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Brazilian Journal of Development 48102

ISSN: 2525-8761

Os desafios do diagnóstico do transtorno do Déficit de Atenção e


Hiperatividade (TDAH) em adultos com base no DSM-V

The challenges of the diagnosis of Attention Deficit Hyperactivity


disorder (ADHD) in adults based on DSM-V
DOI:10.34117/bjdv8n6-353

Recebimento dos originais: 21/04/2022


Aceitação para publicação: 31/05/2022

Mirna Lopes Peres


Graduanda
Instituição: Universidade Tiradentes (UNIT)
Endereço: Avenida Murilo Dantas, 300, Farolândia, Aracaju - SE, Brasil,
CEP: 49032-490
E-mail: mirna.lopes@souunit.com.br

André Luiz Baião Campos


Mestrado
Instituição atual: Universidade Tiradentes (UNIT)
Endereço: Rua 6, 105, Cond, Via Mares, Casa 14, Aeroporto, Aracaju - SE,
CEP: 49037-509
E-mail: andrebaiao@outlook.com

RESUMO
A desatenção é a sintomatologia predominante do TDAH em adultos, porém os sintomas
hiperativo-impulsivo tendem a ser mais graves. Essas sintomatologias podem sugerir o
diagnóstico, porém apenas a presença de todos critérios do DSM-V realiza o diagnóstico.
Além disso, diversas comorbidades principalmente as psiquiátricas podem mascarar ou
agravar o TDAH. Há também dificuldades no diagnóstico em adultos, que podem ser
reduzidas com a completação de relato de pessoas próximas ao paciente, pois nem sempre
as crianças têm consciência dos sintomas e porque a memória não é fidedigna. É com
base nesse cenário que a presente pesquisa realizou uma revisão sistemática com o
objetivo de discorrer sobre as dificuldades do diagnóstico de TDAH em adultos de acordo
com o DSM-V. Ela incluiu 11 artigos analisados que foram encontrados com os
descritores: diagnóstico/ diagnosis, TDAH/ADHD, adulto/adult e DSM-V na plataforma
EBSCOhost no período de 2017 a 02 de março de 2022. Esta revisão apontou que o
TDAH em adultos é subdiagnosticado mesmo em pacientes que realizam
acompanhamento médico, acarretando em piores condições de vida e os homens tendem
ser menos prevalentes na idade adulta porque as mulheres buscam mais atendimento. O
DSM-V, em alguns artigos, aumentou a sensibilidade diagnóstica de TDAH. Contudo
foram encontrados poucos trabalhos que investigam todos os critérios diagnósticos
adequadamente. Portanto, mais estudos sobre triagem e diagnóstico do TDAH em adultos
são necessários.

Palavras-chave: TDAH, diagnóstico, adultos, DSM-V.

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ABSTRACT
Inattention is the predominant symptom of ADHD in adults, but hyperactive-impulsive
symptoms tend to be more severe. These symptoms may suggest the diagnosis, but only
the presence of all DSM-V criteria makes the diagnosis. In addition, several
comorbidities, especially psychiatric ones, can mask or worsen ADHD. There are also
difficulties in the diagnosis in adults, which can be reduced by completing the report from
people close to the patient, as children are not always aware of the symptoms and because
the memory is not reliable. It is based on this scenario that the present research carried
out a systematic review with the objective of discussing the difficulties of diagnosing
ADHD in adults according to the DSM-V. It included 11 analyzed articles that were found
with the descriptors: diagnosis/ diagnosis, ADHD/ADHD, adult/adult and DSM-V on the
EBSCOhost platform in the period from 2017 to March 2, 2022. This review pointed out
that ADHD in adults is underdiagnosed even in patients undergoing medical follow-up,
resulting in worse living conditions and men tend to be less prevalent in adulthood
because women seek more care. The DSM-V, in some articles, increased the diagnostic
sensitivity of ADHD. However, few studies were found that investigate all diagnostic
criteria adequately. Therefore, more studies on screening and diagnosing ADHD in adults
are needed.

Keywords: ADHD, diagnosis, adults, DSM-V.

1 INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) inicia na infância e
é caracterizada por persistência de hiperatividade-impulsividade e/ou desatenção que
interfere no desenvolvimento (APA, 2016; GAGLIARDI; TAKAYANAGUI, 2019;
SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
O Distúrbio do neurodesenvolvimento mais comum na infância é o TDAH, o qual
foi definido como uma enfermidade que remitia na adolescência ou nos adultos jovens,
sem influência na idade adulta. Entretanto, atualmente, o TDAH em adultos é
determinado pela persistência do TDAH infantil (GAGLIARDI; TAKAYANAGUI,
2019; GENÇ et al., 2021; LEFLER et al., 2020). Isso é refletido pela estimativa de
prevalência nas crianças (05 a 08%) ser maior do que nos adultos é menor, 2,5 a 4,4%
(APA, 2016; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
Essa enfermidade predomina em homens na infância e na idade adulta (APA,
2016; GAGLIARDI; TAKAYANAGUI, 2019; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017),
porém, quando adultos apresenta uma diferença proporcional menor (LEFLER et al.,
2020). O sexo feminino comumente inicia-se mais com manifestações de desatenção em
relação ao sexo masculino, e por isso, pode receber o diagnóstico mais tardiamente ou
passar despercebido em comparação aos pacientes com predominância do quadro
hiperativo-impulsivo (APA, 2016; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). Ainda, as

