Trata-se da denominada “fungdo regulatéria da licitagao”, segundo a
qual a licitago ndo se presta, tio somente, para que a Administragao realize
a contratagio de bens e servigos a um menor custo; o referido instituto tem
espectro mais abrangente, servindo como instrumento para 0 atendimento de
finalidades publicas outras, consagradas constitucionalmente.
Nao obstante a relevancia da fungao regulatéria, a estipulagao de
finalidades extraeconémicas nas licitagdes publicas deve ser objeto de
planejamento, motivagao ¢ de razoabilidade, uma vez que a licitagao nao é o
instrumento ordindrio (ou principal) para solugao dos inimeros desafios da
Administragaio Publica ¢ a contratagao publica tem por objetivo imediato a
realizagao do objeto contratado (execugao da obra, a prestagao do servigo, 0
fornecimento do bem ete.).”°
17.6 OBJETO DA LICITACAO
O objeto da licitagdo é 0 contetdo do futuro contrato que sera
celebrado pela Administragao Publica.
Os arts. 1.° e 2.° da Lei 8.666/1993 enumeram os objetos das
licitages ¢ contratagdes publicas, a saber: obras, servigos, inclusive de
publicidade, compras, alienagées, concessées, permissdes e locagdes da
Administragao Publica. E importante notar, todavia, que o rol é
exemplificativo, pois a regra constitucional da licitagdo se impée para todo
e qualquer contrato administrativo, independentemente do objeto (art. 37,
XXI, da CRFB), salvo as hipéteses de contrataga
‘do direta.
Os arts. 40 a 51 da nova Lei de Licitagées, por sua vez, estabelecem o
regime juridico das compras, servigos, inclusive de engenharia, obras ¢
locagao de iméveis, cabendo ao art. 76 fixar o regime juridico das
alienagdes de bens da Administragao Publica.
17.6.1 Obras e servicos de engenharia
A definigao de “obra” consta do inciso I do art. 6.° da Lei 8.666/1993
que prevé: “Obra — toda construgao, reforma, fabricagiio, recuperagao ou
ampliagao, realizada por execugao direta ou indireta” (ex.: construgao de
uma escola).Existem, no entanto, determinadas situagées de dificil distingao entre
obra ¢ servigo de engenharia, especialmente pela insuficiéncia das
definiges constantes da legislagdo. A reforma de um imével, por exemplo,
que envolve demoligao, seria uma obra ou servico? Nao ha resposta
definitiva, uma vez que o art. 6.°, I, da Lei 8.666/1993, na definigao de
“obra”, utiliza 0 vocdbulo “reforma” e, em seguida, na definigao de
“servigo” constante do art. 6.°, II, da Lei 8.666/1993, menciona a expressdo
“demoligao”.
Alguns critérios so sugeridos pela doutrina para distingao entre obra
e servigo, tais como: a) na contratagio de uma obra prepondera o resultado
consistente na criagdo ou modificagao de um bem corpéreo (obrigagao de
resultado), e na contratagao do servic predomina a atividade humana que
produz utilidades para a Administragao (obrigagdo de meio);”° e b) enquanto
na obra, normalmente, 0 custo do material é superior ao da mio de obra, nos
servigos a légica é inversa.”
17.6.1.1 Projeto bdsico, projeto executivo e outras exigéncias legais
A realizagio de obras e a prestagdo de servigos pressupdem a
elaborag’io do “projeto basico” (art. 6.°, IX, da Lei de Licitagdes)** e do
“projeto executivo” (art. 6.°, X, da Lei de Licitagdes),”? que devem
estabelecer, de maneira clara e precisa, todos os aspectos técnicos ¢
econdmicos do objeto a ser contratado. Excepcionalmente, a licitagdo pode
ser iniciada sem a elaboragdo prévia do projeto executivo, desde que haja
deciso motivada por parte da autoridade administrativa, hipétese em que 0
projeto devera ser desenvolvido concomitantemente com a execugdio das
obras e servigos (arts. 7.°, § 1.°, e 9.°, § 2.°, da Lei 8.666/1993).
A licitagao para contratagao de obras e servigos depende do
cumprimento das seguintes exigéncias (art. 7.°, § 2.°, da Lei 8.666/1993):
a) elaboragdo do projeto basico que deve ser aprovado pela
autoridade competente e disponibilizado para consulta dos interessados em
participar do proceso licitatério;
b) existéncia de orgamento detalhado em planilhas que expressem a
composigao de todos os seus custos unitérios;*°c) previsdo de recursos orgamentirios que assegurem o pagamento das
obrigagdes decorrentes de obras ou servigos a serem executadas no
exercicio financeiro em curso, na forma do respectivo cronograma;"!
d) o produto dela esperado estiver contemplado nas metas
estabelecidas no Plano Plurianual, quando for 0 caso.
Nas hipéteses em que o empreendimento exigir licenciamento
ambiental, 0 projeto basico deve conter o Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e Relatério de Impacto Ambiental (RIMA).°?
17.6.1.2 Vedagées e impedimentos
A licitagdo para execugdo de obras e prestagdo de servigos submete-
se as seguintes vedagGes (art. 7.°, §§ 3.°, 4.° & 5.°, da Lei 8.666/1993):
a) & vedado incluir no objeto da licitagao a obtencao de recursos
financeiros para sua execuedo, qualquer que seja a sua origem, exceto nos
casos de empreendimentos executados ¢ explorados sob o regime de
concessio, nos termos da legislagao especifica;
b) & vedada a incluso, no objeto da licitagdo, de fornecimento de
materiais e servigos sem previsdio de quantidades ou cujos quantitativos nao
correspondam as previsées reais do projeto basico ou executivo; e
c) & vedada a realizagao de licitagdo cujo objeto inclua bens
servigos sem similaridade ou de marcas, caracteristicas e especificagdes
exclusivas, salvo nos casos em que for tecnicamente justificdvel, ou ainda
quando o fornecimento de tais materiais e servigos for feito sob o regime de
administragdo contratada, previsto e discriminado no ato convocatério.
