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Mente Sem Consciência - Uma Análise Das Sanções Criminais Aos Antissociais Infratores - YENIFER
Mente Sem Consciência - Uma Análise Das Sanções Criminais Aos Antissociais Infratores - YENIFER
CURSO DE DIREITO
LONDRINA
2019
YENIFER MICAELA FANK BARBOSA
__________________________________________________________________________
LONDRINA
2019
YENIFER MICAELA FANK BARBOSA
BANCA EXAMINADORA:
______________________________________
Profº. Dr. Márcio Barbosa Zerneri
Universidade Estadual de Londrina
________________________________________
Profª. Elizabeth Nadalim
Universidade Estadual de Londrina
_________________________________________
Profª. Luciana Carmo Neves
Universidade Estadual de Londrina
__________________________________________________________________________
LONDRINA
2019
AGRADECIMENTOS
À meu Cristo, Emanuel, que será para sempre meu maior exemplo de amor e revolução.
À minha mãe, base forte que se fez mulher. Que foi conselheira e fortaleza. Que sempre
acreditou nos meus sonhos mesmo quando minha fé chegou a duvidar. Por ser meu maior
exemplo de resistência. Por ser meu ponto de equilíbrio. A luta mais dura foi sua. E a vitória
será nossa.
À meu pai que, com grandeza, sempre fez de tudo pelo nosso bem. O céu e o meu amor,
são garantias tuas para a eternidade.
Às mulheres da minha vida, minhas divas inspiradoras, minha irmã Angelita e minhas
tias Ruthe e Marta. Que mesmo com todas as adversidades jamais desistiram de lutar pelo que
acreditam, demonstrando que a força advém da perseverança e da fé em dias melhores.
Aos meus amigos tão amados Silas Mian, Kaira Rodrigues, Hoquemone Mian, Vitória
Amorim, Maria Silvana, Giovana Lis, Barbara Ripol, Mayra Caroline e Amanda Souza que
foram, por diversas vezes, motivos do meu sorriso. Por se fazerem sinônimo de alegria e
companheirismo.
Ao meu grande amigo, e companheiro jurista, Adriano Morissugui Vitório. Por me
ensinar mais sobre altruísmo e solicitude. O mundo é muito melhor com você. Tenho-lhe muito
amor e respeito.
A meu mentor e irmão de luta Evandro Spartacus. Brizola vive em nós.
À Julia Abdalla, por tudo de bom que você me ensinou. Por ser tão fraterna, acolhedora
e tão inspiradora. Por todos os seus trabalhos lindos, que promovem o ensino, a pesquisa e a
extensão. Eu lhe admiro e sonho ser como você. E acima de tudo, te agradeço por tudo de bom
que você me fez, e me faz fazer.
Ao meu querido orientador, Professor Doutor Márcio Barbosa Zerneri, pelo incentivo e
paciência para o desenvolvimentos deste trabalho. Pelos exemplos de profissionalismo,
excelência e elegância. Pelas admoestações mas, principalmente pelo carinho, respeito e
prestatividade. A UEL com certeza é muito melhor por sua causa.
Aos meus colegas e professores do Programa de Formação Complementar em Direito
Internacional dos Direitos Humanos, do Subgrupo de Simulações e Competições da UEL e do
Sub grupo de Estudos sobre Refugiados, que despertaram em mim o amor pelos Direitos
Humanos;
Aos meus colegas e professores do Projeto de Pesquisa Terrorismo e Eficácia dos
Mecanismos adotados pela ONU, Projeto de Extensão NEDDIJ, Projeto de extensão NUMAPE
e Projeto de Extensão Carreiras Juridicas que sempre me incentivaram a dar o meu melhor
como acadêmica e como profissional.
Aos professores Marco Antônio Gonçalves Valle e Juliana Kiyosen Nakayama, pelos
ensinamentos de vida e de advocacia. Tenho-lhes muito carinho e respeito.
À todos os juristas pesquisadores da UEL, pelo incentivo e amor à docência, ao ensino,
à pesquisa e à extensão.
Ao Escritório de Aplicação de Assuntos jurídicos da UEL, e à Associação Evangélica
Beneficente de Londrina por me permitirem contribuir com parte de suas histórias, através da
prática jurídica.
À Universidade Estadual de Londrina, pedaço do paraíso, que moldou-me como ser
humano. Que ressignificou minhas ideias sobre democracia, cidadania e humanidade. Que me
fez crescer como ser humano e me permitiu tornar a pesquisadora que sempre sonhei em ser.
À Jonatas Guerrini, por todo bem que me fez.
À todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para meu
crescimento como jurista e, acima de tudo, como ser humano. Meu muito obrigada!
