A salvação suprema é concretizada por Cristo, o qual "nos
livra da ira vindoura" (1 Ts 1.10).6 O tema principal das Sagradas Escrituras é a salvação.
Jesus, quando foi concebido no ventre de Maria, foi anunciado como o Salvador. Salvador e
salvação caminham junto. O papel do Salvador é salvar.7

1.2 Visão Judaica sobre salvação

1.2.1 Visão sobre Salvação no Antigo Testamento

O Judaísmo entende que o povo judeu é o povo escolhido de Deus e enfatiza o


comportamento ético e moral do homem para que ele obtenha o benefício da salvação. Para
tanto enfatiza o cumprimento das Leis de Deus.8

A necessidade da salvação remonta à expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden (Gn 3). Ao
destruir o mundo com o dilúvio, o Senhor também estava dando uma nova chance para a
humanidade, a salvação de Noé e de sua família foi considerada pelo apóstolo Pedro (2 Pe
2.5) como um modelo da salvação perfeita que recebemos em Cristo. O Êxodo tornou-se um
padrão de salvação que seria usado para interpretar futuros atos de redenção do Senhor.9

O Judaísmo do período do Segundo Templo e antes, considerou o conceito de salvação mais


nacional do que exclusivamente pessoal. A salvação do indivíduo judeu estava ligada à
salvação de todo o povo. Essa crença originou-se diretamente a partir dos ensinamentos da
Torá. Embora Deus, na Torá, ensinasse as pessoas a sua santificação individual, ele também
espera que esta funcione com todo o povo em conjunto espiritualmente, e que todos sejam
responsáveis uns pelos outros.

O conceito de salvação estava ligado ao de restauração para Israel. Incluiu ideias, tais como:
resgate quando haviam inimigos nacionais, restauração dos símbolos nacionais, estado de paz

6
Disponível em: <http://www.teuministerio.com.br/BRSPIPBRAIPDBD/vsItemDisplay.dsp&objectID=
D3CBE4EA-5B5A-4BBA-82A62F8A9CD81A6&method=display>. Acesso em: 03 mar. 2011.
7
Ibidim. Acesso em: 03 mar. 2011
8
SOTERIOLOGIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Soteriologia#Juda.C3.ADsmo>. Acesso em:
08 mar. 2011.
9
YOUNGBLOOD, R. F. Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 1288.
10

entre os povos, libertação de Roma, restauração do Templo, livre apreciação da sua própria
terra, inauguração de uma nova aliança entre Israel e o seu Deus.10

Ainda no Antigo Testamento, diversas vezes pode-se ver o Senhor advertindo e livrando
cidades do seu julgamento. Essa salvação aplicava-se apenas às nações e não aos indivíduos.
As pessoas não eram salvas do pecado, e nem existem para sempre, eram apenas ajudadas e
tratadas em termos físicos e temporais. 11

O propósito divino para a salvação no AT exigia compromisso de fé com o Deus todo-


poderoso mediante atos de obediência à sua palavra (p.e., a viagem de Abraão a Canaã e sua
oferta de Isaque, Hb 11.8-22). O livramento foi realizado pelas obras poderosas de Javé a
favor de seu povo, Israel (p.e., o Êxodo do Egito, Ex 12 e 13), enquanto a adoração a Javé
estabeleceu o princípio do sacrifício expiatório pelo pecado (Lv 1-7).12

A salvação final se acha ligada à vinda do Reino de Deus e da Era Messiânica. Esta salvação
comporta a ressurreição dos mortos, que Deus vai realizar com sua onipotência. Todos os
sofrimentos suportados por fidelidade à Sua lei serão justamente compensados.13

Um dos atributos mais importantes a resultar da eleição de Israel por Deus é o livramento da
nação. Como povo da revelação, os israelitas testemunharam sua salvação. Como pode ser
lido no texto bíblico, em Is 43.10-13:

10 "Vocês são minhas testemunhas", declara o Senhor, "e meu servo, a quem
escolhi, para que vocês saibam e creiam em mim e entendam que eu sou
Deus. Antes de mim nenhum deus se formou, nem haverá algum depois de
mim.
11 Eu, eu mesmo, sou o Senhor, e além de mim não há salvador algum.
12 Eu revelei, salvei e anunciei; eu, e não um deus estrangeiro entre vocês.
Vocês são testemunhas de que eu sou Deus", declara o Senhor.
13 " Desde os dias mais antigos eu o sou. Não há quem possa livrar alguém
de minha mão. Agindo eu quem pode desfazer?"(NVI)

Na LXX a palavra traduzida ao grego é sõzõ, ela traduz 15 verbos do hebraico, os mais
importantes sendo yãsa, que se emprega para “libertar” e “salvar”, e mãlaf, significando

10
JEWISH VIEWS OF SALVATION, FAITH AND FREEDOM. Disponível em:
<http://www.yashanet.com/studies/romstudy/rom2.htm>. Acesso em: 16 mar. 2011.
11
HILL, A. E. Panorama do Antigo Testamento, p. 476.
12
Ibidim, p. 620.
13
GALBIATI, E. A história da salvação no Antigo Testamento, p. 340.
11

“escapulir”, “escapar” e salvar. Outro termo usado é soteria, que abrange seis verbos distintos
no hebraico, tendo ligação principalmente com yãsa.

O verbo hebraico Yãsa mostra que a libertação pode ser realizada através dos homens,
faltando em algumas vezes até mesmo um significado teológico específico, porém em última
análise, embora tenha intervenção humana, essa não exclui necessariamente a intervenção de
Javé. Esse verbo se destaca especialmente nos salmos, onde os homens olham para trás, para
libertação dos inimigos e aflições, e também para frente para a semelhante libertação futura.14

Coenem, citando S. R. Driver, mostra que a salvação e libertação raras vezes, ou talvez nunca,
expressam exclusivamente um estado espiritual. Seu significado teológico comum em
hebraico é o de um livramento material acompanhado por bênçãos espirituais. Ainda assim há
passagens nos profetas que mostram uma dimensão escatológica, como nos últimos dias, em
que Javé trará a plena salvação para o Seu povo.15

Os judeus do primeiro século esperavam ser resgatados do domínio estrangeiro. Isso deveria
ocorrer depois de sofrerem um processo de purificação por violações passadas de sua aliança
com Deus.16

Brun mostra que a história de Israel é a história da atitude salvadora de Deus, uma epopéia de
libertação que chega a alcançar a totalidade da vida nacional. A salvação efetuada por Deus
está sempre relacionada à causa concreta de opressão. Nos dias próximos a vinda de Cristo, os
homens chegaram a perder a esperança de alcançar a libertação da ordem vigente.

Os homens começaram a esperar ansiosamente o dia em que Deus levantaria o seu braço junto
ao Messias para salvar seu povo, liberando-o. Todos os males morais, sociais e políticos, toda
a injustiça econômica operante, a opressão e desobediência dos preceitos divinos seriam
destruídos pelo poder soberano do Senhor da história.17

Salvar significava estar possuído da força necessária para liberar o outro de uma situação
opressiva e atuar com essa força de modo que ela se manifeste claramente. Aquele que

14
Apud. COENEN, L.; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 2003-
2005
15
BROWN, C. swzo. In: COENEN, L.; BROWN, C. Op. Cit., p.2004
16
HILL, A. E. Panorama do Antigo Testamento, p. 476
17
BRUN, M. A. Concepto Cristiano de la salvacion hoy, p. 14
12

necessita de salvação é o que havia sido oprimido e sua salvação consiste na libertação do
agente de sua opressão e o resgate do desastre iminente. Salvar alguém é comunicar-lhe o
poder que possui, mantendo-o sem desfalecer. No Antigo Testamento, somente Deus é tão
poderoso que pode alcançar a salvação ao necessitado.18

Pode-se, então,
entender que a Salvação no Antigo Testamento estava concentrada basicamente no sentido
físico, e não no sentido espiritual. Em grande parte das vezes que a palavra salvação é usada
no Antigo Testamento, é usada em um sentido de livramento de alguma catástrofe, alguma
dificuldade. Porém também entende-se que cumprindo todos os mandamentos e leis dados por
Deus, a salvação pós morte está garantida.

1.2.2 Visão sobre salvação no contexto Judaico extrabíblico

O Judaísmo é uma fé de ação e os judeus acreditam que as pessoas deveriam ser julgadas não
tanto pelo conteúdo intelectual de suas crenças, mas pela forma como vivem a sua fé.19

A doutrina da salvação messiânica judaica não está centrada na imortalidade pessoal, nem na
aplicação teológica da solidariedade do clã. O salvador dos judeus não é go'el (salvador) no
sentido de que ele tomou sobre si o sangue da culpa do pecado efetuadas pelo outro. Além
disso, o vingador “pagou” o homicídio matando outro e não a si mesmo: ele não morreu por
outros, mas ele causou a morte em nome de terceiros. O go'el nunca foi vítima vicária. Foi ele
quem exigiu sangue, mas nunca deu o seu próprio como resgate. Nesta teologia, o termo
"go'el" (salvação) é confundido com "Kofer" (Expiação).20

Nos livros apócrifos, a palavra traduzida para o grego sõzõ e suas formas cognatas se
empregam muito raramente acerca de uma pessoa socorrendo a outra. Mais frequentemente na
voz média e passiva, no sentido de “ser salvo através da fuga”. A grande maioria de
ocorrências tem a ver com a libertação dos fiéis, operada por Deus; inversamente, os deuses
dos pagãos não podem salvar. A ideia de uma salvação eterna vem de Deus, em contraste com

18
Ibidim, p. 13.
19
JUDAISM. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/religion/religions/judaism/>. Acesso em: 17 mar. 2011.
20
JACOBS, J. Salvation. Disponível em:<http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=102&
letter=S&search=SALVATION>. Acesso em: 17 mar. 2011.
13

uma salvação terrestre que vem do homem. O indivíduo piedoso conquista a salvação
mediante as suas orações e piedade, e mediante a ajuda de Deus.21

A literatura de Cunrã geralmente refere-se à salvação e ajuda da parte de Deus na história de


Israel. A salvação divina também figura na vida pessoal dos piedosos. Não é o indivíduo, mas
o povo de Deus como um todo que é o objeto da salvação, Deus salva o Seu povo do poder
das trevas, tendo em mira a salvação eterna. A literatura rabínica, por sua vez, muda a palavra
de yãsa para nasal, assim a intervenção salvífica de Deus se destaca muito mais do que a obra
de ajuda feita pelos homens.22

1.3 Visão Greco-Romana

A visão greco-romana de divindades incluía um panteão de deuses, cada divindade


representada de forma antropomórfica. Essas divindades tinham o poder de salvar e até
mesmo de tornar imortais aqueles heróis que mais se haviam destacado, ou por algum motivo
haviam recebido uma graça divina. Essa religião, muito diversificada, acolhia entre seus fiéis
desde os que alimentavam poucas esperanças em uma vida paradisíaca além túmulo, como os
heróis de Homero, até os que, como Platão, acreditavam no julgamento após a morte, quando
os justos seriam separados dos ímpios.23

Para os gregos, o homem era o centro do universo e a medida de todas as coisas. Cada homem
compunha-se de corpo e alma; esta, ao morrer, descia em forma de sombra para o reino de
Hades, na embarcação de Caronte. Apenas os heróis e os favorecidos dos deuses iam para os
campos elísios. Os rebeldes eram castigados no Tártaro, e quem tivesse cometido crime contra
pessoa do mesmo sangue era perseguido ainda em vida pelas fúrias.24

Elísio, ou Campos Elísios, era um paraíso pré-helênico, uma terra de paz perfeita e felicidade.
Na história de Homero, Elísio era uma terra na extremidade do mundo (pois acreditavam que
a terra era plana) para onde grandes heróis eram carregados, de corpo e alma, e transformados
em imortais. Aí estavam livres para exercerem suas atividades favoritas, livres de
preocupações e doenças. Entretanto, Elísio logo veio a ser considerada como a morada

21
BROWN, C. swzo. In: COENEN, L.; BROWN, C. Op. Cit, p. 2006.
22
BROWN, C. swzo. In: COENEN, L.; BROWN, C. Op. Cit, p. 2007.
23
RELIGIÃO GREGA. Disponível em: <http://www.sosestudante.com/historia/religiao-grega.htm>. Acesso
em: 24 mar. 2011.
24
Ibidim. Acesso em: 24 mar. 2011.
14

abençoada dos mortos, onde as almas de heróis mortos, poetas, sacerdotes e outros homens
bons e íntegros viviam em felicidade perfeita, cercados por grama, árvores e ventos suaves,
envolvidos por uma perpétua luz rosa.

