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11 1 NOTAS INICIAIS Fazer uma andlise das praticas profissionais da Psicologia enquanto campo de conhecimento, passa, inexoravelmente, por conhecer suas origens @ seus primérdios. Isto significa proceder questionamentos que guiem entendimentos, compreensées e conclusdes, tais como: sob qual propésito tals praticas foram e sdo prescritas? Quals contextos serviram de cenario para Jos? Como as praticas tidas cientificas produziram os que os saberes “psi” fossem produ: conhecimentos que hoje alicercam a prética profissional do psicdlogo? O que elas expdem? O que elas escondem? O que elas escamoteiam? Quais valores preconizam e so preconizados, a partir dos saberes “psi”? A quais fendmenos a Psicologia, enquanto cléncia, se presta compreender? O que a Histéria da Psicologia diz da propria Psicologia? De seus conhecimentos, de suas prati de seus resultados? Figura 1 - Psicologia Ciéncia e Profissao Fonte: Tetiana Lazunova, Istock, 2020. ‘#ParaCegoVer: A Psicologia enquanto ciéncia e campo profissional caracteriza-se por varias perspectivas e escolas de pensamentos, que determinam desde concepgdes sobre o homem até as praticas de seus profissionais, Notadamente, a Psicologia é uma mirfade de fluxos politicos, fisicose socials. Um dos grandes desafios 2 serem enfrentados, nesta unidade, seno 0 maior, é determinar uma identidade & Psicologia, seja enquanto area de saber cientifico, seja enquanto atividade profissional reconhecida e legitimada (BRASIL, 1962). Sua condicao multfacetada e multideterminada dota & Psicologia de uma singularidade significativa, pois, no seio de suas bases, encontramos diversas correntes de pensamento e diversas maneiras de conceber seu objeto de estudo, sua drea de investigacdo e seu campo de atuacdo. A. 12 1.1 Paradoxos e outras miscelaneas Segundo Matos (2011), ao se discutir e debater a relagio entre ciéncia e profisso, € preciso circunscrever um certo questionamento sobre a separacdo entre conhecimento cientifico politica, presentes na formacao de qualquer cientista ou profissional, em especial os provenientes das ci&ncias psicolégicas. Nesta perspectiva, precisa toda rea que produz conhecimento deve ser crivada enquanto espaco social. Isto é, é necessério problematizar 0 campo das praticas “psi” e da formacdo em psicologia, para assim melhor compreendé-la. Nao é possivel tratar de um individuo sem considerar como este é entendido, sem conhecer o paradigma que o compreende o concebe. Saberes e politicas se engendram a fim de determinar a maneira com este sujeito é encarado e como serd alocado. Neste sentido, ao longo desta disciplina, vocé sera convidado a questionar expressées, dicotomias, paradigmas econcepcdes do homem quanto asua interioridade/exterioridade, quanto a sua condi¢éo de individuo em um dado contexto social e sob quais modelos os conhecimento psicoldgicos sd0 produzidos e que formulados. Cabe destacar que vocé sera instigado a identificar quais paradoxos produziram o que se entende contemporaneamente como Psicologia 1.2 Nomenclaturas e expressdes basicas Para discutir 0 campo cientifico e profissional d a Psicologia, é necessario conhecer algumas expresses e nomenclaturas que delimitam entendimentos e compreensées sobre a natureza (ou naturezas) e dimensdo (ou dimensdes) que a encerram. © termo contextualizar é 0 primeiro, segundo Tufano (2002) contextualizar refere-se a posicionar algo em um dado contexto. Ou seja, é situar uma dada situacdo (leia-se, um sujeito, um evento, um fenémeno) dentro de um fluxo de forgas e vetores fisicos e sociais, humanos e n&o-humanos que ocorrem em um dado espaco e tempo. De modo que, ao pér em contexto, pretende-se revelar tudo 0 que se possa saber, por dbvio, sobre um determinado momento social, Trata-se de tornar 0 problema em tela compreensivel e inteligivel, pois ao se proceder assim, que se propicia é a andlise e estudo de tudo 0 que se possa envolver sobre o fenémeno ali circunscrito, Ou seja, “[...] contextualizando tentamos colocar algo em sintonia com o tempo @ com © mundo, construimos bases sélidas [...] sobre algo, [um] solo para criar um ambiente favordvel, amigavel e acolhedor para a construcdo do conhecimento” (TUFANO, 2002, p.41). J4 0 conceito de modelo para Ronca (2002, p.153) é definido como “...] modelos ampliam as nossas possibilidades de combinag6es [...]" de entendimento e compreensdo do mundo a volta, so “...] pontos de ancoragem, de apoio e de inspiracdo para a formacao dos [tipos] diferentes profissionais’. Um modelo é uma referéncia de aco, de compreensdo de pensamento. , «a Contextualizar © termo contextualizar € 0 primeiro, segundo Tufano (2002) contextualizar refere-se a posicionar algo em um dado contexto. Observacao e andlise As nogées observacio e anilise diferem-se por tratarem de conceitos distintos, mas intrinsecamente relacionados, mobilizados e assessoriamente articulados. Pratica O conceito de pratica é resultante de uma acdo, de uma perspectiva, efeito de um modo de pensar (HASS, 2002). Espaco Otermo espaco diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber 0 termo, seja do latim spatium (4rea ou extensio). Pesquisa ‘A pesquisa tem relacdo com a existéncia humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatorios até 0s contemporaneos, destaca-se pela inquietante construcio da inteligibilidade sobre o mundo. Sistema © concaito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forcas que produzem uma condig&o, um evento, um resultado. ‘As nogbes observacdo e anilise diferem-se por tratarem de conceitos distintos, mas intrinsecamente relacionados, mobilizados assessoriamente articulados. Muito do que se concebe enquanto existéncia, enquanto dinamica cotidiana se baseia na forma comodados, fatos @ acontecimentos sao encarados, captados, encarados: experimentados. Para Goncalves (2002), 2 relagéo alinhavada na interseccao destas duas agées produz nao apenas formas de entender o contexto (ciéncia), mas maneiras de atuar sobre ele (atuacéo profissional). Dela sdo produzidos saberes, e saberes sobre como fazer @ como nao fazer. © conceito de pratica é resultante de uma aco, de uma perspectiva, efeito de um modo de pensar (HASS, 2002). A pratica esté relacionada a atuacées de sujeitos sobre o mundo, sobre outros e sobre si mesmo. Envolve, desta maneira, formas de interacdo, com o que se tenta compreender, com 0 que se busca manter ou modificar. Trata-se de um movimento de ir e vir sobre 0 contexto, sobre a vida 14 O termo espaco diz respeito a muitas formas de interpretar e conceber o termo, seja do latim spatium (érea ou extensdo), seja por seu sentido quantitativo(mensurando, tridimensionalmente, volumes e distancias), seja, ainda, o Iécus (real, virtual, factual ou fenomenolégico), trata-se de uma delimitacdo que determina e é determinado pelos sujeitos, seja os que séo estudados, seja 05 que produzem os saberes cientificos, seja os que recebem algum tipo de intervencao, sejam os que intervém (CAMPOS, 2002). A pesquisa tem relaco com a existéncia humana, sobretudo, aquela dos tempos civilizatdrios até os contemporaneos, destaca-se pela inquietante construcdo da inteligibilidade sobre o mundo. Interrogar, investigar, perscrutar 0 que nos circunda e o que nos determina é o que se denomina pesquisa. Neste sentido, o ato de pesquisa discrimina-se por diferentes modulacdes que variam entre a busca, a procura, a indagacdo, a averiguaco, a enquista, 0 informe, a arguicao, @ perquiticao sobre uma dada realidade com vistas torné-la compreensivel, significativa (MELLO, 2002). Por mais técnica e precisa, descritiva e profunda, nanométrica e certeira, toda a pesquisa é politica e social, pois ela parte de algum ponto de vista, de alguma perspectiva, de alguma crenca anterior que conceba uma dinmica contextual (ROSE, 2001} © conceito de sistema que designa um conjunto de vetores e de forcas que produzem uma condi¢So, um evento, um resultado. Designa uma totalidade que articula diferentes interagdes de objetos, elementos, pessoas, fatos, acontecimentos, Est relacionado a uma viséo que concebe uma interconexéo dinamica entre diversos elementos na composi¢o e no esclarecimento e um dado contexto. A compreensio da existéncia parte de uma premissa processual. Utilize 0 QR Code para assistir 20 video: Apds essa breve prelecao inicial, faz sentido nos seguirmos, em nosso itinerario, adentrando, especificamente, sobre os elementos conceituais e histéricos da Psicologia, enquanto ramo cientifico. Sobre o contetido, € nosso intuito oferecer uma base que possibilite ampliar a perspectiva dos estudos relacionados a esse area, bem como aprofundar conceitos, através «a da exemplificagao de alguns modos de pensar e ver 0 mundo, escolas de pensamento e visies criticas sobre os primérdios e influéncias, e, assim, oferecer uma experiéncia pratica e elucidativa de como se constitui a Psicologia Cientifica Contemporanea, tanto em termos de conhecimentos e praticas quanto de efetiva intervenco e posicionamento profissional. 2 CONCEITO E HISTORIA DA PSICOLOGIA CIENTIFICA Como destacado por Jacé-Vilela e Oliveira (2018), a histéria da Psicologia, de sua formacao em campo de saber, é permeada e, em alguma medida, esté condicionada a diferentes modos de fazer e produzir conhecimento. Esta é uma das iras marcas da Psicologia: sua pluralidade, em termos de fontes e influéncias, em termos de aplicabilidade e intersecgao com outros saberes. Desta forma, seguiremos, aos principais pontos que definem a Psicologia, comentando definicdes e conceituages que alicercam estas delimitacdes de seus conhecimentos em relacao 8 outras cigncias 2.1 O que é Psicologia? Do termo grego psyké (alma, espirito, mente) em conjun¢do com a expresso logos (que designa estudo conhecimento}, 0 termo Psicologia, poderia ser traduzide como sendo o estudo da alma, do espirito, da mente. Ainda que na época grega, a ideia de cientificidade nao estava atrelado a esse conceito. Entretanto a concepgdo ;e oportuna para iniciarmos 0 debate do que vem o estudo da Psicologia. Figura 2 - Paradoxos Fonte: Dmitrii_Guzhanin, Istock, 2020. ‘#ParaCegoVer:A Psicologia ao longo de sua histéria, teve como principal condigao, relacdes de antagonismo, de dualidade, paradoxais e que situam seus conhecimentos e suas praticas. Na figura das faces viradas para lados opostos de silhueta, uma branca e uma preta. 