“Certamente que a bondade e a misericórdia me
seguirão todos os dias da minha vida. E habitarei na
casa do Senhor por longos dias” (BIBLIA
SAGRADA, Salmos, 23:6)
BARBOSA, Yenifer Micaela Fank. Mente sem consciência: uma análise das sanções criminais
aos antissociais infratores. 45 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Curso de Direito,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR, 2019
RESUMO
Aos infratores com Transtorno da Personalidade Antissocial, não é dispensado norma com
dispositivo específico. Neste sentido, é possível ter percepção do quão relevante é a discussão
do tema. Desta forma, o presente trabalho tem como Objetivo Geral estudar a sanção criminal
dirigida ao antissocial infrator no Estado Brasileiro por meio da análise de distintas decisões
jurisprudenciais. Sendo que os objetivos específicos se subdividem em. Assim, ressalta-se que
n trabalho se estabeleceu os limites temporais de 01/03/2016 a 01/03/2019. Sendo que, para fins
de construção de referencial foi lançado mão de produções científicas. Já em relação a pesquisa,
esta foi feita por meio de análise qualitativa de dados, sendo utilizado o Método Hipotético
Dedutivo de pesquisa. Assim, a presente pesquisa concluiu que o Transtorno de Personalidade
Antissocial é uma anomalia caracterizada pelo comportamento antissocial e pela falta de
empatia, mas, que tal situação não prejudica a cognição e não altera a capacidade de
discernimento. No entanto, o indivíduo que possui TPAS sofre consideráveis prejuízos por conta
da incapacidade de internalizar valores relacionados a afetividade. Sendo que, ao antissocial
ainda não existe consenso quanto a sanção a lhe ser aplicada. Assim, em análise das decisões de
Tribunais escolhidos, se concluiu que as decisões dos tribunais são desuniformes, mas, em
decorrência de serem baseadas nos fundamentos apresentados nos laudos psiquiátricos. Neste
sentido, o presente trabalho alcançou os objetivos a que se propôs.
For offenders with Antisocial Personality Disorder, no specific device is dispensed. In this
sense, it is possible to have an awareness of how relevant the discussion of the theme is. In this
way, the present work has as general objective to study the criminal sanction directed to the
antisocial infringer in the Brazilian State through the analysis of different jurisprudential
decisions. . Thus, it is noteworthy that in work the temporal limits were established from
01/03/2016 to 01/03/2019. Being that, for the purpose of construction of referential was made
use of scientific productions. Regarding the research, this was done through qualitative analysis
of data, using the Hypothetical Method Deductive research. Thus, the present study concluded
that Antisocial Personality Disorder is an anomaly characterized by antisocial behavior and lack
of empathy, but that such a situation does not impair cognition and does not alter the capacity
for discernment. However, the individual who has TPAS suffers considerable losses due to the
inability to internalize values related to affectivity. Being that, to the antisocial thing does not
yet exist consensus as the sanction to be applied to him. Thus, in the analysis of the decisions
of Courts chosen, it was concluded that the decisions of the courts are uneven, but, as a result
of being based on the grounds presented in the psychiatric reports. In this sense, the present
work has achieved the objectives proposed
Key-Words: Personality disorder; Antisocial; Guilt.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO …………………………………………………………………..................11
CAPÍTULO 1: UMA FORMA DE "SER" NO MUNDO: NOÇÕES SOBRE O
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL……………………................... 13
1.1 Transtorno……………………………………….............................................................. 13
1.2 Transtorno da Personalidade Antissocial (TPAS)............................................................. 14
1.3 Níveis, diagnóstico e características do TPAS ……………………………….................. 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………................ 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………......... 43
11
INTRODUÇÃO
De acordo com a American Psychiatric Association, estima-se que 3,3% da população
masculina mundial têm algum grau de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), qual
seja, a popular psicopatia. Já em ambientes de prisões masculinas a proporção pode chegar a
50%, uma vez que, pesquisas indicam que ao menos metade dos detentos preenchem os
critérios para este diagnóstico (TELLES1, 2016).
Logo, pode-se observar que utilizando-se a capacidade máxima (cerca de 78 mil
pessoas) do estádio do Maracanã, aproximadamente, 2.574 poderiam ser diagnosticadas com
TPAS, com base nas estatísticas.
Além disso, destaca-se que inexiste norma com dispositivo específico para tratar dos
casos em que os portadores do referido transtorno cometem ilícito na esfera criminal. Assim,
é possível ter a percepção do quão relevante é a discussão do tema. Desta forma, o Objeto de
Pesquisa são as decisões judiciais que versam sobre a responsabilização criminal do
antissocial infrator. Pois, em leituras o que se observou foi a pouca precisão Jurisprudencial
e a instabilidade de posicionamentos quanto a resposta na qual o Estado deva dispor a
antissociais infratores.
Desta forma, considerando que o jurista é responsável pela correta aplicação do
Direito, não devendo ser apenas do legislador o dever de entender o mundo dos fatos, faz-se
necessário estudos sobre a temática. Indo em busca, inclusive, de instrução da Psiquiatria,
para o aprofundamento nos estudos sobre o tema e o debate na esfera jurídico-criminal.
Sendo assim, o presente trabalho tem como Objetivo Geral estudar a sanção criminal
dirigida ao antissocial infrator no Estado Brasileiro. Sendo que os objetivos específicos se
subdividem em: (1) discorrer sobre o entendimento da Psiquiatria a respeito do Transtorno
de Personalidade Antissocial (TPAS); (2) dissertar a respeito das sanções estatais aos
infratores e verificar, na jurisprudência, a resposta estatal dada ao infrator antissocial no
Brasil; por fim, (3) analisar as problemáticas decorrentes da situação a partir da análise de
casos escolhidos.
Para fins de elaboração do referencial teórico, foi lançado mão de produções
científicas do Catálogo de Teses & Dissertações da Capes2, do Google Acadêmico3 e do
1
Entrevista dada a ABP TV em 04/01/2016
2
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/;
3
Refere-se ao Sitio Eletrônico: https://scholar.google.com.br/;
12
Scielo4. Já em relação a pesquisa, esta foi feita por meio de análise qualitativa de dados, sendo
utilizado o Método Hipotético Dedutivo de pesquisa
Sendo que, quanto à abordagem esta será qualitativa. Tem fins exploratórios e
descritivos, sendo feita por meio de levantamento de casos junto ao Jusbrasil5. Assim, a
amostra pesquisada foi colhida por cotas. Ou seja, a análise de decisões que entenderam pela
(I) imputabilidade com aplicação comum da pena, pela (II) semi-imputabilidade com
aplicação de medida de segurança, pela (III) semi-imputabilidade com aplicação de pena com
a redução legal, e por fim, decisões pela (IV) inimputabilidade com aplicação de medida de
segurança.
