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PERSPECTIVAS ATUAIS DA AVALIAÇÃO

PSICOLÓGICA
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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 4

ASPECTOS HISTÓRICOS DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ................. 7

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO BRASIL: FUNDAMENTOS E


SITUAÇÃO ATUAL .......................................................................................... 12

O INÍCIO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA ................ 16

ESTRATÉGIAS DE DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ... 21

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICAS: SITUAÇÃO, DESAFIOS E DIRETRIZES


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SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE TESTES PSICOLÓGICOS ............... 29


REFERÊNCIAS ..................................................................................... 34

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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VÍDEOS DE APOIO

Visando oferencer mais informações teóricas e práticas aos profissionais


foram selecionados alguns vídeos que discorrem sobre o conteúdo abordado no
curso de Avaliação Psicológica, como também na disciplina a que esta apostila
se refere.

Sendo assim é aconselhável que antes de iniciar a leitura que assista ao


vídeo.

Vídeo 1: Desafios atuais na Avaliação Psicológica (Palestra de Abertura)


III Seminário catarinense de Avaliação Psicológica
Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=61HCcP-UQ7o>

Sinopse: III Seminário de Avaliação Psicológica Palestrantes: Roberto Moraes


Cruz (CRP-12/01418) e Sabrina Guidi Valverde (CRP-12/03037) Mesa de
abertura realizada no dia 08 de Julho de 2021.

Currículo do palestrante - Roberto Moraes Cruz:


Psicólogo, especialista em avaliação psicológica, ergonomia e psicologia
ocupacional, doutor em engenharia de produção, pós-doutorado em Métodos e
Diagnóstico. Atualmente é professor e pesquisador do Departamento e
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa
Catarina. Líder do Laboratório de Fatores Humanos (UFSC) e pesquisador do
Núcleo de Pesquisa em Neuropsicologia em Saúde (hospital Universitário-
UFSC). Linhas de pesquisa: 1) construção e adaptação de métodos e
instrumentos de avaliação de processos psicofisiológicos, psicológicos e
psicossociais; 2) avaliação de aspectos clínicos e epidemiológicos em saúde
ocupacional; avaliação e gestão de fatores humanos em ambientes isolados,
confinados e extremos (ICE). Consultor em programas de saúde e segurança no
trabalho, perito psicólogo

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INTRODUÇÃO
A avaliação psicológica é um processo de construção de conhecimentos
acerca de aspectos psicológicos, com a finalidade de produzir, orientar,
monitorar e encaminhar ações e intervenções sobre a pessoa A avaliação
psicológica é compreendida como um processo científico no qual o psicólogo
busca informações que o auxilie

avaliada, e, portanto, requer cuidados no planejamento, na análise e na


síntese dos resultados obtidos. Nesse sentido, sobre as dimensões éticas da
avaliação psicológica relaciona diferentes infrações que motivaram processos
éticos envolvendo a avaliação psicológica, os quais foram julgados pelo
Conselho Federal de Psicologia à luz dos princípios éticos preconizados pela
Associação Americana de Psicologia (APA) em 1992, que são a competência, a
integridade, a responsabilidade científica e profissional, respeito pela dignidade
e pelos direitos das pessoas, preocupação com o bem-estar do outro e
responsabilidade social.

A responsabilidade social da Psicologia expressa-se por meio de seus


métodos e suas técnicas, os quais devem ser confiáveis, válidos e fidedignos
para a população na qual eles serão empregados. Sobre o tópico Avaliação
psicológica, testes e possibilidades de uso, reafirma que o teste é um
instrumento especializado que requer estudos psicométricos de alta precisão e
compõe a avaliação psicológica, contudo não se restringe exclusivamente a ele.

A qualificação dos testes psicológicos, com observância dos critérios


mínimos estabelecidos para considerá-los indicados para a população brasileira,
será abordados o Satepsi, desafios e propostas de aprimoramento, no qual se
discutem os avanços e os limites desse sistema. Os avanços podem ser
observados na qualificação dos manuais dos instrumentos e no aumento do
número de testes psicológicos aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia.
Os limites podem ser identificados nas indagações geradas no processo de
avaliação dos testes psicológicos, entre elas sobre o aumento dos critérios
mínimos e das especificidades dos testes como instrumentos privativos da área
de Psicologia. Essas dúvidas, quando respondidas, poderão subsidiar as

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práticas da avaliação psicológica tanto nas áreas tradicionais da Psicologia como


nas áreas emergentes.

Nas áreas de estudo da Psicologia, a avaliação psicológica foi e é utilizada


no contexto organizacional e do trabalho. A avaliação psicológica no contexto
organizacional e do trabalho tornou-se, ao longo do tempo, uma ferramenta
poderosa de tomada de decisão que, quando implementada de modo
apropriado, pode trazer benefícios importantes para os trabalhadores, para as
organizações e para a sociedade em geral. Assim a escolha de pessoas com
perfis mais adequados a determinada função aumenta a probabilidade que
obtenham maior satisfação no trabalho e, consequentemente, tenham melhor
qualidade de vida.

Neste sentido, a avaliação psicológica é compreendida como um


processo científico no qual o psicólogo busca informações que o auxilie no
diagnóstico e na escolha da intervenção mais adequada frente a cada indivíduo.
A prática avaliativa inclui técnicas e instrumentos testados empiricamente e
validados de acordo com os critérios estabelecidos pela comunidade científica.
A diferença entre validar uma teoria ou um teste situa-se nos seguintes fatos
Conselho Federal de Psicologia (Resolução nº2/2003) que, inclusive, dispõe de
um código de ética que orienta a atuação do profissional na aplicação desses
instrumentos.

Conhecer é um processo de ambientação, gradual e permanente, dado


que as circunstâncias em que ocorre o processo de conhecimento são
dinâmicas, complexas e diversificadas. Severino (1994; Alves 1999) afirma que
querer conhecer é, portanto, concomitante a o processo de intervir e esse
processo de conhecer implica em mobilizar-se frente às circunstâncias,
intervindo nelas exatamente para poder conhecer.

Um processo de avaliação psicológica depende, particularmente, da


atitude orientada para a compreensão do que se quer avaliar, da habilidade
do avaliador em escolher estratégias e procedimentos (recursos metodológicos
e técnicos) específicos às necessidades oriundas das demandas por avaliação
(objetivo visado). Adotar recursos metodológicos significa escolher caminhos

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que, muitas vezes, precisam ser reorientados sistematicamente. O mais


importante é criar as condições para conhecer e permitir que o conhecimento
gerado seja útil e traga benefícios sociais e sirva para o aperfeiçoamento da
ciência psicológica como uma possibilidade efetiva de compreender os
problemas humanos.

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ASPECTOS HISTÓRICOS DA AVALIAÇÃO


PSICOLÓGICA
Muitas dificuldades foram enfrentadas na área de avaliação psicológica
no decorrer do tempo e século XX no Brasil, foram, em grande parte,
decorrentes fatores como a confusão entre os conceitos de avaliação psicológica
e testagem psicológica e a má qualidade psicométrica dos instrumentos. Esses
fatores não surgiram no contexto brasileiro, ao contrário, são inerentes ao
desenvolvimento das técnicas de avaliação psicológica, especialmente dos
testes, no cenário internacional.

O dificuldade em compreender o que é avaliação e testagem psicológica


foi parte do próprio desenvolvimento da Psicologia como ciência.

Neste contexto observa-se em Cattell (1890), por exemplo, apontava o


desenvolvimento de instrumentos de medida e a criação de laboratórios
experimentais como caminhos pelos quais a Psicologia poderia conquistar
o status científico. O que , de fato, o início do século XX viu o desenvolvimento
de testes psicológicos resultar em grandes avanços teóricos (Spearman, 1904)
e práticos Binet (1904) no campo da inteligência, por exemplo, com a proposição
do modelo do fator geral e de um teste capaz de identificar crianças com
dificuldades de aprendizagem, respectivamente. Essas ocorrências contribuíram
significativamente para o estabelecimento da relevância científica da Psicologia
como área do conhecimento e do seu compromisso com a sociedade.
Fortaleceu-se assim a ideia de que os testes permitiam avaliar aspectos
psicológicos de forma comparável ao modelo médico de atendimento, no qual
os procedimentos padronizados de diagnóstico (exames), isentos de
subjetividade, se constituíam não em um, mas no método preferencial de
diagnóstico (Ocampo, Arzeno & Piccolo, 1981).