Além das mencionadas vedagoes, a legislagdo estabelece
impedimentos para participagao, direta ou indireta, da licitagdo ou da
execugdo de obra ou servico e do fornecimento de bens a eles necessarios
(art. 9.° da Lei 8.666/1993):°°
a) o autor do projeto, basico ou executivo, pessoa fisica ou juridica;**
b) empresa, isoladamente ou em conséreio, responsavel pela
elaboragdo do projeto basico ou executive ou da qual 0 autor do projeto seja
dirigente, gerente, acionista ou detentor de mais de 5% do capital com
direito a voto ou controlador, responsavel técnico ou subcontratado; ec) servidor ou dirigente de drgio ou entidade contratante ou
responsavel pela licitagao.
Em relago aos impedimentos contidos nas alineas “a” e “b”, a
legislagdo permite a participagao do autor do projeto ou da empresa na
licitagio de obra ou servigo, bem como na sua execugao, como consultor ou
técnico, nas fungdes de fiscalizagao, supervisdo ou gerenciamento,
exclusivamente a servigo da Administragao interessada (art. 9.°, § 1.°, da Lei
8.666/1993).
17.6.1.3 Formas de execucdo: direta e indireta
As obras e servigos de engenharia, de acordo com os arts. 6.°, VII,
VIII, ¢ 10 da Lei de Licitagdes, podem ser executados de forma direta (por
meio dos drgios ou entidades administrativas) ou indireta (por meio da
contratagao de terceiros).
A execugaio indireta pode ocorrer por meio dos seguintes regimes:
a) empreitada por preco global: quando se contrata a execugao da
obra ou do servigo por prego certo ¢ total (ex.: construgao de uma escola por
prego certo e determinado apresentado pelo licitante);
b) empreitada por preco unitario: quando se contrata a execugdo da
obra ou do servico por prego certo de unidades determinadas (ex.: 0 valor
deve ser pago ao final de cada unidade executada — metragem executada de
fundagées, de paredes levantadas, de colocagao de piso etc.);
¢) empreitada integral: quando se contrata um empreendimento em
sua integralidade, caso em que o contratado assume inteira responsabilidade
pela execugdo do objeto até entrega 4 Administragao contratante para uso
(ex.: 0 contratado deve realizar a obra, como a construgao de um prédio,
bem como implementar sistema de seguranga, o sistema de refrigeragiio ete.);
e
d) tarefa: quando se ajusta mao de obra para pequenos trabalhos por
prego certo, com ou sem fornecimento de materiais (ex.: contratagao de um
eletricista para pequeno reparo na instalagao elétrica da repartigao publica).
17.6.1.4 Obras e servicos de engenharia na nova Lei de Licitagées (Lei
14.133/2021)De acordo como art. 6.°, XI, da nova Lei de Licitagées, servigo é
“atividade ou conjunto de atividades destinadas a obter determinada
utilidade, intelectual ou material, de interesse da Administragao”. A obra, na
forma indicada no inciso XII do referido dispositivo lega, é “toda atividade
estabelecida, por forga de lei, como privativa das profissdes de arquiteto e
engenheiro que implica intervengdo no meio ambiente por meio de um
conjunto harménico de agées que, agregadas, formam um todo que inova o
espaco fisico da natureza ou acarreta alteragdo substancial das
caracteristicas originais de bem imével”.
A nova Lei de Licitagées, ao tratar das obras e servigos de
cengenharia, revela importante preocupagao com a sustentabilidade da
contratagao.
Nesse sentido, as licitagdes de obras e servigos de engenharia devem
observar (art. 45 da nova Lei de Licitag6es): a) disposigao final
ambientalmente adequada dos residuos sdlidos gerados pelas obras
contratadas; b) mitigagéio por condicionantes e compensagéio ambiental, que
sero definidas no procedimento de licenciamento ambiental; c) utilizagao
de produtos, equipamentos e servigos que, comprovadamente, favoregam a
redugdio do consumo de energia e de recursos naturais; d) avaliagao de
impacto de vizinhanga, na forma da legislacao urbanistica; e) protegao do
patriménio histérico, cultural, arqueolégico e imaterial, inclusive por meio
da avaliagao do impacto direto ou indireto causado pelas obras contratadas;
e f) acessibilidade para pessoas com deficiéncia ou com mobilidade
reduzida.
Quanto a execugdo indireta das obras e servigos de engenharia, a nova
Lei de Licitagdes prevé os seguintes regimes (art. 46 da nova Lei de
Licitagées):
a) empreitada por prego unitario: contratagdo da execugdo da obra ou
do servigo por prego certo de unidades determinadas (art. 6.°, XXVIII);
b) empreitada por prego global: contratagao da execugao da obra ou
do servigo por prego certo e total (art. 6.°, XXIX);
c) empreitada integral: contratagao de empreendimento em sua
integralidade, compreendida a totalidade das etapas de obras, servigos €
instalagdes necessarias, sob inteira responsabilidade do contratado até sua
entrega ao contratante em condi¢des de entrada em operagdo, comcaracteristicas adequadas as finalidades para as quais foi contratado e
atendidos os requisitos técnicos ¢ legais para sua utilizagdo com seguranga
estrutural e operacional (art. 6.°, XXX);
d) contratagao por tarefa: contratagdo de mao de obra para pequenos
trabalhos por prego certo, com ou sem fornecimento de materiais (art. 6.°,
XXX);
e) contratagdo integrada: regime de contratagao de obras e servigos de
engenharia em que 0 contratado é responsavel por elaborar e desenvolver os
projetos basico ¢ executivo, executar obras e servigos de engenharia,
fornecer bens ou prestar servigos especiais e realizar montagem, teste, pré-
operagdo e as demais operagdes necessarias e suficientes para a entrega
final do objeto (art. 6.°, XXXII;
f) contratagdo semi-integrada: regime de contratagao de obras e
servigos de engenharia em que o contratado é responsAvel por elaborar e
desenvolver 0 projeto executivo, executar obras ¢ servigos de engenharia,
fornecer bens ou prestar servigos especiais e realizar montagem, teste, pré-
operagao e as demais operagées necessdrias e suficientes para a entrega
final do objeto (art. 6.°, XXXII]; ¢
g) fornecimento e prestagdio de servigo associado: regime de
contratagéio em que, além do fornecimento do objeto, o contratado
responsabiliza-se por sua operagdo, manuten¢do ou ambas, por tempo
determinado (art. 6.°, XXXIV).
