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SOCHCOHHHOHOHHHHHGHH OH OSH HHHOOHOYVOOOCOSOE EnsiosdeQutun 6 CSP ‘Reior be ne ie aces Comiede Era! vio Fava de Montes Myriam Kraselie ‘Sérpo Mic esta de Bares Plane Matin Fibo Rodrigo cena ‘Sirne Mia Deeb de Bar (se) ‘Onwaldo Pl Fats ‘Tap Gomes Comes TROPICOS DO DiscuRsO ENSAIOS SOBRE A CRITICA DA CULTURA Hayden White fue ‘node xg em igs: Topsy Decsrar Eye nwa Cc ‘rig! Engh ngege en pie by The Joh ‘opin Unies res Coppi © 197 by The Joh Hops sive Pres Pa emit n(D) "Cin cia tie SB ‘ees ET cae: i acne sae ge ge oor Nn Stan Wihei an = enan 1 eg 2 Rn 3 Lan a ‘ei pnp: 1. Ragga 92 Dione igs opine rer ‘Bhp - Eton david de to Paso [av Bt Lacan Oat, Tvs. 34 ane Eh a ft Reon = Cae Unveriii 15508300 Sho ude SP- Bh Pax (1121-58 Taqman sisase ute Ped iar) 1994 Feit odie tite Tec UF - NO" sr S€GA0 DE Rs #0 LAROS nee m#2D10 SUMARIO. 13 39 6s 97 ny QA Interpretagao na Hi 3.0 Texto Hist6rico como Artefato Literério. istoricismo, Hist6ria ¢ a Imaginaglo Figurativa 5. As FicgSes da Representaglo Factual 137 {6.0 Irracional e 0 Problema do Conhecimento Hist6rico no Huminismo 153 7. Ks Formas do Estado Selvagem: Arqueologia de uma Ideia 169 {8.0 Tema do Nobre Selvagem como Fetiche 203 9, Os Trépicos da Hstéria: AEstrutura Profunda de A Cléncla Nova, 219 10. 0 Que Esté Vivo ¢ 0 Que Est Morto na Critica de Croce a Vico... 241 11, Foucault Decodificado: Notas do Subterrinco.. 253 12. 0 Momento Absurdista na Teoria Literéria Contempordinea nn. 285 fr Remissivo.. AGRADECIMENTOS Os ensaios contidos neste volume apareceram ‘guintes publicagdes: “The Burden of History”, History and Theory 5, r.2.(1966) “interpretation in History”, New Literary History, 4 (1972-1973). “The Historical Text as Literary Artifact”, Clio 3,n. 3 (1974). “sfistcricism, History, and the Figurative Imagiration”, History and Theory. Beineft 14, Essays on Historicism 14, n. 4 (1975). “The Fictions of Factual Representation”, em The Literature of Fact, ed, Angus Fletcher (New York, Columbia University Press, 1976). “The Irrational and the Problem of Historical Knowledge in the Enlightenment”, em Studies in Eighteenth-Century Culture, vol. 2, Irratio. nalism in the Eighteenth Century, ed. Harold E. Pagliaro (Cleveland, Case ‘Wester Reserve University Press, 1972). “The Forms of Wildness: Atchaeology of an Idec”, em The Wild Man Within: An image in Western Thought from the Renaissance to Romanticism, ed, Edward Dudley © Maximilian B. Novak (Pittsturgh, University of Pittsburgh Press, 1972). “The Noble Savage Theme as Fetish", em First Images of America: ‘The Impact of the New World on the Old, ed. Fredi Chiappelli (Berkeley & Los Angeles, University of California Press, 1976) “The Tropics of History: The Deep Structure ofthe New Science”, em. Giambattisia Vico's Science of Humanity, ed. Giorgio Tagliacozz0 e Donald SPOCHOHOSHOHSHSHOHHHHHHHHHHHOHHHHOHOHO®E 8 ‘aGmcos po DscuRsO Phillip Verene (Baltimore ¢ London, The Johns Hopkins University Press, 1976). “What Is Living and What Is Dead in Croce’s Cri -0", em Giambattista Vico: An International Symposium, ed. Giorgio Tagliacozzo e Hayden V. White (Baltimore, The Johns Hopkins University Press, 1969). “Foucault Decoded: Notes from Underground”, History and Theory 12, n. 1 (1973), “The Absurdist Moment in Contemporary Literary Theory", Contem- porary Literature 7, n.3 (1976). Sou grato aos editores por permitirem reproduzir esses ensaios nessa forma, Gostaria também de aproveitar a oportunidade para reconhecer nesta digo a minha divida de gratidéo para com os amigos e coleges que foram responsdveis ~ quer o admitam, quer ndo ~ pelos rumos do meu trabalho na ‘hima década: Loren Baritz, Lewis Beck, Marvin Becker, Norman O. Brown, Harry Harootunian, Jim Kaufmann, Sid Monas, Richard Lewontin ¢ Perez Zagorin, antigos colegas da University of Rochester; Stan Fish, Angus Fletcher, Lionel