Na mitologia romana, Elísio era uma parte do mundo subterrâneo (Hades) e um lugar de
recompensas para o morto virtuoso. Para alguns, era apenas um paraíso temporário. Ao redor
de suas campinas verdes e macias fluía o Letes, rio do perdão, do qual todas as almas
retornando à vida no mundo superior tinham de beber.25

Nos contextos religiosos, os deuses que salvam os homens dos vários perigos da vida, são
considerados salvadores (soter) e protetores, poderosos para desviar o destino que ameaça os
homens. No gnosticismo atestado pela literatura hermética pós-cristã, é o conhecimento
(gnosis) que salva, o conhecimento dado mediante a revelação divina por um mediador, é que
liberta a alma do poder da morte.26

No Novo Testamento, o conceito de salvação está colocado praticamente sobre a mesma


fundação. Em uma grande porcentagem das citações, a salvação refere-se a situações
concretas de opressão física, psíquica ou espiritual. A salvação por meio de Cristo só pode ser
alcançada por meio da fé nEle, por isso o Evangelho é o poder salvador de Deus ativo no
mundo. O evangelho é a libertação do homem pelo poder de Jesus Cristo de todas as forças
que o alienam e o desumanizam, submetendo-o à escravidão.27

1.4 Visão Eclesiástica

Segundo Ericson, a salvação nada mais é do que a obra de Cristo sendo aplicada na vida do
indivíduo.28 A salvação tem seu fundamento em Deus, portanto perguntas como “por que
somos salvos” e “como somos salvos” só podem encontrar resposta verdadeira em algo fora
do homem, no próprio Deus.29

25
RELIGIÃO GREGA. Disponível em:<http://www.historiadomundo.com.br/grega/religiao-grega.htm>.
Acesso em: 24 mar. 2011.
26
BROWN, C. swzo. In: COENEN, L; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento, p. 2001-2002.
27
BRUN, M. A. Concepto Cristiano de la salvacion hoy, p. 14.
28
ERICKSON, M. J. Introdução à teologia sistemática, p. 369.
29
SEVERA, Z. A. Manual de teologia sistemática, p. 255.
15

A verdadeira ideia da salvação é aquela que contempla mais o futuro do que o passado, mais
aquilo para o que o crente é salvo do que aquilo de que foi salvo. A salvação ensinada por
Jesus acentua mais o céu com toda a sua glória do que o inferno com todo o seu horror. Não
se é salvo apenas por escapar à morte, mas para aproveitar a vida, se é salvo para ser
semelhante a Deus, e não somente para escapar das consequências dos pecados. A maior
alegria do salvo consiste em se transformar e se tornar mais e mais semelhante a Jesus
Cristo.30

Stott mostra que tratar a salvação como meramente um sinônimo de perdão é um erro. Essa
palavra é muito mais abrangente, o plano de Deus começa na reconciliação com Deus, e então
progressivamente ele liberta o indivíduo de seu egoísmo e capacita-o a viver em harmonia
com os seus semelhantes. É à morte de Cristo que se deve o perdão e reconciliação, e é por
meio do seu Espírito que o crente pode ser liberto de si mesmo.31

Segundo Van Cleave, havia uma grande necessidade, um plano de salvação suficiente “para
cobrir o imenso abismo entre esses dois extremos infinitos”, o pecado do homem e a
santidade divina.32 Ele ainda mostra que a salvação se concentra no cargo e função de um
mediador, esta posição foi preenchida pelo sacrifício substitutivo de Jesus.33

O sentido mais geral de salvação que se encontra na palavra de Deus é no sentido de ser salvo
de calamidades como guerras, doenças, morte ou outros perigos. Porém há uma única
catástrofe realmente severa da qual o resgate é a essência da doutrina bíblica da salvação, essa
seria a morte eterna.34

Stott afirma que o termo "salvação" precisa ser “urgentemente libertado do conceito medíocre
e pobre com o qual tende-se a degradá-lo”. "Salvação" é um termo majestoso, que evidencia
todo o amplo propósito de Deus, pelo qual ele justifica, santifica e glorifica o seu povo:
primeiramente, perdoando as ofensas e aceitando-os como justos ao olhar através de Cristo;
depois transformando-os progressivamente, pelo seu Espírito, para serem conforme a imagem

30
LANGSTON, A. B. Esboço de teologia sistemática, p. 299.
31
STOTT, J. Cristianismo Básico, p. 133.
32
DUFFIELD, G. P.; VAN CLEAVE, N. M. Fundamentos da teologia pentecostal, p. 239.
33
Ibidim, p. 240.
34
SPROUL, R.C. Significado da salvação. Disponível em:<http://www.monergismo.com/textos/sotereologia
/significado-salvacao_sproul.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2011.
16

do seu Filho, até que finalmente sejam tornados iguais a Cristo no céu, com novos corpos,
num mundo novo.35

A doutrina da salvação admite o pecado humano, busca em Deus soluções para os problemas
do pecado e do mal no mundo e realmente “obedece”, porque a salvação divina é para a
pessoa toda, e não apenas para a alma.36

A salvação procede do Senhor. Salvação não é um empreendimento humano. Os seres


humanos não podem salvar a si próprios. A salvação é uma obra divina; é concretizada e
aplicada por Deus. A salvação pertence ao Senhor e provém do Senhor. É o Senhor quem os
salva da Sua própria ira.37

O Novo Testamento começa com a reação alegre ao cumprimento das grandes expectativas
proféticas. O Messias de Deus e a salvação de Israel chegaram na pessoa de Jesus, filho de
Maria (Lc 2). A tabela cronológica da nova aliança do Senhor com Israel, prevista por
Jeremias, finalmente concretizou-se ( Jr 31.30-33). A “promessa” da antiga aliança deu lugar
ao “cumprimento” da nova aliança, introduzida por Cristo Jesus, mas como Israel, a igreja de
Cristo recebeu ordem de esperar, mesmo que por muito tempo, por seu retorno triunfante (1
Ts 1.9,10; Tt 2.11-14; Ap 22.20).

Nesse meio tempo a igreja de Jesus espera ansiosamente pelo ponto culminante da sua
salvação (Mt 24.13; 1 Ts 3.12-13; 5.23), o relacionamento completamente restaurado e
perfeito com Deus por meio de Cristo (Fp 3.17-21; Ap 19.1-10; 21.1-8), cheio do
conhecimento de Deus em Cristo (1 Co 13.8-13) e a bênção e o descanso da nova criação e da
cidade celestial (Ap 21.9-22.5).38

A graça individual oferecida ao povo de Deus no Novo Testamento, não é totalmente nova no
período apostólico. A relação da fé individual com Deus é importante em todo o Antigo
Testamento. Mas o foco do Antigo Testamento está no povo revelador, há pouca informação

35
STOTT, J. Essência da salvação. Disponível em: <http://www.johnstott.com.br/2010/08/essencia-da-
salvacao-john-stott.html>. Acesso em: 03 mar. 2011.
36
HILL, A. E. Panorama do Antigo Testamento, p. 539.
37
Disponível em: <http://www.teuministerio.com.br/BRSPIPBRAIPDBD/vsItemDisplay.dsp&objectID=
D3CBE4EA-5B5A-4BBA-82A62F8A9CD81A6&method=display>. Acesso em: 03 mar. 2011.
38
HILL, A. E. Panorama do Antigo Testamento, p. 622.
17

sobre fé ou salvação pessoal. A verdadeira dicotomia não é lei versus graça, mas povo
revelador de Deus versus povo soteriológico de Deus.39

A salvação que vem através de Cristo pode ser descrita em tempos: passado, presente e futuro.
No momento em que uma pessoa creu em Cristo, ela foi salva. Porém, no tempo presente ela
ainda está passando pelo processo contínuo de ser salva do poder do pecado, esperando que
no futuro ela seja salva da própria presença do pecado. Essa experiência de salvação só será
completa quando Cristo voltar, e o reino de Deus for inteiramente revelado.40

39
Ibidim, p. 633.
40
YOUNGBLOOD, R. F. Dicionário ilustrado da Bíblia, p. 1289.
18

II – BASES PARA CERTEZA DA SALVAÇÃO

Como foi apresentado, a salvação no sentido de vida eterna só veio a existir com os
ensinamentos de Jesus no Novo Testamento, porém, apesar desse tema ser tratado tantas
vezes nos Evangelhos e Epístolas, ainda há muita dúvida e confusão quanto à certeza da
salvação. Será que de fato existe a possibilidade de afirmar que se é salvo? Existem crenças
erradas sobre a salvação? Quais são as falsas bases que permeiam esse tema? A Bíblia dá tal
certeza?

2.1 Bases falsas

Há muitas bases falsas para a certeza da salvação, e há ainda aqueles que afirmam que a
certeza da salvação em sentido pleno só se pode ter quando o indivíduo morre. Ve-se então
que uma grande diversidade de bases errôneas, muitas delas não bíblicas, induzem o cristão
ao erro, ou de ter uma certeza falsa de salvação, ou de estar em constante inquietação sobre
não ter essa certeza.

Taylor mostra que um erro muito comum é basear a sua certeza da salvação na obediência, ou
no cumprimento de certas leis. Muitos usam as passagens da lei dada a Moisés. A lei de
Moisés não possui, em suas exigências, caminho para a salvação 41. Esse pensamento leva ao
legalismo, como quando o jovem rico chega a Jesus e pergunta o que deveria fazer para obter
a vida eterna. Ele conhecia todos os mandamentos, mas ao mesmo tempo sabia que eles não
lhe concediam a vida eterna. Jesus, então, manda que ele se desfaça do seu empecilho, o
dinheiro, e assim livre do empecilho, vindo a Jesus dia após dia, ele aprenderia o caminho da
salvação. Nessa passagem, Jesus combate a justiça própria, que exige que o crente seja
perfeitamente bom, quando “ninguém é bom senão um que é Deus” (Lc 18.19). Essa
passagem não ensina nem a salvação pelas obras, ou pelo legalismo, e nem a possível perda
da vida eterna pela falta de obras de obediência. Mostra a impossibilidade de vida eterna se
baseando na obediência e legalismo. Quem crê em Jesus tem a vida eterna, esse é o Seu
Evangelho.42

A salvação não é prometida somente para os obedientes aos mais diferentes mandamentos
evangélicos, muitas vezes a promessa é para “todo aquele que nele crê” (Jo 3.15,16; At 10.43;

41
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 72
42
Ibidim, p. 80-81
19

Rm 1.16). A fé traz a salvação de vez, e tende à obediência o resto da vida, porém a


obediência não é eterna, total, incessante. A salvação, sim, é eterna, e a atitude do crente é
obediente. A obediência que traz salvação é cumprir as condições por Deus estabelecidas de
arrependimento do pecado e fé, crer no Salvador. Obedecendo a esses dois preceitos, pode-se
dizer que o crente será salvo, assim a fé mesmo sem obras de obediência a ritos, cerimônias,
sacramentos ou decálogos, a fé instantânea de um pecador sem mérito, é uma obediência à
exigência divina, é a conformidade com as condições divinas estipuladas para a salvação.43

É natural que os que se apegam à doutrina falsa de salvação pelas obras acreditem que
facilmente o salvo pode perder esta salvação, se praticar obras más ou deixar de praticar obras
boas. O ponto de vista dessa incredulidade antievangélica é legalista. Seu raciocínio está com
a velha aliança de Moisés, embora em alguns casos, graças a Deus, seu coração, incoerente
mas genuinamente crente, esteja com Jesus e a Nova Aliança. A salvação dos tais vale mais
do que eles supõem.44

