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DISCIPLINA: DIREITO PROCESSUAL CIVIL V

PROFESSOR: ROGER LIPPI


SEMESTRE: 2023/1

MATERIAL DE APOIO AO ALUNO

“ A derrota começa na mente”

“ Prepara teu cavalo para a guerra,


mas somente deus lhe dará a vitória”

DIREITO PROCESSUAL CIVIL V

AULA I

I – JURISDIÇÃO: “ jurisdição é monopólio do Estado”

Conceito:

“é a função atribuída a um terceiro imparcial de realizar o direito de modo imperativo e


criativo, reconhecendo, efetivando e protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas,
e insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível. (Fredie Diddider
Jr.)”

TERCEIRO IMPARCIAL – HETEROCOMPOSIÇÃO: trata-se da função de um terceiro


sem interesse na causa, desse modo imparcial, substituir a vontade das partes, determinando a
solução do conflito jurídico. Nasce aqui a característica da SUBSTITUVIDADE, que ocorre pela
substituição da pretensão das partes pela decisão do terceiro imparcial.

Ex: João entra com uma ação dizendo que Mario possui uma dívida de R$ 50 mil reais já
acrescido de juros e correção monetária, em sua peça de defesa, Mário afirma existir a dívida mas
que o valor correto seria de apenas R$ 30 mil reais, visto tratar-se de cobrança de juros
exorbitante. Em decisão judicial a Jurisdição (terceiro imparcial, nesse caso juiz) substitui a
pretensão das partes e afirma que em verdade a dívida de Mário está prescrita tornando-se uma
obrigação natural.

Substitutividade: a vontade do terceiro imparcial substituindo a pretensão das partes em conflito.

Imparcialidade: traduz-se em dois critérios, o primeiro de cunho objetivo, qual seja não ser parte
do conflito, e o segundo de caráter subjetivo, não haver interesse sobre a causa. Somente assim
estaremos diante de um terceiro imparcial.

Critério objetivo: não ser parte do conflito.

Critério Subjetivo: não ter interesse na causa:

OBS: Por essa razão é que será estudada as regras de impedimento e suspeição do Juiz, conforme
o Código de Processo Civil.

Ex: Um filho pode não ser parte em um processo em que o pai é um dos demandantes, contudo o
mesmo pode haver interesse na causa e desta forma não agir de forma imparcial.

Imparcialidade VS. Neutralidade: não se deve confundir imparcialidade com neutralidade. O


Juiz imparcial é aquele que não tem interesse no resultado do litígio, contudo não se pode esperar
a neutralidade do mesmo com relação a causa, uma vez que também é um ser humano dotado de
vivências e experiências capazes de criar juízos de valores. Todavia, esses juízos de valores não
podem ser capazes de influenciar a decisão do juiz no sentido de decidir contra o direito ou
mesmo as provas produzidas sobre o crivo do contraditório.

“ O juiz não deve porém ter interesse no litígio, bem como deve tratar as partes com igualdade,
zelando pelo contraditório em paridade de armas, isso é ser imparcial” (Mauro Capelleti)

Art. 7º É assegurada às partes paridade de


tratamento em relação ao exercício de direitos e
faculdades processuais, aos meios de defesa,
aos ônus, aos deveres e à aplicação de
sanções processuais, competindo ao juiz zelar
pelo efetivo contraditório. CPC

PENSAR FORA DA CAIXINHA! VAMOS


REFLETIR....
Será que a não neutralidade dos juízes não podem influenciar também em sua imparcialidade?

Como fazer para evitar que vivências pessoais possam influenciar nas decisões tomadas
pelo Magistrado?

Eu decido para fundamentar ou eu fundamento para decidir?

O texto no QR code faz uma reflexão sobre a teoria da decisão e a segurança jurídica, baseado na
obra VERDADE E CONCENSO do professor Lênio Streck, que foi resumida em uma sinopse o
que é isso? Decido conforme minha consciência.
IMPERATIVIDADE: a jurisdição é a manifestação de um poder do Estado, e, portanto, impõe-
se imperativamente, reconstruindo e aplicando o Direito a situações concretas. Não trata-se de
uma recomendação, sua aplicabilidade deve ser respeitada pelas partes em conflitos.

Relembrando...... Quais são as 3 funções do Estado? E em qual delas se revela a Jurisdição?

Função legislativa; Função Executiva e Judicial. Função Judicial típica.

EX: as decisões tomadas por um juiz no curso do processo e também na sentença, não é uma
carta de recomendação as partes, deve ser inteiramente respeitada, sob pena de crime de
desobediência e sanções processuais.

CRIATIVIDADE (CRIAR): a ideia de criatividade aqui, não se revela tão somente como fazer
algo inovador e que foge dos padrões convencionais, está muito mais ligada a ideia de CRIAR,
pois toda vez que o juiz analisa um caso em concreto ao deduzir da norma geral posta no direito
material, ao decidir ele acaba por CRIAR uma norma para aquele caso em concreto.