Gossman, Geoffrey Hartmann, Fred Jameson e Edward Said, cujas obras foram constantes desafios para mim e sempre instrutivas; e, por fim, Richard Vann, Louis Mink e George Nadel, editores de History and Theory, que me estimularam, tolerante mas energicamente, a dar continuida- de a0 tipo de trabalho que esses ensaios representam. Sua engenhosidade, perspicdcia, conhecimento e argicia editorial nfo encontram par, a0 que me Consta, na drea da publicagdo de livros académicos, exceto, talvez, Jack Goellner e The Johns Hopkins University Press, que s80 Unicos e originais por si mesmos. Finalmente, a ret6rica do agradecimento é insuficiente para expressar ‘a minha gratidio para com a minha mulher e amiga, Margaret Brose White. “Dio, quanto aventurosa fue la mia disianzal INTRODUCAO ATROPOLOGIA, 0 DISCURSO E0SMODOS DA CONSCIENCIA HUMANA Quando procuramos explicar t6picos probleméticos como natureza ‘humana, cultura, sociecade e historia, nunca dizemos com preciso o que ‘queremos dizer, nem expressamos 0 sentido exato do que dizemos. Nosso ‘discurso sempre tende & escapar dos nossos dados ¢ voltar-se para as estru- “tras de consciéneia com que estamos tentando apreende-Ios; ou, o que ds rho mesmo, os dados sempre obstam a coerEncia da imagem que estamos tetando formar eles! demas, em tpn como exes, sempre exten razbes legitimas para diferengas de opinio quanto 20 que eles $80, a0 modo como se deveria falar deles © aos ripos de conhecimento que deles ppodemos ter. ; “Todo discurso genuino leva em conta estas diferencas de opinio na formulagio de davida quanto & sua propria autoridade que cle sistematica- mente exibe em sua prépria superficie. Isto ocorre particularmente quanda se trata de demarcar paca andlise preliminar o que parece ser uma nova Sree da experigncia humana, de definir os seus contornos, de identifcar os ele smentos contides em sev campo e discernir os tipos de relagio que predomi 1, Adiga cae dcr ris cs ma enim nits, oo teen AR age enamel dr odes eta ei ¢ pestis does el vst dr ogists spine co siglieaon ign coe fl ot ees Siti ape incr ta ve: Pee meson Te Pro of aneee (inal Acero Ss aa son Formato cen, 1972), Cop aan Cae i re tn Lng snd he ty of ours 1), Pe “Rite Monten Sacro nd Smee Ls ge) 7c. “ ‘rOmcos D0 scURSO ‘nam entre eles. B aqui que 0 préprio discurso deve estabelecer a adequagio da linguegem wtlizada na andlise do campo, aos objetos que o parecem ocu- par. Eo discurso efetua esta adequagio por meio de um movimento présfi- {gurativo mais tépico que I6gico. ‘Os ensaios que compéem esta coletinea se ocupam de um modo ou de outro do elemento trépico contido em todo discurso, seja do tipo realista seja do tipo mais imaginativo. Acredito que este elemerto no possa ser expungido do discurso das ciéneias humanas, por mais ealistas que aspirem. a ser Trdpico 6 a sombra da qual todo discursorealista tenia fugi, Entretan- to, esta fuga ¢ intl, pois teépico é o processo pelo qual todo discurso cons- titai 0s objetos que ele apenas pretende descrever realisticamente e analisar objetivanente. Como 0s tropes funcionam nos dicursos das cigncias huma- nas 60 tema destes ensios,e € por isso que Ihes dei o titulo que de A palavra trépico, de tropo, deriva de tropikos, topos, que no grego clissico significa "mudanga de diteglo", “desvio", © na éoind “modo” ou "Tngeessa nas nguas indo-européias moderns por meio de 1r0- ‘pus, que em latim clissico significava “metéfora” ou “figura de linguagem”, no latin tardio, em especial quando aplicada& teria da misica, “tom” ou ‘compasso”. Todos esses sentidos, sedimentados na palavra trope, do inglés antigo, excerram a forga do conceto expresso no inglés mederno pelo term syle, um conceit particularmente apropriado para 0 exame daquela forma de composigio verbal que a fim de diferenct-l, de um lad, da demonstra Go loca , de outro, da pura fcgla, chamamos pelo nome de