Com o advento da II Grande Guerra, estabeleceu-se um conflito entre a


necessidade de testes para a seleção de soldados para a guerra e o estágio
ainda inicial das bases psicométricas da testagem naquele momento. O
resultado desse conflito foi a utilização de instrumentos de avaliação com
qualidade psicométrica duvidosa. Assim, os testes, que inicialmente haviam

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contribuído para o estabelecimento da Psicologia como ciência, em decorrência


de seu uso como única fonte de informação para a realização de diagnósticos e
de suas deficiências psicométricas, que ainda não eram completamente
conhecidas (muito menos controladas) pelos cientistas, passaram a ser
questionados quanto a sua eficácia. Segundo Bueno e Ricarte (2017) esse
questionamento recaiu sobre a própria capacidade da Psicologia em dar as
respostas esperadas pela sociedade.

Sendo, portanto, nesse cenário mundial que ocorre a implantação do


Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), em 1947, no Rio de
Janeiro, cujo objetivo era realizar processos de seleção de pessoas baseados
em evidências científicas, compreendidas à época como tomadas de decisão
baseadas nos resultados de testes psicológicos (Noronha, & Reppold, 2010).
Desta forma, a avaliação psicológica no Brasil ainda refletia a confiança nos
resultados dos testes observada nos processos americanos de seleção de
pessoas para os esforços de guerra, mas contribuiu significativamente para a
regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil, ocorrido em 21 de agosto
de 1962, pela Lei n° 4.119.

Contudo, esse cenário favorável logo se desfaz em razão de dois


principais fatores: a criação acelerada de cursos de Psicologia e a falta de
professores qualificados para o ensino, que culminaram na deficiência de
formação, especialmente na área de avaliação psicológica e o surgimento de
novas correntes de pensamento, como a humanista e a sócio-histórica, que eram
reativas à quantificação e ao positivismo e suas manifestações (Pasquali, &
Alchieri, 2011). Noronha, 2002; Patto, 1997 discorrem que os questionamentos
eram de que os testes serviam mais para rotular e estigmatizar as pessoas do
que para ajudá-las a se desenvolver, pelo que propunham o abandono dessa
prática que consideravam nociva à própria imagem da Psicologia.

Assim sendo, a área de avaliação psicológica como um todo foi se


deteriorando, tanto na formação de profissionais quanto no desenvolvimento de
instrumentos mais apropriados. A formação em avaliação psicológica, por
exemplo, foi se reduzindo ao questionamento da eficácia dos testes, à afirmação

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de seu caráter excludente ou ao ensino dos procedimentos de aplicação,


contagem de pontos e interpretação estatística (e não psicológica) do resultado.
O resultado desse tipo de formação, foi a redução do desenvolvimento
psicométrico dos testes (adaptação cultural, estudos de validade etc.) (Gouveia,
2009), o que resultou na comercialização de um conjunto de testes com
propriedades psicométricas desconhecidas ou não informadas no manual do
instrumento e em um elevado número de processos éticos no CFP e na justiça,
contrários aos resultados decorrentes de avaliação psicológica.

Essas críticas, no contexto internacional, foram tomadas como um


impulso para a realização de pesquisas e para o desenvolvimento das práticas
de avaliação e de testagem. O aprimoramento de técnicas estatísticas, como a
análise fatorial, por exemplo, foram fundamentais para o desenvolvimento de
teorias importantes da inteligência (Cattell, 1943; Thurstone,
1931; 1934; 1937; 1938) e da personalidade (Cattell, 1946; 1947), estabelecendo
as bases para o desenvolvimento de instrumentos fundamentos no conceito de
traço latente. Além disso, a criação da Psychometric Society, em 1935, e de seu
periódico Psychometrika, em 1936, foram precursores de muitas outras
sociedades e revistas científicas dedicadas ao tema, que continuam ativas até
os dias atuais (Bueno, & Ricarte, 2017).

Entretando no Brasil, um cenário semelhante só surgiu com força no nos


anos 1990, quando se observou uma movimentação oriunda de professores e
pesquisadores descontentes com a situação da avaliação psicológica, tanto no
âmbito da formação quanto da pesquisa. Por isso, organizaram uma série de
eventos, nos quais invariavelmente se discutia, além dos resultados de
pesquisas, o papel das disciplinas de avaliação psicológica na formação,
políticas para o desenvolvimento da área no Brasil, entre outros temas. São
exemplos de eventos realizados naquele período o I e o II Encontro de Técnicas
do Exame Psicológico: Ensino, Pesquisa e Aplicações, na Universidade de São
Paulo, o I Encontro Nacional sobre Testes Psicológicos (Porto Alegre, UFRGS /
PUC-RS), o Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica (Belo Horizonte, UFMG
/ PUC-MG / Centro Universitário Newton Paiva / Fumec) e o Encontro da
Sociedade Brasileira de Rorschach e outros Métodos Projetivos (Ribeirão Preto,

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USP-RP) (Primi, 2010). Dois importantes resultados desses encontros foram a


criação da Sociedade Brasileira de Rorschach e Outros Métodos Projetivos
(SBRo)1 (http://www.asbro.org.br/), em 1993, e do Instituto Brasileiro de
Avaliação Psicológica (IBAP) (http://www.ibapnet.org.br/), em 1997.

Essas associações profissionais permanecem ativas atualmente e


organizam congressos bianuais, intercalados, de modo que todo ano há um
congresso de abrangência nacional na área de avaliação psicológica. Além
disso, o IBAP edita a revista Avaliação Psicológica,
(http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_serial&pid=1677-
0471&lng=pt&nrm=iso), atualmente com periodicidade quadrimestral e avaliada
pelo Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) como A2 (http://www.capes.gov.br/acessoainformacao/perguntas-
frequentes/avaliacao-da-pos-graduacao/7422-qualis).

Em meados dos anos 1990 havia quatro laboratórios pioneiros de


pesquisa em avaliação psicológica, situados em importantes universidades
brasileiras: o Laboratório de Pesquisa em Avaliação e Medida (LABPAM), na
Universidade de Brasília, fundado em 1988 pelo Prof. Dr. Luiz Pasquali; o Centro
de Pesquisas em Psicodiagnóstico (CPP), no campus de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo, fundado em 1975 pelo Prof. Dr. André Jacquemin;
o Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas (LAMP), na Pontifícia
Universidade Católica, na cidade de Campinas, fundado em 1994 e coordenado
pela Prof.ª Dr.ª Solange Wechsler e o Laboratório de Mensuração (LM), na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, fundado em 1988 pelo Prof. Dr.
Cláudio Hutz. Esses laboratórios e professores deram grande impulso à
pesquisa e à formação especializada em avaliação psicológica no Brasil,
fundaram linhas de pesquisa e assumiram papéis de destaque na organização
dos eventos e associações citadas anteriormente (Bueno, & Ricarte, 2017).

Em 1996, o relatório do Comitê Assessor de Psicologia do Conselho


Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), apontou para a
área de Fundamentos e Medidas Psicológicas como uma das cinco que
mereciam mais investimentos à época. Essa indicação foi levada em

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consideração para a criação de um Programa de Pós-graduação com área de


concentração em avaliação psicológica, na Universidade São Francisco, no ano
2000, que é avaliado atualmente com nível de excelência internacional pela
Capes. A implantação desse programa de pós-graduação deu grande impulso
aos esforços dos centros pioneiros descritos anteriormente quanto à formação,
produção de conhecimentos e uso de modernas técnicas de avaliação
psicológica para resolução de problemas sociais.

Esse conjunto de ocorrências teve impacto nas políticas implementadas


pelo CFP, que observava, por um lado, o esforço desses profissionais no sentido
da construção de boas práticas de avaliação psicológica, e, por outro, o grande
número de processos éticos em decorrência das más práticas em avaliação
psicológica, descritas anteriormente. Por isso, no início dos anos 2000, o CFP
instituiu a Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, formada por
pesquisadores e representantes ligados à AsBRo e ao IBAP, com o objetivo de
propor políticas que ajudassem a melhorar a qualidade das práticas em
avaliação psicológica (Resolução N° 25, 2001).

