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CO arquitetogrego [.]lidava tanto com formas paturais como com formas construfdas. Com ela, celebrava seus tts temas imorials: a santidade da terra, aestatura trégica da vida mortal sobre a tera, ea natureza plena do reconhecimento dos fatos da cxisténcia que sio os deuses. Vincent Scully, The Earth the Tomple, and the Gods, 1962 Os gregos tinham orgulho de sua arquitetu- ra ptiblica e sagrada, e mesmo na Antigui dade o Partenon de marmore branco, no alto da Acrépole em Atenas, era reconhecido como uma grande realizacao arquiteténica. Um viajante do século iT a.C., ao descrever sua visita a Atenas, escrevcu com admiracao sobre 0 “luxuoso, not:i.i ¢ imponente tem- plo de Atena chamado <2 Partenon”, elevan- do-se sobre a Acrépole para saudar aqueles que chegavam & cidade.' Nos séculos seguin- tes, o Partenon continuou a ser enaltecido em obras literdrias, mesmo se a Grécia era raramente visitada por europeus depois do pafs ser absorvido pelo Império Otomano. Somente em meados do século xvi, uma expedicao inglesa, conduzida por James Stuart e Nicholas Revett, aventurou-se a Ate- nas para registrar cientificamente a aparén- cia do lendario Partenon. A reputagio que 0s antigos haviam atribuido ao edificio foi confirmada, e o Partenon se tornou simbolo da clareza c da precisio da antiga arquite- tura grega. No século x1x, isso levou ao re- florescimento dessa antiga arquitetura, na qual a forma foi entendida, mesmo se 0 espirito que criara o Partenon estivesse fal- tando. A partir de meados do século xix, quando o estudo da historia e da literatura Bregas deixou de ser o que determinava a erudipao de uma pessoa, a ignorancia sobre essa cultura aumentou. Assim, para entender a clareza intelectual da arquitetura grega CAPITULO 11 Arquitetura grega antiga, devemos conhecer um pouco da ci- vilizagio que a ergueu. s antigos gregos do perfodo de 750 a.C. 350 a.C. aprenderem muito com o Egito, aparentemente adaptando modelos egipcios para criar suas esculturas e sua arquitetura de pedra baseada no sistema de pilar e viga (arquitravado), Eles admitiam isso com fa- Cilidade, pois, como comentou Plato em Eptnomis, “o que quer que os gregos adqui: ram dos estrangeiros 6, no final, transfor- mado por eles em algo mais nobre”.* Rapi- damente, portanto, os gregos deram forma a.uma arte e uma arquitetura distintamente préprias, criando um sistema de valores que celebrava as capacidades humanas e que formou a base da civilizagao ocidental desde entao. A geografia da Grécia Como no Egito, onde o rio € 0 deserto cria- vam uma cultura particular, também na Gré- cia a geografia e 0 clima locais espectficos influenciaram a cultura; mas ali produziu-se uma visio muito diferente sobre o lugar da humanidade no mundo. Na Antiguidade, a Grécia inclufa muito mais do que a ampla peninsula que se estende dos Balcas no can- to sudeste da Europa; do segundo milénio antes de Cristo em diante, também incluia as muitas ilhas espalhadas ao sul ea leste da peninsula, assim como ao longo da costa da Anatélia, ou Asia Menor, no que hoje éa Turquia. Os antigos gregos, na verdade, fa- Tavam do mar Egeu, entre a peninsula grega ea Asia Menor, como “o lago”, uma vez que ‘seus conterréneos estavam espalhados em torno de seu litoral. ‘A paisagem erega é toda acidentada, uma massa irregular de montanhas de cal- 186 A hist6ria e o significado da arquitetura cdrio e mérmore estendendo-se para dentro do mar como dedos, abrigando intimeras bafas e enseadas. 0 territ6rio ¢ dividido em trés grandes partes, cujo centro éa penfnsu- la principal. No sudeste da peninsula grega fica Atica e a cidade de Atenas. A leste da peninsula, perto da costa, fica a grande illha de Eubeia. No Sul, como uma mao gigante ‘com seus dedos esticados apontando para Creta ¢ 0 Egito, fica a peninsula menor do Peloponeso, presa ao continente por um ist- mo estreito em Corinto. Existe pouca terra plana, exceto nas pla- nicies costeiras e em alguns vales. A agricul- tura sempre foi dificil, e tornou-se ainda mais A medida que as florestas foram derru- badas ¢ 0 fino solo das terras altas foi lavado para o mar. Essa erosio ja estava bastante avancada, mesmo nos tempos antigos, pois Platéo observou em Critias que “o solo fértil se desgastou, deixando apenas 0 esqueleto da terra’.} Viagens de um vale para o préxi- mo eram sempre traicoeiras; assim, muito cedo os gregos se voltaram para o mar como sua principal forma de locomogao, € 0 risco que enfrentaram nos mares, por sua vez, produziu neles um espfrito aventureiro, um gosto pela agao ¢ uma prontidao para colo- car suas forgas a prova. A fibra vigorosa ¢ resiliente dos gregos foi formada em respos- taa um ambiente que podia mudar radical- mente em um instante, pois, além das tem- pestades violentas, a regido era sujeita a terremotos, perigos raramente encontrados pelos egipcios. A economia agricola dos gre- gos era baseada em pequenos sitios particu- ares trabalhados individualmente, e tanto essa economia como a paisagem acidentada dificultavam a consolidaao das muitas ci- dades-estado gregas em uma na¢io centra- lizada, Nao obstante, os gregos compartilha- que os distinguiu daqueles que falavam 0 que eles diziam soar como disparates ("bah- bah’), os barbaroi ou bérbaros. Qualquer que fosse sua cidade-estado, os gregos se identi- ficavam como helenos e consideravam que sua terra como um todo era a Hélade. GRECIA ANTIGA Regido minoica 3000-1400 a.C. Regio micénica 2000-1200 ac. Estados gregos, 431 a. SSO wae ere A Grécia minoica e micénica 0s gregos do que se costuma chamar de pe- iodo classico, aproximadamente de 479 a.C. 2.338 a.C. (0 perfodo focado aqui), descen- diam, em etapas, das culturas da Idade do Bronze, que floresceram primeiro na ilha de Creta, depois nas ilhas Cfelades, no mar Egeu, e, por fim, no Peloponeso e na Grécia central. A cultura mais antiga foi a minoica, que comegou em 3400 a.C. e aleancou seu apogeu entre 1600 a.C. ¢ 1400 a.C. Foi bati- zada em referéncia ao miftico rei Minos pelo arquedlogo sir Arthur Evans, que acreditava que ela havia se centrado no imenso palacio ‘e complexo administrative em Cnossos que Evans comegou a escavar por volta de 1900 [11.1]. O palicio de Cnossos tinha mais de 140 metros de lado, era centrado em um p&- tio aberto disposto sobre um eixo mais ou menos norte-sul, que ia das montanhas sa- gradas até o mar. Pelo edificio passava um sofisticado sistema de encanamento e dre- nagem. Em certas partes, as paredes alcan- gavam cinco andares de altura, formando uma série de recuos em volta de pogos de luze escadarias. As salas principais tinham paredes brilhantemente pintadas com mu- rais representando atividades religiosas € esportes festivos, especialmente competicoes envolvendo salto sobre touros correndo. £ bem possivel que a complexa planta do paldcio de Cnossos, juntamente com 0 culto a0 touro que floresceu ali, tenha sido a base do mito de Teseu e do Minotauro, que vivia no labirinto lendario. Os complexos palacia- nos de Creta eram notdveis pela completa auséncia de muros de defesa, sugerindo que ‘0s minoicos tinham um controle tao com- pleto do mar que no temiam qualquer in- vaso. Esse foco na vida secular do palacio distingue a cultura minoica daquela do Egi- to, centrada na tumba, ou da Mesopotamia, cujo foco era o zigurate. Um pouco antes de 2000 a.C. os assen- tamentos minoicos foram tomados por um novo grupo, o qual, presumivelmente, veio do Norte, Por volta de 1600 a.C., os recém- -chegados haviam estabelecido uma cultura distinta, chamada de micénica, por causa da cidade de Micenas no Peloponeso, que pa- rece ter sido o seu centro; essa cultura mi- c&nica floresceu até 1125 a.C. Um povo mais Arquitetura grega 187 11, Paldeio real, Cnosses, Creta,c. 16000.C. Planta baixa do nivel habitdvel principal. Este paldcio combinava residéncia, centro administrativo e depositos. Era aberto polos lados e no tinha muros protetores vigoroso ¢ agressivo, os micénicos parecem ter sido um estado cliente da antiga cultura minoica em Creta. Diferentemente das cida- des cretenses, no entanto, os assentamentos micenicos eram fortificados e construfdos em planaltos rochosos isolados. O palécio principal era construfdo no terreno elevado, atras de grossas muralhas erguidas com enormes pedras irregulares cuidadosamen- te encaixadas. Os gregos do periodo classico, olhando para esses antigos muros macigos de blocos rasticos, imaginaram que s6 po- deriam ter sido construfdos pelo gigante mitico de um 6 alho, o