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CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

CURSO DE DIREITO

YENIFER MICAELA FANK BARBOSA

MENTE SEM CONSCIÊNCIA:


UMA ANÁLISE DAS SANÇÕES CRIMINAIS AOS ANTISSOCIAIS INFRATORES

LONDRINA
2019
YENIFER MICAELA FANK BARBOSA

MENTE SEM CONSCIÊNCIA:


UMA ANÁLISE DAS SANÇÕES CRIMINAIS AOS ANTISSOCIAIS INFRATORES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Colegiado do Curso de Direito da Universidade
Estadual de Londrina como exigência parcial para
obtenção de título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profº. Dr. Márcio Barbosa Zerneri

__________________________________________________________________________
LONDRINA
2019
YENIFER MICAELA FANK BARBOSA

MENTE SEM CONSCIÊNCIA:


UMA ANÁLISE DAS SANÇÕES CRIMINAIS AOS ANTISSOCIAIS INFRATORES

BANCA EXAMINADORA:

______________________________________
Profº. Dr. Márcio Barbosa Zerneri
Universidade Estadual de Londrina

________________________________________
Profª. Elizabeth Nadalim
Universidade Estadual de Londrina

_________________________________________
Profª. Luciana Carmo Neves
Universidade Estadual de Londrina

__________________________________________________________________________
LONDRINA
2019
AGRADECIMENTOS

À meu Cristo, Emanuel, que será para sempre meu maior exemplo de amor e revolução.
À minha mãe, base forte que se fez mulher. Que foi conselheira e fortaleza. Que sempre
acreditou nos meus sonhos mesmo quando minha fé chegou a duvidar. Por ser meu maior
exemplo de resistência. Por ser meu ponto de equilíbrio. A luta mais dura foi sua. E a vitória
será nossa.
À meu pai que, com grandeza, sempre fez de tudo pelo nosso bem. O céu e o meu amor,
são garantias tuas para a eternidade.
Às mulheres da minha vida, minhas divas inspiradoras, minha irmã Angelita e minhas
tias Ruthe e Marta. Que mesmo com todas as adversidades jamais desistiram de lutar pelo que
acreditam, demonstrando que a força advém da perseverança e da fé em dias melhores.
Aos meus amigos tão amados Silas Mian, Kaira Rodrigues, Hoquemone Mian, Vitória
Amorim, Maria Silvana, Giovana Lis, Barbara Ripol, Mayra Caroline e Amanda Souza que
foram, por diversas vezes, motivos do meu sorriso. Por se fazerem sinônimo de alegria e
companheirismo.
Ao meu grande amigo, e companheiro jurista, Adriano Morissugui Vitório. Por me
ensinar mais sobre altruísmo e solicitude. O mundo é muito melhor com você. Tenho-lhe muito
amor e respeito.
A meu mentor e irmão de luta Evandro Spartacus. Brizola vive em nós.
À Julia Abdalla, por tudo de bom que você me ensinou. Por ser tão fraterna, acolhedora
e tão inspiradora. Por todos os seus trabalhos lindos, que promovem o ensino, a pesquisa e a
extensão. Eu lhe admiro e sonho ser como você. E acima de tudo, te agradeço por tudo de bom
que você me fez, e me faz fazer.
Ao meu querido orientador, Professor Doutor Márcio Barbosa Zerneri, pelo incentivo e
paciência para o desenvolvimentos deste trabalho. Pelos exemplos de profissionalismo,
excelência e elegância. Pelas admoestações mas, principalmente pelo carinho, respeito e
prestatividade. A UEL com certeza é muito melhor por sua causa.
Aos meus colegas e professores do Programa de Formação Complementar em Direito
Internacional dos Direitos Humanos, do Subgrupo de Simulações e Competições da UEL e do
Sub grupo de Estudos sobre Refugiados, que despertaram em mim o amor pelos Direitos
Humanos;
Aos meus colegas e professores do Projeto de Pesquisa Terrorismo e Eficácia dos
Mecanismos adotados pela ONU, Projeto de Extensão NEDDIJ, Projeto de extensão NUMAPE
e Projeto de Extensão Carreiras Juridicas que sempre me incentivaram a dar o meu melhor
como acadêmica e como profissional.
Aos professores Marco Antônio Gonçalves Valle e Juliana Kiyosen Nakayama, pelos
ensinamentos de vida e de advocacia. Tenho-lhes muito carinho e respeito.
À todos os juristas pesquisadores da UEL, pelo incentivo e amor à docência, ao ensino,
à pesquisa e à extensão.
Ao Escritório de Aplicação de Assuntos jurídicos da UEL, e à Associação Evangélica
Beneficente de Londrina por me permitirem contribuir com parte de suas histórias, através da
prática jurídica.
À Universidade Estadual de Londrina, pedaço do paraíso, que moldou-me como ser
humano. Que ressignificou minhas ideias sobre democracia, cidadania e humanidade. Que me
fez crescer como ser humano e me permitiu tornar a pesquisadora que sempre sonhei em ser.
À Jonatas Guerrini, por todo bem que me fez.
À todas as pessoas e instituições que de alguma forma contribuíram para meu
crescimento como jurista e, acima de tudo, como ser humano. Meu muito obrigada!
“Certamente que a bondade e a misericórdia me
seguirão todos os dias da minha vida. E habitarei na
casa do Senhor por longos dias” (BIBLIA
SAGRADA, Salmos, 23:6)
BARBOSA, Yenifer Micaela Fank. Mente sem consciência: uma análise das sanções criminais
aos antissociais infratores. 45 f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação) – Curso de Direito,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR, 2019

RESUMO
Aos infratores com Transtorno da Personalidade Antissocial, não é dispensado norma com
dispositivo específico. Neste sentido, é possível ter percepção do quão relevante é a discussão
do tema. Desta forma, o presente trabalho tem como Objetivo Geral estudar a sanção criminal
dirigida ao antissocial infrator no Estado Brasileiro por meio da análise de distintas decisões
jurisprudenciais. Sendo que os objetivos específicos se subdividem em. Assim, ressalta-se que
n trabalho se estabeleceu os limites temporais de 01/03/2016 a 01/03/2019. Sendo que, para fins
de construção de referencial foi lançado mão de produções científicas. Já em relação a pesquisa,
esta foi feita por meio de análise qualitativa de dados, sendo utilizado o Método Hipotético
Dedutivo de pesquisa. Assim, a presente pesquisa concluiu que o Transtorno de Personalidade
Antissocial é uma anomalia caracterizada pelo comportamento antissocial e pela falta de
empatia, mas, que tal situação não prejudica a cognição e não altera a capacidade de
discernimento. No entanto, o indivíduo que possui TPAS sofre consideráveis prejuízos por conta
da incapacidade de internalizar valores relacionados a afetividade. Sendo que, ao antissocial
ainda não existe consenso quanto a sanção a lhe ser aplicada. Assim, em análise das decisões de
Tribunais escolhidos, se concluiu que as decisões dos tribunais são desuniformes, mas, em
decorrência de serem baseadas nos fundamentos apresentados nos laudos psiquiátricos. Neste
sentido, o presente trabalho alcançou os objetivos a que se propôs.

Palavras-Chaves: Transtorno de Personalidade; Antissocial; culpabilidade.


BARBOSA, Yenifer Micaela Fank. Mind without conscience: an analysis of criminal
sanctions against anti-social offenders. 45 f. Graduation Work - Law Course, Londrina State
University, Londrina / PR, 2019.
ABSTRACT

For offenders with Antisocial Personality Disorder, no specific device is dispensed. In this
sense, it is possible to have an awareness of how relevant the discussion of the theme is. In this
way, the present work has as general objective to study the criminal sanction directed to the
antisocial infringer in the Brazilian State through the analysis of different jurisprudential
decisions. . Thus, it is noteworthy that in work the temporal limits were established from
01/03/2016 to 01/03/2019. Being that, for the purpose of construction of referential was made
use of scientific productions. Regarding the research, this was done through qualitative analysis
of data, using the Hypothetical Method Deductive research. Thus, the present study concluded
that Antisocial Personality Disorder is an anomaly characterized by antisocial behavior and lack
of empathy, but that such a situation does not impair cognition and does not alter the capacity
for discernment. However, the individual who has TPAS suffers considerable losses due to the
inability to internalize values related to affectivity. Being that, to the antisocial thing does not
yet exist consensus as the sanction to be applied to him. Thus, in the analysis of the decisions
of Courts chosen, it was concluded that the decisions of the courts are uneven, but, as a result
of being based on the grounds presented in the psychiatric reports. In this sense, the present
work has achieved the objectives proposed
Key-Words: Personality disorder; Antisocial; Guilt.
LISTA DE FIGURAS

Figura A - Quadro demonstrativo: “Transtorno da Personalidade Antissocial”..................... 30


Figura B - Quadro demonstrativo: “Psicopata”....................................................................... 30
Figura C - Quadro demonstrativo: “Decisões”........................................................................ 33
LISTA DE SIGLAS

AAP: Associação Americana de Psiquiatria;


AGC: Agravo em Execução Criminal;
APL: Apelação Criminal;
CP/40: Código Penal de 1940;
DSM-5: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders-Fifth Edition;
OMS: Organização Mundial da Saúde;
RES: Recurso em Sentido Estrito;
TPAS: Transtorno de Personalidade Antissocial;
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO …………………………………………………………………..................11
CAPÍTULO 1: UMA FORMA DE "SER" NO MUNDO: NOÇÕES SOBRE O
TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL……………………................... 13
1.1 Transtorno……………………………………….............................................................. 13
1.2 Transtorno da Personalidade Antissocial (TPAS)............................................................. 14
1.3 Níveis, diagnóstico e características do TPAS ……………………………….................. 17

CAPÍTULO 2: A RESPOSTA ESTATAL À INFRAÇÃO PENAL …………….................20


2.1 Da culpabilidade………………………………………………………………................ 20
2.2 Das sanções………………………………………………………………….................... 23
2.3 Das Penas……………………………………………………………………................... 25
2.3.1 Dos fundamentos e finalidades da Pena ……………………………………................. 26
2.4 Das Medidas de Segurança……………………………………………………................ 27
2.4.1 Dos fundamentos e finalidades das Medidas de Segurança…………………................ 28
2.5 Das sanções ao infrator antissocial……………………………………………................ 29
2.5.1 Das categorias de conflitos encontradas……………………………………................. 31

CAPÍTULO 3: A ANÁLISE CONSTITUCIONAL DA RESPOSTA PENAL AOS


INFRATORES ANTISSOCIAIS…………………………………………………................. 33
3.1 Das decisões pela imputabilidade com aplicação comum de pena……………................ 33
3.2 Das decisões pela semi-imputabilidade com aplicação de redução legal da pena............. 35
3.3 Das decisões pela semi-imputabilidade com aplicação de Medida de Segurança............. 36
3.4 Das decisões pela inimputabilidade com aplicação de Medida de Segurança……........... 37
3.5 Das inseguranças…………………………………………………………………............ 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………................ 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………......... 43
11

