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Trata-se da denominada “fungdo regulatéria da licitagao”, segundo a qual a licitago ndo se presta, tio somente, para que a Administragao realize a contratagio de bens e servigos a um menor custo; o referido instituto tem espectro mais abrangente, servindo como instrumento para 0 atendimento de finalidades publicas outras, consagradas constitucionalmente. Nao obstante a relevancia da fungao regulatéria, a estipulagao de finalidades extraeconémicas nas licitagdes publicas deve ser objeto de planejamento, motivagao ¢ de razoabilidade, uma vez que a licitagao nao é o instrumento ordindrio (ou principal) para solugao dos inimeros desafios da Administragaio Publica ¢ a contratagao publica tem por objetivo imediato a realizagao do objeto contratado (execugao da obra, a prestagao do servigo, 0 fornecimento do bem ete.).”° 17.6 OBJETO DA LICITACAO O objeto da licitagdo é 0 contetdo do futuro contrato que sera celebrado pela Administragao Publica. Os arts. 1.° e 2.° da Lei 8.666/1993 enumeram os objetos das licitages ¢ contratagdes publicas, a saber: obras, servigos, inclusive de publicidade, compras, alienagées, concessées, permissdes e locagdes da Administragao Publica. E importante notar, todavia, que o rol é exemplificativo, pois a regra constitucional da licitagdo se impée para todo e qualquer contrato administrativo, independentemente do objeto (art. 37, XXI, da CRFB), salvo as hipéteses de contrataga ‘do direta. Os arts. 40 a 51 da nova Lei de Licitagées, por sua vez, estabelecem o regime juridico das compras, servigos, inclusive de engenharia, obras ¢ locagao de iméveis, cabendo ao art. 76 fixar o regime juridico das alienagdes de bens da Administragao Publica. 17.6.1 Obras e servicos de engenharia A definigao de “obra” consta do inciso I do art. 6.° da Lei 8.666/1993 que prevé: “Obra — toda construgao, reforma, fabricagiio, recuperagao ou ampliagao, realizada por execugao direta ou indireta” (ex.: construgao de uma escola). Existem, no entanto, determinadas situagées de dificil distingao entre obra ¢ servigo de engenharia, especialmente pela insuficiéncia das definiges constantes da legislagdo. A reforma de um imével, por exemplo, que envolve demoligao, seria uma obra ou servico? Nao ha resposta definitiva, uma vez que o art. 6.°, I, da Lei 8.666/1993, na definigao de “obra”, utiliza 0 vocdbulo “reforma” e, em seguida, na definigao de “servigo” constante do art. 6.°, II, da Lei 8.666/1993, menciona a expressdo “demoligao”. Alguns critérios so sugeridos pela doutrina para distingao entre obra e servigo, tais como: a) na contratagio de uma obra prepondera o resultado consistente na criagdo ou modificagao de um bem corpéreo (obrigagao de resultado), e na contratagao do servic predomina a atividade humana que produz utilidades para a Administragao (obrigagdo de meio);”° e b) enquanto na obra, normalmente, 0 custo do material é superior ao da mio de obra, nos servigos a légica é inversa.” 17.6.1.1 Projeto bdsico, projeto executivo e outras exigéncias legais A realizagio de obras e a prestagdo de servigos pressupdem a elaborag’io do “projeto basico” (art. 6.°, IX, da Lei de Licitagdes)** e do “projeto executivo” (art. 6.°, X, da Lei de Licitagdes),”? que devem estabelecer, de maneira clara e precisa, todos os aspectos técnicos ¢ econdmicos do objeto a ser contratado. Excepcionalmente, a licitagdo pode ser iniciada sem a elaboragdo prévia do projeto executivo, desde que haja deciso motivada por parte da autoridade administrativa, hipétese em que 0 projeto devera ser desenvolvido concomitantemente com a execugdio das obras e servigos (arts. 7.°, § 1.°, e 9.°, § 2.°, da Lei 8.666/1993). A licitagao para contratagao de obras e servigos depende do cumprimento das seguintes exigéncias (art. 7.°, § 2.°, da Lei 8.666/1993): a) elaboragdo do projeto basico que deve ser aprovado pela autoridade competente e disponibilizado para consulta dos interessados em participar do proceso licitatério; b) existéncia de orgamento detalhado em planilhas que expressem a composigao de todos os seus custos unitérios;*° c) previsdo de recursos orgamentirios que assegurem o pagamento das obrigagdes decorrentes de obras ou servigos a serem executadas no exercicio financeiro em curso, na forma do respectivo cronograma;"! d) o produto dela esperado estiver contemplado nas metas estabelecidas no Plano Plurianual, quando for 0 caso. Nas hipéteses em que o empreendimento exigir licenciamento ambiental, 0 projeto basico deve conter o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatério de Impacto Ambiental (RIMA).°? 17.6.1.2 Vedagées e impedimentos A licitagdo para execugdo de obras e prestagdo de servigos submete- se as seguintes vedagGes (art. 7.°, §§ 3.°, 4.° & 5.°, da Lei 8.666/1993): a) & vedado incluir no objeto da licitagao a obtencao de recursos financeiros para sua execuedo, qualquer que seja a sua origem, exceto nos casos de empreendimentos executados ¢ explorados sob o regime de concessio, nos termos da legislagao especifica; b) & vedada a incluso, no objeto da licitagdo, de fornecimento de materiais e servigos sem previsdio de quantidades ou cujos quantitativos nao correspondam as previsées reais do projeto basico ou executivo; e c) & vedada a realizagao de licitagdo cujo objeto inclua bens servigos sem similaridade ou de marcas, caracteristicas e especificagdes exclusivas, salvo nos casos em que for tecnicamente justificdvel, ou ainda quando o fornecimento de tais materiais e servigos for feito sob o regime de administragdo contratada, previsto e discriminado no ato convocatério. Além das mencionadas vedagoes, a legislagdo estabelece impedimentos para participagao, direta ou indireta, da licitagdo ou da execugdo de obra ou servico e do fornecimento de bens a eles necessarios (art. 9.