Ciclope, e por isso ‘esse tipo de alvenaria veio a ser chamada de ciclépico. Todos os assentamentos maiores eram desse tipo, incluindo Micenas, a sede do rei Agamenon, que conduziu os primeiros gregos para Troia (a Ilfada de Homero pode ser sido um relato elaborado e imperfeita- mente lembrado da verdadeira campanha para a Asia Menor). Em 1939, foi encontra- da em Pilos aquela que veio a ser chamada de casa do rei Nestor, que acompanhou Aga- menon na Guerra de Troia. Acidade de Tirinto (a “Tirinto das Gran- des Muralhas” de Homero), um pouco ao sul de Micenas, na base do polegar do Pelopo- 188 Abhistéria ¢ 0 significado da arquitetura Le Nee ine neso, ilustra a organizagao basica de uma cidade [11.2]. Erguida no alto de um planal- to de calcério elevando-se das planicies de Argos, e cercada por macicas muralhas clopicas de seis metros de espessura, chega- -se a ela por uma rampa do lado leste. Ata- cantes seriam forgados a subir 20 longo da muralha leste com seu lado direito - 0 lado nao protegido pelo escudo - exposto a ar- queiros colocados nos parapeitos. A entrada se fazia através de uma porta monumental, o propileu, para um patio. Em contraposigao as fortes muralhas externas, as edificagdes internas cram construfdas com estruturas de madeira preenchidas com pedra britada. Outro propileu, no lado norte do patio, con- duzia a um pétio palaciano menor cercado por uma colunata protetora. Este, por sua vez, levava ao centro do palacio, o que os gregos chamavam de mégaron [11.3]. Con- sistia em um pértico de entrada (formado por paredes projetadas enquadrando duas 20 90 4050 Ime 87 1.2. Palécio da acrépote, Trinto, Grécia, c. 1400-1200 .C. Planta batxa. Cidades micénicas foram constildes sobre muralias defensivas, como ert Tirinto. M= Mégeron. 113. Mégaron, palécio da acrdpole, Trinto, Gréia, 6, 1400-1200 a.C. Acredita-se que a forma da chmare cerintonial central, 0 miégaron, tenha sevido como uodelo para a forita do templo grego posterior colunas), um vestfbulo ea sala do trono, quase quadrada, com o telhado sustentado por quatro colunas (0 mesmo arranjo foi encontrado em Micenas e Pilos). No centro da sala principal, havia uma lareira circular elevada, sugerindo que a sala era aberta no alto. ‘A visdo tradicional & que por volta de 1150 a.C., os assentamentos micénicos fo- ram assolados por outro grupo do Norte, 0S ancestrais diretos dos gregos, que os chama- ram de déricos. A cultura micénica entrou em colapso, embora alguns bastides cultu- rais tenham resistido, especialmente Atenas. Alguns grupos fugiram do Peloponeso e ve- lejaram para leste, instalando coldnias nes ilhas proximas da Asia Menor e na prépria costa anatoliana. Assim, remanescentes da antiga cultura minoica-micénica continua- ram a prosperar na regido mais a leste, que se tornou a Jonia, enquanto as terras da pe- ninsula grega cafram em uma Idade das qrevas. A arquitetura de pedra ¢ as brilhan- tes pinturas murais dos palacios minoicos e micénicos desapareceram. As mais impor- tantes contribuigées culturais dos déricos foram uma linguagem ricamente figurada e um novo grupo de deuses-celestes, que go- vernavam das alturas do Monte Olimpo no Norte da Grécia. Estes gradualmente subs- titufram as deidades terrenas dos minoicos e micénicos ou adotaram alguns de seus atributos. A arquitetura de pedra ressurgiu somen- te por volta de 750 a.C., e, com ela, iniciou- “sea \¢do grega cléssica. Em Esparta, desenvolveu-se uma sociedade rigorosamen- te militarista, governada por uma aristocra- cia agréria, enquanto em Atenas, a cultura dérica mesclou-se com a micénica remanes- cente, criando uma vida citadina mais cos- mopolita, receptiva a novas ideias. A clareza eA graca das antigas culturas minoicas e micénicas foram adicionadas a paixao ea imaginagao do novo Na mesma €poca, teve inicio a coloniza- ‘sd0 grega do Mediterraneo, ura resposta as insuficientes condicées agricolas da penin- sula e & necessidade de matérias-primas. ‘Quase toda grande cidade grega enviou gru- pos colonizadores. Euiseia estabeleceui cida~ des como NeOpolis, na Iidlia central (Napo- les). Mégara fundou Chersonesus (Sebas- topol), na ponta meridional da Crimeia no mar Negro, e Selinus, na Sicflia. Acaia tinha numerosos assentamentos no Sul da Itélia, que os romanos vieram a chamar de Magna Graecia, incluindo Poseidonia (que os roma- nos traduziram como Paestum) ¢ Messana (Messina em italiano). Corinto tinha uma série de assentamentos ao norte do litoral do que hoje é a Albania e uma colénia im- Portante em Siracusa, Sicflia. Foceia fundou cidades ao longo do litoral espanhol e fran- cés, incluindo Tarraco (Tarragona), Massilia (Marselha), perto da boca do Rédano, Anti- polis (Antibes), Herakles Monoccus (Ména- co) e Nicaea (Nice). Mileto, a maior cidade jénica comercial e cultural, fundou nove colénias em torno do mar Negro. Outras colénias foram implantadas em Cirene, no Norte da Africa, e Naucratis, no delta do Baixo Egito. Apenas onde os rivais fenicios haviam instalado bases de troca ~ Palestina, Stria e Norte da Africa - os gregos estavam ausentes, Arquitetura grega 189 Embora usemos a palavra col6nia, essas no eram fontes mercantilistas de matéri -prima como cra o caso das colénias do século xvut. As colénias gregas eram comu- nidades adjuntas totalmente independentes; 08 gregos as chamavam de apoikia, que sig- nifica literalmente “lares distantes”. O resul- tado da colonizagao e do consequente co- mércio remoto foi que as ideias gregas, € especialmente a lingua grega, foram espa- Thadas ao longo do Mediterraneo e em torno do mar Negro. O cardter grego A mistura de aspectos das sofisticadas cultu- ras minoicas e micénicas com o pragmatismo dos déricos produziu um cardter grego tini- co, que valorizava a curiosidade, 0 gosto pela ago e 0 desejo pelo aperfeicoamento inte- lectual e fisico. Os gregos queriam saber por que os deuses fizeram o que fizeram, qual era a natureza do homem, como o mundo fora criado e como ele funcionava, E, felizmente para nés, eles aperfeigoaram uma lingua re- buscada que os permitiu preservar suas con- jecturas por escrito, Mais que tudo, os gregos eram extremamente confiantes de sua pré- pria superioridade cultural em relagao aos barbaros do entorno. A busca grega pela verdade é mais bem exemplificada pela filosofia natural desen- volvida pelos gregos jonicos durante o sécu- lo via.C. O primeiro desses cientistas-fil6- sofos jOnicos foi Tales de Mileto, um merca- dor que viajava para o Egito e a Mesopota- mia, aprendendo geometria ¢ astronomia, 0 que o permitiu predizer eclipses solares. Ele também propés a ideia de que o mundo se- ria feito de alguns componentes basicos, uma ideia que, em dltima instancia, levou a0 conceito de étomos, as menores partes indivisiveis de toda matéria, proposto por Leucipo de Mileto e seu pupilo Demécrito de Abdera. Os gregos tinham um gosto inato pela I6gica, logos (uma palavra que pode ser tra- duzida como “raz4o’, “ideia”,“pensamento”, “palavra”), uma ordem natural cujo oposto era o chaos, caos, Em tudo o grego buscava equilforioe simetria (summeiria, “ter a mes- ma medida”) como o ideal, Nada na nature- zaera visto como inteiramente fortuito, pois 190 A hist6ria e o significado da arquitetura até mesmo os deuses tinham raz6es para suas ages. Assim, Herdclito escreveu que a “medida e 0 logos séo constantes em um mundo em transformagiio”. Herdclito des- creveu o cosmo como um equilfbrio de opos- tos, assim como quente e frio, noite e dia, satide e doenga. Muito dessa filosofia era mais baseado em pressupostos do que na observagao de como as coisas de fato funcionavam, e Plato reclamava que havia variedade demais nas aparéncias naturais. Uma abordagem assim significava que alguns filésofos se aventura- vam em pura especulagdo metafisica. O fi- l6sofo jénico Pitagoras de Samos, que esta- beleceu uma colénia de seguidores em Cro- tona, na Itélia, tomou essa direc&io mfstica, propondo uma filosofia natural baseada to somente em nimeros: “tudo € néimero”. Ele ¢ seus seguidores descobriram a base da harmonia musical ao observar que uma cor- da esticada com a metade do comprimento de outra produzia o mesmo tom uma oitava acima, A partir desse e de outros experimen- tos, determinaram a base matematica da harmonia musical. Eles também imagina- ram os némeros triangulares e quadrados, e forneceram uma prova para 0 conceito usado inicialmente pelos egipcios, de que 0 quadrado do lado mais longo de um trian- gulo retangulo era a soma do quadrado dos dois outros lados. Nao € de admirar que o filésofo atenien- se Protdgoras de Abdera, um amigo de Pé- ricles, escrevesse em seu ensaio, Verdade: “O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que sao, enquanto séo, ¢ das coisas que nio sao, enquanto nao sao”. Em grego, isso também pode significar “o homem é 0 medidor de todas as coisas”, querendo dizer que a verdade € relativa a percepgo e a in- terpretacéo humana. Sécrates estava con- vencido de que a verdade podia ser encon- trada apenas por meio do constante ques- tionamento, aperfelgoamento, experimenta- Ao. E, como escreveu Xenofonte, “os deuses nao revelaram tudo aos homens no infcio; mas, A medida que o tempo passa, ao pro- curar, estes descobrem mais e mais”.