diseurzo. Para ret6rieos, gramiticos ¢ te6ricos da linguagem, cs tropos so des- vias do uso literal, convencional ou “préprio” da linguager, guinadas na lo- ‘eugdo que ndo sio sancionadas pelo costume ou pela l6gice”. Os tropos ge~ ram figuras de linguagem ou de pensamento mediante a variagdo do que “normalmente” se espera deles e por via das associngSes que estabelecem entre conceitos que habitualmente se supSem estarem ou nko relacionados de maneiras diferentes da sugerida no topo utlizado. Ss, como aventou Harold Bloom, um tropo pode sero equivalent lingUistico de um mecanis- mo psicolégico de defesa (uma defesa contra o sentido literal do diseurso, ddo mesmo modo que o recalque a regressf0, a projec et. constituem de- 2 Aga soe os peta gods quan ibopefia sobre er eevee srt ams renin, mar em st po ele sl Se mcs er “mo han cleo. Pr exes eis Go stn du queso. et “Recherches hte immune (big Ele rag der Haves ise Care Ee et Camilo {i Mae) 6 (970; "Ponibes de tie’, Livre 18 (ma 1975 “Ratogve et ermnegue,Pctgne 2 (1979), xe atc dr woe, gd eran es {tendo ede Hench Lantrg, Hemet der erather cor (Meten, 96) 1. Dbl ‘alc Rhorigue nr as, 1970 « Chim Perlman Oley, The Now Bt ‘rae fret bn Wine Pus Weaver (Noe Dunes Lando, 1969, Deve: 3, Maal Bom ap of ive (Men Vek, 1973-9. 1 nroougho 6 fesas conta a percepgo da morte na pique), ele € sempre no apenas um favo de um toni posel pepo, mas tanbm um desvio em drepdo “Suto sentido, uma concepgo ou eal do qu 6 coetoe pro "ear “em lia Asin connie, mpeg Boe § 0 camo tempo um movimento que vei de una nga do modo como as coi- ets reionadas para outa nogto, ewe conexS0 ete coisas Je 52s Je gue pousam er express nm ingugem que lev em conta & Posibiiede seem express de outa forma, O dscurso€o gener em wee pedomine eaforg para aqui est dieitodeexpressto, com erenga tral na probubiidade de qu as entas potsam ser express de ouo modo. oempeego de topes pois, alma do disurso, o mecanisme sem o qual 6 diseuse nip pode fae o seu tabalho ou aleanga 0 sou objetivo, Por {ho podemon coneordarcom aasegto de Bloom segundo a ql “Yoda n- ‘etedngsodeponde mais da lao antticn entre significads que da st- pont relegdo seu texto ose sigiiado™. Certments loom ext envolvio com texas poco, cm pri tar coms moderna poesia Ica (omnia e pds-omntice), de modo que Eerie de ques imerretag 6 explcagto da "ego atin en- trspnfceges” mum texto ico € menos chocnt do que o sera qualquer ‘mg sila com flag atoxtos em pasa discursiva , nfo obstate, {stamon ane do fo nave! de i, exo a prose usa mai rm textos qe petendem represent "a cons como elas so sem lo ‘Sow retéics nem imagen poses, sempre hima fake detent. ossivel mosvar que todo testo mimo deixou lguma cosa fora a es- glo do sevabjeto ou he atescentv algo que nfo €esencel Agi que ium leo com maior ou menor atriade,consierard uma dscrigio stequada Nema alse terra € posivel mostar que toda mimese se Sprcenta dafrmada e pode, portant, servir de enseo para uma outa des- Itiao Jo men fenomeno, uma descrgho gue se prtenda mais realist, tnns fe oe fotos ‘Do mesmo mode, a anise pode mostrar que qualquer escrito em rosa de queue fendmeno contem plo menos un movimento ou ani ro na sutra de enunelagdesdesrtvas que wala Um ctnone de oe. Tenia ogee Como pote ser de outa mania, quando o propio modelo de silogisme revel clara eviéncia do emprego de topos? O movimento Que val da premissa maior Todos os homens sto mortals) paraa escola do edo que serve de premissa menor (Sderates 6 um homen)&, em si, um ‘movimento opoléico, uma “guiads” do universal pra opaticular que a Topcn to pode rept, porguano 6» prépialgie qe est endo servidn 4 Hat Bloom A Map Mtn 9.16. SRI te una or ss Mines The Representation of Rey i Wener Lerare de Pith Ketan, en woe Tn New Yok. 1957) gue mela ae mca ma cones a © ce Snide mt gapins prs sprees de Home por este movimento, Todo silogismo aplicado contém um certo elemento