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A DIFERENÇA ENTRE O INSTITUTO DA EXCLUSÃO DA

SUCESSÃO POR INDIGNIDADE E A EXCLUSÃO POR


DESERDAÇÃO.

Autores
Cesar Augusto Cavalcante Valente - 26126394
David Fadul Neto – 26151124
Regina Cleia Ribeiro Coutinho – 26080198
Rone Estuart Pinheiro Viana – 26154080
Professor Leonardo Amaral
Universidade da Amazônia - Unama
Direito 7NNA – Trabalho de Graduação

RESUMO

Este documento visa retratar a diferença entre o instituto da exclusão por indignidade e
o instituto da exclusão por deserdação, dentro da linha sucessória.

PALAVRAS-CHAVE: Exclusão da sucessão. Diferença. Indignidade. Deserdação.

INTRODUÇÃO

A principal função do Direito é a de ordenar a coexistência humana em sociedade


visando a justiça e a organização entre todos.
O Direito de família é o ramo do Direito Civil que trata das relações familiares e das
obrigações e direitos decorrentes dessas relações.
O Direito Sucessório ou Direito das Sucessões é o conjunto de normas que disciplinam
a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, em virtude de lei ou
testamento. Tal ramo do Direito, será por este trabalho estudado e elucidado, mais
especificamente em relação às distinções existentes entre as exclusões sucessórias por
Indignidade e por Deserção. Ambas são decorrentes da relação de cujus/herdeiro e
estão positivadas nos artigos 1.814 a 1.818 e nos artigos 1.961 a 1.965 do Código Civil
Brasileiro.
Em determinadas situações, pode-se valer do direito para que se resguarde e proteja o
patrimônio e outros interesses particulares.
A legislação pune os herdeiros que atentam contra a entidade familiar. Assim sendo, e
entendendo que a hereditariedade material é intrínseca à relação de parentesco que se
estabelece entre indivíduos que compõem o segmento social denominado “família”, o
rompimento dos laços afetivos acaba por impactar no âmbito patrimonial.
O presente artigo visa apresentar os conceitos dos respectivos tipos de exclusão, assim
como suas peculiaridades, causas e efeitos, para que, uma vez elucidados, seja feita a
distinção entre eles com fundamento nos artigos supracitados do Código Civil
Brasileiro.

INDIGNIDADE

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CONCEITO

A Indignidade é a exclusão do sucessor devido ao fato do mesmo ter praticado um ato


reprovável contra o autor da herança sendo então punido com a perda do direito
hereditário. A indignidade é uma sanção civil que acarreta a perda do direito sucessório.
          “Não há maior falta de afeição, solidariedade e gratidão para o defunto do que o
ato daquele que lhe provocou a morte. Só configura, entretanto, causa de indignidade o
homicídio doloso (praticado com animus necandi), independentemente do motivo que
impulsione o homicida, sendo irrelevante, pois que tenha agido com o intuito de
apressar a aquisição da herança. Referindo-se o inciso I ao homicídio consumado ou
tentado, presente o dolo de matar, o resultado morte não é exigido para a exclusão do
herdeiro. Mas não configura indignidade o homicídio culposo, a instigação,
induzimento ou auxilio ao suicídio, ou, ainda, quando presente causa de exclusão de
ilicitude (estado de necessidade, legitima defesa, exercício regular de direito)”.
(SOUZA, 2011, p.1513).

HIPÓTESES DE INDIGNIDADE

Para que ocorra a indignidade, é mister que o herdeiro excluído tenha praticado, em
síntese, Atos contra a vida, contra a honra e contra a liberdade de testar do autor da
herança, como descreve o Art. 1814 do Código Civil - Lei 10406/02.

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os


herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores
ou partícipes de homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente
em juízo o autor da herança ou incorrerem
em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor
da herança de dispor livremente de seus
bens por ato de última vontade.