‘ ‘O que os gregos se empenhavam em rea- lizar em todas as coisas era a areté, a quali- dade de exceléncia que resulta de testar e refinar todas as iniciativas humanas — poe- sia, mitsica, ceramica, governanga, escultu- rae arquitetura. A areté seria obtida por meio de uma competicao, agon (de onde nossa “agonia” deriva). Consequentemente, os gregos regularmente patrocinavam com. petigdes, em Argos, Corinto, Delfos e, é cla- ro, Olfmpia, em busca da areté; a coroa de louros era entregue nao apenas a atletas, mas também a miisicos. Mediante a compe- tigdo, agon, um homem aprendia suas capa- jades e seus limites, 0 que os sacerdotes de Apolo queriam dizer com “conhega-te a ti mesmo”. A areté era a exccléncia que abrangia os aspectos fisicos, morais e inte- lectuais, exigindo um equilfbrio na vida ob- tido por meio de uma turbulenta autodisci- plina. “Nada em excesso”, sintetiza a visio dos gregos sobre a vida, e é por essa razio que eles nao se interessavam por especialis- tas. Uma pessoa com areté fazia todas as coisas bem; trabalhava em sua fazenda no ‘campo e participava da assembleia da cida- de. Se fosse abastado, esperavam dele que pagasse pela producdo de festivais publicos ou fornecesse um navio para a marinha lo- cal; se no, ele aceitava seu dever de estar pronto quando fosse convocado para ir tao longe quanto o necessdrio, em armadura completa, para defender a honra de sua ci- dade. Para ter uma vida regrada, a pessoa empenhava-se para exercer forga e poder com comedimento, valorizar a qualidade sobre a quantidade, a luta nobre sobre a mera conquista e a honra pessoal sobre a opuléncia. Os gregos atribufam uma natureza qua- se semidivina ao homem. Séfocles faz 0 coro de Ant{gona cantar: ‘Numerosas so as marevilhas da natureza, mas de todas a maior € 0 Homem! (..] Eaalinguo, o pensamento alado, ¢ 0s costumes ‘moralizados, tudo isso ele aprendeu! E também, a evitar as intempéries 0s rigores da natureza! Fecundo em seus recursos, cle realiza sempre ‘o ideal a que aspiral® Os deuses olfmpicos eram, portanto, descri- tos em termos humanos e representados em forma humana perfeita. As deidades olfmpi- cas combinavam os deuses celestiais mascu- linos introduzidos pelos déricos (como Zeus, arremessador de raios) com deidades terre- nas femininas da Idade do Bronze (como Hera, a esposa de Zeus). O resultado ¢ que muitos templos construfdos para os deuses olfmpicos combinam aspectos tanto dos atri- butos masculinos quanto dos femininos, Eles sto geralmente no estilo dérico (ou seja, construfdos com colunas déricas) e, em ge- ral so alinhados em um eixo que atravessa alguma montanha de dois picos distante, sagrada para as deidades terrenas da Idade do Bronze.‘ Os doze deuses olfmpicos eram cultuados por todos os gregos, embora al- guns tivessem templos regionais, onde rece- biam reveréncia especial, como Zeus em Olimpia, Posseidon em Sunio (na extremi- dade da peninsula ao sudeste de Atenas) e Apolo em Delfos. Alguns deuses também eram associados com cidades especificas, de modo que os atenienses cultuavam Atena, a fundadora da cidade, em dois templos, em suas manifestacdes como Atena Polias, a protetora da cidade, e Atena Partenos, a don- zela guerreira.” Alguns gregos encontraram conforto em cultos misticos, mas, para a maioria, a religido grega era uma simples questo de fazer as oferendas certas para os deuses. Ndo havia uma nogao aceita de vida ap6s a morte, como havia sido comum entre os egtpcios; talvez a vida prega fosse ardua demais para que desejasscm que ela durasse para sempre. Ao contrério, os gregos busca- vam a imortalidade por meio da realizacao da areté, a exceléncia em grandes feitos, de modo que sua realizacio fosse registrada e lembrada para sempre. Apélis grega A mais importante contribuigao politica da civilizagao grega foi a invencao da democra- cia em Atenas, difundida com fervor parti- cular por atenienses nas cidades sobre as quais tinham influéncia. Como ocorre com outras palavras gregas, nao temos um equi- valente apropriado para pélis, afora traduzir como “cidade-estado”, que diz, ao mesmo tempo, muito e no o suficiente. A pélis era uma comunidade de familias relacionadas Por ancestrais comuns; uma pessoa nao se mudava para ou passava a fazer parte de uma cidade ~ a pessoa nascia como membro dela. Aqueles que viajavam e viviam em cidades diferentes daquelas onde haviam nascido ram considerados estrangeiros residentes; 4penas em raras ocasides se tornavam cida- Arquitetura grega 191 dios plenos, com o direito e a responsabili- dade de participar no governo. A pélis abarcava as fazendas de seu entomno, pois os gregos preferiam viver na cidade e andar ara suas fazendas em vez de viverem isola- dos no campo. Como H.D.F Kitto sintetizou, a pélis abrangia “toda a vida comunitéria, politica, cultural, moral e econdmica das pessoas”. Dizer que a pélis era uma cidade sugere um tamanho grande demais, pois os gregos sentiam que uma pessoa deveria ser capaz de cruzar toda a extensdo da pélis a pé em dois dias. Em sua Reptiblica, Platao descre- ve a pélis ideal como tendo 5 lad’os, ¢ Arist6teles escreveu na Polftica que uma pessoa deveria ser capaz. de conhecer de vis- ta todos os cidadaos da sua pélis. A maior parte delas tinha aproximadamente esse ‘tamanho, embora Atenas, Siracusa e Acragas tivessem populagdes de mais de 20 mil. Em 430 a.C., a populagao total da regido da Ati- ca, incluindo Atenas, era de cerca de 330 mil, da qual cerca de 15 mil eram residentes es- trangeiros e cerca de 115 mil eram escravos em servigo doméstico. Dos 200 mil restantes, aproximadamente 35 mil eram cidadaos masculinos com mais de dezoito anos, os outros sendo mulheres e criangas. Em certos lugares, durante épocas de transtornos sociais, um tinico individuo po- dia impor comando autocratico sobre a pé- lis, resultando numa tirania; em outros lu- gares, algumas familias aristocréticas exer ciam 0 governo em uma oligarquia. Em Atenas, originalmente, havia uma oligarquia de archons aristocréticos, mas, apés uma série de reformas durante os séculos vie V a.C., a governanca da cidade mudou para democracia, 0 governo de todos os cidadaos masculinos. Toda a comunidade de cidadaos, nJo apenas seus representantes, reunia-se mensalmente em uma assembleia a céu aberto em uma colina chamada Pnyx. Ali, tudo o que tinha a ver com o bem-estar de Atenas era discutido e votado, e mesmo os generais e almirantes que lutavam em nome da pélis eram eleitos para seus cargos. Nis- soo clima benigno da Grécia ajudava signi- ficativamente, pois os gregos tinham meios limitados para cobrir um volume capaz de abrigar diversos milhares de pessoas. Em- bora comités menores fossem escolhidos por sorteio para lidar com as questdes cotidia- 192 Ahistéria e o significado da arquitetura OD \ S \ xe 113. Acrépole, Atenas, vista do oeste 116, Agora, Atenas, ¢. Arquitetura grega 193 2, Nannie bata. Atravessando diagonalmente a dgora ficava o Dromos, 0 cantinho ‘processional, indo dos prices Sipslon (fora da planta, no canto superior esquerdo) até a base da Acropole, no canto Inferior divetio, A stos de Atal eilifico longo a lst. A = Arenal Stoa Feikle Biusetéo Stoa de Alo Tempio ds Hetasto Stoa meridional Metoe ‘toa. Zeus MS= Stoo a5 mao wo nas, a lideranga politica geral era dada aos que fossem mais persuasivos e inspirassem respeito. De 461 a.C. a 429 a.C., esse Ider, em Atenas, foi Péricles; que foi eleito general Por quinze anos seguides, trinta vezes no total. Foi ele quem levou a plis a erguer os Principais edificios da Acr6pole ateniense. Planejamento urbano A maioria das pélis cresceu gradualmente, tendo como centro os remanescentes de uma cidadela da Idade do Bronze construfda so- bre uma acrépole, a “cidade alta”, no alto de uma escarpa, Isso pode ser visto em Atenas, Cuja Acrépole eleva-se altivamente