centimematica, um elemento que consiste apenas na decisdo de mover-se éo plano das proposigGes universais (elas préprias sinédoques de longo alcan- ce) para 0 das afirmagGes existenciais singulares (que so metonimias de longo alcance). E, se isso € verdadeiro mesmo para o silogismo cléssico, quanto mais nfo o seré para aqueles pseudo-silogismos © cadeias ce silogismos que compéem o discurso em prosa mimético-analftico, ou 0 tigo encontrado ra histéria, na filosofia, na critica literdria e nas eiéncias huma- nas em geral? A téen.ea convencional para julgar da validade dos discursos em pro- sa — como, por exemplo, os tratados politicos de Maquiavel ou de Locke, © tensaio sobre a desigualdade de Rousseau, as hist6rias de Ranke ou as espe- culagées etneldgicas de Freud ~ consiste em examiné-los, primeiro quanto & sua fidelidace a0s fatos do tema que estd sendo analisado e, em seguida, quanto & sua observancia dos critérios de coeréncia I6gica que o silogismo clissico representa, Esta técnica de critica age em visivel oposigio & prética do discurso, quando nio a alguma teoria sobre ele, porque o intuito do dis ccurso € consituir 0 terreno onde se pode decidir 0 que contard como um fato na matéia em consideragio ¢ determinar qual 0 modo de compreensco ‘mais adequado ao entendimento dos fatos assim constitufdos. A etimotog a da palavea aiscurso, derivada do latim discurrere, sugere um movimento “para a frente e para tris” ou um ‘“deslocamento para ef e para Is". Este mo- vimento ~ mostra-nos a pritica discursiva ~ pode ser tio pré-l6gico cu antilégico quanto é dialético. Antildgico, sew objetivo seria desconstruir ‘uma eonceituagto de uma dada dea de experiéncia que se tenha petrificado numa hipéstase que impede percepeio nova ou nega, no interesse ca ormalizagic, o que nossa vontade ou emogies nos dizem que nfo deve ser (© caso num dado eetor ds vide, Pré-I6gico, seu objetivo & demarcar ura ‘rea da experigneia para andlise subseqllente por um pensamento orientado pela Logica, Um diseurso move-se “para cf para Is” ene as codiicagSes recebi- das da expetincia e a congérie de fendmenos que recusa ineorporar-se a ‘nogSes convencionalizadas de “realidade”, “verdade”, ou “possibilidade” ‘Também se move “para a frente e para trs” (como uma langadeira?) entre 0 meios alterativos de codificar essa realidade, dos quais alguns podem ser fornecidos pelas tradig6es do discurso que prevalecem nur dado Smbi- to de investigagdo e outros podem ser idioletos do autor, cuja autoridace este estd procurando estabelecer. O discurso, numa palavra, & quintesses cialmente um empreendimento mediador. Como tal, é a9 mesmo tempo i 6 Avisiga 6 ¥. Hegel Lge a, Win Wo (Oxo 1975), 16-190 pp. 24.25 4 Mer Getey Hon, “The Wie ef he Ste Langage fore the P f Vew of Lert" em Beyond Para New Yo Landn 1970). 3735, sxrvoo0gio ® texpretaivo epré-interpretativo: 6 sempre sobre a natureza da propria fretagdo e sobre o tema que constitu a ocasiBo manifesta de sua prépria tlaborgéo E dito muitas vezes que esta natureza diplice do discurso é dialética. Porém, além de estar caregato de associagSesideolgicas de um tipo espe- tifien, © termo dialético sugere muita vezes um suit transcendental ov go narativ que se coloca ima des interpetagdesconfltantes Ga realida- deve scrve de abit entre clas, Sejasme permitido propor mais um temo pata mostar de que modo coresbo o movimento dinimico de um dscurso Xiattco. Este conceit temo mérito de sugerir um tipo ago diferente de re- Tapio ente 0 iscurso, 0 sea supoat tema as interpetagbes divergentes deste timo. Ele ndo ara que ox discursos sobre arealidade podem ser ‘ausifendos em hipotticos (concetualmente sobredsterminados), de um Indo, eparatsicos (Conceitualmentesubdeterminados) de outro, préprio {iscurso oeupeo plano médio (do pensamentopropriamentesintéico) que todos esto buscando. Ao conriio, 0 discus, se for um discurso