EX: Quando um juiz determina a pena de um acusado no crime de homicídio, aplicando-se todas
as agravantes e atenuantes do crime, o que o mesmo acaba por fazer é para aquele caso em
concreto CRIAR uma norma jurídica que deverá ser respeitada pela sociedade.

EX: Quando um juiz atribui um valor de pensão alimentícia a ser pago a um menor, ele está
CRIANDO uma norma para aquele caso em concreto.
OBS: Não se exclui aqui a atividade de criatividade do juiz ao conduzir o processo no exercício
da jurisdição, podendo o mesmo inovar, desde que por óbvio não venha fazer nada que seja
contrário a lei.

EX: Já existem alguns juízes que utilizam o QRcode em suas decisões para que as partes do
processo tenham acesso a um vídeo explicando os motivos da decisão.

Aprendizagem por meio da Problematização – PBL

Imagine que MÉVIO ingressa com uma ação alegando ter um Direito que não está previsto em
nenhuma Lei, princípio, decreto, portaria, resolução, ou qualquer tipo de norma, e você na
qualidade de Juiz recebe essa petição, e ao analisar os fatos, entende que mesmo sendo um
pedido sem fundamentação na lei o pedido possui um coerência e é razoável. O que fazer
enquanto Juiz? Como seria sua fundamentação? Como iria decidir?

CF/88 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito;

CPC - Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a


alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento
jurídico.
EX: não há na lei a previsão de guarda compartilhada de animais domésticos (PET’s), contudo
levando em consideração o afeto e carinho desenvolvido pelo convício com esses animais, alguns
casais no processo de separação ficam brigando para saber quem vai ficar com o animal de
estimação, e desde 2018 tramita na CCJ uma projeto de lei para regulamentar essa situação.
Contudo alguns juízes já veem de forma criativa aplicando o instituto da guarda compartilhada
para os PET’s. Está aqui um exemplo claro da atividade CRIATIVA do juiz com
CRIATIVIDADE.

SITUAÇÃO CONCRETA: A jurisdição trabalha por encomenda. Ela precisa ser provocada, e a
provocação via de regra partirá de um caso em concreto, de uma situação de fato conflituosa em
que se chamará a jurisdição para atuar substituindo a vontade das partes por meio de uma decisão
de um terceiro imparcial. A jurisdição não trabalha em situação hipotética, não trabalha com
utopias, é necessário uma situação real.

PBL – Aprendizagem por meio da problematização:

É possível a atuação de um processo sem que haja uma situação em concreto sendo analisada?
Um processo que trabalhe uma situação hipotética?

Processo Legislativo.

INSUSCETIBILIDADE DE CONTROLE EXTERNO: A jurisdição tem como característica


marcante não ser controlada por nenhum outro poder, ser a palavra final de uma situação
conflituosa, não sofrer qualquer tipo de controle externo.

OBS 1: é o poder jurisdicional que dá a ultima palavra quando há conflito nos poderes
legislativos e executivo, contudo o mesmo não sofre esse controle dos mesmos, que se restringi
simplesmente a fiscalizá-lo por meio da teoria de freios e contra-pesos.

PBL – Aprendizagem por meio da problematização:

O recurso judicial dirigido a um Tribunal Superior (STJ) pode ser considerado uma espécie de
controle externo da jurisdição?

R: A jurisdição é uma.

APTIDÃO PARA A COISA JULGADA: é característica marcante da jurisdição a aptidão para


tonar imutável e indiscutível a decisão judicial tomada. Após o esgotamento de todos recursos em
todas as esferas recursais, aquela decisão ganha o caráter de coisa julgada, ou seja, coisa
imutável, inalterável.
PBL – Aprendizagem por meio da problematização:

Há alguma hipótese em que mesmo após o transito em julgado de uma decisão judicial, com
aptidão para tornar a coisa julgada, pode-se rediscutir o objeto daquela ação?

De acordo com Fredie Didier Jr., a ação rescisória é “a ação autônoma de


impugnação, que tem por objetivos a desconstituição de decisão judicial transitada em
julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa”. Ou seja, pretende a anulação de
uma decisão judicial.

Art. 966.  A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser


rescindida quando:

I. Se verificar que foi proferida por força de prevaricação,


concussão ou corrupção do juiz;
II. for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente
incompetente;
III. resultar de dolo ou coação da parte vencedora em
detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou
colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV. ofender a coisa julgada;
V. violar manifestamente norma jurídica;
VI. for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em
processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria
ação rescisória;
VII. obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado,
prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde
fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento
favorável;
VIII. for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

CONCEITO DE PROCESSO:

A palavra processo mesmo sobre a ótica jurídica pode ter várias acepções, desta maneira,
iremos trazer um conceito geral do qual iremos retirar 3 (três) subespécies, identifica-las e após
apontar qual iremos nos debruçar.