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universitárias podem apresentar mais sintomas, prejuízos e comorbidades relacionados


ao TDAH do que o sexo oposto (LEFLER et al., 2020).
Os sintomas podem variar a depender da situação e do local. Desse modo, os sinais
podem ser ausentes ou mínimo se o paciente está interagindo em um contexto
individualizado, recebendo estímulos ou recompensas constantes, participando de
práticas instigantes, supervisionado ou em condições novas. Por isso, para um diagnóstico
mais preciso é necessário consultar informantes em vários ambientes (APA, 2016;
SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017).
O TDAH é comumente diagnosticado com maior frequência durante na idade
escolar, visto que a desatenção se torna mais prejudicial. Além disso, as informações
adquiridas por terceiros ajudam a determinar o início dos sinais na infância, mesmo em
adultos, devido à possíveis falhas nas lembranças (APA, 2016; SADOCK; SADOCK;
RUIZ, 2017).
A maioria dos casos de TDAH diagnosticados na infância ou adolescência vão
persistir com os sintomas na fase adulta, contudo, pode haver alteração no quadro clínico
do paciente. Os sintomas hiperativos/impulsivos tendem a ser descontinuados, enquanto
os desatentos são mais contínuos em adultos resultando em dificuldades nas atividades
cotidianas, acadêmicas, profissionais e até em comorbidades psiquiátricas (APA, 2016;
GAGLIARDI; TAKAYANAGUI, 2019; SADOCK; SADOCK; RUIZ, 2017). Desse
modo, as diferentes apresentações de acordo com a idade podem gerar um subdiagnóstico,
apesar de nas duas primeiras décadas de vida impactar de modo limitado (BUICĂ, et al.,
2019).
Aproximadamente 70% das pessoas diagnosticas com TDAH na infância não
cursam uma faculdade (LEFLER et al., 2020). Esse fato pode ser relacionado com a
persistência do distúrbio durante toda a vida. Além disso, uma parcela de casos pode ser
diagnosticada tardiamente, na fase adulta, especialmente, quando as atividades laborais
ou acadêmicas aumentam a demanda do funcionamento executivo e o comprometimento
funcionais (APA, 2016; LEFLER et al., 2020).
Aproximadamente 10% dos suspeitos de TDAH foram diagnosticados e tratados,
ou seja, a maioria dos adultos são subdiagnosticados (KIATRUNGRIT et al., 2017).
Todos esses comprometimentos e comorbidades podem ser minimizados a partir do
tratamento farmacológico adequado do TDAH (BITTER et al., 2019; BASTIAENS;
GALUS, 2018).

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Para isso, deve-se realizar o diagnóstico do TDAH pelo DSM-V, completando 05


critérios. O critério A, a partir dos 17 anos, é composto pela presença de pelo menos 05
sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade com no mínimo 06 meses de
duração e com intensidade incompatível ao nível de desenvolvimento. Cada um desses
grupos de sintomas tem 09 itens. O critério B determina que vários sintomas de
desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade devem iniciar antes de 12 anos de idade. O
critério C determina que os sintomas devem estar presente em pelo menos 02 ambientes
(no trabalho, na escola, em casa, com parentes ou amigos). O critério D define que os
sintomas acarretam em prejuízo no funcionamento profissional, acadêmico ou social. O
critério E considera que esses sintomas não são mais bem explicados por outro transtorno
mental. Por fim, podemos classificar em remição parcial se o critério D, prejuízo
funcional, está presente e nem todos os outros 04 critérios estão presentes nos últimos 6
meses, contudo, anteriormente todos os 05 critérios já foram preenchidos
concomitantemente (APA, 2016).
Contudo, a amostra usada no DSM-4 foi majoritariamente infantil e do sexo
masculino, assim, as alterações do DSM-5 objetivaram melhorar o diagnóstico do TDAH,
principalmente em adolescentes e adultos (GRAEFF; VAZ, 2008; APA, 2016; LEFLER
et al., 2020). Além disso, pessoas com TDAH e elevado potencial cognitivo pode
compensar parcialmente e momentaneamente os sintomas e seus prejuízos, de modo que
a performance esteja na média esperada para a idade e nível escolar (GRAEFF; VAZ,
2008).
As mudanças na nova versão do DSM ocorreram nos critérios A, B e C. No critério
A, o DSM-4 requeria que o paciente apresentasse no mínimo 06 sintomas de desatenção
e/ou hiperatividade-impulsividade em adultos. Nele, ainda, houve a adição ou
modificação conservadora de exemplos comportamentais em 14 sintomas e a
permanência do significado central nos 18 sintomas (GRAEFF; VAZ, 2008; APA, 2016;
LEFLER et al., 2020).
No critério B, na versão do DSM-4 era requisitado que alguns sintomas de TDAH
que geraram comprometimento estivessem presentes antes de 07 anos de idade. Já o
DSM-5 expos que vários sintomas devem iniciar antes dos 12 anos de idade, sem
relacionar, nesse item, os sintomas com seus agravos (GRAEFF; VAZ, 2008; APA,
2016).
Em comparação aos critérios anteriores, o critério C teve alterações mais sutis em
sua redação, pois na versão do DSM-4 relatava que alguns prejuízos, gerados pelos

