Professional Documents
Culture Documents
Cap 2 Anexo 2
Cap 2 Anexo 2
Religiões, Linguagem
e Tradições Orais
1. INTRODUÇÃO
A linguagem oral e a linguagem escrita, que têm formas fixas refletidas na literatura, são
circunscritas por horizontes culturais que interferem na sua composição. Se de um lado, a tradi-
ção oral tem como característica a fluidez, de outro, ao ser registrada por meio da escrita, essa
dinâmica é submetida à expectativa de preservação e de controle, visto que a categoria escrita
pretende ser o registro do oral.
As tradições são transmitidas, mas também podem ser inventadas. Quando uma tradi-
ção é inventada, conforme Hobsbawn, ela pode reunir costumes e práticas que são variáveis,
isto é, sujeitas à adaptação de acordo com os usos que as pessoas lhe atribuem. Todavia, as
tradições têm como fundamento preservar memórias e histórias que funcionem como símbo-
los de uma coletividade; esses símbolos cooperam para que uma identidade seja forjada, bem
como funda o sentimento de pertença e estabelece a coesão social de um grupo (HOBSBAWN,
1984, p. 10-11).
Neste sentido, é importante compreender que as religiões são importantes sistemas de
idéias dos indivíduos norteiam suas vidas.
As religiões têm uma linguagem própria e os recursos para comunicar-se com os sujeitos
religiosos (fiéis) como símbolos, metáforas e imagens que caracterizam a linguagem religiosa
em estado oral (mitos) e escrito. Vamos iniciar nosso estudo com base na discussão sobre
linguagem religiosa e quais são os recursos que constituem os textos orais e os textos escritos
das religiões.
18 © Textos Sagrados
Os mitos são sempre atuais. Segundo Campbell, eles são como "receptáculos da verdade",
pois ao contrário dos manuais impressos, os mitos sobrevivem ao tempo por meio da linguagem
oral, isto é, da fala. Essas narrativas de origem podem ser consideradas formas de conhecimen-
to, mas não do tipo científico.
Neste sentido, os esforços empreendidos para explicar e comprovar a historicidade de
textos míticos como a literatura bíblica, acabam por empobrecer tais narrativas. Por isso, entre
outros, Campbell propõe que essas narrativas sejam compreendidas como mitológicas: histórias
fantásticas para iluminação espiritual. Isto implica que apreciar a literatura bíblica considerando-a
mitológica não é destruí-la, mas redescobrir sua vitalidade e relevância espiritual.
Veja você que por essa razão se diz que os mitos são sempre atuais, pois se aplicam à
subjetividade humana independentemente de épocas ou espaços geográficos. Nisto se funda a
importância da definição de metáfora: "A palavra metáfora provém do termo grego meta, que
indica uma passagem, ou um ir de um lugar para outro e de forein, mover ou carregar. Metáforas
nos carregam de um lugar para outro" (Campbell, 2002, p. 18-19).
Na base de todas as religiões e culturas é possível encontrar mitos repletos de metáforas
que narram de modo sagrado as origens de algum povo. As narrativas que dão conta da "origem
dos deuses, seus amores e acasalamentos, suas guerras, seus atos de heroísmo e suas criações"
podem ser classificadas em:
1) mitos cosmogônicos – narrativas que relatam a criação do mundo;
2) mitos teogônicos – narrativas acerca da origem de alguma divindade;
3) mitos antropogônicos – narrativas que relatam a origem da humanidade;
4) mitos escatológicos – narrativas acerca do fim do mundo (LEFTEL, 1997, p. 25).
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
MITOS RITOS
TEOLOGIA PRÁTICAS
DISCURSOS
ATUAÇÃO
TEXTO
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De um lado, os mitos têm origem na linguagem falada, portanto, na oralidade; são trans-
mitidos de geração em geração; possuem várias versões, constituem discursos repletos de senti-
dos e possuem teologia. Do outro lado, os mitos sobrevivem a despeito do transcorrer da histó-
ria porque são sempre atuais e geram práticas, algumas delas ligadas à sua ritualização, que tem
por intenção principal a dramatização e a atualização de seus sentidos para o sujeito religioso.
Para ilustrar esse ponto, vejamos o caso da literatura bíblica. Os textos bíblicos possuem
verdades espirituais que foram preservadas em função da transmissão de suas narrativas sagra-
das, a despeito da temporalidade e dos diferentes lugares onde essas tradições aportaram. Isto
ocorre porque existem duas formas de se interpretar textos sagrados:
• denotativa;
• conotativa.
No primeiro caso, a interpretação se aproxima da história e depende de sua compreensão
que tange aos aspectos sociais, políticos e culturais – para extrair os prováveis sentidos. No se-
gundo caso, a interpretação visa à compreender o sentido que esta ou aquela narrativa tem para
o sujeito religioso em sua experiência espiritual interior.