HOMICÍDIO

Na matéria de sucessões só se entende a modalidade de homicídio doloso, consumado e


tentado cometido pelo herdeiro, não se estende em casos de homicídio culposo por
imprudência, negligência ou imperícia, pouco importando a motivação do crime.  Como
tal dispositivo menciona a palavra “matar” não necessita de uma condenação, visto que
não se trata de um homicídio, podendo ser provado a indignidade na esfera cível. É
importante ressaltar que uma absolvição do acusado, por uma excludente de
criminalidade, impede o questionamento no campo cível, de acordo com o artigo 935 do

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Código Cível, visto que a sentença criminal produz efeitos de coisa julgada e licito não
será reconhecer a indignidade no juízo cível.

Corrige-se, no artigo 1.814, inciso I, a expressão técnica do crime – “homicídio doloso”


ou “tentativa” –, em lugar da antiga locução “homicídio voluntário”, que constava do
código revogado. É a invocação do tipo previsto no artigo 121 do Código Penal –
“matar alguém”, abrangendo as diversas formas de homicídio privilegiado, qualificado
e, também, a nova figura do “feminicídio”, referente ao crime praticado contra a mulher
em razão da sua condição sexual (Lei n. 13.104, de 9.3.2015, com acréscimo do inciso
VI ao parágrafo segundo do artigo 121).
É controvertida a doutrina na apreciação do caráter taxativo ou meramente
exemplificativo dessa regra de indignidade. Assim, questiona-se a abrangência de outras
figuras delituosas aparentadas, como o infanticídio (art. 123 do CP), o latrocínio (art.
157, § 3º) e a extorsão mediante sequestro seguida de morte (art. 159, § 3º). Embora não
tipificados como espécies de homicídio, esses crimes contêm a morte como seu
elemento integrante, de modo que haveriam de ser considerados também como formas
de indignidade sucessória, à luz de uma interpretação lógica do disposto no artigo 1.814,
inciso I. Imagine-se a hipótese de filho que, para haver bens do pai, age com violência e
lhe ocasiona a morte para o alcance patrimonial, em procedimento tão ou mais
reprovável que a própria conduta puramente homicida (tanto que a pena imposta no
latrocínio é superior à prevista para o homicídio doloso). Quanto à vítima do homicídio,
que o Código revogado limitava à pessoa do autor da herança, o Código atual contém
notável ampliação, ao acrescentar as figuras do cônjuge, companheiro, descendente ou
ascendente do falecido. Não avança, porém, a outros parentes próximos, como sejam os
colaterais, deixando de fora situações tão graves como as do fratricídio, que seja
praticado para excluir concorrente na herança de um irmão.O alargamento do polo
passivo da prática delituosa traz consequência séria para o herdeiro indigno, que perderá
o direito de herança de todos esses personagens ligados ao autor da herança, já que,
praticando o homicídio ou a tentativa contra um deles, acaba sendo alcançado pela
mesma pecha com relação aos demais pela sua inter-relação conjugal ou de parentesco

O Mestre Luiz Paulo Vieira de Carvalho considera indigno não só aquele que for
considerado autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso ou tentativa (art. 14, inciso
II, do CP) em face do hereditando – excluindo-se assim o autor do homicídio culposo,
indispensável a comprovação de que o ofensor agiu voluntária e intencionalmente
quando realizou o comportamento reprovável –, mas também em face do seu cônjuge,
do seu companheiro, seus ascendentes ou descendentes, tutelando-se a vontade
presumida do ofendido de punir o ofensor, podendo, sob tal acepção, ter ocorrido o fato
gerador da indignidade anteriormente ou até mesmo após a abertura da sucessão”.

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA E CRIMES CONTRA HONRA

Caracteriza-se crime de denunciação caluniosa, segundo o artigo 339 do Código Penal,


quando o agente da causa a “instauração de investigação policial, de processo judicial,
instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade
administrativa contra águem, imputando-lhe crime de que o sabe inocente”. Porem não
basta qualquer acusação perante a polícia, ou outra repartição pública. É preciso que
esteja ela veiculada em juízo criminal, mediante formulação de queixa ou de
representação ao Ministério Público, de maneira que não se configurava indignidade se
o herdeiro acusasse, caluniosamente, o autor da herança em juízo cível. 