A proposta apresentada pelo CFP baseou-se no fortalecimento do


compromisso da Psicologia com a sociedade, por meio de um sistema de
monitoramento contínuo da qualidade técnica dos instrumentos de avaliação
utilizados pelos psicólogos. Assim, foi implantado o Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos (Satepsi) (Resolução N° 25, 2001), que, segundo Mansur-
Alves, Silva e Fernandes (2016), se constituiu em um dos fatores mais
importantes para a retomada do desenvolvimento da área de avaliação
psicológica no Brasil. De fato, esse sistema teve grande importância tanto
prática, porque estabelecia critérios para o uso de testes, quanto simbólica, pois
a principal instituição à qual os psicólogos estão filiados implementava uma
política nacional em relação ao uso de testes.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA NO BRASIL:


FUNDAMENTOS E SITUAÇÃO ATUAL
A avaliação psicológica é, talvez, uma das áreas mais antigas da
psicologia. Ao nascer, teve uma de suas aplicações práticas – o desenvolvimento
dos testes psicológicos e da psicometria – voltada para seleção de soldados nas
grandes guerras (Anastasi & Urbina, 2000). Dessa forma, a avaliação é muitas
vezes identificada com um segmento particular da psicologia dedicado à criação
de instrumentos e técnicas. No entanto, a avaliação, em geral, e, em particular,
o desenvolvimento de instrumentos, representa uma área central da ciência
psicológica porque permite a objetivação e operacionalização de teorias
psicológicas. Em outro momento ressaltou-se esse aspecto:

A avaliação psicológica é geralmente entendida como uma área


aplicada, técnica, de produção de instrumentos para o psicólogo, visão
certamente simplista da área. A avaliação psicológica não é
simplesmente uma área técnica produtora de ferramentas
profissionais, mas sim a área da psicologia responsável pela
operacionalização das teorias psicológicas em eventos observáveis.
Com isso, ela fomenta a observação R. Primi sistemática de eventos
psicológicos, abrindo os caminhos para a integração teoria e prática.
Ela permite que as teorias possam ser testadas, eventualmente
aprimoradas, contribuindo para a evolução do conhecimento na
psicologia. Portanto, a avaliação na psicologia é uma área fundamental
de integração entre a ciência e a profissão. Disso decorre que o avanço
da avaliação psicológica não é um avanço simplesmente da
instrumentação, mas sobretudo das teorias explicativas do
funcionamento psicológico. (Primi, 2003, p. 68)

Segundo Muniz (2004), o processo de validação de instrumentos


psicológicos se constitui em um caso particular de um processo mais geral, de
validação de hipóteses científicas. Em ambos os casos, tenta-se validar
explicações por meio de um processo hipotético-dedutivo, no qual se levantam
hipóteses teóricas, planejam-se estudos empíricos, coletam-se e analisam-se
dados, buscando-se testar as hipóteses explicativas, falseando-as ou
corroborando-as. Esse processo interativo teoria-hipótese-falseamento
encontra-se na base do desenvolvimento do conhecimento e da maturidade da
psicologia como ciência. A diferença entre validar uma teoria ou um teste situa-
se nos seguintes fatos: no primeiro caso, há um processo mais amplo, visto que
tenta-se validar a existência de construtos e as relações causais entre eles; e no

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segundo caso, tenta-se validar as interpretações sobre o construto psicológico


que são feitas a partir do instrumento.

O que se pode notar é que há uma relação estreita entre os instrumentos


e a pesquisa científica uma vez que os estudos empíricos fazem uso dos
instrumentos para observar determinados construtos no percurso de validar
determinadas explicações sobre o comportamento humano. Wright (1999), um
dos pioneiros no desenvolvimento do modelo de Rasch nos Estados Unidos,
propôs um modelo de filosofia da ciência envolvendo cinco estágios: exposição,
observação, medida, análise e teoria. A produção do conhecimento científico se
inicia com a exposição ou consciência dos fenômenos. Em seguida, são
organizados meios mais sistemáticos de observação, como itens e testes. A
essas observações são aplicados modelos matemáticos, como a Teoria de
Resposta ao Item, transformando as observações em medidas. Só então é que
essas medidas são transformadas em teorias entendidas como abstrações que
servem para predizer eventos da realidade de maneira mais generalizada.

Assim, a avaliação psicológica, especialmente aquela parte que se dedica


ao desenvolvimento de instrumentos, é uma área nuclear da psicologia e de sua
edificação enquanto ciência. Em primeiro lugar porque envolve a objetivação dos
conceitos teóricos em elementos observáveis. Em segundo lugar porque requer
aplicação de método científico baseado no conhecimento sobre quais
delineamentos (levantamento, correlacional, quase-experimental e
experimental) são mais adequados ao conhecimento que se deseja ter. Em
terceiro lugar porque envolve também o uso de modelagem matemática na
representação dos processos psicológicos, abordagem que vem gradativamente
substituindo o modelo clássico de análise de dados baseado somente no teste
de significância da hipótese nula (Rodgers, 2010). E, por último, porque seus
produtos (instrumentos de medida) são peças necessárias ao desenvolvimento
do conhecimento científico dentro da psicologia. Por esses motivos, ao se tratar
do tema avaliação, sua história e seu desenvolvimento, não se está falando de
um assunto restrito a uma determinada área, mas sim dos fundamentos mais
gerais da psicologia.

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A avaliação psicológica, deve-se, em primeiro lugar, se distinguir dos


instrumentos de avaliação. A avaliação psicológica é uma atividade mais
complexa e constitui-se na busca sistemática de conhecimento a respeito do
funcionamento psicológico das pessoas, de tal forma a poder orientar ações e
decisões futuras. Esse conhecimento é sempre gerado em situações que
envolvem questões e problemas específicos. Já os instrumentos de avaliação
constituem-se em procedimentos sistemáticos de coleta de informações úteis e
confiáveis que possam servir de base ao processo mais amplo e complexo da
avaliação psicológica. Portanto, os instrumentos estão contidos no processo
mais amplo da avaliação psicológica (Primi, Nascimento & Souza, 2004).

Em geral, os instrumentos são meios padronizados de se obter


amostras/indicadores comportamentais que irão revelar diferenças individuais
nos construtos, traços latentes ou processos mentais subjacentes. Presume-se,
então, que os traços latentes são as variáveis causais dos comportamentos que
se manifestam na situação de testagem. Dessa forma, o processo amplo de
medida consiste em uma via indireta que, por meio da observação dos
indicadores, torna possível se inferir algo sobre o construto que se deseja avaliar
(Gottfredson & Saklofske, 2009). Assim, de acordo com Borsboom, Mellenbergh
e Heerden (2004), os estudos de validade tentam provar a relação causal entre
as variações no construto subjacente e as variações nos indicadores
comportamentais avaliados pelo instrumento, justificando, dessa maneira, os
sentidos atribuídos aos escores em relação ao construto. Essa conceituação
deixa mais claro que, no âmago dos estudos de validade, há uma questão de
relação de causalidade entre o construto e os indicadores. Consequentemente,
o processo de validação dos testes envolve todos os desafios metodológicos ao
se deparar com a necessidade de estabelecer relações funcionais entre duas
variáveis, nesse caso, entre uma variável latente, o construto, e outra observada,
os indicadores.