genuino sto ti critice de si mesmo quanto & dos outros —desafiaé de modo ra- ical a propria nogio de plano médosinttico. Ele pbe em divida todas as normas“tticas” inclusive ak qe oiginariamente regem a sua propria for- tnagio,Jostameste por ser aportio, ou irbnico, com rspeito a sua prépria dequegio,o discuso nfo pode ser regido unicamente pela Iopica". Por es- tar sempre fogindo ao domo da gic, indagando constantemente sea IS- fica € adequada para canara esséncia do seu tema, o discurso sempre se “ota para areflexvidade metadiscursiva. E por isso que todo discurso sem- re € sobre o proprio discuro e € sobre os abjetos que compéem o seu tema CConsiderado um genero, enti, deve o dscurso ser analisado em tes niveiss mo da dscrigio (mimess) dos “dados" encontrados no eampo da in- westigagdo que esta sendo demarcado ou esignado par anise; no do ar- umento ou narrativa (iegese), que core parlelamente & matéria narrativa tus eauemeia com ela e naquele em que se raliza a combinagio desses dois vei anteriores (ditaxe). As egras que se cristlizam neste sltimo n- ‘el uo discus, ou nivel citi, determinam os posives objetos do ds- urs, os modos pelos quis a descrigio eo argumento se devem combiner, ts faves pelas quais 0 discuso tom de passat no process de aquisigGo do feu direto de conclusio, ea modalidade da metal6gicauilizada par liga 0 fecho do diseurso com os seus gstos de inauguragdo. Encarado dessa ma- nea, um giscurso € em si mesmo vm tipo de modelo dos processos da Conseigncia pelos quais uma dads érea da experiénca, prine/pio apreend da como apenas un eampo de fenémenos que exigem compreensio,é ass Unter Eo, Pen of Smite (Bloningn e London, 1976 7.216288. er nn Pal De Min Bains ond Ig” Eeysinthe Rte of Contemporary Cicin (New Ye, 1910, Beant Gence, “Beanies of Nara" New Literary Maney, 113 Ast 1970 8 ‘adcas 0 scuRSO milada por analogia com aquelas reas da experincia consieradas jd com- preendidas quanto 38 suas naturezas essenciais ‘A-compreensio é um processo de tornar familiar 0 nfo-familiar, ou “estranho”, no sentido freudiano desse termo"’ de remové-to do dominio as coisas consideradas “exoticas"e nfo-clasificadas num ou outro domt- nio da experincia codiicado de modo suficientemente adequado para que seja considerado humanamente cil, nfo-ameacador, ou apenas conhecido por associagdo. Este processo de compreensio 86 pode ser tropolégico na tasncia, pois 0 que eatéenvolvido na converafo do nlo-failisr em farili= ar € uma criagio de tropos que em geral é figurative. Segue-se, a meu ver, due esse processo de compreensio se desenvolve mediante aexploragSo das rincipas modalidades da figuraglo, que # tora retériea pos-renascentsta ef 05 “troposprincipais”(expressfo de Kenneth Burke) Ja metifor, da metonima, da sinédoquee da ironia".Além disso, parece que nesse proces- 0 atua um padtio arquetipico para construirtropologicamente campos da. experiéncia que requerem a compreensio que acompanka a sequéncia de mods indicados como dados pela relacio de topos principa © enredo arquetipico de formagoes discursivas parece exigir que o “eu narrativo do discurso se mova de uma caracterizago metaférica origi nal de um dominio da experiénca, passando por desconstruydes metonimi cas de seus elementos, até as representagbessined6quicas das relagdes entre: seus atibutos superficais e sua supostaesséncia, até, finalmente, uma re= presentagdo de quaisquer contrasts ou oposigdes que possam ser lgitima- mente discernidos nas totalidades idntificadas na terceira fase da represen tagdo discursiva. Em sua andlise da “Iogica poética”, Vio sugeriu um pa- dro de movimentos semelhante que subtende os esforgos da conscigneia. para “eriar” um mundo adequado 3 saisfago das necessidaes experimen- {adas pelos seres humanos, em processos cogntivos pré-racionais",E afic- smavaalém disso que essa diataxe do discurso nto s6 refltia os processos da