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sintomas de TDAH, deveriam estar em 02 contextos, no mínimo; enquanto o DSM-5


solicita que vários sintomas estejam presente na mesma condição (GRAEFF; VAZ, 2008;
APA, 2016).
É valido citar que ambas as edições apresentam termos subjetivos como por
exemplo “alguns”, “vários” e “evidências claras”. Portanto, alguns parâmetros
apresentam dificuldade na quantificação e padronização do diagnóstico.
O DSM-V objetivou corrigir as dificuldades na aplicação de critérios diagnósticos
em TDAH nos atendimentos em saúde do adulto. Essas dificuldades podem resultar em
subdiagnóstico, subtratamento e consequentemente na diminuição da qualidade de vida
do paciente devido ao curso do TDAH e comorbidades associadas.
Este trabalho pretende dar destaque ao fato de que os sintomas na fase adulta estão
presentes, assim como durante a infância e a adolescência. O TDAH presente na fase
adulta, pode impactar no aspecto social, profissional e educacional do paciente,
prejudicando-o nesta fase da vida, justamente quando detém maiores exigências de
responsabilidade e produtividade. Por isso, há uma necessidade de mais pesquisas sobre
o TDAH nesta população para evitar subdiagnóstico e consequentemente uma pior
qualidade de vida.
Esse artigo tem o objetivo de analisar o diagnóstico do TDAH em adultos,
destacando sua pouca realização na prática clínica. Além disso pretende-se verificar quais
os sintomas mais presentes no TDAH em adultos e comparando a diferença de Critérios
de diagnósticos entre o DSM-V e DSM-IV.

2 METODOLOGIA
Realizou-se uma revisão sistemática da literatura tomando como base as 6
primeiras fases para o planejamento deste estudo. Inicialmente, foi formulado o
questionamento: O DSM V amenizou as dificuldades diagnósticas do TDAH em adultos?
Em seguida, foi delimitada as fontes de pesquisa e os critérios de inclusão e exclusão dos
textos. O quarto passo foi a confecção do resumo de cada trabalho, os quais,
posteriormente, foram agrupados para análise e apresentação dos dados. Por fim, foi
realizada a interpretação dos dados (ROTHER, 2007).
A pesquisa foi realizada na base de dados SciELO Brasil e na plataforma do
Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB), fornecida pela EBSCOhost, a qual permitiu o
acesso às bases selecionadas (MEDLINE, Academic Search Premier, MEDLINE with
Full Text, APA PsycArticles SciELO). O rastreio foi realizado com base na combinação

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entre 4 descritores: diagnóstico/diagnosis, TDAH/ADHD, adulto/adult, DSM-V e


palavras relacionadas, no período de 2017 a 02 de março de 2022.
Os critérios de exclusão foram os estudos com foco em crianças, adolescentes e
idosos com TDAH, na terapêutica, na incidência/prevalência, nas consequências do
transtorno, nas comorbidades ou na fisiopatologia do TDAH. Já Os critérios de inclusão
das publicações foram: apresentar informações referentes ao diagnóstico de TDAH em
adultos com base no DSM-V e/ou referentes a comparação do diagnóstico com base no
DSM-IV e no DSM-V.
Ao retirar os trabalhos duplicados, restaram 39 artigos dos quais foram lidos os
títulos e os resumos. Conforme as características citadas, foram excluídos 28 artigos e a
amostra foi composta por 11 estudos internacionais lidos na íntegra. Apenas 01 artigo não
teve pesquisa empírica e a maioria deles discorriam sobre o rastreio do TDAH em adultos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta revisão sistemática agrupou diversas amostras relativamente restritas com
características específicas como o diagnóstico prévio de algum transtorno. O quadro 01
resume as informações gerais das 10 pesquisas empíricas incluídas.

Quadro 1 - Informações gerais das pesquisas empíricas.


Artigo Amostra Instrumento para avaliar TDAH
Amostra total com 3877 universitários de 18 a 24 anos
LEFLER et de idade matriculados em psicologia nos EUA e sua
DSM-IV, DSM-V e WFIRS.
al., 2020 subamostra com 435 diagnósticos prévios
autorrelatados de TDAH.
Turcos de 18 a 44 anos de idade: 68 pacientes
GENÇ et al., ambulatoriais com diagnóstico de TDAH e um grupo ASRS-V1.1, Rastreador ASRS-5
2021 controle de 68 pessoas sem TDHA ou outros versão turca e SCID-5.
transtornos psiquiátricos.
248 adultos saudáveis da comunidade e 309 pacientes
ACE+, DIVA 2.0, Rastreador
BAGGIO et ambulatoriais (36 com TB ou TPB + 36 com TDAH e
ASRS-5 versão francesa e DSM-
al., 2021 TB/TPB + 236 com TDAH sem TB/TPB), na França e
V.
Suíça.
BASTIAEN 140 reclusos no CCC com T. de uso de substância e Entrevista clínica, DSM-V,
S; GALUS, outra comorbidade psiquiátrica, dentre eles, 70 também Rastreador ASRS-4 e Rastreador
2018 apresentavam TDAH e não estavam em tratamento. ASRS-5.
TAKEDA; 48 com TDAH (19 a 53 anos) + 46 com distúrbio
TSUJI; psiquiátrico e sem TDAH (18 a 66 anos) + 96 ASRS-J, ASRS-J-6, ASIA e
KURITA, empregados sem distúrbio psiquiátrico (21 a 65 anos) + DSM-V.
2017 894 universitários sem DP (18 a 45 anos).
816 pais com idade superior a 18 anos e que seus filhos
KIATRUNG ASRS-V1.1 TH, Rastreador
eram crianças ou adolescentes, dentre eles 52
RIT et al., ASRS-V1.1 TH, entrevista
apresentaram resultados positivo no Rastreador ASRS-
2017 psiquiátrica e DSM-V.
V1.1 TH na Tailândia.