Verifica-se a ampliagaio dos regimes de execugdo indireta previstos no
art. 10, II, da Lei 8.666/1993 (empreitada por prego global, empreitada por
pre¢o unitario, tarefa e empreitada integral). Ao lado dos regimes
tradicionais, a nova Lei de Licitagées incluiu a contratagao integrada, a
contratagdo semi-integrada e o fornecimento e prestagdo de servigo
associado.
Importante dizer que as contratagées integrada e semi-integrada ja
eram previstas no Ambito das empresas estatais (art. 42, Ve VI, da Lei
13.303/2016). A contratacdo integrada era igualmente prevista no RDC (art.
8.°, V, da Lei 12.462/2011).
E vedada a realizagao de obras e servigos de engenharia sem projeto
executivo, ressalvada a hipétese prevista no § 3° do art. 18 (art. 46, § 1.°, danova Lei de Licitagdes). Contudo, na contratagao integrada 0 projeto basico
é dispensado e substituido pelo anteprojeto de acordo com metodologia
definida em ato do érgdo competente, observados os requisitos
estabelecidos no inciso XXIV do art. 6° (art. 46, § 2.°, da nova Lei de
Licitagdes).
Nos regimes de contratagao integrada e semi-integrada, o edital e o
contrato deverdo prever as providéncias necessarias para a efetivagao de
desapropriagao autorizada pelo Poder Puiblico, bem como (art. 46, § 4.°, da
nova Lei de Licitagdes): a) o responsavel por cada fase do procedimento
expropriat6rio; b) a responsabilidade pelo pagamento das indenizagdes
devidas; c) a estimativa do valor a ser pago a titulo de indenizagao pelos
bens expropriados, inclusive de custos correlatos; d) a distribuigdo objetiva
de riscos entre as partes, incluido o risco pela variagdo do custo da
desapropriagao em relacao 4 estimativa de valor e aos eventuais danos e
prejuizos ocasionados por atraso na disponibilizagao dos bens expropriados;
e €) emnome de quem devera ser promovido o registro de imissao
provis6ria na posse ¢ o registro de propriedade dos bens a serem
desapropriados.
O projeto basico podera ser alterado na contratagao semi-integrada,
desde que demonstrada a superioridade das inovagSes em termos de redugdo
de custos, de aumento da qualidade, de redug&io do prazo de execugao ou de
facilidade de manutengo ou operacao, assumindo a contratada a
responsabilidade integral pelos riscos associados a alteragao do projeto
basico (art. 46, § 5.°, da nova Lei de Licitagées).
A execugao de cada etapa sera obrigatoriamente precedida da
conclusdo e da aprovacao, pela autoridade competente, dos trabalhos
relativos As etapas anteriores (art. 46, § 6.°, da nova Lei de Licitagdes).
Os regimes de execugdio “empreitada por prego global”, “empreitada
integral”, “contratagao por tarefa”, “contratacdo integrada” e “contratagéo
semi-integrada” sero licitados por prego global e adotardo sistematica de
medigo e pagamento associada a execugdo de etapas do cronograma fisico-
financeiro, vinculadas ao cumprimento de metas de resultado, vedada a
adogao de sistematica de remunerag’o orientada por pregos unitérios ou
referenciada pela execugdo de quantidades de itens unitdrios (art. 46, § 9.°,
da nova Lei de Licitagdes).176.2 Servisos
Os servigos englobam todas as atividades destinadas a “obter
determinada utilidade de interesse para a Administragao, tais como:
demoligdo, conserto, instalacéo, montagem, operacdo, conservacao,
reparagiio, adaptag4o, manutengdo, transporte, locagao de bens, publicidade,
seguro ou trabalhos técnico-profissionais” (art. 6.°, II, da Lei 8.666/1993).
A contratagao de servigos (terceirizag4o) pode envolver a prestagao
de servigo especifico ou a conjungao de diversos servigos de interesse da
Administracao Publica. Nesse tiltimo caso, € possivel a celebragiio do
“contrato de gest4o para ocupagdo de iméveis publics” (contrato de
facilities), que envolve a prestagao, em um tinico contrato, de servigos de
gerenciamento e manutengdo de imével, incluido o fornecimento dos
equipamentos, materiais e outros servicos necessarios ao uso do imével pela
Administragao Piblica, por escopo ou continuados (art. 7.° da Lei
14.011/2020).
O contrato de facilities, que j4 era admitido pelo TCU, envolve a
prestagiio de servigos diversos (exs.: limpeza, vigilancia, motorista,
recepcionista, manutengiio predial etc.) e demonstra que o parcelamento do
objeto, previsto no art. 23, § 1.°, da Lei 8.666/1993, nao é absoluto, uma vez,
que deve levar em considerag4o os aspectos téenicos e econdmicos
(economia de escala) da contratagdio.*°
17.6.2.1 Terceirizagao: a supera¢ao da distin¢ao entre atividade-meio e
atividade-fim
A terceirizacao envolve a contratacdo de empresa privada (interposta
pessoa) para prestagdio de servigos 4 Administragiio. °°
A principal vantagem da terceirizagio tem relagdo coma eficiéncia
administrativa, tendo em vista que a prestagao de servigos instrumentais
(atividades-meio) por empresa privada especializada permite que a
Administragao concentre sua atengiio na prestagao de atividades-fim.
Tradicionalmente, com o intuito de evitar que a terceirizagdo seja um
sucedaneo da regra do concurso publico, a doutrina e o TCU” tém entendido
que a terceirizagao somente ser legitima para atividades instrumentais
(atividades-meio) da Administragao. No tocante aos servigos relacionadosas finalidades essenciais da Administragao (atividades-fim), a terceirizagao
é vedada.**
Nesse sentido, o Enunciado 331, II, do TST afirma a inexisténcia de
vinculo empregaticio com o tomador na contratagdo de servigos de
vigilancia (Lei 7.102, de 20.06.1983), conservagao e limpeza, “bem como a
de servigos especializados ligados a atividade-meio do tomador, desde que
inexistentes a pessoalidade e a subordinagao direta”.
Dessa forma, a terceirizagao refere-se aos servigos que ndo
demandam pessoalidade e subordinagdo. Somente sera considerada licita a
terceirizagdo que tem por objetivo a prestagdo de servigos, sendo vedada a
terceirizagdo para mero fornecimento de mio de obra, hipstese em que,
caracterizadas a pessoalidade e subordinagao do vinculo, a Administragio
9
deverd contratar pessoal por meio de concurso puiblico.