16 Para Carrara (2015, p.27) “L...] seja no cenario da experimentago, seja no da reflexio, a principal dificuldade para o desenvolvimento e a consolidacao [de um] conhecimento [...” passa por se conseguir “isolar” o seu fenémeno. Ao longo de seu processo histérico-constitutivo, a Psicologia, através de intimeros personages, desenhou esta relacéo dicotémica de saberes: objetividade versus subjetividade, inatividade versus ambiente, monismo versus dualismo, estruturalismo versus funcionalismo etc. Enfim, suas principais marcas sao a incompletude e a polémica, na busca por consolidar-se enquanto campo cientifico. Para a autora s8o estas contraposiges que formam o terreno para a Psicologia erigit suas conceituagdes e demarcar seu objeto de estudo: as dimensdes psicolégicas. Ao longo de suas elucidacées, os teéricos que compée o exército de pesquisadores da Psicologia, caracterizadamente, oscilaram por estes antagonismos, sempre, por polos de ‘constructos hipotéticos, a fim de denominar e erigir “[..] teorias e sistemas explicativos no contexto da Psicologia” (CARRARA, 2015, p.28). 2.2 O estudo objeto de Estudo da Psicologia Um dos grandes desafios para compreender a evolucio histérica das chamas Ciéncias Psicoldgicas, reside no fato de que as correntes de pensamento que a produzira, que a delimitaram e que a praticaram, mostram-se diversas, muitas vezes, antagdnicas e dissonantes em seus modos de encarar o um dada (ou varios) abjeto(s) de estudo (MATTOS, 2011), Neste sentido, cabe destacar 0 que Carrara (2015, p.28-29) explica, LL] No exemplario dos episédios de vida, cada atividade dos organismos parece apresentar-se menos ou mais Influenciada por varlaveis da historia blologica ou da historia ambiental. Algumas situagbes io, ilusoriamente,exemplos“claros” de uma oude outra, entre duasformas dedeterminago: 1) as mudancas na dilatago da pupila em fungdo da variagSo claro/escuro; os comportamentos que compbem 0 “estilo” de construgo de ninho do passaro jodo-de~-barro; 0 ato de seguir o primeira objeto que se move, comum entre certas aves (0 imprinting, ou estampagem, no exemplo clissica de Lorenz, no importa se correto ou nfo}; [..] (2) quando respondemos mediante contracio ou dilstacao pupliar em fungi de acontecimento sonore s6 por nds ouvide num filme; quando o elefante do circo, apés fazer seus malabarismos, inclina-se para receter 0 “reconhecimento” do pdblico; quando legamos aos nossos descendentes um estilo arquitetBnico de construgao residencial; quando otécnico ‘em informética faz um reparo n0 nosso notebook. Neste sentido, definir 0 objeto de estudo da Psicologia, ndo parecer ser algo simples, mas tal qual a luta didria de Sisifo em levantar a pedra, dirimir 0 que se presta 2 Psicologia a compreender é tarefa complexa e ardua. Conforme os exemplos dados por Carrara (2015), nenhum deles configuram-se apenas em um dos pélos: objetivo e subjetivo. Tanto um quanto 0 outro encerram. e engendram facetas de aspectos genéticos e ambientais. Mas, afinal, o que a Psicologia estuda? Que conhecimentos “psi” sao gerados, a partir de pesquisas que facam uso de seu arcabouco conceitual? possivel compreender que aquilo que a a Psicologia busca compreender, foca seus mais variados estudos, diz respeito a algo Sujeito humano, seja por analogia animal, ou mesmo sob a égide de premissas fisiolégicas, seja a partir de elucubragées e ilacdes sdcio-histéricas. Em geral, tanto uma quanto outra abordagem, tratam de questdes que sejam privativas dos seres humanos, nas mais diversas variacBes. E isto, podemos denominar ‘fendmenos psicolégicos’, uma gama variada e ampla de ocorréncias que circunscrevem e delimitam-se como objeto de estudo da Psicologia. Parece, assim, razoavel ndo falar de uma psicologia, mas sim, de psicologias, que compreendem nao um objeto de estudo, mas de objetos de estudos psicolégicos. As diferentes influéncias cientificas e sociais que erigiram a Psicologia, também, em alguma medida, determinam seus modos de pesquisa, suas praticas e, por conseguinte, seus saberes. E é isso que nos enveraremos no tépico seguinte. 3 PSICOLOGIA E SUAS ORIGENS (PERCURSO HISTORICO-FILOSOFICO) A Psicologia em seus primérdios tem rafzes desde que o homem comecou a se questionar sobre sua posico no meio em que vive (FIGUEIREDO, 2007). Entretanto, se remontarmos uma genealogia, por mais superficial que seja, de sua constituicdo, enquanto saber, veremos que a Psicologia comecou a ser sistematizada com as civilizagées grega 1 De cledbulo de lindos “Mostremos ouvir, mas ssibemos distinguir” 2- De Sélon de Atenas “Nunes digas tudo 0 que sabes” De Tales de Mileto *Néo reveles projetos para, se falhares, ndo sores motivo de troce” 4- De Tales de Miloto “A maior slegria vom da posse do objeto amado” 5- De Bias de Priene “Aprende a saber ouvir~ 6- De Periandro de Corinto “Oculta 0s desgostos, para néo dares motivo de 9020 20s inimigos” 7- De auilon de Lacedemonit “Conhece:-te a ti mesmo". Figura 3 - Os sete saberes gregos Fonte: ROSAS, 2010, p.46. ‘#ParaCegoVer: Os apotegmas gregos, a Filosofia grega, rica em variedade e pensamentos, Jé esbocava questionamentos e maximas (apotegmas), que hoje subsidiam os questionamentos psicalégicos. 18 Como ilustrado pela relac3o apresentada por Rosa (2010) os fildsofos gregos jé esbocavam inquietagdes e premissas que buscavam explicar a natureza humana, Além disso, buscavam desvendar 0 porqué € para que os sujeitos humanos agiam, pensavam e se mobilizavam. Ao longo da histéria humana, a Filosofia teve papel singular, enquanto suporte conceitual e analitico, especulando sobre o comportamento dohomem, sobre as prdprias experiéncias, umdos primérdios da introspecco, o que mais tarde seria adotado como método principal da Psicologia em seu inicio. Q FIQUE DE OLHO Uma discusséo interessante acerca do papel da Filosofia sobre a formacdo da Psicologia é apresentada pelo texto de Rodrigues e Mattar (2012) intitulado: “Psicologia, Filosofia, encruzilhiadas, experimentacdes:caminhes possiveisno dislogo com Kierkegaard e Foucault”. Anterior & Psicologia Cientifica, um terreno foi preparado para sua criagdo e instauracao. Figueiredo (2008, p.22) destaca que é preciso considerar ndo apenas os elementos cientificos e conceituais, mas também, as “[..] a5 condicBes socials, econdmicas e culturais [..]”. Destacando alguns pontos, 0 primeiro é o embate, entre, de um a lado, aqueles saberes ndo-cientificos {introspectivos, privados e; de outro, 2 necessidade de colocar tais saberes sobre uma légica validadora (leis, conceitos, regulagies) que possibilitaria um controle técnico e de reproducao social. EO segundo as divergéncias e as oposicées que contrapée, em decorréncia do primeiro ponto, que caracterizam diferentes perspectivas (a Medicina, a Administracao, a Educacio, as Ciéncias Sociais, a Filosofia, etc.), cu seja, uma ampla variedade de matrizes que reivindicam s saberes “Psi”. 3.1 As matrizes da Psicologia Figueiredo (2008), identificou diferentes tipos de matrizes, que refletem seu arcabouco teérico, caracterizam, amblguo. Segundo 0 autor, por "(...] causa disso, na histéria da psicologia, a ordenaco no tempo das inovacdes tedricas e das descobertas empiricas 66 é tarefa razodvel [..” quando estes estdo contextualizados e localizados de modo bem preciso quanto 4 corrente que as produziu, Neste sentido, é possivel citas as seguintes matrizes identificadas por ele, As Matrizes Cientificistas: a matriz nomotética e quantificadora; a matriz atomicista e ‘mencanicista; a matriz funcional e organista. As Matrizes Roménticas e Pés-romanticas: a matriz vitalista e naturista e; as matrizes compreensivas. E interessante notar que esta classificacao sinaliza, como o proprio autor destaca, a condi¢3o antagnica e assimétrica que a Psicologia se construiu. Uma vez que, representa diversa posigdes, influéncias e orientacdes intelectuais (irredutfveis) e no intercambidveis, umas com as autras. 19 Salienta ainda, que 56 é possivel conceber tal Torre de Babel, justamente, se conjuntamente a isto, perscrutar-se “T...] no contexto dos conjuntos culturais de que fazem parte e nas suas relacdes com © projeto [...] de constituigao da psicologia como ciéncia independente” (FIGUERDO, 2008, p.22). As matrizes cientificistas, concebem como objeto de estudo da Psicologia aquele especificado pela "[..] imitag3o mais ou menos bem-sucedida e convincente de modelos de pratica vigente, nas ciéncias médicas, exatas e naturais” (Ibidem, p.26-27). Ao passo que as matrizes romanticas e pés-romanticas que enfatizam e destacam um objeto de estudo, & Psicologia, mais delineado e centrado nos “[...] atos e vivéncias de um sujeito, dotados de valor e significado para ele [...J” (Ibidem, p.27). Assim, a identidade cientifica da Psicologia, sob esta matriz, é outorgada sob a premissa da busca de novas referéncias que legitimem suas abordagens. 3.2 As matrizes cientificistas ‘As matrizes empreendidas nesta tipologia mais ampla da Cientificidade, so marcadas pela adogio fiel dos modos naturais de fazer ciéncia. Como, por exemplo, a Matriz de ordem Nomotéticas e Quantificadoras. Tratase daquelas correntes tedricas que compreendem a existéncia de uma ordem natural a ser descoberta e identificadas. Os fendmenos psicolégicos e comportamentais, produtivamente, precisam ser compreendidos e catalogados. Para tanto, as técnicas e métodos criados, seguem a légica de que “[..] a Unica operagéo efetuada & 2 mensuracdo, sustentada na pura observacao ou na intervencdo [..