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A segunda parte do inciso II art. 1.814 refere-se a prática de crimes contra a honra do
hereditando. Elencados no artigo 138, 139 e 140 do Código Penal, são eles: calunia
difamação e injuria.
Os crimes contra a honra precisam de ação condenatória, visto que no dispositivo
refere-se a herdeiros que incorreram em crimes contra a honra do de cujus, assim,
conclui-se que o reconhecimento da indignidade, nas hipóteses questionadas, no juízo
da sucessão, depende de previa condenação do juízo criminal.

DA LIBERDADE DE TESTAR

A terceira classe dos indignos constata atos contra a liberdade do autor da herança. Se
alguém por violência ou meios fraudulentos obstar que a liberdade da pessoa seja
inferida, pratica atos contra a liberdade do falecido. A violência entende-se tanto física,
moral ou psicológica. 
Esse dispositivo tem como objetivo garantir a plena liberdade de disposição por parte do
de cujus de testar.  O Código Civil, ao prescrever essa causa de indignidade, teve o
intuito de defender a liberdade de disposição do de cujus, punindo o herdeiro que,
fraudulenta, dolosa ou coativamente, praticar atos, omissões, corrupção, alterações,
falsificações, inutilização, ocultação, atentando contra essa liberdade ou ostentando a
execução do ato de última vontade. 

EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE

O herdeiro declarado indigno perderá o direito à herança, não se estendendo a punição,


entretanto, aos seus descendentes, que herdarão por estirpe ou representação. Todavia,
com a declaração da indignidade, o herdeiro perderá o usufruto legal e a administração
dos bens de seu descendente.

JULGAMENTO DO INDIGNO PELO JUÍZO CRIMINAL

A professora Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto foi muito feliz em afirma
que no direito pátrio, o reconhecimento da indignidade não depende de prévia
condenação do indigno no juízo criminal. Não há interdependência entre as duas
jurisdições; a prova da indignidade pode ser produzida no juízo cível. Mas, se há
sentença no juízo criminal, absolvendo o réu, por não lhe ser imputável o fato, ou por
não ter este existido, não mais será possível questionar a respeito no juízo cível, de
acordo com o art. 935 do Código Civil de 2002. A sentença criminal produz efeito de
coisa julgada e lícito não será reconhecer a indignidade no juízo cível.” (MONTEIRO,
2010, p. 64)

REABILITAÇÃO DO INDIGNO

A possibilidade de reabilitação à sucessão do indigno só se dará por concreta no


momento da abertura da sucessão, apurando-se a necessidade de suceder, pois antes
desta, não há a reaquisição da capacidade sucessória no incurso em indignidade.

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos


que determinem a exclusão da herança será
admitido a suceder, se o ofendido o tiver

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expressamente reabilitado em testamento,
ou em outro ato autêntico.

Isso faz da reabilitação um ato solene, por sujeitar-se à essa forma especial. Caso seja
anulado o testamento por qualquer vício de forma, não há que se negar a eficácia da
vontade que perdoou o indigno. O perdão somente será prejudicado caso o testamento
seja anulado por vício de vontade, não podendo ser válido e eficaz. Portanto, a
reabilitação resulta-se no perdão do indigno, de forma que só deverá ser praticado pelo
ofendido, não sendo válido se realizado por outrem, dessa forma, trata-se de uma
peculiaridade personalíssima. Segundo Venosa (2013) o ato de perdoar não está
relacionado a palavras textuais, nem mesmo descrição dos fatos que levaram ao perdão,
e sim, na vontade inequívoca de perdoar. Destarte, uma vez que o perdão se
concretizou, não há mais que se falar em deserdação, excluída a hipótese de sua
exclusão da sucessão. No entanto, uma vez que foi declarada em cédula testamentária,
subsiste mesmo que o testamento tenha sido revogado, pois é irretratável. A reabilitação
do indigno só se dará por concreta no momento da abertura da sucessão, apurando-se a
necessidade de suceder, pois antes desta, não há a reaquisição da capacidade sucessória
no incurso em indignidade. No que concerne a natureza jurídica da reabilitação, esta se
dá por controvertida, pois se a vontade for presumida, o perdão indica a falsidade da
presunção. Em sentido contrário, a verdade se mostra real, dado que foi expressa. Dessa
forma, o perdão do ofendido verdadeiramente, indica a causa imediata da reabilitação