Stott complementa mostrando que, se o indivíduo que crê que é salvo, quando questionado
sobre qual a base de sua certeza, disser: “Bem, eu levo uma vida decente, eu vou à igreja
regularmente, eu...” já está errado no seu pensamento, torna-se evidente que está confiando
em si mesmo, pois a primeira palavra de sua resposta foi “eu”. Pensando dessa forma, não
pode haver certeza de salvação, só de julgamento. A resposta deve ser simplesmente “Cristo”,
isto é, o salvador que sofreu a morte vicária, Ele é a única esperança.45 Em pesquisa realizada
mais de 14% dos entrevistados colocou a certeza da sua salvação nas boas obras que estavam
se esforçando em fazer, isso mostra o quanto essa doutrina está presente nas igrejas.46

João Wesley, por sua vez, trata de três tipos de pessoas, o homem natural, esse sendo alguém
que nem teme nem ama a Deus, a pessoa “debaixo da lei” que teme a Deus, e a debaixo da
graça que ama a Deus. Um filho do diabo, que ainda dorme, peca voluntariamente, um filho
de Deus não peca, mas guarda-se a si, e o maligno não o toca. O homem natural nem vence
nem luta; o homem debaixo da lei luta contra o pecado, mas não pode vencer; o homem
debaixo da graça luta e vence. Ele ainda pergunta: “você comete pecado ou não o comete? Se

43
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 85ss
44
Ibidim, p. 41
45
STOTT, J. Firmados na fé, p. 47
46
Gráfico sobre certeza da salvação nas igrejas pg. 19
20

o comete, é voluntária ou involuntariamente? Em qualquer caso, Deus já lhe disse a quem


você pertence: aquele que comete pecado é do diabo”. Wesley afirma que, se o indivíduo
combate contra o pecado, mas não vence, então ainda não é crente em Cristo
verdadeiramente. Porém, se luta todos os dias contra o pecado e sai mais que vencedor, então
é verdadeiramente um filho de Deus.47 Enfim a certeza da verdadeira filiação a Deus, e
decorrente salvação, está no fato de que o crente não peca, nem voluntária ou
involuntariamente.

Combatendo o pensamento de João Wesley, vemos que Taylor mostra que não há como
imaginar uma doutrina mais bárbara do que essa em que supõe que Deus mandará para o
inferno seus filhos que caem. Nenhum pai terrestre, quando seu filho cai em falta, o trata com
maldade ou o rejeita, por isso se torna injusto pensar que Deus tornará um seu filho, e por
uma falha o lançará no inferno eternamente. Tiago diz que em muitas coisas tropeçamos
todos, mas nos levantamos e prosseguimos na peregrinação cristã.48

Ryle também combate a ideia mostrada por Wesley, afirmando que a pessoa nascida de novo
odeia o pecado, foge dele, combate-o, considera-o sua maior praga, lamenta quando cai diante
da influência do pecado e deseja ardentemente ser liberto dele. O pecado não lhe causa mais
satisfação, nem é algo que ela se mostre indiferente. Ela não pode evitar a presença do
pecado, se disser que não tem pecado, não haverá verdade em suas palavras (1 Jo 1.8), porém,
ela pode afirmar com sinceridade que odeia o pecado e que o grande desejo da sua alma é não
mais cometê-lo.49

Ainda Stott comenta que o fundamento da salvação é a obra consumada de Cristo, sempre que
a consciência acusar e o crente se sentir sobrecarregado de sentimentos de culpa, tem de
afastar o olhar de si mesmo e voltá-lo para Cristo crucificado, assim tendo paz novamente.
“Pois para aceitar-nos, Deus não depende de nós e daquilo que possamos fazer, mas
inteiramente de Cristo e do que ele fez de uma vez por todas na cruz”.50

Taylor afirma que é errônea a visão de perseverança até o fim da vida, a perseverança se dá
pela salvação, mas é antievangélica a doutrina da salvação pela perseverança. Essa doutrina

47
WESLEY, J. Sermões volume 4, p. 43-44
48
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 91-92
49
RYLE, J. Você já nasceu de novo? Fé para hoje, São José dos Campos, SP, n.11, p. 29, 2001.
50
STOTT, J. Firmados na Fé, p. 49-50
21

mata a doutrina de salvação pela graça. Salvação pela perseverança é a nova lei. Assim como
na velha lei, uma só ofensa anula a segurança. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas
tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos os pontos, então no estado de graça, a
salvação depende de uma cadeia, a cadeia da perseverança, e para que essa cadeia se desfaça
só precisa que um elo se quebre, pois “nenhuma cadeia é mais forte do que o elo mais fraco”.
A ideia de perseverar então se aplica em uma hora trágica, em horas apocalípticas, quando
Deus tem fiéis de grande coragem e lealdade, que perseveram em doutrina e vida fiel. Estes
terão em seu favor uma especial providência que os guardará para o fim da tormenta, até
terminarem seu testemunho e sua missão. 51

Outra base falsa é que muitas pessoas dizem: “Eu pertenço a uma igreja cristã; portanto,
suponho que já nasci de novo”. Milhões de cristãos nominais não manifestam nenhuma das
características e sinais de serem pessoas nascidas de novo, os sinais e características que as
Escrituras nos apresentam.52 Pink mostra que muitos indivíduos acreditam na divindade de
Jesus e, apesar disso, estão perdidos em pecados. Podem falar nele com a mais profunda
reverência, atribuir-lhe seus títulos divinos em suas orações e mesmo assim continuarem
perdidos. Podem até mesmo abominar aqueles que difamam sua pessoa e negam sua
divindade, e, ainda assim, estarem destituídos de qualquer amor espiritual por Ele.53

O grande problema é que muitas pessoas gostariam de ser salvas do inferno, mas não querem
ser salvas de sua vontade própria, do mundanismo e dos seus próprios caminhos.54 John Piper
complementa dizendo que muitas pessoas aceitam a salvação de Cristo não como algo de
supremo valor, precioso, mas como um perdoador de pecados, porque odeiam não estar livres
da culpa, não porque amam a Jesus; recebem a Cristo como aquele que os resgatou do inferno
porque não querem queimar; tomam-no como curandeiro, porque amam estar livres de
doenças; aceitam-no como protetor porque amam estar seguras, como Senhor da prosperidade
porque amam o dinheiro, entre tantos outros, mas não o recebem como algo de supremo valor
pessoal para eles, o que de melhor existe em todo o universo, eles apenas o tratam como se

51
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 93ss
52
RYLE, J. Você já nasceu de novo? Fé para hoje, São José dos Campos, SP, n. 11, p. 28, 2001.
53
PINK, A. Cristo é o seu Senhor? Fé para hoje. São José dos Campos, SP, n. 21, p.12, 2004.
54
Ibidim, p. 28
22

fosse uma carteirinha de sócio que os levará para o céu, não se alegram nele, não descansam
nele, somente o têm como um “ticket” de entrada no céu.55

Duffield enumera algumas outras razões de falsa segurança: busca da salvação pela
observância da lei, através de suas próprias obras. Muitos não nasceram de novo, se uniram à
igreja sem ter experimentado o milagre da graça em seus corações. Ainda outros perceberam a
loucura de seu comportamento pecaminoso e decidiram ter um estilo de vida diferente, se
aperfeiçoaram moralmente, mas não tiveram o novo nascimento. Podem também não ter
enfrentado a questão do pecado em suas vidas. Não tiveram fé no que Deus diz e na Sua
palavra, olham para dentro de si buscando descobrir se estão ou não salvos.56

Frizzel também mostra em seu livro as razões mais comuns para falsas profissões de fé. Entre
elas estão a pressão dos amigos, ou da família; ainda razões sociais, estar na igreja por causa
dos amigos, para fazer parte do grupo; outros não tiveram o entendimento adequado quando
tomaram sua decisão e ainda estão tentando “comprar” a aceitação de Deus. Outros não
tinham uma ideia real do que era convicção do pecado e fizeram um compromisso superficial
com Cristo, essa tem seu fundamento também nas pregações centradas no homem, sem um
acompanhamento posterior com discipulado.57

Em pesquisa de campo realizada, pode-se constatar que a igreja vive com uma grande parcela
de dúvida sobre esse assunto. Na pesquisa foi perguntado se o entrevistado é ou não salvo, ou
ainda se é salvo mas tem dúvidas quanto a sua salvação, e posteriormente no que se baseia a
sua certeza da salvação.

Gráfico sobre certeza da salvação nas igrejas.58

55
PIPER, J. Evangelicalism, Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=b_7AsRg1T1Q>. Acesso em:
06 jun. 2011
56
DUFFIELD, G. Fundamentos da teologia pentecostal, p. 340-341.
57
FRIZZEL, G. Retorno à Santidade, p. 127-128.
58
Pesquisa realizada com 136 mulheres no encontro das Mulheres Cristãs em Ação da AIBANORTE, ocorrido
dia Julho de 2010 na cidade de Giruá-RS e 128 homens no encontro da União de Homens Batistas do Rio
Grande do Sul ocorrido no mês de Novembro na cidade de Itaara-RS.
23

40
35
30
25
20
15
10
5 Homens
0
Mulheres

A segunda resposta foi dissertativa, porém pôde ser encontrado um padrão na grande maioria
delas, que foram separadas por seus assuntos. Pelo gráfico, pode-se notar que há uma grande
parcela dos membros de igrejas que estão com dúvidas sobre a sua salvação. Apesar da
grande maioria dos homens e mulheres terem escrito que baseiam a sua certeza na Bíblia,
somente poucos de fato colocaram algum versículo que possam comprovar essa certeza.
Muitos também escreveram somente que têm a certeza porque Jesus morreu na cruz, ou ainda
porque aceitaram a Jesus, essas respostas, porém, sendo um tanto quanto vagas. Poucas foram
as respostas claras e precisas a respeito desse tema, mostrando um quadro preocupante quanto
à certeza da salvação entre os membros de igrejas.

Existem diversas bases erradas para a certeza da salvação que acabam por deixar o indivíduo
em constante suspense sobre o que ocorrerá após a morte. Ideias como as apresentadas acima
estão espalhadas aos montes nas mais diversas igrejas e denominações, porém, é possível ter
uma segurança plena da salvação? A Bíblia nos dá essa certeza?

2.2 Bases Bíblicas

As bases bíblicas para a certeza da salvação encontram-se, em sua maioria, senão em sua
totalidade no Novo Testamento, visto que a salvação em sentido pleno foi corretamente
compreendida e ensinada com a vinda, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Todas as
passagens do Antigo Testamento que poderiam ser usadas para uma argumentação sobre a
segurança da salvação em Jesus, bem como a vida eterna celeste, forçariam o contexto inicial
24

do texto, não cumprindo com seu papel, visto que as passagens veterotestamentárias tratam de
salvação no sentido físico como visto no capítulo anterior.

Driver, citado por Coenen, mostra que a “salvação e a libertação no Antigo Testamento, raras
vezes, ou talvez nunca, expressam exclusivamente um estado espiritual, seu significado
teológico comum em hebraico é o de um livramento material acompanhado por bênçãos
espirituais”. Há certas passagens nos profetas com dimensão escatológica, mostrando que o
mundo inteiro participará da salvação (Is 45.22; 49.6), ou ainda que Javé trará salvação plena
para seu povo (Is 43.5; Jr 31.7), porém não há nenhuma passagem que mostre certeza da
salvação no sentido ensinado e transmitido por Jesus.59

2.2.1 Evangelhos

"Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus,
mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos
me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome?
Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’.
Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim
vocês, que praticam o mal! ’" (Mt 7.21-23-NVI)

Em Mateus 7.21-23, Jesus faz uma pregação muito séria, mostrando que a atividade mais bem
sucedida e brilhante, combinada com grandes sinais e milagres, não constitui garantia
nenhuma para o crente ser aceito no reino dos céus, nem é um substituto para que relaxe na
seriedade da santificação pessoal. Esse princípio do Senhor obtém uma segunda e igualmente
impactante expressão de rigor em 16.26 60.