|" (FIGUEIREDO, 2008, p.27). programada. O conhecimento produzido é guiado por uma légica e autocorreco constante, em que todo evento natural érevisado {através da experimentacio), vex apds ver a fim de situs-lo, corretamente, na ordem das coisas. $ 4 Figura 4 - Olhares cientificos Fonte: Amanda Goehlert, Istock, 2020. ‘#ParaCegoVer: Os fendmenos das teorias aqui abarcadas, sio preconizados e concebidos em termos de validade e experimentagao. A. HINTS a» < oe Plog JU LJ Figura 5 - Olhares romanticos Fonte: Undrey, Istock, 2020. ‘#ParaCegoVer: Matrizes Romanticas e Matrizes Pés-romanticas Os fendmenos das teorias aqui abarcadas, sdo preconizados e concebidos em termos de validade e experimentagio. Agora no que se refere as Matrizes Compreensivas, estas so guiados por um interesse comunicativo, nao ¢ 4 toa, que Figueiredo (2008) a classificou como de interesse comunicativo, em esséncia, pelas formas simbélicas do fenémeno psicolégico. Estruturadas em trés linhas, vejamos a seguir. Historicismo Ideografico Interessado em captar a vivéncia imediata do sujeito: significados, valores, sem generalizacdes esquemas formalizantes. Estruturalismo Focado na compreensio das estruturas geradoras de mensagens, suas regras, organizagées, formatos e processos. Fenomenologia Crédulo na premissa de que todo 0 conhecimento e juizo esta alicercado em uma estrutura cognitiva definidora de formas, de mecanicas, de processos, os quais se constituem e se validam, a simesmos. Cabe destacar que, as matrizes compreensivas se caracterizam, talvez com excec3o do estruturalismo, por secretaremo culto da experiéncia Unica. Isto é, algo que sinalizaa exclusividade da escolhae indeterminavel do ser psicolégico. Em contraponto 8s matrizes cientificas valorizam um pensamento psicolégico centrado na ideia de um sujeito, enquanto objeto de estudo, como qualquer outro, 20 Jé a Matriz Atomicista e Mecaniscista organiza suas premissas a partir “[...] de relacées deterministas probabilisticas, segundo uma concepedo linear e unidirecional de causalidade” (FIGUEIREDO, 2008, p.28). Neste sentido, 0 conhecimento é fruto da identificaco de elementos minimo que irio constituir 0 fenémeno alvo, no qual 2 realidade é a produtora do fendmeno, através da combinagdo de diferentes elementos. Isto significa que hé um comeco, um meio e um fim, entre a causalidade e o fenémeno em si. Uma temporalidade, ao mesmo tempo, atémica (estrutural), ‘em que conceitos, configuracées de fendmenos e, mecanica (linear), que apenas substitui o determinisma pelo probabilismo, na concepcao do seu objeto de estudo. Surge, ainda, teorias que se alicercam em uma matriz mais Funcionalista e Organicista. Segundo Figueiredo (2008, p.29), das trés matrizes cientificistas, a que mais influenciou (até tempos atuais). Ainda sob a légica cientificista, esta matriz recupera a concepcdo de que os: [.:] fendmenos vitais precisa ser explicados em termos de funcionalidade, dos seus ‘propésitos objetivas’ [pois trata-se de] fendmenos que evolulram e se mantém na interaclo com as suas consequéncias. Mais que isso: sa0 fendmenos que incorporam seus efeitos nas suas proprias definigGes. Diferente das outras matrizes, esta concebe o fenémeno tanto em sua causa quanto em sua consequéncia, ou seja, numa dindmica circular: um efeito é causa de outro efeito, uma causa é efeito de outra causa. Surge a premissa de que a parte (funcionalidade, organizacio, mecanica) é expresso de um todo: suas partes so interdependentes entre si, e do todo, e vice-versa. Isto implica que, a historicidade do fendmeno comega a implicar em seu acontecimento, De modo diferente do que se preconizou nas outras matrizes cientificistas (subdiviséo e identificago de elementos), na Matriz Funcionalista e Organicista se enfatiza a identificacdo e andlise de Sistemas Funcionals. Sob 2 égide da inteligibilidade cientifica, as escolas de pensamento oriundas desta matriz desenvolveram suas teorias sob uma légica que expresso algum valor e significa. E dai a concepgao de funcionalidade entre as diferentes partes do sistema 3.3 As matrizes Romanticas e Pés-Romanticas ‘As matrizes desta légica so, literalmente, tudo o que foi refugado pelas Matrizes Cientificistes. Traduzidas em atitudes e perspectivas intelectuais que concebem um cardcter qualitativo aos fendmenos psicoldgicos. No que tange @ Matriz Vitalista e Naturalista, so enfatizados conhecimentos que favorecam a vida espiritual do homem, a natureza fluida das coisas, uma vez que 0 interesse centifico é suplantado pelo interesse estético, de modo que “[...] se anulam as diferencas entre sujeitoe objeto doconhecimento ea diferencaentresere conhecer” (FIGUEREDO, 2008, p.32), Vale destacar as correntes humanistas e corporais da Psicologia, que mais forcam-se ras praticas clinicas e nas representagdes sociais do que em validacdes conceituais, 22 J4 as matrizes compreensivas concebem um pensamento psicoldgico norteado pela premissa de um sujeito retraido a si mesmo (subjetividade), livre 4 sua prépria priséo: indetermindvel, exclusiva e irreproduzivel, em suma tinico. Este ziguezague conceitual, para estudiosos da Histéria da Psicologia, tais como Schultz e Schultz (2008), Figueiredo (2008), Figueiredo; Santi (2008), Abib (2005), e muitos outros, é uma das marcas idenitérias. A histéria dos preceitos e conceitos psicolégicos, em grande parte, revela 2 presenca de varias filosofias cientificas, que “correm por baixo” (ADDIB, 2005) de suas correntes @ escolas de pensamento, uma verdadeira ‘colcha de retalhos’, que entrelaca diferentes crencas metafisicas, epistemoldgicas, sociais etc. A cada intérprete de seus fenémenos, a Psicologia, com suas proposicies e entendimentos, revela-se mais e mais moduldvel Figueiredo e Santi (2008) Utilize 0 QR Code para assistir ao video: 4 CONSTITUICAO DA PSICOLOGIA COMO CIENCIA Ao inicio de uma ciéncia, de um ramo cientifico, torna-se imprescindivel a consecucéo de um projeto e, por conseguinte, de marcos que concretizam e materializam suas etapas. No caso da Psicologia, se, nos seus primérdios, houve todo um conjunto de pré-condigées socioculturais, no século XIX, para sua condicao cientifica, a citar: a experiéncia da subjetividade privatizada, a Modernidade e sua consequente crise e efeitos subjetividade, o sistema mercantile a individuacdo, a ideologia liberal iluminista, romantica e 0 regime disciplinar. Cabe destacar trés projetas, como apresenta Figueiredo e Santi (2008): 0 projeto de Wundt, o projeto de Tichner e 0 projeto funcionalista, quese sinalizam como marcos para a emergéncia de uma ciéncia psicokigica independente, 4.1 A Psicologia Intermediaria de Wundt Willhem Wundt, psicélogo alemdo, ostenta o reconhecimento de fundar, pioneiramente, © 23 primeiro projeto de uma psicologia cientifica de forma independente. Ao criar de um conjunto de instituicdes voltadas a acdes de pesquisa e ensino da Psicologia, formando assim um expressive niimero de profissionais: psicdlogos (FIGUEIREDO;SANTI, 2008; TORMAN, 2015). A partir de uma viséo interscectiva, Wundt concebia a Psicologia como posicionada entremeada por outras ciéncias: da natureza e da cultura. Neste sentido Wundt, produziu uma extensa obra que variou entre experimentos fisiolégicos e socials, Justamente, por qué Wundt interessou-se na experiéncia imediata do individuo, como ele a vivencia, antes mesmo de se por a pensar sobre ela [..] Contuéo, Wunet no reduz a tarefa ca psicologia & descriedo dessa experiéncia subjetiva. Ele quer iralém e tentafazé-lo de duas formas: a) utilizando 0 método experimental, ele pretence. pesquisar 10 processos elementares da vida mental que sto aqueles processos mais fortemente determinados elas concigGes fisicas do ambiente e pelas concigdes fisiolOgicas cos oxganismos. Com 0 método experimental, em situages controladas de laboratério, Wundt procura analisar os elementos da experiéneia imediata e as formas mais simples de combinagao desses elementos. Mas isso é apenas 0 comeco da psicologia, e nao € o mais importante para Wundt;e b) por meio ¢a andlse dos fendmenos ccutturals - como alinguagem, os sstemas religiosos, os mitos, etc. (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, 9.62-63). De modo muito caracter/stico, a Psicologia wundtiana posicionava-se entre duas causalidadet a fisica e a psiquica, entre principios fisicos/fisiologicos e principios que explicariam a conduta humana. Os preceitos do projeto experimental de Wundt buscavam, justamente, articular estas duas causalidades, tentando explicar como elas interagia, integrando-se, em uma dindmica psicofisica. Figueiredo; Santi (2008, p.63) destaca que, mesmo sem perceber, Wundt ja iniciou nao uma Psicologia, mas sim duas ciéncias psicolégicas: L.Jala psicologia fisio\6gica experimental, em que a causalidade psiquica é reconhecida, mas no Genfocada em profuncidade -e nesse sentido no se cria nenhum problema mais sério para ligar essa psicologia as citncias fisicas e fis'l6gicas; eb) a psicologia social ou “dos povos", cua preocupaco & exatamente a de estudar os processos criativos em que a causalidade psfquica aparece com mais forga. Em sintese, justamente, por conceber o fenémeno psicolégico como sendo vasto e complexo, que demandava um suporte interseccional, entre as ciéncias naturais e as socioculturais, Wundt inaugurou um marco inaugural para a psicologia. 4.2 A Psicologia Estruturalista de Titchener Aluno de Wundt, 0 psicdlogo americano Edward Bradford Titchener, é considerado 0 tesponsavel pela divulgacdo da obra de seu mestre em terras estadunidenses. Suas premissas de estudo estabelecem néo mais na experiéncia imediata de um sujeito psicofisico, mas sim, na experiéncia dependente de um puro organismo: um sistema nervoso. 0 foco vai além da experiéncia em sim, como pensado por Wundt. Titchener basela-se nas justificativas fisiolégicas da vida mental (FIGUEIREDO; SANTI, 2008). 