Ao se tratar dos fundamentos da avaliação psicológica, é preciso entender


a diversidade de estilos de pensamento que são subjacentes às práticas de
diferentes grupos dentro da área. Essa diversidade de métodos e estilos revelam
aspectos fundamentais da avaliação que precisam ser compreendidos e

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integrados em um modelo mais amplo com vários níveis que se tentará esboçar
mais adiante. Cronbach (1996) define essas diferenças ao descrever as
características dos estilos psicométrico (nomotético) e impressionista
(idiográfico). Ao se tratar dos fundamentos da avaliação psicológica, é preciso
entender a diversidade de estilos de pensamento que são subjacentes às
práticas de diferentes grupos dentro da área. Essa diversidade de métodos e
estilos revelam aspectos fundamentais da avaliação que precisam ser
compreendidos e integrados em um modelo mais amplo com vários níveis que
se tentará esboçar mais adiante. Cronbach (1996) define essas diferenças ao
descrever as características dos estilos psicométrico (nomotético) e
impressionista (idiográfico),

A primeira delas, a tradição psicométrica, pode ser exemplificada ao


olharmos, por exemplo, para o início das teorias fatoriais de personalidade nos
trabalhos de Cattell (1957, 1973). O autor afirma que:

A mensuração é o fundamento da ciência. Mas, em personalidade,


deve-se começar com a descoberta das formas naturais de padrões de
comportamentos humanos. Devemos definir os traços unitários
naturais, por exemplo, ansiedade, conscienciosidade, força do ego,
dominância, que constituem a topografia (ou taxonomia) da
personalidade. Somente depois estaremos prontos para construir
escalas e baterias para medir tais traços. Chamo o primeiro passo de
pesquisa da estrutura (ou taxonômica) e o segundo, desenvolvimento
estrutural de escalas. (Cattell, 1973, p. 2)

Seguindo esse objetivo, Cattell passou a analisar estruturas manifestas


em diferentes dados observacionais oriundos de três fontes: (a) respostas a
questionários em que as pessoas são as próprias observadoras e relatoras de
seu comportamento (dados Q), (b) dados de pessoas por meio de observações
de terceiros que relatam o que vêm nelas em sua vida diária (dados L); e (c)
medidas relativamente diretas de comportamentos em situação de testagem em
laboratório (dados T). Usando a análise fatorial com o objetivo de sistematizar
as correlações entre indicadores, de forma a inferir os traços unitários, Cattell
(1957) encontrou mais de 23 traços básicos que supostamente seriam as forças
causais dos comportamentos observados. Há uma analogia de Cattell (1965)
que é muito interessante para esclarecer aspectos dessa metodologia. O Autor

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afirma que o problema que por muitos anos desconcertou os psicólogos era
encontrar um método que deslindasse essas influências funcionalmente
unitárias na floresta caótica do comportamento humano. Mas como é que numa
floresta tropical de fato decide o caçador se as manchas escuras que vê são dois
ou três troncos apodrecidos ou um só jacaré? Ele fica à espera de movimento.
Se eles se movem juntos, concluiu-se por uma única estrutura. Da mesma forma,
como John Stuart Mill observou em sua filosofia da ciência, o cientista deveria
ter em mira a "variação concomitante" que resulta na busca de conceitos
unitários.

O INÍCIO DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO


PEDAGÓGICA
A importância do ensino em avaliação psicológica se constata em critérios
e diretrizes de nossos conselhos psicológicos e educacionais, os quais indicam
a obrigatoriedade desta temática na matriz curricular de cursos de psicologia de
nosso país (NUNES et al. 2012). Essa formalidade se explica dentro da
argumentação de que a avaliação psicológica, procedimento único ao psicólogo,
está inserida em diversas oportunidades de atuação, áreas e temáticas
(ALCHIERI; CRUZ, 2004). O profissional que se propõe ao ensino destas
práticas sabe da importância do conhecimento em psicopatologia, psicometria,
saúde mental, processos psicossociais, desenvolvimento humano e a atuação
psicoterápica, entre outros importantes aspectos (ANASTASI; URBINA, 2000).
O aluno é preparado para o processo de avaliação psicológica e deverá saber
sobre importantes aspectos referentes ao início deste processo. Principalmente
dentro do contexto ético.

A ética é base fundamental do início do processo de avaliação psicológica.


Parte-se do contexto de que este processo deve respeitar direitos e
necessidades básicas humanas, cabidas as vertentes neurovegetativas,
fisiológicas, comportamentais, emocionais e espirituais. Em outras palavras, o
início do processo de avaliação psicológica consiste em perceber o contexto
desta avaliação: a área (se clínica, hospitalar, comunitária, jurídica, educacional),

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a idade e gênero, o propósito, o histórico e a demanda, o local de atuação


(PASQUALI, 2001).

Deste modo, a avaliação, entendida como um todo que abrange


procedimentos de observação e interpretação de pessoas e grupos, deve
inicialmente respeitar preceitos éticos estabelecidos por regulamentações de
nossa profissão, bem como o bom senso.

Aos preceitos éticos regulamentados envolvem a preocupação em não


submeter uma pessoa, ou grupo de pessoas, aos procedimentos de avaliação,
caso as mesmas estejam sem condições emocionais, físicas e espirituais para
este processo (CUNHA, 2000). Alguns casos podem ser exemplificados. Uma
criança em situação de abuso sexual, com evidentes sintomas de transtornos
mentais como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático,
deve ser respeitada em sua menor habilidade para lidar com situações de
testagem ou examinação psicológica que possam lhe ocasionar maior
sofrimento psíquico. Neste caso, os testes projetivos e expressivos poderão
auxiliar, desde que se considere o ritmo e os sinais de cansaço e sofrimento
evidentes na criança, evitando haver maior estresse. Pacientes em situação de
torpor devido a maiores doses de medicação não devem ser submetidos a
testagens, considerando não estarem em estado natural para responder às
demandas de testes. Deficiências e dificuldades físicas e mentais devem ser
consideradas para a escolha de procedimentos de avaliação psicológica, assim
como pessoas debilitadas por diferentes motivos.

O cuidado com o tempo de avaliação muito extenso em pessoas com


sofrimento psíquico deve sempre ser considerado. As crianças possuem
peculiaridades que estão relacionadas ao seu desenvolvimento e que devem ser
respeitadas. A menor capacidade de concentração e maior dispersão são alguns
exemplos de aspectos comuns à faixa de desenvolvimento infantil. Bem como,
nessa mesma linha, a dificuldade de explanar, de modo mais consciente e
verbalmente coerente, uma série de sintomas que estão sendo vivenciados pela
mesma. Ou seja, a criança indicará muito mais pelo seu comportamento sobre
seus temores, anseios e fantasias. Comportamentos mais agressivos ou mais

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1
8

emotivos (choro) que destoem de outras crianças da mesma faixa etária, muitas
vezes são importantes indicativos de sintomas psicopatológicos ou sofrimento
psíquico não verbalizado.

Os adolescentes podem verbalizar de modo mais coerente e consciente


os seus sintomas. Entretanto, a fase adolescente também irá envolver muitas
peculiaridades que devem ser consideradas. A maior angústia em relação aos
aspectos interpessoais e à sexualidade são alguns dos importantes aspectos
desta fase. A ambivalência e a pouca percepção de limites em relação à própria
vida e a morte também são características a serem consideradas. As implicações
de sentimentos de exclusão e rejeição, a procura por ídolos e as preocupações
com o próprio corpo e imagem são outros exemplos desta fase. Em muitos
casos, o adolescente em situação de avaliação psicológica não apresenta
interesse em estar neste processo, principalmente em situações clínicas –
havendo uma demanda familiar ou da escola que não condiz com suas vontades,
desejos e fantasias. Nestes casos, o início do processo de avaliação deverá
consistir em uma abordagem direcionada ao jovem respeitando seus valores e
vontades, impedindo-o de expor-se a riscos de vida, mas com a ciência de que
haverá maiores tentativas de relutar ao processo avaliativo.

As situações jurídicas são pertinentes a uma procura por casualidade e


julgamento envolvendo culpabilidade e busca por tendências de
comportamentos ou incidências de determinadas atuações consideradas
inadequadas. Estes aspectos são muitas vezes o reflexo da demanda de
profissionais da área jurídica, mais voltados aos trâmites de julgamento e
culpabilidade. Neste contexto, exigem do psicólogo que lhes diga se aquela
pessoa avaliada é culpada, vítima, se haverá reincidência... Estes aspectos não
cabem ao profissional psicólogo responder. Entender as limitações do processo
de avaliação psicológica também consiste em um bom início. Saber que se
poderá indicar algumas tendências de comportamento, sintomas
psicopatológicos (como indícios de psicopatia, por exemplo), existência de
aspectos relativos ao quadro de estresse pós-traumático, verificação de
possíveis vivências de abusos sexuais, morais e físicos ocasionando importante
sofrimento psíquico. Mas, afirmar que uma pessoa foi realmente o assassino de

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1
9

alguém, que irá realmente matar outra pessoa, que deverá ficar reclusa um
número específico de horas, não cabe ao psicólogo nem tampouco deve ser
parte do laudo de avaliação psicológica.

