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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Biológicas Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Biológicas Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas
Florianópolis
2022
Isabelle Cristina Doble de Souza
Florianópolis
2022
Isabelle Cristina Doble de Souza
Uso do fogo no sítio arqueológico Abrigo do Jon: Um estudo das estruturas de combustão da
Área 2
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do título de Licenciada e
aprovado em sua forma final pelo Curso de Ciências Biológicas.
___________________________
Profa. Dra. Daniela de Toni
Coordenadora do Curso
Banca examinadora
____________________________
Prof. Dr. Lucas de Melo Reis Bueno
Orientador
Florianópolis, 2022.
Este trabalho é dedicado aos povos originários do Brasil.
AGRADECIMENTOS
Foi realizada a análise de diferentes estruturas de combustão de uma das áreas do sítio
arqueológico Abrigo do Jon, localizado na região da Serra do Lajeado (Tocantins),
observando aspectos como forma e composição, com especial atenção para análise das
amostras de vestígios vegetais carbonizados relacionadas a essas estruturas. Para isso, foi
realizado um levantamento a partir da documentação primária oriunda das etapas de
escavação do sítio, com o intuito de listar as amostras de vestígios vegetais carbonizados
relacionadas às estruturas, além da triagem e análise dessas amostras. Foram processadas e
analisadas um total de 58 amostras provenientes de diferentes tipos de coleta, distribuídas
entre as três estruturas de combustão e com conteúdo de vestígios vegetais carbonizados que
foram separados em cinco categorias diversas, sendo elas: material vegetal carbonizado
lenhoso, material vegetal carbonizado não lenhoso, coquinho, semente e material vegetal não
identificado. As três estruturas foram comparadas quanto ao tipo de material vegetal
carbonizado apresentado, quantidade de fragmentos por amostra, peso das amostras e relação
entre o tipo de coleta e o tipo de material apresentado. Para além disto, foi realizada a
caracterização das estruturas considerando seu formato e inserção no contexto arqueológico.
O processamento e análise das amostras tem como intuito contribuir com futuros estudos
antracológicos desta coleção de vestígios que apresentam grande potencial para a
compreensão do processo de ocupação do Planalto Central Brasileiro e, possivelmente, para o
povoamento inicial da América do Sul.
The present study analyzed three different combustion structures in one of the areas of the
Abrigo do Jon archaeological site, located in the Serra do Lajeado region (Tocantins),
observing aspects such as shape and composition, with special attention to the analysis of
samples of charred plant remains related to these structures. For this, a survey was carried out
from the primary documentation from the excavation stages of the site, in order to list the
samples of charred plant remains related to the structures, in addition to the screening and
analysis of these samples. A total of 58 samples from different types of collection were
processed and analyzed, distributed among the three combustion structures and with content
of charred plant remains that were separated into five different categories, namely: woody
carbonized plant material, non-woody carbonized plant material, coconut, seed and
unidentified charred plant material. The three structures were compared in terms of the type of
charred plant material presented, amount of fragments per sample, sample weight and the
relationship between the type of collection and the type of material presented. In addition, the
characterization of the structures was carried out considering their format and insertion in the
archaeological context. The processing and analysis of the samples is intended to contribute to
future anthracological studies of this collection of remains that have great potential for
understanding the process of occupation of the Brazilian Central Plateau and, possibly, for the
initial settlement of South America.