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DSM-V, Rastreador ASRS de


708 pacientes entre 18 e 60 anos em tratamento
BITTER et acordo com DSM-IV, CAARS-
psiquiátrico ambulatorial ou hospitalar, na Hungria e
al., 2019 S:L, MINI-PLUS e entrevista
República Tcheca.
clínica.
ASRS-V1.1 versão chinesa,
CHAN, 254 pacientes psiquiátricos ambulatoriais em Hong
Rastreador ASRS-V1.1, SDS,
2017 Kong de 18 a 64 anos.
DSM-IV, DSM-V e DIVA 2.0
POWELL et 148 mães, no Reino Unido, de 42 a 67 anos de idade
AISRS, DSM-V, GAF e PHQ.
al., 2021 com TDM recorrente.
YILMAZ;
78 mulheres com fibromialgia e 58 mulheres saudáveis DSM-V, ASRS, WURS, BIS-11-
TAMAM,
entre 18 e 55 anos, na Turquia. SF e entrevista psiquiátrica.
2018
Legenda: CCC - Centro Correcional Comunitário; TB - Transtorno Bipolar; TPB - Transtorno de
Personalidade Bordeline; DP - Distúrbio Psiquiátrico.

Para diagnosticar adultos, devemos investigar retrospectivamente os sintomas do


TDAH para identificar a idade de início. Contudo, a análise retrospectiva pode acarretar
subdiagnóstico pois, comumente, essa avaliação é realizada por meio de autorrelato, o
qual pode ser comprometido por memórias imprecisas (BUICĂ, et al., 2019). Se possível,
deve-se acrescentar informações de terceiros que possam identificar a sintomatologia na
infância, como os pais e na atualidade, como os conjugues (LEFLER et al., 2020; BUICĂ,
et al., 2019).
A presença dos sintomas de TDAH não é suficiente para a realização do
diagnóstico (LEFLER et al., 2020). Entretanto, alguns artigos não abrangem informações
suficientes sobre todos os critérios do TDAH pelo DSM.
Uma pesquisa realizou 04 análises sobre a alterações do critério A do DSM-4 para
o DSM-5 por meio de questionários on-line. Durante a análise 1 verificou-se que o
aumento da quantidade dos sintomas só teve relevância estatística na desatenção e nos
sintomas totais de TDAH. Isso pode ser um reflexo da mudança do quadro clínico da
infância para a idade adulta ou um sinal de baixa sensibilidade para os sintomas de
hiperatividade-impulsividade na fase adultas em ambas as versões (LEFLER et al., 2020).
Foi averiguado, na análise 02, que a mudança da redação dos sintomas de TDAH
pelo DSM-5, aumentou a quantidade de sintomas identificados na subamostra,
principalmente nos sintomas de desatenção (LEFLER et al., 2020).
Na análise 03, foi encontrado que 406 universitários preencheram o critério A do
DSM-4 enquanto 607 preencheram o critério A do DSM-5. Isso representa um acréscimo
significativo de aproximadamente 05% da amostra total (n=3877) que satisfizeram esse
critério e uma adição em torno de 50% sobre os universitários com o critério A do DSM-
4 (n=406). Para estudar a interferência das 02 variáveis (mudança na redação e redução

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do limiar de sintomas) foi analisado quantos universitários atenderiam ao limite inferior