As pessoas em situação de estresse pós-traumático e/ou luto também


necessitam de cuidados e atenção voltados ao processo de perda, sintomas
depressivos e ansiogênicos. Para estas pessoas, um bom início será ater-se aos
principais fatos históricos em suas vivências envolvendo o contexto de
sofrimento acentuado. Não se pode começar um processo de avaliação
psicológica que seja extremamente exaustivo, com perguntas excessivas,
baterias de testes psicológicos e métodos de avaliação que se sabe propiciariam
angústia durante a sua aplicação.

Estes são apenas alguns exemplos de cuidados com o contexto e com as


pessoas dentro deste contexto para o início do processo de avaliação
psicológica. Deste modo, um bom início é considerar o quanto de sofrimento está
presente na pessoa ou grupo. Isso virá como uma das primeiras informações
visíveis, geralmente, pelo psicólogo logo de imediato. Muitas vezes, como parte
do contexto de avaliação, outras como primeiras impressões a respeito da
pessoa, ou grupo, a ser avaliada.

Evitar promessas perante o início deste processo também é pertinente.


Ao ainda não saber sobre o desfecho da avaliação, o profissional não possui a
menor condição de responder ou corresponder às muitas questões e pedidos
que lhe são feitos por parte de familiares, colegas, amigos ou demais pessoas,
todos relacionados com o grupo ou pessoa avaliada. Os pais de crianças e
adolescentes em situação de avaliação pedem prazos para o resultado sobre o
que está ocorrendo com seus familiares. Muitas vezes, perguntam se será
possível haver cura, se eles se sentirão mais confortáveis perante o desfecho da
avaliação. Nenhum destes aspectos é possível de ser previsto no início da
avaliação. Alguns profissionais com longa experiência indicam datas fixas para
o contato com o avaliando, mas mesmo nestas situações saber sobre o desfecho
da avaliação é impossível. Afinal, este não é um campo de previsões mágicas
sobre o futuro.

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2
0

Entender que alguns contextos serão mais hostis ao avaliador também é


um bom começo. Principalmente em situações jurídicas de avaliação de pessoas
em processo de julgamento por crimes graves ou em estado de doenças mentais
agravadas pela perversão, sadismo e agressividade. Haverá uma tentativa maior
de manipulação e simulação nestes casos, quase que premissa básica para este
processo. Felizmente, podem-se perceber nítidas tentativas de simulação e
manipulação de dados por meio da observação atenta do avaliador, indicando
importantes sintomas psicopatológicos ou comportamentos mais inadequados.

Respeitar a espiritualidade e religiosidade da pessoa ou grupo em


avaliação também é um bom começo. Muitas pessoas possuem
comportamentos comuns às suas comunidades espirituais que não
necessariamente estão consideradas adequadas do ponto de vista psiquiátrico,
psicológico ou mesmo social. Em outros casos, existem restrições quanto ao
modo de relacionamento interpessoal entre avaliador e avaliando, como
maneiras de cumprimentar, contato, verbalização. Considerar a abrangência e
limitação da avaliação dentro deste contexto também é fundamental.

Deste modo, a avaliação psicológica consiste em usar de importantes


instrumentos de análise da pessoa ou grupo, considerando a possibilidade de
haver aspectos que irão alterar as limitações e abrangências deste
procedimento. O bom início deste processo está relacionado com o respeito à
pessoa e ao seu grupo, o contexto, a área, a demanda, conforme exemplificado.
Os aspectos subjetivos da pessoa serão expostos neste processo, bem como a
sua capacidade de perceber a realidade, a coerência do pensamento, o
sofrimento emocional, os desejos, sonhos, expectativas e o comportamento
interpessoal, além da autoestima e autoimagem (EXNER, 2004).

O processo de avaliação requer um bom começo, assim como necessitará


de um importante conhecimento e experiência para manter-se coerente com a
abordagem necessária (CUNHA, 2000), finalizando em um importante resultado
a ser apresentado para o(s) avaliando(s). O processo de avaliação, o feedback
e o desfecho deste procedimento requerem um capítulo à parte. Talvez um tema
para uma próxima comunicação breve. Saber começar não é suficiente, caso

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1

não se tenha consciência de todo o processo todo e das implicações do feedback


e do desfecho deste processo. O acompanhamento de um supervisor para os
casos onde o psicólogo ainda não possui experiência é fundamental. Deste
modo, a coerência em todo o processo é extremamente relevante. Necessitando
haver um começo, meio e fim adequados.

ESTRATÉGIAS DE DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO


PSICOLÓGICA
O conceito de diagnóstico tem origem na palavra grega diagnõstikós, que
significa discernimento, faculdade de conhecer, de ver através de. Na forma
como vem sendo utilizado, na atualidade, significa estudo aprofundado realizado
com o objetivo de conhecer determinado fenômeno ou realidade, por meio de
um conjunto de procedimentos teóricos, técnicos e metodológicos.
Tradicionalmente usado na Medicina, o termo foi incorporado aos discursos e às
práticas profissionais de diferentes áreas de conhecimento. No âmbito da
Psicologia, as práticas de diagnóstico e avaliação psicológica tiveram, e têm
ainda hoje, um papel fundamental na formação e constituição da identidade
profissional do psicólogo.

A avaliação psicológica é um procedimento clínico que envolve um corpo


organizado de princípios teóricos, métodos e técnicas de investigação tanto da
personalidade como de outras funções cognitivas, tais como: entrevista e
observações clínicas, testes psicológicos, técnicas projetivas e outros
procedimentos de investigação clínica, como jogos, desenhos, o contar estórias,
o brincar etc. A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados é feita
sempre de acordo com o referencial teórico, o objetivo (clínico, profissional,
educacional, forense etc.) e a finalidade (diagnóstico, indicação de tratamento
e/ou prevenção), conforme Ocampo et al. (2005), Arzeno (2003) e Trinca
(1984a).

Nos últimos anos, o ensino e a prática da avaliação psicológica têm sido


objetos de inúmeros estudos (JACQUEMIN, 1995; CUSTÓDIO, 1995;
ANDRIOLA, 1996; GOMES, 2000; ALVES; ALCHIERE; MARQUES, 2001, e
2002; ALCHIERE; BANDEIRA, 2002; NORONHA et al. 2003; AFFONSO, 2005).

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2
2

Embora desenvolvidos sob diferentes enfoques, todos eles têm preocupações


comuns como a qualidade da formação em avaliação psicológica, o conteúdo
das disciplinas, o uso e a validação dos testes psicológicos, e a integração
ensino-aprendizagem e aplicação destes à prática profissional.

Tais preocupações ganharam maior relevância com as crescentes críticas


dirigidas aos testes psicológicos, entre elas, a falta de respaldo científico e o mau
uso e elaboração de laudos psicológicos, que em geral “rotulam” e repetem
jargões psicológicos sem fundamentação teórica (PATTO, 1998). Tudo isso
levou o Conselho Federal de Psicologia (CFP) a criar, em 1997, a Câmara
Interinstitucional de Avaliação Psicológica, com o objetivo de fazer um
diagnóstico das condições de ensino na área, e, posteriormente, implantar um
Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos usados no Brasil. Com a
implantação desse sistema e entrada em vigor da Resolução no 02/2003, o CFP
passou a recomendar somente o uso dos testes avaliados com parecer favorável
da Comissão Consultiva. Os demais, com parecer desfavorável ou ainda não
avaliados, continuam sendo usados apenas em pesquisa.

Embora essas medidas tenham sido cuidadas para dar maior


cientificidade aos instrumentos, na opinião de alguns autores ocorre um
fenômeno contraditório que diz respeito à desvalorização dos testes psicológicos
nas práticas de avaliação. Por exemplo, Affonso (2005) comenta que, após a
Resolução CRP no 02/2003 e divulgação da lista dos testes com condições de
uso, docentes e profissionais tiveram que rever suas estratégias de diagnóstico
e avaliação psicológica. Muitos cursos de Psicologia reduziram a oferta de
disciplinas de testes psicológicos e técnicas projetivas e, também, alteraram o
seu conteúdo para dar maior ênfase às técnicas de entrevistas e a outras áreas
como a Psicologia Hospitalar, a Psicologia Jurídica etc.