AP Antes do Presente
AVC Amostra de volume constante
cm Centímetros
E1 Estrutura 1
E2 Estrutura 2
E3 Estrutura 3
ECOHE Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica
LEIA Laboratório de Estudos Interdisciplinares em Arqueologia
m Metros
m² Metros quadrados
NP Número de Proveniência
RA Rocha de arenito
RS Rocha de siltito
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16
1.1 O CONTEXTO DO PLANALTO CENTRAL BRASILEIRO ................................ 17
1.2 SOBRE FOGOS E FOGUEIRAS ............................................................................ 18
1.3 ARQUEOBOTÂNICA NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DOS
VESTÍGIOS VEGETAIS CARBONIZADOS ......................................................................... 19
1.4 OBJETIVOS ............................................................................................................. 21
1.4.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 21
1.4.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 21
2 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................. 22
2.1 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................ 22
2.2 SELEÇÃO DAS AMOSTRAS ................................................................................ 26
2.3 TRIAGEM E CLASSIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS ............................................ 29
2.4 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE COMBUSTÃO.......................... 32
3 RESULTADOS ....................................................................................................... 32
3.1 ANÁLISE DAS AMOSTRAS DE MATERIAL VEGETAL CARBONIZADO .... 32
3.2 CARACTERIZAÇÃO DAS ESTRUTURAS DE COMBUSTÃO.......................... 38
4 DISCUSSÃO ........................................................................................................... 45
4.1 ANÁLISE DO MATERIAL VEGETAL CARBONIZADO ................................... 45
4.2 POSIÇÃO E CONTEXTO DAS ESTRUTURAS ................................................... 46
4.3 ATRIBUTOS ESTRUTURAIS E TIPOS DE MATERIAIS DAS FOGUEIRAS... 47
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 50
APÊNDICE A – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 686 ............. 53
APÊNDICE B – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 686 ............. 54
APÊNDICE C – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 696 ................... 55
APÊNDICE D – Fragmento de lenho presente na amostra de p 700 ...................... 55
APÊNDICE E – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 701 ................... 56
APÊNDICE F – Fragmento de semente presente na amostra de NP 703 ............... 57
APÊNDICE G – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 706................... 58
APÊNDICE H – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 709................... 58
APÊNDICE I – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 713 .................... 59
APÊNDICE J – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 775 .............. 60
APÊNDICE K – Fragmento de semente presente na amostra de NP 775 .............. 61
APÊNDICE L – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 782 ............. 62
APÊNDICE M – Fragmento de semente presente na amostra de NP 797 .............. 63
APÊNDICE N – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 828 ................... 64
APÊNDICE O – Fragmento de lenho presente na amostra de NP 829................... 64
APÊNDICE P – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 834 ............. 65
APÊNDICE Q – Fragmentos de lenho presentes na amostra de NP 842 ............... 66
APÊNDICE R – Semente presente na amostra de NP 845 ..................................... 67
APÊNDICE S – Fragmentos de lenho presentes na amostra de NP 855 ................ 68
APÊNDICE T – Fragmento de semente presente na amostra de NP 863 ............... 69
APÊNDICE U – Sementes presentes na amostra de NP 863 .................................. 70
APÊNDICE V – Fragmento de coquinho presente na amostra de NP 873 ............ 71
APÊNDICE X – Fragmento de material vegetal carbonizado não lenhoso presente
na amostra de NP 891 ............................................................................................... 72
APÊNDICE Y – Fragmento de material vegetal carbonizado não lenhoso (fruto ou
semente) presente na amostra de NP 974 ............................................................... 73
16
1 INTRODUÇÃO
seu uso e à forma de seu preparo, sendo resultado de gestos culturais e tradicionais
(AZEVEDO; SCHEEL-YBERT, 2016).
As características da estrutura de uma fogueira, como os elementos que a constituem,
sua forma e posição, influenciam o processo de combustão e suas alternativas de uso, não
sendo aleatórios ao processo de produção do fogo (AZEVEDO; SCHEEL-YBERT, 2016).
Estruturas de combustão que apresentam fragmentos de rochas de tamanhos e natureza lítica
diversa em conjunto com material vegetal carbonizado e vestígios faunísticos, por exemplo,
podem ser associadas diretamente com a produção de alimentos e são alvo de estudos
arqueológicos com viés etnológico (MELO JÚNIOR; MAGALHÃES, 2015).
Quando se trata da composição e inserção dos vestígios vegetais carbonizados nestas
estruturas de combustão, pode-se fazer aferições sobre o propósito de uso de tais estruturas,
assim como sobre o paleoambiente. Quando os carvões são encontrados em assembleias
concentradas na matriz sedimentar de um sítio arqueológico, uma das hipóteses a ser
considerada é a de que estes são originários de fogos e fogueiras confeccionadas em locais
previamente limpos antes do último uso ou que tenham tido um curto período de utilização
(SCHEEL-YBERT et al., 1996). Apesar desses carvões serem amostras pouco significativas
para a representação da diversidade da vegetação como um todo, proporcionam um caráter
confiável para interpretações paleoetnobiológicas e paleoetnobotânicas (MELO JÚNIOR;
MAGALHÃES, 2015).
arqueológico Abrigo do Jon pode contribuir para os estudos mais amplos sobre a intervenção
humana sobre a paisagem da região, além de auxiliar na compreensão da dinâmica de uso do
espaço e nas atividades realizadas no sítio pelos povos que o ocuparam.