Ocorre que o art. 4.°-A da Lei 6.019/1974, alterado pela Lei
13.467/2017 (Reforma Trabalhista), considera “prestagdo de servigos a
terceiros a transferéncia feita pela contratante da execugdo de quaisquer de
suas atividades, inclusive sua atividade principal, a pessoa juridica de
direito privado prestadora de servigos que possua capacidade econdmica
compativel com a sua execugao”.
Vale dizer: a terceirizagao pode envolver qualquer tipo de atividade
(instrumental ou finalistica) de interesse da Administragao Publica
contratante.“?
Em consequéncia, a nova legislacdo superou a distingdo tradicional
entre “atividade-meio” e¢ “atividade-fim”. O STF, em repercussao geral,
considerou licita a terceirizagdo ou qualquer outra forma de divisdo do
trabalho entre pessoas juridicas distintas, independentemente do objeto
social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsididria da
empresa contratante. De acordo com a Suprema Corte, a terceirizagao das
atividades-meio ou das atividades-fim de uma empresa tem amparo nos
u
principios constitucionais da livre-iniciativa e da livre concorréncia.
17.6.2.2 Quarteirizagéo
A “quarteirizagao” envolve a contratagaio de empresa especializada
coma incumbéncia de gerenciar 0 fornecimento de servigos por terceiros aAdministragdo. Trata-se, em verdade, da terceirizagdo da atividade de
gerenciamento A empresa que fiscalizara os demais contratos de
terceirizagao no ambito da Administragao Piiblica.”*
Cite-se como exemplo de quarteirizagao a contratagdo de empresa
especializada no gerenciamento da manutengdo preventiva e corretiva de
veiculos de érgdos policiais. No referido contrato, a empresa privada,
vencedora da licitagdo, tem o dever de gerenciar a frota de veiculos da
Administragdo, incluindo o fornecimento de pegas, acessérios, mio de obra
¢ transporte por guincho por empresas credenciadas.”*
Nao ha, na hipétese, relagdo juridica entre a Administragdo Publica e
as empresas “quarteirizadas”, mas, sim, entre a Administragdo e a empresa
gerenciadora, razio pela qual o Estado nao possui responsabilidade pelos
atos praticados pelas quarteirizadas. Quanto aos encargos trabalhistas, 0
TST consagrou a responsabilidade subsididria da Administragao Publica na
hipétese de descumprimento das obrigagdes trabalhistas pelas
quarteirizadas.'
1762.3 Servicos de publicidade
A Lei 12.232/2010 dispée sobre as normas gerais para licitagdo ¢
contratagiio de servigos de publicidade prestados por intermédio de agéncias
de propaganda.
As caracteristicas das licitagdes para contratos de publicidade podem
ser assim resumidas:
a) as agéncias de publicidade devem apresentar “certificado de
qualificagdo técnica de funcionamento”, obtido perante o Conselho
Executive das Normas-Padrao (CENP), para participarem da licitagao (art.
49 da Lei 12.232/2010);
b) 0 procedimento de licitagdo deve observar uma das modalidades
elencadas no art. 22 da Lei 8.666/1993, nado havendo mengdo quanto 4
possibilidade de utilizagao do pregio (art. 5.° da Lei 12.232/2010);"°
c) fase especifica para andlise das propostas técnicas, bem como
julgamento das propostas de prego antes da etapa da habilitagdo (arts. 6.°, 1,
e 11, §4.°, la XIV, da Lei 12.232/2010);d) 0 projeto basico € substituido pelo briefing, que deve conter as
informagées claras ¢ objetivas para que os interessados elaborem propostas
(art. 6°, Il, da Lei 12.232/2010);
e) utilizagdo dos critérios de julgamento “melhor técnica” ou “técnica
e prego” (art. 5.° da Lei 12.232/2010);
f) a proposta técnica, na forma do art. 6.°, III, da Lei 12.232/2010,
ser composta de um plano de comunicag’o publicitaria (art. 7.°),
relacionado as informagSes contidas no briefing, e de um conjunto de
informagées referentes ao proponente (art. 8.°); ¢ g) as propostas técnicas
sero analisadas e julgadas por subcomissio técnica (art. 10, § 1.°, da Lei
12.232/2010).*
17.6.2.4 Servicos na nova Lei de Licitacées (Lei 14.133/2021)
O regime juridico da contratagao de servigos (terceirizagao) &
previsto nos arts. 47 a 50 da nova Lei de Licitagées.
As licitagées de servigos devem observar dois principios (art. 47 da
nova Lei de Licitagdes): a) da padronizacao, considerando a
compatibilidade de especificagdes estéticas, técnicas ou de desempenho; e
b) do parcelamento, quando for tecnicamente vidvel e economicamente
vantajoso.
Quanto ao parcelamento, devem ser considerados (art. 47, § 1.°, da
nova Lei de Licitagdes): a) a responsabilidade técnica; b) 0 custo para a
Administragao de varios contratos perante as vantagens da redugaio de
custos, com divisdo do objeto em itens; ¢ c) o dever de buscar a ampliagao
da competigao e evitar a concentragdo de mercado.
No tocante aos servigos de manutengdio e assisténcia técnica, o edital
deverd definir 0 local de realizagao dos servicos, admitindo-se a exigéncia
de deslocamento de técnico no proprio local da repartigaio ou a exigéncia de
que a contratada tenha unidade de prestagao de servigos em distancia
compativel com as necessidades da Administrago (art. 47, § 2°, da nova Lei
de Licitagées).
Os servigos que serao contratados com terceiros envolverdo as
atividades materiais acessérias, instrumentais ou complementares aos
assuntos que constituem area de competéncia legal do érgio ou da entidade,sendo vedado a Administragdio ou a seus agentes, na contratagao do servigo
terceirizado (art. 48 da nova Lei de Licitagées): a) indicar pessoas
expressamente nominadas para executar direta ou indiretamente 0 objeto
contratado; b) fixar salario inferior ao definido em lei ou ato normativo a ser
pago pelo contratado; c) estabelecer vinculo de subordinagao com
funciondrio de empresa prestadora de servigo terceirizado; d) definir forma
de pagamento mediante exclusivo reembolso dos salarios pagos; e)
demandar a funcionario de empresa prestadora de servi¢o terceirizado a
execugao de tarefas fora do escopo do objeto da contratagao; e f) prever em
edital exigéncias que constituam intervengao indevida da Administragdo na
gestdo interna do contratado.