Mas, ressalta-se que tendo em vista a relevância de análise de dados mais recentes,
neste trabalho se estabeleceu os limites temporais considerando apenas os três últimos anos.
Assim, de 01/03/2016 a 01/03/2019.
Neste sentido, foi formulada a hipótese de que os tribunais acabam por analisar e
decidir o caso concreto da maneira que melhor convir. O que pode gerar insegurança jurídica,
uma vez que, situações análogas podem ter pesos distintos a depender a região geográfica
brasileira, da comoção nacional ou até mesmo dos valores subjetivos dos julgadores. Sendo
necessário a atividade do legislador, ou a padronização da jurisprudência a respeito da
temática para dar cabo a esta situação de insegurança.
4
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://www.scielo.org/php/index.php
5
Refere-se ao Sítio Eletrônico https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/?ref=navbar
13
1.1 Transtorno
Transtorno é toda “anomalia” percebida no comportamento do indivíduo derivado de
deficiência ou doença6. Neste sentido, de acordo com a American Psychiatric Association
(Associação Americana de Psiquiatria), na última edição do livro Diagnostic and Statistcal
Manual of Mental Disorders-Fifth Edition7 (DSM-5), transtorno é toda “perturbação
clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um
indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de
desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental”.
E desta forma, são associados a doenças ou deficiências que afetam atividades
mentais. Ou seja, o “transtorno”8 é gênero, da qual deficiência e doença são espécies. Assim,
para que seja possível seguir com os objetivos propostos, a fim de estudar a problemática em
razão da desuniformidade de resposta penal em relação aos infratores antissociais se faz
necessária a criação de referencial teórico. Para tanto, é cabível breve explicação a respeito
da distinção entre doença e deficiência.
Neste sentido, observa-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na
ausência de doença ou de enfermidade (CONSTITUIÇÃO DA OMS, 1946 apud SINUS,
2014). Neste mesmo sentido, o Dicionário Aurélio descreve saúde como “o estado do
indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em estado normal” (2019).
Assim, pode-se interpretar que, a doença seja o inverso da saúde. Ou seja, o mal-estar,
a perturbação, a alteração ou o estado de anormalidade das funções naturais humanas, quais
sejam físicas, mentais ou sociais. Neste sentido, as doenças mentais seriam sofrimentos
causados por alterações ou perturbações ocorridas na mente, decorrentes de pré condições
6
A psiquiatria encontra-se em processo de substituição do termo “doença mental” por “sofrimento psíquico”.
7
Tradução: Manual Diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais/ DSM-5, lançado em 2014 sob a
direção de David J. Kupfer, M.D.
8
Recorrentemente se utiliza o termo “patologia” como sinônimo de transtorno.
14
externas ao sujeito (como o meio a qual está inserido) somadas a processos mórbidos
(questões biológicas pré existentes) (PEREIRA- p. 164).
Por sua vez, deficiência é a perda ou a ocorrência de anomalia que ocorre na estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica do corpo, da qual pode ser temporária ou
permanente. Sendo que representa a exteriorização de incapacidades.(LT
AMIRALIAN,GHIRARDI,LICHTIG,MASINI, PASQUALIN e PINTO, 2000)
Desta forma, a doença é entendida como algo adquirido ou desenvolvido ao longo da
vida. Sendo que, sua principal característica é a possibilidade de enfrentamento da
anormalidade. Ou seja, o combate direto à perturbação, mesmo que não ocorra o processo de
cura. Diferentemente do que se entende por deficiência. Uma vez que, o que se faz não é o
enfrentamento da anormalidade, por conta da impossibilidade de o fazê-lo. Mas, sim, o
processo de gestão dos sintomas.
Neste sentido, os transtornos mentais podem estar relacionados a diferentes ordens
na vida de um indivíduo. Sendo eles em relação às emoções, a processos intelectuais, ao
comportamento, a personalidade, entre outros.
1.2 TPAS
O TPAS, por sua vez, é transtorno relacionado a personalidade. Desta forma, segundo
o DSM-5 (2014,p. 646) um transtorno da personalidade “é um padrão persistente de
experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da
cultura do indivíduo, é difuso e inflexível” sendo estável ao longo da vida.
No entanto, nem sempre foi entendido desta forma. Segundo a Doutora Simone de
Alcântara Savazzoni (2016, p. 37) na idade média, por exemplo, os comportamentos
desviantes eram tidos como possessão demoníaca. Época em que os indivíduos eram
submetidos a tortura e a tratamentos degradantes a fim de se executar “exorcismo”.
Sendo que, segundo o Psiquiatra Antônio José Eça (2010, p. 279), o primeiro a relatar
a respeito de tal transtorno foi o Médico italiano Girolamo Carnamo, no século XVI, quando
relatou o matricídio cometido por seu filho à própria mãe (apud BRASIL, Resp. 1306687,
2018, p. 06)
Mas, de acordo com BIASSUS e PEREIRA o estudo a respeito do TPAS teve início
a partir da introdução na Psicologia e Psiquiatria do conceito “mania sem delírio” de PINEL,
no fim do século XVIII e “loucura sem moral”, de PRICHARD, no século XX. Sendo que a
primeira designação dada ao referido transtorno foi “psicopatia”. Neste sentido, os autores
15
9
Entendimento adotado por exemplo pelo psiquiatra Talvani Martins de Morais, em entrevista dada ABP TV
em 04/01/2016
16
10
Entendimento adotado pela Associação Americana de Psiquiatria, demonstrado no DSM-5 (2014)
17
11
A exemplo os estudos de Emírio Mira y Lopes (2007) na qual subdividiu o antissociais em dez subcategorias,
quais sejam: mitômana, histérica, explosiva, paranoide, compulsiva, hermética, cicloide, amoral, astênica e
instável (apud SAVAZZONI, 2016, p. 58)
18
desprovidos da capacidade de sentir empatia. Utilizará apenas o termo adotado pelo DSM-5,
qual seja, Transtorno da personalidade Antissocial (TPAS) ou, como dito, “antissocial”.
O que pode-se observar é que, muitos profissionais da área procuram estabelecer
distinção entre os indivíduos que possuem TPAS. Isto, em decorrência das diferenças de
comportamento as quais podem haver entre estes indivíduos. Desde os mais agressivos até
os mais sociáveis. Neste sentido, neste estudo o TPAS considerará apenas o nível de
agressividade e perigo no qual o indivíduo possa apresentar para si ou para outro. Sem,
necessariamente o classificá-lo utilizando uma nomenclatura diferenciada para cada um,
limitando-se apenas a tratar como nível 1 e 212
Sendo que a designação de “nível 1”, será utilizada para referir-se a antissociais
menos agressivos, que limitam-se às violações nas esferas da moral ou a pequenos delitos.
Sendo, portanto, não ameaçadores ao arranjo da ordem social como é o caso, por exemplo,
das manipuladoras e “parasitas” retratadas em novelas, que aplicam golpes como os famosos
“golpes do baú”.
Por sua vez, os de “nível 2” serão relacionados àqueles com desvio de grau mais
elevado. Sendo que, pode ser relacionado com a considerável reincidência e envolvimento
destes indivíduos em crimes de maior potencial ofensivo, como assassinatos em série,
estupros, etc, podendo demonstrar sem êxito a necessidade de promover sofrimento. A
exemplo disso são os retratados como “serial Killers” em filmes americanos.
Neste sentido, segundo Felipe Biasus e Lucas Moraes Pereira, por se tratar de um
transtorno extremamente complexo, em muitas situações o diagnóstico é algo difícil. Sendo
este feito através de entrevistas semiestruturadas, inexistindo exames para diagnóstico. Desta
forma, segundo SAVAZZONI (2016, p. 45) a entrevista estruturada mais utilizada no mundo,
e a única aprovada no Brasil atualmente, para diagnóstico é o Psychopathy Checklist-revised
(PCL-R)13 proposta por Robert D. Hare na década de setenta. No entanto, o que pode garantir
um diagnóstico seguro é a qualificação e a experiência do examinador. (CASTRO, 2015, p.
06).
12
Classificação idealizada com base no Estudo de KARPMAN (1948 e 1955), onde o pesquisador subdividiu
os antissociais em idiopáticos (comportamentos mais retraídos e recorrentemente parasitas) e sintomáticos
(comportamentos mais imperativos, agressivos e predadores) (apud SAVAZZONI, 2016, p. 58)
13
De acordo com SAVAZZONI (2016) a entrevista é estruturada em relação a diversos aspectos onde o
avaliador atribui uma pontuação de 0 a 2 pontos a cada um dos 20 itens elencados na entrevista.
19
14
Entrevista “Transtorno de Personalidade Antissocial, dada a ABP TV em 04/01/2016
20
2.1 Da culpabilidade
A culpabilidade é um dos elementos que compõem a tripartição da teoria do crime.
Segundo o Doutor Júlio Fabbrini Mirabete e o Doutor Renato N. Fabbrini (2015) a
culpabilidade é um juízo de reprovação e que somente se pode responsabilizar o sujeito que
entenda o caráter reprovável da ação ou omissão. Neste sentido, os autores citam a Teoria da
Imputabilidade Moral16, segundo o qual, afirma que o ser humano é dotado de liberdade e
discernimento. Assim, pode se auto determinar e arcar com as responsabilidade advindas do
exercício de sua liberdade.
Desta forma, MIRABETE e FABBRINI (2015) argumentam que quando o sujeito é
capaz de entender a ilicitude de sua conduta e agir de acordo com este entendimento, se está
diante da imputabilidade. No mesmo sentido argumenta MESQUITA Jr. (2014), que
“imputabilidade é a capacidade que tem o agente de compreender a ilicitude do fato e agir de
acordo com esse entendimento”.
Sendo que, o autor MESQUITA Jr. (2014) acrescenta que, no Brasil, a imputabilidade
vem acompanhada do binômio “sanidade mental” (critério psicológico) e “maturidade”
(critério biológico/etiológico). Neste sentido, MIRABETE e FABBRINI (2015) explicam
que a legislação brasileira adotou o critério biopsicossocial - que é a junção dos critérios
psicológico e biológico/etiológico, no artigo 26 do Código Penal Brasileiro (CP/40).
15
Refere-se a Sítio Eletrônico https://www.jusbrasil.com.br/, utilizado recorrentemente pela comunidade
jurídica para pesquisas rápidas de jurisprudências.
16
Baseada na ideia de livre arbítrio.
21
17
Refere-se ao dicionário eletrônico, da editora Melhoramentos, recorrentemente utilizado no meio acadêmico.
Disponível no sitio eletrônico: https://michaelis.uol.com.br/
18
Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984
22
Ou seja, ainda que compreenda que exista proibição em relação a determinada ação
ou omissão, processando corretamente o caráter de ilicitude da mesma, jamais será capaz de
associar e internalizar a proibição com suas emoções. Desta forma, o que se observa é um
considerável prejuízo desses indivíduos quando expostos a convivência em sociedade. Pois,
encontram-se em situação de disparidade, com os demais, em relação à capacidade de
convivência. Uma vez que, por mais que se haja a correta interpretação da ilicitude dos fatos,
inexiste elemento básico para a vivência das emoções - que é o que em regra legítima a
ilicitude moral ou legal - qual seja, a empatia.
23
Desta forma, desprovido dos freios inibitórios o antissocial acaba por ser um infrator
natural da ordem moral ou até mesmo legal. Assim, dado o exposto, se faz necessário
entender a resposta que o Estado entrega a quem, em tais condições, infringe a lei.
Dessa forma, segundo referida passagem bíblica, depois de condenado por Deus, o
homem passou a viver em grupo. E a ter suas normas e regras de convivência. E na quebra
de uma norma, ao infrator eram aplicadas duras penas, inclusive aos descendentes do infrator
(MIRABETE e FABBRINI, 2015, p. 230).
Assim, na antiguidade as sanções eram aplicadas pelo ofendido ou seus familiares,
em nome de Deus. A exemplo disso eram as penas de escravidão, em que o apenado era
submetidos a servidão forçada para o ofendido ou a seus familiares (GREGO, 2006, p. 522).
No entanto, a partir do momento em que o ser humano passou a se organizar em
grupos maiores que os de tribos, instituindo as organizações com o Estado mais primitivo,
passou-se então a haver a aplicação da sanção por meio de um terceiro. Ou seja o Estado, que
assim passou a tomar o monopólio da aplicação das sanções.
Desta forma, havia a vingança pública, que agora era em nome do rei ou do príncipe,
até o século VII (MESQUITA Jr., 2014, p. 53 - 62). Exemplo disto eram as execuções
públicas, os açoites, o confisco de bens, o exílio, entre outras (MIRABETE E FABBRINI,
2015, p. 230). Sendo que, antes da humanização das penas (até o fim do século XVII) a prisão
não era tida como pena autônoma, era mero instrumento processual. Onde, o “processado”
aguardava preso até a data de seu julgamento e execução.
24
Sendo que, a partir do século VII, com o fim da perseguição aos cristãos e com o
advento da grande influência da igreja católica, as sanções voltam a ser aplicadas em nome
de Deus. Surgiram os primeiros estabelecimentos prisionais. Locais estes que eram
extremamente insalubres e desumanos, chegando a ser uma condenação para uma morte lenta
e cruel (MESQUITA JR., 2014, p. 61 e 62).
Em 1893, a sistematização das medidas de segurança, foi feita pela primeira vez, por
Carlos Stoos, como anteprojeto ao código Penal Suíço. A humanização da pena foi
aperfeiçoada com o advento do pós- Segunda Guerra Mundial, a partir da Declaração
Universal dos Direitos Humanos 22. E o sistema proposto por Stoos foi adotado na Suiça em
1937 (MESQUITA JR., 2014, p. 469). Assim, em decorrência da referida declaração e da
19
Era a aplicação do flagelo, tido como medida admonitória (MESQUITA Jr., 2014, p. 469).
20
Autor do Livro “Dos Delitos e das Penas”, publicado em 1764.
21
Autor de “Doutrina do Direito”, publicada em 1797.
22
Declaração aprovada em resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948.
25
O Brasil, por sua vez, teve grande influência da legislação Italiana. Sendo que, as
disposições sobre Pena e Medida de Segurança, do Código Penal Brasileiro de 1940, vieram
do Código Penal Italiano de 1930. Importante destacar a reforma legislativa brasileira,
ocorrida em 1984, no Código Penal de 1940, com o advento da Lei nº 7.209, de 1984. Lei
esta que revogou as disposições que possibilitaram a aplicação de pena cominada com
aplicação de Medida de Segurança à infrator que possuíssem “problemas” psiquiátricos.
Desta forma, com a reforma, inadmite-se a aplicação binária de sanção, limitando-se a
aplicação ou da pena ou da medida de segurança enquanto privação da liberdade
(MESQUITA JR., 2014, p. 470).
Desta forma, se observa que, a pena é uma retribuição feita pelo Estado, com intuito
de evitar novos delitos, à alguém que sofreu um processo legítimo e foi condenado pela
prática de alguma infração penal, sendo restrito ou privado de algum bem jurídico.
Sendo que, atualmente, as penas se resumem em restrição da liberdade, restrição de
direitos e multa e sua aplicação, depende de critérios objetivos e subjetivos. Acrescenta-se
que, no Brasil, as penas podem ser aplicadas tanto a imputáveis e semi-imputáveis, a
depender do caso concreto.
26
A aplicação e tipo de pena dependerá da situação concreta. Sendo que, para delitos
considerados com maior potencial ofensivo são aplicadas penas mais duras e para os menos
ofensivos penas mais brandas. Sendo que, as penas se subdividem em (I) privativas de
liberdade, (II) restritivas de direitos e (III) multa.
As penas privativas de liberdade englobam a reclusão, a detenção e a prisão simples.
A primeira se refere àquelas situações em que se existe o maior potencial ofensivo, onde o
regime inicial é fechado. Já a segunda se refere àquelas situações em que se há menor
potencial ofensivo, tendo por conseguinte pena menos severa e regime inicial de
cumprimento de pena em semiaberto, e até mesmo aberto. Por fim, as terceira subespécie é
aquela aplicada para situações de contravenção penal, e em regra são utilizadas para fazer
cessar situações de pequenas lesões a direitos. (CAPEZ, 2011, p. 388)
Já as penas restritivas de direito são penas alternativas. Ou seja, são medidas
alternativas à manutenção de uma pena de privação da liberdade. Mas, estas só podem ser
aplicadas em casos de crimes de menor potencial ofensivo. São exemplos de penas restritivas
de direito as prestações pecuniárias e as limitações de fins de semanas e as multas de caráter
substitutivas (JESUS, 2015, p.575)
Por sua vez, a multa, por sí só possui caráter de pena autônoma. Ela pode ser aplicada
naqueles casos em que existe a cominação legal, dada pelo tipo penal. Além disso, observa-
se que ela pode ser aplicada isoladamente ou combinada com outras penas (JESUS, 2015, p.
391)
A prevenção geral busca intimidar a sociedade, como um todo, para que não se
pratique o delito. A crítica levantada contra essa teoria é relacionada a instrumentalização do
ser humano. Ou seja, o apenado é utilizado como meio de intimidação. Desta forma, seria
descabido este comportamento por parte do Estado, uma vez que o ser humano deve ser um
fim, e não um meio.
Por fim, a teoria adotada no Brasil é chamada Teoria Mista, também chamada de
teoria eclética, unitária, dialética ou unificadora. Para esta teoria, a pena apresenta dupla ou
até mesmo tríplice finalidade. Ou seja, é retribuição e também prevenção geral e especial
(GREGO, 2006, p. 526). Sendo aceita e adotada majoritariamente em âmbito internacional.
A exemplo disto foi a convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, que deu origem
ao o Pacto de San José da costa Rica adotado que foi internalizado no Brasil em 1992.
penal cuja pena seja a restrição da liberdade, ao inimputável, sempre lhe é aplicado a Medida
de Segurança. Podendo também, ser aplicada ao semi-imputável (JESUS, 2015, p. 593)
Desta maneira, o art. 98 do CP dispõe que na hipótese de haver inimputabilidade e
semi-imputabilidade “a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos”23. Ou seja, em havendo
necessidade da medida, esta será aplicada ou em regime de internamento (fechado), ou
tratamento ambulatorial (aberto).
23
Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984
24
Para outros autores, como Sidio Rosa Mesquita Júnior (2014), que defende que trata-se de medida
administrativa do Estado, decorrente de seu poder de polícia. Uma vez que nela inexiste o caráter retributivo e
sim o caráter assistencial ao agente que cometeu a infração.
29
a assistência e/ou curar. Defende que, em havendo o discernimento afetado, não há que se
falar em aplicação de sanção penal. Mas, o que deve haver é a aplicação da medida de
segurança como forma de proteger a sociedade e o indivíduo que praticou o delito. defende
ainda , esta corrente que, a custódia psiquiátrica é medida excepcional e só deve ser aplicada
quando as medidas extra hospitalares forem ineficiente (MESQUITA Jr., 2014, p. 471 e 472).
Já em relação ao fundamento da medida de segurança, é a periculosidade que o agente
apresenta. Assim, o fundamento básico é o juízo de periculosidade que é feito. Neste sentido,
o doutrinador argentino Soler é citado por Damásio de Jesus (2015, p. 593), explicando que
“periculosidade é a potência, a capacidade, a aptidão ou a idoneidade que um homem tem
para converter-se em causa de ações danosas”.
Ou seja, é o potencial risco de dano do agente para si ou para outrem. É uma previsão
para o futuro baseada nas ações passadas do agente. Destaca-se ainda que, a verificação da
periculosidade feita por presunção de determinação legal expressa, ou por presunção do fato
real na qual é decidido pelo juiz com base no conjunto probatório. (JESUS, 2015, p. 594).
Importante ressaltar também que, trata-se de medida tomada para quem dela
realmente necessite. Sendo que, com o advento da reforma penal feita em 1984 proibiu que
esta fosse aplicada em conjunto com a pena comum. Ou seja, proíbe-se a o sistema duplo-
binário de resposta Estatal. Mas, admite-se tão somente a aplicação de uma única resposta
Estatal, ou seja, cuidou-se de adotar o sistema vicariante. Assim, independente da cominação
legal de pena a um determinado crime, a Medida de Segurança deve cessar com o
desaparecimento da periculosidade do agente (JESUS, 2015, p.596).
descritivos, sendo feito por meio de levantamento de casos, junto ao Jusbrasil de decisões
com entendimentos distintos.
Assim, para a escolha dos tribunais, a fim de se garantir a imparcialidade da
pesquisadora e a cientificidade da pesquisa, foi feito uma breve busca com palavras chaves.
Isto com o fim de escolher os tribunais a terem suas decisões analisados com base nas regiões
que houvesse maior número de casos registrados.
Desta maneira, dentro dos limites temporais estabelecidos (de 01/03/2016 a
01/03/2019) foi buscado pelas palavras chaves “Transtorno de Personalidade Antissocial”.
Sendo que foi aplicado o filtro de busca para apenas Tribunais de Justiça (TJ’s). Como se
segue:
Nº de Resultados 180
Nº por região Sul: 67; Centro-Oeste: 58; Sudeste: 29; Norte: 8; Nordeste: 6.
Desta forma o resultado obtido foi de 180 (cento e Oitenta) decisões encontradas com
aquelas palavras. Sendo predominante em tribunais do Sul (primeiro lugar), do Centro-Oeste
(segundo lugar) e do Sudeste (terceiro lugar). Sendo que, as regiões norte e nordeste não
tiveram resultados expressivos.
Também foi buscado pelo nome popular do TPAS, qual seja “psicopata”. Sendo
aplicado também os mesmos filtros de datas e tribunais. Assim, como segue:
Nº de Resultados 420
Nº por região Sudeste: 204; Sul:149; Centro-Oeste: 45; Nordeste: 12; Norte: 10
Desta forma, foram encontradas 420 (quatrocentos e vinte) decisões com o referido
termo. Sendo que, a predominância também se deu nas mesmas regiões. No entanto, em
colocações distintas.
A partir deste resultado, foram escolhidos apenas Estados que faziam parte das
regiões do país que houvesse um número maior de casos registrado. Qual seja, Sul, Sudeste
e Centro-Oeste, sendo analisadas duas decisões de tribunais distintos, para cada
entendimento (ou seja pela (I) imputabilidade, pela (II) semi-imputabilidade com aplicação
de Medida de Segurança; pela (III) semi-imputabilidade com aplicação de pena com redução
legal; e pela (IV) inimputabilidade com aplicação de Medida de Segurança).
Assim será analisado, no capítulo a seguir, a decisão dos Tribunais de Justiça
escolhidos para a análise. Qual seja o TJ/DF,TJ/SC, TJ/GO, TJ/RS, TJ/SP, TJ/PR, TJ/MG,
TJ/MS.
No entanto, antes é importante destacar que nas buscas foram identificados alguns
conflitos de outras ordens, além da pesquisada. Ou seja, casuisticamente foram encontradas
outras categorias de conflitos dentro do referido tema. Desta forma, é cabível a abertura de
um tópico próprio para dissertar a respeito.
Ressalta-se que, não foi o objetivo da presente pesquisa contemplar os conflitos que
serão citados. No entanto, importante registrá-los, uma vez que fazem parte do resultado da
pesquisa. Assim, os ambiente na qual se apresentaram foram na (I) Psiquiatria, expressadas
nos laudos; (II) no Judiciário, nos mesmos tribunais mas, em câmaras distintas;
Em relação as incongruências conflituosas encontradas no âmbito da Psiquiatria, estas
se expressaram por meio dos laudos apresentados. Uma vez que, em relação aos antissociais,
nas respostas de quesitos dos laudos os psiquiatras respondem no caso a caso. Sendo que, na
maioria das vezes descrevem a plena capacidade cognitiva e volitiva. Algumas vezes a plena
capacidade cognitiva e a incapacidade volitiva. E pouquíssimas vezes pela total
incapacidade.
Isto pode sugerir algumas hipóteses. Uma delas é a falta de aprofundamento técnico
do profissional na questão. O que poderia levá-lo a uma conclusão errônea. Isto porque já se
é consenso na doutrina da Psiquiatria de que tal transtorno não afeta a capacidade cognitiva.
Por fim, uma última hipótese pode ser levantada, qual seja, a imparcialidade do profissional
ou o seu envolvimento emocional. Situação esta que pode gerar no profissional sentimento
de indignação e responsabilidade pela aplicação da justiça.
32
Por sua vez, os conflitos verificados no judiciário, são de duas ordens. A primeira é
relativa a quantidade de entendimentos pela semi-imputabilidade e a inimputabilidade. Pois,
fora mais fácil encontrar decisões pela imputabilidade. Já a segunda é que, além da
discordância entre tribunais distintos, se verificou que alguns divergem internamente. Ou
seja, uma câmara ou turma decidindo de uma forma e a outra de maneira distinta, no mesmo
semestre anual.
A exemplo disto é o TJ do Goiás que, conforme será analisado infra, em junho de
2018 pela 2ª Câmara Criminal decidiu pela semi-imputabilidade de antissocial. Por entender
pela redução da capacidade volitiva. No entanto, em Abril de 2018, a 1ª Câmara Criminal
25
já havia entendido pela imputabilidade de antissocial. Por entender que o TPAS em nada
afetava a capacidade do agente.
Mas, aqui, incabível levantamento de hipóteses. Isto porque, restou constatado que
em todos os casos os julgadores consideraram como elemento máximo de valoração o que
fora exposto em laudo. Sendo que, em nenhuma das vezes o julgador atuou em contradição
com o que fora lá exposto.
25
Apelação ao TJ/GO, sob o nº 01581870520158090051, Relator: DR(A). Sival Guerra Pires.1ª Câmara
Criminal. Data de Julgamento: 24/04/2018. Data de Publicação: 14/05/2018
33
DECISÕES
Tribunal Entendimento Sanção Julgamento
26
Agravo em Execução Criminal ao TJ/DF, sob o nº 20170020229322, Relator George Lopes, 1ª Turma
Criminal. Julgamento em 01/03/2018. Publicação em 08/03/2018.
27
Apelação ao TJ/SC sob o nº 0001743-03.2013.8.24.0113, Relator: José Everaldo Silva, 4ª Câmara,
Julgamento em 31/01/2019. Publicação em 31/01/2019
35
3.2 Das decisões pela semi-imputabilidade com aplicação de redução legal da pena
28
Apelação ao TJ/RS, sob o nº 70074376609, Relator: Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, 6ª Câmara
Criminal. Julgamento em: 30/08/2017. Publicação em : 04/09/2017
29
Apelação ao TJ/GO nº 0232589-05.2017.8.09.0175, Relatora Carmecy Rosa Maria Oliveira, 2ª câmara
criminal, Julgamento em 05/06/2018. Publicação em 19/06/2018.
36
Assim, no primeiro caso, o réu foi condenado pela prática de roubo com emprego de
arma de fogo, tendo histórico de comportamento agressivo. Já no segundo, condenado pela
posse ilegal de arma, fazia uso de droga e já teve envolvimento com outros crimes. Sendo
que, em ambos os casos se observa comportamentos característico de desvio de
comportamento e violência mas, tendo os julgadores observado o entendimento expresso em
laudo psiquiátrico. Ou seja, reconhecendo o TPAS como não sendo causa de prejuízo à
capacidade cognitiva mas, sim à capacidade volitiva, ou seja, de autodeterminação. Daí, fora
aplicado a redução legal de pena.
30
Recurso em sentido estrito ao TJ/PR, sob o nº 14266698, Relator Macedo Pacheco, 1ª camara criminal.
Julgamento em 10/03/2016. Publicado em 23/03/2016,
31
Apelação ao TJ/SP nº 0000256-45.2018.8.26.0637, Relator Paulo Rossi, 12ª Câmara de Direito Criminal,
Julgamento em 12/12/2018, Publicação em 13/12/2018.
37
32
Apelação ao TJ/MG, sob o nº 1.0390.15.002986-1/001. Relator Desembargador Renato Martins Jacob. Órgão
Julgador: 2ª Câmara Criminal . Julgamento em 08/03/2018. Publicação em: 19/03/2018
38
[...] Nas razões de fls. 299/303, a douta Defesa insurge-se unicamente quanto à
medida de segurança aplicada, dizendo que o caso concreto autoriza o tratamento
ambulatorial, mais adequado ao nível de periculosidade do acusado a ao grau de
psicopatia dele[...] nesse aspecto, verifico não assistir razão à douta Defesa, rogata
venia [...] O laudo pericial de fls. 34/39 não deixa dúvida de que o quadro
psicotiforme que acomete o apelante "merece atenção clínica e tratamento
preferencialmente sob o regime inicial de internação", em razão da periculosidade
do réu.
33
Agravo de Execução Criminal, sob o nº 0025025-75.2018.8.12.0001. Relator em substituição legal Sr. Juiz
José Eduardo Neder Meneghelli. Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal. Julgamento em 11/09/2018.
39
34
Habeas Corpus proposto perante o STJ, sob o nº 462893 MS 2018/0197852-1, Relator: Ministro Sebastião
Reis Júnior, Data do Julgamento: 08/08/2018. Data de Publicação:10/08/2018
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da busca de cumprimento do primeiro objetivo proposto, se concluiu que
transtorno é toda “anomalia” percebida no comportamento do indivíduo. Que o Transtorno
de Personalidade Antissocial é uma anomalia caracterizada pela ausência de remorso e falta
de empatia, situação patológica, não passível de cura. Que o referido transtorno, pode
apresentar-se em alguns graus de desvio. Mas que não prejudica a cognição. Assim, não
altera a capacidade de discernimento. No entanto, o indivíduo que possui TPAS sofre
consideráveis prejuízos por conta da incapacidade de internalizar valores relacionados a
afetividade. Desta forma, o antissocial acaba por ser um transgressor nato. Pois, não possui
freios inibitórios em sua personalidade.
Em seguida, na busca de cumprimento do segundo objetivo proposto, se concluiu
que a quem infringe norma penal é aplicada uma sanção. A sanção pode ser expressada por
meio de uma Pena ou Medida de Segurança. Sendo que, à quem possui o plena capacidade
(cognitiva e volitiva) é aplicada Pena, para que sejam cumpridas os fins a que essa se
propõe. Qual seja, de prevenção e retribuição, finalidades que coexistem no ordenamento
jurídico brasileiro. Mas, aos que não possuem plena capacidade de discernimento ou
prejuízo de autodeterminação são aplicadas as Medidas de Segurança, ou Penas com
redução legal obrigatória.
Mas ao antissocial, mesmo possuindo prejuízo à capacidade volitiva, ainda não se
há consenso quanto a sanção a ser aplicada. Sendo que, foram escolhidos seis tribunais a
serem analisados quanto as decisões relativas à culpabilidade de agentes antissociais, para
possibilitar a análise de tal situação, a saber: TJ/DF, TJ/SC, TJ/GO, TJ/RS, TJ/SP, TJ/PR,
TJ/MG, TJ/MS.
Por fim, na busca pelo cumprimento do terceiro objetivo, em análise das decisões
dos tribunais escolhidos, concluiu-se que as decisões dos tribunais são baseadas nos
fundamentos apresentados em Laudos Psiquiátricos. Desta forma, por mais que se esteja
frente a uma situação de semi-imputabilidade (ou responsabilidade diminuída), tal matéria
encontra-se em situação de insegurança jurídica. Pois, os tribunais ainda não se
posicionaram de maneira uniforme. Uma vez que os julgadores escolhem por seguir as
orientações da Psiquiatria a respeito da culpabilidade dos agentes, caso a caso. O que sugere
a necessidade de uniformidade de posicionamentos na Psiquiatria. Uma vez que já existe
entendimento firmado na área médica a respeito das capacidades atribuídas aos antissociais.
Pois, é incabível submeter uma pessoa humana à tamanha incerteza e tratamento desigual.
42
Sendo assim, a hipótese inicialmente levantada foi refutada em partes, uma vez
que restou demonstrado que os julgadores não analisam e decidem o caso concreto
conforme melhor convém mas, baseiam-se em especial no conteúdo exposto nos laudos.
Tao pouco a situação depende de região geográfica mas, está diretamente ligada ao não
posicionamento uniforme da própria Psiquiatria a respeito do tema. O que de fato gera
insegurança jurídica.
43
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&pesquisarPor=acordao&orderByData=2&dataPublicacaoInicial=15/05/2016&dataPublica
caoFinal=15/05/2019&referenciaLegislativa=Clique%20na%20lupa%20para%20pesquisar
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