1.4 OBJETIVOS
2 MATERIAIS E MÉTODOS
(continuação)
NP Coleta Unidade Nível Estrutura Amostra Selecionada
689 Individual N19L72 5 1 Sim
690 Individual N19L72 5 1 Sim
695 Integral N19L72 5 1 Não
696 Individual N19L72 5 1 Sim
697 Individual N19L72 5 1 Sim
698 Individual N19L72 5 1 Não
699 Individual N19L72 5 1 Sim
700 Individual N19L72 5 1 Sim
701 Individual N19L72 5 1 Sim
702 Individual N19L72 5 1 Sim
703 Individual N19L72 5 1 Sim
704 Individual N19L72 5 1 Sim
705 Individual N19L72 5 1 Sim
706 Individual N19L72 5 1 Sim
707 Individual N19L72 5 1 Sim
708 Individual N19L72 5 1 Não
709 Individual N19L72 5 1 Sim
711 Geral N19L72 5 1 Sim
712 Individual N19L72 5 1 Sim
713 Individual N19L72 5 1 Sim
714 Individual N19L72 6 1 Sim
715 Individual N19L72 6 1 Sim
716 Individual N19L72 6 1 Sim
719 Individual N19L72 6 1 Não
720 Individual N19L72 6 1 Não
721 Individual N19L72 6 1 Não
731 Individual N19L72 6 1 Sim
732 Individual N19L72 6 1 Sim
733 Individual N19L72 6 1 Sim
734 Individual N19L72 6 1 Não
751 Individual N19L72 6 1 Sim
752 Individual N19L72 6 1 Sim
753 Individual N19L72 6 1 Sim
754 Individual N19L72 6 1 Sim
774 Integral N19L72 6 1 Não
776 Individual N19L72 7 1 Sim
28
(conclusão)
NP Coleta Unidade Nível Estrutura Amostra Selecionada
777 Individual N19L72 7 1 Sim
778 Individual N19L72 7 1 Sim
782 Individual N19L72 7 1 Sim
797 Integral N19L72 7 1 Sim
801 Integral N19L72 7 1 Não
747 Individual N19L72 6 1 Sim
748 Individual N19L72 6 1 Sim
749 Individual N19L72 6 1 Sim
750 Individual N19L72 6 1 Sim
783 Individual N19L72 7 1 Sim
735 Individual N19L72 6 1 Sim
686 Integral N19L73 6 2 Sim
775 Integral N19L73 7 2 Sim
974 Geral N20L73 Perfil 2 Sim
828 Individual N19L72 9 3 Sim
829 Individual N19L72 9 3 Sim
832 Integral N19L72 9 3 Não
834 Individual N19L72 9 3 Sim
835 Individual N19L72 9 3 Sim
842 Individual N19L72 9 3 Sim
844 Integral N19L72 9 3 Não
845 Integral N19L72 9 3 Sim
850 Individual N19L72 10 3 Não
851 Individual N19L72 10 3 Sim
852 Integral N19L72 10 3 Não
855 Individual N19L72 10 3 Sim
863 Integral N19L72 10 3 Sim
866 Individual N19L72 11 3 Não
873 Integral N19L72 11 3 Sim
886 Individual N19L72 11 3 Não
891 Individual N19L72 11 3 Sim
894 Individual N19L72 11 3 Não
856 Individual N19L72 10 3 Não
822 Individual N19L72 9 3 Sim
Fonte: elaborado pela autora.
29
As amostras de NP 695, 774, 801, 832, 844, 850 e 852 são amostras de coleta
integral e não foram selecionadas pelos motivos citados anteriormente. Já as amostras de NP
698, 708, 719, 720, 721, 734, 866, 886, 894 e 856 não foram encontradas dentro da coleção
arqueológica do LEIA, o que impediu que fossem analisadas.
lenhoso e material vegetal carbonizado não identificado. Dentro da categoria material vegetal
carbonizado não lenhoso foram criadas duas subcategorias separadas, sendo elas: coquinho e
semente 1 (SILVA et al., 2016).