sobre a Planfcie da Atica [1 1.4, 11.5]. Por séculos os Santuérios domésticos do palécio ateniense da Idade do Bronze, a Acropole, haviam se tornado locais sagrados dedicados a varios deuses olfmpicos, e, mais tarde, nesses mes- mos locais, foram construfdos diversos tem- plos. Na base da Acrépole, as trilhas que levavam &s fazendas dos arredores torna- ram-se ruas, ¢, a0 longo de uma delas, um espaco mais ou menos triangular foi deixa- do aberto para a dgora, definida pelas casas e edificios piblicos do entorno. A agora era © coragio comunitario da cidade grega, a grande sala de estar aberta onde o comércio acontecia, estudantes eram ensinados e os assuntos da pélis (a politica) eram discutidos [11.6]. Em Atenas, a 4gora era definida, no in{cio, por casas particulares e lojas, e, no século mt a.C., por stoas, longos edificios abertos por colunatas ao longo de um lado que forneciam abrigo para artes4os vende- 194 A hist6ria ¢ 0 significado da arquitetura 11.7. Hipddamo, planta de Milero, Asia Menor, c. 450 2.C. (O mapa geométrico regular de Mileto foi dividido em trés zonas: dduas residenciais, ao norte e a0 sul, e unt centro comercial em tora da dgora.e perto dos dois portos. t rem seus produtos. Nessas stoas, que mais tarde configuraram a 4gora ateniense, Zénon € seus seguidores se encontravam para ob- servar e discutir a natureza humana ~ eles passariam a ser chamados de sioikds (estoi- os), ¢ sua filosofia, de estoicismo. No cam- po elevado imediatamente a oeste da 4gora fica 0 templo dérico que parece ter sido de- dicado a Hefesto, o deus da bigomna, do fogo e da forja, especial para os artesios que fa- ziam comércio na 4gora. Espalhados por perto da agora, havia outros edificios publi- cos menores e 0 buleutério, uma sala de re- uniges coberta para a bulé, o conselho da polis que se reunia diariamente. O buleuté- rio coberto podia acomodar até setecentas pessoas. ‘Nas colénias gregas, as cidades eram estabelecidas do zero; assim, um tragado ortogonal mais ordenado era em geral em- pregado, como em Poseidonia (Paestum em Latim; hoje Pesto, na Itdlia). Foi apenas quando os persas arrasaram cidades na Gré- cia Jonica, de 494 a.C. a 479 a.C., que esse método mais objetivo e cientifico comegou a ser aplicado nas terras gregas, sendo na- tural que isso acontecesse primeiro em Mi- leto, onde a ciéncia grega havia nascido um século antes. O replanejamento de Mileto veio como resultado de sua destruico pelos persas. Por volta de 550 a.C., a JOnia havia caido sob a influéncia de Creso, rei da Lidia, na Anatélia ocidental. Creso, portanto, atacou tolamer- te o Império Persa a leste; os persas retalia- ram, conquistando a Lidia ¢ seus aliados ¢ anexando as cidades gregas jénicas ao Im- pério Persa em 540 a.C. As cidades jénicas cativas reagiram e pediram que os espartz- nos, atenienses e outros gregos do continen- te 05 ajudassem; na batalha seguinte, mutes cidades jOnicas foram destrufdas, incluindo Mileto, em 494 a.C. Para interromper a in- tervengio estrangeira, o exército persa co mandado por Dario partiu para a Grécia ¢ avangou em direcdo A Atica, mas em 490a.C foi detido em Maratona, a 42 quilometros de Atenas, por um pequeno exército de gre- gos, Apesar dos persas serem muito mais ‘numerosos, 0s gregos os venceram. Em 480 a.C., apés a morte de Dario, uma segunda campanha contra a Grécia foi lancada por seu filho Xerxes. Mais uma vez fortemente superados em ntimero, os gregos aliados guerrearam bravamente, mas perderam; as forgas de Xerxes entraram, ento, em Atenas ¢ atearam fogo aos templos da Acrépole. Porém, uma esquadra de duzentos navios atenienses e aliados derrotou a frota persa na bafa de Salamina, a vista de Atenas; 0 primeiro de uma série de reveses militares para os persas. Em 479 a.C., os persas foram derrotados ¢ forgados a voltar para a Turquia central, e as cidades jonicas foram libertadas do dominio barbaro, ‘Com o fim da ameaga persa, as cidades jOnicas destrufdas foram reconstrufdas, in- cluindo Mileto. O plano para a nova Mileto é,em geral, atribufdo a Hipédamo, um mi- Iésio que Aristételes descreveu em sua Polt- tica como 0 homem que “inventou a arte de planejar cidades” ¢ que concebeu o porto ateniense de Pireu e a cidade de Rodes.0 11.8 Planta de Priene, Asia Menor, ¢. 450 a.C. Priene, construfda em cima do monte Micale, mostra como uma Planta ortegonal podia ser adaptada ao terreno de uma colina. Arquitetura grega 195 local era uma peninsula relativamente plana, entrando no mar junto da foz do rio Mean- dro, com duas profundas enseadas que for- mavam excelentes portos. Hipédamo ajustou 0 tragado ortogonal & diregao geral da pe- ninsula, em vez de orienté-lo segundo os pontos cardeais, e dividiu a cidade em trés zonas distintas [11.7]. Ao Norte, ficava 0 bairro residencial; no centro, atravessando mais ou menos de um porto ao outro, ficava a Sgora, dividida ao meio em duas secdes pelo buleutério; e, ao sul, ficava uma segun- da Grea residencial com quadras maiores. O que faltava era um espago sagrado para os templos principais, mas isso porque o local religioso mais importante para os milésios era o grande santudrio de Apolo em Didima, 22 quilometros ao sul. Priene, uma cidade ao norte de Mileto, foi reconstrufda no final do século 1v a.C. [11.8]. L4, 0 tracado ortogonal foi adaptado a.um terreno montanhoso, com muitos acli- vves, com quadras regulares medindo apro- ximadamente 37 por 48 metros. Seis ruas principais, relativamente planas, atravessa- vam de leste a oeste; as quinze ruas menores tinham degraus e corriam de norte a sul. Mais ou menos no centro ficava a agora re- tangular, e, ao norte, no alto de uma colina, © distrito do templo de Atena e 0 teatro. No canto Sul da cidade havia um estddio ea palestra (escola de luta livre). Arquitetura doméstica ‘Como a maior parte dos negécios cfvicos e comerciais era realizada ao ar livre, na 4go- ra, até o século 1v a.C., quando a cultura grega entrou em uma nova fase, chamada helenfstica, as casas particulares dos gregos geralmente eram pequenas e pouco elabo- radas. Casas de artesios descobertas a oeste da acr6pole ateniense mostram como, em cidades mais antigas, os projetos eram adap- tados ao padrao vidrio irregular [11.9]. Nes- sas casas de artesaos, costumava haver um quarto separado para a produ¢ao de cera- mica ou objetos de metal. Fora isso, a casa consistia em um pequeno patio de pedra a céu aberto, com uma série de quartos abrin- do-se para ele. Térreas, essas casas em geral tinham telhados inclinados para 0 patio cen- tral aberto. Em Priene, por causa das qua- 196 Ahistéria ¢ o significado da arquitetura 11,9. Cases de artestos perto da dgore, Atenas, ¢. 350 a.C. Em Atenas, as casas particudares se conformavam um padrdo viério iregular dras regulares, as casas eram retangulares [11,10]. Em geral, ao sul do patio central aberto havia uma éxedra (espaco coberto abrigado do sol e dos ventos), ¢ ao norte, uma unidade tipo mégaron, ou ofkos, a sala social maior. Edificios publicos Comparados a quantidade, a variedade de tipos e as dimensdes dos edificios piblicos romanos, 0s edificios ptiblicos gregos eram mais limitados. Talvez os mais importantes em impacto e func fossem as sioas que ladeavam e definiam as 4goras, Eram cons- trugées longas e retangulares, com sua fa- chada longitudinal aberta para a Agora. Em geral, tinham uma fileira interna de colunas no meio, para suportar o telhado ou o andar superior, e pequenas salas enfileiradas na parte de trés, para pequenas lojas ou oficinas e escritérios. Apés 0 periodo cléssico, as stoas se tornaram bastante longas, como ilustrado ote 20 40 __eo SS 11.10, Casa, Priene, Asia Menor. 450 a.C. Em cidades planejadas como Priene, as casas perticulrestinkart plantas mais regres. Ao sul do peti central aberto Peeve c xedra (e) , ao norte, feava a sale pbc, 2 otkos fo). na stoa de 35,7 metros oferecida a Atenas pelo rei Atalo de Pérgamo, construfda por volta de 150 a.C. do lado leste da agora UL11). Diversas salas cobertas foram construf- das para acomodar pequenos grupos de pessoas. O buleutério era um tipo, concebi- do para receber a bulé, ou 0 conselho, da Pélis. O buleutério de Atenas, do lado oeste da Agora, era maior que a maioria, mas 0 pequeno buleutério de Priene, construfdo por volta de 200 a.C., se mantém em melho- res condig6es. Medindo quase dezenove por vinte metros, tinha fileiras de bancos em trés lados, fornecendo assento para cerca de setecentas pessoas, e poderia provavel- mente abrigar quase todos os cidadaos vo- tantes de Priene, cuja populacio total deve ter sido de cerca de 4 mil [11.12]. Ao redor dos bancos mais altos ficavam catorze su- Portes, reduzindo o vao do telhado de treli- ¢a de madeira para aproximadamente ca- torze metros, espago bastante consideravel para a época, Arquitctura grega 197 111, Stoade Atalo, Atenas, ¢. 