° da Lei 8.666/1993):°° a) o autor do projeto, basico ou executivo, pessoa fisica ou juridica;** b) empresa, isoladamente ou em conséreio, responsavel pela elaboragdo do projeto basico ou executive ou da qual 0 autor do projeto seja dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% do capital com direito a voto ou controlador, responsavel técnico ou subcontratado; e c) servidor ou dirigente de drgio ou entidade contratante ou responsavel pela licitagao. Em relago aos impedimentos contidos nas alineas “a” e “b”, a legislagdo permite a participagao do autor do projeto ou da empresa na licitagio de obra ou servigo, bem como na sua execugao, como consultor ou técnico, nas fungdes de fiscalizagao, supervisdo ou gerenciamento, exclusivamente a servigo da Administragao interessada (art. 9.°, § 1.°, da Lei 8.666/1993). 17.6.1.3 Formas de execucdo: direta e indireta As obras e servigos de engenharia, de acordo com os arts. 6.°, VII, VIII, ¢ 10 da Lei de Licitagdes, podem ser executados de forma direta (por meio dos drgios ou entidades administrativas) ou indireta (por meio da contratagao de terceiros). A execugaio indireta pode ocorrer por meio dos seguintes regimes: a) empreitada por preco global: quando se contrata a execugao da obra ou do servigo por prego certo ¢ total (ex.: construgao de uma escola por prego certo e determinado apresentado pelo licitante); b) empreitada por preco unitario: quando se contrata a execugdo da obra ou do servico por prego certo de unidades determinadas (ex.: 0 valor deve ser pago ao final de cada unidade executada — metragem executada de fundagées, de paredes levantadas, de colocagao de piso etc.); ¢) empreitada integral: quando se contrata um empreendimento em sua integralidade, caso em que o contratado assume inteira responsabilidade pela execugdo do objeto até entrega 4 Administragao contratante para uso (ex.: 0 contratado deve realizar a obra, como a construgao de um prédio, bem como implementar sistema de seguranga, o sistema de refrigeragiio ete.); e d) tarefa: quando se ajusta mao de obra para pequenos trabalhos por prego certo, com ou sem fornecimento de materiais (ex.: contratagao de um eletricista para pequeno reparo na instalagao elétrica da repartigao publica). 17.6.1.4 Obras e servicos de engenharia na nova Lei de Licitagées (Lei 14.133/2021) De acordo como art. 6.°, XI, da nova Lei de Licitagées, servigo é “atividade ou conjunto de atividades destinadas a obter determinada utilidade, intelectual ou material, de interesse da Administragao”. A obra, na forma indicada no inciso XII do referido dispositivo lega, é “toda atividade estabelecida, por forga de lei, como privativa das profissdes de arquiteto e engenheiro que implica intervengdo no meio ambiente por meio de um conjunto harménico de agées que, agregadas, formam um todo que inova o espaco fisico da natureza ou acarreta alteragdo substancial das caracteristicas originais de bem imével”. A nova Lei de Licitagées, ao tratar das obras e servigos de cengenharia, revela importante preocupagao com a sustentabilidade da contratagao. Nesse sentido, as licitagdes de obras e servigos de engenharia devem observar (art. 45 da nova Lei de Licitag6es): a) disposigao final ambientalmente adequada dos residuos sdlidos gerados pelas obras contratadas; b) mitigagéio por condicionantes e compensagéio ambiental, que sero definidas no procedimento de licenciamento ambiental; c) utilizagao de produtos, equipamentos e servigos que, comprovadamente, favoregam a redugdio do consumo de energia e de recursos naturais; d) avaliagao de impacto de vizinhanga, na forma da legislacao urbanistica; e) protegao do patriménio histérico, cultural, arqueolégico e imaterial, inclusive por meio da avaliagao do impacto direto ou indireto causado pelas obras contratadas; e f) acessibilidade para pessoas com deficiéncia ou com mobilidade reduzida. Quanto a execugdo indireta das obras e servigos de engenharia, a nova Lei de Licitagdes prevé os seguintes regimes (art. 46 da nova Lei de Licitagées): a) empreitada por prego unitario: contratagdo da execugdo da obra ou do servigo por prego certo de unidades determinadas (art. 6.°, XXVIII); b) empreitada por prego global: contratagao da execugao da obra ou do servigo por prego certo e total (art. 6.°, XXIX); c) empreitada integral: contratagao de empreendimento em sua integralidade, compreendida a totalidade das etapas de obras, servigos € instalagdes necessarias, sob inteira responsabilidade do contratado até sua entrega ao contratante em condi¢des de entrada em operagdo, com caracteristicas adequadas as finalidades para as quais foi contratado e atendidos os requisitos técnicos ¢ legais para sua utilizagdo com seguranga estrutural e operacional (art. 6.°, XXX); d) contratagao por tarefa: contratagdo de mao de obra para pequenos trabalhos por prego certo, com ou sem fornecimento de materiais (art. 6.°, XXX); e) contratagdo integrada: regime de contratagao de obras e servigos de engenharia em que 0 contratado é responsavel por elaborar e desenvolver os projetos basico ¢ executivo, executar obras e servigos de engenharia, fornecer bens ou prestar servigos especiais e realizar montagem, teste, pré- operagdo e as demais operagdes necessarias e suficientes para a entrega final do objeto (art. 6.°, XXXII; f) contratagdo semi-integrada: regime de contratagao de obras e servigos de engenharia em que o contratado é responsAvel por elaborar e desenvolver 0 projeto executivo, executar obras ¢ servigos de engenharia, fornecer bens ou prestar servigos especiais e realizar montagem, teste, pré- operagao e as demais operagées necessdrias e suficientes para a entrega final do objeto (art. 6.°, XXXII]; ¢ g) fornecimento e prestagdio de servigo associado: regime de contratagéio em que, além do fornecimento do objeto, o contratado responsabiliza-se por sua operagdo, manuten¢do ou ambas, por tempo determinado (art. 6.