20 © Textos Sagrados
Exemplo de sabedoria que surgia criativamente no cotidiano e de forma oral, sem com-
promisso com documentação ou cientificidade, mas com o conhecimento que se adquiria na
vivência cotidiana é o cordel. O desenvolvimento do cordel no Brasil, que teve a oralidade como
precursora da escrita, foi lenta e nem sempre estruturada. Havia cordéis longos, outros dema-
siadamente curtos. A deixa do último verso é que dava a oportunidade para o repentista:
Meu avô tinha um ditado
meu pai dizia também:
não tenho medo do homem
nem do ronco que ele tem
um besouro também ronca
vou olhar não é ninguém.
Hoje, também na forma de literatura, o cordel remete a uma oralidade repleta de criativi-
dade, mas também de realidade. Muitos cordéis falam a respeito da política e tecem profundas
críticas que são disparadas nas ruas e nas praças públicas. Isto nos mostra que mais do que um
texto cômico, o gênero do cordel também pode ser político e de denúncia.
A experiência de ouvir um cordel nos transporta ao horizonte cultural do qual ele foi origi-
nado. Os versos do cordel evocam as imagens do chapéu de couro, do homem sertanejo esguio
e cansado e do próprio sertão.
Portanto, essas imagens formam um conjunto simbólico e cultural que é patrimônio do
povo brasileiro. Desse modo, tradição oral do cordel nos une. Seja em São Paulo, em Belo Hori-
zonte, no Amazonas ou no Paraná, ouvir um cordel nos faz lembrar de uma região brasileira, de
um pedaço de chão que faz parte do Brasil. Tal lembrança é fundamental para o sentimento de
pertença, para a construção da noção de identidade brasileira.
Mesmo que não sejamos das regiões norte ou nordeste ou que nunca tenhamos experi-
mentado a angústia e a miséria dos tempos de seca, ouvir um cordel nos instiga à sensação de
solidariedade, de que temos traços em comum com essa gente e que, portanto, somos um povo.
José Pacheco da Rocha (1890-1954) no poema "A chegada de Lampião no inferno" sinaliza
outra imagem típica do horizonte cultural brasileiro:
Vamos tratar da chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu.
- Quem é você, Cavalheiro
- Moleque, sou cangaceiro
Lampião lhe respondeu.
Não senhor - Satanás, disse
vá dizer que vá embora
22 © Textos Sagrados
A Festa do Rosário realizada nas Minas Gerais é exemplo disso, uma antiga tradição religio-
sa católica que reúne elementos da cultura portuguesa e, principalmente, da cultura africana,
em solo brasileiro. Era chamada "Festa dos negros", mas, gradualmente, a participação branca
foi sendo incorporada. Ela existe desde o período do trabalho escravo, no tempo da mineração
de ouro, quando surgiram as Irmandades da Nossa Senhora do Rosário dos Negros.
Quando da realização dessa festa, acontece um grande encontro de nações, os reinados:
Congo, Candombe, Moçambique, Cabloco e outras. Antes, porém, a corte real é precedida pelos
cortejos e embaixadas que saem pelas ruas da cidade com suas danças, indumentárias e músi-
cas especiais.
Existem momentos de destaque na festa, como a passagens das bandeiras de cada reina-
do de N. Senhora, o levantamento dos mastros do divino Espírito Santo, as procissões, a hora da
comida abençoada por Santo Benedito e o momento em que as guardas narram suas histórias e
memórias com cantos e danças.
A devoção ao Rosário de Maria teve início no século 12. A divulgação foi realizada por São
Domingos, fundador da Ordem dos Dominicanos. Em 1409, em Düsseldorf (Alemanha), foi funda-
da a primeira Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. Em 1481, já contava com 100.000 mem-
bros e em breve se espalharia por toda Europa e África, graças às ações dos missionários domini-
canos portugueses. Em conjunto com os escravos, a Irmandade do Rosário chegou ao Brasil.
A festa de Nossa Senhora do Rosário foi instituída em 1571 pelo Papa Pio V, com o intuito
de comemorar a vitória da Batalha de Lepanto contra os Turcos Otomanos. Tratava-se de uma
batalha travada contra os muçulmanos (os mouros). Inicialmente, a festa foi chamada de Santa
Maria da Vitória e somente em 1716, o Papa Clemente XI oficializou a festa com o título Nossa
Senhora do Rosário, no dia 7 de outubro.
Em conseqüência dessa institucionalização, exemplo de tradição inventada, o Rosário se
tornou espécie de "arma misteriosa" usada em defesa ou para libertação dos cristãos nas guer-
ras e nos conflitos.