Verifica-se que 0 art. 48 da nova Lei de Licitagdes nao prevé a
terceirizagao de atividade-fim, uma vez que o referido dispositivo legal
estabelece apenas a contratacdo de “atividades materiais acessérias,
instrumentais ou complementares aos assuntos que constituam area de
competéncia legal do érgio ou da entidade”.
Todavia, com a promulgacao da Lei 13.429/2017, que alterou a Lei
6.019/1974, nao foi estabelecida vedacao a terceirizagao de atividades
finalisticas das tomadoras de servigos, o que demonstra a possibilidade de
discussao quanto a interpretagao do art. 48 da nova Lei de Licitagdes.
Com efeito, o art. 4.°-A da Lei 6.019/1974, alterado pela Lei
13.467/2017 (Reforma Trabalhista), considera “prestagdo de servigos a
terceiros a transferéncia feita pela contratante da execugao de quaisquer de
suas atividades, inclusive sua atividade principal, a pessoa juridica de
direito privado prestadora de servigos que possua capacidade econémica
compativel com a sua execugao”. Vale dizer: a terceirizagao pode envolver
qualquer tipo de atividade (instrumental ou finalistica) de interesse da
Administragao Publica contratante.
Em consequéncia, a nova legislago superou a distingao tradicional
entre “atividade-meio” e “atividade-fim”.
Apés afirmar a inconstitucionalidade dos incisos I, II, IV e VI da
Stmula 331 do TST, o STE, em repercussio geral, considerou licita a
terceirizagao ou qualquer outra forma de divisao do trabalho entre pessoas
juridicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiaria da empresa contratante.De acordo coma Suprema Corte, a terceirizagaio das atividades-meio ou das
atividades-fim de uma empresa tem amparo nos principios constitucionais da
livre iniciativa e da livre concorréncia.
Alias, o STF, em sede de repercussdo geral, fixou a tese de que “o
inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado no
transfere automaticamente ao Poder Publico contratante a responsabilidade
pelo seu pagamento, seja em carter solidario ou subsididrio, nos termos do
art. 71, § 1.°, da Lei n° 8.66/93”. No referido julgamento, o STF afirmou
que a dicotomia entre “atividade-fim” e “atividade-meio” é “imprecisa,
artificial e ignora a dindmica da economia moderna, caracterizada pela
especializagao e divisdo de tarefas com vistas 4 maior eficiéncia possivel,
de modo que frequentemente o produto ou servigo final comercializado por
uma entidade comercial é fabricado ou prestado por agente distinto, sendo
também comum a mutagao constante do objeto social das empresas para
atender a necessidades da sociedade, como revelam as mais valiosas
empresas do mundo”. A Suprema Corte afirmou, ainda, que, além de suas
vantagens inerentes, a terceirizagao nao importa precarizagao as condigdes
dos trabalhadores.
A principal vantagem da terceirizagao tem relagéio coma eficiéncia
administrativa, tendo em vista que a prestacao de servigos instrumentais
(atividades-meio) por empresa privada especializada permite que a
Administragao concentre sua atengao na prestagao de atividades-fim.
Outro ponto de destaque na nova Lei de Licitagdes relaciona-se com a
preocupagao salutar de conflito de interesses e de nepotismo nas
contratagdes de servigos.
Dessa forma, na terceirizagao, é vedado ao contratado contratar
cénjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade,
até o terceiro grau, de dirigente do drgio ou entidade contratante ou de
agente piiblico que desempenhe fungdo na licitagao ou atue na fiscalizagao
‘ou na gesto do contrato, devendo esta proibigdo constar expressamente no
edital de licitagao (art. 48, paragrafo tnico, da nova Lei de Licitagdes).
art. 49, caput e paragrafo tinico, da nova Lei de Licitagdes permite
a contratagdio de mais de uma empresa ou instituigao para executar o mesmo
servigo, desde que essa contratagéio nao implique perda de economia de
escala e que a Administragdo mantenha o controle individualizado de cadacontratado, quando: a) o objeto da contratagdo puder ser executado de forma
concorrente ¢ simultanea por mais de um contratado; ¢ b) a multipla
execugdo for conveniente para atender A Administragao.
Nas contratagdes de servigos com regime de dedicagao exclusiva de
mao de obra, 0 contratado devera apresentar, quando solicitado pela
Administragao, sob pena de multa, comprovagao do cumprimento das
obrigagées trabalhistas e com o FGTS em relagdo aos empregados
diretamente envolvidos na execugdo do contrato, em especial quanto ao (art.
50 da nova Lei de Licitagdes): a) registro de ponto; b) recibo de pagamento
de salarios, adicionais, horas extras, repouso semanal remunerado e décimo
terceiro saldrio; c) comprovante de depésito do FGTS; d) recibo de
concessao de férias e do respectivo adicional; e) recibo de quitagdo de
obrigagées trabalhistas e previdencidrias dos empregados dispensados até a
data da extingdo do contrato; e f) recibo de pagamento de vale-transporte e
vale-alimentagao, na forma prevista em norma coletiva.
17.6.3 Compras
As compras sao todas as aquisigdes remuneradas de bens para
fornecimento de uma sé vez ou parceladamente (art. 6.°, III, da Lei
8.666/1993). Registre-se que as compras devem ser processadas,
preferencialmente, pelo “sistema de registro de pregos” (art. 15, Il, da Lei
8.666/1993), tendo em vista a necessidade de racionalizagio do processo de
compras de determinados bens.
1763.1 Indicagéo de marcas, amostras e o principio da padronizagéio
Em regra, 6 vedada a indicagdo de marcas nas compras efetuadas pelo
Poder Puiblico (art. 15, § 7.°, , da Lei 8,666/1993).”” Trata-se de vedagao
que possui carter relativo, pois a indicagao da marca sera legitima quando
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acompanhada de justificativas técnico-cientificas.
Admite-se a exigéncia de amostras dos bens por parte dos licitantes
desde que prevista expressamente no instrumento convocatério, devidamente
acompanhada de critérios de julgamento estritamente objetivos.