de 04, 05 e 06 sintomas de acordo com o DSM-4 e DSM-5 (LEFLER et al., 2020).
Ao observar a variável quantidade de sintomas, sem alterar a mudança da redação,
foi obtido um aumento aproximado de 37% e 90%, respectivamente, para 05 e 04
sintomas em relação aos 406 que preencheram o critério A com a redação do DSM-4 e
um aumento aproximado de 36% e 85%, respectivamente, para 05 e 04 sintomas em
relação aos 446 universitários com 06 sintomas com a redação do DSM-5 (LEFLER et
al., 2020).
E ao verificar a variável mudança da redação do DSM-4 para o DSM-5, mas, sem
alterar as quantidades de sintomas foi observado que essa escrita gerou um aumento dos
sintomas de TDAH, de aproximadamente 10% nos pontos de corte com 06 e 05 sintomas,
e cerca de 05% quando se usou 04 sintomas como limite inferior. Por fim, a redução da
quantidade de sintomas no ponto de corte foi mais importante que a mudança na escrita
para melhorar a aplicação do DSM (LEFLER et al., 2020).
Na análise 04, foi verificado, que tanto na desatenção quanto na hiperatividade-
impulsividade o comprometimento praticamente dobrou quando se atingia 03 sintomas
em comparação ao grupo de 00 a 02 sintomas. E que o maior comprometimento nos
grupos de hiperatividade-impulsividade pode ser reflexo de uma apresentação mais grave.
Além disso, a deficiência média não foi significantemente diferente nos grupos com 04,
05 e 06 sintomas de desatenção e nos grupos com 03, 04 e 05 sintomas de hiperatividade-
impulsividade. Assim, a redução do ponto de corte para 05 sintomas é justificada devido
ao aumento do prejuízo gerado mesmo por quantidades inferiores a 05 sintomas
(LEFLER et al., 2020).
Contudo, a análise pode ter sido restrita a um grupo de alto funcionamento, devido
a população ser constituída apenas por universitários, e diminuir os resultados
encontrados nas mudanças do DSM em comparação com uma população de mesma idade,
mas que não conseguiu ingressar no ensino superior (LEFLER et al., 2020).
Desse modo, esses resultados podem ser interpretados como mudanças positivas
que permitem aumentar o diagnóstico e minimizar o comprometimento dos pacientes
após o tratamento correto. Contudo, os resultados podem ser interpretados, também,
como alterações negativas pela possibilidade de sobrediagnóstico e uso indevido de
fármacos. Devido ao fato de haver mais diagnósticos falsos negativos em relação aos
falsos positivos, principalmente em mulheres adultas, a interpretação positiva se sobressai
em relação a negativa (LEFLER et al., 2020).

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Uma forma de diminuir o risco de sobrediagnóstico seria aumentar a


especificidade e objetividade do critério D por meio da adaptação ou criação de uma
escala de comprometimento funcional que fosse incorporada ao DSM. Outra solução seria
a investigação clínica eficiente sobre os diagnósticos diferenciais.
Assim, no TDAH os sintomas estão presentes a partir da infância o que diferencia
de TB ou T. de Personalidade em que os sintomas iniciam, normalmente, no fim da
adolescência ou na fase adulta. Isso também distingui da deterioração cognitiva pois se
inicia tardiamente, na fase adulta ou idosa, enquanto o TDAH apresenta declínio
fisiológico da memória de trabalho e dos sintomas ligados a deterioração das funções
executivas (BUICĂ, et al., 2019).
Outra característica que permite a diferenciação diagnóstica são os sintomas,
sendo que a esquizofrenia ou TB podem apresentar fuga de ideias, fala precipitada,
pensamentos bizarros ou irracionais. Enquanto o TDAH apresenta hiperatividade no
adulto que pode se manifestar como uma necessidade de estar atarefado, um fluxo
acelerado de ideias, uma inquietação ou uma agitação dos membros, contudo, deve-se ter
cuidado para não interpretar erroneamente essas duas últimas características de
hiperatividade como T. de ansiedade (BUICĂ, et al., 2019).
Os sintomas de TDAH são identificados na maioria da população de forma
temporária e com baixa ou ausência de gravidade, já os pacientes diagnosticados com
TDAH apresentam persistência dos sintomas e alto prejuízo funcional. Essa característica
também permite diferenciar de Transtornos que prejudicam a memória de trabalho (TB,
depressivos ou ansiosos), sendo que durante o episódio maníaco o TB também
compromete a função inibitória (BUICĂ, et al., 2019). Portanto, nenhum critério isolado
é suficiente para diagnosticar o TDAH.
As escalas para triagem de TDAH não costumam conter os 05 critérios do DSM
pois o principal objetivo é identificar sintomas e não o diagnóstico. Embora a não
investigação de possíveis diagnósticos diferenciais ser um gerador de falsos positivos.
O TDAH também pode ser triado com base na ASRS, aqueles que apresentarem
maior risco de diagnóstico devem ser encaminhadas para a avaliação diagnostica mais
abrangentes diminuindo, assim, o sobrediagnóstico e o subdiagnóstico (GENÇ et al.,
2021).
Essa escala, pode ser usada de acordo com o DSM-5 (ASRS-5) (GENÇ et al.,
2021; BAGGIO et al., 2021; BASTIAENS; GALUS, 2018) ou DSM-4 (ASRS-V1.1 e
ASRS-4) (GENÇ et al., 2021; CHAN, 2017; KIATRUNGRIT et al., 2017; CHAN, 2017;