A devoção ao Rosário se deu em função da libertação de 20.000 escravos cristãos, que es-
tavam sob jugo muçulmano. Essa história deu origem à tradição que fez com que Nossa Senhora
do Rosário se tornasse protetora dos escravos: a Nossa Senhora dos Negros.
Essa tradição transmitida por meio da oralidade e dos ritos está viva na região das Minas
Gerais. Anualmente, muitos lugares como Belo Horizonte (Pampulha Velha), Ouro Preto, Sabará
e outros têm seus festejos em homenagem à N. S. do Rosário.
Nessas ocasiões de festa, os reinados vêm com sua corte, com estandartes e bandeiras
enfeitadas que representam os reinos. Os cortejos têm a presença de exércitos (as guardas) com
suas roupas festivas, os caixeiros que dão o toque da marcha em instrumentos de percussão,
príncipes, vassalos e capitães.
Um dos momentos mais aguardados é a hora da refeição. Momento abençoado por São
Benedito em que se forma uma belíssima mesa composta pelas comidas, segundo a tradição,
preferidas pelo santo: pães, broas, roscas, frutas, doces em calda e café.
O andor desse santo é todo enfeitado com doce e a procissão desfila sobre tapetes dese-
nhados na rua. Quando do momento da refeição, as comunidades festeiras se aproximam com
reverência e cantam para comer e para beber da comida preparada na senzala de São Benedito,
a cozinha do santo. Após a refeição, respeitosa e alegremente os reinadeiros cantam, ao som
dos tambores:
24 © Textos Sagrados
Já comeu, já bebeu
Eu agora vou me embora
São Benedito que abençoa
Junto com a Nossa Senhora
Viva o pão que Deus de deu
Viva o pão que Deus de deu
Nossa Senhora desceu do céu
Abençoando o pão de Deus
4. TRADIÇÕES ORAIS
Agora poderemos nos deter em algumas tradições orais das religiões. Para tanto, desen-
volveremos nosso estudo partindo de realidades conhecidas dos círculos religiosos brasileiros.
Vamos verificar como alguns grupos e religiões têm desenvolvido sua experiência com o Sa-
grado com base na memória e de tradições antigas que são atualizadas por meio de rituais, de
cantos, de danças e de narrativas antigas.
A despeito do que cientistas, teólogos e pesquisadores modernos disseram, embasados no
ideal da razão iluminista, de que a racionalidade e a secularização testemunhariam o declínio das
religiões, mesmo com o enfraquecimento das instituições religiosas, a orientação espiritual e a ex-
periência religiosa permanecem fundantes e paradigmáticas para o cotidiano de muitos sujeitos.
Nisto, reconhecemos que assim como as tradições escritas forjam uma rede de sentidos
que fornecem diretrizes e unidade aos grupos, também as tradições orais atuam como impor-
tantes marcadores de identidade e de coesão. Em torno dessas tradições, as comunidades mo-
bilizam recursos físicos e financeiros, pois elas representam o sentido da existência de cada um
desses fiéis, praticantes e devotos.
Desse modo, tradições orais se tornam escritas na medida em que as sociedades, as co-
munidades e, em geral, os grupos sociais, sentem a necessidade de fixar suas tradições mais
peculiares a fim de que não sejam esquecidas. Essa também é uma forma de protegê-las da
dinâmica da linguagem, de prováveis acréscimos ou omissões.
Este processo é comum a várias culturas e na atualidade podemos destacar religiões cujas
tradições ainda são predominantemente orais. Esse é o caso das religiões de tradição africana,
como o candomblé.
No candomblé, os orixás são como divindades protetoras que nasceram de uma origem
primordial. Os orixás vivem na natureza e se manifestam por meio dela. Eles têm influência no
destino da humanidade e podem executar muitas ações.
Essas entidades têm histórias e narrativas míticas que os praticantes dessa religião conhe-
cem e transmitem de geração em geração. Mas, diferente de católicos, de protestantes, de ju-
deus e de mulçumanos, aqueles que seguem as tradições religiosas do candomblé não têm uma
tradição escrita. Eles são guiados pelas experiências que têm junto aos seus orixás e mediadas
pelos seus sacerdotes, os babalorixás.
Na tradição religiosa do candomblé, todo o universo foi criado em 4 dias e o responsável
pela criação foi Olodumaré, intitulado "o Todo em Tudo", "o Algo do Nada".
Para pesquisadores de religião, essa tradição é considerada mítica assim como o Gênesis
judaico-cristão que descreve Yahweh, Deus dos judeus e dos cristãos, criando todo o universo
em 7 dias.