°, XXXIV). Verifica-se a ampliagaio dos regimes de execugdo indireta previstos no art. 10, II, da Lei 8.666/1993 (empreitada por prego global, empreitada por pre¢o unitario, tarefa e empreitada integral). Ao lado dos regimes tradicionais, a nova Lei de Licitagées incluiu a contratagao integrada, a contratagdo semi-integrada e o fornecimento e prestagdo de servigo associado. Importante dizer que as contratagées integrada e semi-integrada ja eram previstas no Ambito das empresas estatais (art. 42, Ve VI, da Lei 13.303/2016). A contratacdo integrada era igualmente prevista no RDC (art. 8.°, V, da Lei 12.462/2011). E vedada a realizagao de obras e servigos de engenharia sem projeto executivo, ressalvada a hipétese prevista no § 3° do art. 18 (art. 46, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes). Contudo, na contratagao integrada 0 projeto basico é dispensado e substituido pelo anteprojeto de acordo com metodologia definida em ato do érgdo competente, observados os requisitos estabelecidos no inciso XXIV do art. 6° (art. 46, § 2.°, da nova Lei de Licitagdes). Nos regimes de contratagao integrada e semi-integrada, o edital e o contrato deverdo prever as providéncias necessarias para a efetivagao de desapropriagao autorizada pelo Poder Puiblico, bem como (art. 46, § 4.°, da nova Lei de Licitagdes): a) o responsavel por cada fase do procedimento expropriat6rio; b) a responsabilidade pelo pagamento das indenizagdes devidas; c) a estimativa do valor a ser pago a titulo de indenizagao pelos bens expropriados, inclusive de custos correlatos; d) a distribuigdo objetiva de riscos entre as partes, incluido o risco pela variagdo do custo da desapropriagao em relacao 4 estimativa de valor e aos eventuais danos e prejuizos ocasionados por atraso na disponibilizagao dos bens expropriados; e €) emnome de quem devera ser promovido o registro de imissao provis6ria na posse ¢ o registro de propriedade dos bens a serem desapropriados. O projeto basico podera ser alterado na contratagao semi-integrada, desde que demonstrada a superioridade das inovagSes em termos de redugdo de custos, de aumento da qualidade, de redug&io do prazo de execugao ou de facilidade de manutengo ou operacao, assumindo a contratada a responsabilidade integral pelos riscos associados a alteragao do projeto basico (art. 46, § 5.°, da nova Lei de Licitagées). A execugao de cada etapa sera obrigatoriamente precedida da conclusdo e da aprovacao, pela autoridade competente, dos trabalhos relativos As etapas anteriores (art. 46, § 6.°, da nova Lei de Licitagdes). Os regimes de execugdio “empreitada por prego global”, “empreitada integral”, “contratagao por tarefa”, “contratacdo integrada” e “contratagéo semi-integrada” sero licitados por prego global e adotardo sistematica de medigo e pagamento associada a execugdo de etapas do cronograma fisico- financeiro, vinculadas ao cumprimento de metas de resultado, vedada a adogao de sistematica de remunerag’o orientada por pregos unitérios ou referenciada pela execugdo de quantidades de itens unitdrios (art. 46, § 9.°, da nova Lei de Licitagdes). 176.2 Servisos Os servigos englobam todas as atividades destinadas a “obter determinada utilidade de interesse para a Administragao, tais como: demoligdo, conserto, instalacéo, montagem, operacdo, conservacao, reparagiio, adaptag4o, manutengdo, transporte, locagao de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnico-profissionais” (art. 6.°, II, da Lei 8.666/1993). A contratagao de servigos (terceirizag4o) pode envolver a prestagao de servigo especifico ou a conjungao de diversos servigos de interesse da Administracao Publica. Nesse tiltimo caso, € possivel a celebragiio do “contrato de gest4o para ocupagdo de iméveis publics” (contrato de facilities), que envolve a prestagao, em um tinico contrato, de servigos de gerenciamento e manutengdo de imével, incluido o fornecimento dos equipamentos, materiais e outros servicos necessarios ao uso do imével pela Administragao Piblica, por escopo ou continuados (art. 7.° da Lei 14.011/2020). O contrato de facilities, que j4 era admitido pelo TCU, envolve a prestagiio de servigos diversos (exs.: limpeza, vigilancia, motorista, recepcionista, manutengiio predial etc.) e demonstra que o parcelamento do objeto, previsto no art. 23, § 1.°, da Lei 8.666/1993, nao é absoluto, uma vez, que deve levar em considerag4o os aspectos téenicos e econdmicos (economia de escala) da contratagdio.*° 17.6.2.1 Terceirizagao: a supera¢ao da distin¢ao entre atividade-meio e atividade-fim A terceirizacao envolve a contratacdo de empresa privada (interposta pessoa) para prestagdio de servigos 4 Administragiio. °° A principal vantagem da terceirizagio tem relagdo coma eficiéncia administrativa, tendo em vista que a prestagao de servigos instrumentais (atividades-meio) por empresa privada especializada permite que a Administragao concentre sua atengiio na prestagao de atividades-fim. Tradicionalmente, com o intuito de evitar que a terceirizagdo seja um sucedaneo da regra do concurso publico, a doutrina e o TCU” tém entendido que a terceirizagao somente ser legitima para atividades instrumentais (atividades-meio) da Administragao. No tocante aos servigos relacionados as finalidades essenciais da Administragao (atividades-fim), a terceirizagao é vedada.** Nesse sentido, o Enunciado 331, II, do TST afirma a inexisténcia de vinculo empregaticio com o tomador na contratagdo de servigos de vigilancia (Lei 7.102, de 20.06.1983), conservagao e limpeza, “bem como a de servigos especializados ligados a atividade-meio do tomador, desde que inexistentes a pessoalidade e a subordinagao direta”. Dessa forma, a terceirizagao refere-se aos servigos que ndo demandam pessoalidade e subordinagdo. Somente sera considerada licita a terceirizagdo que tem por objetivo a prestagdo de servigos, sendo vedada a terceirizagdo para mero fornecimento de mio de obra, hipstese em que, caracterizadas a pessoalidade e subordinagao do vinculo, a Administragio 9 deverd contratar pessoal por meio de concurso puiblico. Ocorre que o art. 4.