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WW ee E preciso mapear as forcas sociais para evidenciar as relagoes deforca gue permeiam a vida humana —e assim chegar a microfisica do poder © campo da Politica, talver, principal contribuicao de Foucault esteja em mudaro. foco de andlise do poder, tomando-o nao como algo que se possui ou nao, mas como as relagdes humanas. Ele inau- uma espécie de microfisica do ler, que procura compreendé-lo elagdes, como resultante de nilitos de forgas, 186 como sim- mente repressivo, mas também como instancia de produgao. Ao tratar do fendmeno do po- der, Foucault ja nao fala de uma arqueologia, mas refere-se a ge- nealogia, tomando o conceito de jar as fer- nanen- 1zsche, para eviden ramentas de andlise das relagoes de forgas que o conformam. Essas anilises estao presentes em obras de meados da década de 70, como Vigiar e Punir (1975) eA Vontade de Saber (1976), primeiro volume de sua Histéria da Sexualidade, ‘Também os cursos anuais do Col- lege de France nesse perfodo, es- pecialmente Em Defesa da Socie- dade, esto dedicados a diferentes imatizes desse tema. No Ambito da Filosofia Politica classica, temos uma espécie de anilise topoldgica do poder, iden- tificando-o como o local de onde emanam as cordas que determina- riam as correlagdes de forca que se constituiriam na prépria estrutura ‘organizacional da sociedade. Nes- sa perspectiva, descrever as corre- lagdes de forgas socials 6 maped- las, tragar sia cartografia estética e estratégica, tornando claros no pla- no do mapa os locais determinados ‘eas cordas que os unem. A poténcia da vontade ‘Mas 0 que é 0 poder que ema- na desses locais? Caracterizando de forma bastante genérica, 0 po- der seria a capacidade de reali qualquer ato ou agao; um aspecto importante é que o poder pressu- poe até mesmo a oposi¢ao, consti- tuindo-se entao na capacidade de superar essa oposi¢ao por meio da forca, De modo geral, 0 poder se- ria a poténcia para realizar deter- minado desejo ou vontade. Como 08 assuntos humanos sao postos ¢ resolvidos apenas no panorama rar do conjunto social, a questao do poder ganha importancia politica determinante. Nessa perspectiva, 0 poder ja- mais pode ser visto como diluido pela sociedade, pois esta sempre ocupando localizagdes muito espe- cfficas: 0 corpo do déspota, as re- partigdes de uma instituicao buro- crética, um parlamento, um agru- pamento das forcas armadas, etc. Afirmar que 0 poder ocupa de- terminados lugares equivale a dizer que ele esté ausente de outros; € 0 que determina a teoria da “soma ze- 10": somando-se os poderes positi- vos de alguns locais com os poderes negativos — a auséneia de poder — dos demais, chega-se a um equili- brio da dinamica social. Na perspectiva dessa teoria, 6a presenca do poder em certos luga- res e stia auséncia em outros que re- gula a dindmica social e garante seu equilfbrio; afirmar a dissolugao homogenea do poder por todo ote- cido social equivaleria a afirmar a sua completa desterritorializagao: se hd poder em todo lugar, entao ja nao hd poder em lugar algum. Sie Rede de pequenos nés Foucault introduz a to poder’, justame microfisica te para contra nO-la a essa nogao classica que 20 ragara cartografia do poder, estaria esvendando sua macrofisica. Para | opensador frances, essa perspecti va era, porém, incompleta, a bus: ‘ca da genealogia do poder levou-o a anélise das regides que tradicional mente eram deixadas de lado. Nesse trajeto, Foucault desenvol- yeu uma nocio de poder que, no lt gar de percebé-lo confinado a certos lugares a partir dos quais distende s cordas, determinando as , passava'a per ja socieda- ria su cortelagoes de forg cebé-lo disseminado ps de, formando como que uma tela oui uma rede, constituindo os mi nrisculos nds que dariam a propria feigao do tecido social Na perspectiva genealdgica de Foucault, jé ndo se fala na “soma 2e- ro" do poder; nao é necessario que neentragao de existam lugares de co” poder em contraposicao 4 lugares onde hao "vacuo de poder” pois, m8 microfisica da dinamica de forges encontramos outras reciprocidades ALONGA RELAGAO COM 0 BRASIL raria uma lista enorme. Foucault veio cinco vezes ao Brasil, a primeira em 1965 