É possível que essa medida tenha acentuado um processo que já vinha


em curso, conforme aponta pesquisa realizada por Alves, Alchieri e Marques
(2001) sobre o panorama geral do ensino das técnicas de exame psicológico no
Brasil. Segundo essa pesquisa, a média geral dos cursos avaliados (64) é de

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3

3,98 disciplinas, mas alguns têm apenas uma disciplina de testes e técnicas de
avaliação psicológica.

Sabe-se que essa desvalorização dos testes psicológicos e, por extensão,


da área de avaliação psicológica é consequência também das mudanças
ocorridas nas demandas de intervenção e atuação da Psicologia, na atualidade,
em razão de novos processos de subjetivação e de questões sociais e políticas
que interferem diretamente na qualidade de vida e saúde da população e exigem
de nossas teorias e práticas constantes revisões e atualizações. Como apontam
Féres-Carneiro e Lo Bianco (2005), no âmbito da Psicologia Clínica isso resultou
numa enorme expansão de abordagens teóricas – psicanalíticas,
fenomenológico-existenciais, cognitivas, comportamentais, sistêmicas, corporais
etc.; no desenvolvimento de novas modalidades de intervenção – grupal,
familiar, comunitária; e na atuação em outros settings – instituições públicas e
privadas, hospitais, unidades de saúde etc. Neste cenário, cresceram entre os
alunos de Psicologia o ceticismo em relação aos testes psicológicos e o
desinteresse pela área de avaliação psicológica.

As críticas mais freqüentes dos alunos é que os testes “rotulam” e não são
confiáveis como instrumentos de diagnóstico e avaliação da personalidade,
segundo apontam pesquisas (PEREIRA; CARELLOS, 1995; GOMES, 2000). Daí
a importância de envolver docentes e pesquisadores nessa discussão não só
para resgatar o valor da área na formação profissional, mas, especialmente, para
incorporar as recentes mudanças e oferecer aos alunos uma fundamentação
teórica e técnica mais ampla que lhes permita trabalhar com criatividade e
flexibilidade, com as inúmeras possibilidades de diagnóstico e avaliação, tendo
em vista os diferentes contextos e necessidades. Sabe-se que, além das
questões apontadas, a forma como essas técnicas são ensinadas interfere no
interesse dos alunos, na apreensão e aplicação prática destas. Infelizmente, há
professores que continuam reproduzindo mecanicamente o ensino de testes e
técnicas sem nenhum questionamento ou articulação com as novas práticas e
demandas da Psicologia.

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2
4

A Psicologia, assim como o desenvolvimento de suas práticas de


avaliação psicológica, foi, ao longo da história, influenciada por duas principais
tradições filosóficas: o positivismo e o humanismo.

O positivismo, corrente filosófica que tem Augusto Comte (1973) como


principal representante, defende o conhecimento objetivo, por meio da
neutralidade científica e da experimentação. Essa corrente de pensamento
fundamenta o método científico adotado pelas ciências naturais que foi, durante
muito tempo, considerado “o modelo de ciência”. Na ótica positivista, o homem
pode ser estudado como qualquer outro fenômeno da natureza, ou seja, pode
ser tomado como um objeto de estudo observável e mensurável.

Apoiam-se nessa tradição as práticas de avaliação psicológica,


identificadas com os modelos médico e psicométrico, que caracterizam a
primeira fase de atuação profissional do psicólogo – práticas que valorizam o uso
dos testes psicológicos, a eficiência e a objetividade do diagnóstico como forma
de garantir a cientificidade da psicologia (TRINCA, 1984a; ANCONA-LOPEZ,
1984).

O modelo médico influenciou enormemente as práticas de avaliação


psicológica, principalmente no início da expansão da Psicologia, quando os
psicólogos atuavam, basicamente, como auxiliares do médico no diagnóstico
diferencial de psicopatologias. Preocupados em avaliar com objetividade, para
indicar o tratamento mais eficaz, os psicólogos incorporaram às suas práticas de
avaliação características do modelo de diagnóstico médico, tais como: a ênfase
nos sintomas, o uso da classificação nosológica e o emprego de testes (exames),
para identificar determinadas características patológicas da personalidade do
indivíduo.

O modelo psicométrico manteve a preocupação de avaliar com


objetividade e neutralidade e inaugurou uma fase de maior prestígio da
Psicologia, em que os testes psicológicos passaram a ser usados na
classificação e medida da capacidade intelectual e aptidões individuais. A
Psicometria ampliou a área de atuação da Psicologia – da clínica para as áreas
escolar (diagnóstico de dificuldades de aprendizagem das crianças) e

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2
5

profissional (seleção de indivíduos para funções específicas). Com essa


expansão, o psicólogo ganhou maior autonomia: os resultados dos testes
deixaram de ser obrigatoriamente entregues ao médico ou a outros profissionais;
os próprios psicólogos começaram a prestar orientação aos pais e professores
e até mesmo aos médicos. No modelo psicométrico, tornou-se menos importante
detectar e classificar os distúrbios psicopatológicos; a ênfase passou a ser dada
à identificação das diferenças individuais e orientações específicas. Esse modelo
foi muito valorizado nos Estados Unidos, especialmente durante a Segunda
Guerra Mundial, quando se atribuiu à Psicologia a função de selecionar
indivíduos aptos e não-aptos para o exército, bem como avaliar os efeitos da
guerra sobre os que retornavam (ANCONALOPEZ, 1984).

O humanismo apoia-se em correntes filosóficas que se contrapõem à


visão positivista e questionam a aplicação do método das ciências naturais às
ciências humanas. Defende que não é possível uma total separação entre o
sujeito e o objeto de estudo, pois a subjetividade tem uma importância essencial:
o sujeito está implicado com o seu objeto de estudo, ele constitui o objeto e é
constituído por ele. Se todo o conhecimento é estabelecido pelo homem, não se
pode negar a participação da sua subjetividade, portanto não é possível estudar
o homem como um mero objeto fazendo parte do mundo, pois o mundo não
passa de um objeto intencional para o sujeito que o pensa (ANCONA-LOPEZ,
1984).

Essa forma de pensar teve um papel marcante no desenvolvimento de


uma Psicologia humanista, influenciada por vertentes teóricas ligadas
principalmente à Fenomenologia e à Psicanálise que enfatizam a subjetividade,
a intencionalidade, o sentido e o significado das experiências (e dos sintomas),
o inconsciente e a relação entre sujeito e objeto de estudo. Entre suas principais
influências, estão Heidegger e Freud (FIGUEIREDO, 2004). Contrapondo-se à
visão reducionista da vertente positivista, a Psicologia humanista buscava uma
compreensão global do homem, na apreensão do mundo e do seu significado.
Sob esse influxo, passou-se a questionar os modelos de avaliação
classificatória, baseados apenas nos testes psicológicos (estruturados e
padronizados). Outras práticas de diagnóstico, mais identificadas com a

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2
6

Psicanálise e a Fenomenologia, foram surgindo dentro do chamado modelo


psicológico, que deu origem ao psicodiagnóstico e a outros procedimentos de
avaliação, como as entrevistas diagnósticas, com ou sem o uso de testes ou
técnicas (estruturadas ou não) de investigação da personalidade.

O psicodiagnóstico inaugurou uma nova visão da avaliação psicológica,


diferente da realizada pelos “testólogos” da Psicometria. Ao adotar uma
perspectiva clínica, mais identificada com a teoria psicanalítica ou
fenomenológica, distanciou-se da preocupação com a neutralidade e a
objetividade, passando a enfatizar a importância da subjetividade e dos aspectos
transferenciais e contratransferenciais presentes na relação. E o uso dos testes
passou a ser complementado com outros procedimentos clínicos, com o objetivo
de integrar os dados levantados nos testes e na história clínica, para obter uma
compreensão global da personalidade.

No Brasil, o modelo de psicodiagnóstico, desenvolvido por Ocampo et al.