Aliés, as compras, sempre que possivel, devem atender ao “principio
da padronizagao”, com especificagdes técnicas ¢ de desempenho (art. 15, Ida Lei 8.666/1993).”
A Administragdo, ao estabelecer a padronizagdo, deverd apontar, no
instrumento convocatério, as caracteristicas técnicas uniformes do bem a ser
adquirido, bem como as exigéncias de manutencdo, assisténcia técnica e
garantia. A padronizagdo, normalmente, gera beneficios econdmicos para 0
Poder Pablico (principio da economicidade), pois facilita as compras em
grande escala e a manutenedo dos bens adquiridos.
Em determinados casos, a padronizagdo pode acarretar a indicagdo de
marcas, desde que a opgdo seja tecnicamente adequada. O que no é
permitido ¢ a padronizagao ou a indicagdo de marcas por critérios
subjetivos ou desarrazoados.””
17.6.3.2 Divisibilidade do objeto e licitacdo por item
As compras, sempre que possivel, deverdio ser subdivididas em tantas
parcelas quantas necessarias para aproveitar as peculiaridades do mercado,
visando economicidade (art. 15, IV, da Lei 8.666/1993).”!
A divisibilidade do objeto do futuro contrato nao pode acarretar, no
entanto, a dispensa ou a inexigibilidade de licitago, vedagdo que se aplica
para as compras, obras e servigos (art. 23, § 2.°, da Lei).°? Ademais,
segundo 0 TCU, a divisibilidade do objeto nao deve alterar a modalidade de
licitagao inicialmente exigida para a execugdo de todo o objeto da
contratagio. A escolha da modalidade de licitagdo depende da soma dos
valores correspondentes aos itens parcelados.**
A divisibilidade do objeto pode acarretar, a critério da
Administracao, a realizagao de procedimento tnico ou procedimentos
distintos de licitagaio. Na hipétese de procedimento tinico de licitagao,
denominada “licitagao por item”, a Administragao concentra, no mesmo
certame, objetos diversos que serio contratados (ex.: a licitagdo para
compra de equipamentos de informatica pode ser dividida em varios itens,
tais como microcomputador, impressora etc.).*/ Em verdade, varias
licitagdes sdo realizadas dentro do mesmo processo administrativo, sendo
certo que cada item ser julgado de forma independente e comportard a
comprovagao dos requisitos de habilitagao.De acordo com o entendimento consagrado na Sumula 247 do TCU, a
licitagdo por item (¢ nao por prego global) deve ser a regra quando 0 objeto
da licitagao for divisivel.> A licitagao por grupos ou lotes, em que ha o
agrupamento de diversos itens, deve ser utilizada em situagdes excepcionais,
que demonstrem a inviabilidade técnica ou econémica da licitagao por itens,
bem como a auséncia de risco 4 competitividade.
17.6.3.3 Compras na nova Lei de Licitagées (Lei 14.133/2021)
Oart. 6.°, X, da nova Lei de Licitagées dispée que a compra é a
aquisi¢do remunerada de bens para fornecimento de uma s6 vez ou
parceladamente, considerada imediata aquela com prazo de entrega de até 30
(trinta) dias da data prevista para apresentagao da proposta.
O regime juridico das compras é estabelecido pelos arts. 40 a 44 da
nova Lei de Licitagdes.
O planejamento de compras deve considerar a expectativa de consumo
anual, bem como observar os seguintes pardmetros (art. 40 da nova Lei de
Licitagdes): a) condigdes de aquisi¢ao ¢ pagamento semelhantes as do setor
privado; b) processamento por meio de sistema de registro de pregos,
quando pertinente; c) determinagao de unidades e quantidades a serem
adquiridas em fungao de consumo e utilizagdo provaveis, cuja estimativa
ser obtida, sempre que possivel, mediante adequadas técnicas quantitativas,
admitido o fornecimento continuo; d) condigdes de guarda e armazenamento
que nao permitam a deterioragao do material; ¢) atendimento aos principios:
e.1) da padronizagao, considerando a compatibilidade de especificagées
estéticas, técnicas ou de desempenho; e.2) do parcelamento, quando for
tecnicamente vidvel e economicamente vantajoso; e.3) da responsabilidade
fiscal, mediante a verificago da despesa estimada coma prevista no
orgamento.
Nesse ponto, a nova Lei de Licitagdes nao apresentou grandes
inovagées as previsdes contidas nos arts. 15 ¢ 16 da Lei 8.666/1993.
O termo de referéncia deverd conter os elementos previstos no inciso
XXIII do art. 6° e também (art. 40, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes): a)
especificagao do produto, preferencialmente conforme catélogo eletrénico
de padronizagao, observados os requisitos de qualidade, rendimento,compatibilidade, durabilidade e seguranga; b) indicagdo dos locais de
entrega dos produtos ¢ das regras para recebimento provis6rio ¢ definitivo,
quando for o caso; c) especificagao da garantia exigida e das condigdes de
manutengio ¢ assisténcia técnica, quando for 0 caso.
Em relag&o ao principio do parcelamento das compras, devem ser
considerados (art, 40, § 2.°, da nova Lei de Licitagdes): a) a viabilidade da
divisio do objeto em lotes; b) 0 aproveitamento das particularidades do
mercado local, visando a economicidade, sempre que possivel, desde que
atendidos os pardmetros de qualidade; e ¢) o dever de buscar a ampliagao da
competi
oe de evitar a concentragdo de mercado.
E vedado o parcelamento das compras quando (art. 40, § 3.°, da nova
Lei de Licitagdes): a) a economia de escala, a redugdo de custos de gestdo
de contratos ou a maior vantagem na contratagdo recomendar a compra do
mesmo item do mesmo fornecedor; b) 0 objeto a ser contratado configurar
sistema tinico e integrado e houver a possibilidade de risco ao conjunto do
objeto pretendido; e ¢) o processo de padronizagao ou de escolha de marca
levar a fornecedor exclusivo.
Ademais, o art. 41 da nova Lei de Licitagdes estabeleceu a
possibilidade de: a) indicago, de forma justificada, de uma ou mais marcas
‘ou modelos em determinados casos; b) exigéncia de amostra ou prova de
conceito; c) vedagao de contratag’io de marca ou produto que nao cumpram
08 requisitos indispensaveis ao pleno adimplemento da obrigagao contratual;
ed) declaragio de solidariedade emitida pelo fabricante, que assegure a
execugao do contrato, no caso de licitante revendedor ou distribuidor.