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BASTIAENS; GALUS, 2018) a depender da localidade, do idioma e da forma utilizada,


apresenta diversas variações de acordo com a quantidade de perguntas utilizadas como
06 (versão curta de rastreio), 18 (lista completa), ou os 09 itens nas subescalas de
desatenção e de hiperatividade-impulsividade e cada item é graduado de 0 a 4.
Uma investigação apresentou que uma pontuação ≥ 10/24 na versão turca do
Rastreador ASRS-5 sugere maior chance de diagnóstico de TDAH (GENÇ et al., 2021).
Contudo, não apresentou dados que avaliem as dificuldades do diagnóstico de TDAH no
adulto.
Outro estudo realizou consultas clínicas semiestruturadas de acordo com
autorrelato e relato de terceiros, porém, além de preencherem os critérios na fase adulta,
eles deveriam apresentar no mínimo 06 sintomas antes dos 12 anos de idade e
comprometimento significativo desde a infância (BAGGIO et al., 2021). Entretanto, o
DSM-V não especifica a quantidade mínima de sintomas que deveriam iniciar antes dos
12 anos e que o comprometimento deveria ocorre desde a infância.
Esse estudo mostrou uma menor escolaridade em paciente com TDAH em relação
aos saudáveis, o que ratifica o comprometimento acadêmico gerado por esse distúrbio e
a predominância dos sintomas de desatenção (125 do subtipo desatento e 132 do
cominado) na idade adulta. Outrossim, o melhor ponto de corte encontrado para TDAH
no Rastreador ASRS-5 versão francesa foi 13/24, porém seu desempenho foi diferente
significativamente em alguns grupos estudados. Pois há uma alta taxa de falsos positivos
dentre os pacientes com distúrbios que apresentam sintomas comuns e comórbidos ao
TDAH (BAGGIO et al., 2021).
Contudo, o subgrupo de baixa gravidade e da apresentação desatenta
demonstraram uma alta taxa de falsos negativos e um melhor desempenho no corte de 10
pontos e 12 pontos nas respectivas populações. Ainda, a triagem nos indivíduos sem
comorbidades apresentou uma menor sensibilidade em relação aos que apresentaram
TB/TPB devido ao subdiagnóstico na população geral e à pesquisa não ter realizado
investigação diagnóstica para TDAH no grupo saudável (BAGGIO et al., 2021).
Observou-se também o aumento da sensibilidade em distúrbios com sintomatologia
similares ou sobrepostas ao TDAH, como o TB e o TPB.
Apesar disso, a versão francesa do Rastreador ASRS-5 pode ser usada na triagem
de TDAH, desde que o pesquisador esteja ciente dessas limitações encontradas (BAGGIO
et al., 2021). Por fim, este estudo não permite analisar o subdiagnóstico na comunidade
nem permite observar se houve mudança positiva ou negativa no diagnóstico do TDAH

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com o DSM-V em relação ao DSM-IV. A pesquisa a seguir também não permite essa
observação.
Ela encontrou que o limiar das subescalas de desatenção e hiperatividade-
impulsividade ASRS-V1.1 TH foram respectivamente, 14/36 e 10/36 (KIATRUNGRIT
et al., 2017). Esses resultados permitem duas reflexões uma é que os sintomas de
desatenção são mais comuns na idade adulta, mesmo em pacientes hígidos e isso
aumentaria o limiar de rastreio de sintomas patológicos de desatenção. E a outra é que a
sintomatologia hiperativa-impulsiva do TDAH é mais grave que a desatenta e por isso
apresenta um limiar menor. Entretanto, a próxima pesquisa demonstrou que não houve
melhora do rastreio.
Embora tenha ratificado a literatura ao encontrar que participantes com TDAH,
apresentaram maior gravidade devido a mais histórico de traumas, tentativas de suicídio,
transtorno do estresse pós-traumático (TEPT), internações psiquiátricas e de reabilitação.
E tenha justificado que alta quantidade de falsos negativos com os pontos de corte 4/6 e
14/24 em relação a literatura se deva ao período inicial no CCC, porque as demandas
aplicadas aos pacientes são significativamente maiores em ambiente familiar, acadêmico
e profissional sendo os sintomas de TDAH manifestados e prejudiciais de acordo com a
demanda impostas ao indivíduo (BASTIAENS; GALUS, 2018).
Assim, o desempenho dos Rastreadores ASRS-4 e ASRS-5 não apresentou
diferença significativa entre eles e apenas o ponto de corte 12/24 apresentou desempenho
admissível. Apesar das atualizações do DSM-V, aproximadamente 20% dos casos de
TDAH continuaram não identificados no Rastreador ASRS. Além disso, essa pontuação
de corte foi menor do que a recomendada na literatura, o que demonstra que o valor
positivo do rastreador necessita ser corrigido para a amostra (BASTIAENS; GALUS,
2018).
Enquanto os resultados de um trabalho anterior permitem inferir que a triagem de
TDAH pelo ASRS baseado no DSM-V pode gerar uma menor taxa de subdiagnósticos,
apesar de comparar diferentes amostras e em períodos distintos.
Este trabalho evidenciou que a ASRS-J em relação a versão original do ASRS
para a população geral, tem uma maior sensibilidade, menor especificidade e menos
resultados falsos negativos. Além disso, ratifica que outros distúrbios psiquiátricos podem
simular a sintomatologia do TDAH e que os sintomas de TDAH podem diminuir ao
passar da idade (TAKEDA; TSUJI; KURITA, 2017).