DESERDAÇÃO

CONCEITO

A deserdação é uma cláusula testamentária na qual o testador exclui um ou mais


herdeiros necessários do recebimento de sua legítima, declinando, para tanto, a causa
legal. É uma pena civil, como a indignidade; entretanto, provém da vontade exclusiva
do autor da herança. É a única forma que tem o testador de afastar os herdeiros
necessários da sua sucessão.
Diz o art. 1.961 do Código Civil: “Os herdeiros necessários podem ser privados de sua
legítima, ou deserdados, em todos os casos em que podem ser excluídos da sucessão”.
Consequentemente, não há deserdação das demais categorias de herdeiros legítimos,
como os colaterais. Estes, apesar de legítimos, não são herdeiros necessários. Para
afastá-los da sucessão, pode o testador simplesmente dispor a universalidade de seus
bens, como permite o art. 1.850 do Código Civil: “Para excluir da sucessão os herdeiros
colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar”. Nesse
caso, é dispensável fazer qualquer justificativa.

HIPÓTESES DE DESERDAÇÃO

Se as causas de indignidade visam o resguardo da ordem social, porque as causas de


indignidade têm uma conotação criminal acentuada, a deserdação vai além, pois abarca
aquelas e outras tantas que devem ser avaliadas pelo testador, medindo a intensidade de
sua decepção e a gravidade de seu desgosto.
A partir do Código Civil de 2002, além dos descendentes e ascendentes, o cônjuge
passou a integrar o rol de herdeiros necessários, em determinados regimes de bens.
Portanto, podem ser deserdados. O testador deverá amparar a deserdação em uma das

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causas previstas em lei. Podem ser tanto aquelas idênticas às de indignidade como as
novas elencadas pelos art.1.962 e 1.963 do Código Civil. Ao analisar as hipóteses
ensejadoras, vemos que o art.1.962 trata das causas em que os ascendentes podem
deserdar os descendentes, ao passo que o art.1.963 trata da situação inversa, criando
situações díspares, criticadas pela doutrina. Dizem tais normas:
Art. 1.962. Além das causas mencionadas
no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
descendentes por seus ascendentes:
I – ofensa física;
II – injúria grave;
III – relações ilícitas com a madrasta ou
com o padrasto;
IV – desamparo do ascendente em
alienação mental ou grave enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no
art. 1.814, autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:
I – ofensa física;
II – injúria grave;
III – relações ilícitas com a mulher ou
companheira do filho ou a do neto, ou com
o marido ou companheiro da filha ou o da
neta;
IV – desamparo do filho ou neto com
deficiência mental ou grave enfermidade.

Vejamos de forma pormenorizada tais causas. A ofensa física não carece gravidade,
resquício, corpo de delito ou dor. Basta qualquer forma de agressão, justificando Sílvio
de Salvo Venosa que o cerne é o desrespeito. Não há necessidade de condenação penal.
O que é levado em consideração é o mau tratamento corporal. Há necessidade de
contato físico. Ameaças, intimidações, promessa de agressão futura, que amedrontem ou
assustem a vítima não são causas de ofensa física; são tipificadas como injúria grave,
causa do inciso II. Ressalva Sílvio de Salvo Venosa que “a exemplo do direito penal,
pode ser deserdado o herdeiro que foi o autor intelectual da agressão praticada por
outrem”. Segunda causa é a injúria grave. Aqui, ao contrário da agressão física, a lei
exige um grau de gravidade para a aplicação da pena de deserdação. A forma de
exteriorização da injúria pode ser a palavra, por meio da expressão verbal, oral ou por
escrito (telegrama, cartas, bilhetes etc), bem como atos (gestos obscenos, condutas
desonrosas), como elenca Zeno Veloso, acrescentando que “sem dúvida, o
comportamento insultoso, as atitudes afrontosas e ultrajantes de um filho podem injuriar
mais gravemente o pai, maltratá-lo de forma mais intensa e profunda, do que palavras
ofensivas”. Nelson Hungria, parafraseado por Zeno Veloso, define injúria:

“É a manifestação, por qualquer meio, de


um conceito ou pensamento que importe
ultraje, menoscabo ou vilipêndio contra
alguém. O bem jurídico lesado pela injúria
é, prevalentemente, a chamada honra
subjetiva, isto é, o sentimento da própria

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honrabilidade. Se na calúnia ou na
difamação o agente visa, principalmente,
ao descrédito moral do ofendido perante o
terceiro, na injúria seu objetivo primacial é
ferilo no seu brio ou pudor.” - Zeno Veloso
grifa que o conceito civil é mais amplo que
o penal.
Sílvio de Salvo Venosa leciona que é necessário examinar determinadas condições:

“Simples desentendimentos não constituem


injúria grave. Importa examinar o ânimo de
injuriar, juntamente com as circunstâncias
gerais que envolveram a conduta, tais como
nível social e cultural dos envolvidos;
situação em que ocorreu o evento;
provocação da vítima etc. [...] O âmbito
aqui deve ser visto de forma mais ampla.
Pode a injúria exteriorizar-se pela palavra
escrita, falada ou por gestos. A gravidade
ficará jungida ao exame da prova e às
condições de que falamos. A injúria deve
ser contra a pessoa do testador e não
contra terceira pessoa, ainda que muito
querida por ele. A interpretação de norma
punitiva não pode ser extensiva.”
Terceira causa são as relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto, no caso de
sucessão descendente, e relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do
neto, ou com o marido ou companheiro da filha ou da neta, no caso de sucessão
ascendente. Causa assaz estranheza que, na primeira, não há previsão de relações ilícitas
com o companheiro ou companheira do ascendente.
Washington de Barros Monteiro entende que, não estando previsto na lei, não se poderia
estender a penalidade. Contudo, a ideia destacada por Sílvio de Salvo Venosa fez-nos
crer que o intuito da lei é repugnar relações sexuais que desequilibrem o lar e abalam a
vítima, razão pela qual cremos que, peculiarmente nesse caso, possa haver tal
abrangência em relação a companheiros dos ascendentes.
Quarta e derradeira causa prevista é o desamparo do testador em estado de alienação
mental ou grave enfermidade. O art.1.962, inc. IV, do Código Civil, prevendo o
desamparo do ascendente, fala em alienação mental. Já o art.1.963, inc. IV, do mesmo
Codex, fala em desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave
enfermidade. Prega Washignton de Barros Monteiro que as expressões alienação e
deficiência mental se equivalem, cabendo à medicina definir em que consistem tais
estados mentais patológicos. Importa- -nos saber que o desamparo previsto nas normas
é de ordem econômica, ou seja, o parente tinha condições de aportar recursos para
prover o doente e não o fez deliberadamente. Contudo, Sílvio de Salvo Venosa entende
que “não se descarta o desamparo moral e intelectual, da dicção legal”.
Incurso o deserdado em alguma dessas causas, o testador deverá descrever a situação,
como determina o art. 1.964 do Código Civil: “Somente com expressa declaração de
causa pode a deserdação ser ordenada em testamento”. No caso de desamparo, por
exemplo, o testador deverá descrever a enfermidade e a forma do desamparo. As

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mesmas justificativas são necessárias declinar na ocorrência dos outros motes de
deserdação. Não são necessários detalhamentos; contudo, inegável que facilitariam o
processo de prova pelo herdeiro ou pelo interessado na ação judicial própria, razão pela
qual são aconselháveis. Elza de Faria Rodrigues, tabeliã de notas de Osasco, São Paulo,
traz exemplo de cláusula testamentária com descrição da situação:

“Nos termos do art. 1.964 do Código Civil,


a testadora impõe a seu filho PEDRO
CARLOS, a pena de deserdação em virtude
dele haver ofendido moralmente a
testadora, proferindo em tom alto, ou seja,
gritando por cerca de dez minutos,
palavras impróprias, rudes, obscenas,
agressivas, imorais e ofensivas, gerando
toda sorte de humilhação, angústia e
transtornos, que causaram graves
perturbações de saúde, inclusive distúrbios
psíquicos. O terrível fato se passou em sua
festa de aniversário em (dia/mês/ano), que
ocorreu em sua residência, localizada na
rua ..., na cidade de ******, contando,
ainda, o evento com a presença de vários
familiares e amigos que a tudo
presenciaram, que poderá ser provado,
incidindo, assim, na deserdação editada no
Código Civil, inciso II – injúria grave.
Assim, quer e determina que seu herdeiro
necessário, ou seja, seu filho PEDRO
CARLOS, seja privado da herança, em sua
totalidade, acrescentando o seu quinhão ao
dos outros herdeiros necessário.”

Acerca dessa redação exemplificativa, cumpre destacar que, se a deserdação for feita em
termos amplos, a presunção é a de que atinge também a parte disponível. “No silêncio
da vontade do disponente, a vocação é da ordem legítima, em toda a herança”, como
leciona Sílvio de Salvo Venosa. Portanto, tanto o objeto da deserdação será a
universalidade da herança como o destino dos bens que caberiam ao deserdado será a
aplicação conforme a ordem da vocação hereditária, salvo determinação contrária em
testamento. Zeno Veloso hasteia a possibilidade de a deserdação ser parcial, ao
contrário de tantos outros juristas brasileiros. Sustenta ele tal ideia na ausência de
proibição legal em nosso ordenamento e na possibilidade praticada em outros países,
como Chile, Bolívia e Alemanha, este último por construção doutrinária. Ainda quanto
aos cuidados com a redação, a disposição deve ser explícita, direta, clara e induvidosa,
não podendo subordinar-se a deserdação a termo ou condição, ou seja, a evento futuro e
incerto, a teor do art. 121 do Código Civil.
A deserdação pode ser instituída em qualquer forma de testamento, inclusive as
especiais, uma vez inexistente qualquer restrição legal. A maciça doutrinada tende a
aplicar o perdão, previsto no art. 1.818 do CC para os casos de indignidade, para o
instituto da deserdação. O perdão extinguiria a deserdação, o que pode ser feito com a
revogação do testamento ou elaboração de novo sem a repetição da deserdação.

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DESERDAÇÃO X INDIGNIDADE

A indignidade e da deserdação têm a mesma finalidade, que é a de afastar o herdeiro da


sucessão, porém cada instituto apresenta as suas peculiaridades, sendo importante, por
isso, ressaltar as suas diferenças e semelhanças. Ambas são sanções civis impostas ao
sucessor que se comportou de forma hostil em relação ao autor da herança. Possuem,
portanto, finalidade punitiva.

A indignidade pode ser reconhecida e requerida antes ou depois da morte do autor da


herança. A deserdação ocorre sempre antes da morte do testador.

A indignidade atinge herdeiros e legatários e só pode ser declarada por sentença, logo, é
necessário ingressar com uma ação de indignidade, prevista no art. 1.185 do Código
Civil.
Vale lembrar que, como se trata de um processo judicial, ao pretenso indigno será
garantido o direito ao contraditório e ampla defesa. O Ministério Público não está
legitimado a propor essa ação.
Enquanto que a deserdação atinge somente o herdeiro necessário. Se manifesta por ato
de vontade do autor da herança por meio do testamento, sendo assim somente o autor da
herança pode deserdar, sendo que esse ato precisa ser fundado em motivo legal.

As causas de indignidade se aplicam à deserdação, mas nem todos os motivos da


deserdação configuram a indignidade. Ou seja, somente o herdeiro necessário pode
ser deserdado, enquanto que qualquer sucessor (seja herdeiro ou legatário) pode ser
indigno.