A aferigdo da qualidade dos bens pode ser realizada das seguintes
maneiras (art. 42 da nova Lei de Licitagdes): a) comprovagao de que o
produto esté de acordo com as normas técnicas determinadas pelos érgaos
oficiais competentes, pela ABNT ou por outra entidade credenciada pelo
INMETRO; b) declaragao de atendimento satisfatorio emitida por outro
6rgio ou entidade de nivel federativo equivalente ou superior que tenha
adquirido o produto; c) certificagao, certificado, laudo laboratorial ou
documento similar que possibilite a aferigao da qualidade e da
conformidade do produto ou do processo de fabricacao, inclusive sob 0
aspecto ambiental, emitido por instituigao oficial competente ou por entidade
credenciada.E possivel exigir no edital, como condigao de aceitabilidade da
proposta, a certificagdo de qualidade do produto por instituigao credenciada
pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normaliza¢ao e Qualidade Industrial
—Conmetro (art. 42, § 1.°, da nova Lei de Licitagées). Admite-se, ainda, 0
oferecimento de protétipos do objeto que sera adquirido ou de amostras no
julgamento, da proposta, para atender a diligéncia, e apés o julgamento,
‘como condigao para firmar contrato (art. 42, § 2.°, da nova Lei de
Licitagées).
A exigéncia de amostra ou prova de conceito do bem pode ser
realizada no procedimento de pré-qualificagao permanente, na fase de
julgamento das propostas ou de lances do licitante primeiro colocado, no
periodo de vigéncia do contrato ou da ata de registro de pregos, desde que
previsto no instrumento convocatério e justificada a necessidade de sua
apresentagdo (art. 41, II, da nova Lei de Licitagdes).
E legitima a indicag’io de marca ou modelo, desde que formalmente
justificado, nas seguintes hipteses (art. 41, I, da nova Lei de Licitagdes): a)
em decorréncia da necessidade de padronizagao do objeto; b) em razio da
necessidade de manter a compatibilidade com plataformas e padrées ja
adotados pela Administragao; c) quando determinada marca ou modelo
comercializado por mais de um fornecedor for 0 unico capaz de atender as
necessidades da contratante; e d) quando a descrigaio do objeto a ser licitado
puder ser mais bem compreendida pela identificagao de determinada marca
ou modelo aptos a servir apenas como referéncia.
E possivel, por outro lado, a fixagdo de vedagao para contratagdo de
marca ou produto, quando, mediante processo administrativo, restar
comprovado que produtos adquiridos e utilizados anteriormente pela
Administragao nao atendem a requisitos indispensdveis ao pleno
adimplemento da obrigagao contratual (art. 41, III, da nova Lei de
Licitagées).
Frise-se, ainda, a possibilidade de exigéncia, devidamente motivada,
de carta de solidariedade emitida pelo fabricante, que assegure a execugaio
do contrato, no caso de licitante revendedor ou distribuidor.
Quanto ao principio da padronizagao, o processo devera conter (art.
43 da nova Lei de Licitagées): a) parecer técnico sobre 0 produto,
considerando especificagdes técnicas ¢ estéticas, desempenho, analise decontratagdes anteriores, custo e condigdes de manutengdo e garantia; b)
despacho motivado da autoridade superior, com a adogao do padrao; ¢ ¢)
publicagado em meio de divulgacao oficial da sintese da justificativa e da
descrigao sucinta do padrao definido.
A padronizacao pode ser implementada com base em processo de
outro drgio ou entidade de nivel federativo igual ou superior ao do érgao
adquirente, devendo o ato que decidir pela adesao 4 outra padronizagao ser
devidamente motivado, com indicagdo da necessidade da Administragao, e
publicado em meio de divulgagao oficial (art. 43, § 1.°, da nova Lei de
Licitagée:
Verifica-se que a nova Lei de Licitagdes pouco inovou em relagao a
indicagdio de marcas e ao principio da padronizagao nas licitagdes.
A Lei 8.666/1993 vedava, em regra, a indicagao de marcas nas
compras efetuadas pelo Poder Piiblico (art. 15, § 7.°, I). A indicagao,
contudo, seria permitida quando acompanhada de justificativas técnico-
cientificas.
Assim como permitido na Lei 8.666/1993, a nova Lei de Licitagdes
admite que a indicagdio de marca sirva como parametro de qualidade para
facilitar a descrigao do objeto a ser licitado. Na hipotese, ao lado da marca
apontada no instrumento convocatério, constardo as seguintes expressdes “ou
equivalente”, “ou similar” e “ou de melhor qualidade”.
A nova Lei de Licitagdes também manteve o principio da
padronizagao que encontrava previsao no art. 15, I, da Lei 8.666/1993. A
padronizacao, normalmente, gera beneficios econémicos para o Poder
Publico (principio da economicidade), pois facilita as compras em grande
escala e a manutengdo dos bens adquiridos. Verifica-se, portanto, que a
padronizagao pode acarretar, em alguns casos, a indicagao de marcas, desde
que a op¢do seja tecnicamente adequada. O que nao € permitido é a
padronizagao ou a indicagao de marcas por critérios subjetivos ou
desarrazoados.
No tocante as contratagdes de solugdes baseadas em software de uso
disseminado, a nova Lei de Licitagdes remete a disciplina ao regulamento
que definird o processo de gestao estratégica das contratagdes desse tipo de
solugdo (art. 43, § 2.°, da nova Lei de Licitagées).Por fim, nas hipéteses em que houver a possibilidade de compra ou de
locagao de bens, o estudo técnico preliminar devera considerar os custos ¢
0s beneficios de cada opeao, indicando a alternativa mais vantajosa (art. 44
da nova Lei de Licitagdes).
17.6.4 — Alienagées
As alienages so todas as transferéncias de dominio de bens da
Administragao Publica a terceiros (art. 6.°, IV, da Lei 8.666/1993).