As pessoas que Jesus condena são qualificadas de falsas em razão de, em seu caso, a vida e os
lábios não estarem em harmonia. Sua exclamação: “Senhor, Senhor”, não passa de uma
falsidade. Por meio dessa expressão, mesmo agora, neste dia da grande assembléia judicial,
eles se apresentam como servos leais de Cristo; entretanto, em sua vida terrestre, por meio de
suas ações, estiveram proclamando o seu próprio senhorio sobre si mesmos. Porém, nesse dia
do juízo final, eles descobrem que, qualquer que tenha sido o êxito alcançado anteriormente

59
Apud. BROWN, C. swzo. In: COENEN, L.; BROWN, C. Dicionário Internacional de Teologia do Novo
Testamento, p. 2004 et. seq.
60
RIENECKER, F. Evangelho de Mateus. Biblioteca digital Libronix, CD-ROM.
25

ao ludibriar os outros, e talvez até mesmo a eles próprios enquanto estavam sobre a terra, não
podem enganar o juiz. 61

Wiersbe complementa dizendo que a obediência em fazer a vontade divina é a prova da


verdadeira fé em Cristo. Quem é nascido verdadeiramente de novo tem o Espírito de Deus
habitando dentro de si (Rm 8.9), e o Espírito permite que conheça a vontade do Pai. Nem as
palavras ou atividades religiosas substituem essa obediência. Podem ser feitas muitas
atividades inspiradas por Deus, como expulsão de demônios, milagres, mas esses sinais não
garantem a salvação.62

O que as pessoas fazem revela o que são na realidade, não é suficiente chamar Jesus de
Senhor, apenas. No dia do julgamento final, os falsos profetas protestarão, dizendo que
profetizaram em nome de Jesus, expulsaram muitos demônios e realizaram muitos milagres,
mas acabaram declarados praticantes da iniquidade. O Senhor lhes dirá: Nunca vos conheci!
Só entrarão no reino do céu os que fazem a vontade de Deus. O julgamento se baseará em a
pessoa ter vivido segundo a vontade de Deus, e não em vindicações de atividades
apostólicas.63

Ryle mostra que a primeira lição que deve ser tirada é a inutilidade de uma profissão
meramente externa do cristianismo, pois nem todos os que professam o cristianismo, ou se
dizem cristãos, serão salvos. Para salvar uma alma é preciso muito mais do que a maioria das
pessoas parece julgar necessário. O cristão até pode ter sido batizado em nome de Cristo e se
orgulhar presunçosamente dos privilégios eclesiásticos. Podem ser donos de grande
conhecimento intelectual e estar bem satisfeitos com sua condição. Podem até mesmo ser
pregadores e mestres sobre outros, com muitas obras maravilhosas, porém se tudo isso for
algo meramente exterior, não valerá.

Também em João 3 pode-se notar que nem mesmo os mais admiráveis milagres de Jesus
convenceram seus antagonistas, mas somente intensificaram seu endurecimento ao extremo

61
HENDRICKSEN, W. Comentário do Novo Testamento, p. 534.
62
WIERSBE, W. Comentário bíblico expositivo, v.1, p. 37.
63
MOUNCE, R. Novo comentário bíblico contemporâneo, p. 78.
26

(cf. Jo 9.24-34; 11.46-53). Novamente torna-se claro que “milagres” não podem ser a base
vital para uma fé verdadeira.64

Quando Jesus responde a Nicodemos, que seria necessário nascer de novo, num sentido mais
profundo, Jesus respondeu a Nicodemos acertando o ponto crucial que separa pessoas como
Nicodemos e todos os seus amigos de Jesus. O “farisaísmo” sustentava-se pelas realizações
pessoais perante Deus. Nisso ele é a configuração mais clara de toda a “religião” e “devoção”
naturais. Nelas o ser humano ainda está plenamente convicto de si mesmo. Em sua essência
tudo está em ordem. Basta que ainda intensifique suas realizações éticas e religiosas em uma
ou outra direção. Jesus, porém, contradiz exatamente essa atitude. Ele declara a incapacidade
total do ser humano perante Deus. Nesse ponto entram em jogo todo o pensamento e a vida
passados de Nicodemos. É por isso que ele rejeita a palavra de Jesus como impossível, apesar
de há pouco ter saudado Jesus como o mestre que veio de Deus.65

"Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem


prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela
não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas
palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre
a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram
contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda" (Mt 7.24-27 NVI)

A segunda lição é o quadro das duas classes de ouvintes, os que ouvem, mas não praticam, e
os que não apenas ouvem, mas põem em prática. O homem prudente é o segundo, ele não se
contenta em apenas ouvir exortações ao arrependimento, exortações a confiar em Cristo e a
viver uma vida santa. Ele de fato se arrepende, Ele realmente crê. Ele realmente abandona a
prática do mal, aprende a fazer o bem, abomina tudo que é pecaminoso e apega-se ao que é
bom. Ele não só é um ouvinte, mas também é um praticante. O resultado é que em tempos de
aflição sua religião não o desampara, a sua fé não cede.66

Wiersbe afirma que o alicerce da parábola das casas com alicerces em terrenos diferentes é a
obediência à palavra de Deus, essa obediência que comprova a verdadeira fé (Tg 2.1). O
julgamento ilustrado nessa parábola se refere provavelmente ao juízo final de Deus. Aqueles
que creram em Cristo e provaram sua fé pela obediência não terão coisa alguma a temer, pois

64
BOOR, W. Evangelho de João. Biblioteca digital Libronix, CD-ROM.
65
Ibidim.
66
RYLE, J. Meditações no Evangelho de Mateus, p. 51.
27

sua casa está alicerçada na rocha e resistirá. Mas os que dizem crer em Cristo e não obedecem
à vontade de Deus serão condenados.67

A tempestade é o juízo final, embora ambas as casas possam assemelhar-se muito, só uma
delas suportará o teste final. O prudente não só ouve os ensinos de Jesus, mas também tenta
com todos os esforços realizar em sua vida tudo quanto esses ensinos determinam. O homem
insensato pode ter edificado uma teologia bem estruturada, mas é o alicerce, não a casa, que
determina o que acontecerá nos últimos dias. Mounce, citando Filson, diz: “A obediência aos
ensinos de Jesus é a base sólida mediante a qual suportaremos as crises futuras”.68

“Da mesma forma como Moisés levantou a serpente no deserto, assim


também é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todo o
que nele crer tenha a vida eterna. Porque Deus tanto amou o mundo que deu
o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o
mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele. Quem nele crê não é
condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no nome do
Filho Unigênito de Deus.” (Jo 3.14-18 NVI)

No evangelho de João 3.14-18, Jesus precisa explicar a Nicodemos sobre a cruz que será
erigida no Calvário somente anos depois. Então recorre à história da serpente de bronze (Nm
21.8,9), bem conhecida de Nicodemos. Naquele tempo a salvação para Israel veio por meio da
serpente de bronze. A mordida letal das serpentes era curada pela imagem da serpente.
Contudo ela precisava ser levantada, pendurada no alto de um poste, para que todo moribundo
a pudesse ver. Pois disso resultava a salvação, uma coisa que pudesse ser feita também pela
pessoa mais frágil: “olhar” para a serpente. “Desse modo”, exatamente assim, terá de
acontecer hoje novamente para que pessoas sejam salvas e por meio da salvação alcancem o
novo nascimento no Espírito Santo. “Assim importa que o Filho do Homem seja levantado,
para que todo o que crê tenha nele a vida eterna.” A miséria não reside simplesmente na
ausência do Espírito. A mordida da serpente do pecado acarreta a morte. Por isso também
hoje uma “imagem de cobra” precisa curar. O Filho do Homem e Filho de Deus é “feito
pecado” (2Co 5.21), a fim de salvar do pecado. Para tanto, também ele precisa ser
“levantado”, ser pendurado no poste e tornado mundialmente presente através da ressurreição

67
WIERSBE, W. Comentário bíblico expositivo, v.1, p. 38.
68
MOUNCE, R. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, p. 79.
28

e ascensão, “para que todo o que crê tenha nele a vida eterna”. Pois também nesse caso não se
precisa de nada além do “olhar”, do olhar crente para ele.69

A diferença entre viver ou morrer, entre condenação e salvação está na fé em Jesus Cristo.
Jesus veio ao mundo como o salvador e morreu por todos na cruz, tornou-se a “serpente
levantada no deserto”, a serpente do tempo de Moisés deu vida física aos israelitas que
pereciam, mas Jesus Cristo dá vida eterna a todos os que creem nele.70 Paul Washer, em uma
das suas pregações, afirma que “a evidência de que você está salvo é que você creu há um
tempo atrás, e hoje crê em graus cada vez maiores, você se arrependeu há um tempo atrás e
ainda hoje se arrepende em graus cada vez maiores”.71

A única ação exigida ao perdido é crer em Jesus. Esse “crer” faz referência ao “olhar” para a
serpente de bronze. Não é uma realização grandiosa, é um ato executável pelo mais humilde e
fraco. Não requer força, algo grandioso reside no fato de que o próprio ato já constitui o
começo da nova vida. Quem realmente crê e olha com fé para a cruz, dá-se a si mesmo por
perdido, e reconhece unicamente sua libertação no Filho de Deus, que foi sacrificado. Quem
crê, verdadeiramente honra a Deus como Deus, agarra o incompreensível amor de Deus,
considera Jesus, o Filho do Homem, como sendo o único Filho de Deus, que se sacrifica por
ele, o pecador digno de morte. Nisso, porém, a perdição que pesa sobre cada pessoa já é
suspensa.72

Esse crer conduz a ter a vida eterna. Por isso, a vida que lhe pertence é vida futura. Apesar
disso, não apenas a esperamos, mas já a temos agora. João não se cansa de enfatizar isso.
“Ter” é possível porque não se trata de uma eternidade filosófica, que seria um mero contraste
ao tempo, mas da vida divina, que também já pode ser vivida no tempo presente. Essa “vida”
está presente na palavra, em Cristo, como ouvimos em Jo 1.4, e Cristo vive nos que creem (Gl
2.20).73

69
BOOR, W. Evangelho de João. Biblioteca digital Libronix, CD-ROM.
70
WIERSBE, W. Comentário bíblico expositivo, v.1, p. 382.
71
WASHER, P. O que teria feito um pregador moderno. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?
v=38gK5YLds28>. Acesso em: 07 jun. 2011.
72
BOOR, W. Evangelho de João. Biblioteca digital Libronix, CD-ROM.
73
Ibidim, CD-ROM.
29

A fé consiste em mais do que confissão de qualquer conjunto de pontos doutrinários


ortodoxos. Pelo contrário, é uma expressão da alma, uma forma de intercomunicação entre
Deus e o homem, de tal forma que o homem assim aprende a confiar em Deus, ao passo que
Deus aponta para o seu Cristo e declara: Ele é o caminho, Ele é a verdade da existência do
homem, Ele é o destino dos homens. É então que o homem pode replicar, ao ver a Jesus sob
esse prisma: “É justamente isso que desejo. Quero ser moralmente como ele é. Quero
compartilhar de sua natureza, de sua essência; quero ser transformado segundo a sua
imagem”. Essa confissão consiste em muito mais do que o reconhecimento de quaisquer
declarações doutrinárias, porque reside na expressão da alma. Assim, pois, na pessoa de
Cristo, chegamos a conhecer o plano de Deus relativo aos homens, e é em Cristo que
encontramos o nosso destino. A fé é o reconhecimento e a aceitação de todas essas verdades.74

Em Jo 3.18 ainda o evangelista vai dizer: “Quem nele crê não é julgado.” Geralmente prega-
se nas igrejas que também os que creem terão de sofrer o juízo que virá sobre o mundo. Com
base na clara palavra de Jesus, cada pessoa que crê tem o privilégio de viver e morrer com a
bendita certeza “Não serei julgado.”75