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A ASRS-J-6 não apresenta os mesmos itens que o Rastreador ASRS, pois 05


correspondem aos sintomas de desatenção e 01 ao de hiperatividade-impulsividade. Essa
apresentação ratifica que o sintoma predominante na fase adulta do TDAH é a desatenção
(TAKEDA; TSUJI; KURITA, 2017).
Esses artigos relataram que há uma subidentificação do TDAH na idade adulta,
logo, é subdiagnosticado e subtratado (GENÇ et al., 2021; BAGGIO et al., 2021;
BASTIAENS; GALUS, 2018; TAKEDA; TSUJI; KURITA, 2017; KIATRUNGRIT et
al., 2017). Além disso, ficou evidente que mais estudos são necessários para encontrar
um consenso entre as variações do ASRS e as diversas amostras.
A identificação da sintomatologia do TDAH, realizadas pelas escalas de triagem,
pode sugerir se as mudanças do DSM-V impactaram nas dificuldades do diagnóstico,
mas, a investigação diagnóstica com todos os critérios do DSM apresenta resultados mais
consistentes.
Assim, um trabalho dividiu os pacientes em Rastreador ASRS (DSM-4) para
TDAH com resultados positivo ou negativo, os quais foram analisados em 04 subgrupos
que preenchem: 1- diagnóstico (pelo DSM-4); 2- critérios de TDAH, exceto o B; 3-
critério A; 4- diagnostico pelo DSM-5. E encontrou no grupo DSM-5 um aumento da
prevalência e redução dos falsos negativos em relação ao DSM-4, contudo, o TDAH
permanece várias vezes não diagnosticado mesmo em pacientes tratados para
comorbidades de saúde mental (BITTER et al., 2019). Assim, as alterações do DSM
permitiram um aumento de 32,6% na prevalência estimada e de 25% no número de
diagnósticos. Isso demonstra que a atual versão do DSM, gerou um aumento da
sensibilidade diagnóstica, porém não apresentou informações suficientes sobre a
especificidade.
Além disso, esse estudo demonstrou que os subgrupos 01 e 04 do rastreio negativo
permaneceram com a mesma quantidade de diagnóstico (BITTER et al., 2019). Isso pode
significar que o aumento da idade de início dos sintomas antes dos 07 para antes dos 12
anos idade não causou influencia nessa população.
Enquanto que na triagem positiva identificou que os subgrupos 02 e 04
apresentaram a mesmas quantidades de diagnóstico e superaram o subgrupo 01 (BITTER
et al., 2019). Então, a alteração no critério B permitiu um aumento do diagnóstico.
Contudo, não podemos afirmar que apenas a maior abrangência do início dos sintomas
para antes dos 12 anos causou esse aumento, porque não informa se esses dois subgrupos
são qualitativamente iguais.

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A quantidade de pacientes diagnosticados pelo DSM-4 e DSM-5 não é igual a


quantidade que apresenta sintomatologia mínima em ambas as populações rastreadas
(BITTER et al., 2019). Desse modo, pode-se inferir que à presença dos sintomas e/ou a
redução do número mínimo de sintomas não são suficientes para gerar os diagnósticos.
Além disso, o critério B não influenciou na exclusão diagnóstica de alguns pacientes com
sintomatologia mínima. Entretanto, o estudo não oferece informação sobre o motivo
dessa exclusão, o que impossibilita a análise dos outros critérios.
Por fim, o TDAH foi associado à tentativa de suicídio em cerca de 74 % dos casos
e aos transtornos psiquiátricos em aproximadamente 10 %, exceto a anorexia que não
obteve relação na amostra estudada (BITTER et al., 2019). Essa junção de TDAH e outros
distúrbios piora a qualidade de vida especialmente dos não tratados.
Dessa forma, uma avaliação detalhada, sobre o, histórico psiquiátrico, uso de
substâncias e comprometimento é essencial para evitar falsos positivos, especialmente,
se tiver o início tardio dos sintomas (BITTER et al., 2019). A especificação da presença
de sintomas na infância antes dos 12 anos na ASRS-V1.1 versão chinesa ajuda a
diferenciar distúrbios que iniciam na fase adulta melhorando a especificidade (CHAN,
2017).
A entrevista foi aplicada nos pacientes com ASRS positiva e encontrou 49
pacientes com TDAH. Portanto, os resultados falso negativos nas escalas ASRS podem
gerar uma subestimação desse diagnóstico. Dentre eles, apenas 01 foi diagnosticado e
tratado na infância e 20,4% apresentaram histórico familiar de TDAH. Isso mostra que o
TDAH é subdiagnosticado e subtratado independente da faixa etária, de acompanhamento
médico e do histórico familiar. Embora a prevalência estimada do TDAH no ambulatório
psiquiátrico tenha sido 03 a 04 vezes maior do que na população geral, as altas taxas de
diagnóstico psiquiátrico comórbido ao TDAH (CHAN, 2017), portanto, refletem a
necessidade de investigação de TDAH em pacientes psiquiátrico e de outras
comorbidades no paciente com TDAH para se realizar um tratamento adequado.
Neste estudo, 30% dos indivíduos com TDAH não recordaram algum sintoma de
TDAH durante a infância, necessitando de informações adicionais, assim, os autorrelatos
subestimaram as taxas encontradas (CHAN, 2017). Portanto, a falta de memória do
paciente pode gerar limitações para as interpretações dos resultados porque os dados
sobre o início dos sintomas podem ser incorretos (POWELL et al., 2021). Portanto, o
paciente pode não ser tratado por não lembrar corretamente a idade de início, bem como