24 QS FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre a fundacdo do Laboratério de Wundt convido vocé a ler 0 texto de Saulo de Freitas Araujo (2009), intitulado “Wilhelm Wundt e a fundagao do primeira centro internacional de formacéo de psicdlogos”. ARAUIO, S.F. Wilhelm Wundt e a fundacio do primeiro centro internacional de formacio de psicblogos, Temas psicol., Ribeitdo Preto, v.17, n.1, p.09-14, 2009. Disponivel em: http:// pepsic.bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X20090001000028ing=pt &nnm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020. As explicagées psicolégicas do projeto de Titchener esté alicercada, de modo emprestado, de conceitos oriundos das ciéncias naturais, L-Jcom isso, apsicotogia deixade ser tao independente como pretencia Wundt. Em compensacio, comega a desaparecer o problema com a unidade psicofisica:Titchener defende a posigao cenominada paralelismo psicofisico, em que 0s atos mentals ocorrem laco a lado a processos psicofisiol6gicos. Um iio causa o outro, mas ofsioldgico explica o mental FIGUEIREDO; SANTI, 2008, p.65) Titchener tem baseado na Idgica de que é possivel fazer uma Psicologia exclusivamente, em métodos como a experimentaglo e a observac3o. Sendo que, em terras psicoligicas, tais métodos, em especial observacio, seriam empreendidos a partir de auto execuco, Os sujeitos (treinados) seriam capazes de descrever, objetiva e detalhadamente, suas experiéncias subjetivas (em experiéncias laboratoriais). Assim, em primeiro a Psicologia, em sua esséncia, precisaria focar, tao somente na descoberta ena compreensao da natureza das experiéncias conscientes elementares. Jé em segundo lugar a consciéncia deveria ser analisada de forma estrutural (TORMAN, 2015). QS FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre a proposta metodoligica de Titchener, convido vocé a ler o texto de Cintia Fernandes Marcellos (2014), intitulado “O Introspeccionismo Ainda No Considerado: 0 Caso de Edward Titchener”. MARCELLOS, CF. © Introspeccionismo Ainda Nio Considerado: 0 Caso de Edward Titchener. Psicol. pesq., Juiz de Fora, v.8, n.1, p.127-131, jun.2014. Disponivel em: http:// pepsic bvsalud.org/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472014000100012&Ing=pt &inrm=iso. Acesso em: 28 mar. 2020 26 exclusivamente, via a relacao entre estimulos e respostas. Suas descobertas tiveram grandes impactos na area da Educacio, de modo & contribuir com a inserc3o da psicologia tanto como disciplina aplicada na area educativa quanto como um ramo diversificado (Psicologia da Educago). € dele a chamada Lei do Efeito (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009), bastante cara a correntes psicoldgicas mais contemporaneas, como o behaviorismo radical, por exemplo. 5 A CONSTRUGAO DO CONHECIMENTO EM PSICOLOGIA Como destacado por Figueiredo e Santi (2008, p.17) 0s projetos cientificos para uma Psicologia independente, precisam ser entendidos em funcio das condicSes socioculturais que 0 circunscrevem [1 as condigdes para a emergéncia de projetos ce psicologis cientifica eram duas: a) um alto nivel de elaboracio da experiéncia subjetiva privatizada; e b) a crise dessa experineia, com 0 reconhecimento de que 0 sujeito no ¢ t8o livre coro julga, nem t80 Gnico como cr8. € isso que leva & necessidade de superar a experiencia imediata para compreendé-ia e explicérla melhor, Seja pela via das Ciéncias Naturais, em que alguns projetos tentaram explicar — fisiolégica, biolégica e objetivamente —os fenémenos psicolégicos. Seja pela via das Ciéncias da Sociedade e das Culturas, em que foram enfatizados aspectos mais subjetivos e menos observavels, Dois lados de uma moeda, facilmente perceptivel e de cificil compatibilizacao, De um lado uma perspectiva cientifica em que a objetividade é a premissa basica, e que se vale da identificago das forcas biolégicas e ambientais que causa, produzem e controlam 0 comportamento, de modo a reproduzi-to. No oposto, outra perspectiva que se presta a capturar as vivéncias, de modo intimoe privativo, mas que néo se interessa em causas nem efeitos, mas sim, no como, no estado, na condicao. Tanto comportamentos quanto vivéncias sao lados de uma moeda dificeis de articulacao. Figueiredo e Santi (2008, p.87), tentam explicar esse aspectos, pontuando que [Lo] n6s no somos para nds mesmos facimente compreensive's, nem sabemos a0 certo como somos, por que somos € por que agimos de uma ou de outra manera, Ora, isso reflete muito bem a nossa cordicfo existencial: ternos ume dara nogdo, vivemos intensamente e atriouimos um alto valora nessa exaeriéncia da subjetividade privatizads e, ao mesma tempo, sentimos que nossa subjetividade ce nossa individualidade esto ameacadss. Estas diferentes linhas de pensamento, que dividem e compée a psicologia cientifica contemporanea, no ocorrem por acaso. Elas so expresséo do estado natural produzido no seio de sua condicéo de ciéncia independente: a crise. seja a subjetividade a ser compreendida, 25 Se Wundt serviu de subsidios para a moderna psicologias cognitivas e a contemporanea psicologia social, e mesmo a psicolinguistica; Titchener se esforgou e agregou & Psicologia seu carater subordinativo as Ciénclas Naturals, multas das correntes de pensamento atuals, em especial aquelas que se articulam com as Ciéncias Naturais, devem aos estudos de Titcherner, muitas de suas premissas e referencias. 4.3 A Psicologia Funcionalista de James William James, expoente da Psicologia Funcional, concebia uma Psicologia - alicercada nas Ciéncias Naturais — interessada nos processos, operacées e atos psiquicos (mentais) como forma de interacdo adaptativa (FIGUEIREDO; SANTI, 2008). Sob a légica evolutiva de que os seres vivos {homens e outros animais) s6 sobrevivem se portadores de caracteristicas que permitam sua adaptago ao ambiente que os circundam. ‘APsicologia FuncionaldeJames, pressupde, que ascaracteristicasorganicase comportamentais, evoluem, e por efeito, adaptam o individuo (ou qualquer ser vivo) a0 ambiente L-]eerto nivel de adagtagao envolve as capacidades de sentir, pensar, decidir, etc, ou seja, o nivel propriamente psiquice. As operacdes e pracessas mentais seriam, assim, instrumentos de adaptagao e se exoressariam claramente nos comportamentos adaptados (FIGUEIREDO; SANTI, 2008, 9.63). Mas para compreender com tais processos mentais operam no cotidiano humano, é preciso uma ‘ampla variedade de técnicas e métodos de pesquisa. A mente pode ser estuda, de modo confivel,, 1ndo pela introspeccao titcheneriana, mas sim, pela observacao dos comportamentos adaptativos. FIQUE DE OLHO Para saber mais sobre a teoria funcionalista de James, lela o texto de Saulo de Freitas Araujo de Aldier Félix Honorato (2017), intitulado “Para Além dos Principios de Psicologia: Evoluczo e Sentido do Projeto Psicol6gico de William James” 4.44 Psicologia Associativa de Thorndike Edward Lee Thorndike, é o principal representante do Projeto de Psicologia, denominado Associacionismo. Centrado, principalmente, por desenvolver pesquisas comportamentais com animais de modo comparativo ao comportamento humano, especialmente, aqueles manifestos. Quseja, aqueles que pudessem ser observados e mensurados (TORMAN, 2015). Thorndike concebe uma Psicologia centrada na objetividade. Seu foco era compreender @ aprendizagem, ndo em termos subjetivos, mas sim, no 4mbito das concessées concretas, £. 27 perscrutada; seja o comportamento a ser observado, mensurado e sequenciado; a Psicologia, encontra-se, desde seu inicio, em uma constante intermediacao de seus conhecimentos com outros saberes cientificos, naturais e sociais. Utilize © QR Code para assistir a0 video: A producae de conhecimento psicolégico sobre a vida humana é perpassada por modos de pensar praticas cientificas, sociais, profissionais e humanas. Esses modos atravessam tanto a execucéo de comportamentos quanto a sua observacao. Neste sentido, a todo momento a Psicologia, enquanto ciéncia independente, designa-se em uma constante crise, intercambiando conhecimento com outras 4reas do saber, seja para seus préprios movimentos, seja, para subsidiar os movimentos de outras areas que de tais conhecimentos faca uso das Ciéncias Sociais, Aplicadas, Educacdo, Pedagogia, Administracao, Ciéncias da Satide ete, 28 Nesta unidade, vocé teve a oportunidade de: + descrever a evolucao histérica da psicologia e suas relagbes com as cléncias humanas e sociais; + demonstrar a psicologia na contemporaneidade e seus desafios; * introduzir as questées relativas a psicologia, sua constituicdo enquanto conhecimento cientifico. * conhecer a contrugéo do conhecimento em Psicologia. «a 1 CONSTRUCAO DO CONHECIMENTO EM PSICOLOGIA Ao partir do pressuposto de que a Psicologia é classificada como uma ciéncia pura e aplicada, podemos perceber que a teoria e a pratica sdo indissocidveis, uma vez que 0 conhecimento cientifico desenvolvido pela Psicologia prové o alicerce para que o psicdlogo possa atuar em diferentes campos e orientar sua atuacdo a partir de diversas abordagens tedricas, Também, podemos analisar a Psicologia como uma area de ensino, pesquisa e profissao. Entretanto, para que alguém possa atuar como psicélogo & necessério que possua graduaco em Psicologia e, aqui, estamos destacando a importéncia da formacdo (ensino) deste profissional, bem como de todo 0 conhecimento construido e em construgo (pesquisa) da ciéncia psicologica © conhecimento empirico e do senso comum sao utilizados cotidianamente pelas pessoas para orientar suas ages e decisdes, mas, eles podem propiciar compreensées imprecisas ou equivocadas da realidade. Por outro lado, o conhecimento cientifico, por ser validado e pautado na fidedignidade, confiabilidade e racionalidade pode ser entendido como o principal insumo para potencializar intervencdes profissionais assertivas. A conhecimento cientifico da Psicologia tem se estruturado ao longo do tempo pela diversidade @ funcionalidade dos seus modelos tedricos-metodolégicos de acesso e compreensao do fendmeno psicolégico. “De fato, abordagem cientifica em Psicologia é um processo dindmico entre a reflexdo tedricae a possibilidade de verificacdo de fenémenos psicolégicos na realidade” (CRUZ, 2016a, p.251), Teoria ratica Figura 1 - Relacao teoria e pratica Fonte: Media Pix, Shutterstock, 2020, ‘#ParaCegoVer: na imagem temos a palavra teoriae apalavra pratica ligadas com flechas que se fetroalimentam, ilustrando que a teoria e a pratica formam uma relacao dialética e indissociével. 34 Aanilise das bases epistemolégicas da Psicologia permitem compreender como se estruturou 9 modelo tradicional de atuagdo e produco do conhecimento nos principais espacos de atuac3o do psicélogo que, por décadas, concentrou-se na clinica, na escola e na industria. Quando pensamos nos avangos e alternativas para 2 construgdo do conhecimento em Psicologia, devemos ter em mante que as transformagées da sociedade, impulsionadas pelo desenvolvimento tecnoldgico e mudanca de valores, direcionam as necessidades de redefinicao das tematicas da Psicologia e dos métodos e procedimentos de acesso aos fenémenos psicolégicos @ de intervencao sobre os mesmos. Utilize o QR Code para assistir ao video: Em outras palavras, a construgao do conhecimento em Psicologia ea apropriagio de conceitos métodos de outras reas, ampliam as possibilidades descritivas, explicativas e preditivas dos fenémenos psicoligicos. Portanto, é apoiada na ciéncia que a Psicologia conquista legitimidade e espaco de atuacdo em diferentes contextos. 1.1 Avanoos ealternativas para a construcao do conhecimento em Psicolog Caro estudante, voo8 sabe como caracterizados 0s primeiros modelos de intervengéo em Psicologia? Vamos pensar, por exemplo, a respeito dos primérdios da Psicologia nas organizacées. A atuacio dos psicélogos industriais levava em considerac3o, apenas, os fatores individuais relacionados aos problemas que deveriam ser solucionados como o ajustamento no trabalho, por meio da busca da pessoas certa para o lugar certo. © foco, aqui, era a andlise do perfil de personalidade e de inteligéncia para apoiar as atividades de selecao e orientacao profissional, desconsiderando outras variéveis do desempenho humano. Com 0 passar do tempo, os fatores sociais e ambientais passaram a ser incluldos para se compreender @ multideterminacao dos fendmenos psicolégicos. Paratanto, novos conhecimentos 35 se fizeram necessarios. Uma outra forma de refletirmos sobre o processo de evolucio da construcdo de conhecimento em Psicologia € pela andlise de livros, que discorrem sobre a histéria da Psicologia e, com fins de exemplificacao, poderiamos mencionar o trabalho de Jacé-Vilela et al (2018) quando abordam 0 conhecimento produzido na érea, nos ltimos séculos, ndo restringindo-se, apenas, as produgdes europeias e norte-americanas, incluindo as brasileiras. [..] A Psicologia, organizada em tornode um corpus cientifco, ou seja, um conjunto ce evidéncias ce andlises tebricas acerca de fatos e fendmienos humanos, produziu, ao longo da segunca metade do século XX, as concigbes necessarias a0 processo ce lnstitucionalizacdo ca profissdo de psicblogo no Brasil”. Adjetivar a Psicologia como ciéncia € profissao, portanto, resulta da compreensio historica da necessidace de associar um corpus cientiico a um projeto de intervencao profissional em diferentes contextos socials (CRUZ, 2016, p. 2511. Para caracterizar a Psicologia Contemporadnea, enfatiza-se 0 didlogo da érea com o contexto social, defendendo-se a premissa da influéncia sdcio-histérica na constitui¢ao e formacdo do ser humano. Para subsidiar este entendimento, resgata-se as construcées referentes a Psicologia das Massas, 0 pensamento das Escolas de Frankfurt e de Chicago, 0 movimento institucionalista, a teoria das representacdes socials e a incorporacéo das idelas marxistas para subsidiar a abordagem critica da Psicologia (JACO-VILELA et al., 2018). Dizemos, ainda, que 0s avangos para a constru¢do do conhecimento em Psicologia esto ciretamente relacionados as atividades de pesquisa. Os achados das investigacées cientificas alimentam o desenvolvimento e a aplicacao de principios cientificos em diferentes contextos de atuacao do psicélogo, potencializando as intervengSes profissionais, bem como instigando novas demandas sociopoliticas e tecnolégicas 4 serem investigadas. Segundo Spector (2012), a pesquisa fornece prinefpios que podem ser utilizados na pratica A atuagSo profissional, portanto, incorpora principios psicolégicos que sto colocados em pratica para intervir em problemas do mundo real, por exemplo, desenvolvimento de competéncias Rerenciais em programas de treinamento corporativos. Para que possamos ter uma ideia dos diferentes assuntos que so investigados no ambito académico nas diversas especialidades da Psicologia, tomemos como base a estruturacdo fornecida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnoldgico (CNPq). Essa estrutura é conhecida como arvore do conhecimento, formada por uma hierarquia de quatro niveis, que vao do mais geral aos mais especificos, como: 1° nivel - Grande Area; 2° nivel — Area; 8 nivel - Subsea; e 42 nivel - Especialidade (CNPQ, 2018). Especificamente em relago & area da Psicologia, a mesma encontra-se subordinada a grande rea de Ciéncias Humanas, derivando-se em diversas subareas e especialidades. A. 36 L&— FIQUE DE OLHO A classificacio das Areas do Conhecimento constitui um instrumento de sistematizacao da informagao proveniente de atividades de pesquisa em ciéncia, tecnologia ¢ inovacdo. Esse tipo de classificacdo permite organizar e padronizar as pesquisas na rea Psicologia, bem como orientara investigacdo do estado da arte da produco do conhecimento em Psicologia, Para que vocé possa ter uma ideia dos tipos de pesquisa em andamento ou concluides, lassificados na rea Psicologia, no estado de Sao Paulo, por exemplo. A representacao do conhecimento em uma estrutura classificatéria e de organizagdo dos dados da produco cientifica publicada e de outras atividades de Ciéncia, Tecnologia e Inovacso (C8«T1) serve como um instrumento de gestdo e avaliacdo com fins de subsidiar o planejamento, implementacao, monitoramento e avaliacao de politicas ptiblicas (SOUZA, 2004). Utlize 0 QR Code para assistir ao video: 2 PSICOLOGIA COMO PROFISSAO NO BRASIL Com rela¢ao 3 profissao do psicélogo faz-se pertinente considerar as questées de sua formacdo académica, uma vez que a partir da regulamentacdo da profissio, a concluséo do ensino superior no curso de Psicologia é condicao indispensavel para o exercicio legal da profissio, A temética formacao acad@mica do profissional, jd vem sendo estudada desde 1964 a partir dos trabalhos de Angelini e Maria, Benko e Azzi (YAKAMOTO et al, 2010). Quase duas depois, 4 havia mais, de cem trabalhos abordando esta tematica. Em relaco a profissao, Yakamoto et.al (2010) afirmam que No inicio do século XX! jé havia em torno de mil documentos de naturezas diversas sobre o assunto. Conforme abordado anteriormente, é claramente perceptivel que a demanda social, cultural, tecnoldgica, politica e ecanémica da sociedade e do mercado de trabalho influenciaram a diretamente as searas da academia. E com base neste entendimento que iremos abordar agora 4 Histéria da Psicologia brasileira e seus marcos cronolégicos 2.1 Histéria da Psicologia brasileira e seus marcos cronolégicos A profissionalizaco da Psicologia, no Brasil, foi marcada, segundo Pereira e Pereira Neto (2003) e Jacé-Vilela (2012), por trés momentos principais, assim denominados: pré-profissional; profissionalizagao e profissional. Vejamos, a seguir. Pré-profissional (1833-1890): periodo marcado pela falta de sistematizacao dos saberes e praticas psicolégicas e nao regulamentacdo da profisséo de psicélogo; Profissionalizac&o (1890-1975): periodo caracterizado pelos a génese da institucionalizac3o da pratica psicolégica até culminar com a regulamentacao da profissao e o estruturacdo dos dispositives formais; Profissional (1975): periodo marcado pela organizacao e consolidacao da profiss4o.e demanda crescente pelos servicos em fungio de significativas mudancas culturais, econémicas, sociais e politicas ocorridas no pais e disseminacdo das faculdades de Psicologia, gerando um excedente de profissionais no mercado do trabalho. Para discorrermos sobre os principats acontecimentos que impulsionaram a institucionalizacso @ consolidacio da profiss4o do psicblogo brasileiro, vamos conhecer alguns fatos marcantes corridos ao longo dos séculos XIX XX, e compartilhados por meio das publicagdes do Conselho Federal e de Psicologia e de Conselhos Regionais, tais como 0 do estado de Sao Paulo, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, para comemorar, em 2012, os 50 anos de profissionalizacio da Psicologia no Brasil No Brasil, até 0 inicio do século XXI, nao existia a Psicologia enquanto campo de atuac3o profissional. Seu surgimento foi impulsionado pelos interesses da classe dominante pela producdo @ aplicacao de saber e praticas da Area. A chegada da familia real no Brasil, em 1808, e a proclamaco da independéncia, em 1822, provocaram significativas mudancas de natureza social, cultural, econémica e politica que culminaram com 0 surgimento dos primeiros cursos superiores e das sociedades cientificas, Dentre eles, destaca-se 2 oferta do curso de Medicina, em 1833, na Bahia e no Rio de Janeiro, 0s estudos ali desenvolvidos, norteavam-se, de preferéncia para a aplicac3o social da Psicologia, para a Criminologia, pata Psiquiatria Forense e Higiene Mental (SOARES, 2010). [No século XIX, coma transferéncia da corte portuguesa para Bras, foram criadas instituigdes Gestinadas & aéministra¢ao pablica e a vida cultural, como bibliotecas, academias e insttuigdes ce ensino, Facuidades de Mecicina e de Direlto, Escolas Normals. Salvador € Rlo de Janelro tornam-se 38 grandes centros ursanos, apresentando problemas relacionados a0 aumento de um contingente opulacional excluido das condigdes minimas de dignidade, como os leprosos, joucos, prostitutas, alcodlatras, criangas abandonadas, muitos dos quais exescravos que, jé no mais produtives, eram abandonados & propria sorte e se tornavam alvos de préticas higienistas, como a recluso em prises e hospicios, respaldada pelo discurso médico (CRP/SP, 2011, p. 7) Nesta época, observava-se que a aplicagio dos conhecimentos psicolégicos para enfrentamento de problemas sociais de ajustamento e sua relacdo coma 4rea da neuropsiquiatria e neurologia para compreensdo e tratamento dos problemas de satide mental. Soares (2010, p. 12) corrobora este entendimento afirmando que “[...] 5 primeiras contribuigdes para o estudo da Psicologia, no Brasil, sio oferecidas por M&dicos”. A partir de 1840 foram construidos os primeiros hospicios no Brasil, com fins de oferecer tratamento adequado aos ‘loucos’ (CRP/SP, 2011, p. 8). Em 1890, houve uma importante reforma, denominada Reforma Benjamim Constant que Incorporou a disciplina de Psicologia no curriculo das Escolas Normais, podendo perceber aqui sua relagdo com as questdes de aprendizagem. Segundo Soares (2010, p. 19), “[...] a reforma intraduziu nogdes de Psicologia para a disciplina de Pedagogia”. Em 1906 é criado 0 primeiro Laboratério de Psicologia Experimental, no Rio de Janeiro, Em 1922 foi instituida a Liga Brasileira de Higiene Mental, que dentre suas diversas acdes, promoveu as Jornadas Brasileiras de Psicologia com fins de estimular o interesse pela pesquisa pura e aplicada em Psicologia (SOARES, 2010). Segundo Jacé-Vilela (2012, p. 35), “[... 0 movimento higienista aparece com um carater missionario, progressista, de melhoria das condicSes de vida das camadas mais pobres da populac4o”. Mesmo com a organizagéo do movimento higienista que, pregava melhoria nas condi das classes menos abastecidas da sociedade, a historia da Psicologia brasileira demonstra ter tido pouca ou praticamente nenhuma contribuico de melhorias na vida da maioria da populacéo. Na verdade, durante um longo periodo, “[...] o saber psicolégico foi utilizado como instrumento politico-ideolégico ligado aos interesses das elites brasileiras” (BOCK, 2004, p.1), © mote principal era livrar a sociedade da desordem e dos desviantes.. Nesta direcdo, em 1923, também em terras fluminenses, foi instalado 0 Laboratério de Psicologia Experimental, na Coldnia de Psicopatas do Engenho de Dentro. Segundo Soares (2010, p. 15), 0 laboratério “L...] preparou profissionais de diversas especialidades, Foi o primeiro centro brasileiro de pesquisa pura, em Psicologia” Quase uma década depais, em 1932 é criado o Instituto de Psicologia da Secretaria Estadual de Educagao e Satide Publica com fins de formar profissionais. Entretanto, o mesmo foi fechado em menos de um ano de funcionamento, sendo reaberto somente em 1937, quando foi incorporado A Universidade do Brasil a Em 1934,a disciplina Psicologia Geral passou a ser obrigatdria nos cursos de Filosofia, Ciéncias Sociais, Pedagogia, na Universidade de Séo Paulo (USP) e assim surgiram as primeiras Catedras de Psicologia. Pré-profissional (1833-1890) Perlodo marcado pela falta de sistematizacdo dos saberes e praticas psicolégicas e ndo regulamentacao da profissdo de psicélogo. Profissionalizaco (1890-1975) Perfodo caracterizado pelos a génese da institucionalizacao da pratica psicolégica até culminar com a regulamentagio da profissao e o estruturacao dos dispositivos formais. Profissional {1975 até os dias atuais) Periodo marcado pela organiza¢ao e consolidacao da profisséo e demanda crescente pelos servicos em funco de significativas mudancas culturais, econémicas, sociais e politicas ocorridas no pais e disseminacao das faculdades de Psicologia, gerando um excedente de profissionais no mercado do trabalho. O final des anos de 1930, demandoua necessidade de amparar nos conhecimentos psicoldgicos, para orientar os primérdios da industrializacao brasileira e consequente urbanizacao dos grandes centros com fins de “ [...] favorecer a organizagio do trabalho, mas também para atuar nas escolas e clinicas infantis, principalmente” (BERNARDES, 2009, p.10, apud SILVA BAPTISTA, 2010, p. 172), Na década de 1940, os conhecimentos de Psicologia s4o demandados na drea do trabalho para ajudar no processo de industrializacao do pais, buscar 0 ajustamento dos funcionarios realizar processos de recrutamento e selacio de pessoal. Segundo lacd-Vilela (2012), so criadas neste periodo, as primeiras AssociacSes de Psicologia e os primeiros peridicos cientificos para disseminagéo do conhecimento em Psicologia. Conforme Angelini (2011), em 1945 é criada a Sociedade de Psicologia de Sao Paulo (SPSP) @ seu periddico intitulado Boletim de Psicologia, tem sua primeira edicao publicada quase meia década depois. Segundo Costa et al. (2010), 0 objetivo da SPSP estava ligado & articulacdo do desenvolvimento da Psicologia como ciéncia e profissdo, por meio do intercambio entre profissionais e académicos vinculados a area da Psicologia e & areas afins. Com a criagdo das associagées da érea ea veiculacdo de periédicos especializados, a Psicologia se institucionaliza € se consolida como “ uma ciéncia capaz de formular teorias, técnicas € préticas para orientar e integrar 0 processo de desenvolvimento demandado pela nova ordem politica e social” (CRP/SC, 2011, p. 12). Os servigos psicolégicos sao praticados na area da clinica, trabalho e educacdo e subsidiados pelo uso de testes e procedimentos de avaliacéo psicalégicos, principalmente, na regio sudeste, nas instituigées piblicas de orientaco infantil 40 Em 1946, é elaborado 0 Decreto Lei n. 9.092, ampliando o regime didético das Faculdades de Filosofia, referindo-se & drea da Psicologia, no art. 4, parégrafo 1, ao obrigar os alunos do quarto ano de licenciatura, a cumprirem um curso de Psicologia Aplicada & Educaco. Dois meses depois, em abril, o Ministério da Educagio e Satide, publica a Portaria n, 272 que determina que 08 diplomas de especializacio em Psicologia esto & aprovaco nos trés primeiros anos do curso de Filosofia, bem como em cursos de Biologia, Fisiologia, Antropologia, Estatistica, e em cursos especializados de Psicologia e estagio em servicos psicolégicos. Em 1947, Mira Y Lopez cria o Instituto de Selecdo e Orientacao Profissional (ISOP), no Rio de Janeiro, oferecendo diversos cursos de extensdo (JACO-VILELA, 2012). No ano seguinte é publicada a obra “Psicologia Evolutiva da Crianca e do Adolescente” (SOARES, 2010) [4] Aqui encontramos expicitamente a atuacio profissional do osicdlogo, chamaco as vezes de psicotécnico ou ce psicolog'sta. Nao mais subsumido sob.o mando da ecucacde, 0 profissional dofinal cos ‘anos 40 em clante esta no campo ca selegao e ¢a orientagao profissional, como no ISOP (ou na Estrada {Ge Ferro Sorocabana, em S80 Paulo, ou ainda no Banco da Lavoura, em Belo Horizonte), esta nas escolas, Principalmente nas excerimentais, e comega a atuar na clinica, realizando psicodiagnéstico infanto- |uventil, orientagdo de pals e mesmo ortentagdo vital. Em todos esses campos, os testes psicolOgicos ser30 0 instrumental privilegiad para a atuaco do novo profisional (JACO-VILELA, 2012, p. 38} Em 1949 sto proferidas palestras sobre “A profissao do psicdlogo e a Associacdo de psicdlogos norte-americanos: sugestSes para a organizac3o de nossa sociedade” e “Impresses de viagem de estudos a centros europeus”. O objetivo subjacente a esses eventos era promover discussdes com fins de esclarecer a existéncia da profisséo e descrever atividades desenvolvidas em outros paises que poderiam servir de inspiracao (SILVA BAPTISTA, 2010). Em 19516 publicado o artigo “Aspectos da orientago e selecdo profissional na Europa” e, em 1953 o artigo “Requisitos basicos da formacao de psicologista” (SILVA BAPTISTA, 2010). Em 1953 é ofertado 0 curso de especializacdo em Psicologia na Pontificia Universidade Catélica (PUC) do Rio Grande do Sul, bem como organizado o | Congresso Brasileiro de Psicologia Em 1954, 0 problema da regulamentacao da profissdo é exposto num ante projeto de lei € apresentado ao Ministério da Educacao, pela Associaco Brasileira de Psicotécnica, que iIncorporava as 4reas escolar, clinica e do trabalho. Entretanto, o ante projeto foi vetado no que dizia respeito atuacdo clinica do psicdlogo, uma vez que este sé poderia atuar mediante & supervistio de um médico. Conforme Silva Baptista (2010, p. 180), em 1958, é elaborado, pela Comissdo de Ensino Superior do Ministério de Educa¢o, o Projeto de Lei n. 3825-A que discorria sobre a formacéo de psicologistas no Brasil. 0 Parecer n. 412 foi um complemento deste projeto que tratou dentre varios aspectos, “[..] da denominacdo psicologista a ser dada ao profissional — considerada mais adequada do que a de psicélogo (muito ampla) e a de psicotécnico (muito restrita)” (BRASIL, 1962, 41 online). Havia ainda uma ressalva de que era urgente regularizar a formacao deste profissional, uma vez que existiam autodidatas exercendo a profissao, além de serem contabilizados na época, mais de mil pessoas atuando na area da Psicologia, Em 1962 é aprovada a Lei n. 4.119, em 27 de agosto, assinada pelo presidente Joo Goulart, dispunha sobre os cursos de formacdo em Psicologia e regulamentava a profissao de psicélogo Essa lei seré devidamente apresentada no préximo tépico desta unidade de estudo. Dois anos depois, em 1964 é aprovado o Decreto-lei n. 53464, discorrendo sobre as atribuigdes do psicélogo. E importante destacar que os cursos de Psicologia se organizavam em um modelo teérico- metodolégico que pudesse contribuir para a formacao de um profissional liberal capacitado para ajudar 0 processo de ajustamento da sociedade aos interesses hegeménicos. Vianna et al. (2012) explicam que 0 processo de ajustamento enderecado a Psicologia brasileira tem como alicerce o modelo ocidental de pensamento, no qual compreende o ser humano como individualizado. Acompreensio individualizada do homem vai modificando-se com o avanco do conhecimento construldo em Psicologia, principalmente, por meio da contribuic&o de Vigotsky, quando propés um novo modelo a Psicologia, assentado a partir da abordagem histérica ¢ cultural de anélise dos processos psicoldgicos e consequente entendimento de que o ser humano deveria ser visto como produto e produtor de si mesmo e do meio no qual estava inserido (SILVA;HAl, 2011). Retomando a questdo do marco cronolégico, no que se refere ao Ambito da Pés-Graduacao stricto sensu, Gomes e Hutz (2010) assinalam que em 1966 é criado o primeiro curso de mestrado em Psicologia Clinica na Pontificia Universidade Cat6lica (PUC) do Rio de Janeiro e, oito anos depois, segundo, Otta et al (2011), 0 primeiro curso de doutorado em Psicologia Escolar e Psicologia Experimental, na Universidade de Sao Paulo (USP). Na década de 1970 havia uma preocupacao em relacio 20 que deveria ser feito comas pessoas que trabalhavam com demandas psicolégicas, tals como os diplomados em curso de Psicologia Clinica, Educagéo, Trabalho, funciondrios piblicos psicélogos, psicologistas, psicotécnicos doutores com teses relacionadas a area da Psicologia. 