Conceito Processo Geral: O processo é antes de tudo sob uma concepção jurídica como um
método de criação de normas jurídicas, um ato jurídico complexo e uma relação jurídica.

Processo Legislativo: método pelo qual o poder legislativo obedece um procedimento definido
na constituição para elaborar leis, ou seja, criar normas jurídicas.
EX: processo legislativo para criação da lei de reforma da providencia
Processo legislativo para criação de ume Emenda Constitucional: aprovação de 3/5 em cada
casa do congresso nacional em 2 turnos de votação.

Processo Administrativo: método pelo qual o poder executivo, por intermédio de sua
administração pública produz normais individualizadas e gerais.

EX: A edição de uma Medida Provisória obedecendo o procedimento de elaboração e requisitos


da MP.
Um processo administrativo para retirar a licença de funcionamento de uma determinada
atividade empresarial junto ao estado.

Processo Judicial: procedimento jurisdicional capaz de produzir normas no âmbito no poder


judiciário.
EX: Todo e qualquer processo judicial.

OBS: O que nos interessa nessa disciplina estudar é o processo JUDICIAL ou


JURISDICIONAL. Ocorre que o conceito acima é muito simplório e serve somente para
diferenciá-lo dos 2 anteriores.

CONCEITO DE PROCESSO JURISDICIONAL MODERNO:

“Trata-se de um ato jurídico complexo, cujo o suporte fático é formado por vários atos
jurídicos de formação sucessiva que se difere no tempo, estabelecendo um feixe de relações
jurídicas capazes (parte-juiz-perito-advogado-MP-) de ao final criar uma norma jurídica.”

Explicando: é um procedimento pré-estabelecido em lei que se divide em estadas no tempo


estabelecendo relações jurídicas entre os sujeitos do processo capaz de ao final criar uma norma
jurídica individualizada ou mesmo geral a depender do tipo de processo.

INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO – MUTUALISMO ENTRE DIREITO


MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL:

“NÃO EXISTE PROCESSO OCO: todo processo trás a afirmação de ao menos uma
situação jurídica de direito material carecedora de um tutela jurisdicional.”
O processo deve ser compreendido, estudado e estruturado tendo em vista a situação
jurídica material para a qual serve de instrumento de tutela. A essa abordagem metodológica o
processo dar-se o nome de instrumentalismo, cuja a principal virtude é estabelecer uma ponte
entre o direito material e processual.
É a partir do direito material a ser tutelado é que iremos saber qual é o tipo de instrumento
que iremos utilizar, como por exemplo, será um MANDADO DE SEGURANÇA? UMA
LIMINAR? PROCEDIMENTO COMUM? PROCEDIMENTO ESPECIAL?
Em outras palavras o processo é um instrumento do direito material que serve muitas
vezes para concretizar aquele direito material meramente estabelecido na Lei, é o processo um
instrumento procedimental capaz de efetivar um direito material.
Nesse diapasão, podemos afirmar que direito processual e o direito material tem uma
relação simbiótica, mutualista de modo que um serve ao outro. Ocorre, que a divisão em duas
disciplinas diferentes se revela importante tão somente para fins didáticos e acadêmicos para
facilitar a compreensão dos institutos.

PRINCÍPIOS APLICADOS AOS PROCEDIMENTOS CAUTELARES

PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO:

Dispositivos Legais:
- Constituição Federal/88 - Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Pacto de São José da Costa Rica – Art. 8°.1

Artigo 8º - Garantias judiciais

1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um
prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada
contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil,
trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

OBS: Esse dispositivo foi incorporado em nosso ordenamento jurídico por quórum de emenda
constitucional, ou seja, 3/5 em 2 turnos em cada casa do congresso nacional, logo foi
recepcionada como norma constitucional.

Código de Processo Civil -


Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa.

Art. 139.  O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-
lhe:
II - velar pela duração razoável do processo;

PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE:

Dispositivo Legal:
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito,
incluída a atividade satisfativa.

Conceito: o principio da efetividade garante o direito fundamental a tutela executiva, que


consiste na exigência de um sistema completo de tutela executiva, no qual existam meios
executivos capazes de proporcionar pronta e integral satisfação a qualquer direito merecedor de
tutela executiva.
Em outras palavras, o que busca de fato esse principio é concretizar as decisões judicias
tornando-as possíveis de ser cumpridas, não garantindo apenas o direito no dever ser, no plano
ideal, mais sim de forma fática, material como o bem da vida.

EX: medidas cautelares aplicadas pelo juiz; aplicação de multas; busca e


apreensão; repatriamento etc..

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