INTRODUÇÃO
De acordo com a American Psychiatric Association, estima-se que 3,3% da população
masculina mundial têm algum grau de Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), qual
seja, a popular psicopatia. Já em ambientes de prisões masculinas a proporção pode chegar a
50%, uma vez que, pesquisas indicam que ao menos metade dos detentos preenchem os
critérios para este diagnóstico (TELLES1, 2016).
Logo, pode-se observar que utilizando-se a capacidade máxima (cerca de 78 mil
pessoas) do estádio do Maracanã, aproximadamente, 2.574 poderiam ser diagnosticadas com
TPAS, com base nas estatísticas.
Além disso, destaca-se que inexiste norma com dispositivo específico para tratar dos
casos em que os portadores do referido transtorno cometem ilícito na esfera criminal. Assim,
é possível ter a percepção do quão relevante é a discussão do tema. Desta forma, o Objeto de
Pesquisa são as decisões judiciais que versam sobre a responsabilização criminal do
antissocial infrator. Pois, em leituras o que se observou foi a pouca precisão Jurisprudencial
e a instabilidade de posicionamentos quanto a resposta na qual o Estado deva dispor a
antissociais infratores.
Desta forma, considerando que o jurista é responsável pela correta aplicação do
Direito, não devendo ser apenas do legislador o dever de entender o mundo dos fatos, faz-se
necessário estudos sobre a temática. Indo em busca, inclusive, de instrução da Psiquiatria,
para o aprofundamento nos estudos sobre o tema e o debate na esfera jurídico-criminal.
Sendo assim, o presente trabalho tem como Objetivo Geral estudar a sanção criminal
dirigida ao antissocial infrator no Estado Brasileiro. Sendo que os objetivos específicos se
subdividem em: (1) discorrer sobre o entendimento da Psiquiatria a respeito do Transtorno
de Personalidade Antissocial (TPAS); (2) dissertar a respeito das sanções estatais aos
infratores e verificar, na jurisprudência, a resposta estatal dada ao infrator antissocial no
Brasil; por fim, (3) analisar as problemáticas decorrentes da situação a partir da análise de
casos escolhidos.
Para fins de elaboração do referencial teórico, foi lançado mão de produções
científicas do Catálogo de Teses & Dissertações da Capes2, do Google Acadêmico3 e do

1
Entrevista dada a ABP TV em 04/01/2016
2
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/;
3
Refere-se ao Sitio Eletrônico: https://scholar.google.com.br/;
12

Scielo4. Já em relação a pesquisa, esta foi feita por meio de análise qualitativa de dados, sendo
utilizado o Método Hipotético Dedutivo de pesquisa
Sendo que, quanto à abordagem esta será qualitativa. Tem fins exploratórios e
descritivos, sendo feita por meio de levantamento de casos junto ao Jusbrasil5. Assim, a
amostra pesquisada foi colhida por cotas. Ou seja, a análise de decisões que entenderam pela
(I) imputabilidade com aplicação comum da pena, pela (II) semi-imputabilidade com
aplicação de medida de segurança, pela (III) semi-imputabilidade com aplicação de pena com
a redução legal, e por fim, decisões pela (IV) inimputabilidade com aplicação de medida de
segurança.
Mas, ressalta-se que tendo em vista a relevância de análise de dados mais recentes,
neste trabalho se estabeleceu os limites temporais considerando apenas os três últimos anos.
Assim, de 01/03/2016 a 01/03/2019.
Neste sentido, foi formulada a hipótese de que os tribunais acabam por analisar e
decidir o caso concreto da maneira que melhor convir. O que pode gerar insegurança jurídica,
uma vez que, situações análogas podem ter pesos distintos a depender a região geográfica
brasileira, da comoção nacional ou até mesmo dos valores subjetivos dos julgadores. Sendo
necessário a atividade do legislador, ou a padronização da jurisprudência a respeito da
temática para dar cabo a esta situação de insegurança.

4
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://www.scielo.org/php/index.php
5
Refere-se ao Sítio Eletrônico https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/?ref=navbar
13

CAPÍTULO 1: UMA FORMA DE "SER" NO MUNDO: O TRANSTORNO DA


PERSONALIDADE ANTISSOCIAL
O primeiro Capítulo busca cumprir o objetivo inicial que se propõe, qual seja,
discorrer sobre o entendimento da Psiquiatria a respeito do Transtorno de Personalidade
Antissocial (TPAS). Bem como apresentar contextualização histórica a respeito do tema.

1.1 Transtorno
Transtorno é toda “anomalia” percebida no comportamento do indivíduo derivado de
deficiência ou doença6. Neste sentido, de acordo com a American Psychiatric Association
(Associação Americana de Psiquiatria), na última edição do livro Diagnostic and Statistcal
Manual of Mental Disorders-Fifth Edition7 (DSM-5), transtorno é toda “perturbação
clinicamente significativa na cognição, na regulação emocional ou no comportamento de um
indivíduo que reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou de
desenvolvimento subjacentes ao funcionamento mental”.
E desta forma, são associados a doenças ou deficiências que afetam atividades
mentais. Ou seja, o “transtorno”8 é gênero, da qual deficiência e doença são espécies. Assim,
para que seja possível seguir com os objetivos propostos, a fim de estudar a problemática em
razão da desuniformidade de resposta penal em relação aos infratores antissociais se faz
necessária a criação de referencial teórico. Para tanto, é cabível breve explicação a respeito
da distinção entre doença e deficiência.
Neste sentido, observa-se que a Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que
saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na
ausência de doença ou de enfermidade (CONSTITUIÇÃO DA OMS, 1946 apud SINUS,
2014). Neste mesmo sentido, o Dicionário Aurélio descreve saúde como “o estado do
indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em estado normal” (2019).
Assim, pode-se interpretar que, a doença seja o inverso da saúde. Ou seja, o mal-estar,
a perturbação, a alteração ou o estado de anormalidade das funções naturais humanas, quais
sejam físicas, mentais ou sociais. Neste sentido, as doenças mentais seriam sofrimentos
causados por alterações ou perturbações ocorridas na mente, decorrentes de pré condições

6
A psiquiatria encontra-se em processo de substituição do termo “doença mental” por “sofrimento psíquico”.
7
Tradução: Manual Diagnóstico e estatístico de Transtornos Mentais/ DSM-5, lançado em 2014 sob a
direção de David J. Kupfer, M.D.
8
Recorrentemente se utiliza o termo “patologia” como sinônimo de transtorno.
14

externas ao sujeito (como o meio a qual está inserido) somadas a processos mórbidos
(questões biológicas pré existentes) (PEREIRA- p. 164).
Por sua vez, deficiência é a perda ou a ocorrência de anomalia que ocorre na estrutura
ou função psicológica, fisiológica ou anatômica do corpo, da qual pode ser temporária ou
permanente. Sendo que representa a exteriorização de incapacidades.(LT
AMIRALIAN,GHIRARDI,LICHTIG,MASINI, PASQUALIN e PINTO, 2000)
Desta forma, a doença é entendida como algo adquirido ou desenvolvido ao longo da
vida. Sendo que, sua principal característica é a possibilidade de enfrentamento da
anormalidade. Ou seja, o combate direto à perturbação, mesmo que não ocorra o processo de
cura. Diferentemente do que se entende por deficiência. Uma vez que, o que se faz não é o
enfrentamento da anormalidade, por conta da impossibilidade de o fazê-lo. Mas, sim, o
processo de gestão dos sintomas.
Neste sentido, os transtornos mentais podem estar relacionados a diferentes ordens
na vida de um indivíduo. Sendo eles em relação às emoções, a processos intelectuais, ao
comportamento, a personalidade, entre outros.

1.2 TPAS
O TPAS, por sua vez, é transtorno relacionado a personalidade. Desta forma, segundo
o DSM-5 (2014,p. 646) um transtorno da personalidade “é um padrão persistente de
experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da
cultura do indivíduo, é difuso e inflexível” sendo estável ao longo da vida.
No entanto, nem sempre foi entendido desta forma. Segundo a Doutora Simone de
Alcântara Savazzoni (2016, p. 37) na idade média, por exemplo, os comportamentos
desviantes eram tidos como possessão demoníaca. Época em que os indivíduos eram
submetidos a tortura e a tratamentos degradantes a fim de se executar “exorcismo”.
Sendo que, segundo o Psiquiatra Antônio José Eça (2010, p. 279), o primeiro a relatar
a respeito de tal transtorno foi o Médico italiano Girolamo Carnamo, no século XVI, quando
relatou o matricídio cometido por seu filho à própria mãe (apud BRASIL, Resp. 1306687,
2018, p. 06)
Mas, de acordo com BIASSUS e PEREIRA o estudo a respeito do TPAS teve início
a partir da introdução na Psicologia e Psiquiatria do conceito “mania sem delírio” de PINEL,
no fim do século XVIII e “loucura sem moral”, de PRICHARD, no século XX. Sendo que a
primeira designação dada ao referido transtorno foi “psicopatia”. Neste sentido, os autores
15

relatam que tratava-se inicialmente de estudo sobre indivíduos agressivos e que


demonstravam pouquíssima empatia.
Outro estudo considerável foi “L’Uomo Delinquente”(1876), na qual LOMBROSO
defendeu a existência de um criminoso nato. E se propôs a provar sua teoria através de
estudos direcionados ao biodeterminismo. No entanto, foi com KOCH e KRAEPELIN em
1888 e 1896 na qual o TPAS começou a ser estudado como perturbação da personalidade.
Sendo que KARPMAN (1948) com observações empíricas caracterizou o antissocial como
alguém cruel e SCHNEIDER (1968) o descreveu como promovedor da “atuação da
simpatia”, com propensão a enganar e convencer com extrema convicção (SAVAZZONI,
2016, p. 44)
Fato é que, no decorrer dos anos, desde o início dos estudos sobre este transtorno,
muito se tem debatido quanto a classificações, caracterização de comportamentos, etc. Mas,
foi a partir de 1950, com maior interação da Medicina, da Psicologia e Psiquiatria e com o
advento da sistematização das classificações dos transtornos - que foi posta em documento
no primeiro DMS é que se houve maior tentativa pela padronização das classificações. No
entanto, ainda hoje existem discussões a respeito de nomenclaturas.
Dentre os vários transtornos da personalidade que já foram objeto de estudos pela
Psiquiatria, o TPAS é considerado um desvio em que a ciência moderna garante não se tratar
de doença mas, uma espécie de deficiência emocional, uma "falta de consciência”.
Neste sentido, Associação Americana de Psiquiatria (AAP) trata-se de é um “padrão
de desrespeito e violação dos direitos dos outros” (p. 659, 2014). Sendo que, de acordo com
o Professor Osvaldo Luiz Saide, nas palavras de Ana Beatriz Barbosa Silva (2008), a
"consciência" é simplesmente a capacidade amar e de se sentir castigado pelo consciente,
sendo assim a capacidade de sentir remorso. Que, indivíduos portadores deste transtorno
costumam agir de acordo com seus interesses manipulando situações, indiferentemente do
sofrimento de outras pessoas. Percebe-se então, que com a falta do remorso e da capacidade
de sentir empatia existe um ser humano sem “consciência” moral. Assim, existe um padrão
de transgressões a normas morais, e até mesmo legais.
A literatura médica encontra-se dividida no que diz respeito a origem desse
transtorno. Sendo que, alguns9 acreditam tratar-se de estado em que o indivíduo já nasce com
estas condições e assim são no mundo, independentemente de fatores no meio a qual estão