2.2.2 Cartas de Paulo

Stott, fazendo sua introdução ao capítulo oito de Romanos, mostra que Paulo, nesse capítulo,
contrasta o Espírito Santo que habita no crente com a fragilidade da lei. Ele mostra que o
Espírito, além de libertar o crente em Cristo da lei do pecado e da morte, é também a garantia
da ressurreição e eterna glória. A vida cristã, portanto, é constituída essencialmente pela vida
no Espírito, ou seja, essa vida é animada, sustentada, orientada e enriquecida pelo Espírito
Santo. Sem o Espírito Santo, o verdadeiro discipulado cristão seria impossível.76

Todo o capítulo 8 de Romanos é uma série de argumentos sobre a segurança dos filhos de
Deus. Stott citando Martyn Lloyd-Jones, diz: “o tema principal do capítulo 8 não é a
santificação... O tema central é a segurança do cristão”. A marca que identifica aqueles que
realmente pertencem a Cristo é a posse do Espírito de Deus; o testemunho que ele dá em no

74
CHAMPLIN, R. Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.3 p. 312.
75
BOOR, W. Op. Cit., CD-ROM
76
STOTT, J. A Bíblia fala hoje, p. 259
30

íntimo do ser garante que se é filho de Deus e, portanto, seu herdeiro; e a presença em nós
constitui-se nos primeiros frutos dessa herança, o penhor da colheita final. 77

“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente
temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual
clamamos: "Aba, Pai". O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que
somos filhos de Deus.” (Rm 8.14-16 NVI)

Wiersbe afirma que a prova da conversão é a presença do Espírito Santo dentro do salvo,
testemunhando que se é filho de Deus (Rm 8.16). Também comenta que não basta somente o
crente ter o Espírito, ele precisa pertencer ao Espírito. Somente assim, ele comprartilhará a
vida abundante em Cristo.

o Espírito de Deus é quem dá testemunho da filiação dos crentes, é o espírito humano que
recebe este testemunho. “Testifica com” mostra que o Espírito de Deus reforça e acompanha o
testemunho já existente no homem interior. É devido a essa consciência de filiação, que tem
origem divina, que os crentes aprendem, de maneira bem real, a chamar Deus de Aba, Pai.
Um indivíduo qualquer pode ter alguma inclinação para invocar um poder superior, como se
pedisse auxílio de seu pai, mas é o Espírito Santo que produz, no crente, o conhecimento
espiritual e a íntima convicção dessa realidade, assegurando-lhe que Deus, o mais elevado de
todos os poderes, é seu Pai, espiritualmente falando. Isso assegura à consciência não somente
a dignidade de sua posição, mas também a natureza de sua transformação segundo a forma de
vida divina.

O trecho de Gl 4.6 é um paralelo quase exato deste versículo. Ali vemos que o Filho foi
enviado por Deus Pai com o propósito distinto de criar, no coração humano, o clamor que diz
Aba, Pai. A certeza da graça tem sido corretamente traduzida deste versículo, contrariamente
àqueles que pensam que ninguém pode ter real certeza de que está salvo, ou que tem sido
levado à justificação e à regeneração por meio da graça divina.

O termo “filho”, nesse texto, tem o sentido de filhos nascidos “tekna”. Deus, por sua parte, faz
com que o coração, antes frio, relutante e apreensivo, agora conheça e creia no amor de Deus.
Ele derrama no coração do salvo o amor de Deus. Ele traz a consciência e discernimento à
sóbria certeza das promessas contidas na Sua palavra. Ele mostra ao indivíduo as realidades
de Cristo, o Amado, em quem o crente tem recebido a adoção e a regeneração, levando-o a

77
Ibidim, p. 259-260
31

ver, conforme a alma vê, quão paternal é a acolhida que há para aqueles que estão nele. E
então, por outro lado, o crente tem um encontro com o amor profundo de um filho, um amor
duradouro, reverente, terno e genuíno.

Champlin afirma que é evidente, como regra geral, que os verdadeiros filhos de Deus
conhecem a sua identidade, e aqueles que sempre buscam mas nunca encontram, e mostram-
se ansiosos sobre se de fato pertencem a Cristo ou não, é que não pertencem. Isso,
naturalmente, deve admitir algumas exceções, que são raras.78 Paul Washer, em sua pregação,
combate esse tipo de pensamento, mostra que um homem que chega e confessa que nunca
conseguiu ofertar com um coração puro, sempre batalhou contra o pecado, sempre lutou
querendo ser mais para Cristo, que quando adora a Deus de manhã luta com dificuldade
contra pensamentos que o desviam dessa adoração, é o tipo de pessoa que Deus recebe com
alegria, porque pelas próprias palavras está reconhecendo as bem-aventuranças de Jesus, de
bem aventurados os que choram porque serão consolados, bem aventurados os que têm fome
e sede de justiça porque serão fartos, com esse tipo de palavra e com o coração quebrantado, o
homem demonstra que verdadeiramente pertence a Deus e quer ser mais para Ele, porém
aqueles que ficam sentados no banco da igreja, frios como pedras e não têm problema com
isso deveriam estar com medo.79

O crente que foi salvo por Cristo e teve sua vida transformada não pode continuar a viver em
pecado, porque um novo princípio de vida foi implantado nele. Tem que haver uma mudança
óbvia em sua conduta. Quando se segue a Jesus, tem-se, necessariamente, que romper com o
passado pagão. A meta da vida cristã é que não se cometa pecado, na experiência, o domínio e
a prática do pecado estão rompidos, mas isso não significa perfeição sem pecado.

Do versículo 14 até o 17 do capítulo 8, Paulo reúne quatro provas da forma como o Espírito
dá testemunho ao crente, como Ele dá essa garantia ao cristão. Primeiro ele mostra que o
Espírito conduz o salvo à santidade (v.14), depois que, ao viver essa relação com Deus, ele
substitui o medo pela liberdade (v.15a); em seguida, declara que nas orações ele os leva a
chamar Deus de “Pai” (v.15b-16), e por fim, afirma que Ele é os primeiros frutos da herança
celestial (v.17,23). Portanto a santidade radical, liberdade sem medo, atitude de oração filial e
a esperança da glória são quatro características dos filhos de Deus que são habitados pelo

78
CHAMPLIN, R. Novo Testamento interpretado versículo por versículo,v. 3, p. 714.
79
WASHER, P. Jesus é tudo. Disponível em:< http://www.youtube.com/watch?v=n0FhsG0keMU>. Acesso
em: 07 jun. 2011.
32

Espírito de Deus, e é por meio dessas evidências que ele testifica que o convertido a Jesus é
realmente um filho de Deus.80

Não há nesses quatro versículos qualquer indicação de que o autor tivesse em mente alguma
experiência especial, distinta e incontrolável que, apesar de ser buscada por todos, é
proporcionada somente a alguns. Pelo contrário, o parágrafo inteiro parece descrever aquilo
que é (ou deveria ser) comum a todos os crentes, em diferentes graus de intensidade. Àqueles
em quem habita o Espírito (v. 9), é dado também o testemunho do Espírito (v. 15-16). Ele
orienta os crentes como filhos de Deus e testemunha com o espírito que eles de fato são isso.81

Tem uma só palavra grega que equivale a estas três, “dá testemunho juntamente”. Por isso,
não diz que o Espírito de Deus serve de testemunho ao espírito do crente, mas que o Espírito
de Deus dá testemunho, porque o espírito do salvo, admitindo-o como guia e mestre, crê que a
adoção de Deus é certa, a inteligência humana jamais sugeriria esta confiança por si mesma e
sem que o testemunho do Espírito a impulsione. No mais, aqui existe uma explicação da frase
precedente, pois ao Espírito Santo testemunhar que o crente é filho de Deus, põe ao mesmo
tempo nos corações uma segurança tal que os impulsiona a invocar a Deus como pai, e em
efeito, nada há que pudera os incitar a falar mais que a firme segurança do coração, e, se o
Espírito Santo não dera testemunho do amor paternal de Deus, eles não poderiam orar. Porque
este princípio não deve ser esquecido: que não se pode orar a Deus, se não chamá-lo pai,
tendo a plena certeza de que de fato Ele o é nas nossas vidas.

Junto com esse princípio há outro: jamais pode-se provar a fé a não ser pela invocação de
Deus. Assim como, com razão o apóstolo Paulo diz sobre esta ideia que o crente crê com
inteligência quando, se exercita em oração. Se pergunta como é possível que o homem
conheça a vontade de Deus? Porque tal coisa não é uma certeza que proceda da inteligência,
mas um testemunho do Espírito de Deus, como o Apóstolo o disse amplamente em sua
primeira carta aos Coríntios, de onde é preciso buscar uma explicação mais ampla a esta
passagem. É, pois esta uma ideia segura, que não pode ser chamado filho de Deus até que se
reconheça como tal e este conhecimento é chamado sabedoria por João, em sua primeira
epístola (5.19-20), para melhor destacar esta certeza.82

80
STOTT, J. A Bíblia fala hoje, p. 277.
81
Ibidim, p. 285.
82
CALVINO, J. Epístola aos Romanos, p. 209.
33

“Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso,
mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente,
esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo.” (Rm 8.23-
NVI)

O motivo do cristão gemer é pelo fato de ter experimentado um “antegozo da glória vindoura”
através do ministério do Espírito. Então isso produz no crente em Cristo um desejo de ver o
Senhor, de receber um novo corpo e de viver com ele e de lhe servir para sempre. 83 O crente
vive uma tensão entre o que Deus já inaugurou, ao dar o seu Espírito, e o que ele irá
consumar, quando der a adoção e redenção final. O espírito que habita no cristão concede
alegria, e a glória iminente dá esperança, mas o suspense desse período transitório traz
sofrimento.

Não é somente o corpo fraco que faz o crente gemer, mas também a sua natureza caída, que
não deixa que ele se porte como deveria, e que impediria completamente de fazê-lo, não fosse
o espírito que o habita. Portanto, esses gemidos expressam tanto o sofrimento presente como
o anseio futuro.84

Há salvação definitiva para os que puseram sua confiança em Deus. Paulo cita o profeta Joel
para garantir que “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13). Invocar
não significa invocar de maneira superficial, como alguém que apenas deseja evitar as
consequências pessoais do pecado. Aqui, invocar significa uma invocação genuína do Senhor
que resulta da convicção de que Deus pode salvar e salvará e que o que invoca está
desesperadamente necessitado.85

Que diremos, pois, diante dessas coisas? Se Deus é por nós, quem será
contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por
todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as
coisas? “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus
quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais,
que ressuscitou e está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem
nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou
perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito:
"Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias; somos considerados
como ovelhas destinadas ao matadouro". Mas, em todas estas coisas somos
mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Pois estou

83
WIERSBE,W. Comentário bíblico expositivo, v.1 p. 704 et. seq.
84
STOTT, J. A Bíblia fala hoje, p.291-292.
85
HAWTHORNE, G. Dicionário de Paulo e suas cartas, p. 1132.
34

convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o
presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem
profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar
do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8.31-39
NVI)

O cristão convertido não precisa ter medo do passado, presente ou futuro, pois este está
seguro no amor de Cristo. Uma das grandes questões que trazem dúvidas a respeito da
salvação nas pessoas é quando essas pecam, ou são acusadas de pecados passados por outras
pessoas, ou pela sua consciência, e até mesmo por Satanás (cf. Ap 12.10). Deus os justificou,
isso significa que Ele declara o salvo justo em Cristo. Uma vez que é Deus quem os justifica,
por certo não os acusa. Para Ele, acusar os seus seria o mesmo que dizer que sua salvação
falhou e que continuamos vivendo em nossos pecados. Quando Deus declara que o pecador
que crê foi justificado em Cristo, trata-se de uma declaração inalterável. Jesus já pagou o
castigo, o crente pode estar seguro nele.86

O sacrifício de Cristo conferiu ao conjunto da criação a inclinação decisiva e irresistível para


a salvação. De sua ressurreição, Paulo colhe a certeza que ele já delineou nos v. 28-30. Nada
pode anular esse feito de Deus e essa prática do amor, nem romper essa comunhão com Deus
nele fundamentado. Um cosmos inteiro de forças de oposição não poderá separar-nos do amor
de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Pelo contrário: nossa fé é a vitória que
venceu o mundo (“o cosmos”) (1Jo 5.4).87

2.2.3 Outros Escritos

“Escrevi-lhes estas coisas, a vocês que crêem no nome do Filho de Deus, para que vocês
saibam que têm a vida eterna” (1 Jo 5.13)

O Evangelho de João foi escrito para produzir fé e seus efeitos; a Epístola foi escrita para
confirmar a fé. O Evangelho foi escrito para mostrar que a bênção da vida eterna pode ser
obtida; a Epístola produz a alegria que vem da possessão, a alegria da amizade com Deus e
com seu Filho e com os demais santos.