A indignidade resolve uma vocação hereditária existente no momento da abertura da


sucessão, já na deserdação há a privação de uma vocação legítima por meio da vontade
do testador.

Na indignidade é conferido um caráter punitivo aos atos realizados pelos herdeiros e


testamentários:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os


herdeiros ou legatários:
I - Que houverem sido autores, co-autores
ou partícipes de homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente;
II - Que houverem acusado caluniosamente
em juízo o autor da herança ou incorrerem
em crime contra a sua honra, ou de seu
cônjuge ou companheiro;
III - Que, por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor
da herança de dispor livremente de seus
bens por ato de última vontade.

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A deserdação só atinge os herdeiros necessários. É praticada antes da abertura da
sucessão, em disposição de última vontade. As causas são as mesmas da indignidade (art.
1814) e também as previstas nos arts. 1.962 e 1.963.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas


no art. 1.814, autorizam a deserdação dos
descendentes por seus ascendentes:
I - Ofensa física;
II - Injúria grave;
III - Relações ilícitas com a madrasta ou
com o padrasto;
IV - Desamparo do ascendente em
alienação mental ou grave enfermidade.

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no


art. 1.814, autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:
I - Ofensa física;
II - Injúria grave;
III - Relações ilícitas com a mulher ou
companheira do filho ou a do neto, ou com
o marido ou companheiro da filha ou o da
neta;
IV - Desamparo do filho ou neto com
deficiência mental ou grave enfermidade.

Pelo fato do artigo 1.814 se tratar de sanção, não se pode fazer interpretação extensiva
para incluir a possibilidade de instigação ou auxílio ao suicídio. Não há necessidade de
sentença condenatória transitada em julgado. Em caso de decisões contraditórias no cível
e no criminal, se ainda estiver no prazo da rescisória, pode haver modificação. O crime de
calúnia previsto no inciso II do mesmo artigo não exige a condenação criminal, mas tão
somente a instauração de um processo judicial. A Violência ou fraude citada no inciso III
serve para inibir ou obstar a livre disposição dos bens, pelo autor da herança.
Há de se observar que o novo Código Civil, em seus artigos 1.962 e 1.963 apenas se
refere às causas de deserdação entre ascendentes e descendentes. Não menciona as causas
de deserdação do cônjuge ou companheiro. Por se tratar de sanção, a interpretação deve
ser restritiva. Portanto, o cônjuge ou companheiro não pode ser deserdado.
As semelhanças entre as causas de exclusão da sucessão por indignidade e por
deserdação, estão todas vinculadas a ofensas à integridade física ou à honra, bem como
questões morais relativas a convivência familiar. Todos os motivos se fundamentam na
quebra dos laços de afeto, consideração e respeito que deveriam existir entre o autor da
herança e aqueles que o vão suceder. Assim, por exemplo, não é admissível que alguém
que atentou contra a vida do de cujus venha se beneficiar dos bens que ele deixou.

CONCLUSÃO

O trabalho teve como finalidade diferenciar dois grandes, e por muitos até
desconhecidos, institutos do Direito Sucessório Brasileiro. Conceituou-se cada um
deles, assim como observou-se de que forma se apresenta a causa e o efeito de cada

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exclusão de forma concisa, as maneiras em que se priva o sucessor de seu direito à
herança e à sua reabilitação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Áurea Maria Ferraz de Sousa - Qual a diferença entre a indignidade e a deserdação,


no direito das sucessões? - https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Direito-Sucess
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Daniela Natale Nasser, O INSTITUTO DA INDIGNIDADE NO DIREITO
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indignidade-e-deserda%C3%A7%C3%A3o

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm

VELOSO, Zeno. Comentários ao Código Civil: parte especial: direito das sucessões, v.
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VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito das sucessões. V.7. 5. ed. São Paulo:
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http://www.ibdfam.org.br/noticias/6180/Indignidade
%3A+herdeiro+que+atenta+contra+a+vida+e+a+honra+do+hereditando+perde+di
reito+sucess%C3%B3rio

https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/a-indignidade-no-direito-das-
sucessoes/

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