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não conseguir perceber os sintomas iniciais. Dessa forma, o critério B pode impedir o
diagnóstico de pacientes sintomáticos e com altos prejuízo socias e laboratoriais.
A apresentação mais predominante foi a desatenta com 51% dos casos, enquanto
a combinada esteve em 40,8%, o que reflete a clínica predominante no adulto. Além disso,
mostrou que, ter um maior número de sintomas (como na apresentação combinada) não
reflete obrigatoriamente um maior número de comorbidades e/ou comprometimento
funcional (CHAN, 2017).
A proporção do sexo masculino e feminino no ambulatório psiquiátrico neste
estudo foi de 01,4:01 o que é semelhante aos dados da população infantil. Assim, o estudo
demostrou que o TDAH não apresentar maior risco de persistir no sexo feminino.
Contudo, na idade adulta, os homens podem ser menos prevalentes devido as mulheres
serem mais dispostas a buscar ajuda. Ainda, foi visto que a presença de sintomas atuais
insuficientes para o diagnóstico de TDAH não foi compatível com uma melhora
significativa do funcionamento (CHAN, 2017).
A AISRS apresenta 18 sintomas classificados de 00 a 03 dependendo da
intensidade. Nesse estudo, foi considerado sintomas elevados de TDAH uma pontuação
> 23/54 e foi identificado 12,8% com essa característica, mas, apenas 03,4% apresentaram
diagnóstico de TDAH pelo DSM-V. Um fator que contribui para a presença de sintomas
serem cerca de 04 vezes maior que o diagnóstico foi o critério de que os sintomas devem
aparecer antes dos 12 anos de idade, apesar do diagnóstico na população geral (2,5%) ser
menor. É valido pontuar que nenhuma participante tinha diagnostico prévio à pesquisa, o
que demonstra o subdiagnóstico de TDAH em pacientes ambulatoriais (POWELL et al.,
2021).
Além disso, foi visto que o TDM e os sintomas ansiosos podem mascarar
Transtornos do Neurodesenvolvimento e que o TDAH é agravado pelo comprometimento
causado pelo TDM. É importante citar que a falha terapêutica com fármacos de 1ª linha
para TDM pode sugerir a presença de outra comorbidade (POWELL et al., 2021) e a
necessidade de diagnósticos diferenciais.
A fibromialgia é outra comorbidade que pode estar associada ao TDAH. O grupo
com fibromialgia apresentou maior proporção e duração média de doença psiquiátrica.
Entretanto, a intensidade da dor e duração da fibromialgia não apresentou diferença
significativa nas mulheres com e sem TDAH (YILMAZ; TAMAM, 2018). Isso está
relacionado ao TDAH ter alta comorbidade psiquiátrica, porém, mais estudos são

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necessários para avaliar se o TDAH pode ou não influenciar no desenvolvimento de


fibromialgia.
O diagnóstico de TDAH infantil foi realizado retrospectivamente e 66% deles
permaneciam com o diagnóstico quando adulto. A prevalência de TDAH na infância e
nos adultos com fibromialgia, 03 e 04 vezes maior, respectivamente, do que no grupo sem
fibromialgia, indicando que o TDAH pode ser um fator de risco para desenvolver
fibromialgia. Além disso, 100% do grupo controle e 80% do grupo de fibromialgia não
apresentou diagnóstico prévio de TDAH, apesar deste grupo estarem em
acompanhamento médico. Isso mostra que o TDHA foi subdiagnosticado tanto na
infância quanto na idade adulta e independente de realizar acompanhamento clínico
(YILMAZ; TAMAM, 2018). Por fim, faltou informações para analisar se algum
indivíduo preencheria os critérios diagnósticos a partir dos 17 anos, mas, não antes dessa
idade.
No entanto, maioria dos estudos apresentaram uma amostra restrita e,
consequentemente, essas características podem ser limitadas a populações específicas
(CHAN, 2017; POWELL et al., 2021; YILMAZ; TAMAM, 2018).

4 CONCLUSÃO
A maioria dos estudos indicaram que o TDAH em adultos é subdiagnosticado
acarretando em piores condições de vida e que é dificultado pela maleabilidade da
memória. Além disso, alguns artigos encontraram que as mudanças do DSM-V
facilitaram a identificação da sintomatologia e do diagnóstico de TDAH, contudo foi
encontrado poucos trabalhos que investigam adequadamente todos os critérios
diagnósticos do DSM-V.
Percebe-se que o diagnóstico de TDAH no adulto permanece desafiador e que
todas as características do TDAH são importantes para exclusão de outros transtornos,
seu diagnóstico e terapêutica. Produção, divulgação científica e treinamento das equipes
são partes fundamentais da correta difusão dos conhecimentos sobre o assunto com
consequente melhor abordagem no cuidado à pessoa com TDAH.
Assim, mais estudos são necessários tanto para uniformizar os diversos
questionários de avaliação e triagem do TDAH em adultos a partir do DSM-V, com a
finalidade de minimizar o subdiagnóstico na população adulta em geral e nos seus
subgrupos. Quanto para analisar se as mudanças do DSM-V amenizaram as dificuldades
do diagnóstico e se mais alteração são necessárias pra minimizar esses problemas.

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