180..C. Construia pelo rei Allo de Ptrgemo como um presente para a cidade de Atenas, esta sta foi meticul reconsiruida na década de 1950, Ilustra bem esse tivo de ediftcio efvico 1112 Buleutério, Prene, Asta Menor, ¢. 200 a.C. Viste interna. Eaifiiosreativamente pequettos como este foram ‘onstruidos pelos gregos para abrigar seus conselhes civicos. Este media 18,5 metros por vinte meirose podia scomedar cerca de setecentas pessons seitadas. 198 A histéria e o significado da arquitetura Os maiores edificios pablicos gregos eram a céu aberto ¢ inclufam teatros e esta- dios para competigdes atléticas. 0 estddio —a palavra grega stadion significa 20 mesmo tempo uma unidade de distancia de cerca de duzentos metros e a estrutura esportiva, com fileiras de assentos - era usado apenas em certas épocas do ano, mas 0 teatro era uma parte da vida cfvica da pélis quase tao importante como a Agora. As produgées dra- miticas comegaram como rituais religiosos para o deus Dionfsio e, na época de Péricles, tornaram-se meios importantes para definir ¢ claborar 0 ideal de virtude cfvica e moral, aareté, como as pecas de Esquilo e Séfocles demonstram. Mesmo as comédias irreveren- tes de Aristéfanes desempenhavam papel importante nisso. Ir a0 teatro era uma cele- bragao do espfrito comunitério; as pegas contribufam de maneira importante para a educagao politica ¢ néo eram meros entre- tenimentos, como se tornaram mais tarde no Império Romano. 0 fato de a estrutura do palco, askéné, ser relativamente baixa é importante porque, ao se tornar parte do préprio drama, o piblico podia elevar os olhos para olhar para a paisagem de sua pé- lis, de tal modo que, como escreve Vincent Scully, “todo o universo visfvel dos homens eda natureza convergia em uma ordem tini- ca tranquila’."! Era uma sorte que o clima ameno da Grécia tornasse posstvel construir teatros a0 ar livre, pois nao havia uma maneira pratica de cobrir um ediffcio que acomodasse 7 mil pessoas, o ntimero que cabia no teatro de Epidauro. Em alguns casos, o teatro era tam- bém usado para a assembleia de todos os cidadaos da pélis. 0 teatro de Epidauro, construfdo por volta de 350 a.C., no polegar do Peloponeso, segundo um projeto de Po- licleto, o Joven, mantém quase todas as suas caraterfsticas originais (11.13, 11.14]. Havia trés partes basicas: o teatro (“lugar de ver”), a Grea de assentos para os espectadores construfda no flanco de uma colina escava- da; a orquestra ("lugar de dangar”), o piso circular onde os atores declamavam e 0 coro cantava e dangava (no centro da orquestra ficava um altar para Dionisio); ea skéné, uma estrutura baixa formando um fundo atrds da orquestra. Nos teatros gregos (dife- rentemente dos exemplos romanos), a pla- teia abria-se mais do que meio circulo, ¢ a cena era um pouco mais alta que um andar. Em Epidauro, hé 55 fileiras semicirculares de assentos, separadas por um deambulat6- rio cerca de dois tergos do caminho para cima; 0 diametro é de 118 metros, O templo grego A construgdo grega mais importante era, sem duivida, o templo. Embora tivesse uma fun- Go publica das mais vitais e fosse o simbolo da pélis, nao era um edificio puiblico no sen- tido que usamos para a palavra, pois apenas sacerdotes e pessoas selecionadas podiam entrar nele. Em contraposicao a seu interior simples e desprovido de decoragéo, a parte externa do templo esbanjava esmero artisti- co, pois os rituais piblicos eram celebrados no altar em frente ao templo. Por isso, e pelo fato de seu volume fechado no ser um es- aco ptiblico, o templo grego foi muitas vezes descrito como uma escultura monumental instalada na paisagem. O templo era erigido em um local sagra- do, 0 temenas, delimitado por um muro bai- xo ou fileiras de pedras. Contudo, como esses locais receberam novas construgées a0 longo dos séculos, stoas ¢ outras construgoes acabam definindo melhor o temenos. Nao houve esforgo para alinhar esses edificios de acordo com eixos predefinidos; eles eram ajustados a topografia do terreno. Nao obs- tante, os templos eram em geral alinhados sobre eixos direcionados para picos de mon- tanhas préximas, sagradas desde tempos pré-histéricos. A forma bruta do templo parece ter apa- recido por volta de 1050 a.C., uma estrutura de madeira com colunas ao redor de uma sala central. As primitivas oferendas rituais 0s deuses eram feitas em bosques sagrados, onde as arvores eram decoradas com elas. Acredita-se que o templo, com sua colunata circundante, tenha sido uma tentativa de recriar o bosque sagrado. As colunas simbo- lizavam aquelas arvores decoradas, e as di- versas partes das ordens dérica, jonica e, mais tarde, corintia foram nomeadas segun- do acées desempenhadas nesses rituais [Lé- mina 3]. A arquitetura parece ter se tornado a forma concreta do ritual, embora quando ‘Vitravio catalogou essa informagao a partir de suas fontes gregas no século ta.C., 0 ser Arquitetura grega 199 1113, Policleto, 0 Jovem, teatr Areas religiosas ¢ eramm comsinis shane temportrias. ridauro, Gricta, . 350 a.C. Vista. Normabnente, os tearos gregos fleavam: junto a mm encosias. A plateia se estendia em tomo dle 200" e ficava diante de estruturas de 1.14, Teatro de Epidauro, Planta baixa: = 7 200 A histéria e o significado da arquitetura poo = Git ogetl0 11.15, Temenos, ou conjuanto sagrado, Olimpia, Grécia, séeulo V a.C. Unt temencs ineluda um ou mais temples, altares, salas do tesouro ¢ outros edifcies de apoio. Lé, os principais templos era dedicados a Hera e Zeus. A leste do temenos de Olimpia ficava o esiédio, onde os Jogos Olimpicos aconteciam. tido original dos termos arquitetOnicos gre- gos jé houvessem se perdido,'? O temenos sagrado de Olimpia [4.35, 11.15] é um bom exemplo para ilustrar tem- plos em seu contexto. O local sagrado é de- limitado pelo buleutério ao sul, a stoa a les- te e uma série de pequenas salas do tesouro adossadas A colina de Cronos ao norte. No lado norte do femenos havia um templo de- dicado a Hera, a esposa de Zeus, original- mente construfdo em madeira, mas substi- tufdo, parte por parte, com elementos de pedra & medida que o tempo passou. O prin- cipal edificio era o grande templo de Zeus, construfdo pelos cidadaos de Elis em 468- 460 a.C. e projetado por Libon de Elis [11.16]. Medindo 28 por 64 metros, era um templo dérico, com seis colunas macigas na frente ¢ no fundo e treze de cada lado (para uma discussao sobre as ordens e colunas gregas, ver a Parte Um). Os gregos cons- trufam seus templos com pedra local, e, em Olfmpia, esta era um calcdrio rugoso, reco- berto depois com um reboco feito de pé de marmore. 0 templo era perfptero, ou seja, tinha uma fileira de colunas em torno de todo o seu perimetro e ficava sobre uma base de trés degraus (a tinica caracteristica inco- mum era a aproximagio através de uma rampa do lado leste). Dentro ficava 0 naos, uma cAmara retangular com paredes que 5 projetavam para o pértico, as anfas, com duas colunas entre elas. Dentro, entre as fi- leiras de colunas déricas, que sustentavam 0 telhado, ficava uma imensa imagem de Zeus sentado, feita de ouro e marfim fixado a.uma armagao de madeira e obra do escul- tor ateniense Fidias. O complexo de templos que materializa mais plenamente o espfrito da Grécia antiga se encontra na Acrépole de Atenas. O que se vé hoje em dia so os remanescentes de um programa construtivo impressionante ini- ciado pela pélis atenicnse sob o governo de Péricles muitas décadas apés a Acrépole ter sido queimada e destruida pelos persas em 480 a.C. Os ediffcios deveriam simbolizar vit6ria de Atenas, e dos gregos em geral, So- bre o barbarismo. Para que os persas jamais fossem uma ameaga novamente, Péricles >| Arquitetura grega 201 mo 8 10 15 20 Se ho_19 20 40 80000. “ a8 11.16. Libon (arquiteo), templo de Zeus, Olimpia, Grecia, c. 468-460 a.C, Planta baixa, O templo de Zeus incorpore ‘os elementos bdsicas do temple grego do periodo cldssico, com seis colunas doricas na frente e no fundoe treze nas luterais. Atrds das coli: fica o nacs, abrigande a imagem de Zeus. LIT, Acrépote, Atenas. Implantagdo, mostrando os edifcios conctutdos durante a canwpanka de construe de Pericles, por volta de 400 a.C. = Erection ‘pas Tempio do Ana Pertenes Parton) IN = Tomploe Alena Nike Bre Pople 202 A histéria e o significado da arquitetura criou a Liga de Delos, uma confederagao de todas as pélis em torno do mar Egeu, e par- te dos fundos que elas contribuiam foi usa- da para construira nova Acrépole como um. ‘emblema daquela vitéria."