A alienagdo de bens da Administragaio Publica depende do
cumprimento dos requisitos elencados no art. 17 da Lei 8.666/1993, a saber:
a) desafetagdo: apenas os bens dominicais, que nao se encontram afetados a
nenhuma finalidade publica, podem ser alienados (art. 101 do CC);* b)
motiva¢do: interesse ptiblico justificado; c) avaliagao prévia; d) licitago
(concorréncia para os bens iméveis, salvo as excecdes do art. 19 da Lei, e
leilao para os bens méveis); e e) autorizagio legislativa para alienagaio dos
bens publicos iméveis das pessoas juridicas de direito publico.
17.6.4.1 Alienagées na nova Lei de Licitagées (Lei 14.133/2021)
As alienag6es de bens imoveis e méveis da Administragaio Publica
dependem do preenchimento dos seguintes requisitos (art. 76 da nova Lei de
Licitagdes): a) interesse publico devidamente justificado; b) avaliagao
prévia; e c) licitagdio na modalidade leila. A alienagio de iméveis da
‘Administracdo direta, autarquias ¢ fundagdes, dependerd, ainda, de
autorizagao legislativa (art. 76, § 1°, da nova Lei de Licitagdes).
No caso dos bens publicos, integrantes das pessoas juridicas de
direito piiblico, a alienagdo depende, ainda, da desafetagio, admitindo-se
apenas a alienagao de bens piiblicos dominicais (arts. 98 e 101 do CC).
Ao tratar das exigéncias para alienagdo de bens, a nova Lei de
Licitagdes basicamente repetird as exigéncias contidas na Lei 8.666/1993,
coma ressalva de que, a partir do novo diploma legal de Licitagées, a
modalidade a ser utilizada em qualquer alienagao de bens seré o leildo, Na
legislaco tradicional, o leiléo era reservado a alienago de bens méveis,
com as excegdes indicadas no art. 19 da Lei 8666/1993, ¢ a concorréncia
era exigida para alienagao de iméveis.A alienago de bens iméveis da Administragdo Publica cuja aquisigiio
haja derivado de procedimentos judiciais ou de dagao em pagamento
dispensa autorizagao legislativa e exige apenas avaliagao prévia ¢ licitagao
na modalidade leilao (art. 76, § 1.°, da nova Lei de Licitagdes).
A Administracaio poder conceder titulo de propriedade ou de direito
real de uso de imével, admitida a dispensa de licitagao, quando uso
destinar-se (art. 76, § 3.°, da nova Lei de Licitagées): a) a outro érgio ou
entidade da Administragao Publica, qualquer que seja a localizagao do
imével; e b) a pessoa natural que, nos termos de lei, regulamento ou ato
normativo do érgio competente, haja implementado os requisitos minimos de
cultura, ocupagdo mansa e pacifica ¢ exploragdo direta sobre area rural,
observado o limite de que trata 0 § 1° do art. 6° da Lei 11.952/2009.
A doagdo com encargo sera licitada e de seu instrumento constario,
obrigatoriamente, os encargos, 0 prazo de seu cumprimento ¢ a cldusula de
reversao, sob pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitagao em caso
de interesse publico devidamente justificado (art. 76, § 6.°, da nova Lei de
Licitagdes). Caso 0 donatirio necessite oferecer o imével em garantia de
financiamento, a cléusula de reversio ¢ as demais obrigagdes serao
garantidas por hipoteca em segundo grau em favor do doador (art. 76, § 7.°,
da nova Lei de Licitagdes).
Na alienagao de bens iméveis, ser concedido direito de preferéncia
ao licitante que, submetendo-se a todas as regras do edital, comprove a
ocupagao do imével objeto da licitagao (art. 77 da nova Lei de Licitages).
Registre-se, por fim, que os incisos Ie II do art. 76 da nova Lei de
Licitagdes dispensam a realizagao de licitagdo em determinados casos que
so similares aqueles indicados nos incisos I ¢ II do art. 17 da Lei
8.666/1993.
174
Locagao de iméveis na Lei 8.666/1993 e na nova Leide
Licitagdes (Lei 14.133/2021)
O contrato de locagiio de bens iméveis é regulado,
predominantemente, pelo direito privado (Lei 8.245/1991).
A formalizagao do contrato de locagao ¢ a aplicago do direito
privado é plenamente possivel nas hipoteses em que a AdministracdoPablica figura na condigao de locataria, bem como nos casos de locagao de
bens integrantes das pessoas juridicas de direito privado da Administragaio
Indireta.
Todavia, conforme sera destacado em capitulo proprio (2.7.5.2), ha
discussdo sobre a possibilidade de contrato de locacao que tenha por objeto
bens piblicos. Em nossa opinido, a locagao é incompativel coma
transferéncia do uso privativo dos bens piblicos que deve ser submetida ao
regime juridico proprio (exs: autorizagio, permissdo, concessao de uso de
bens ptblicos). Alias, 0 art. 1.°, pardgrafo unico, a, 1, Lei 8.245/1991,
dispdes que a Lei de Locagdes no é aplicdvel aos contratos de locagao de
iméveis de propriedade da Unido, dos Estados ¢ dos Municipios, de suas
autarquias e fundagées piiblicas que continuam reguladas pelo Cédigo Civil
(arts. 565 a 578) e pelas leis especiais.
A locagao de iméveis deverd ser precedida de licitagao e avaliagio
prévia do bem, do seu estado de conservagiio, dos custos de adaptagées e do
prazo de amortizagao dos investimentos necessarios (art. 51 da nova Lei de
Licitagdes).
nexigivel a licitagdo na aquisigao ou locagao de imével cujas
caracteristicas de instalagdes e localizagao tornem necesséria sua escolha
(art. 74, V, da nova Lei de Licitagées).
A nova Lei de Licitagdes conferiu tratamento mais técnico & locagao
direta, sem licitagao. A Lei 8.666/1993, em seu art, 24, X, trata a hipétese
como dispensa de licitago. Como afirmamos em outra oportunidade, a
hipétese configuraria, em verdade, inexigibilidade de licitagao, em virtude
da inviabilidade de competigao, tese agora corroborada no texto da nova Lei
de Licitagées.
17.7 SISTEMA DE REGISTRO DE PRECOS (SRP) NA LEI
8.666/1993
O Sistema de Registro de Pregos (SRP) pode ser definido como
procedimento administrativo por meio do qual a Administragao Pablica
seleciona as propostas mais vantajosas, mediante concorréncia ou pregao,
que ficardo registradas perante a autoridade estatal para futuras e eventuais
contratagdes.