Embora recentemente, entre outros, o pesquisador da USP Reginaldo Prandi, tenha reuni-
do vários mitos sobre os orixás em seu livro "Mitologia dos Orixás", os praticantes do candomblé
freqüentemente atestam que é típico de sua religião a oralidade, a dinâmica e a criatividade;
características típicas dos seus orixás e que não podem ser contidas por meio da escrita. Neste
sentido, a linguagem escrita é considerada recurso limitado para o registro de toda complexida-
de religiosa e simbólica da religião.
Essa é uma discussão especialmente interessante na medida em que aponta uma fragili-
dade da escrita: a linguagem escrita não é capaz de abarcar a dinâmica, a fluidez e a criativida-
de da linguagem simbólica, repleta de imagens, de símbolos e de metáforas, possibilitada pela
oralidade.
Do mesmo modo, em todo o Brasil as tradições indígenas têm sido transmitidas de gera-
ção em geração. Uma rica mitologia composta por mitos de origem da humanidade, do mundo,
da divisão dos sexos etc. Mitos que ilustram a experiência desses povos com a própria vida e que
explicam suas formas características de ser e de estar no mundo em sociedade.
Tais tradições são predominantemente orais e, embora também tenham sido registradas
por alguns antropólogos brasileiros, esses mitos são mantidos pelos próprios indígenas exclusi-
vamente por meio de seus ensinamentos e de seus rituais. E isto acontece porque, assim como
na maioria das sociedades, os rituais são formas de se revitalizar a história, a memória e a tra-
dição de um povo.
O ritual, portanto, serve à oralidade e à teologia de cada tradição e também coopera para
o processo de manutenção e de preservação das memórias ancestrais e da história de cada povo.
Essas virtudes e defeitos, esses modos de ser, são constantemente referidos aos mitos e
lendas dos orixás, quer aprendidos por tradição oral, quer aprendidos por meio de publicações
etnográficas e religiosas. O importante aqui é que o orixá tem muito de humano. Ao contrário
da hagiografia católica (o santo é sempre virtuoso e, se teve defeitos, os renegou no ato do arre-
pendimento), a tradição oral e escrita do candomblé enfatiza, como constitutivo do orixá, tudo
aquilo que dele fez um herói, um deus, um poderoso — não importa o quê (PRANDI, 1991). (i)
Assim como nas tradições judaico-cristãs sobre as origens do mundo e da humanidade
(que variam entre o Gênesis hebraico e os escritos gnósticos, por exemplo) e como nos mitos
gregos que atribuem a criação do universo a Zeus e seu Olimpo, existem versões sobre a criação
do mundo (que variam entre bantus e iorubás, por exemplo) que atribuem esse grande feito à
vontade de Olodumare, o Todo em Tudo, a Natureza, o Algo do Nada, que criou o Universo em
quatro dias.
Conforme se narra em uma das versões Bantu, em cada dia Olodumare criou quatro Odus,
num total de dezesseis Odus principais. Assim, existem dezesseis kàdárà que correspondem às
predestinações possíveis e que se desdobram entre si, somando um total de 256 Odus. Confor-
me se conta, cada Odu aponta um caminho, uma espécie de partida com respectivo término.
Esses Odus são responsáveis por influenciar a conduta de todos os que têm vida e fôlego
sobre a terra. Os dezesseis Odus principais indicam os pontos de adoração do Universo que cor-
respondem aos pontos cardeais, colaterais e sub-colaterais. A história de criação do mundo fica
por conta de Itan Dídá Àiyé e a criação de todo o universo coube a Ofun Meji.
Depois dos primeiros movimentos de criação do universo, Ofun Meji gerou os demais Odus.
Oyeku Meji, o primogênito, foi chamado assim, pois no princípio havia somente trevas. No mes-
mo dia, nasceu Ejiogbe. Depois de ter conhecido Oyeku Meji, Ofun Meji o criador do universo
entregou-lhe um cetro com o qual ele poderia abrir o "Portal da luz" que prontamente iluminaria
todas as direções do universo. Então, Ofun Meji recomendou a Oyeku Meji abstinência ao emu.
Certa feita, Oyeku Meji voltava de suas tarefas quando se perdeu do irmão e se embriagou com emu,
contrariando a determinação de seu pai. Ejiogbe, ao sentir a ausência de seu irmão, voltou pelo ca-
minho que havia percorrido e deparou-se com seu irmão adormecido e completamente entregue a
embriaguês. Ele tentou acordar Oyeku Meji, mas suas tentativas foram infrutíferas. Então, tomou o
cetro e retornou ao Orun (céu) onde seu pai os esperava. Ao chegar, Ofun Meji perguntou: Onde está
teu irmão, o guardião do cetro que conduzes? E Ejiogbe respondeu: Ele bebeu muito emu e adormeceu.
Tentei acordá-lo, mas não consegui. Como já era hora de voltar, resolvi trazer o cetro real.