As amostras de coleta individual passaram por um processo de triagem onde após a
etapa de separação do material nas diferentes categorias de material vegetal carbonizado
citadas no parágrafo anterior, os diferentes tipos de vestígios vegetais carbonizados foram
pesados utilizando uma balança de precisão, tiveram seus fragmentos quantificados e foram
medidos o maior e o menor fragmento da amostra com o auxílio de um paquímetro, onde
foram medidos a altura e a largura dos fragmentos seguindo a disposição dos vasos, os
materiais identificados como coquinho e semente não foram medidos, considerando que cada
órgão vegetal possui uma metodologia de mensuração diferente.
As amostras de coleta integral foram peneiradas em peneiras granulométricas de
malhas de aço de diferentes tamanhos, sendo elas 4mm, 2mm, 1mm e 0.5mm, com o intuito
de separar os vestígios vegetais carbonizados do sedimento contido na amostra. Foi
selecionado para análise o material que ficou retido nas malhas de 4mm e 2mm. Após a etapa
de peneiramento, o material passou por uma primeira etapa de triagem com o auxílio de uma
lupa de mesa de capacidade de aumento de 8x, com o intuito de separar os vestígios vegetais
carbonizados de outros materiais arqueológicos contidos na amostra. Assim como as amostras
de coleta individual, os vestígios vegetais carbonizados que ficaram retidos nas peneiras de
4mm e 2mm também foram separados em diferentes categorias de material vegetal
carbonizado, foram pesados com auxílio da balança de precisão, tiveram seus fragmentos
quantificados e foram medidos o maior e o menor fragmento da amostra. Dada a grande
quantidade de fragmentos nas amostras integrais, para otimização do tempo de análise das
amostras, após a etapa de separação dos fragmentos nas diferentes categorias de material
vegetal carbonizado, estabeleceu-se que a contagem dos fragmentos fosse feita até a
quantidade de 300 fragmentos em cada categoria (SCHEEL-YBERT, 2005), e as amostras em
que a quantidade de fragmentos por categoria ultrapasse este número fossem identificadas.
Para análise dos macrovestígios vegetais carbonizados foi utilizado um microscópio estéreo
com capacidade máxima de aumento de 200x e para a classificação destes vestígios foi
consultada bibliografia especializada (SILVA; SHOCK; SCHEEL-YBERT, 2015; SCHEEL-
YBERT, 2004; SCHEEL-YBERT; GONÇALVES, 2017).
1
O processo de separação dos materiais vegetais carbonizados nestas categorias foi elaborado e proposto pela
Dra. Myrtle Pearl Shock, que foi quem estruturou os procedimentos de análise do material arqueobotânico em
laboratório.
31
A) Planos de corte da madeira. Fonte: modificado pela autora de Scheel-Ybert, (2004). B) Fotos de fragmento
de lenho analisado nos diferentes planos de corte, apresentando a disposição de vasos e raios. Fonte: acervo da
autora.
3 RESULTADOS
Foi realizada a triagem das amostras identificadas como material vegetal carbonizado
relacionadas às escavações das estruturas de combustão 1, 2 e 3 da Área 2 do sítio
arqueológico Abrigo do Jon. As estruturas de combustão estão inseridas principalmente em
33
Nas três estruturas, a maioria dos fragmentos de coquinho foi identificada como
pertencente à espécie Acrocomia aculeata, conhecida popularmente como Macaúba (Figura
7).
35
Figura 8 - Gráfico apresentando o peso dos diferentes tipos de material vegetal carbonizado
relacionados às estruturas de combustão
A respeito do tipo de coleta, a maior parte dos fragmentos analisados são provenientes
de coleta integral, apesar da maioria das amostras serem referentes à coleta individual. As
amostras de coleta integral também apresentaram maior diversidade de tipo de material
vegetal carbonizado, contendo fragmentos que representassem as cinco categorias analisadas,
como demonstrado na Tabela 3. As amostras de coleta individual continham os fragmentos de
maior dimensão e em melhores condições de preservação, já as amostras de coleta integral
possuíam fragmentos de tamanhos diversos, com maioria de dimensões inferiores a 4mm, isso
pode ser explicado pelo método de coleta, considerando que nas amostras de coleta individual
os fragmentos maiores são mais fáceis de serem recolhidos com as mãos e as nas amostras de
coleta geral os fragmentos maiores são aqueles que ficam retidos na peneira de malha de
4.75mm, enquanto nas amostras de coleta integral todo o material é coletado e não passa por
peneiramento, dessa forma contento fragmentos menores.