consciéncia, mas também, de fato, fundamentava e permeava todos os esfor- 08 dos seres humanos para dar sentido ao seu mundo, Segundo parece, Hegel sustentou o mesmo panto de vst, se Ii cortetamente e Marx decer- to 0 fez, como o demonstra minha anlise do seu discurso sobre “As Formas de Valor” no iveo de abertura de O Capital. ‘Consideragées como estas sugerem que o préprio discurso, sendo um produto dos esforgos da conseincia para estbelecer um acerdo com domi ios probleméticas da experiéncia, serve de modelo para as operagbes metal6gicas pelas quais a conscinia, na préxis cultural em geral, efewa 10. Sigmund Feu, “Te Unny”sem 0 Cty ante Unemcns New Yr 1980p. 2-16 I. Mekemet ae Gummo of Maer Seeley os gees, 1889 apts . pp 0337, 12. Gham Vie, Pe New ene ta, Tomar Codd Bergin Max rl Fach les, 168), Hha0dean gp Ten 1, Me Mh The Hil nti Mateo Ee tine, wraooucto » tais acordos com o sex meio, social ou natural, conforme 0 caso. O movi- mento de uma apreensio metaférica de uma realidade “estranha’ adora” para uma dispersio metonimica dos seus elementos nas contig des das séries ndo € Iégico. Nio existe uma regra que nos diga quando est completa a nossa consttuigdo original, metaférica, de um domfnio da expe- ‘inci como possivel objeto de investigaglo e quando devertamos proceder ‘a uma consideragao dos elementos que, construfdos em sua particularidade apenas como partes de um todo até agora nfo-identificado, ocupam o domi ‘em questio. Esta mudanga na modalidade do construtivo, ou, como denominei em Merahistory, na modalidade de pré-figuragio, ¢ essencial- mente metaférica™, Tampouco as outras mudangas nos modos descritivos sho logicamente determinadas (a néo ser que, como sugeri acima, a 16gica tem si seja apenas uma formalizagio de estratégias tr6picas)”. Depois que disseminei os elementos de um dado dominio através de ‘uma série temporal ou campo espacial, posso ficar satisfeito com 0 que pa~ rece ser um ato analitco final, ou posso continuar a “integrar” estes elemen- tos, atribuindo-os a diferentes ordens, classes, géneros, espécies ¢ assim por diante - vale dizer, ordené-los hipotaticamente de tal modo que se possa es- tabelecer o seu status ou de esséncias ou de simples atributos dessas essén- cias. Feito isso, posse entZo ficarsatisfeito com o discernimento desses pa- rdes de integrago, do modo como ficario 0 idealista na filosofia € o organicista nas ciénciss naturais; ou posso “voltat” mais uma vez a conside- rar até que ponto esta operacio taxon6mica deixa de considerar certos tra- {gos dos elementos assim classificados e ~ movimento ainda mais complexo w tentar determinar até que ponto o meu préprio sistema taxondmico € um produto tanto da minha propria necessidade de organizar a realidade desse modo e nio de algum outro modo, quanto da realidade objetiva dos elemen- tos previamente ident ficados, Este quarto movimento ~ que vai de uma caracterizagio sinedquica do campo investigado até uma reflexfo irénica sobre a impropriedade da ca- racterizagéo com resseito aos elementos que se opSem 2 inclusdo na totali- dade hipotaticamente ordenada, ou Aquela auto-reflexividade acerca da na- tureza constrtivista do préprio principio ordenador ~ tampouco é determi- ‘nado pela Idgica. Tas desvios parecem corresponder Aquelas “mudangas iestilticas” ou “reestruturagSes” do campo perceptual que Piaget identifi- ‘cou no desenvolvimeato dos poderes cognitivos da crianga quando passa de sua fase “sensGrio-matora”, através da fase “representacional” e “operaci: nal”, aé alcangar 0 entendimento “racional” da natureza da classificagfo em geral. Na formulagio de Piaget, o que efetuataisreestruturagées (tropol6gi- tas) nio é a l6gica, parém uma combinagdo entre 2s capacidades ontogené- ticas, de um lado, ¢ a3 operagbes que permitem a assimilago do mundo ex- "On Langs Symbolism”, New Literary Mitey 8, 111-134 (Autume 1974) » _aOmcos po