9
Entendimento adotado por exemplo pelo psiquiatra Talvani Martins de Morais, em entrevista dada ABP TV
em 04/01/2016
16

inseridos (congênita). Outros10, acreditam que trata-se de um desenvolvimento ocorrido de


uma predisposição, acompanhado de fatores socioambientais (subjacente).
Para o renomado neurocientista Jorge Moll, o referido transtorno ocorre por conta de
uma lesão, localizada no sistema límbico do cérebro, que é o responsável pela emoção que
geram deficiências em juízos relativos a emoção. Por sua vez VASCONCELLOS e GAUER
(2004) e DEL-BEN (2005) destacam, ainda, a existência de outras alterações no cérebro
(apud BIASSUS e PEREIRA, p. 10). Outros pesquisadores, através de exames de imagem
também chegaram à mesma conclusão, como é o caso de RAINE e PIERRE (SAVAZZONI,
2016, p.53).
Fato é que, independentemente da origem (congênita ou subjacente), é consenso de
que existe uma incapacidade em relação ao “correto” processamento das emoções. No
entanto, importante destacar que, de acordo com SAVAZZONI (2016), desde os estudos de
PINEL e PRITCHARD, se tem o entendimento consolidado de que este transtorno não
prejudica a percepção e cognição do indivíduo em relação à realidade. Tanto que, indivíduos
antissociais são tidos como dotados de extrema razão. Ou seja, inexistem anormalidades
relativas ao raciocínio e à compreensão da ilicitude de normas morais ou legais.
Mas, é consenso de que trata-se de um estado crônico. Em que se existe um padrão
persistente de desvio e reincidência. Não sendo uma doença, assim, não sendo passível de
tratamento ou cura. Onde muitos pesquisadores, como Ana Beatriz Barbosa Silva (2008) e
Marta Stout (2010, apud SAVAZZONI, 2016, p. 66), defendem que trata-se de uma forma
de o indivíduo ser e existir no mundo.
De acordo com o DSM-5 (2014) os indivíduos portadores deste transtorno possuem
comportamentos que indicam desajuste à normas sociais, morais e até mesmo legais. Sendo
que o perfil de comportamento depende do nível de transtorno que o indivíduo possui. Neste
sentido, o DSM-5 descreve que para se caracterizar a presença do transtorno é necessário
apenas verificar no indivíduo (por exames psiquiátricos) se inexiste a capacidade de sentir
empatia e a inexistência de remorsos em relação a comportamentos desviantes.
Mas, outras características comportamentais de antissociais também podem ser
observadas em relação a normas sociais e morais. Pois, estes indivíduos demonstram
corriqueiramente arrogância, falta de empatia, desdém, falsidade, mentira (repetitivamente),

10
Entendimento adotado pela Associação Americana de Psiquiatria, demonstrado no DSM-5 (2014)
17

impulsividade, irresponsabilidades reiteradas (como manter condutas inconsistentes nos


meios de convívio), manipulação e exploração econômica, física e sexual de outros
indivíduos, ausência de remorso ou busca pela racionalização de comportamentos
prejudiciais a outras pessoas, dificuldade para manter relacionamentos, tendência a viver em
conflitos, frequente envolvimento com drogas e envolvimento com situações de risco e
perigo. Sendo que, em relação a normas legais, observa-se o descaso pela segurança de si ou
de outros, trapaça para vantagens ou prazeres pessoais, descumprimento de obrigações
financeiras e até mesmo o cometimento de crimes com agressividade ou crueldade (DSM-5,
2014, p. 659).

1.3 Níveis, diagnóstico e características do TPAS


Algumas correntes da Psiquiatria, procuram distinguir os sujeitos antissociais,
atribuindo-lhes diversas nomenclaturas, de acordo com seus comportamentos característicos.
Sendo que existem diversas discussões a respeito de categorizações 11. Mas, baseando-se na
gravidade do transtorno, muitos defenderam que graus mais leves seriam os psicopatas e os
mais severos os sociopatas. Por sua vez, a Organização Mundial de Saúde limita-se a
esclarecer que a personalidade Antissocial refere-se ao distúrbio de personalidade no qual
predominam manifestações sociopáticas ou associais (Debray, 1982 apud DAVOGLIO e
ARGIMON, 2010). Neste mesmo sentido, para muitos da área da saúde a Psicopatia e a
Sociopatia continuaram sinônimos.
No entanto, parte dos estudiosos preferiram utilizar o termo Sociopatia para definir
antissociais agressivos, a qual deveria ser um subgrupo da categoria maior, qual seja,
Psicopatia (Goodwin & Guze,1981 apud DAVOGLIO e ARGIMON, 2010). No entanto, a
American Association Psychiatric (AAP), por sua vez, não empenha-se em terminologias,
mas acredita que todas elas devem ser utilizadas como sinônimo ao indivíduo portador de
TPAS. Uma vez que, trata-se de indivíduos desprovidos de remorso e da capacidade de sentir
empatia. Sendo que questões terminológicas podem ser discutidas para classificar
comportamentos. No entanto, não deixando de se tratar de TPAS.
Neste sentido, o presente trabalho não irá aprofundar-se nas discussões teóricas a
respeito de terminologias, nomenclaturas e classificações relacionadas aos indivíduos

11
A exemplo os estudos de Emírio Mira y Lopes (2007) na qual subdividiu o antissociais em dez subcategorias,
quais sejam: mitômana, histérica, explosiva, paranoide, compulsiva, hermética, cicloide, amoral, astênica e
instável (apud SAVAZZONI, 2016, p. 58)
18

desprovidos da capacidade de sentir empatia. Utilizará apenas o termo adotado pelo DSM-5,
qual seja, Transtorno da personalidade Antissocial (TPAS) ou, como dito, “antissocial”.
O que pode-se observar é que, muitos profissionais da área procuram estabelecer
distinção entre os indivíduos que possuem TPAS. Isto, em decorrência das diferenças de
comportamento as quais podem haver entre estes indivíduos. Desde os mais agressivos até
os mais sociáveis. Neste sentido, neste estudo o TPAS considerará apenas o nível de
agressividade e perigo no qual o indivíduo possa apresentar para si ou para outro. Sem,
necessariamente o classificá-lo utilizando uma nomenclatura diferenciada para cada um,
limitando-se apenas a tratar como nível 1 e 212
Sendo que a designação de “nível 1”, será utilizada para referir-se a antissociais
menos agressivos, que limitam-se às violações nas esferas da moral ou a pequenos delitos.
Sendo, portanto, não ameaçadores ao arranjo da ordem social como é o caso, por exemplo,
das manipuladoras e “parasitas” retratadas em novelas, que aplicam golpes como os famosos
“golpes do baú”.
Por sua vez, os de “nível 2” serão relacionados àqueles com desvio de grau mais
elevado. Sendo que, pode ser relacionado com a considerável reincidência e envolvimento
destes indivíduos em crimes de maior potencial ofensivo, como assassinatos em série,
estupros, etc, podendo demonstrar sem êxito a necessidade de promover sofrimento. A
exemplo disso são os retratados como “serial Killers” em filmes americanos.
Neste sentido, segundo Felipe Biasus e Lucas Moraes Pereira, por se tratar de um
transtorno extremamente complexo, em muitas situações o diagnóstico é algo difícil. Sendo
este feito através de entrevistas semiestruturadas, inexistindo exames para diagnóstico. Desta
forma, segundo SAVAZZONI (2016, p. 45) a entrevista estruturada mais utilizada no mundo,
e a única aprovada no Brasil atualmente, para diagnóstico é o Psychopathy Checklist-revised
(PCL-R)13 proposta por Robert D. Hare na década de setenta. No entanto, o que pode garantir
um diagnóstico seguro é a qualificação e a experiência do examinador. (CASTRO, 2015, p.
06).

12
Classificação idealizada com base no Estudo de KARPMAN (1948 e 1955), onde o pesquisador subdividiu
os antissociais em idiopáticos (comportamentos mais retraídos e recorrentemente parasitas) e sintomáticos
(comportamentos mais imperativos, agressivos e predadores) (apud SAVAZZONI, 2016, p. 58)
13
De acordo com SAVAZZONI (2016) a entrevista é estruturada em relação a diversos aspectos onde o
avaliador atribui uma pontuação de 0 a 2 pontos a cada um dos 20 itens elencados na entrevista.
19

Desta maneira, segundo o DSM-5 (2014), a inferição do diagnóstico deve observar o


reiteração a persistência do cometimento de ao menos três dos comportamentos citados
anteriormente. Acrescenta-se o fato de que o diagnóstico não deve ser feito antes dos 18 anos,
uma vez que trata-se de uma situação que pode trazer considerável peso negativo à conclusão
do desenvolvimento e formação do indivíduo.
Além disso, para que esse diagnóstico seja firmado o indivíduo deve, ainda, ter
apresentado sintomas de transtorno da conduta antes dos 15 anos no qual “os direitos básicos
dos outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados” (DSM-
5, 2014, p.659). Neste mesmo sentido, a AAP (2014) enfatiza que os comportamentos
característicos do transtorno da conduta, os quais podem ser observado para que se submeta
o indivíduo ao processo de diagnóstico, podem encontrar-se em uma das quatro categorias:
(I) agressão a seres humanos e/ou animais, (II) destruição de coisas/propriedade, (III) fraude
ou roubo, ou (IV) grave violação a regras morais.
Quanto ao tratamento, as diversas pesquisas feitas têm demonstrado resultados
insatisfatórios. O que pode ser observado é a possibilidade de controle de alguns
comportamentos por meio de tratamento psicoativo (medicação) como é o caso da
agressividade (CORDEIRO e MORAES, 201614). O mesmo raciocínio deve ser utilizado
relação à prevenção. Pois a maior parte dos pesquisadores, como Talvane de Moraes (2016),
acredita que inexiste a prevenção. Uma vez que entendem tratar-se de uma forma de ser no
mundo e não uma doença. Mas, defendem que se a intervenção em crianças portadoras de
desvio de conduta ocorrer de maneira mais precoce poderia ocorrer a diminuição da
ocorrência de comportamentos desviantes.

14
Entrevista “Transtorno de Personalidade Antissocial, dada a ABP TV em 04/01/2016
20

CAPÍTULO 2: A RESPOSTA ESTATAL À INFRAÇÃO PENAL


Por sua vez, este capítulo busca cumprir com o segundo objetivo. Qual seja, dissertar
a respeito das sanções estatais impostas aos infratores, e verificar, na jurisprudência, a
resposta estatal dada ao infrator antissocial no Brasil. Além do mais, destaca-se que tal
pesquisa foi feita por meio de análise qualitativa de dados, sendo utilizado o Método
Hipotético Dedutivo de pesquisa, que foi aplicado através de buscas no Jus Brasil15 para que
se pudesse fazer a análise de dados.
No entanto, antes de adentrar-se na análise das sanções dispostas aos indivíduos se
faz necessário relembrar o que fundamenta a aplicação estatal de uma sanção. Desta forma,
cabe dissertar a respeito da culpabilidade e posteriormente passar ao cumprimento dos
objetivos deste capítulo.