°-A da Lei 6.019/1974, alterado pela Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), considera “prestagdo de servigos a terceiros a transferéncia feita pela contratante da execugdo de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, a pessoa juridica de direito privado prestadora de servigos que possua capacidade econdmica compativel com a sua execugao”. Vale dizer: a terceirizagao pode envolver qualquer tipo de atividade (instrumental ou finalistica) de interesse da Administragao Publica contratante.“? Em consequéncia, a nova legislacdo superou a distingdo tradicional entre “atividade-meio” e¢ “atividade-fim”. O STF, em repercussao geral, considerou licita a terceirizagdo ou qualquer outra forma de divisdo do trabalho entre pessoas juridicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsididria da empresa contratante. De acordo com a Suprema Corte, a terceirizagao das atividades-meio ou das atividades-fim de uma empresa tem amparo nos u principios constitucionais da livre-iniciativa e da livre concorréncia. 17.6.2.2 Quarteirizagéo A “quarteirizagao” envolve a contratagaio de empresa especializada coma incumbéncia de gerenciar 0 fornecimento de servigos por terceiros a Administragdo. Trata-se, em verdade, da terceirizagdo da atividade de gerenciamento A empresa que fiscalizara os demais contratos de terceirizagao no ambito da Administragao Piiblica.”* Cite-se como exemplo de quarteirizagao a contratagdo de empresa especializada no gerenciamento da manutengdo preventiva e corretiva de veiculos de érgdos policiais. No referido contrato, a empresa privada, vencedora da licitagdo, tem o dever de gerenciar a frota de veiculos da Administragdo, incluindo o fornecimento de pegas, acessérios, mio de obra ¢ transporte por guincho por empresas credenciadas.”* Nao ha, na hipétese, relagdo juridica entre a Administragdo Publica e as empresas “quarteirizadas”, mas, sim, entre a Administragdo e a empresa gerenciadora, razio pela qual o Estado nao possui responsabilidade pelos atos praticados pelas quarteirizadas. Quanto aos encargos trabalhistas, 0 TST consagrou a responsabilidade subsididria da Administragao Publica na hipétese de descumprimento das obrigagdes trabalhistas pelas quarteirizadas.' 1762.3 Servicos de publicidade A Lei 12.232/2010 dispée sobre as normas gerais para licitagdo ¢ contratagiio de servigos de publicidade prestados por intermédio de agéncias de propaganda. As caracteristicas das licitagdes para contratos de publicidade podem ser assim resumidas: a) as agéncias de publicidade devem apresentar “certificado de qualificagdo técnica de funcionamento”, obtido perante o Conselho Executive das Normas-Padrao (CENP), para participarem da licitagao (art. 49 da Lei 12.232/2010); b) 0 procedimento de licitagdo deve observar uma das modalidades elencadas no art. 22 da Lei 8.666/1993, nado havendo mengdo quanto 4 possibilidade de utilizagao do pregio (art. 5.° da Lei 12.232/2010);"° c) fase especifica para andlise das propostas técnicas, bem como julgamento das propostas de prego antes da etapa da habilitagdo (arts. 6.°, 1, e 11, §4.°, la XIV, da Lei 12.232/2010); d) 0 projeto basico € substituido pelo briefing, que deve conter as informagées claras ¢ objetivas para que os interessados elaborem propostas (art. 6°, Il, da Lei 12.232/2010); e) utilizagdo dos critérios de julgamento “melhor técnica” ou “técnica e prego” (art. 5.° da Lei 12.232/2010); f) a proposta técnica, na forma do art. 6.°, III, da Lei 12.232/2010, ser composta de um plano de comunicag’o publicitaria (art. 7.°), relacionado as informagSes contidas no briefing, e de um conjunto de informagées referentes ao proponente (art. 8.°); ¢ g) as propostas técnicas sero analisadas e julgadas por subcomissio técnica (art. 10, § 1.°, da Lei 12.232/2010).* 17.6.2.4 Servicos na nova Lei de Licitacées (Lei 14.133/2021) O regime juridico da contratagao de servigos (terceirizagao) & previsto nos arts. 47 a 50 da nova Lei de Licitagées. As licitagées de servigos devem observar dois principios (art. 47 da nova Lei de Licitagdes): a) da padronizacao, considerando a compatibilidade de especificagdes estéticas, técnicas ou de desempenho; e b) do parcelamento, quando for tecnicamente vidvel e economicamente vantajoso. Quanto ao parcelamento, devem ser considerados (art. 47, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes): a) a responsabilidade técnica; b) 0 custo para a Administragao de varios contratos perante as vantagens da redugaio de custos, com divisdo do objeto em itens; ¢ c) o dever de buscar a ampliagao da competigao e evitar a concentragdo de mercado. No tocante aos servigos de manutengdio e assisténcia técnica, o edital deverd definir 0 local de realizagao dos servicos, admitindo-se a exigéncia de deslocamento de técnico no proprio local da repartigaio ou a exigéncia de que a contratada tenha unidade de prestagao de servigos em distancia compativel com as necessidades da Administrago (art. 47, § 2°, da nova Lei de Licitagées). Os servigos que serao contratados com terceiros envolverdo as atividades materiais acessérias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem area de competéncia legal do érgio ou da entidade, sendo vedado a Administragdio ou a seus agentes, na contratagao do servigo terceirizado (art. 48 da nova Lei de Licitagées): a) indicar pessoas expressamente nominadas para executar direta ou indiretamente 0 objeto contratado; b) fixar salario inferior ao definido em lei ou ato normativo a ser pago pelo contratado; c) estabelecer vinculo de subordinagao com funciondrio de empresa prestadora de servigo terceirizado; d) definir forma de pagamento mediante exclusivo reembolso dos salarios pagos; e) demandar a funcionario de empresa prestadora de servi¢o terceirizado a execugao de tarefas fora do escopo do objeto da contratagao; e f) prever em edital exigéncias que constituam intervengao indevida da Administragdo na gestdo interna do contratado. Verifica-se que 0 art. 48 da nova Lei de Licitagdes nao prevé a terceirizagao de atividade-fim, uma vez que o referido dispositivo legal estabelece apenas a contratacdo de “atividades materiais acessérias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituam area de competéncia legal do érgio ou da entidade”. Todavia, com a promulgacao da Lei 13.429/2017, que alterou a Lei 6.019/1974, nao foi estabelecida vedacao a terceirizagao de atividades finalisticas das tomadoras de servigos, o que demonstra a possibilidade de discussao quanto a interpretagao do art. 48 da nova Lei de Licitagdes. Com efeito, o art. 4.