86
WIERSBE, W. Comentário bíblico expositivo, v.1 p. 706.
87
BOOR, W. Evangelho de João. Biblioteca digital Libronix.CD-ROM.
35

Fé não produz no crente uma emoção que logo passa ou um entusiasmo, nem traz sobre ele
uma influência passageira; introduzi-lo para uma vida de união e amizade com Cristo em um
caráter que é fixo e imutável. Fé não é meramente a concordância em certos fatos, mas o
significado permanente relacionado com Ele, que é a melhor fonte da vida. Todo aquele que
crê no nome do filho de Deus: Essa parte é colocada como ênfase, no fim do verso, coloca os
crentes em um contraste renovado para aqueles que, sendo descrentes, não têm vida eterna.88

Crer em Cristo é mais que algo intelectual, é ceder a própria alma aos cuidados de Cristo, a
lealdade do Filho de Deus e ao mundo eterno, ou seja, é abandonar este mundo com seu
baixíssimo horizonte. O crente pode estar convicto de que possui a vida eterna, porque agora
mesmo a imagem e a natureza de Cristo estão sendo infundidas pelo poder do Espírito Santo a
ele. Também tem a certeza e o conhecimento inabalável de uma presente concretização de
espiritualidade, porque a nós são dados os meios da oração. Ele nos dará aquilo que lhe
pedirmos, não somente o futuro, mas até o presente, nos é provido. Sabe-se que o fato de
termos nascido de Deus dá poder sobre o pecado, o salvo não pode praticar o pecado, não
pode ser vencidos pelos vícios pagãos, conforme sucedia aos gnósticos, cujo falso Evangelho
não tinha o imperativo.

Sabe-se que o Filho de Deus já veio, que a sua encarnação é real, que Jesus de Nazaré é o
Cristo, que em uma única personalidade se combinam a natureza divina e a natureza humana,
que através de Cristo recebe-se a expiação dos pecados e a vida, e que a compreensão
espiritual é válida. Quando João fala “Que credes em o nome...”, o nome representa a própria
pessoa, dizemos Jesus e apontamos para Cristo como Salvador, por esse título. Fala-se Cristo,
e é apontado para sua missão messiânica. Dize-se Filho de Deus, e é indicada a crença em sua
encarnação, em que a divindade veio habitar com a humanidade. Em uma única pessoa e isso
também subentende participação na filiação, porquanto há a comunidade da natureza divina
entre Deus Pai, Deus filho e os Filhos de Deus.89

Deus deseja que seus filhos saibam que pertencem a Ele. João escreveu essa epístola para que
o crente tenha a certeza de que é um filho de Deus. O verdadeiro filho de Deus tem algumas
características: Todo aquele que pratica a justiça é nascido dele (1 Jo 2.29).Todo aquele que é
nascido de Deus não vive na prática do pecado (1 Jo 3.9). Sabe-se que já passou da morte para

88
VINE, W. The epistles of John, p. 105.
89
CHAMPLIN, R. Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.5 p. 298.
36

a vida, porque ama aos irmãos (1 Jo 3.14). Todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece
a Deus (1 Jo 4.7). Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo (1 Jo 5.4). Wiersbe
mostra que essas são como “marcas de nascença” do cristão, que dão a certeza da salvação.90

Ryle afirma que são seis as marcas de um cristão autêntico, baseado também em 1 João: não
vive na prática do pecado (1 Jo 3.9; 5.18), crê que Jesus é o Cristo (1 Jo 5.1), pratica a justiça
(1 Jo 2.29), ama seus irmãos (1 Jo 3.14), vence o mundo (1 Jo 5.4) e conserva-se puro (1 Jo
5.18). Com essas marcas, a pessoa regenerada crê que, por causa da obra e da morte de Cristo
consumada na cruz, é considerada justa aos olhos de Deus e pode aguardar a morte e o juízo
sem ficar alarmada.91

Como o Evangelho, a epístola de João concentra-se na experiência da vida eterna. Ela


menciona a vida eterna pelo menos dez vezes, sempre com ênfase sobre o presente. “Nós
sabemos que já passamos da morte para a vida” (3.14). Um dos propósitos da epístola é
reassegurar aos cristãos, que rejeitaram a luz superior gnóstica, que eles podiam saber que
tinham a vida eterna (5.13). Em Cristo, Deus já lhes deu a vida eterna, aquele que tem o Filho
tem a vida (5.11-12).92

Segundo Ladd, a única exigência que Jesus fez aos homens, a fim de que estes recebessem
sua dádiva de vida eterna, foi que tivessem fé, cressem. O destino dos homens, no dia da
vinda do Filho do Homem, será determinado pela sua relação para com Jesus. Essas poucas
declarações somente refletem aquilo que está implícito em toda parte nos sinópticos, ou seja,
que Jesus demandou fé em si mesmo.93

Por novo nascimento e implante da semente divina, João quer dizer claramente algo mais do
que uma nova relação. Isto significa uma nova dinâmica, um novo poder, que entrou na
personalidade humana, o que se reflete numa mudança de conduta. Em tempos modernos,
provavelmente pensaríamos numa mudança de orientação da vontade humana. Ao passo que
os não crentes se contentam em seguir caminhos de pecado e em ignorar as reivindicações de
Deus, o filho de Deus encontra uma nova orientação de sua vontade, fazer a vontade Deus,
amá-lo, servi-lo, romper com o pecado e seguir a justiça.

90
WIERSBE, W. Comentário bíblico expositivo, v.2 p. 678, 679.
91
RYLE, J. Você já nasceu de novo? Fé para hoje, São José dos Campos, SP, n. 11, p. 26 et. seq., 2001.
92
LADD, G. Teologia do Novo Testamento, p. 566.
93
Ibidim, p. 255.
37

Para João, permanecer em Cristo significa estar vivendo uma vida de amor, em comunidade
ininterrupta com os irmãos crentes. Permanecer, então, quer dizer obediência à lei do amor.
Também significa permanecer na verdadeira tradição cristã. O amor é a prova de que
passamos da morte para a vida, esse amor não é uma mera realização humana, é a resposta
humana ao amor de Deus. 94

João escreveu o Evangelho para descrentes, porém a epístola para crentes, não para que eles
creiam e recebam, mas que tendo crido, saibam que receberam e, portanto, continuam tendo a
vida eterna. Não que eles cresçam gradativamente na segurança, mas que possuam aqui e
agora uma certeza atual da vida que receberam em Cristo. Eles tinham sido abalados pelos
falsos mestres e ficaram inseguros quanto ao seu estado espiritual. Na epístola toda, João lhes
esteve dando critérios doutrinários, morais e sociais pelos quais deveriam examinar a si
próprios e a outros. O seu propósito é afirmar a segurança deles.

Juntando os propósitos do Evangelho e da Epístola, o propósito de João é, em quatro estágios,


que os seus leitores ouçam, ouvindo creiam, crendo vivam, e vivendo saibam. Sua ênfase é
importante porque é comum hoje censurar qualquer pretensão de segurança da salvação,
repudiá-la como presunçosa e afirmar que nenhuma certeza é possível deste lado da morte.
Mas certeza e humildade não se excluem mutuamente. Se o propósito revelado de Deus não é
somente que ouçamos, creiamos e vivamos, mas também que saibamos, a presunção está em
duvidar da Sua palavra, não em confiar nela.95

A vida eterna pode ser presente e ainda não realizada no seu poder pleno. Os frutos podem
não se referirem à sua fonte; e de novo eles podem ser atrasados. Mas há um conhecimento de
vida que é independente de sinais externos, e isso João procura acelerar. A presente atividade
de fé é o sinal de vida, quem acredita nEle que é revelado para o crente sobre o título do Filho
de Deus. O título é a garantia da certeza da posse da vida.96

Essas bases bíblicas são para o crente sua segurança da salvação. O crente não deve olhar para
si mesmo buscando uma segurança em si da salvação, mas pelo contrário os seus olhos devem
estar voltados para a palavra de Deus e seus ensinamentos. Somente assim a certeza da
salvação pode ter um fundamento digno de confiança.

94
LADD, G. Teologia do Novo Testamento, p.568 et. seq.
95
STOTT, J. I, II e III João. p. 159.
96
BRUCE, F. The epistles of st. John, p. 188.
38

III – A CERTEZA DA SALVAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES

A certeza da salvação não é uma mera hipótese provável, ou ainda um convencimento,


baseado em uma esperança falível, mas é uma infalível certeza de fé, fundada na verdade
divina das promessas da salvação, sendo esta certeza a evidência daquelas graças sobre as
quais essas promessas foram baseadas.97

É o dever de cada um ter toda a diligência para tornar certa a sua chamada e eleição, a fim de
que seu coração cresça na paz e alegria do Espírito Santo, em amor e gratidão a Deus, na
força e bom ânimo dos deveres de obediência, sendo estes os frutos próprios desta certeza, de
forma que está longe de levar os homens à frouxidão, mas os leva a perseverar mais e mais.98

Deus quis que o salvo tivesse “poderosa consolação” nas aflições desta vida, tendo grandes
promessas. Não é poderosa consolação o nervoso medo de cair no purgatório ou no inferno,
mesmo depois de pertencer a Jesus Cristo. Não há consolação nenhuma nesta mentira do
diabo, que é feita para amedrontar e enfraquecer os bravos do Senhor. Deus dá certeza,
segurança e forte confiança, assim torna o crente capaz e irresistível na luta contra o mal. 99

Se há possibilidade de dúvida, Deus quer removê-la. Se não vale sua Palavra infalível, ele
acrescenta um juramento. Ele jurou pela sua essência e existência divina, não achando nada
maior que Ele mesmo por quem jurar, a entrada de um precursor daqueles que creem, e que
seria seguido por todos aqueles que nele se refugiassem, essa é a âncora da fé. Sem essa
verdade divina, o crente fica sem âncora, sem destino certo, sem norte, sem piloto. Deus dá
segurança eterna dobrada ao crente, jurando por si mesmo, sendo a garantia da poderosa
consolação. A âncora do crente não está presa no fundo do mar desta vida, onde podem ser
quebradas, arrastadas, ou ainda desligá-la da barca ameaçada. As âncoras humanas baixam
para a terra: a âncora divina sobe à Rocha Eterna, Jesus Cristo, no céu e a ele o salvo esta
eternamente unido, numa união indissolúvel e imutável. Ele é o precursor e onde está a
âncora, ali chegará logo a barca e então o salvo estará eternamente com Jesus.100

97
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 20.
98
Ibidim, p. 20.
99
Ibidim, p. 36.
100
Ibidim, p. 37.
39

Mueller mostra a antiga história do Pr. Dr. Leseur. Ele ainda jovem estudante, encontrou-se
com o administrador florestal Von Rothkirch. Este perguntou ao jovem estudante: “Moço, o
senhor tem um vivo salvador?” Um pouco acanhado, o jovem respondeu: “Eu acho, eu
espero”. Rothkirch então exclamou “Mas meu jovem, quando lhe pergunto se o senhor tem
em casa um traje dominical? Certamente não dirá: Eu acho, eu espero, mas sim ou não, sobre
isso deve se ter certeza.” Essas palavras deixaram o jovem sem sossego, até que esse pode
encontrar a certeza: “Jesus é meu Salvador”. Pessoas que têm um Salvador não dizem “eu
espero”, mas “sim”, eles sabem.101

O homem quer ter uma certeza acerca de todas as coisas da vida. Quando fica doente, chama
o médico para ter certeza de seu estado de saúde, quando está empregado quer ter a certeza de
sua situação financeira: porém, quando se trata das coisas da vida espiritual, os homens são de
tal maneira desinteressados, que já se dão por satisfeitos com um vago “eu acho”, “eu espero”
ou então tem aquele que fala da certeza da salvação como um orgulhoso.