(2005) e Arzeno (2003), tem norteado o trabalho de grande parte dos
profissionais da área. Além dele, os modelos compreensivo (TRINCA, 1984a,
1984b) e fenomenológico (ANCONA-LOPEZ, 1995; CUPERTINO, 1995; YEHIA,
1995) também são bastante utilizados. O psicodiagnóstico proposto por Cunha
(2000) é outra referência, não incluída no recorte aqui feito, mas igualmente
importante no contexto brasileiro.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICAS: SITUAÇÃO,


DESAFIOS E DIRETRIZES
A Psicologia enquanto instituição deu passos gigantescos na
regulamentação da testagem psicológica, disciplinando a construção,
adaptação, comercialização e uso de testes, escalas e questionários, por
exemplo, por outro não tem se definido quanto às competências requeridas para
os psicólogos que atuam nesta área. Este quadro não parece ser recente
(Pasquali, 2001), embora existam propostas de diretrizes a respeito (Nunes et
al., 2012). Sem ser ou ter a pretensão de um tratado, este artigo se configura
como um esforço em contribuir com esta área tão fundamental da Psicologia,
permitindo pensar nos desafios enfrentados e avanços esperados. Para

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2
7

começar, é importante ter em conta o que diz a Lei n° 4.119, de 27 de agosto


1962, que regulamenta o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a profissão de
Psicólogo, em seu Art. 13, quando trata da competência privativa deste
profissional:

§ 1° Constitui função privativa do Psicólogo a utilização de métodos e


técnicas psicológicas com os seguintes objetivos:

a) Diagnóstico psicológico;
b) Orientação e seleção profissional;
c) Orientação psicopedagógica;
d) Solução de problemas de ajustamento.

Dessas atribuições legais decorrem dois entendimentos: (1) a prática da


Avaliação Psicológica é prerrogativa do psicólogo, constituindo conduta
legalmente punível a sua realização por outro profissional; e (2) o psicólogo está
habilitado a fazer uso de métodos e técnicas de avaliação psicológica, visando
diagnosticar, orientar (profissional e pedagogicamente) e solucionar problemas
de ajustamento. Quanto à primeira parte deste diploma legal, trata-se de norma
cogente, que impõe a restrição da prática profissional da Avaliação Psicológica
ao psicólogo; porém, a segunda parte é mais uma norma dispositiva, facultando
ao psicólogo a realização das atividades indicadas. Portanto, o psicólogo pode
realizá-las, mas não está obrigado a fazê-lo.

Embora a preocupação com a formação em Avaliação Psicológica não


seja recente (Hutz, & Bandeira, 2003; Pasquali, 2001), a maioria dos estudos a
respeito começou há pouco mais de uma década. Por exemplo, Noronha (2006)
analisou 41 ementas de disciplinas desta área de 38 cursos de Universidades
brasileiras, segundo estavam disponíveis em seus sites. Ela observou que a
carga horária média dos cursos de Psicologia foi de 4.320 horas, variando de
3.240 a 5.724, sendo ofertadas de uma a sete disciplinas de Avaliação
Psicológica (média de 3,29 disciplinas por curso). Os nomes das disciplinas
variaram, porém se concentravam do primeiro ao quarto período (78%),
abordando principalmente aspectos instrumentais: técnicas de avaliação e
aplicação, mensuração psicológica, técnicas projetivas e psicodiagnóstico.

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2
8

Um novo estudo foi realizado por Noronha e seus colaboradores (Noronha


et al., 2008). Na ocasião, tiveram em conta 39 ementas de disciplinas
relacionadas com Avaliação Psicológica em 14 Universidades distribuídas em
oito Estados, cobrindo todas as regiões do Brasil. Estes autores criaram 16
categorias de análise, tentando enquadrar os conteúdos das ementas; entre as
mais citadas categorias de análise, encontraram-se técnicas projetivas, testes
de personalidade, testes psicológicos e testes de inteligência. Provavelmente,
este cenário reflete a abordagem mais tradicional da área, focada, sobretudo,
em testes de inteligência e questionários de personalidade.

Em estudo mais recente, Finelli, Freitas e Cavalcanti (2015) analisaram


as matrizes curriculares de 767 cursos de Psicologia distribuídos entre os 26
Estados e o Distrito Federal, considerando disciplinas obrigatórias e optativas.
Quanto às matrizes gerais, observaram variação de 974 a 9.700 horas (média
de 4.257 horas por curso em todo o território nacional). Constataram, ainda, que
a carga horária dedicada à Avaliação Psicológica variava de 36 a 640 horas,
tendo média de 257 horas por curso. Sua conclusão foi de que tem sido dedicado
pouco tempo ao ensino de Avaliação Psicológica, sobretudo em razão de esta
ser uma atribuição exclusiva do psicólogo.

Como fizeram Noronha (2006), Noronha et al. (2008), Freires, Silva Filho,
Pereira, Loureto e Gouveia (2017) também consideraram como unidade de
análise as ementas das disciplinas. Entretanto, estes autores se concentraram
na região Norte, escassamente considerada em estudos prévios, e inovaram o
tipo de análise: realizaram análise automatizada de conteúdo (programa
Iramuteq). Eles consideraram as ementas de disciplinas de Avaliação
Psicológica de 28 dos 36 cursos de Psicologia da Região, observando que, entre
disciplinas obrigatórias, optativas e estágios, houve mais de 50 denominações,
embora prevalecessem as de Psicodiagnóstico, Técnicas de Avaliação
Psicológica, Técnicas de Exame Psicológico, Psicometria e Avaliação
Psicológica. A análise de conteúdo dessas ementas permitiu identificar sete
classes: construção de medidas, aplicação e interpretação, construtos,
entrevista, psicodiagnóstico, planejamento da sessão e ênfase em Avaliação
Psicológica. A análise da “nuvem de palavras” teve como centro da distribuição

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2
9

espacial o vocábulo avaliação psicológica, que se atrelou às palavras processo,


instrumento, teste, técnica, psicodiagnóstico e aplicação.

Assim, mostrando a pluralidade de terminologias e ênfases da Avaliação


Psicológica. Não há um padrão, mesmo dentro da mesma Região (Freires et al.,
2017), variando as nomenclaturas e o número de disciplinas e horas dedicadas
à formação, coerente com estudos prévios (Alchieri, & Bandeira, 2002; Finelli et
al., 2015; Noronha, 2006). Talvez o ponto mais converge diga respeito à ênfase
em construtos recorrentes na Avaliação Psicológica, como inteligência e
personalidade, quer avaliados por técnicas projetivas ou psicométricas (Alves,
Alchieri, & Marques, 2002; Noronha et al., 2008).

SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE TESTES PSICOLÓGICOS


Proposto pelo Conselho Federal de Psicologia, em 2001, o Sateps, devido
a necessidade de aprimorar os instrumentos e procedimentos técnicos dos
psicólogos e de garantir uma prestação de serviços com qualidade técnica e
ética aos seus usuários (Resolução N° 25, 2001). Posteriormente, o sistema foi
atualizado pela Resolução n° 02/2003, e, mais recentemente, pela Resolução n°
09/2018, que continua estabelecendo as diretrizes básicas para a realização de
avaliação psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo,
incluindo os procedimentos de submissão e de avaliação dos testes e/ou suas
atualizações no sistema, e acrescenta questões relacionadas com a justiça e
proteção dos direitos humanos na avaliação psicológica (Resolução N° 09,
2018).

A avaliação dos instrumentos que são submetidos ao sistema é facilitada


pelo Formulário de Avaliação da Qualidade de Testes Psicológicos, que
sistematiza a coleta de informações sobre seis aspectos que devem constar nos
manuais dos instrumentos: 1) qualidade do manual; 2) fundamentação teórica,
3) análise de itens; 4) precisão; 5) validade; e 6) sistema de correção e
interpretação dos resultados. Esses itens são avaliados em todos os testes
considerados psicológicos, exceto para os projetivos, para os quais a análise de
itens não se aplica. Ao final da avaliação de cada tópico, o avaliador emite um

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3
0

parecer geral favorável ou desfavorável. Para que o parecer seja favorável o


instrumento deve receber conceitos equivalentes a excelente ou bom em todas
as áreas avaliadas. Antes de entrarem em vigor, os parecerem passam pela
avaliação da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica e do Plenário do
CFP (Resolução N° 09, 2018).

Uma iniciativa internacional semelhante ao Satepsi é a do COnsensus-


based Standards for the selection of health Measurement INstruments (Cosmin).
O Cosmin, mais do que uma medida reguladora, foi proposto como um marco
referencial, no qual os pesquisadores pudessem se basear para construir e/ou
avaliar a qualidade de instrumentos de medida na área da saúde. Seu uso é
recomendado para revisões sistemáticas de instrumentos de medida, seleção de
instrumentos de medida, identificação da necessidade de mais estudos sobre as
propriedades de medida dos instrumentos, elaboração de estudos sobre
propriedades de medida, avaliar a qualidade de manuscritos sobre instrumentos
de medida submetidos para publicação, entre outros (Mokkink et al., 2012).

Seu surgimento pode ser localizado em 2005, num esforço pela reunião de
especialistas com o objetivo de estabelecer princípios, procedimentos e critérios
comuns, que servissem como base (taxonômica, terminológica e paramétrica)
para o desenvolvimento de instrumentos e de boas práticas de medida em
ciências da saúde (Mokkink et al., 2006). Para isso foi realizado um estudo com
a metodologia Delphi (Jorm, 2015), que, basicamente, procura encontrar
consenso entre especialistas em uma determinada área. Este estudo resultou na
identificação consensual das propriedades de medida a serem consideradas na
avaliação de um instrumento (Mokkink et al., 2010).

Foram identificados três domínios de informações relevantes sobre os


instrumentos de medida: fidedignidade, validade e a responsividade, sendo que
dentro de cada domínio são consideradas vários tipos de propriedades da
medida. O domínio da fidedignidade se refere ao grau com que um instrumento
está livre de erros de medida. Isto pode ser avaliado pela intercorrelação entre
os itens (consistência interna), pela proporção da variância total que representa
diferenças verdadeiras entre os pacientes, ou pelo erro sistemático e aleatório

30
3
1

da pontuação de um paciente que não é atribuído a mudanças verdadeiras no


construto sob consideração (erros de medida) (Mokkink et al., 2012).

O domínio da validade é compreendido como o grau com que um


instrumento mede aquilo que ele se propõe a medir. Uma das formas de se
investigar esse domínio é por meio do grau com que um instrumento reflete
(validade de conteúdo) ou parece refletir (validade de face) o construto a ser
mensurado. Outra forma se refere ao grau com que o instrumento é consistente
com as hipóteses que se pode derivar do construto (validade de construto), que
pode ser investigado por meio da dimensionalidade do instrumento (validade
estrutural), do teste de hipóteses (validade de construto propriamente dita) e da
semelhança de funcionamento de itens traduzidos de uma língua/cultura para
outra (validade transcultural). Outra forma, ainda, de investigação da validade é
verificar o grau com que os escores de um instrumento refletem adequadamente
um “padrão ouro” (validade de critério) (Mokkink et al., 2012).

A responsividade, por sua vez, é definida como a capacidade de um


instrumento em detectar mudanças ao longo do tempo em um determinado
construto. Ao lado desses três domínios mais métricos, há ainda o domínio da
interpretabilidade, que não é exatamente uma propriedade da medida, mas é
importante para a compreensão da medida, uma vez que se refere ao grau com
que se consegue atribuir um significado qualitativo aos resultados quantitativos
obtidos (escores) (Mokkink et al., 2012).

De forma semelhante ao Satepsi, os itens a serem avaliados foram


operacionalizados numa lista de verificação (checklist), organizada em 12
seções. As primeiras nove seções, identificados por letras, se referem às
propriedades de medida: A – Consistência interna, B – Fidedignidade, C – Erro
de mensuração, D – Validade de Conteúdo, E – Validade estrutural, F –
Testagem de Hipóteses, G – Validade Transcultural, H – Validade de critério e I
– Responsividade. A seção J se refere aos estudo s de interpretabilidade. A
seção seguinte (TRI) se refere a estudos realizados com auxílio da Teoria de
Resposta ao Item (TRI). Por fim, a última seção (Generalização) apresenta os

31
3
2

requisitos para avaliação da possibilidade de generalização dos resultados para


outras amostras e população de uma forma geral (Mokkink et al., 2010; 2012).

Essa lista de verificação contém um total de 129 itens, mas foi elaborada
para ser usada de forma modular. Isto é, pode-se utilizar qualquer de suas
seções de forma independente, de acordo com o propósito de sua avaliação.
Assim, os autores descrevem um sistema de quatro passos para sua utilização:
1) Determinação de quais seções precisam ser respondidas (entre as nove
seções iniciais, identificadas pelas letras de A a I); 2) Preenchimento da seção
sobre utilização da TRI (caso tenha sido utilizada), 3) Preenchimento das seções
assinaladas no passo 1; e 4) Preenchimento das informações sobre
generalização dos resultados, para cada seção assinalada no primeiro passo.
Algumas das seções da lista de verificação podem ter que ser preenchidas mais
de uma vez, conforme os dados avaliados se apresentem. Por exemplo, dados
de fidedignidade apresentados para diferentes amostras da população,
requerem o preenchimento da seção de B (Fidedignidade) tantas vezes quantos
forem as amostras consideradas no estudo (Mokkink et al., 2012).

Há duas formas de avaliação dos itens: 1) com respostas dicotômicas, que


indicam a presença (SIM) ou ausência (NÃO) de determinada informação sobre
o instrumento (Mokkink et al., 2012), e 2) com quatro categorias de classificação:
excelente, bom, razoável e ruim (Terwee et al., 2012). O segundo método é
empregado para cada seção do COSMIN, sendo que o critério adotado é para
avaliação é o da pior pontuação. Por exemplo, se um item da E (validade
estrutural) é avaliado como “ruim”, então toda a seção é avaliada como “ruim”.
Nesse sistema, a avaliação “ruim” em qualquer dos itens é considerada uma
“falha fatal” (Terwee et al., 2012).

Não foram encontrados estudos de impacto do Cosmin nas práticas


profissionais e/ou de investigação, mas uma busca realizada em junho/2018 no
Portal Periódicos da Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br/) com o termo
“Cosmin” no título ou no assunto, retornou 270 referências publicadas desde
2005. A maior parte desses estudos foi publicada nos últimos cinco anos, o que

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3
3

parece indicar sua crescente utilização como referência para a construção e


avaliação da qualidade de instrumentos de medida na área da saúde.

Por ser um instrumento mais regulador sobre a prática profissional do


psicólogo, O Satepsi teve um impacto bastante importante para o
desenvolvimento da área de avaliação psicológica no Brasil. Por exemplo, em
2002, logo após sua implantação, dos 91 testes submetidos ao sistema, mais da
metade (61,5%) foi considerada “desfavorável” para uso profissional (Noronha,
Primi, & Alchieri, 2004). Houve mobilizações dos próprios profissionais contrários
à implantação do Satepsi e até reportagens em importantes meios de
comunicação impressos (jornais e revistas) da época, questionando a eficácia
dos instrumentos de avaliação psicológica. O CFP sofreu foi acionado na justiça
pelas editoras, mas obteve sentença favorável em todas as decisões. Com o
tempo, essas reações negativas diminuíram, os testes foram melhorando de
qualidade e a percepção tornou-se mais positiva, embora nunca isenta de
críticas, muitas delas construtivas e que deveriam ser consideradas para
evolução do sistema e da qualidade da avaliação psicológica no Brasil.

Uma novidade proporcionada pela Resolução do CFP n° 09/2018 foi


incorporar na própria resolução que trata do Satepsi, uma seção relacionada com
a justiça e proteção dos direitos humanos na avaliação psicológica. Nessa seção,
o CFP alerta os psicólogos e psicólogas contra certas práticas na avaliação
psicológica, que possam caracterizar negligência, preconceito, exploração,
violência, crueldade ou opressão; induzir a convicções políticas, filosóficas,
morais, ideológicas, religiosas, raciais, de orientação sexual e identidade de
gênero; ou favorecer o uso de conhecimento da ciência psicológica e normatizar
a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou
qualquer forma de violência.

De fato, a Avaliação Psicológica e a testagem psicológica podem ter efeitos


importantes na vida das pessoas, podendo esses efeitos serem positivos ou
negativos, a depender de como estes procedimentos são realizados (Koocher,
& Keith-Spiegel, 2016). A próxima seção tratará de questões éticas envolvidas
na avaliação psicológica.

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