°-A da Lei 6.019/1974, alterado pela Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), considera “prestagdo de servigos a terceiros a transferéncia feita pela contratante da execugao de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, a pessoa juridica de direito privado prestadora de servigos que possua capacidade econémica compativel com a sua execugao”. Vale dizer: a terceirizagao pode envolver qualquer tipo de atividade (instrumental ou finalistica) de interesse da Administragao Publica contratante. Em consequéncia, a nova legislago superou a distingao tradicional entre “atividade-meio” e “atividade-fim”. Apés afirmar a inconstitucionalidade dos incisos I, II, IV e VI da Stmula 331 do TST, o STE, em repercussio geral, considerou licita a terceirizagao ou qualquer outra forma de divisao do trabalho entre pessoas juridicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiaria da empresa contratante. De acordo coma Suprema Corte, a terceirizagaio das atividades-meio ou das atividades-fim de uma empresa tem amparo nos principios constitucionais da livre iniciativa e da livre concorréncia. Alias, o STF, em sede de repercussdo geral, fixou a tese de que “o inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado no transfere automaticamente ao Poder Publico contratante a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em carter solidario ou subsididrio, nos termos do art. 71, § 1.°, da Lei n° 8.66/93”. No referido julgamento, o STF afirmou que a dicotomia entre “atividade-fim” e “atividade-meio” é “imprecisa, artificial e ignora a dindmica da economia moderna, caracterizada pela especializagao e divisdo de tarefas com vistas 4 maior eficiéncia possivel, de modo que frequentemente o produto ou servigo final comercializado por uma entidade comercial é fabricado ou prestado por agente distinto, sendo também comum a mutagao constante do objeto social das empresas para atender a necessidades da sociedade, como revelam as mais valiosas empresas do mundo”. A Suprema Corte afirmou, ainda, que, além de suas vantagens inerentes, a terceirizagao nao importa precarizagao as condigdes dos trabalhadores. A principal vantagem da terceirizagao tem relagéio coma eficiéncia administrativa, tendo em vista que a prestacao de servigos instrumentais (atividades-meio) por empresa privada especializada permite que a Administragao concentre sua atengao na prestagao de atividades-fim. Outro ponto de destaque na nova Lei de Licitagdes relaciona-se com a preocupagao salutar de conflito de interesses e de nepotismo nas contratagdes de servigos. Dessa forma, na terceirizagao, é vedado ao contratado contratar cénjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, de dirigente do drgio ou entidade contratante ou de agente piiblico que desempenhe fungdo na licitagao ou atue na fiscalizagao ‘ou na gesto do contrato, devendo esta proibigdo constar expressamente no edital de licitagao (art. 48, paragrafo tnico, da nova Lei de Licitagdes). art. 49, caput e paragrafo tinico, da nova Lei de Licitagdes permite a contratagdio de mais de uma empresa ou instituigao para executar o mesmo servigo, desde que essa contratagéio nao implique perda de economia de escala e que a Administragdo mantenha o controle individualizado de cada contratado, quando: a) o objeto da contratagdo puder ser executado de forma concorrente ¢ simultanea por mais de um contratado; ¢ b) a multipla execugdo for conveniente para atender A Administragao. Nas contratagdes de servigos com regime de dedicagao exclusiva de mao de obra, 0 contratado devera apresentar, quando solicitado pela Administragao, sob pena de multa, comprovagao do cumprimento das obrigagées trabalhistas e com o FGTS em relagdo aos empregados diretamente envolvidos na execugdo do contrato, em especial quanto ao (art. 50 da nova Lei de Licitagdes): a) registro de ponto; b) recibo de pagamento de salarios, adicionais, horas extras, repouso semanal remunerado e décimo terceiro saldrio; c) comprovante de depésito do FGTS; d) recibo de concessao de férias e do respectivo adicional; e) recibo de quitagdo de obrigagées trabalhistas e previdencidrias dos empregados dispensados até a data da extingdo do contrato; e f) recibo de pagamento de vale-transporte e vale-alimentagao, na forma prevista em norma coletiva. 17.6.3 Compras As compras sao todas as aquisigdes remuneradas de bens para fornecimento de uma sé vez ou parceladamente (art. 6.°, III, da Lei 8.666/1993). Registre-se que as compras devem ser processadas, preferencialmente, pelo “sistema de registro de pregos” (art. 15, Il, da Lei 8.666/1993), tendo em vista a necessidade de racionalizagio do processo de compras de determinados bens. 1763.1 Indicagéo de marcas, amostras e o principio da padronizagéio Em regra, 6 vedada a indicagdo de marcas nas compras efetuadas pelo Poder Puiblico (art. 15, § 7.