Se um filho de Deus diz aos seus próximos que possui a certeza do perdão de seus pecados,
então está sendo ridicularizado, está sendo denominado entusiasta. Dizem que isso ninguém
pode saber, tudo não passando de fantasia e ilusão. Se alguém ficará salvo, somente poderá
saber além túmulo e morte, dizem.102

Esse pensamento é também ensinado por muitas igrejas. Em um site católico, em resposta a
uma pergunta feita por uma internauta se essa poderia ter a certeza da salvação, o professor
responde que é impossível que um cristão tenha certeza da salvação. Ele afirma que nem
mesmo Paulo o tinha, e que a Bíblia não dá ao crente tamanha certeza.103

A certeza da salvação faz com que o crente adote uma atitude interior contra a “carne” e a
favor do “fruto do Espírito”. Os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas
paixões e concupiscências. O crente adota uma atitude de severa resistência e implacável
rejeição para com a “carne” de modo que apenas a palavra “crucificação” pode descrevê-la.
Mas devemos entregar confiantemente ao Espírito o domínio incontestável de suas vidas.

101
MUELLER, H. Como tu recebes a certeza da salvação?, p. 3.
102
Ibidim, p. 3.
103
LIMA, A. Leitora pergunta sobre se devemos ter certeza da salvação. Disponível em:<
http://www.veritatis.com.br/article/3090 >. Acesso em: 07 jun. 2011.
40

Quanto mais se faz da negação da carne e da obediência ao Espírito um hábito, mais depressa
as obras horríveis da carne desaparecerão, dando lugar ao agradável fruto do Espírito.104

Segundo Brito, ainda pode-se analisar quatro sinais que garantem ao cristão a certeza da
salvação:

- Primeiramente o arrependimento, um afastamento real do pecado.


Reconhecer e confessar o pecado com um coração sincero. Essa atitude
sempre trará o perdão gracioso da parte de Deus. A remoção da culpa é a
dádiva da sua presença constante. Afastando-se do pecado o cristão conhece
a realidade e a segurança eterna da salvação de Deus.

-Ainda a paz. A alma justificada pode esperar uma paz profunda com Deus,
essa paz que o crente individualmente sente e que a igreja também desfruta
de modo coletivo é resultado de Deus. Essa paz é inexplicável: “e a paz de
Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os
vossos pensamentos em Cristo Jesus”(Fp 4.7).

- Ainda há o poder. A certeza da salvação leva o salvo a utilizar a armadura


espiritual – o que o dá poder sobre o mal e o deixa mais firme na fé (Ef
6.13). Uma das provas da salvação é a sobriedade e firmeza espiritual com
que o cristão resiste os ataques do Diabo.

- E por fim a remoção do medo da morte. Esse medo é uma das coisas que
mais apavora o homem natural. Nas situações de perigo e risco diante da
morte, o salvo não teme, pois tem convicção da presença de Deus, e para
onde ele irá depois dessa vida.

Mas então, o que a segurança da salvação significa para o cristão?


Estabilizará toda a sua experiência cristã. (Hb 6. 17-20). Irá capacitá-lo a
gozar uma vida de oração positiva (Mt 6.9a – Lc 11.9-13). Dará poder ao seu
testemunho e à sua influência sobre os outros (Rm 1.16, 2 Tm 1. 8).105

Lyra mostra que a firmeza de Calvino, ao condenar a posição da Igreja de Roma, tem sua
âncora no ponto fundamental da reforma: “Sola Scriptura”. É através do seu ensino sobre a
salvação pela fé que ele associa a questão da segurança e da fé. Para os reformadores a fé do
eleito “é certa e segura”, pois foi gerada por Deus e é mantida por Ele.

A salvação que Deus providenciou para os eleitos é um privilégio e herança inalienável.


Contudo, é requerido do eleito o exercício de fé. Aqui reside o fato de se questionar a

104
STOTT, J. Cristianismo básico, p. 137-138.
105
BRITO, R. Doutrina da certeza da salvação, Disponível em:<http://pastorrobsonbrito.admaringa.com.br
/2009/10/doutrina-da-certeza-da-salvacao/>. Acesso em: 23 mai. 2011.
41

segurança estabelecida, não que ela venha a ser instável pela variação de fé do crente, mas
que tal variação de fé, ou mesmo a ineficácia de fé temporária, afetam aqueles que a exercem,
levando-os a duvidar do que foi divinamente estabelecido. Deus não é Deus de confusão ou
de obras inacabadas, todo plano divino está concluído no tempo dele, e Ele mesmo decidiu
dar ciência do que fez aos seus. A segurança de salvação estabelecida por Deus na esfera da
sua soberania é também comunicada e oferecida à nossa realidade humana.106

Os crentes verdadeiros podem ter sua convicção de certeza de salvação


abalada, diminuída ou que seja intermitente, de diversas maneiras: por
negligência em conservá-la; por cair em algum pecado especial que fira à
consciência e entristeça o Espírito Santo; por alguma súbita e veemente
tentação; por Deus retirar a luz de sua face e permitir que os que o temem
andem em trevas, não tendo luz; não sendo eles, contudo, inteiramente
destituídos da semente de Deus, da vida de fé, ou daquele amor a Cristo e
aos irmãos, aquela sinceridade de coração e consciência do dever, da qual,
pela operação do Espírito Santo, esta certeza pode ser avivada, e assim os
tais entrementes estão sustentados e guardados do desespero absoluto.107

William Carey mostra que aquilo que Paulo afirma em Filipenses 3.8-9 tem que ser verdade
também na vida do salvo:

Não penses ser evangélico, nem te chames cristão, se te apegares à tua


justiça. Se não te converteres para considerar que toda a justiça humana é
refugo “farrapos imundos”, como diz o profeta e se, pela fé, não lançares
mão da justiça que procede de Deus e que, portanto, te é dada gratuita e
eternamente, não és crente em Jesus. Esta justiça é, do ponto de vista
judicial, a bênção que o evangelho traz: “Porque não me envergonho do
evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê...
porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito:
Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.16-17). A justiça evangélica não é de
nenhum homem, é de Deus. É dádiva de sua graça, oferecida sem injustiça
em virtude da paixão expiatória de Cristo em nosso lugar. É totalmente
adquirida e possuída e conservada e gozada pela fé... O justo evangélico vive
a sua vida eterna pela fé e tão somente pela fé. Não há outro evangelho. É a
nova aliança.108

Taylor ainda mostra que os frutos de uma vida regenerada genuína podem ser vistas em grau
variado nos crentes genuínos, com os frutos do amor cristão mostrados em 1 Coríntios 13,
enumerando-se negativamente: não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece,
não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não
folga com a injustiça; positivamente, são estes os frutos: é sofredor, benigno, folga com a

106
LYRA, S. Certeza da salvação, Disponível em:< http://www.monergismo.com/textos/certeza/certeza-
salvacao_lyra.pdf > Acesso em: 23 mai. 2011.
107
TAYLOR, W. A salvação do crente é eterna, p. 20.
108
Ibidim, p. 42-43.
42

verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. E ainda com o fruto do Espírito que é
amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio
(Gl 5.22-23). Quando o fruto se der, demonstra qual a natureza imutável da árvore desde que
brotou da semente. Enfim, o fruto proclama a natureza do discipulado. 109

Deve-se reconhecer, olhando para as histórias bíblicas dos salvos, e humildemente para o ser
humano, que o fator humano não é a principal razão da perseverança, ou do lado divino, da
preservação e consequente segurança do crente. Em diferentes histórias bíblicas, vê-se que
Deus trata de trazer de volta aqueles que são salvos, mas estão em pecado. Um bom exemplo
é a história de Abraão e Sara, que fizeram um acordo antes do casamento, que haviam de
mentir a vida inteira, quando lhes fosse conveniente, negando que eram casados, só depois de
dolorosos castigos da mentira foram curados de repeti-la. Davi recebeu a visita do profeta
Natã com uma profunda parábola, para que sua consciência acordasse para o terrível furto da
mulher de outro e do virtual assassinato do marido roubado.

No Novo Testamento, o crente incestuoso teve de ser eliminado da igreja de Corinto e


“entregue a Satanás”, por um tempo considerável, antes que se corrigisse e estivesse pronto a
ser recebido novamente. Com esses poucos exemplos, pode-se constatar que a salvação não é
limitada aos uniformemente decentes. Deus salva grandes pecadores e leva-os à perfeição
celestial, por uma peregrinação longa e de variadas etapas. A doutrina da Bíblia afirma a
segurança do crente, a fim de conseguir a perseverança do santo, progressivamente e com
êxito de graus variados.110

Stott mostra que existem várias razões para o crente ter a certeza da salvação. O desejo de
Deus é que o salvo desfrute da vida eterna, mas para que ele possa gozar dessa vida, ele
precisa saber dela, aproveitar algo que não sabe se é impossível. A Bíblia diversas vezes
promete paz de espírito, mas, se todo o tempo a consciência ficar acusando, e não houver a
certeza do perdão divino, o crente nunca estará em paz. Além disso, a certeza cristã é uma
condição para que se ajude outras pessoas. Como se pode mostrar o caminho a outros, se o
próprio crente não o conhece? O crente tem o direito não só de receber a vida eterna, mas
também saber que a recebeu.111

109
TAYLOR, A salvação do crente é eterna, p. 61-62.
110
Ibidim, p. 22-23.
111
STOTT, J. Firmados na fé, p. 46.
43

Para o salvo ter essa certeza, ela precisa estar baseada acima de tudo no que Deus diz acerca
da obra de Cristo, assim ela não dependerá dos sentimentos do homem. O ser humano é uma
criatura tão psicossomática que o estado de espírito é afetado pelos órgãos do corpo, por
situações que o cercam e as mais diversas questões. É por isso que a Bíblia e a biografia de
cristãos trazem muitas histórias de servos de Deus que aprenderam a desconfiar de seus
próprios sentimentos e confiar nas promessas de Deus. “Os nossos sentimentos flutuam, mas a
Palavra do Senhor permanece para sempre”.112

Duffiel e Van Cleave afirmam que Deus certamente quer que o crente saiba que foi salvo.
Uma das principais razões para o plano eterno da salvação de Deus é o restabelecimento da
comunhão entre Ele e o homem. O fundamento da comunhão é a certeza. Não se pode ter
comunhão com alguém sem confiança ou sem compreender a relação com ele, por isso é
importante a certeza da salvação, tudo o mais na vida cristã depende desta segurança.113

Toda experiência espiritual, todo conflito com o inimigo, toda oração pronunciada, toda
promessa suplicada baseia-se numa certeza da posição do cristão em relação a Cristo. Toda
vez que esse se empenha em fazer algo para Deus, deve apoiar-se no fundamento firme da
segurança de que é um filho de Deus.114 Erickson mostra que, se não há a garantia da
salvação, os crentes podem experimentar uma grande dose de ansiedade e insegurança,
distraindo-se das tarefas mais importantes da vida cristã.115

Cutting, em um artigo, mostra, através de uma história baseada na saída do Egito, qual a
importância da segurança do crente.