2.1 Da culpabilidade
A culpabilidade é um dos elementos que compõem a tripartição da teoria do crime.
Segundo o Doutor Júlio Fabbrini Mirabete e o Doutor Renato N. Fabbrini (2015) a
culpabilidade é um juízo de reprovação e que somente se pode responsabilizar o sujeito que
entenda o caráter reprovável da ação ou omissão. Neste sentido, os autores citam a Teoria da
Imputabilidade Moral16, segundo o qual, afirma que o ser humano é dotado de liberdade e
discernimento. Assim, pode se auto determinar e arcar com as responsabilidade advindas do
exercício de sua liberdade.
Desta forma, MIRABETE e FABBRINI (2015) argumentam que quando o sujeito é
capaz de entender a ilicitude de sua conduta e agir de acordo com este entendimento, se está
diante da imputabilidade. No mesmo sentido argumenta MESQUITA Jr. (2014), que
“imputabilidade é a capacidade que tem o agente de compreender a ilicitude do fato e agir de
acordo com esse entendimento”.
Sendo que, o autor MESQUITA Jr. (2014) acrescenta que, no Brasil, a imputabilidade
vem acompanhada do binômio “sanidade mental” (critério psicológico) e “maturidade”
(critério biológico/etiológico). Neste sentido, MIRABETE e FABBRINI (2015) explicam
que a legislação brasileira adotou o critério biopsicossocial - que é a junção dos critérios
psicológico e biológico/etiológico, no artigo 26 do Código Penal Brasileiro (CP/40).

15
Refere-se a Sítio Eletrônico https://www.jusbrasil.com.br/, utilizado recorrentemente pela comunidade
jurídica para pesquisas rápidas de jurisprudências.
16
Baseada na ideia de livre arbítrio.
21

Assim, são imputáveis, ou seja, responsabilizados criminalmente aqueles que


possuem o entendimento do caráter ilícito do fato. Neste sentido, observa-se que entender a
ilicitude de algo é o mesmo de possuir capacidade de discernimento. Desta forma, segundo
o dicionário Michaelis17, o discernimento é a “capacidade de compreensão, a habilidade de
separar o certo do errado”.
Já quem não possui o entendimento do caráter ilícito de uma ação ou omissão, por
causas que afetam a saúde mental, é considerado inimputável. Ou seja, não passível de
responsabilização. Desta maneira, o art. 26 do CP/40 disciplina que:

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental


incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento (1940)18

Assim, é inimputável quem possui doença mental, desenvolvimentos mental


incompleto, desenvolvimento mental retardado (e também aqueles casos de embriaguez por
caso fortuito e força maior) que em decorrência dessa circunstância, o agente, é inteiramente
incapaz de entender a ilicitude de seu comportamento. Desta maneira, o agente não é
responsabilizado. Uma vez que, existe a exclusão de sua culpabilidade.
Mas, como argumenta Damásio de Jesus (2015, p. 546) “a natureza não dá saltos”.
Assim, se existem níveis intermediários entre a presença e a ausência de saúde psíquica,
também deve haver o intermédio entre a imputabilidade e a inimputabilidade. Neste
sentido, podemos observar a existência da semi-imputabilidade.
Desta maneira, se a imputabilidade e a inimputabilidade é determinada pela
capacidade intelectiva, ou seja, de discernimento da ilicitude. A semi-imputabilidade, por
outro lado, baseia-se na ideia de autodeterminação conforme o juízo que se tem da ilicitude,
qual seja, a capacidade volitiva.
Neste sentido, fala-se em “capacidade diminuída” ou “responsabilidade
diminuída”. Uma vez que, o agente entendia a ilicitude de sua conduta mas, ao momento
do fato não pode se determinar conforme o entendimento que tinha, por motivo que não deu
causa. Mas, enquanto a inimputabilidade exclui a responsabilização, a semi-imputabilidade
não o faz. Pois, é causa apenas de diminuição da responsabilização.

17
Refere-se ao dicionário eletrônico, da editora Melhoramentos, recorrentemente utilizado no meio acadêmico.
Disponível no sitio eletrônico: https://michaelis.uol.com.br/
18
Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984
22

Assim, como já dito anteriormente, os antissociais são providos de discernimento


e consequentemente capazes de elaborarem raciocínio lógico, bem como entender o caráter
de ilicitude de uma ação ou omissão. Desta forma, não lhes é cabível a atribuição de status
“retardamento mental”, uma vez que são capazes de processar racionalmente qualquer
norma. Nem mesmo o status de portador de doença mental, uma vez que o referido
transtorno não é doença mas, uma forma do indivíduo ser no mundo.
No entanto, pode-se dizer que os indivíduos portadores de TPAS possuem o
desenvolvimento mental incompleto. Pois, não possuem a capacidade de exercício dos
freios morais inibitórios. Uma vez que, os antissociais são incapazes de sentir empatia, que
é entendida como “habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa” e “compreensão dos
sentimentos, desejos, ideias e ações de outrem” (MICHAELLIS, 2018). Ou seja, os freios
morais essenciais são inexistentes. Pois, não sofrem a experiência das emoções relacionadas
à empatia. Neste sentido, importante são as considerações de SAVAZZONI:

Estudos médicos indicam que esses indivíduos aprendem as palavras, entendem


seu sentido formal, são capazes até de imitar experiências, mas não compreendem
o valor e significado emocional. Experiências sugerem que, no processamento de
palavras emocionais, os psicopatas não ativam as mesmas áreas do cérebro que
normalmente as pessoas acionam.166 Assim, comparativamente, seriam como “uma
pessoa que não enxerga cores, que vê o mundo em sombras cinzentas, mas que
aprendeu como deve agir no mundo colorido”. 167

Esse “aprendizado” baseia-se tão somente na observação dos comportamentos


e das reações que os outros têm diante do discurso. A partir dessas “dicas”, o
psicopata assimila o que dizer para chocar ou impressionar, mesmo que não
compreenda realmente o impacto e a emoção envolvidos na situação por ele
provocada.

No outro extremo desse mesmo processo, os psicopatas também apreendem as


regras elaboradas por outras pessoas como palavras “vazias”. Por isso, a
consciência deles restringe-se ao reconhecimento formal dessas regras, sem
nenhuma carga emocional que acione o gatilho do processo de controle interno
capaz de gerar medo, culpa e/ou remorso diante das transgressões (2016, p. 65 e
66)

Ou seja, ainda que compreenda que exista proibição em relação a determinada ação
ou omissão, processando corretamente o caráter de ilicitude da mesma, jamais será capaz de
associar e internalizar a proibição com suas emoções. Desta forma, o que se observa é um
considerável prejuízo desses indivíduos quando expostos a convivência em sociedade. Pois,
encontram-se em situação de disparidade, com os demais, em relação à capacidade de
convivência. Uma vez que, por mais que se haja a correta interpretação da ilicitude dos fatos,
inexiste elemento básico para a vivência das emoções - que é o que em regra legítima a
ilicitude moral ou legal - qual seja, a empatia.
23

Desta forma, desprovido dos freios inibitórios o antissocial acaba por ser um infrator
natural da ordem moral ou até mesmo legal. Assim, dado o exposto, se faz necessário
entender a resposta que o Estado entrega a quem, em tais condições, infringe a lei.

2.2 Das Sanções:


A sanção penal é a resposta que o Estado dá a uma infração penal. Sendo que um
gênero que pode “vir” em duas espécies, qual seja, como Pena ou como Medida de
Segurança. Sendo que, a aplicação da Pena depende da capacidade de discernimento do
agente que cometeu a infração, e na falta deste, aplica-se a medida de segurança (JESUS,
2015, p. 593)
Segundo o Doutor Rogério Greco (2006) a primeira sanção que se tem registro é a
aquela narrada na bíblia, na qual foi imposta por Deus ao ser humano quando se corrompeu
no paraíso. Por terem provado do fruto proibido, Deus penalizou Adão e Eva a não terem
mais acesso ao Jardim do Éden, lançando-os fora do Paraíso. Também aplicou-lhes outras
penas, que seriam cumpridas também por seus descendentes, como a dura passagem de dor
pelo parto e o convívio tomado pelo medo dos riscos da convivência com predadores e bestas.

Dessa forma, segundo referida passagem bíblica, depois de condenado por Deus, o
homem passou a viver em grupo. E a ter suas normas e regras de convivência. E na quebra
de uma norma, ao infrator eram aplicadas duras penas, inclusive aos descendentes do infrator
(MIRABETE e FABBRINI, 2015, p. 230).
Assim, na antiguidade as sanções eram aplicadas pelo ofendido ou seus familiares,
em nome de Deus. A exemplo disso eram as penas de escravidão, em que o apenado era
submetidos a servidão forçada para o ofendido ou a seus familiares (GREGO, 2006, p. 522).
No entanto, a partir do momento em que o ser humano passou a se organizar em
grupos maiores que os de tribos, instituindo as organizações com o Estado mais primitivo,
passou-se então a haver a aplicação da sanção por meio de um terceiro. Ou seja o Estado, que
assim passou a tomar o monopólio da aplicação das sanções.
Desta forma, havia a vingança pública, que agora era em nome do rei ou do príncipe,
até o século VII (MESQUITA Jr., 2014, p. 53 - 62). Exemplo disto eram as execuções
públicas, os açoites, o confisco de bens, o exílio, entre outras (MIRABETE E FABBRINI,
2015, p. 230). Sendo que, antes da humanização das penas (até o fim do século XVII) a prisão
não era tida como pena autônoma, era mero instrumento processual. Onde, o “processado”
aguardava preso até a data de seu julgamento e execução.
24

No entanto, foi neste mesmo período que surgiram as primeiras aplicações de


Medidas de Segurança mais primitivas, no Direito Romano. Sendo que, os menores de sete
anos eram considerados incapazes de cometer um crime. Mas, aqueles que tinham entre sete
e quatorze anos, mesmo não podendo cometer crimes públicos, eram capazes de cometer
aqueles considerados como privados, podendo ser submetidos a verberatio19. Já em relação
aos doentes mentais infratores, se não pudessem ser contidos pelos seus familiares eram
encarcerados (MESQUITA Jr., 2014, p. 468).

Sendo que, a partir do século VII, com o fim da perseguição aos cristãos e com o
advento da grande influência da igreja católica, as sanções voltam a ser aplicadas em nome
de Deus. Surgiram os primeiros estabelecimentos prisionais. Locais estes que eram
extremamente insalubres e desumanos, chegando a ser uma condenação para uma morte lenta
e cruel (MESQUITA JR., 2014, p. 61 e 62).

Já em relação aqueles que possuíam capacidade intelectual reduzida a partir do século


XVI, surgiram novas formas de sanção (aos menores, doentes mentais, ébrios habituais,
“vagabundos” e mendigos) chamadas de “medida de precaução”. Sendo que, na Inglaterra,
em 1860 foram instituídos os primeiros manicômios criminais, locais de extremo sofrimento
aos condenados, de isolamento, tratamento degradante e segregação.

Mas disposições típicas de medidas de segurança só foram incorporadas a partir de


1889 com o código italiano. Assim, a partir do século XVIII, com o advento do período
Iluminista, e inspirado nas lições de Cesare Beccaria 20 e as lições de filosofia do direito de
Emmanuel Kant 21, ambos defensores do ser humano como pessoa e não como coisa, as penas
corporais foram saindo de cena e começaram a dar espaço a humanização em sua execução
(GRECO, 2006, p. 522).