°, , da Lei 8,666/1993).”” Trata-se de vedagao que possui carter relativo, pois a indicagao da marca sera legitima quando 48 acompanhada de justificativas técnico-cientificas. Admite-se a exigéncia de amostras dos bens por parte dos licitantes desde que prevista expressamente no instrumento convocatério, devidamente acompanhada de critérios de julgamento estritamente objetivos. Aliés, as compras, sempre que possivel, devem atender ao “principio da padronizagao”, com especificagdes técnicas ¢ de desempenho (art. 15, I da Lei 8.666/1993).” A Administragdo, ao estabelecer a padronizagdo, deverd apontar, no instrumento convocatério, as caracteristicas técnicas uniformes do bem a ser adquirido, bem como as exigéncias de manutencdo, assisténcia técnica e garantia. A padronizagdo, normalmente, gera beneficios econdmicos para 0 Poder Pablico (principio da economicidade), pois facilita as compras em grande escala e a manutenedo dos bens adquiridos. Em determinados casos, a padronizagdo pode acarretar a indicagdo de marcas, desde que a opgdo seja tecnicamente adequada. O que no é permitido ¢ a padronizagao ou a indicagdo de marcas por critérios subjetivos ou desarrazoados.”” 17.6.3.2 Divisibilidade do objeto e licitacdo por item As compras, sempre que possivel, deverdio ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessarias para aproveitar as peculiaridades do mercado, visando economicidade (art. 15, IV, da Lei 8.666/1993).”! A divisibilidade do objeto do futuro contrato nao pode acarretar, no entanto, a dispensa ou a inexigibilidade de licitago, vedagdo que se aplica para as compras, obras e servigos (art. 23, § 2.°, da Lei).°? Ademais, segundo 0 TCU, a divisibilidade do objeto nao deve alterar a modalidade de licitagao inicialmente exigida para a execugdo de todo o objeto da contratagio. A escolha da modalidade de licitagdo depende da soma dos valores correspondentes aos itens parcelados.** A divisibilidade do objeto pode acarretar, a critério da Administracao, a realizagao de procedimento tnico ou procedimentos distintos de licitagaio. Na hipétese de procedimento tinico de licitagao, denominada “licitagao por item”, a Administragao concentra, no mesmo certame, objetos diversos que serio contratados (ex.: a licitagdo para compra de equipamentos de informatica pode ser dividida em varios itens, tais como microcomputador, impressora etc.).*/ Em verdade, varias licitagdes sdo realizadas dentro do mesmo processo administrativo, sendo certo que cada item ser julgado de forma independente e comportard a comprovagao dos requisitos de habilitagao. De acordo com o entendimento consagrado na Sumula 247 do TCU, a licitagdo por item (¢ nao por prego global) deve ser a regra quando 0 objeto da licitagao for divisivel.> A licitagao por grupos ou lotes, em que ha o agrupamento de diversos itens, deve ser utilizada em situagdes excepcionais, que demonstrem a inviabilidade técnica ou econémica da licitagao por itens, bem como a auséncia de risco 4 competitividade. 17.6.3.3 Compras na nova Lei de Licitagées (Lei 14.133/2021) Oart. 6.°, X, da nova Lei de Licitagées dispée que a compra é a aquisi¢do remunerada de bens para fornecimento de uma s6 vez ou parceladamente, considerada imediata aquela com prazo de entrega de até 30 (trinta) dias da data prevista para apresentagao da proposta. O regime juridico das compras é estabelecido pelos arts. 40 a 44 da nova Lei de Licitagdes. O planejamento de compras deve considerar a expectativa de consumo anual, bem como observar os seguintes pardmetros (art. 40 da nova Lei de Licitagdes): a) condigdes de aquisi¢ao ¢ pagamento semelhantes as do setor privado; b) processamento por meio de sistema de registro de pregos, quando pertinente; c) determinagao de unidades e quantidades a serem adquiridas em fungao de consumo e utilizagdo provaveis, cuja estimativa ser obtida, sempre que possivel, mediante adequadas técnicas quantitativas, admitido o fornecimento continuo; d) condigdes de guarda e armazenamento que nao permitam a deterioragao do material; ¢) atendimento aos principios: e.1) da padronizagao, considerando a compatibilidade de especificagées estéticas, técnicas ou de desempenho; e.2) do parcelamento, quando for tecnicamente vidvel e economicamente vantajoso; e.3) da responsabilidade fiscal, mediante a verificago da despesa estimada coma prevista no orgamento. Nesse ponto, a nova Lei de Licitagdes nao apresentou grandes inovagées as previsdes contidas nos arts. 15 ¢ 16 da Lei 8.666/1993. O termo de referéncia deverd conter os elementos previstos no inciso XXIII do art. 6° e também (art. 40, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes): a) especificagao do produto, preferencialmente conforme catélogo eletrénico de padronizagao, observados os requisitos de qualidade, rendimento, compatibilidade, durabilidade e seguranga; b) indicagdo dos locais de entrega dos produtos ¢ das regras para recebimento provis6rio ¢ definitivo, quando for o caso; c) especificagao da garantia exigida e das condigdes de manutengio ¢ assisténcia técnica, quando for 0 caso. Em relag&o ao principio do parcelamento das compras, devem ser considerados (art, 40, § 2.°, da nova Lei de Licitagdes): a) a viabilidade da divisio do objeto em lotes; b) 0 aproveitamento das particularidades do mercado local, visando a economicidade, sempre que possivel, desde que atendidos os pardmetros de qualidade; e ¢) o dever de buscar a ampliagao da competi oe de evitar a concentragdo de mercado. E vedado o parcelamento das compras quando (art. 40, § 3.