1949 Em 1949 so proferidas palestras sobre “A profissdo do psicdlogoe a Associacao de psicélogos norteamericanos: sugestées para a organizacdo de nossa sociedade” e “Impressdes de viagem de estudos a centros europeus”. 1951, Em 1951 6 publicado o artigo “Aspectos da orientagao e selecao profissional na Europa” e, em A, 42 1953 0 artigo “Requisitos basicos da formacdo de psicologista” (SILVA BAPTISTA, 2010). 1954 Em 1954, 0 problema da regulamentacéo da profissdo é exposto num ante projeto de lei € apresentado a0 Ministério da Educagio, pela Associacio Brasileira de Psicotécnica, que incorporava as 4reas escolar, clinica e do trabalho. 1958 Em 1958, é elaborado, pela Comissao de Ensino Superior do Ministério de Educacao, 0 Projeto de Lei n, 3825-A que discortia sobre a formago de psicologias, no Brasil Nesse periodo, também ¢ observada uma crescente oferta de cursos superiores em Psicologia @ um aumento da demanda por parte da sociedade, por servigos natureza psicolégica. No mbito das comunicagdes sociais, percebe-se que a Psicologia comeca a fazer parte do cotidiano dos brasileiros por meio da disseminaco de saberes psicolégicos publicados em revistas, veiculados ‘em programas televisivos, elaboracdo de manuais de comportamentoe livros sobre a sexualidade. Botomé (2010, p.172) corrobora este entendimento assinalando que a Psicologia estava “{...] na moda, ndo apenas nas revistas € livros, mas nas verbas de pesquisa, na proliferagaode cursos @ escolas e no ‘milagroso’ surgimento de novidades ‘Clinicas, ‘terapéuticas’ e outras capazes de fazer “tanto” pelos “problemas humanos”. No que diz respeito a regulamentacdo, orientacdo e fiscaliza¢zo do exercicio profissional, em 1971 fol aprovada a Lei n. 5.766, de 20 de dezembro, assinada pelo presidente Emilio G. Médici, criando 0 Conselho Federal (CFP) e os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Os conselhos so configurados como autarquias pautadas nestes propésites. A Lein. 5.766/1974, foi regulamentada pelo Decreto n, 79.822, de 17 de junho de 197. Ainda discorrendo sobre a criacdo dos Conselhos, antes da criacdo dos Conselhos, durante uma Assembleia Geral da Associacdo Brasileira de Psicologia (ABP), realizada em Blumenau no ano de 1966, por determinaczo do Cédigo de Etica dos Psicélogos Brasileiros, nomeou os integrantes do Conselho de Etica Profissional, com fins de “orientar a aplicagio deste Cédigo de Etica, zelar pela sua observancia e fiscalizar 0 exercicio profissional” (AMENDOLA, 2014, p. 666). © primeiro Cédigo de Etica dos Psicélogos Brasileiros foi oficializado por meio da Resolucao CFP n. 8, de 02 de fevereiro de 1975. Finalizamos aqui a retrospectiva histérica da profissdo do psicélogo brasileiro, destacando com fins de ilustra¢éo que, segundo Portugal e Souza (2018), em 2018 a quantidade de profissionais registrados no Conselho Federal de Psicologia, chegou no patamar de 325.052 43 psicélogos, podendo inferir, portanto, 2 consolidaco e importancia da 4rea para promocio de melhores condigées para o desenvolvimento da vida humana nos seus diferentes contextos de manifestacao. 3PROCESSODEREGULAMENTACAODAPROFISSAO NO BRASIL Caro estudante, vocé estudou a trajetéria da formacao do psicélogo brasileiro ao longo dos Lltimos séculos e deve ter notado que houve um movimento para, primeiramente consolidar ‘a Psicologia no ambito nacional, enquanto drea do conhecimento e, na sequéncia, uma série de fatos e decisdes que possibilitaram a profissionalizacao da area, tendo como consequéncia diversos profissionais atuando com demandas de natureza psicolégica Segundo Portugal e Souza (2018), 0s cursos universitérios regulares de Psicologia foram iniciados no pais nos anos de 1950, entretanto, somente na década de 1960 é que a profissao foi regulamentada, com a publicacdo Lei n, 4.119, de 27 de agosto de 1962 e é sobre ela que iremos abordar agora, Utilize 0 QR Code para assistir 20 video: 3.1 Lei n. 4.119 e Parecer n. 403/62 Conforme Antunes (2012), a referida lei estabeleceu os principios norteadores para a estruturacdo de cursos de formacio em Psicologia. Para a definicdo de parémetros a serem seguidos na estruturagéo dos contetdos a serem ensinados, 0 Conselho Federal de Educacdo definiu o curriculo minimo e a durago prevista para os cursos de Psicologia, nas habilitacdes de Licenciatura e Bacharelado, A, 44 Em termos de estruturacdo, a Lei n. 4.119/1962 estd organizada em 25 artigos (com seus respectivos pardgrafos e alineas), divididos em seis capitulos, assim distribuldos e sintetizados: Capitulo |: Dos cursos ‘+ Artigo 1: estabelece as Faculdades de Filosofia como Iécus da formacao de bacharelado, licenciado e Psicélogo. * Artigas 2 a0 4: foram vetados. Capitulo Il: Da vida escolar + Artigo 5: especifica a idade minima de 18 anos e a conclusdo do segundo grau e/ou curso equivalente para que o aluno possa ser matriculado no curso. + Artigo 6: especifica a exigéncia da apresentacao do diploma de Bacharel em Psicologia para que o aluno possa se matricular nos cursos de licenciado e Psicélogo. * Artigo 7: faculta a cada escola exigir outras condigSes para matricula nos diversos cursos de que trata esta lei. + Artigo 8: discorre sobre a dispensa das disciplinas em que o aluno foi aprovado em cursos superiores, anteriormente realizados, conforme proposta e critério do Conselho Técnico- -Administrativo e aprovacao do Conselho Universitario da Universidade. * Artigo 9: esclarece que serao regidos os demais casos da vida escolar pelos preceitos legais do ensino superior. Capitulo IV: Das condiges para funcionamento dos cursos + Artigo 15: autoriza os cursos de Psicologia e respectivas habilt em Faculdades de Filosofia, Ciéncias e Letras. es, 0 funcionamento + Artigo 16: obriga as Faculdades que mantiverem curso de Psicologia a organizar Servigos Clinicos e de aplicacdo a educacao e ao trabalho - orientados e dirigidos pelo Conselho dos Professores do curso - abertos 20 piblico, gratuitos ou remunerados. Capitulo V: Da revalidacao de diplomas + Artigo 17: assegura a revalidacao de diplomas expedidos por Faculdades estrangeiras que mantenham cursos equivalentes aos previstos nesta lei. Capitulo VI: Disposig&es Gerais e Transitérias, ‘+ Artigo 18: obriga os atuais cursos de Psicologia, legalmente autorizados, a se adaptarem aos ditames legals aqui descritos, no prazo de um ano apés sua publicagao. + Artigo 19: concede ao grau de psicdlogo e ao exercicio profissional aos portadores de diplomas ou certificados de especialista em Psicologia, Psicologia Educacional, Psicolo- a gla Clinica ou Psicologia Aplicada ao Trabalho expedidos por estabelecimento de ensino superior oficial ou reconhecido, apés estudos em cursos regulares de formacéo de psicé- logos, com duracao minima de quatro anos ou estudos regulares em cursos de pés-gra- duacao com duracao minima de dois anos. * Artigo 20: assegura aos funcionérios piblicas efetivos, o exercicio dos cargos e funcdes, sob as denominagées de Psicélogo, Psicologista ou Psicotécnico, em que tenham sido providos na data de entrada em vigor desta lei. ‘+ Artigo 21: exige que as pessoas que, na data da publicacSo desta lei, j4 venham exercendo ou tenha exercido, por mais de cinco anos, atividades profissionais de psicologia aplicada, re- queiram no prazo de 180 dias, apés a publicardo desta, 0 registro profissional de Psicélogo. + Artigo 22: especifica que, para os efeitos do artigo 21, ao requerimento em que solicita registro, na reparticlo competente do MEC, 0 interessado deverd apresentar seus titulos de formacao, comprovantes do exercicio profissional e trabalhos publicados. * Artigo 23: vetado, ‘+ Artigo 24: estabelece que 0 MEC expedira, no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da publicagdo desta lel, as instrugdes para sua execucdo. + Artigo 25: determina que esta lei entrara em vigor na data de sua publicacio, revogadas as disposigdes em contrario. Conforme Cury e Ferreira Neto (2014), apés a publicacdo da Lei n. 4.119/1962, documentos foram elaborados visando o tratamento e sistematizagdo de questdes praticas. Um dos documentos mais importantes foi o Parecer n. 403/62, de 19 de dezembro, do Conselho Federal de Educacdo (CFE), responsavel pela criacdo do Curriculo Minimo do curso de Psicologia, liversos 4 CURRICULO MINIMO DO CURSO DE PSICOLOGIA Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) instituiu novas diretrizes para o ensino superior no Brasil e os cursos de graduacio em Psicologia passaram a ser ordenados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), aprovadas em 2004, por meio da Resolucdo n. 8, de 07 de maio de 2004, alterando o curriculo minimo vigente até aquele momento (MEC, 2018). Voeé sabe 0 que significa curriculo minimo em Psicologia? E quais devem ser os principais elementos nele presentes? Segundo Cruz (2016c), 0 curriculo é um conjunto organizado de disciplinas técnico-cientificas, de atividades de estagios basicos e atividades complementares de pesquisa e extensio, formando estruturas programaticas, delimitadas por cargas horarias especificas, orientadas por um processo de gestéo da atividade docente e de coordenacao do curso, ao longo de um periodo de tempo pré-determinado. 