Em 1893, a sistematização das medidas de segurança, foi feita pela primeira vez, por
Carlos Stoos, como anteprojeto ao código Penal Suíço. A humanização da pena foi
aperfeiçoada com o advento do pós- Segunda Guerra Mundial, a partir da Declaração
Universal dos Direitos Humanos 22. E o sistema proposto por Stoos foi adotado na Suiça em
1937 (MESQUITA JR., 2014, p. 469). Assim, em decorrência da referida declaração e da

19
Era a aplicação do flagelo, tido como medida admonitória (MESQUITA Jr., 2014, p. 469).
20
Autor do Livro “Dos Delitos e das Penas”, publicado em 1764.
21
Autor de “Doutrina do Direito”, publicada em 1797.
22
Declaração aprovada em resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948.
25

“onda” neoconstitucionalista do século XX, diversos pactos internacionais e constituições


foram criados contemplando a dignidade humana em diversas formas. Dentre elas a
dignidade nos ambientes de reclusão e restrição da liberdade.

O Brasil, por sua vez, teve grande influência da legislação Italiana. Sendo que, as
disposições sobre Pena e Medida de Segurança, do Código Penal Brasileiro de 1940, vieram
do Código Penal Italiano de 1930. Importante destacar a reforma legislativa brasileira,
ocorrida em 1984, no Código Penal de 1940, com o advento da Lei nº 7.209, de 1984. Lei
esta que revogou as disposições que possibilitaram a aplicação de pena cominada com
aplicação de Medida de Segurança à infrator que possuíssem “problemas” psiquiátricos.
Desta forma, com a reforma, inadmite-se a aplicação binária de sanção, limitando-se a
aplicação ou da pena ou da medida de segurança enquanto privação da liberdade
(MESQUITA JR., 2014, p. 470).

Sendo que, inadmite-se também os ditos “manicômios Judiciários” e cárceres sem


salubridade e a manutenção da dignidade humana. Desta maneira, não são mais utilizadas
como resposta à infração penal, mesmo que à infração grave, sanções degradantes ou
destruidoras da dignidade humana.

2.3 Das Penas


Assim, a pena hoje é a resposta estatal dada em decorrência de condenação em um
devido processo legal, a um autor de um crime , que consiste na privação ou restrição de um
bem jurídico a fim de se evitar novos delitos (SOLER, 1970, p. 342 apud MIRABETE e
FABBRINI, 2015, p. 232). Neste sentido, segundo o Doutor Fernando Capez pena é a:
Sanção penal de caráter aflitivo, imposta pelo Estado, em execução de uma
sentença, ao culpado pela prática de uma infração penal, consistente na restrição
ou privação de um bem jurídico, cuja finalidade é aplicar a retribuição punitiva ao
delinquente, promover a sua readaptação social e prevenir novas transgressões pela
intimidação dirigida à coletividade (2011)

Desta forma, se observa que, a pena é uma retribuição feita pelo Estado, com intuito
de evitar novos delitos, à alguém que sofreu um processo legítimo e foi condenado pela
prática de alguma infração penal, sendo restrito ou privado de algum bem jurídico.
Sendo que, atualmente, as penas se resumem em restrição da liberdade, restrição de
direitos e multa e sua aplicação, depende de critérios objetivos e subjetivos. Acrescenta-se
que, no Brasil, as penas podem ser aplicadas tanto a imputáveis e semi-imputáveis, a
depender do caso concreto.
26

A aplicação e tipo de pena dependerá da situação concreta. Sendo que, para delitos
considerados com maior potencial ofensivo são aplicadas penas mais duras e para os menos
ofensivos penas mais brandas. Sendo que, as penas se subdividem em (I) privativas de
liberdade, (II) restritivas de direitos e (III) multa.
As penas privativas de liberdade englobam a reclusão, a detenção e a prisão simples.
A primeira se refere àquelas situações em que se existe o maior potencial ofensivo, onde o
regime inicial é fechado. Já a segunda se refere àquelas situações em que se há menor
potencial ofensivo, tendo por conseguinte pena menos severa e regime inicial de
cumprimento de pena em semiaberto, e até mesmo aberto. Por fim, as terceira subespécie é
aquela aplicada para situações de contravenção penal, e em regra são utilizadas para fazer
cessar situações de pequenas lesões a direitos. (CAPEZ, 2011, p. 388)
Já as penas restritivas de direito são penas alternativas. Ou seja, são medidas
alternativas à manutenção de uma pena de privação da liberdade. Mas, estas só podem ser
aplicadas em casos de crimes de menor potencial ofensivo. São exemplos de penas restritivas
de direito as prestações pecuniárias e as limitações de fins de semanas e as multas de caráter
substitutivas (JESUS, 2015, p.575)
Por sua vez, a multa, por sí só possui caráter de pena autônoma. Ela pode ser aplicada
naqueles casos em que existe a cominação legal, dada pelo tipo penal. Além disso, observa-
se que ela pode ser aplicada isoladamente ou combinada com outras penas (JESUS, 2015, p.
391)

2.3.1 Fundamentos e Finalidades da Pena


Se antes a pena se fundava na necessidade de saciedade da vingança, inicialmente
privada e posteriormente institucionalizada, além de ter como finalidade unicamente a
retribuição de um mal, passou com o advento da humanização e do neoconstitucionalismo a
ter novos fundamentos e finalidades.

Destaca-se que os fundamentos da pena não se confundem com suas finalidades. Os


fundamentos são uma junção tríplice: político-estatal, psicossocial, e ético individual. Em
relação ao fundamento político-estatal, significa dizer que existe a necessidade de imposição
estatal da pena pois sem a sanção o Estado perderia o poder coativo e se tornaria ineficiente
no enfrentamento das infrações. Já em relação ao fundamento psicossocial trata-se da
razoável satisfação aos anseios da sociedade por justiça. Por fim, o fundamento ético-
individual é a possibilidade de exercício do infrator em “quitar” o prejuízo social causado.
27

Já as finalidades da pena são os objetivos da pena, propriamente ditos. As finalidades


são estudadas por três grandes grupos de teorias. Qual seja a Teorias Absolutas, Teorias
Relativas e Teorias Mistas (CAPEZ, 2011, p. 385).

As teorias absolutas defendem que a pena possui finalidade exclusivamente


retributiva. Dois dos grandes nomes defensores desta teoria foram Manuel Kant e Georg
Wilhelm Friedrich Hegel. Essas teorias defendem que, a pena é uma vingança estatal, é um
“mal justo” a ser atribuído ao autor da infração penal como retribuição de um “mal injusto”
praticado, qual seja, o crime. No entanto, os críticos desta teoria enfatizam que a finalidade
retributiva não possui uma finalidade prática (MESQUITA Jr., 2014, p. 45).

Já as teorias relativas defendem que a pena possui uma finalidade preventiva e


educativa. Ou seja, o Estado penaliza com o objetivo de prevenir novos crimes. Sendo que a
preventividade se subdivide em preventiva geral e específica (MESQUITA Jr., 2014, p. 45)

A prevenção geral busca intimidar a sociedade, como um todo, para que não se
pratique o delito. A crítica levantada contra essa teoria é relacionada a instrumentalização do
ser humano. Ou seja, o apenado é utilizado como meio de intimidação. Desta forma, seria
descabido este comportamento por parte do Estado, uma vez que o ser humano deve ser um
fim, e não um meio.

Já a prevenção específica é a ameaça e eventual retirada temporária do infrator da


sociedade para que não pratique outros delitos, como forma educativa. Sendo que, a crítica
levantada contra essa teoria é que o caráter educativo não deve ser imposta pelo Estado, uma
vez que este é papel moral incumbido à família e à sociedade, e não ao Estado.

Por fim, a teoria adotada no Brasil é chamada Teoria Mista, também chamada de
teoria eclética, unitária, dialética ou unificadora. Para esta teoria, a pena apresenta dupla ou
até mesmo tríplice finalidade. Ou seja, é retribuição e também prevenção geral e especial
(GREGO, 2006, p. 526). Sendo aceita e adotada majoritariamente em âmbito internacional.
A exemplo disto foi a convenção Americana de Direitos Humanos de 1969, que deu origem
ao o Pacto de San José da costa Rica adotado que foi internalizado no Brasil em 1992.

2.4 Das Medidas de Segurança

Medida de segurança é uma sanção penal disposta pelo Estado ao Inimputável ou


semi-imputável pela prática de delito. Se distingue da pena pois possui, essencialmente,
natureza de tratamento compulsório. Assim, no Brasil, sempre que se existe uma infração
28

penal cuja pena seja a restrição da liberdade, ao inimputável, sempre lhe é aplicado a Medida
de Segurança. Podendo também, ser aplicada ao semi-imputável (JESUS, 2015, p. 593)
Desta maneira, o art. 98 do CP dispõe que na hipótese de haver inimputabilidade e
semi-imputabilidade “a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos”23. Ou seja, em havendo
necessidade da medida, esta será aplicada ou em regime de internamento (fechado), ou
tratamento ambulatorial (aberto).

2.4.1 Dos fundamentos e finalidades das Medidas de Segurança

Em relação às finalidades das medidas de segurança, importante destacar que não é


unânime o entendimento de que a medida de segurança seja sanção penal24. E este trabalho
não tem o intuito de aprofundar-se nesta discussão teórica. No entanto, importante destacar
as três correntes existentes. Uma vez que são elas que explicam as finalidades das medidas
de segurança. Assim, as referidas teorias são:(I) Teoria da Prevenção-retributiva, (II) Teoria
da Prevenção-curativa e a (III) Teoria da Assistência-curativa.
A primeira, formada por renomados doutrinadores como Guilherme de Souza Nucci
e Luiz Regis Prado, defende que a Medida de Segurança é uma sanção penal. Sendo assim,
para esses autores a Medida de Segurança é resposta estatal aplicável para inimputáveis
infratores. Ela se justifica por se tratar de situações em que se há a inexistência de
discernimento ou capacidade de se orientar em relação ao discernimento de ilicitude. Assim,
possui finalidade preventiva e retributiva (MESQUITA Jr., 2014, p. 470)
Já uma segunda corrente doutrinária, adotada pela maior parte da doutrina brasileira,
formada por doutrinadores como Rogério Greco e Julio Fabbrini Mirabete, defende que a
Medida de Segurança possui a finalidade de preventiva e curativa. Independentemente de
haver cura ou não, para estes autores, a medida de segurança deve ser aplicada com o intuito
de prevenir novos delitos mas, também de tratar aquele que o praticou (MESQUITA Jr.,
2014, p. 470).
Por fim, a terceira corrente, formada por doutrinadores como Francisco de Assis
Toledo e Eugenio Raúl Zaffaroni, defende que a medida de segurança se presta tão somente