°, da nova Lei de Licitagdes): a) a economia de escala, a redugdo de custos de gestdo de contratos ou a maior vantagem na contratagdo recomendar a compra do mesmo item do mesmo fornecedor; b) 0 objeto a ser contratado configurar sistema tinico e integrado e houver a possibilidade de risco ao conjunto do objeto pretendido; e ¢) o processo de padronizagao ou de escolha de marca levar a fornecedor exclusivo. Ademais, o art. 41 da nova Lei de Licitagdes estabeleceu a possibilidade de: a) indicago, de forma justificada, de uma ou mais marcas ‘ou modelos em determinados casos; b) exigéncia de amostra ou prova de conceito; c) vedagao de contratag’io de marca ou produto que nao cumpram 08 requisitos indispensaveis ao pleno adimplemento da obrigagao contratual; ed) declaragio de solidariedade emitida pelo fabricante, que assegure a execugao do contrato, no caso de licitante revendedor ou distribuidor. A aferigdo da qualidade dos bens pode ser realizada das seguintes maneiras (art. 42 da nova Lei de Licitagdes): a) comprovagao de que o produto esté de acordo com as normas técnicas determinadas pelos érgaos oficiais competentes, pela ABNT ou por outra entidade credenciada pelo INMETRO; b) declaragao de atendimento satisfatorio emitida por outro 6rgio ou entidade de nivel federativo equivalente ou superior que tenha adquirido o produto; c) certificagao, certificado, laudo laboratorial ou documento similar que possibilite a aferigao da qualidade e da conformidade do produto ou do processo de fabricacao, inclusive sob 0 aspecto ambiental, emitido por instituigao oficial competente ou por entidade credenciada. E possivel exigir no edital, como condigao de aceitabilidade da proposta, a certificagdo de qualidade do produto por instituigao credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normaliza¢ao e Qualidade Industrial —Conmetro (art. 42, § 1.°, da nova Lei de Licitagées). Admite-se, ainda, 0 oferecimento de protétipos do objeto que sera adquirido ou de amostras no julgamento, da proposta, para atender a diligéncia, e apés o julgamento, ‘como condigao para firmar contrato (art. 42, § 2.°, da nova Lei de Licitagées). A exigéncia de amostra ou prova de conceito do bem pode ser realizada no procedimento de pré-qualificagao permanente, na fase de julgamento das propostas ou de lances do licitante primeiro colocado, no periodo de vigéncia do contrato ou da ata de registro de pregos, desde que previsto no instrumento convocatério e justificada a necessidade de sua apresentagdo (art. 41, II, da nova Lei de Licitagdes). E legitima a indicag’io de marca ou modelo, desde que formalmente justificado, nas seguintes hipteses (art. 41, I, da nova Lei de Licitagdes): a) em decorréncia da necessidade de padronizagao do objeto; b) em razio da necessidade de manter a compatibilidade com plataformas e padrées ja adotados pela Administragao; c) quando determinada marca ou modelo comercializado por mais de um fornecedor for 0 unico capaz de atender as necessidades da contratante; e d) quando a descrigaio do objeto a ser licitado puder ser mais bem compreendida pela identificagao de determinada marca ou modelo aptos a servir apenas como referéncia. E possivel, por outro lado, a fixagdo de vedagao para contratagdo de marca ou produto, quando, mediante processo administrativo, restar comprovado que produtos adquiridos e utilizados anteriormente pela Administragao nao atendem a requisitos indispensdveis ao pleno adimplemento da obrigagao contratual (art. 41, III, da nova Lei de Licitagées). Frise-se, ainda, a possibilidade de exigéncia, devidamente motivada, de carta de solidariedade emitida pelo fabricante, que assegure a execugaio do contrato, no caso de licitante revendedor ou distribuidor. Quanto ao principio da padronizagao, o processo devera conter (art. 43 da nova Lei de Licitagées): a) parecer técnico sobre 0 produto, considerando especificagdes técnicas ¢ estéticas, desempenho, analise de contratagdes anteriores, custo e condigdes de manutengdo e garantia; b) despacho motivado da autoridade superior, com a adogao do padrao; ¢ ¢) publicagado em meio de divulgacao oficial da sintese da justificativa e da descrigao sucinta do padrao definido. A padronizacao pode ser implementada com base em processo de outro drgio ou entidade de nivel federativo igual ou superior ao do érgao adquirente, devendo o ato que decidir pela adesao 4 outra padronizagao ser devidamente motivado, com indicagdo da necessidade da Administragao, e publicado em meio de divulgagao oficial (art. 43, § 1.°, da nova Lei de Licitagée: Verifica-se que a nova Lei de Licitagdes pouco inovou em relagao a indicagdio de marcas e ao principio da padronizagao nas licitagdes. A Lei 8.666/1993 vedava, em regra, a indicagao de marcas nas compras efetuadas pelo Poder Piiblico (art. 15, § 7.°, I). A indicagao, contudo, seria permitida quando acompanhada de justificativas técnico- cientificas. Assim como permitido na Lei 8.666/1993, a nova Lei de Licitagdes admite que a indicagdio de marca sirva como parametro de qualidade para facilitar a descrigao do objeto a ser licitado. Na hipotese, ao lado da marca apontada no instrumento convocatério, constardo as seguintes expressdes “ou equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor qualidade”. A nova Lei de Licitagdes também manteve o principio da padronizagao que encontrava previsao no art. 15, I, da Lei 8.666/1993. A padronizacao, normalmente, gera beneficios econémicos para o Poder Publico (principio da economicidade), pois facilita as compras em grande escala e a manutengdo dos bens adquiridos. Verifica-se, portanto, que a padronizagao pode acarretar, em alguns casos, a indicagao de marcas, desde que a op¢do seja tecnicamente adequada. O que nao € permitido é a padronizagao ou a indicagao de marcas por critérios subjetivos ou desarrazoados. No tocante as contratagdes de solugdes baseadas em software de uso disseminado, a nova Lei de Licitagdes remete a disciplina ao regulamento que definird o processo de gestao estratégica das contratagdes desse tipo de solugdo (art. 43, § 2.°, da nova Lei de Licitagées). Por fim, nas hipéteses em que houver a possibilidade de compra ou de locagao de bens, o estudo técnico preliminar devera considerar os custos ¢ 0s beneficios de cada opeao, indicando a alternativa mais vantajosa (art. 44 da nova Lei de Licitagdes). 17.6.4 — Alienagées As alienages so todas as transferéncias de dominio de bens da Administragao Publica a terceiros (art. 6.