e a titima em 1976, proferindo palestras cursos em Sto Paulo, Rio de Janeiro, Belo Hor vvador, Recife, Belém e Manaus. Suas obra esti praticamente toda traduzida para © Portugués, e varios de seus livros tiveram diversas reedicbes. Desde os anos 70, a obra de Foucault tem mobilizado a producto de in- telectuais brasileiros em varios campos, como a Filosof reito, a Medicina, a Psicologia e a Educacio. Invent te, Sal: a Historia, 0 Di- essa produgio ge Eventos tém sido periodicamente organizados para celebrar e debater seu jpensamento, no raro sendo os textos das conferéncias apresentados em livros ‘Apenas para destacar os dois mais recentes, Figuras de Foucault, organizaco por Alfredo Veiga-Neto e Margareth Rago (Auténtica, 2006), compa os textos de um semindrio sediado na Unicamp em 2004; ¢ Foucault Oifenta Anos, organizado por ‘José Gondra e Walter Kohan (Autér 2006), redne 05 textos do seminario com ‘o mesmo titulo sediado na Uer| em outubro dltimo. ¢ inter-relagoes permeando os mi cropoderes particulares. Tomando o poder par essa pers pectiva micropolitica, Foucault evi dencia que conhecemos, na Mo~ dernidade beideotal, a6 menos tré tecnologias de poder, que confor maram diferentes sociedades, de acordo com qual dessas tecnoloy ora hegemdnica. A chamada “idade cléssica’ foi conformada pelo poder de soberania. A“idade moderna’ foi conformada pelo poder disciplinar. F; finalmente, estariamos vivendo num momento em que a hegemo= nia das relagdes omega aset defi nida pelo biopoder. poder de soberanta & caracte- Hstico das sociedades absolutistas, pté-democrdticas. Consiste na: abso- hutizagao do poder do soberano s0- bre os stiditos, que reagem como que condicionados a uma espécle de “serviddo voluntiiria’, para usar a-x- pressdo de La Bostie, Nesse tipo de sociedade, 0 soberano tem 0 poder de fazer morrer e deixar viver; i880 6, ‘como esti acima date, sendo a pri pria lei, o soberano pode legalmente ‘matar um siidito, Ese os siditos vi: vem, 6 por pecmissto do mandatirio: ‘As sociedades democrdticas modernas sto fruto da hegendnle zacao do poder disciplinar, Segan- do Foucault, « cisciplina ¢ uma (ec= nologia de poder indivi que se exerce sabre 08 corpus das: individuos, confinados naquile que tulgdes de se- alas, os quar as prisées. Nese o é indi. conpo doc disciplinares. edade rio um po- poder de soberania: 1e de fazer vivere dei Isto ¢, 0 biopader con. -crologia de poder que 4 qualld de de vida de sua populacio. E no sexao do biopoder que surge 05 gramas de previdencia social, de ¢ontrole de natalidade, de preven: ao a doencas sexaalmente trans mmissfveis ¢ assim por diante- £ ta én sewse contexto que o individuo 96 morre quando tem sua morte fur icamsente reooohecida pelo Estado £m A Vontade de Saber, Foucault apr possibilitam a compreansdo de sua nacho de pF uma visdo abrangente © resueidar P incinioe 0 poder recente os cinco principhos qe roe, Gut tis parent: a patica ou se sore, nbo alga que £8 pen O8. io, podendo set transferido, 0 poder ¢ aaaata- mente materiale intrinseco is velaciee horsanat 1 0 poder ve enesce. 110 ¢ 0 poder ¢ nto; sige ae ‘As relacBes de poder sho imanentes. O que significa die que 0 poder nio exté numa especie de superestrutiura, (O° mo mecanismo ideoldgice, come querem of matsistas; #5 relaghes de poder emanam das proprias relaqbes socials econtmicas, politicas, familiares, etc meconismos do poder pelo exquema simplsta ta rela: ho dominadot/dominado. 0 poder wibjat 8 pripris re lacio, ¢ ambos, dominador « dominada, sie agentes « pacientes do poder 3 © poder vem debaixo, N30 podemos compreender os hs relacbes de poder so intencionais. 0 poder ¢ sempre extta- tégico, tem semore metas e objetives, ests dichgido por urna lt tengo. 0 que nSo significa diver que 0 poder sea subjetiva, re sultado da acho de um sujelto, uma vez que 0 proprio salto um efeito, um resultado das rlaches de poder. acho ¢ reacho, 0 mxescicio de wm poder iepiles sempre uma reristinca, isso 6, wm poder contri, wan Comte poder, Ninguém exerce poder impunemecte, © ier guém ¢ apenas passive mas relagbes de poet, 5 Se ha poder, ha resistencia. Como no jogo fisico de

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