Então, Ofun Meji perguntou novamente: Tu não bebeste? Ao que seu filho disse: Não! Sabes que não
desobedeço tuas ordens, meu pai. Decidido, Ofun Meji disse: Se é assim, eu confiarei a ti a guarda do
cetro real. Tu substituirás Oyeku Meji, teu irmão, a partir desse instante.
Quando Oyeku Meji se recuperou da bebedeira e sentiu a falta do cetro real, retornou desnorteado ao
Orun. Ao cruzar os umbrais do Orun, seu pai lhe repreendeu: Meu filho, por que me desobedeceste? E
ele disse: Não resisti ao profundo desejo emu. Para piorar, não sei onde deixei o vosso cetro e nem onde
está meu irmão. Ofun Meji, então, disse: Felizmente os dois não estão perdidos. Teu irmão guardou o
cetro real e o trouxe para mim. Por causa desse seu comportamento, de hoje em diante estarás subor-
dinado a teu irmão mais novo.
Desde, então, Ejiogbe passou a ocupar o primeiro lugar e Oyeku Meji seguiu submissa e fielmente a
Ejiogbe, que com piedade suplicou ao pai: Oyeku Meji é meu irmão mais velho, e face a sua fraqueza e
desobediência tornou-se meu servo, o que me entristece. Seria possível dar a ele a guarda das noites
e das trevas, uma vez que confiaste a mim os dias e a luz? Por causa da súplica de seu filho mais novo,
Ofun Meji confiou a Oyeku Meji a vigília da noite, das trevas, do sono e da insônia. Enfim, a guarda de
tudo que ocorre à noite, seja na terra, no ar ou nas águas.
Novamente, Ofun Meji chamou Ejiogbe e o encarregou de propagar a luz aos mais longínquos recantos
do Universo. E assim fez-se as estrelas. A ele foi dado como auxiliar Èsù (Exu), aquele que percorre os
quatro cantos do mundo com seu ogó. Com as determinações cumpridas a contento, o sol ficou no mais
alto céu a reinar sobre os dias. A lua foi colocada como rainha sobre as noites e as estrelas passaram a
brilhar nas madrugadas (ORIXÁS, 2007).
28 © Textos Sagrados
Entre os Bantus e os Iorubás existem muitas versões sobre a criação do cosmos. Mas to-
das elas guardam elementos semelhantes quanto à estrutura, conteúdos específicos e teologia.
De modo geral, as tradições indicam a existência de uma divindade soberana por meio da qual,
outras divindades menores teriam surgido. Os Orixás (ou Odus) correspondem a forças que em
equilíbrio servem à condução dos destinos humanos. Em uma versão iorubá, podemos identifi-
car elementos muito parecidos com a narrativa bantu. Vejamos:
No princípio dos tempos existiam dois mundos: o Orum1, espaço sagrado dos orixás, e o Aiyê2, espaço
dos seres vivos. Os orixás são as divindades do candomblé, representantes das forças da natureza, que
têm ligação direta com os elementos água, fogo, terra e ar, e tudo o que está contido neles.
No Aiyê, então, só existia água. Foi quando Olodumaré, Deus supremo dos iorubás, resolveu recriar o
espaço para a humanidade. Para essa tarefa incumbiu seu filho primogênito, Orinxalá (o nome mais
sagrado de Oxalá). Entregou-lhe um saco (apo iuá) contendo ingredientes especiais: a terra inicial, a
galinha de cinco dedos, uma pomba e um camaleão.
A terra deveria ser lançada sobre a imensidão das águas. A galinha de cinco dedos deveria ir ciscando
até a terra para alargá-la o mais que pudesse. A pomba, ao voar, orientaria a extensão da terra expan-
dida. E o camaleão, atento à tudo, observaria a execução da tarefa atribuída a Orixanilá, para reportar
os fatos à Olodumaré.
Assim, com seu cajado (opasorô) e o saco da criação (apo iuá), Orixanilá iniciou sua caminhada do Orum
para o Aiyê: o planeta Terra habitado pelos seres vivos. Entretanto, no meio do caminho, sentiu-se
cansado e com sede. Parou para descansar e bebeu um pouco de emu (vinho da palmeira do dendezei-
ro). A interrupção de sua jornada, por outro lado, era a oportunidade que seu irmão caçula, Odudua,
precisava para competir perante os olhos de seu pai Olodumaré, nessa tarefa de grande importância.
Então, enquanto Orixanilá dormia, Odudua pediu a seu pai que ele cumprisse tal tarefa, o que foi per-
mitido. Olodumaré, por sua vez, lhe disse com autoridade: "Assuma a missão de criar a terra dos seres
vivos", o que foi feito prontamente. Depois da galinha ciscar a terra, a pomba orientar a sua expansão e
o camaleão verificar se a tarefa foi cumprida, no terceiro dia Odudua criou a terra firme, que passou a
chamar-se Ilê Ifé (que no idioma iorubá significa "terra que foi sendo ciscada").
Criou ainda, do barro e da água, bonecos inanimados de todas as formas e de todas as cores esculpidas
por suas mãos. Orixanilá mostrou-se, perante o pai, arrependido do seu ato de irresponsabilidade. E
para que não se sentisse tão humilhado, Olodumaré resolveu, em um supremo ato de inspiração, dar
a Orixanilá outra tarefa de tanta importância quanto a primeira, e ainda mais nobre: a de conceber a
vida nos bonecos inanimados. E assim ele soprou nas narinas do boneco de barro, criando os seres
humanos.
Esse sopro da vida é chamado pelos iorubás de emi. Assim, Odudua é o criador de Ilê Ifé, primeira cida-
de do mundo para os iorubás. E Orixanilá é o concessor da vida, aquele que dela dispõe, por ter criado
os seres humanos. (Texto revisado e extraído de: <http://www.tabadeoxossi.net/Criacao.html>. Acesso
em 09 de agosto de 2007).
Observe que Prandi (1991) destaca que essa oralidade pode ser substituída pelas etno-
grafias realizadas pelos pesquisadores do Candomblé e que esse movimento já estaria em an-
damento principalmente na Bahia e em São Paulo. Isso, contudo, não afetaria uma importante
marca do Candomblé de origem iorubá, a memorização.
Neste sentido, o mesmo pesquisador teve que se valer dessa oralidade que não é fixa e
pura, como gostariam alguns, para realizar sua pesquisa:
Entretanto, o que apresento neste trabalho pode ter, e com certeza tem, falhas, incorreções; e impre-
cisões, sobretudo. Mesmo porque, só encontrei um pai-de-santo com registro documental pormeno-
rizado de sua vida como babalorixá, Pai Alvinho do Omulu, que hoje mora e tem terreiro no subúrbio
do Rio de Janeiro, onde o entrevistei, e que foi, como veremos, um dos fundadores do candomblé de
São Paulo. Tive que me valer, portanto, da memória oral do povo-de-santo. Memória muitas vezes já
reelaborada; o que é de se esperar quando se estuda uma religião cujo corpo narrativo é constituído
sobretudo de mitos, as lendas dos orixás (PRANDI, 1991, p. 92).
A sociedade Marúbo se situa no Amazonas, na bacia do Javari. Em 2000, a tribo era for-
mada por 1.043 habitantes. A língua desse povo é da família Pano. Pesquisadores sugerem que
esse povo pode ter sido originado de outras sociedades indígenas submetidas aos desmandos
de seringueiros no período áureo da borracha que se agruparam dando origem aos Marúbo.
É pela mitologia que os Marúbo descrevem o Universo e contam como se formou. De um
modo geral, os seres são sempre feitos de partes de outros seres, a começar pela superfície
terrestre, composta de partes moles dos corpos de animais mortos, enrijecidas pelos seus os-
sos. Também a água dos rios e os seus peixes são feitos partindo de outros seres, bem como os
vegetais da floresta.
Do mesmo modo surgiram as plantas cultivadas, segundo um dos três diferentes mitos
que contam sua origem. O Universo se compõe de várias camadas, as superiores chamadas céus
e as inferiores, terras. É na terra que está acima das demais, a da Névoa, que vivem os seres
humanos.
Os humanos têm várias almas, que, entretanto, podem resumir-se a duas: a da direita ou
do coração e a da esquerda. Após a morte, a última fica vagando por esta camada, mas a outra
é encaminhada para o Caminho da Névoa (Vei Vai), que percorre, passando por muitas provas
ou perigos, aos quais não pode sucumbir, sob pena de aí ficar para sempre, até chegar ao lugar
onde vivem as almas de membros de sua seção. Aí tem sua pele trocada por Roka (macaco pa-
rauacu), e passa a uma vida farta, saudável e feliz. O termo que designa o céu onde se faz essa
troca é o mesmo aplicado ao parente a quem se dá o nome: shokó.
Os Marúbo surgiram do chão, cada seção de um buraco diferente, estimulada por algo
que acontecia na superfície: queda de folhas, penas, pingos de seiva. Isso aconteceu junto ao
estuário mitológico aonde vão ter as águas dos rios que conhecem. Daí foram subindo ao lado
do rio, até chegarem à região onde hoje vivem.
Ao longo desse percurso foram aprendendo sua cultura: qual a pupunha comestível, qual
a secreção de perereca mais apropriada para eliminar a preguiça e o panema, como ter relações
sexuais, a proibição do incesto, os termos de parentesco, a maneira adulta de chorar, as plantas
cultiváveis, os cânticos de cura, os nomes pessoais.
No início os vivos podiam ir e vir por um caminho chamado Yové Vai até o Shoko Nai.
Porém, uma mulher maltratada pelo marido conseguiu de certos espíritos o fechamento desse
caminho e a abertura do Vei Vai. Isso acabou separando definitivamente os humanos comuns
dos espíritos yové (MELATTI, 1998).
Essa rica mitologia dos Kharô e dos Marúbo é que fornece os significados necessários às
tribos para construção da noção de identidade, para a organização de suas casas, para a forma-
ção dos clãs, para a divisão do trabalho e para a explicação existencial quanto as suas origens.
Tais tradições orais foram compiladas por alguns antropólogos, em caráter de registro, de pes-
quisa e de preservação da memória desses povos.
Há também registros de mitos elaborados pelos próprios indígenas com o apoio de depar-
tamentos de antropologia de universidades. Contudo, esses registros não têm status de sagra-
dos e os povos não lhe atribuem significado de "Escritura Sagrada", a transmissão de se efetua
na relação cotidiana, dos mais velhos para os mais novos e essa realidade se verifica em muitas
outras tribos espalhadas pelo território brasileiro.
ATENÇÃO!
Para uma melhor compreensão deste assunto, leia também:
a) EDUSP e IAMÁ, 1993; Moqueca de Maridos. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos [Record], 1997;
b) Terra Grávida. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos [Record], 1999;
c) LÉVI-STRAUSS. Mitológicas. Volumes 1, 2 e 3. São Paulo: Cosac & Naif (1964, 1967 e 1986);
d) Roberto Cardoso de Oliveira, Roque Laraia, Roberto DaMatta e Julio Cezar Melatti. Mito.
ATENÇÃO!
Confira algumas obras que apresentam coleções de mitos de indígenas brasileiros são:
a) Estórias e Lendas dos Índios, com introdução de Herbert Baldus e ilustrações de J. Lanzellotti. (São
Paulo: Literart, 1960);
b) SILVA, Alberto da Costa (Org.). Lendas do Índio Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002;
c) Villas Boas, Orlando e Claudio. Xingu. Os Índios, Seus Mitos. Rio de Janeiro: Zahar, 1970;
d) Mindlin, Betty. Tuparis e Tarupás. São Paulo: Brasiliense, EDUSP e IAMÁ, 1993;
e) Moqueca de maridos. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos [Record], 1997;
d) Terra grávida. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos [Record], 1999;
e) Lévi-Strauss. Mitológicas. Volumes 1, 2 e 3. São Paulo: Cosac & Naif (1964, 1967 e 1986);
f) Roberto Cardoso de Oliveira, Roque Laraia, Roberto DaMatta e Julio Cezar Melatti. Mito e lingua-
gem social. Editora Bom Tempo;
g) SCHADEN, Egon. A Mitologia Heróica de Tribos Indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: MEC-Serviço
de Documentação, 1959.
7. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, estudamos alguns exemplos de religiões nas quais as tradições orais são
predominantes e paradigmáticas.
Neste sentido, ficou evidenciado que as religiões pautadas pela oralidade recorrem à me-
mória, às narrativas míticas e aos conhecimentos sedimentados na sabedoria e na experiência
dos grupos, para construir uma rede de tradições e de símbolos, capaz de mobilizar os membros
do grupo e conceder-lhes:
1) Orientação/inspiração religiosa.
2) Parâmetros de conduta ética e social.
3) Sentidos existenciais.
4) Identidade religiosa e social.
5) Sentimento de pertença.
32 © Textos Sagrados
Desta forma, as tradições orais, bem como as tradições escritas mobilizam sujeitos reli-
giosos em torno de si e correspondem positivamente às demandas individuais e do grupo. Tais
tradições formam um horizonte cultural de imagens e de símbolos que coopera para os grupos
que o elaboram por meio do fornecimento de sentidos.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, R. O que é religião? São Paulo: Loyola, 2002.
ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
ANTONIL, A. J. Cultura e opulência do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional, 1967.
BERGER, P. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo: Paulinas, 1985.
CAMPBELL, J. Isto és tu. Redimensionando a metáfora religiosa. Tradução de Edson Bini. São Paulo: Landy, 2002.
______. The Inner Reaches of Outer Space. Metaphor as Myth and as Religion. New York: Alfred van der Marck Editions, 1986.
CANDIDO, A. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 8. ed. São Paulo: T.A. Queiroz Editor, 2000.
CASSIRER, E. Linguagem e mito. São Paulo: Perspectiva, 2000.
DURKHEIM, É. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GEERTZ, C. O saber local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
LE GOFF, J. (Org.). Dicionário Temático do Ocidente Medieval. São Paulo: Edusc/Imprensa Oficial do Estado, 2002. v. 1.
LEFTEL, R. O mito do Oriente Antigo. O mito bíblico. In: Revista de Estudos Orientais 1,. Sine Loco, p. 25-32, 1997.
MALINOWISKI, B. O mito na psicologia primitiva (1926). In: Magia, ciência e religião. Lisboa: Edições 70, 1984.
MENDONÇA, A. G. A experiência religiosa e a institucionalização da religião. In: Estudos Avançados, Sine Loco, n. 18 / 52, p. 29-
46, 2004.
PIRES, F. P. O movimento de reafricanização do candomblé. In: Revista de ciência, educação e arte Don Domenico, Guarujá, n.
3, p. 29-46, 2003.
PRANDI, R. Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: HUCITEC/EDUSP, 1991.
RICOUER, P. The Symbolism of Evil. Tradução de Emerson Buchanan. Boston: Beacon Press, 1969.
9. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
LADEIRA, M. E. Uma aldeia Timbira. In: NOVAES, S. C. Habitações indígenas. São Paulo: Nobel/Edusp, 1983. p.13-31.
MELATTI, J. C. Nominadores e genitores: um aspecto do dualismo Krahó. In: SCHADEN, Egon. Leituras de etnologia brasileira. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. p. 139-148.
RICARDO, B.; RICARDO, F. (Orgs.). Povos Indígenas no Brasil 2001/2005. Instituto Socioambiental/Cedi, 2006.
SEEGER, A.; DA MATTA, R.; VIVEIROS DE CASTRO, E. B. "A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras". In: Boletim
do Museu Nacional, n. 32, p. 2-19, 1979.
10. E-REFERÊNCIAS
ABLC - Academia Brasileira de Literatura de Cordel. História do cordel. Disponível em: <http://www.ablc.com.br/historia/hist_
cordel.htm>. Acesso em: 10 ago. 2007.
ARTE ORIXÁ. Home Page. Disponível em: <http://arteorixa.zip.net/>. Acesso em: 15 ago. 2007.
CAMPBELL, J. O poder do mito. (Entrevista). Disponível em: <http://www.culturabrasil.org/campbell.htm>. Acesso em: 9 ago. 2007.
CANDOMBLÉ. O mundo dos Orixás. Disponível em: <http://candomble.wordpress.com/>. Acesso em: 15 ago. 2007.
CUNHA, M. C. Povos indígenas. Disponível em: http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/polsoc/pindig/apresent/
apresent.htm. Acesso em: 16 ago. 2007.
MEDIARTE. Folclore brasileiro. Disponível em: <http://www.mediarte.com.br/padu/facul/cultura_brasileira/intro.html>. Acesso
em: 8 ago. 2007.
MELATTI, Julio Cezar. Kraô: cosmologia, mitos, ritos e xamãs. Disponível em: http://www.socioambiental.org/pib/epi/kraho/
cosmo.shtm. Acesso em: 8 ago. 2007.
______. Marubo. O cosmos. Disponível em: http://www.socioambiental.org/pib/epi/marubo/cosmos.shtm. Acesso em: 8 de
ago. 2007.
MONOMITO. Um blog sobre mitologia e religião comparada. Disponível em: <http://monomito.wordpress.com/>. Acesso em:
15 ago. 2007.
NIKOLI, Juliana. Céu de congadeiro. Mostrando meu mundo. Disponível em: <http://juliananikoli.multiply.com/photos/
album/9>. Acesso em: 18 ago. 2007.
ORIXÁS. Home page. Disponível em: <http://www.orixas.com.br/index.html>. Acesso em: 10 ago. 2007.
PRANDI, R. Deuses Africanos no Brasil. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/sociologia/prandi/her-axe1.htm>. Acesso em:
9 ago. 2007.
REVISTA MUSEU. Festa do Rosário, Serro, Minas Gerais. Disponível em: <http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.
asp?id=6431>. Acesso em: 15 ago. 2007.
SCHAAN, Denise Pahl. A representação humana na arte marajoara. Disponível em: http://www.marajoara.com/Represent_
Humana_na_Arte_Marajoara.pdf. Acesso em: 8 de ago. 2007.
SILVA, Gonçalo. Vertentes e evolução da literatura de cordel. In: Métricas: como escrever um cordel. Disponível em: http://www.
ablc.com.br/index.htm. Acesso em 10 ago. 2007. (Academia Brasileira de Literatura de Cordel)
UCAR. Home page. Disponível em: <http://www.windows.ucar.edu/tour/link=/mythology/mythology.html>. Acesso em 15 ago.
2007.
WIKIPÉDIA. Hagiografia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hagiografia>. Acesso em: 6 set. 2007.