°, IV, da Lei 8.666/1993). A alienagdo de bens da Administragaio Publica depende do cumprimento dos requisitos elencados no art. 17 da Lei 8.666/1993, a saber: a) desafetagdo: apenas os bens dominicais, que nao se encontram afetados a nenhuma finalidade publica, podem ser alienados (art. 101 do CC);* b) motiva¢do: interesse ptiblico justificado; c) avaliagao prévia; d) licitago (concorréncia para os bens iméveis, salvo as excecdes do art. 19 da Lei, e leilao para os bens méveis); e e) autorizagio legislativa para alienagaio dos bens publicos iméveis das pessoas juridicas de direito publico. 17.6.4.1 Alienagées na nova Lei de Licitagées (Lei 14.133/2021) As alienag6es de bens imoveis e méveis da Administragaio Publica dependem do preenchimento dos seguintes requisitos (art. 76 da nova Lei de Licitagdes): a) interesse publico devidamente justificado; b) avaliagao prévia; e c) licitagdio na modalidade leila. A alienagio de iméveis da ‘Administracdo direta, autarquias ¢ fundagdes, dependerd, ainda, de autorizagao legislativa (art. 76, § 1°, da nova Lei de Licitagdes). No caso dos bens publicos, integrantes das pessoas juridicas de direito piiblico, a alienagdo depende, ainda, da desafetagio, admitindo-se apenas a alienagao de bens piiblicos dominicais (arts. 98 e 101 do CC). Ao tratar das exigéncias para alienagdo de bens, a nova Lei de Licitagdes basicamente repetird as exigéncias contidas na Lei 8.666/1993, coma ressalva de que, a partir do novo diploma legal de Licitagées, a modalidade a ser utilizada em qualquer alienagao de bens seré o leildo, Na legislaco tradicional, o leiléo era reservado a alienago de bens méveis, com as excegdes indicadas no art. 19 da Lei 8666/1993, ¢ a concorréncia era exigida para alienagao de iméveis. A alienago de bens iméveis da Administragdo Publica cuja aquisigiio haja derivado de procedimentos judiciais ou de dagao em pagamento dispensa autorizagao legislativa e exige apenas avaliagao prévia ¢ licitagao na modalidade leilao (art. 76, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes). A Administracaio poder conceder titulo de propriedade ou de direito real de uso de imével, admitida a dispensa de licitagao, quando uso destinar-se (art. 76, § 3.°, da nova Lei de Licitagées): a) a outro érgio ou entidade da Administragao Publica, qualquer que seja a localizagao do imével; e b) a pessoa natural que, nos termos de lei, regulamento ou ato normativo do érgio competente, haja implementado os requisitos minimos de cultura, ocupagdo mansa e pacifica ¢ exploragdo direta sobre area rural, observado o limite de que trata 0 § 1° do art. 6° da Lei 11.952/2009. A doagdo com encargo sera licitada e de seu instrumento constario, obrigatoriamente, os encargos, 0 prazo de seu cumprimento ¢ a cldusula de reversao, sob pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitagao em caso de interesse publico devidamente justificado (art. 76, § 6.°, da nova Lei de Licitagdes). Caso 0 donatirio necessite oferecer o imével em garantia de financiamento, a cléusula de reversio ¢ as demais obrigagdes serao garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do doador (art. 76, § 7.°, da nova Lei de Licitagdes). Na alienagao de bens iméveis, ser concedido direito de preferéncia ao licitante que, submetendo-se a todas as regras do edital, comprove a ocupagao do imével objeto da licitagao (art. 77 da nova Lei de Licitages). Registre-se, por fim, que os incisos Ie II do art. 76 da nova Lei de Licitagdes dispensam a realizagao de licitagdo em determinados casos que so similares aqueles indicados nos incisos I ¢ II do art. 17 da Lei 8.666/1993. 174 Locagao de iméveis na Lei 8.666/1993 e na nova Leide Licitagdes (Lei 14.133/2021) O contrato de locagiio de bens iméveis é regulado, predominantemente, pelo direito privado (Lei 8.245/1991). A formalizagao do contrato de locagao ¢ a aplicago do direito privado é plenamente possivel nas hipoteses em que a Administracdo Pablica figura na condigao de locataria, bem como nos casos de locagao de bens integrantes das pessoas juridicas de direito privado da Administragaio Indireta. Todavia, conforme sera destacado em capitulo proprio (2.7.5.2), ha discussdo sobre a possibilidade de contrato de locacao que tenha por objeto bens piblicos. Em nossa opinido, a locagao é incompativel coma transferéncia do uso privativo dos bens piblicos que deve ser submetida ao regime juridico proprio (exs: autorizagio, permissdo, concessao de uso de bens ptblicos). Alias, 0 art. 1.°, pardgrafo unico, a, 1, Lei 8.245/1991, dispdes que a Lei de Locagdes no é aplicdvel aos contratos de locagao de iméveis de propriedade da Unido, dos Estados ¢ dos Municipios, de suas autarquias e fundagées piiblicas que continuam reguladas pelo Cédigo Civil (arts. 565 a 578) e pelas leis especiais. A locagao de iméveis deverd ser precedida de licitagao e avaliagio prévia do bem, do seu estado de conservagiio, dos custos de adaptagées e do prazo de amortizagao dos investimentos necessarios (art. 51 da nova Lei de Licitagdes). nexigivel a licitagdo na aquisigao ou locagao de imével cujas caracteristicas de instalagdes e localizagao tornem necesséria sua escolha (art. 74, V, da nova Lei de Licitagées). A nova Lei de Licitagdes conferiu tratamento mais técnico & locagao direta, sem licitagao. A Lei 8.666/1993, em seu art, 24, X, trata a hipétese como dispensa de licitago. Como afirmamos em outra oportunidade, a hipétese configuraria, em verdade, inexigibilidade de licitagao, em virtude da inviabilidade de competigao, tese agora corroborada no texto da nova Lei de Licitagées. 17.7 SISTEMA DE REGISTRO DE PRECOS (SRP) NA LEI 8.666/1993 O Sistema de Registro de Pregos (SRP) pode ser definido como procedimento administrativo por meio do qual a Administragao Pablica seleciona as propostas mais vantajosas, mediante concorréncia ou pregao, que ficardo registradas perante a autoridade estatal para futuras e eventuais contratagdes.

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