23
Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984
24
Para outros autores, como Sidio Rosa Mesquita Júnior (2014), que defende que trata-se de medida
administrativa do Estado, decorrente de seu poder de polícia. Uma vez que nela inexiste o caráter retributivo e
sim o caráter assistencial ao agente que cometeu a infração.
29

a assistência e/ou curar. Defende que, em havendo o discernimento afetado, não há que se
falar em aplicação de sanção penal. Mas, o que deve haver é a aplicação da medida de
segurança como forma de proteger a sociedade e o indivíduo que praticou o delito. defende
ainda , esta corrente que, a custódia psiquiátrica é medida excepcional e só deve ser aplicada
quando as medidas extra hospitalares forem ineficiente (MESQUITA Jr., 2014, p. 471 e 472).
Já em relação ao fundamento da medida de segurança, é a periculosidade que o agente
apresenta. Assim, o fundamento básico é o juízo de periculosidade que é feito. Neste sentido,
o doutrinador argentino Soler é citado por Damásio de Jesus (2015, p. 593), explicando que
“periculosidade é a potência, a capacidade, a aptidão ou a idoneidade que um homem tem
para converter-se em causa de ações danosas”.
Ou seja, é o potencial risco de dano do agente para si ou para outrem. É uma previsão
para o futuro baseada nas ações passadas do agente. Destaca-se ainda que, a verificação da
periculosidade feita por presunção de determinação legal expressa, ou por presunção do fato
real na qual é decidido pelo juiz com base no conjunto probatório. (JESUS, 2015, p. 594).
Importante ressaltar também que, trata-se de medida tomada para quem dela
realmente necessite. Sendo que, com o advento da reforma penal feita em 1984 proibiu que
esta fosse aplicada em conjunto com a pena comum. Ou seja, proíbe-se a o sistema duplo-
binário de resposta Estatal. Mas, admite-se tão somente a aplicação de uma única resposta
Estatal, ou seja, cuidou-se de adotar o sistema vicariante. Assim, independente da cominação
legal de pena a um determinado crime, a Medida de Segurança deve cessar com o
desaparecimento da periculosidade do agente (JESUS, 2015, p.596).

2.5 Das sanções ao infrator antissocial


Conforme descrito anteriormente, tem se observado posicionamentos distintos no
judiciário brasileiro quanto a responsabilização criminal do antissocial. Ou seja, parte dos
tribunais entendem pela imputabilidade, outra pela semi-imputabilidade e outra pela
inimputabilidade. Por sua vez, a doutrina ainda não esmiuçou o assunto. Nem mesmo chegou
a levantar a questão da desuniformização jurisprudencial
Neste sentido, presente pesquisa buscará analisar o teor das decisões a fim de
entender a desuniformização. Assim, o presente trabalho não é quantitativo. Mas, pretende
fazer análise qualitativa do teor das decisões judiciais dos tribunais quanto a
responsabilização destes agente. No entanto, uma breve análise de números é importantes
apenas para a escolha das regiões que teriam as Unidades da Federação (UF) escolhidas para
a coleta e análise dos dados. Uma vez que, o presente estudo tem fins exploratórios e
30

descritivos, sendo feito por meio de levantamento de casos, junto ao Jusbrasil de decisões
com entendimentos distintos.
Assim, para a escolha dos tribunais, a fim de se garantir a imparcialidade da
pesquisadora e a cientificidade da pesquisa, foi feito uma breve busca com palavras chaves.
Isto com o fim de escolher os tribunais a terem suas decisões analisados com base nas regiões
que houvesse maior número de casos registrados.
Desta maneira, dentro dos limites temporais estabelecidos (de 01/03/2016 a
01/03/2019) foi buscado pelas palavras chaves “Transtorno de Personalidade Antissocial”.
Sendo que foi aplicado o filtro de busca para apenas Tribunais de Justiça (TJ’s). Como se
segue:

Figura A - Quadro demonstrativo: “Transtorno da Personalidade Antissocial”

Busca: "Transtorno de Personalidade Antissocial"

Datas 01/03/2016 a 01/03/2019

Tribunais TJ's (todos)

Nº de Resultados 180

Nº por região Sul: 67; Centro-Oeste: 58; Sudeste: 29; Norte: 8; Nordeste: 6.

Fonte: O próprio autor, a partir dos dados do Jusbrasil,2019

Desta forma o resultado obtido foi de 180 (cento e Oitenta) decisões encontradas com
aquelas palavras. Sendo predominante em tribunais do Sul (primeiro lugar), do Centro-Oeste
(segundo lugar) e do Sudeste (terceiro lugar). Sendo que, as regiões norte e nordeste não
tiveram resultados expressivos.
Também foi buscado pelo nome popular do TPAS, qual seja “psicopata”. Sendo
aplicado também os mesmos filtros de datas e tribunais. Assim, como segue:

Figura B - Quadro demonstrativo: “Psicopata”


Busca: "psicopata"

Datas 01/03/2016 a 01/03/2019

Tribunais TJ's (todos)

Nº de Resultados 420

Nº por região Sudeste: 204; Sul:149; Centro-Oeste: 45; Nordeste: 12; Norte: 10

Fonte: O próprio autor, a partir dos dados do Jusbrasil, 2019.


31

Desta forma, foram encontradas 420 (quatrocentos e vinte) decisões com o referido
termo. Sendo que, a predominância também se deu nas mesmas regiões. No entanto, em
colocações distintas.
A partir deste resultado, foram escolhidos apenas Estados que faziam parte das
regiões do país que houvesse um número maior de casos registrado. Qual seja, Sul, Sudeste
e Centro-Oeste, sendo analisadas duas decisões de tribunais distintos, para cada
entendimento (ou seja pela (I) imputabilidade, pela (II) semi-imputabilidade com aplicação
de Medida de Segurança; pela (III) semi-imputabilidade com aplicação de pena com redução
legal; e pela (IV) inimputabilidade com aplicação de Medida de Segurança).
Assim será analisado, no capítulo a seguir, a decisão dos Tribunais de Justiça
escolhidos para a análise. Qual seja o TJ/DF,TJ/SC, TJ/GO, TJ/RS, TJ/SP, TJ/PR, TJ/MG,
TJ/MS.
No entanto, antes é importante destacar que nas buscas foram identificados alguns
conflitos de outras ordens, além da pesquisada. Ou seja, casuisticamente foram encontradas
outras categorias de conflitos dentro do referido tema. Desta forma, é cabível a abertura de
um tópico próprio para dissertar a respeito.

2.5.1 Das categorias de conflitos encontradas:

Ressalta-se que, não foi o objetivo da presente pesquisa contemplar os conflitos que
serão citados. No entanto, importante registrá-los, uma vez que fazem parte do resultado da
pesquisa. Assim, os ambiente na qual se apresentaram foram na (I) Psiquiatria, expressadas
nos laudos; (II) no Judiciário, nos mesmos tribunais mas, em câmaras distintas;
Em relação as incongruências conflituosas encontradas no âmbito da Psiquiatria, estas
se expressaram por meio dos laudos apresentados. Uma vez que, em relação aos antissociais,
nas respostas de quesitos dos laudos os psiquiatras respondem no caso a caso. Sendo que, na
maioria das vezes descrevem a plena capacidade cognitiva e volitiva. Algumas vezes a plena
capacidade cognitiva e a incapacidade volitiva. E pouquíssimas vezes pela total
incapacidade.
Isto pode sugerir algumas hipóteses. Uma delas é a falta de aprofundamento técnico
do profissional na questão. O que poderia levá-lo a uma conclusão errônea. Isto porque já se
é consenso na doutrina da Psiquiatria de que tal transtorno não afeta a capacidade cognitiva.
Por fim, uma última hipótese pode ser levantada, qual seja, a imparcialidade do profissional
ou o seu envolvimento emocional. Situação esta que pode gerar no profissional sentimento
de indignação e responsabilidade pela aplicação da justiça.
32

Por sua vez, os conflitos verificados no judiciário, são de duas ordens. A primeira é
relativa a quantidade de entendimentos pela semi-imputabilidade e a inimputabilidade. Pois,
fora mais fácil encontrar decisões pela imputabilidade. Já a segunda é que, além da
discordância entre tribunais distintos, se verificou que alguns divergem internamente. Ou
seja, uma câmara ou turma decidindo de uma forma e a outra de maneira distinta, no mesmo
semestre anual.
A exemplo disto é o TJ do Goiás que, conforme será analisado infra, em junho de
2018 pela 2ª Câmara Criminal decidiu pela semi-imputabilidade de antissocial. Por entender
pela redução da capacidade volitiva. No entanto, em Abril de 2018, a 1ª Câmara Criminal
25
já havia entendido pela imputabilidade de antissocial. Por entender que o TPAS em nada
afetava a capacidade do agente.
Mas, aqui, incabível levantamento de hipóteses. Isto porque, restou constatado que
em todos os casos os julgadores consideraram como elemento máximo de valoração o que
fora exposto em laudo. Sendo que, em nenhuma das vezes o julgador atuou em contradição
com o que fora lá exposto.

25
Apelação ao TJ/GO, sob o nº 01581870520158090051, Relator: DR(A). Sival Guerra Pires.1ª Câmara
Criminal. Data de Julgamento: 24/04/2018. Data de Publicação: 14/05/2018
33

CAPÍTULO 3: ANÁLISE DA RESPOSTA ESTATAL AOS INFRATORES


ANTISSOCIAIS
Por fim, este capítulo destina-se a analisar as problemáticas decorrentes da situação,
a partir da análise dos casos escolhidos. Mas, se faz necessário a organização da informação
para que melhor se possa visualizar os dados que serão analisados. Assim, foi criado o
seguinte quadro demonstrativo:

Figura C- Quadro demonstrativo: “Decisões”

DECISÕES
Tribunal Entendimento Sanção Julgamento

TJ/DF Imputabilidade Pena (comum) Março de 2018

TJ/SC Imputabilidade Pena (comum) Janeiro de 2019

TJ/RS Semi-imputabilidade Pena c/ redução legal Agosto de 2017

TJ/GO Semi-imputabilidade Pena c/ redução legal Junho de 2018

TJ/PR Semi-imputabilidade Medida de Segurança Março de 2016

TJ/SP Semi-imputabilidade Medida de Segurança Dezembro de 2018

TJ/MG Inimputabilidade Medida de Segurança Março de 2018

TJ/MS Inimputabilidade Medida de Segurança Setembro de 2018

Fonte: O próprio autor, a partir dos dados do Jusbrasil, 2019.

Assim, os Tribunais de Justiça escolhidos para a análise do entendimento: (I) pela


imputabilidade, onde foi aplicado aos agente penas comuns, foram o TJ/DF e o TJ/SC; (II)
pela semi-imputabilidade, reconhecendo a situação como causa de aplicação de pena
diminuída, formam o TJ/GO e o TJ/RS; (IV) pela semi-imputabilidade, entendendo ser o caso
de aplicação de medida de segurança foram o TJ/SP e o TJ/PR; por fim (IV) pela
inimputabilidade foram o TJ/MG e o TJ/MS (JUSBRASIL, 2019).