* ‘A Acrépole era o local ideal para esses novos templos. Elevando-se a mais de no- venta metros acima da cidade, colocava os edificios de marmore branco reluzente & vista dos residentes da pélis, mas também 0 deixava visiveis do porto de Pireu ¢ da bafa de Salamina, onde os navios persas ha- viam sido afundados [11.4]. Era 0 ponto focal da Panateneia, festival realizado todos ‘08 anos no fim do verio para comemorar 0 aniversério de Atena ¢ celebrado com fest vidades especiais a cada quatro anos. Nessas ocasides, peregrinos € participantes locais se reuniam do lado de fora dos portdes di pylon, no Noroeste da cidade, e formavam uma procisstio que se movia ao longo da nua chamada Dromos, através da figora ¢ até a Acropole. Presentes para Atena ~ uma tini- ca de la especialmente tecida para a antiga estitua de madeira e gado sacrificial - cram Jevados ao longo do tortuoso caminho até o alto da Acrépole."* Em um antigo bastido que se projetava na extremidade oeste do planalto, um pe- 11.18 Templo de Atena Nike, Atenas, 438-420 aC. Esta quer joi foi construda para celebrar a vitria greg sobre os persas:fca sobre wm antigo bastdo dfensvo da ade do Bronce que proepia portto da Acrépole. Possui colunas fnicas epenas na frente e nos fundos. queno templo de marmore dedicado a Aten Nike, deusa da vitéria, foi construfdo por Calfcrates por volta de 460-450 a.C."5 0 bas. tifo foi subsequentemente reconstrufdo, ¢ um novo templo, o que esta 14 até hoje, foi erguido entre 435-420 a.C. (11.17, 11.18}. O templo de Nike ¢ 0 primeiro elemento vis. to quando nos aproximamos da Acrépole. ‘Suas delicadas colunas jonicas, apenas qua. tro nas fachadas da frente e do fundo, con. trastam com 0 aspecto macico das colunas déricas do préximo elemento que vem a vista, 0 portico de entrada da Acrépole, 0 Propitew. O atual Propileu substituiu um portio menor e mais antigo que era voltado para sudoeste; destrufdo pelo incéndio causado pelos persas em 480 a.C., foi substitufdo por uma entrada maior ¢ mais cerimonial de marmore em 437-432 a.C., projetada pelo arquiteto Mnesicles [11.19]. Além do porto em si, 0 edificio inclufa duas cima. ras para peregrinos, uma de cada lado, Do lado esquerdo da entrada, ficava uma gale- ria para descanso decorada com pinturas (daf o nome pinakotheke, “pinacoteca”, ou “ealeria de pinturas”); a galeria menor ¢ inacabada do lado direito pode ter sido pla- nejada como uma glyptothek (“galeria de Arquitetura grega 203 IIB. Mnesices, Proves, Atenas, 437-432 aC. Apés passar pelo baste defensive, o visitanteentrava no conjento sagrado da Acrépole através do Propilen. 1120. Propilew Bsa vista reconstvuida de Gorham Philips Stevens tem algunas colunas doricas removidas pera ‘mostrar melhor evista do temenos. Aesquerda pode ser-vsto.o Erecteiom: quase no centro, a estéuta de Atena Promacos; ea dreta, 0 Partenor. 204 Ahistéria e o significado da arquitetura esculturas"), mas, apesar de sua forma ina- cabada, a frente foi construfda de tal ma- neira que a sensagio de equilfbrio é preser- vada quando se sobe em direcao ao Propi- leu, Ao reconstrut-lo, em 437 a.C., Mnesi- cles realinhou o edificio, deixando-o quase paralelo ao maior templo do plats, o Par- tenon, voltado assim para a bafa de Sala- mina. Entdo, ao virar para trés e olhar atra- vés do p6rtico, 0 peregrino via, emoldurado por suas colunas, o local onde os persas foram repelidos. Dentro do conjunto sagrado havia uma grande quantidade de estdtuas e estelas vo- tivas erguidas como simbolos de agradeci- mento, entre as quais se elevava uma gigan- tesca figura de bronze de Atena Promacos (‘a guerreira”), cujo brilho da ponta da lan- ¢a dourada apontando para cima podia ser visto do mar [11.20]. Atrés dela, paralelos a0 muro de trés do Propileu, ficavam os re- manescentes das muralhas ciclépicas de um terrago do antigo palicio da Idade do Bron- ze, talvez, o paldcio do lendario Erecteu, rei da Atenas pré-histérica. A esquerda, podia-se avistar a parte de cima do templo Erecteion, ¢, 8 direita, acima dos telhados dos edificios de tesouraria, ele- vava-se o grande volume do Partenon, Se- guindo uma rampa ao longo do lado sul do terrago cicl6pico, 0 peregrino alcangava a fachada oeste do Partenon ¢ podia se voltar para o norte para ver a curiosa forma irre- gular do Erecteion. Esse templo, o tiltimo grande edificio erigido na Acrépole, era também o mais in- comum [1 1.21, 11,22]. Construido provavel- mente de 421 a.C. a 405 a.C. (0 arquiteto é desconhecido), abrigava santudrios de uma série de deuses, deidades locais e herdis e sinalizava diversos locais sagrados, incluin- do a marca do tridente de Posseidon e a fonte de gua salgada que ele fez jorrar, as- sim como os tiimulos dos lendérios Erecteu e Cécrope, e, o mais importante, abrigava um templo dedicado a Atena Polias, prote- tora da cidade e deusa do lar. Originalmente havia um templo dérico tradicional dedicado a Atena Polias, um pou- co ao sul do atual Erecteion, que foi quei- mado pelos persas. Ao construir o substitu- to ao norte, o arquiteto teve de lidar com numerosos problemas para acomodar os muitos locais sagrados e um declive acen- tuado. Como resultado, o Erecteion tem diversos niveis. A leste, no nivel mais alto, fica 0 pértico com seis colunas jonicas que conduz ao naos que abrigava a antiga ima. gem de madeira de Atena. Ao Norte, um nivel abaixo, fica um pértico jénico maior, com quatro colunas, conduzindo a sala de Erecteu. Em um patio aberto imediatamen- te a oeste do templo havia uma oliveira sa- grada, dedicada a Atena. Essa parte do ter- reno no podia ser coberta, e, portanto, 0 Erecteion termina em uma parede com co- lunas j6nicas adossadas na fachada este, Ao Sul, na diregfio do Partenon e sobre o ttimulo do lendério rei Cécrope, fica 0 Por. tico das Donzelas, ou Cariétides, com seis colunas em forma de mulheres com coroas nas cabecas, formando os “capitéis” - é a parte mais original dos muitos aspectos ino- vadores dessa construgao extremamente inusitada, ‘Seo Partenon ao sul representa o logos, a clareza ea precisio, o Erecteion, com seus detalhes jonicos delicados e muito detalha- dos, parece buscar ordem em uma espécie de desordem casual. O Brecteion é a mate- rializacdo da flexibilidade jénica e da graga elegante, em oposigio a austeridade olimpi- ca dérica do Partenon. No entanto, o Erec- teion ndo é um produto de uma Idade do Ouro idilica e pacifica, pois seu projeto ¢ construcao foram realizados durante a Guer- ra do Peloponeso, na época em que uma praga quase dizimou Atenas e ameagou des- truir a pélis. Contrapondo-se ao momento desesperado, o Erecteion € uma joia de de- licado refinamento, nao uma expressao de desespero. 0 primeiro edificio a ser reconstrufdo na Acrépole queimada foi o maior de todos, dominando a colina e a plantcie de Atica abaixo: o templo de Atena Partenos (Vir- gem), deusa da guerra e da sabedoria. Um templo anterior nesse mesmo local era ali- nhado ao monte Himeto a oeste, Uma subs- tituigao a esse templo, iniciada em 490 a.C. ainda nas primeiras etapas de construgo, foi destrufda pelos persas. Uma série de tam- bores das colunas de marmore branco, ex- trafdo do monte Pentélico, resistiu ao fogo ¢ foi usada para as colunas do novo templo. Partenon foi construfdo entre 447-438 a.C- a partir de desenhos de Ictino (possivelmen- te auxiliado por Calicrates). Considerando _—_—- Arquitetura grega 205 1121, Erecteion, Atenas, 421-405 a.C. Este edifcio complexo abrigava santudris de wme variedede de deuses, inchiindo Atena Polia, protetova da cidade. Foi construtdo sobre wma rocha e, portant, tert wm plano em dois rivets, Incluio Pértico das Cariétiies (Donzelas). l 4.22. Erecteion. Planta baixa 206 A histéria ¢ o significado da arquitetura esse reuso de material, ¢ especialmente no- tAvel como as partes proporcionadas do edi ficio acabado ficaram harmonizadas, pois 0s arquitetos estavam usando elementos originalmente proporcionados para a cons- truco de um projeto diferente. ‘0 Partenon é incomum em diversos as- pectos: seu grande tamanho (mede 31 por setenta metros), suas oito colunas nas facha- das da frente e do fundo (quando seis era mais tradicional) e seu ndos com duas c4- maras [11.23]. A leste, ficava a sala maior, que abrigava uma imensa figura de