A história sagrada do Antigo Testamento nos relata um acontecimento que


explica exatamente o modo pelo qual nós podemos ter a inabalável certeza
da salvação de que o versículo acima nos fala. Esse acontecimento é a saída
do povo de Israel da terra do Egito, o que lemos no capítulo 12 do livro de
Êxodo. Como podiam os primogênitos do povo de Israel saber, com toda a
certeza, que estavam seguros durante aquela terrível noite da Páscoa, quando
Deus derramava sobre o Egito o Seu tremendo castigo? Vamos supor que
nos encontramos no Egito nessa solene ocasião, e que visitamos duas das
casas dos israelitas. Na primeira casa encontramos toda a família
aterrorizada e cheia de receios, dúvidas e incertezas: Qual é o motivo de
tanta palidez e medo? perguntamos.

112
STOTT, J. Firmados na fé, p. 51.
113
DUFFIELD, G. Fundamentos da teologia pentecostal, p. 339.
114
Ibidim, p. 352.
115
ERICKSON, M. Introdução à teologia sistemática, p. 422.
44

Ah! - responde o primogênito, - o anjo da morte vai atravessar a terra do


Egito esta noite, e não sei o que será de mim quando chegar a meia-noite. Só
depois que o anjo exterminador tiver passado por nossa casa, e a hora do
juízo tiver terminado, é que saberei que estou salvo, mas antes disso não sei
como posso ter a certeza de que nada me há de acontecer. Os nossos
vizinhos do lado dizem que têm certeza da sua segurança, mas acho que isso
é ter muita presunção. O melhor que eu posso fazer é passar esta longa e
terrível noite esperando que tudo me saia bem. Porém - inquirimos - o Deus
de Israel não providenciou um meio de segurança para o Seu povo?

Certamente que sim - responde ele - e nós já usamos esse meio. O sangue de
um cordeiro de um ano, cordeiro sem defeito algum, já foi devidamente
espargido com um molho de hissopo sobre a verga e ombreiras da porta; mas
apesar disso, não temos ainda plena certeza de que eu esteja seguro.

Deixemos agora esta pobre gente, atribulada e cheia de dúvidas, e entremos


na casa ao lado. Que notável contraste se apresenta logo à nossa vista! A paz
e o sossego brilham em todos os rostos. Ali estão todos, de cajado na mão, a
comer o cordeiro assado e já prontos para caminhar. Qual é o motivo de tão
grande tranquilidade em noite tão solene? - perguntamos.

Ah! - respondem todos - estamos aguardando as ordens de Jeová, nosso


Deus, para sairmos de viagem, quando então daremos as últimas despedidas
ao chicote do tirano e à cruel escravidão do Egito. Mas esperem! Vocês
estão se esquecendo de que à meia-noite o anjo de Deus vai percorrer a terra
do Egito, ferindo de morte os primogênitos...?

- Sabemos disso muito bem, mas o nosso filho já está perfeitamente seguro
porque já espargimos o sangue na porta, segundo a vontade e ordem do
nosso Deus. Mas também os vizinhos fizeram o mesmo, - respondemos, - e
contudo estão todos tristes, porque não têm nenhuma certeza de segurança.
Ah - diz o primogênito com firmeza - mas nós não temos somente o sangue
espargido: temos também uma confiança absoluta na Palavra inabalável do
nosso Deus. Deus disse: "Quando Eu vir o sangue, passarei por vós".
Portanto Deus fica satisfeito vendo o sangue lá fora, e nós aqui dentro
ficamos descansando na Sua Palavra. O sangue espargido é a base da nossa
segurança. A palavra proferida por Deus é a base da nossa certeza de
salvação. Porventura há alguma coisa que possa tornar-nos mais seguros do
que o sangue espargido, ou que possa dar-nos mais certeza do que a Palavra
proferida por Deus? Nada, absolutamente nada. Eis a razão da nossa paz!

Ora, leitor, qual dessas duas famílias você acha que estava mais ao abrigo da
espada do anjo da morte? Talvez você diga que era a segunda, onde todos
gozavam daquela tranquila confiança. Você está enganado: ambas estavam
igualmente seguras, pois a segurança de ambas dependia, não dos
sentimentos dos que estavam dentro da casa, mas sim da maneira como Deus
apreciava o sangue espargido fora da casa, sobre a porta. Se você quiser ter a
certeza da sua própria salvação, leitor, não dê atenção aos seus sentimentos,
mas sim ao testemunho infalível da Palavra de Deus. "Na verdade, na
verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna" (Jo 6.47).116

116
CUTTING, G. Segurança, certeza e gozo da Salvação Eterna. Disponível em:
<http://www.stories.org.br/textos/scg.html> Acesso em: 06 jun. 2011.
45

Não há como elaborar uma lei dizendo que somente ficará salvo aquele que tiver a certeza da
salvação, pois há muitos filhos de Deus, cujo viver agrada a Deus, mas lhes falta essa certeza.
Essa fé, no entanto, sempre carece da verdadeira alegria. 117 Porém, também não se pode ter
uma vida plena aqui nessa terra com Cristo, se não houver a certeza da salvação. Essa questão
é muito importante porque acaba refletindo na saúde espiritual do cristão e da igreja como um
todo, porém; não se pretende dizer com isso que o crente duvidoso não possui salvação.

O Pastor Paschoal Piragine, em uma pregação sobre certeza da salvação mostra que se pode
ter essa certeza porque é uma promessa feita pelo Pai, promessa completada e autêntica pelo
Filho e testificada pelo Espírito Santo no coração do crente. Aquele que crê em Jesus Cristo e
se coloca nas mãos dEle para que ele conduza sua vida na terra, mesmo com defeitos, pode ter
a certeza da vida eterna. Salvação é presente e para receber o presente, tem que aceitar o
presenteador. Então se pode ter certeza da salvação porque Jesus diz ao crente que ele é salvo
quando Jesus é o Senhor e Salvador da sua vida, então com o selo do Espírito Santo o salvo
tem convicção da salvação.118

Ainda Paul Washer mostra que o crente sabe que é salvo porque o Espírito testifica que é
nascido de novo, porque sua vida mudou e tem mudado, e continua em um processo de
mudança. Quando o crente fica estagnado nesse processo de mudança, o Deus de amor vem e
o disciplina. Mas, se não isso não acontece, então ele não mudou nem no começo.119

117
MUELLER, H. Como tu recebes a certeza da salvação?, p. 3.
118
PIRAGINE, P. A certeza da salvação. Disponível em: http://www.pibcuritiba.org.br/site08/index.php?
option=com_content&view=article&id=1252%3Acerteza-da-salvacao-1-joao-5-pr-paschoal-piragine-
jr&catid=44%3Acomunicacao&Itemid=191>. Acesso em: 27 jun. 2011.
119
WASHER, P. Jesus é tudo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=n0FhsG0keMU>. Acesso
em: 07 jun. 2011.
46

CONCLUSÃO

A salvação deve ser corretamente entendida no contexto atual. No período do Antigo


Testamento, essa se mostrava principalmente, se não unicamente, no contexto físico. A maior
parte das citações que abordam o tema da salvação, está no contexto de libertação de um
perigo físico, em alguma guerra, ou algum problema de ordem pessoal. No contexto judaico
extrabiblico ainda se intensifica esse pensamento, mostrando que a salvação está estritamente
ligada ao físico, tanto que o libertador que virá, o Messias é visto apenas como um libertador
político e físico, que vai conduzir o povo de Israel à vitória contra qualquer inimigo,
restaurando e estabelecendo o reino físico de Israel.

No período do Novo Testamento, esse conceito é transformado. No contexto secular da época,


a salvação era exclusivista, para os greco-romanos somente os heróis tinham acesso aos
campos Elísios, que eram uma espécie de céu, e as demais pessoas estavam condenadas a
viver no Hades pela eternidade, sofrendo diferentes punições conforme aquilo que haviam
feito. No contexto cristão primitivo, a salvação era vista não só no sentido físico, mas também
e principalmente espiritual. O reino que o Messias veio inaugurar é o celestial, e através do
seu sacrifício os salvos podem ter a vida eterna após a morte.

Existem muitas falsas bases para a certeza da salvação, entre elas pode-se enumerar as
pressões familiares, dos amigos, busca da salvação através da observância das leis. Outros
ainda afirmam que tal certeza é obtida quando não se peca mais; outros ainda que essa vem
depois do batismo. As pessoas podem até mesmo ter um profundo pesar quando alguém fala
contra sua fé, porém não estão realmente salvas, isso sendo mostrado no texto de Mateus
7.21-23, em que Jesus afirma que, mesmo que muitos sinais e prodígios sejam feitos, não é a
garantia da salvação.

O crente precisa estar firmemente baseado na Palavra de Deus, em vários textos pode-se ver
uma clara doutrina da certeza da salvação, começando pelos evangelhos em Mateus 7.24 a 26
que mostra que o homem prudente coloca a sua vida em Jesus e não na sua própria habilidade.
Também no capítulo 3 de João vê-se que Jesus ensina a Nicodemos que a pessoa precisa
nascer de novo, olhando com fé para Jesus e crendo nele, somente assim pode receber a vida
eterna.

Nos escritos de Paulo, principalmente na carta aos Romanos, pode-se ver no capítulo oito uma
explanação completa sobre a base correta da certeza da salvação. Pode-se entender que os
47

verdadeiramente salvos têm uma filiação com Deus, podendo chamá-lo de Aba, Pai, e não
somente isso, mas o Espírito Santo dá essa confirmação ao espírito do homem. Com essa
filiação o homem, juntamente com a natureza, geme esperando as benesses vindouras, pois já
prova aqui nessa terra uma parte delas. Além disso, quando o indivíduo é realmente salvo não
há nada que possa separá-lo do amor de Deus.

Há também a primeira epístola de João. Durante toda a carta o apóstolo se preocupa em


demonstrar evidências de uma verdadeira salvação, afirmando que o salvo verdadeiro não
vive na prática do pecado e vence o mundo, conhece a Deus e ama o seu irmão, entre outras
admoestações. Assim, pode-se ver que a base da certeza da salvação não pode estar centrada
no homem, mas tem de estar, na sua totalidade, em Jesus Cristo.

Quando o salvo tem essa certeza, então pode desfrutar de uma vida cristã plena. Com essa
certeza pode trabalhar na sua igreja, sem se preocupar com questionamentos quanto a sua
salvação, tendo o seu foco alinhado naquilo que realmente importa: ganhar vidas para Jesus e
fazer a obra de Deus. O salvo que possui tal certeza não vive oprimido pelo pecado, mas
verdadeiramente é liberto desse fardo, bem como do fardo da lei e das suas inseguranças.
Com tudo isso, pode desenvolver o fruto do espírito e pode mostrar aos outros o caminho pelo
qual tem certeza que segue.

Por fim, pode-se ver que a certeza da salvação é algo importantíssimo na vida do cristão e da
igreja e isso não se figura em algo inatingível, como alguns pregadores têm propagado, mas é
uma arma poderosa nas mãos dos salvos por Jesus Cristo. A certeza da salvação pode e deve
ser apresentada e incentivada nas igrejas, sempre se baseando nas promessas e certezas dadas
por Deus, retirando do salvo a incerteza que pode acabar regendo e travando a sua vida, e o
levando a cumprir com seu chamado e seu ministério de forma mais completa.

Esse assunto é extremamente relevante no contexto atual, visto que a pesquisa realizada nas
igrejas mostra que a grande maioria dos membros está com bases erradas ou confusas sobre a
certeza da salvação. Isso leva a igreja e o crente a uma estagnação espiritual em função dessa
incerteza do seu futuro, o qual é garantido na palavra de Deus e se figura em uma das
principais questões que regem a vida do crente. O salvo em Jesus Cristo, que teve realmente a
48

sua vida transformada pode ter a certeza da salvação, tem a sua base na palavra de Deus em
tantos versículos, além disso tem o testemunho do Espírito Santo, que se comunica com o
espírito do crente e faz com que o mesmo possa ser feito filho de Deus. Deus quer que os seus
filhos tenham a certeza da salvação, para que, a possuindo, vivam a inteireza das benesses que
são prometidas aos filhos de Deus.
49

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