3.1 Das decisões pela imputabilidade com aplicação comum de pena


34

O TJ do Distrito Federal, em março de 2018, decidiu em julgamento de Agravo de


Execução Criminal (AGC) 26 em desfavor da progressão de regime do apenado condenado
pela prática de crimes de estupro e contra o patrimônio. Sendo que, em primeira instância o
réu foi diagnosticado com TPAS, e pelo relatado pode-se considerar desvio de nível 2. Ou
seja, portador de grave desvio. Mas foi tido, por meio de laudos psiquiátrico, como imputável
e submetido a regime comum de privação da liberdade.
Em sede de recurso, o recorrente alegou bom comportamento e por isso fazia jus a
progressão de regime, independentemente de novo exame psiquiátrico. Mas, a decisão
recursal ratificou o entendimento do primeiro grau pelo não progressão de regime sem laudo
psiquiátrico, uma vez que o apenado possuía histórico de grave desvio comportamental.
Da mesma forma se procedeu no TJ de Santa Catarina, em janeiro de 2019, onde se
decidiu em julgamento de Apelação (APL)27 em desfavor do réu condenado pela prática de
crime de tortura contra seus filhos. O que também pode ser considerado grave desvio de
conduta e considerável periculosidade. A defesa alegou que além de portador de TPAS, o réu
possuía histórico de alcoolismo e vício em drogas. Assim, fazia jus ao reconhecimento da
semi-imputabilidade.
O recurso não proveu o pedido de reconhecimento da semi-imputabilidade, e ratificou
o entendimento de primeiro grau, que também baseou-se no laudo psiquiátrico. Neste sentido
argumentou, o relator George Lopes, que os laudos demonstravam que o réu entendia o
caráter ilícito dos fatos e possuía capacidade de se determinar conforme este entendimento.
Neste sentido, destacou o relator que “o laudo é claro em apontar que o réu possuía
plena capacidade de compreender o caráter ilícito do crime, sendo, pois imputável”. Além de
destacar que já havia determinação em primeiro grau para que o apenado passasse por
acompanhamento prisional para tratamento do vício em álcool e drogas.
Assim, o que se observa é que no primeiro caso já se havia o entendimento pela
imputabilidade do agente. Sendo que foi lhe aplicado pena comum, lhe cabendo assim, o
benefício da progressão de regime. Mas, que não ocorreu sem a análise de laudo psiquiátrico,
em decorrência do entendimento judicial pela considerável periculosidade do agente por
possuir TPAS e ter histórico de desvio de comportamento. Já no segundo, mesmo o réu sendo

26
Agravo em Execução Criminal ao TJ/DF, sob o nº 20170020229322, Relator George Lopes, 1ª Turma
Criminal. Julgamento em 01/03/2018. Publicação em 08/03/2018.
27
Apelação ao TJ/SC sob o nº 0001743-03.2013.8.24.0113, Relator: José Everaldo Silva, 4ª Câmara,
Julgamento em 31/01/2019. Publicação em 31/01/2019
35

diagnosticado com TPAS, o julgador ao aplicar o direito considerou incisivamente o laudo


psiquiátrico que alegava a plena capacidade cognitiva e volitiva. Sendo assim, não lhe foi
reconhecida a semi-imputabilidade. Mas, em ambos os casos o entendimento foi pela
imputabilidade do agente, sendo lhe aplicado pena comum. No entanto, com reconhecimento
de sua considerável periculosidade.

3.2 Das decisões pela semi-imputabilidade com aplicação de redução legal da pena

O TJ do Rio Grande do Sul, em agosto de 2017, deu provimento parcial em


julgamento de APL28, a fim de redimensionar a pena aplicada ao réu acusado de roubo com
emprego de arma de fogo, além de ter histórico de comportamento agressivo. Neste sentido,
o tribunal reconheceu o entendimento do primeiro grau. Ou seja, por mais que se houvesse a
plena capacidade de discernimento do apenado se estava diante de uma situação de parcial
capacidade de autodeterminação. Desta forma, seguindo o voto do relator destaca-se os
argumentos do Revisor Aymoré Roque Pottes de Mello:

Quanto à personalidade, em face do laudo do incidente de insanidade mental ter


concluído que o réu era totalmente capaz de entender o caráter ilícito de sua ação
e parcialmente capaz de se determinar de acordo com este entendimento, não pode
ser considerada em desfavor do réu (APL nº 70074376609, 2017)

Neste sentido, o tribunal manteve o entendimento de semi-imputabilidade do acusado


por considerar o laudo psiquiátrico que demonstrou o TPAS do agente, sendo lhe feito apenas
o recálculo da pena aplicada com a redução legal.
Por sua vez, o TJ de Goiás, em junho de 2018, decidiu em julgamento de APL29, em
desfavor do réu, que foi condenado pela prática de posse ilegal de arma de fogo. O réu era
reincidente em outros crimes dolosos, além de costumar fazer uso de drogas.
Destaca-se que o tribunal não reconheceu a alegação de inimputabilidade em
decorrência do TPAS. Mas, entendeu que estado do agente era de semi-imputabilidade, daí
como sendo causa de diminuição de pena. Isto porque, conforme destacou o relator, os laudos
psiquiátricos demonstravam que o ré possuía inteira capacidade de compreender a ilicitude
dos fatos mas, não possuía total capacidade de se determinar conforme este entendimento.

28
Apelação ao TJ/RS, sob o nº 70074376609, Relator: Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, 6ª Câmara
Criminal. Julgamento em: 30/08/2017. Publicação em : 04/09/2017
29
Apelação ao TJ/GO nº 0232589-05.2017.8.09.0175, Relatora Carmecy Rosa Maria Oliveira, 2ª câmara
criminal, Julgamento em 05/06/2018. Publicação em 19/06/2018.
36

Assim, no primeiro caso, o réu foi condenado pela prática de roubo com emprego de
arma de fogo, tendo histórico de comportamento agressivo. Já no segundo, condenado pela
posse ilegal de arma, fazia uso de droga e já teve envolvimento com outros crimes. Sendo
que, em ambos os casos se observa comportamentos característico de desvio de
comportamento e violência mas, tendo os julgadores observado o entendimento expresso em
laudo psiquiátrico. Ou seja, reconhecendo o TPAS como não sendo causa de prejuízo à
capacidade cognitiva mas, sim à capacidade volitiva, ou seja, de autodeterminação. Daí, fora
aplicado a redução legal de pena.

3.3 Das decisões pela semi-imputabilidade com aplicação de Medida de Segurança

O TJ do Paraná, em Março de 2016 decidiu, em julgamento de Recurso em Sentido


Estrito (RES)30 , parcialmente favorável à réu que foi pronunciado por homicídio qualificado,
em razão de motivo fútil. No caso em questão, o acusado era portador de TPAS e fazia uso
de drogas. Sendo que, em determinada ocasião adentrou a casa da vítima, que encontrava-se
despreparada, e a assassinou a golpes de faca. O motivo foi que a referida vítima havia feito,
tempos antes, denúncia contra o irmão do acusado.
Assim, considerando o constatado no laudo, o tribunal entendeu que o TPAS do
agente lhe permitia compreender o caráter ilícito de suas ações mas, comprometia sua
autodeterminação, sendo necessário a aplicação de medida de segurança.
Assim, deu parcial provimento ao pedido a fim de determinar que a prisão preventiva
fosse convertida em internamento provisório. Neste sentido as palavras utilizadas pelo
Relator Macedo Pacheco, na ementa: “semi-imputabilidade atestada por laudo pericial. Réu,
ao tempo dos fatos, inteiramente capaz de entender o caráter criminoso do fato, com
comprometimento moderado de determinação” (RSE 14266698, 2016)
Já o TJ de São Paulo, em dezembro de 2018, decidiu em julgamento de APL31dando
provimento parcial ao pedido do réu. Sendo que, o referido foi sentenciado por ameaçar de
morte sua mãe e seu irmão. Sendo que, o acusado, além do portador de TPAS também fazia
uso de drogas. Certa vez chegou inclusive a correr atrás da própria genitora com facão nas
mãos.

30
Recurso em sentido estrito ao TJ/PR, sob o nº 14266698, Relator Macedo Pacheco, 1ª camara criminal.
Julgamento em 10/03/2016. Publicado em 23/03/2016,
31
Apelação ao TJ/SP nº 0000256-45.2018.8.26.0637, Relator Paulo Rossi, 12ª Câmara de Direito Criminal,
Julgamento em 12/12/2018, Publicação em 13/12/2018.
37

Assim, os desembargadores ao analisar a culpabilidade do agente, entenderam pela


semi-imputabilidade do agente e acordaram pela redução da pena aplicada. Mas, mantiveram
a substituição da pena, feita em primeiro grau, por Medida de Segurança. Neste sentido, o
relator Paulo Rossi destaca:
O regime da pena carcerária é o semiaberto. Considerando a conclusão do incidente
de insanidade mental, onde se constatou pericialmente que o acusado é semi-
imputável, sugerindo o Senhor Perito a necessidade de tratamento em regime de
internação hospitalar; considerando-se, ainda, a natureza do delito praticado, contra
familiares; considerando-se, finalmente, que o réu com sua dependência química
de longos anos apresenta quadro de psicopatia, com alta periculosidade contra a
família e sociedade, nos termos do disposto no artigo 98 do código Penal, substituo
a pena privativa de liberdade por MEDIDA DE SEGURANÇA consistente em
internação hospitalar, por prazo indeterminado (APL 0000256-45.2018.8.26.0637,
2018)

Neste sentido, considerando o alto nível de periculosidade do agente e com base no


Laudo Psiquiátrico, decidiram os julgadores, pela aplicação de Medida de Segurança com
internamento hospitalar por tempo indeterminado.

Desta forma, observa-se que no primeiro caso, em se houve homicídio qualificado,


considerando o laudo psiquiátrico pelo prejuízo na capacidade de determinação, a prisão
preventiva logo foi convertida em internamento provisório. Por fim, o segundo caso, na qual
houve a ameaça de morte à genitora, também considerando o laudo, e pelos mesmos
argumentos, o tribunal também entendeu pela semi-imputabilidade e pelo cabimento de
tratamento psiquiátrico em regime de internação.

3.4 Das decisões pela inimputabilidade com aplicação de Medida de Segurança

O TJ de Minas Gerais, em Março de 2018, decidiu em julgamento de


APL32desfavoravelmente ao réu. No caso em questão, o réu diagnosticado com TPAS
também era usuário de drogas, foi acusado pela prática de roubo majorado, consumado e
tentado. Daí com base no laudo psiquiátrico o juízo de primeiro grau entendeu pela sua
inimputabilidade e lhe aplicou medida de segurança, pelo regime de internação.
O acusado inconformado recorreu requerendo medida de segurança em regime de
tratamento ambulatorial. Desta forma, o tribunal reafirmou a decisão tomada pelo juízo de
primeiro grau, no sentido de manter o regime de tratamento do acusado, qual seja, a
internação. Neste sentido as palavras do relator

32
Apelação ao TJ/MG, sob o nº 1.0390.15.002986-1/001. Relator Desembargador Renato Martins Jacob. Órgão
Julgador: 2ª Câmara Criminal . Julgamento em 08/03/2018. Publicação em: 19/03/2018
38

[...] Nas razões de fls. 299/303, a douta Defesa insurge-se unicamente quanto à
medida de segurança aplicada, dizendo que o caso concreto autoriza o tratamento
ambulatorial, mais adequado ao nível de periculosidade do acusado a ao grau de
psicopatia dele[...] nesse aspecto, verifico não assistir razão à douta Defesa, rogata
venia [...] O laudo pericial de fls. 34/39 não deixa dúvida de que o quadro
psicotiforme que acomete o apelante "merece atenção clínica e tratamento
preferencialmente sob o regime inicial de internação", em razão da periculosidade
do réu.

Neste sentido o tribunal entendeu, com base na periculosidade constatada, que a


medida mais adequada seria a internação do acusado. Tendo argumentado ainda que a
internação possui caráter preventivo e curativo. Sendo indispensável ao acusado.
Por sua vez o TJ de Mato Grosso do Sul, em Setembro de 2018,em julgamento de
AGC33 decidiu em desfavor do recorrente. No caso em questão o sentenciado, portador de
TPAS em grau grave que foi atestada em laudo, foi pronunciado por homicídio. Em primeiro
grau o juiz reconheceu sua inimputabilidade e aplicou medida de segurança em regime de
internação.
No caso em questão, o apenado alegou excesso de execução por estar cumprindo
Medida de Segurança em regime de internação no setor de saúde de Estabelecimento Penal
de Segurança Máxima. O tribunal não acatou o alegado pelo apenado. Neste sentido,
destacou o Relator que “o agravante possui psicopatia em grau grave, ou seja, é de alto
periculosidade, o que por si só já evidencia que não há outra solução, senão a manutenção da
medida de segurança, ainda que no Setor de Saúde do estabelecimento penal”
Neste sentido, observa-se que no primeiro caso o acusado tido como de alta
periculosidade ao pleitear o tratamento ambulatorial teve seu pedido negado. Pois, com base
nos laudos o tribunal entendeu ser descabido tal situação. Assim também, no segundo caso,
o sentenciado que possuía grave nível de TPAS, sendo tido como inimputável, teve a medida
de segurança mantida pelo tribunal. Pois, entendeu que muito embora houvesse falta de
Hospital de Custódia naquele Estado, tendo em vista a alta periculosidade do agente era
necessário a manutenção da medida de internamento, mesmo que no setor de saúde do
presídio.

3.5 Das inseguranças

A partir da pesquisa apresentada, observa-se que os tribunais encontram-se em


discordância, uns com os outros e uma câmara com a outra no mesmo tribunal, quanto a

33
Agravo de Execução Criminal, sob o nº 0025025-75.2018.8.12.0001. Relator em substituição legal Sr. Juiz
José Eduardo Neder Meneghelli. Órgão Julgador: 1ª Câmara Criminal. Julgamento em 11/09/2018.
39

capacidade de responsabilização do portador de TPAS. No entanto, esta desuniformização


do entendimento ocorre devido ao não consenso dentro da própria Psiquiatria, uma vez que
em todos os casos o julgador observou com cuidado o disposto em laudo. Assim, o que se
observou é que cada perito responde aos quesitos levantados (capacidade cognitiva e
capacidade volitiva) de forma distinta.
Importante destacar que, já é consenso na Psiquiatria de que o TPAS não afeta a
capacidade cognitiva, ou seja, a capacidade de discernimento. Mas, mesmo assim, em
alguns casos o perito entendeu pela incapacidade de discernimento. A exemplo foi o caso
do TJ de Minas, tratado supra. No caso em questão o acusado de roubo majorado, além, de
portador de TPAS o processado ainda era usuário de drogas. Tal situação poderia sugerir
que se faz necessário a análise de caso a caso. Uma vez que, o conjunto de patologias
poderia trazer ao caso a necessidade de medida distinta. No entanto, tal hipótese não se
sustenta.
Isto porque, em primeiro lugar, já se tem o entendimento da jurisprudência que o
vício em drogas não necessariamente retira o entendimento de ilicitude. Em segundo,
porque, em outros casos como o do TJ de Santa Catarina em que o pai fora condenado pela
prática de tortura contra os filhos, mesmo portador de TPAS e usuário de drogas foi tido
como imputável. Isto por que em cada um dos casos a perícia entendeu tal situação de forma
distinta.
Assim, conforme sugerido anteriormente, este conflito de posicionamentos na
Psiquiatria pode sugerir a imparcialidade dos peritos e a predominância da subjetividade,
contaminada pelo senso de responsabilização pela justiça a ser feita no caso em que se atua.
Mas, fato é que, é necessário a adoção de entendimento uniforme em relação ao
antissocial, uma vez que o direito é aplicado diferentemente em casas análogos. Pois,
mesmo o juiz tendo respaldo através do princípio do livre convencimento motivado, tal
situação traz insegurança jurídica
A partir do exposto adentramos em outra problemática. Qual seja, a definição de
um status, na teoria da culpabilidade, ao antissocial. Bem como a forma de cumprimento
da medida que for tomada. Isto porque conforme estudado, o antissocial tema capacidade e
discernimento intacta. Mas, a capacidade de se determinar conforme este entendimento é
comprometida. Assim, o antissocial jamais deveria ser considerado imputável, nem
inimputável. Mas, semi-imputável.
40

Neste sentido, decidiu o STJ, em Agosto de 2018, em julgamento do Habeas


Corpus34 pelo reconhecimento da semi-imputabilidade, reconhecendo a substituição da
pena por medida de segurança. Pois, entendeu que o antissocial possui a capacidade
cognitiva intacta mas, que por outro lado, possui a capacidade volitiva prejudicada. Haja
vista o comprometimento dos freios subjetivos que inibem comportamentos ilícitos.
Daí, se faz necessário definir uniformemente a forma a qual o Estado deve lidar
com tal situação. Pois, como o TPAS não é passível de cura ou tratamento, o cumprimento
de medida de segurança sob regime de internamento em nada é útil. Mas, por outro lado, a
imposição de pena com a redução legal também não alcança ao fim a que se propõe. Uma
vez que, tal transtorno trata-se de um padrão persistente de desvio. Pois, o antissocial não
aprende com a repressão que sofre e, assim que livre volta a reincidir.
Desta forma, essencial que o Legislativo trate de tal matéria. Mas, enquanto as
disposições normativas não são criadas, ao Judiciário cabe o pronunciamento uniforme
sobre tal situação, para que se haja segurança jurídica e que seja respeitado o princípio
constitucional da igualdade e isonomia. Pois, nenhuma patologia, doença, desvio ou
transtorno retira do ser humano o direito de respeito a sua condição de pessoa humana.

34
Habeas Corpus proposto perante o STJ, sob o nº 462893 MS 2018/0197852-1, Relator: Ministro Sebastião
Reis Júnior, Data do Julgamento: 08/08/2018. Data de Publicação:10/08/2018
41

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da busca de cumprimento do primeiro objetivo proposto, se concluiu que
transtorno é toda “anomalia” percebida no comportamento do indivíduo. Que o Transtorno
de Personalidade Antissocial é uma anomalia caracterizada pela ausência de remorso e falta
de empatia, situação patológica, não passível de cura. Que o referido transtorno, pode
apresentar-se em alguns graus de desvio. Mas que não prejudica a cognição. Assim, não
altera a capacidade de discernimento. No entanto, o indivíduo que possui TPAS sofre
consideráveis prejuízos por conta da incapacidade de internalizar valores relacionados a
afetividade. Desta forma, o antissocial acaba por ser um transgressor nato. Pois, não possui
freios inibitórios em sua personalidade.
Em seguida, na busca de cumprimento do segundo objetivo proposto, se concluiu
que a quem infringe norma penal é aplicada uma sanção. A sanção pode ser expressada por
meio de uma Pena ou Medida de Segurança. Sendo que, à quem possui o plena capacidade
(cognitiva e volitiva) é aplicada Pena, para que sejam cumpridas os fins a que essa se
propõe. Qual seja, de prevenção e retribuição, finalidades que coexistem no ordenamento
jurídico brasileiro. Mas, aos que não possuem plena capacidade de discernimento ou
prejuízo de autodeterminação são aplicadas as Medidas de Segurança, ou Penas com
redução legal obrigatória.
Mas ao antissocial, mesmo possuindo prejuízo à capacidade volitiva, ainda não se
há consenso quanto a sanção a ser aplicada. Sendo que, foram escolhidos seis tribunais a
serem analisados quanto as decisões relativas à culpabilidade de agentes antissociais, para
possibilitar a análise de tal situação, a saber: TJ/DF, TJ/SC, TJ/GO, TJ/RS, TJ/SP, TJ/PR,
TJ/MG, TJ/MS.
Por fim, na busca pelo cumprimento do terceiro objetivo, em análise das decisões
dos tribunais escolhidos, concluiu-se que as decisões dos tribunais são baseadas nos
fundamentos apresentados em Laudos Psiquiátricos. Desta forma, por mais que se esteja
frente a uma situação de semi-imputabilidade (ou responsabilidade diminuída), tal matéria
encontra-se em situação de insegurança jurídica. Pois, os tribunais ainda não se
posicionaram de maneira uniforme. Uma vez que os julgadores escolhem por seguir as
orientações da Psiquiatria a respeito da culpabilidade dos agentes, caso a caso. O que sugere
a necessidade de uniformidade de posicionamentos na Psiquiatria. Uma vez que já existe
entendimento firmado na área médica a respeito das capacidades atribuídas aos antissociais.
Pois, é incabível submeter uma pessoa humana à tamanha incerteza e tratamento desigual.
42

Sendo assim, a hipótese inicialmente levantada foi refutada em partes, uma vez
que restou demonstrado que os julgadores não analisam e decidem o caso concreto
conforme melhor convém mas, baseiam-se em especial no conteúdo exposto nos laudos.
Tao pouco a situação depende de região geográfica mas, está diretamente ligada ao não
posicionamento uniforme da própria Psiquiatria a respeito do tema. O que de fato gera
insegurança jurídica.
43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABP TV Entrevista “Transtorno de Personalidade Antissocial,dada a ABP TV em
04/01/2016 com CORDEIRO, Quirino;MORAES, Talvane e TELLES, Lisieux
Borba.Disponivel em < https://www.youtube.com/watch?v=3nzpWQwGi0U&t=735s>
Ultimo acesso em Fevereiro de 2019
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION.Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders - Fifth Edition. Presidente David J. Kupfer, M.D; 2013 – Tradução
NASCIMENTO. Maria Inês Correa. Manual Diagnóstico e estatístico de Transtornos
Mentais/ DSM-5. ISBN 978-85-8271-089-0 . Ed. Artmed Editora Ltda, PortoAlegre/RS.
2014 .
BIASUS. Felipe M. L; PEREIRA.Lucas Morais. Transtorno De Personalidade
Antissocial: Um Estudo Do Estado Da ArteDisponível em
<http://www.uricer.edu.br/cursos/arq_trabalhos_usuario/2492.pdf ,Último acesso em
01/05/2019
BRASIL, Agravo em Execução Criminal ao TJ/DF, sob o nº 20170020229322, Relator
George Lopes, 1ª Turma Criminal. Julgamento em 01/03/2018. Publicação em 08/03/2018.
Disponível em < https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj>Último
acesso em03/05/2019
BRASIL, Apelação ao TJ/GO, sob o nº 01581870520158090051. Relator: DR(A). Sival
Guerra Pires.1ª Câmara Criminal. Data de Julgamento: 24/04/2018. Data de Publicação:
14/05/2018. Disponível em < https://tj-
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