Atena em pé, de capacete, com uma langa e um escudo nas maos; como a imagem de ouro e marfim de Olimpia, essa também foi cria- da por Fidias, o qual, ao que parece, super- visionou todas as esculturas esculpidas para © templo, A oeste ficava uma sala quase qua- drada chamada de partenon (0 termo foi depois estendido para significar 0 prédio todo), que abrigava um tesouro de oferendas para Atena, incluindo o trono de prata do qual Xerxes observou seus navios partirem para a derrota na bafa de Salamina. Embo- rao templo tenha sido construfdo com a ordem dérica, maciga e austera, que convi- nha & deusa da guerra, o telhado da sala do Partenon era sustentado por colunas jonicas mais delicadas. Como em Olimpia, as esculturas dos edificios eram relacionadas aos temas asso. ciados ao deus e ao local. Como esse era um dos templos mais pan-helénicos, que cele. brava a vit6ria sobre os persas, as esculturas representavam a luta entre logos e chaos, entre a civilizagao eo barbarismo. As 92 mé. topas no entablamento dérico ilustravam isso de quatro maneiras. A leste ficavam ima- gens da batalha entre os deuses olfmpicos e 0s gigantes terrenos; a oeste, cenas de gregos lutando contra as amazonas (ou persas); 20 norte, representagdes dos gregos contra os troianos (outros adversarios da Asia Menor); ¢, a0 sul, pares de lépitas e centauros lutan- do, a mesma histéria representada no fron- to oeste do templo de Olimpia. As figuras dos frontdes representavam histérias mais relacionadas a Atcnas. No frontao oeste, vol- tado para o Propileu, era mostrada a hist6ria da competicao entre Atena e Poseidon para determinar quem deveria ter 0 dominio so- bre a Atica. Posseidon tentou persuadir os atenienses por meio de uma exibigdo de seu poder e, assim, golpeou a Acropole com seu tridente, enquanto Atena fez uma oliveira FOS © S'S G8 8:810' 00.8: mos ws 20 mow 20 40 eo __a0 11.23, Ictino e Calferates, Partenon, Atenas, 447-438 a.C. Planta baixa. Este templo possui dois nacs, um pare © tesouro ¢ outro para abrigar a imagem de ouro € marfim de Atena Partenos, deusa da guerra. A planta baixa ¢ a das colunas tém a proporedo x: 2x +1. 124. crescer milagrosamente - os atenienses, en- 140, preferiram o presente de Atena [11.24]. No frontao leste, sobre a entrada para 0 naos principal e a imagem de Fidias, havia uma Tepresentagao do nascimento de Atena, com- pletamente armada, saindo da testa de seu pai, Zeus. A parte mais original do todo, no entanto, era o longo friso esculpido em bai- xo-relevo. Ele ficava em torno da parede externa do naos, mas dentro do peristilo dé- rico, medindo um metro de altura por 160 metros de comprimento, e mostrava o que parece ser a procissao da Panateneia. Até entio, apenas deuses e heréis semidivinos eram representados em esculturas nos tem- plos; pela primeira vez, mortais comuns apa- receram. Talvez essas figuras representassem a procissio original da Panateneia, mas tam- bém é possivel que os atenienses do perfodo classico estivessem olhando para imagens idealizadas deles mesmos, retratados cele- brando a protecao de sua cidade por Atena € 0 estilo de vida que isso significava. O que tornou o Partenon especial desde a poca de sua criagao foi a preciso de sua ir do pti inferior; reconstit Arquitetura grega 207 de Gorham Phillips Stevens. construgio assim como as sutilezas e refi- namentos do projeto [11.25]. Desprezando ‘o.uso de argamassa, os construtores empre- garam uma técnica de alvenaria seca cha- mada anathyrosis. Os blocos de marmore eram cortados perfeitamente quadrados, e as superficies, deixadas absolutamente lisas. Para as juncdes verticais, as superficies in termas cram cortadas de modo que apenas as bordas dos blocos encostassem umas nas outras, de maneira precisa. Nessa regio propensa a terremotos, os blocos eram pre- sos entre si com grampos de ferros selados em chumbo fundido para proteger da oxi- dagao. Como uma materializagao do logos, todo 0 projeto foi determinado por um sis- tema de proporgdes de x para (2x + 1) ou4 para 9. Assim, se havia oito colunas na fren- te de cada fachada, usando os tambores jé cortados, as laterais teriam que ter dezesse- te colunas (2 x 8 +1). Tanto as proporgdes do pédio quanto do naos sao de 4 para 9, ou 1 para 2,25. A mesma relacdo de proporgées foi usada na razio entre a altura da ordem (incluindo o entablamento) e a Jargura das 208 A histéria ¢ o significado da arquitetura 11.25. Purtenon. Vista da fachada oeste, razdo entre o didmetro das pagamento entre elas, de eixo fachadas ¢ ni colunas ¢ 0 €s acixo. Mais notiveis ainda eram os sutis refi- namentos visuais, 0 que, segundo Vitrivio 0s gregos chamavam de alexemata, ou *me- Thorias”, Ele dizia que os templos gregos tinham de ser projetados quod oculus fallit, ou “levando em conta aquilo que engana 03 olhos”, isto é, se uma plataforma estilébata é construida realmente plana, “vai parecer que tem uma depressio”, e as colunas de canto precisam ser mais espessas porque “estiio colocadas contra 0 espaco aberto e parecem ser mais delgadas do que séo”, As- im, ele instrui seu leitor, a estilébata deve ser levemente elevada no centro, com temm- peratione adauigeatur, ou seja, ter uma “ele vagiio[...] feita com modulagao calculada’.!* Na verdade, no Partenon a estilébata é um segmento de uma esfera imensa que se eleva no centro: nos lados maiores, ele se eleva quase dez centimetros; nos menores, cerca de cinco centimetros. Além disso, cada linha horizontal paralela a estilbata ¢ igualmen- te curvada, As colunas de canto néo apenas tém um didmetro cinco centimetros maior do que todas as outras, mas também so colocadas quase sessenta centimetros mais préximas das vizinhas. 0 Partenon dé a impressao de ser um projeto bascado em linhas absolutamente retas, uma série de horizontais perfeitamen- te planas ¢ verticals aprumadas, em equilf- brio absoluto, Nao apenas a base e 0 enta- blamento so curvos, mas também nio hé uma linha verdadeiramente reta em nenhum lugar no edificio; é tudo uma combinagao de diagonais e curvas sutis. As colunas tem 0 que Vitrivio chamou de éniase, um afuni- lamento curvo que come¢a mais ou menos a dois quintos da altura do fuste [11.26]; a redugdo total no diametro de coluna padrao 64de 1,75 centimetro (isso representa um raio de curvatura de aproximadamente 1.600 metros). No Propileu, a éntase ¢ de 1,9 cen- timetro, Além disso, nenhuma das colunas € perfeitamente vertical; todas tém uma in- clinagao para dentro de 1:150, aproximada- mente seis centimetros, e as colunas mais grossas dos cantos se inclinam na diagonal. Se as linhas centrais das colunas de canto fossem estendidas, elas se encontrariam aproximadamente dois quilémetros e meio acima da estilébata do templo. Por que um cuidado tao extraordindrio foi exercido e tanta energia dispendida? Uma razio convincente é a areté, pois a casa da deusa exigia os mais excelentes materiais e mio de obra. Em termos estritamente préti- 210 Ahistéria c o significado da arquitetura cos, as colunas inclinadas ajudariam, mesmo que pouco, a resistir ao movimento lateral provocado por terremotos. (A condigao atual do Partenon, em rufnas, a propésito, deve-se inteiramente a causas humanas. 0 edificio mudou de fungao, tornando-se uma igreja crist& e, depois, uma mesquita, ¢, finalmen- te, foi usado como um paiol de pélvora turco. Em 1687, os venezianos atiraram com um. canhao sobre ele, fazendo explodir a pélvora, que danificou severamente todos 0s edificios da Acrépole.) Como o classicista Jerome J. Pollitt sugeriu, talvez. 