46 Mas, como entao deveria ser 0 curriculo minimo do curso de Psicologia? Durante 05 anos de 1990 houve uma série de reunides com fins de refletir critica mente sobre sua estruturacdo e parametrizacéo. Deste modo, “... iniciou-se um proceso de desconstruco dos curriculos existentes, considerados, até entdo, excessivamente tecnicistas, por um lado, e pouco atualizado em torno dos campos emergentes da Psicologia, por outro” (CRUZ, 2016c, p. 784). Assim, em 2011, foi aprovada a Resolucao n. 5, de 15 de marco de 2011, por parte do Conselho Nacional de Educacdo, da Cimara de Educacdo Superior, do Ministério de Educacao do Brasil estabelecendo parametros normativos para a construc3o do Projeto Politico Pedagégico para formacao do bacharel em Psicologia e formagao complementar para a formagio de Professores de Psicologia (BRASIL, 2011), Costa et al. (2012) assinalam que, por meio da aprovaco da Resoluco n. 5, os principais pontos aserem observados nas DCNs so: padronizacao do curriculo, foco no desenvolvimento e ampliacao do cumprimento de estégios. Padronizacio do curricula Padronizaco do curriculo em um niicleo comum, com fins de assegurar a capacitacéo basica dos estudantes e a oferta de, pelo menos, duas énfases curriculares para que os mesmos possam se aprofundar em dominios da Psicologia. Foco no desenvolvimento Foco no desenvolvimento de competéncias agregadas aos conhecimentos. Ampliagdo de estagios Ampliagao do cumprimento de estagios para formacao basica (nticleo comum) e formaco especifica (nticleo profissionalizante), Mesmo com as mudancas propostas com as DCNs, Yamamoto (2012) chamava a atencao de que se fazia necesséria na construcdo de um projeto ético-politico para a profissao dos psicdlogos que incorporasse projetos societrios mais abrangentes. ‘Ao comparar 0 discurso ea pratica das agentes envolvidos no processo de formacao, Ribeiro e Soligo (2020), com base em estudos bibliograficos assinalas que existem significativas divergéncias entre o discurso formativo, os curriculos dos cursos e aquilo que tem se observado na pratica. Diferentes Projetos Politicos Pedagégicos de Curso (PPCs) indicam uma preocupacéo proferida em relac¢do 4 persegui¢ao do compromisso social da area, bem como da necessidade de desenvolvimento de uma postura critica-reflexiva, mas isso nem sempre acontece, uma vez a que o atendimento dessas necessidades nao tem sido, muitas vezes, identificados nos relatérios de avaliacdo dos processos de regulacdo do curso e nos relatérios dos Exames Nacionais de Desempenho dos Estudantes (ENADE). Segundo Cruz (2016c), observa-se também que os curriculos de diferentes cursos de Psicologia espalhados no Brasil, continuam enfatizando as areas tradicionais da Psicologia, a formacdo ainda é conteudista, ou seja, centrada no professor. A area clinica ainda é predominante um incipiente cardter de inovagéo tanto em relacdo 20s contetidos, quanto aos processos de ensino-aprendizagem A autora ainda ressalta que nas discussdes referentes a prética profissional, prepondera 0 discurso da necessidade de se ofertar uma formacio generalista, constantemente articulada com a teoria-pratica e com os eixos da ensino, pesquisa e extensdo, mas isto também acaba ndo se ‘observado na pratica, seja por sua quase auséncia ou pela presenca de forma desarticulada. [..1 No Ambito da formagao profissional basica, verificam-se mudangas curriculares sem o devido alanejamento do ensino orientado para as perspectivas de Insergo co psicdlogo no mundo do ‘trabalho (prestagio de servigns para as instituigbes e comunidade) e, muitas veres, descoladas das DCNs para a drea da Psicologia. Ha uma recucao, cada ver mais acentuada nos fluxos curriculares, de disciplinas metodoldgicas e técnicas e voltadas 8 intervengo psicol6gica, assim como uma valoriza¢o de conteddos programaticose de experiéncias mais genéricas que, embora possam ser enriquecedores paraa formago geral do cidadio (as chamadas disciplinas transversais ou temas civersos), restringem cada ver mais 0 ensino € 0 desenvolvimento de competéncias especificas & atuac3o dos psicblogos. (CRUZ, 2016 c, p. 783). Enfim, € sempre recomendavel que o profissional contébil esteja atento as legislacdes atualizadas que envolvem os fatos a serem contabilizados, O cuidado com a avaliacdo patrimonial, consolidacéo dos demonstrativos contdbeis e também as eliminagdes necessdrias, devem fazer parte do escopo do contador do futuro. 48 Nesta unidade, vocé teve a oportunidade de: conhecer os avancos e as alternativas para a construcao do conhecimento em Psico- logia; compreender a historia e marcos cronolégicos da Psicologia como profissio no Bra- sil; entender 0 processo de regulamentacao da profissao no Brasil a partir da Lei n, 4.119/1962; refletir sobre 0 curriculo minimo do curso de Psicologia, delimitado pelo Parecer n. 4903/1962; perceber a importancia das DCNs para formacao do psicélogo. 55 1 A PSICOLOGIA ENQUANTO PROFISSAO Antes de falarmos, propriamente, da profisséo Psicologia, cabe alguns apontamentos preliminares para tanto, Primeiramente, é importantes destacarmos alguns comentarios sobre 0 conceito de profissdo e sua relaco com 0 proceso formativo. Toda atuacdo profissional é valida, aceita e reconhecida em seu contexto. Em especial aquelas que demandam aporte de saberes validados pela sociedade que as constituem. Na profissao dos Psicélogos isso nao € diferente. Lima (1984), destaca que a expressio profisséo é oriunda da radical profiteri que indicaria professar um compromisso de uma pessoa em relacdo ao contexto que ele se insere, a um dado acto social. Este compromisso refere-se a atividades especificas, ndo a todas, mas no que cabe aquelas que em um dado cotidiano comunitario, especificamente, trata-se do exercicio de um a ticnt 6 papel social. PRT Figura 1 - Profissdo Fonte: Artis777, Istock, 2020. #ParaCegoVer: a imagem mostra diversas pessoas exercendo diferentes profissées como médica, cozinheiro, marinheiro pois as profiss6es, nas sociedades modernas tém fungio de delimitar e estruturar papéis a serem desempenhados. Enquanto 1ol de a¢ées, a profissdo demanda um processo formativo, um processo que ensino (05 modos de se comportar, de se portar, de se posicionar, de analisar determinados fendmenos agi sobre eles, com alguma finalidade. Para 0 autor 0 exercicio de determinado papel (profisséo) encontra-se ao nivel cooperativo, algo como um componente do proceso civlizatério “[.. do grupo social:a suas necessidades, a sua organizacSo social e a seu sistema de produco” (LIMA, 1984, p.79) 1.1 Profissa jignificados e implicagGes Se remontarmos até um passado, ndo muito distante — o Brasil Pés-Império, por exemplo, entre os anos de 1822 4 1930 - trés eram as profissées regulamentadas e aceitas: Medicina, A, 56 Engenharia e Direito. Eram consideradas como profissdes imperiais, no contexto brasileiro da €poce, eram concebidas sob uma dimensdo institucional (Governamental), ou seja, envoltas em uma rede “L..] de relacdes sociais que fornecem as bases institucionais para a definicio da posicao dos grupos profissionais” (BARBOSA, 2003, pp.601-602). No caso destas trés profissdes, 6 através da institucionalizacdo de suas préticas que se validam seus conhecimentos, ao unificar a forma de se conceber cada profissao, e validé-la: (a) Academia Imperial de Medicina; (b) 0 Instituto dos Advogados Brasileiros, e; (c) 0 Instituto Polytechnico Brazileiro. Mas, entéo, ao formar um dado profissional, vocé o especializa em um dade conjunto de préticas? A formacdo ento designa téo somente um adestramento de acSes e pensamentos que norteiam seus praticantes? Adaptando-o a um grupo social no seio de constantes conflites: “.. entre tradicao e revolucdo, direita e esquerda, ordem e progresso, estrutura e génese, seguranca e desenvolvimento, conservacio e criatividade” (LIMA, 1984, p.80). 0 profissional é aquele que professa praticas que esto delimitadas no tempo e no espaco, € que carregam em si conhecimentos, representacées e significados consigo. Neste sentido, a “[.. profissdo € a atividade que depende da aplicacdo estrita de uma técnica especifica [..J” (LIMA, 1984, p.80). A partir de um dado know how, produzido por um corpo de saberes que o legitima. A Psicologia, em especial, como destaca 0 socidlogo inglés Nikolas Rose (2001a, p.6), [Lu] estabelece uma variedace de ‘racionalidades praticas’, envolvendo-se na multialicaggo de novas tecnologias e em sua proliferago a0 longo ce toda a textura da vida cotidiana: normas € dispositivos de acordo com os quais as capacidades e a conduta dos humanos tém se tornado inteligiveis e jlgavels. Essas racionalidades préticas so regimes de pensamento, por meio dos quais as pessoas pociem darimportancia a aspectos de si propriase a sua experiéncia, e regimes de pratica, por meio dos quais 0s humanos podem fazer de si préprios seres ‘éticas’ e dotados de ‘agéncia’, detinidos ce mocos particulares, como pals, professores, homens, mulheres, amantes, chefes, e por meio de sua associaco com varios dispositivos, técnicas, pessoas e opjetos. Esta premissa, nfo & exclusiva as Ciéncias Psicolégicas. E justamente, o que alicerca as profissdes que tém suas préticas erigidas, sob a égide cientifica. A concepcdo de uma linguagem propria, que produz seus préprios efeitos, os préprios fenémenos a tratar e a lidar. Para Rose (2001a) o profissional é sujeito de sua pratica, um locus de atuaco e produgao, um posicionamento, um lugar no interior do qual um profissional surge. E sera através de suas nomenclaturas, linguagens e praticas, que o profissional se constitui, uma vez que é desta forma que se estabelece a capacidade dele se colocar como tal. Obviamente, nao séo apenas as nomenclaturas que definem uma profisso, nem somente, suas préticas, mas sim, 0 encontro das duas que se estabelecem o que se espera de um dado profissional, em termosde possibilidades e restricdes, ages e resultados. A profissao, ¢ produzida ‘no conjunto de preceitos, praticas e producdes cientificas, politicas e sociais, organizado sob uma dada légica e que fornece a seu representante um espaco de acdoe de existéncia. 1.2 As praticas profissionais contemporaneas © atual estado das coisas, o modo como estamos, somos e atuamos tem se delineado muito diferente, daqueles em que muitas profissées, no passado no muito distante, se instituiram. Se analisamos as profissdes mais antigas - em comparacdo, com as que, hoje, se evidenciam @ demandam por representantes - veremos uma mudanga dréstica na maneira como sto concebidos seus profissionais.

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