pscuEso terior © a acomodagio a esse mundo, de outro". Pois essas reestruturagées ‘fo certamente tropol6gicas, tanto na espontaneidade dos seus inicio suces- sivos quanto nas modalidades de relacionamento entre a crianga e a sua “re alidade”, que os modos de cogniglo identficados pressupGem mesmo na sua caracterizagio por Piaget. ‘Com efeito, os estudos de Piaget sobre 0 desenvolvimento cognitive da crianga nos fornecem uma visio perspicez da relago entre, de um lado, ‘um modo trépico de prefigurar a experifncia e, de outro, o tipo de controle cognitivo que cada modo torna possivel. A serem vélidos os seus conceitos, erivados experimentalmente das fases por que passa a crianga em seu de- senvolvimento cognitivo, a base ontogenétiza da consciéncia figurativa se vé entdo consideravelmente aclarada. Vico, z exemplo de Rousseau, Hegel © Nietzsche, via na “I6gica poética” modos de cognigio no apenas dos poe: tas mas igualmente das criangas e dos povos primitivos”. Contudo, nem Vico nem os outros pensadores mencionados confrontaram esses modos prefigurativos de cogni¢o por oposicio com os modos racionais; pelo con- trério, todos eles consideram os tropos e figuras como o alicerce sobre 0 qual se erigiu o conhecimento racional do mundo, tanto assim que, princi- ppalmente para Vico e Hegel, o conhecimento racional ou cientifico era pou- ‘co mais que a verdade proporcionada pela reflexo nos modos prefigurati- vos algados ao nivel de conceitos abstratos ¢ submetidos & eritica quanto & consistencia ldgica, a coeréncia e assim por diante, Nem mesmo Rousseau ¢ Nietzsche — que opuseram por meio de antiteses os sentidos e a vontade res- pectivamente a razio— estavam interessados em forgar uma escolha entre os 'modos posticos de cognigao e os modos racionais ou cientficos. Ao contré- rio, eles estavam interessados na sua integragio dentro de um conceito da plena capacidade humana de dar um sentido ao mundo e, além disso, um Sentido que nBo fracionasse indevidamente os poderes da poiesis ou da Conquanto ndo gostasse de ser inclufto nessa linha de pensamento, Jean Piaget demonstra 0 mesmo tipo de continuidade entre uma fase inicial, naturalmente “metaférica", no modo de a crianga relacionar-se com o mun- do, ¢ 0 tipo de manipulagéo “irénica” dos mados alternativos de classificar e ‘manipular os fenémenos préprios do adulto *racional”. Na fase mais antiga, sens6rio-motora, diz ele, a crianga vive numa preensio de um mundo de ob- jetos “todos centrados no corpo propriament: dito”, mas sem qualquer “co- ‘ordenagio entre eles” (p. 15). Porém, se lhe falta esta coordenago mitua, eles s20 existencialmente coordenadas na censciéncia infantil como exten- 16 Jean lags, The Chil on Resi Problem of Ge Pcs a, Amol Ravn New Va, 127 esa. Rooney 00 he Opn of Langage Os The niin tangane Ns ayy Jen rer Rates an Johann Gified Hee, Joa Morn e Alesse Ge (ew Yk. 1966) pp. 1-19: Fewih Weck, Geely of Merl rcs Gling New Yr. 1850p. wrxon0io a ses homogéneas do préprio corpo da crianga. Nao podemos, é claro, falar do pensamento da crianga metaforicamente, no modo da similitude; no en- tanto, estamos mais que autorizados 2 falar que a crianga vive a experigncia da similitude, uma experiacia em que est inteiramenteausente a distngto entre 0 ev €0 outro, entre continent econteido. Assim, diz Paget a respi to desse estigio sensério-motor, ue tem a duragHo de um ano e meio na de uma crianga normal, “hé espagos egocéntricos, poderiamos dizer hio-coordenados, ¢ que ndo incluem o corpo pr6prio como um conteddo hum continent" (jbidem). Mas, se nfo quisermos invocar essa “existéncia fo modo da metéora", ou mesmo da similitude (uma vez que este sitimo termo, para ser sigifiatvo, teria de pressupor a apreensio da diferenga),a ruptura ov transgdo para o segundo estigio, por sua ocorrénea ¢ pelo modo de cognigdo que ela posibilita, nos permite comparar a transigGo efetuada de um “emprego de topos” que vai da conseiéncia metaérica&consciéncia, metonteies. Piaget chama esta mudanga de autntica“revoluglo copersicana”, na qual se crstaliza “a nogdo de um espaco geral que engloba todas essas vari tedades partiulares de espagos (egocnticos), inclusive todos os objets que Se tornaram sdlidos e permanentes,sendo o prépria corpo um objeto entre os tutros, [e] 05 deslocamentos sendo coordenados e passives de serem dedi idos © previstos em relagbo aos préprios deslocamentos” (pp. 15-16). Em foutras palavras, a erianga sofreu um “desvio" no seu desenvolvimento, a partir de uma condigio na qual ela (de modo totalmente inconsciente, deve- nos supor)nio faz qualquer distingSo entre ela prépriae outros objetos ou entre objetos, salvo na medida em que estes se relacionam com ela mesma, ‘Aos dezoito meses, ou pouco mais ou menos, potanto, vemos uma “descen- tralizagéo total com respeito ao espago egocénirico primitivo”. Essa descen- tralizagéo (ou deslocamento) & uma condigo necesséria para o que Piaget chama'“a fungdo simbélica",cujo aspecto mais importante € fala. Somente tracas a possbildade de apreendertelagdes de contigiidade & que se torna possivel ese processo de simbolizagao, a fortiori, do proprio pensamento. “Antes da “revolugio copernicana”, nfo hé apreensio de relagBes contiguas: hi apenas a expetiénciaintemporal, ilimitada, do Mesmo. Com 0 despontar de uma consciéneia de contiglidade ~ que chamarfamos capacidade metonfmica, ocotre uma transformagéo radical sem a qual seria impossvel 6 “grupo de deslocamentos” necesséros para a 6 pensamento (p16). Ent, mais uma vez, em torno dos 7 anos, afirma Pioget, out mento decisivoe fundamental percebido no desenvolvimento da criang la se torna capaz de uma eerta I6gica;toma-se capaz de coordenar oper «es no sentido da reversibilidade, no setido do sistema de conjunto”. £0 Estigio que Piaget chama ldgicapré-adolescente, a qual “no se baseia em tnuncingdes vebais, porém apenas nos prépros objetos” (p. 21). Sers, diz ele, uma Logica das classificagées, 2 ‘abtcos po iscunso porgue os objets gadem ser remnidarconjntamente ou em clsifcapSes: ou, eno, se Uma Iigea da capes porqe os objeto podem ser materiment covtados, mediante 510 ‘manipula, Mas, re € uma lipca das clasficagies, elas e nlmeres,cinda nfo € ua login dx proporigds.. Trat-se de malian sentido em que as operas esto coord ada, agrpadas em sistemas de conjnt, que tem assis eis como terlidades. B cumpre= os instr veementemente na necesskade dessa evra de conjunlo para a elaborago Jo pensaento (pp. 2021, (© que Piaget descobriu, se ele estiver certo, € a base genética do tropo da si- rnédoque, essa figura de retérica ou de poética que constitu os objetos como partes de totalidades ou congrega entidades como elementos de um todo que comparte as mesmas naturezas essenciais, Na crianga com idade entre 7 12 ‘anos, esta operacio ainda & pré-I6gica em sentido estrto, pois que depende dda manipulabilidade fisica dos objetos que esto sendo classficados; nfo se trata de uma operagio que normalmente possa ser levada a cabo somente pelo pensamento. Todavia, com possivel: fcio da adolescEncia esta sitima operagio se torna A cng no apenas or cpa de cos de deb sbi sje spline, cana vous usar, ners ojo prs ie ma ann tom capn eligi de rcl ere bttee openiiostn cojne opens pectin sepa epee snes a chan i ca das proposigdes (p. 24). ve = Observemos, contudo, o que é pressuposto serem as bases para aratificaglo dessas novas operagSes. Primeiro que tudo, hé adissociagdo do pensamento dos seus possiveis abjetos, uma capacidade de refletir sobre a prdpriarefle- x40, © que Collingwood chamou de “consciéncia de segunda ordem” ou “pensamento sobre o pensamento”®, Piaget dé 2o produto dessa dissociagZo nome de “combinat6ria” (“combinatoire”): “Até entSo, tudo ea feito gra-

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