0 cuidado tomado na alexemata tenha sido uma maneira de criar uma tensio entre o que a mente espera ver €a informacdo que a visio de fato envia ao cérebro - quod oculus fallit -, de modo que ‘as duas imagens divergentes nunca ficam em perfeita concordancia. O resultado € uma construgao que parece fremir de estfmulo intelectual, que é “vibrante, viva, vigorosa continuamente interessante”.!7 E também significativo que nenhum edificio novo tenha sido erguido no centro da Acr6pole reconstrufda. Ali, no que restou do palacio da Idade do Bronze, foi criado um amplo terrago entre o Erecteion e 0 Par- tenon. Naquele local mais sagrado, o ho- mem, a medida e o medidor de todas as coisas, estava no centro. Olhando para um lado, avistava-se o antigo monte sagrado de Himeto, para 0 outro, através das portas do Propileu, a bafa de Salamina; mito e hist6ria humana fundiam-se na experiéncia do ate- niense ali no alto, sob a luz forte da Atica, Assim como em Olimpia, onde as figuras de Pélope e Hipodamia desafiavam os atletas em sua busca pela areté, no topo da Acropo- le ateniense 0 observador humano também € desafiado a contemplar a infindavel luta entre a razio e a irracionalidade, a civiliza- 0 € 0 barbarismo, 0 logos e 0 chaos. O Partenon, feito com o sélido marmore, serve ‘como prova de que 0 ideal pode ser realizado pela ado humana. Arquitetura helenistica Acestimada independéncia das cidades-esta- do gregas, ameagada pela confederacao de Péricles, foi completamente extinta quando as muitas polis gregas foram fundidas em um verdadeiro Império por Felipe Il da Ma- cedénia e seu filho, Alexandre, 0 Grande, entre 360 a.C. ¢ 323 a.C. A paz relativa que essa sujeigao politica trouxe acabou por fo- mentar o florescimento da filosofia e da cién- cia gregas, pois foi durante esse perfodo que Aristételes, Zénon e Epicuro escreveram e ensinaram, que Arquimedes e Euclides de- senvolveram seus teoremas € que escultores como Praxiteles ¢ Lisipo trabalharam. Alexandre, aluno de Aristételes, era um apaixonado pela cultura grega e exportou sua arte e pensamento para todas as terras que subsequentemente conquistou, incluin- do a Pérsia, o Egito, a Siria, a Palestina, a Babilénia, o Ird e o Norte da India. Ele tam- ‘bém expandiu o comércio internacional ea troca de ideias. As artes visuais, néo mais refreadas pelo austero ideal grego cléssico, tornaram-se mais claboradas e ornamentais, € essas arte e arquitetura mais adornadas hoje sao chamadas de helenisticas. O natu- ralista romano Plinio chegow a dizer que depois de Lisipo a “arte parou”. Aarguitetura helenfstica passou por al- gumas mudancas. As elegantes ordens joni- ca e corintia ficavam cada vez mais elabo- radas, enquanto a ordem dérica, a mais simples e austera do continente grego, caiu gradativamente em desfavor, para ser redes- coberta somente em meados do século xvut. ‘A nova elaboragao espacial ¢ dimensional do templo grego é bem ilustrada pelo novo templo de Apolo em Didima, perto de Mile- to, na Asia Menor, iniciado por volta de 330 a.C, e atribufdo aos arquitetos Paionios de Bfeso ¢ Dafnis de Mileto [11.27, 11.28]. Um dos maiores templos gregos jamais constru- dos, elevava-se sobre um esteredbata de sete degraus imensos, medindo quase sessenta por 120 metros na base. A estrutura do naos era cercada por uma dupla fileira das mais altas e finas colunas j6nicas de qualquer templo grego, com 19,7 metros de altura. Essa colunata perfptera dupla tinha dez co- unas na frente e no fundo e 21 nas laterais. 0 naos, de 23 metros de largura, nao era coberto, mas a céu aberto; as pilastras jéni- cas ao longo das paredes internas mediam 1,8 metro por noventa centimetros. O visi- ante, sem diivida dominado pelo tamanho descomunal do vasto edificio, descia para o “pfitio” do naos por uma escadaria de quin- ze metros de largura. Dentro do naas aberto, Por entre um bosque de loureiros, ficava um Arquitetura grega 211 330@.C. Planta baixa. Um dos maiores tornplos gregas jamais realtzados, ele nao tinka telhado sobre 0 nas, que era a ctu aberto, com um pequero tensa no final do patio descobert. 11.28, Templo de Apolo em Dédima. Interior do nas. 212. Ahistéria e o significado da arquitetura santuario jénico do tamanho dos templos jOnicos do perfodo clissico (cerca de 8,5 por 14,5 metros), Todas as partes do templo tf- pico do perfodo de Péricles foram aumenta- das em escala alongadas ¢ se tornaram mais elaboradas e adornadas. A sobriedade deliberada do periodo cléssico estava ceden- do lugar & celebrago das riquezas munda- nas, ¢ 0 equilfbrio entre virtude cfvica e exi- bigio piblica caracterizado pela Atenas de Péricles foi substitufdo por um gosto pelo detalhe suntuoso. Uma arquitetura de exceléncia ‘A arquitetura grega, talvez mais bem repre- sentada pelo templo, é a materializagio em pedra de um anseio pela medida certa, 0 equilfbrio ideal de extremos. Em termos ar- guitetdnicos, isso se mostra no equilfbrio entre os elementos verticais de suporte (as NOTAS 1. Citado em Frazer, J.G. Pausaiias' Deserip- tion of Greece. Londres, 1897, xiii, n. 1 2, Plato. Epinomis, 987d. Londres, 1927, p. 473. 3. Platio. Critias, § 111. Edigao em inglés: Kitio, HDF. The Greeks, ed. rev. Baltimore, 1957, p34. 4, Bakewell, CM. Source Book in Ancient Phi- Josophy. Nova York, 1939, pp. 8-9. 5. Sophokles, Antigone. Baltimore, MD, 1947, 1p. 135, (Edigao em portugues: Sofocles. Antigons Sao Paulo, Clasicos Jackson XXII). 6. Essa relagao elementar foi percebida pela primeira vez por Vincent Scully; ver The Earth, the Temple, and the Gods. New Haven, Conn., 1962; € um conceito ainda considerado extremamente controverso por estudiosos classicos, 7. Embora 05 atenienses tivessem diversos nomes para Atena, eles realizavam rituais para ‘Atena Polias apenas no antigo templo ao norte da ‘Acr6pole (depois substituido pelo Erecteion); 0 templo ao sul, maior, o Partenon, parece ter sido construido para incorporar ideais cfvicos, Ver He- ington, C.J, Athena Parthenos and Athena Polias: A Study in the Religion of Periclean Athens. Man- chester, Inglaterra, 1955. colunas) e seus elementos horizontais carre. gados (as vigas do entablamento), entre e repouso, Cada bloco ou tambor de coluna, cada pega de baixo relevo narrativo, era exe. cutado & perfeigo, com os melhores mate. riais dispontveis, nao como uma exibigao de riqueza, mas porque era correto honrar os deuses ¢ a pélis dessa maneira. O objetivo sempre foi a exceléncia da forma, do detalhe, do trabalho artesanal porque ~ como 0s gre- gos acreditavam - essa é a tinica maneira de um ser humano alcangar o seu potencial pleno, A arquitetura do templo grego repre- senta uma sintese Gnica da esséncia eda substincia, da forma ideal e da estrutura bem articulada. Os gregos se preocupavam pouco com a imortalidade em um plano es- piritual, mas buscavam assegurar sua imor- talidade na meméria humana, por meio de ‘sua exceléncia intelectual ¢ artfstica. O Par- tenon a prova de que tiveram sucesso em se tornarem eternos. 8, Kitto. The Greeks, p. 75. (Edigaio em portu- ués: Os regos. Coimbra, Armenio Amado, 1980). 9. Amacatona olimpica moderna honra essa famosa batalha ¢ o soldado grego, Fidipides, que correu os 362 quildmetros de Maratona até Atenas com as noticias da vitria, quando caiu morto. 10, Aristételes. Politi, ii. 8. Oxford, Inglater- ra, 1905, p. 76. (Edigao em portugués: A Politica, Sao Paulo. Martins Fontes, 1991). 11, Scully, Vincent. The Earth, the Temple, and the Gods, p. 206 12, O significado das ordens cléssicas, ao me- ‘nos nos tempos romanos, ede suas iniimeras par- tes, tratado.em Hersey, George. The Lost Meatting of Classical Architecture: Speculations on Ormantent from Viiruvius to Venturi. Cambridge, MA, 1988. ‘Sobre aorcem corfntia em particular ver Rykwert, Joseph. “The Corinthian Order". Domus, 426, maio de 1965, reimpresso na antologia de Rykwert. The Necessity of Artifice. Nova York, 1982, pp. 33-43. ‘Sobre uma interpretagao moderna das proporgées das ordens, gregas ¢ romanas, ver Chitham, Ro- bert. The Classical Orders of Architecture, Nova York, 1985. 13, Agrande ironia é que a dominagio que 08 persas nfo conseguiram obter pela forca, Atenas obteve facilmente sobre a pequena pélis de Egina por meio da Liga de Delos. Mais tarde esse "Im- pério” foi a razBo da destruigao de Atenas, causan- do a longa e desastrosa Guerra do Peloponeso, 435-404 a.C. 14, 0 gado levado para o altar da Acrépole para sacrificio nos lembra que nao estamos tio perto dos gregos como as vezes gostamos de ima- ginar. Em A History of Western Architecture (Lon- Gres, 1986), p. 38, David Watkin nos faz lembrar “o fedor, a esqualidez.¢ 0 barulho de uma ocasizo ‘como essa, quando as moscas invadiam o sangue coagulante no calor sufocante’. 15, Embora muito esteja faltando hoje da ‘Acrépole, assim como de Olimpia e de todos os outros sitios arqueolégicos gregos, temos um re- gistro detalhado do que havia na Acrépole e nos ‘outros locais no dirio de viagem do geégrafo gre- go Pausinias, que deu uma volta pela Grécia no século II d.C.; Guide to Greece. 2 vols. Harmonds- ‘worth e Nova York, 1971. Ver também a descrigo da Panateneia em Kostof, S. A History of Architec- ture. Nova York, 1985, pp. 149-158. 16. Vitruvius, Ten Books on Architecture, 1114.5. e THL3.11 a 13. Vitrivio indica um tratado de Ictino e CArpion (queria dizer Calicrates?) que diz ter consultado. 17, Pollitt, 1. Arc and Experience in Classical Greece. Nova York, 1972, . 76. SUGESTOES DE LEETURA Boersma, JS. 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