38
(Figura 11). A base desta estrutura foi identificada no meio do nível 6 quando foi finalizada
sua retirada na etapa de escavação de 2019 (Figura 12). A estrutura apresentou diversas
amostras de coleta individual de material vegetal carbonizado provenientes do interior e da
periferia da estrutura. As últimas rochas retiradas da estrutura de blocos apresentaram carvão
na parte inferior, o que indica que se tratava de uma estrutura de combustão, o que se
confirma também pela presença de uma pequena quantidade de cinzas e uma quantidade
considerável de carvões sobre e entre as rochas.
Estrutura de blocos evidenciada ao centro da representação com a presença de artefato enegrecido ao centro,
estacas de madeira presentes na área, regiões de bioturbação e mancha cinza com presença de carvões próxima a
estrutura de laje fixa.
Fonte: elaborado pela autora a partir de croquis da documentação de campo.
Representação da base da estrutura 1, identificada como E1, circundada por estrutura de fossa e apresentando
fragmentos de material lítico presentados pela coloração cinza). Fonte: elaborado pela autora a partir de croquis
da documentação de campo.
Representação do perfil da estrutura 2 evidenciando material lítico e concentração de carvões. Fonte: elaborado
pela autora a partir de croquis da documentação de campo.
43
Estrutura 3 delimitada apresentando estaca de madeira, fragmentos de lítico e tronco carbonizado. A unidade
apresentou blocos de rocha de arenito e blocos de rocha de siltito, também foi representada uma feição
identificada como F2. Fonte: elaborado pela autora a partir de croquis da documentação de campo.
4 DISCUSSÃO
proveniência da amostra. Para encaminhar esta questão, novas amostras foram selecionadas e
enviadas para datação.
A respeito das questões estruturais, as três estruturas apresentaram base côncava, mas
quando comparadas no perfil é possível perceber diferenças significas entre as três, sendo que
a estrutura 2 apresenta maior concavidade aparente quando comparada às outras duas. As
bases de forma côncava expõem que houve um processo de escavação do solo para
construção da fogueira, além de provavelmente manter o fogo em posição central na estrutura,
o que permitia o controle do avanço das brasas e seu uso diversas vezes (DRON et al., 2003
apud. AZEVEDO; SCHEEL-YBERT, 2016). Além disso, esse tipo de estrutura apresenta
atingir maiores temperaturas em menos tempo e com menor quantidade de lenho, realizando a
transferência de calor entre as entre fogueiras de base côncava e outros materiais igualmente
através da condução e da irradiação (MARCH et al., 1993 apud. AZEVEDO; COPÉ;
SCHEEL-YBERT, 2013). Na irradiação o calor é transmitido à distância de sua fonte a um
objeto, sendo responsável pelas atividades cocção, secagem, aquecimento e iluminação, por
exemplo, enquanto a condução é a transmissão de calor entre materiais que estão em contato
direto com o fogo (THÉRY-PARISOT, 2001 apud. AZEVEDO; COPÉ; SCHEEL-YBERT,
2013). Desta forma, as estruturas de combustão de base côncava apresentam maior
versatilidade e sua escolha reflete o uso de pouca quantidade de material vegetal e bom
desempenho na maioria das atividades, além de refletirem que sua escolha deve ser entendida
como cultural, realizada por um grupo que conhecia o desempenho de cada tipo de fogo e o
utilizava esperando determinados resultados (AZEVEDO; COPÉ; SCHEEL-YBERT, 2013).
Já a presença de conjuntos de pedras demonstrado nas estruturas 1 e 3 podem ser relacionados
a um tipo de estrutura denominado combustão coberta, em que a combustão dos materiais
ocorreria sobre uma base côncava e seria coberta por pedras, que concentram o calor, e
oferecem base para o aquecimento indireto de materiais (COUDRET et al., 1989 apud.
AZEVEDO; COPÉ; SCHEEL-YBERT, 2013).
Com relação ao tipo de material vegetal carbonizado relacionado às estruturas de
combustão, a presença de grande quantidade de material lenhoso está relacionada à espécie
vegetal utilizada para construção das estruturas, considerando fatores tafonômicos, muitas
espécies quando carbonizadas não se preservam na forma de carvão e transformam-se
rapidamente em cinzas (MELO JÚNIOR; MAGALHÃES, 2015), a quantidade de cinzas
48
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS