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O que é a Historia? Neste capitulo, quero tentar responder a pergunta que Ihe df ttulo, Para fazer Iss0, vou de inicio examinar © que a historia € na worl; epots, examinar 0 que ela & na pris «, por fin, junta teoria © pritien em un dofinigao cética ¢ irénica, construida metodologicament ‘que etpero ser abrangente bastante para proporcionar 3 voce um razoivel conecimento ado apenas da “questo di historia", mas também de alguns dos debates e posigoes que a rodeiam, DA TEORIA, No nivel da teoria, gostara de apresentar dois argumen- tos. 0 primeiro (que esbogo neste parigrafo e desenvolvo fem seguila) éque a historia constitu um dentre unt série cle liscursos 2 respeito do mando. Embora esses dliseursos nfo tiem o mando faquela coist fisica na qual aparenternente vivemos), eles se apropriam do mundo e the dio todes os significados que tém. © pedacinho de mundo que é 0 objeto (pretendido) de investigagao da historia € 0 passado. A histo ria como discurso esti, portanto, numa categoria diferente 23 daquela sobre a qual discursa. Ou seja, passado e histria 10, coisas diferentes. Ademais, 0 passado e a histiria nlo esto tinidos um 20 outro de tal manera que se passa ter uma, € apenas uma letura historca do passado. O passado ¢a hist6- ‘a existem lives um do outro; eso muito distantes ence si ‘no tempo & no espago. Isso porque o mesmo objeto de in vestigacio pode ser interpretado difesertemente por diferen- fes priticas discursivas (ums paisagem pode ser lida/inter- prelada diferentemente por gedgrafos, sociélogos, historia: ‘ores, atstas, economistas eta), 20 mesmo tempo que, em ‘ada ima destas prticas, ha diferentes lekuea interpeotativas zno tenipo e no espago, No que diz respeito a histéia, a huistoriografia most iso) muito bem. (© parigrafo acima no é fii. Fiz um monte de afirmagées, ‘mas, na realidad, todas gam em torno da dising0 entre pas" ‘ido € histria, sa dstinga0 €, portanto, essencal Se for com- prcendida, el € © debate que suscta sjadardo a esclarecer 0 ‘que a historia € na tcona, Por conseguinte, you examinar as alinnagoes que acabo de fizer, nalisando com alguma mindicia a diferenga entre pasado € historia ¢, depois, consilerando slguinas ds principais consequencias dessa diferenga Deixe ne comecar pela idéia de que a histéra, emboca seja um discurso sobre o passaco, esté nama categoria dife- rente dele. 1ss0 pode lle parecer estranho, porque talvez voc# nto tenha notdo essa disting20 antes ou, do contro, lalvez ainda nio tenka se preccupado muito com ela. Uma ‘as razbes para que 30 acontega ~ ou sea, para que emt ‘ger a distingo seja debxada de lado ~ € que tendemos a perder de vista © fato de que realmente existe esa disting20 ‘entre a histria ~ entendik como 0 que foi eserito/registrado, sobre © passido ~ ¢ 0 proprio passado, pots a palavea “hist Fa" cobre ambas as coisas Portanto, o prefesivel seria sem- pre marcar essa diferenga usanelo © term “o passado” para tudo que se passou antes em todos os lugares e a pala “historiografia” para a historia; aqui, historiogafia” se refere 08 escrtos dos historiadores. Também seria um bom eriério ( passado como 0 objeto da atengio dos historiadores, 2 historiografia como a maneira pela qual os historiadores 0 abordam) deixar a palavra “Histéia” (com H matisculo) para indicar © todo. No entanto, é dificil livrar-se do hébito, © eu mesmo talvez use “bistéria" para me referir a0 passado, a histodograia ea ambas as coisas. Mas lembre que, se e quando ‘eu fize is0, starei vando em conta tal distingo ~ © voce ‘deveria proceder da mesma maneira ‘Contudo, pode muito bem ser que esse esclarecimento sobre a distingio entre passado e histéria parega coisa v2. ‘Talvez voce pense: “E daP Que importincia tem isso?" Permi- tame oferecer 1€s exemplos de por que ¢ importante enten- der a distingo entre passado € hist6ra, 1.0 pasado ji aconteceu. Hle jf pissou, ¢ 08 historiado- es 36 conseguem t22-lo de volta mediado por vefculos ‘mito diferentes, de que st0 exemplo os livros, anigos, documentiris et, nlo como acontecimentos presen: tes. O passado jf passou, ¢ a histria & 0 que os histori- adores fazem com ele quando poem maos 2 obra. A. historia € 0 oficio dos historiadores (e/ou daqueles que gem como se fossem historiadores). Quando 08 histor adores se enconteam, a primeira colsa que perguntam ‘uns aos outros €: "No que voe8s esti trabalhando?” Esse trabalho, expresso em livres, periédicos ete., € 0 que voct Ié quando estuda historia. Iss significa que a hist6- fia esd, mui lieralmente, nas estantes dis bibliowecas € de ouiros lugares. Assim, se voc® comegat a fazer um curso de histOriaespanhola seiscentista (por exemplo), fo vai precisar ir ao século xm nem & Espanha; com a ajuda de uma bibliogratia, vai, ito sim, 2 biblioteca. E ali que esta a Espanha seiscentista, catalogada pelo sistema decimal Dewey, pois aonde mais os professores man- dam voee ir para estudar? Claro, voc® podesia ita outros lugares onde € possivel encontrar outros vestigios do passado por excmplo, 20s arquivos espanheis. Mas, onde quer que vi, sempre tera de lev/interpretar. Essa Teitora no é espontiner nem natura. Ela & aprendida em vitios cursos, por exemplo) e informada (ou sea, dotada de significado) por outros textos. A historia (historiogralia) & umn constructo lingdistico incertextvl 2. Digamos que voc® esteja estudando parte do passado ‘inglés (0 século xm, por exemplo) no secundrio briini- co. Vamos inaginar que voce use tn renonrado com: péndio: England under the Tudors, de Geoflrey Eton. [Na aula em que se ata de aspectos do século 3, voce faz anotagdes em clase, Mas, para os trabalhos € 0 gros- 0 da eevisio da matéri, usa Elton. Na hora do exame, cesereve & sombra de Elton. Ao pass, est aprovaclo em histéria ingles, ou se, est4 qualifieado na anise de certos aspectos do “passido”, No entan, seria mais ace tado dizer que voc® passou nao em histria inglesa, mas ‘em Geoffrey Elton ~ pois, nessa fase, o que € sua "et ra” do passado inglés seno uma leitars de Elton? 3, Esses dois eipidos exemplos da distingo entre passado fe bistoria talvez fagam parecer que se tata de algo sem ‘malores conseqiéncias. Na realidade, porém, aquela dis: tinea pode ter efeitos enorines. Bis outro exemplo para iiystrar isso; emborn milhoes de mulheres tenham vivido no passado (na Grecia, em Roma, na Idade Média, na Arica, nas. Américas), poueas aparecem na histbra, isto 6, nos textos de historia. As mulheres, para citarmos ‘uma frase, foram "escondidas da hist se, siste- raticamente excluidas da maioria dos relatos de historia- doves. Por conseguinte, as feministas st2o agora engaj ‘das na tarefa de “fazer as mulheres voltrem paraa histo- fia", 20 mesmo tempo que tanto homens quanto mulhe- res vém examinando os constructos de masculinidade ‘que slo correlatos a0 tema? Nesta altura, vocd talvez pate para considerar quantos outros grupos, pessoas, powvos, classes foram e/ou so onitidos das histrias & [por qué; e auais poderiam ser as conseqn grupos" omtdos dominassem os relatos historic e se (08 grupos hoje lominantes ficissem a. margern Posteriormente, diremes mais sobre & importincia © as possibilidades de trabalhar a dlistingio entre passado Hist fia, Por or, eu gostaria de avaliser outro argunmento daquele paragrafo anterior (p. 24) no qual digo que precisamos en- tender que 0 passado a historia ndo estho unis um 30 ‘utr cle tal mado que se possa er una, e apenas uma letra de qualquer fendimeno, que © mesmo objeto de investgagso passivel de diferentes interpveiagoes por diferentes discur- 808; € que, até no Ambito de cacla um desses discursos, hi intexpretagdes que yasiam e diferem no espago & no tempo. ora comecar a exemplificar iss, vamos iniginay ave ppossimos ver tins pisagem inglesa ataves de uma fanela (oa0 toda 4 paisagem, pois a jane a “enguadea” muito lite- ralmente), No primeiro plano, esto Viriasestradinhas; mais ‘além, outras estradinhas, ladeadss por casas; ht campos on- dulantes , neles, casas de Fazenda, Na linha do hosizonte, 3 alguns quilémetros, vemos uma sucessio de moreos baixos. No plano intermedirio, uma eidadezinha com uma Feira. © ‘eeu € de um azul pido 10 ht nada nessa paisagem que diga “geoprafia’. No centanto est claro que um gebarafo pode jul la em terrnos ‘Reografices. Assim, cle pose “ler” que a terra exibe priticas & padides de uso especificos; as estadinhas podem tornarse pane de una série de redes de comunicacio local e/ou seg ‘onal as fazendas © a cidade podem ser “lida” em termos de uma distibuigio populacional especifica; carts topogrélicas podem mapear 0 terreno; gebgrafos espcializados, explicar © clima e, digamos, os tipos decorrentes dle irigagio. Desst rmaneira, 6 panorama pocera viraroutra coisa: eografia. De ‘maneica semelhante, tim soci6logo poderia pegar a mesma paisagem ¢ elabor Ja em termes s0« wlSgicos:-as pessoas na ‘dade poderiam tomar se dados para estruturas ocupacionss, lamanho das unidades familiares ete, 2 distribuigde popallacional, ser considerada em termos de classe, renda, lide, x0; 0 cna, ser visto como algo que afeta as possibi Tidaues de lazer; e assim por diane. (Os historiadores também conseguem transformar a mes- ma paisagem em discutso proprio. Os atuais padroes de uso da terra podem ser comparados com os da fase anterior 05 Grandes Cercamentos; a populagio atual com a de 1831 ‘08 1871; pode-se anulisar como a propriedade Funditria e 0 poder politico evoluiram no decorrer do tempo; examinar ‘como im pedacinho da paisagem adentra um parque nacio- nal, quando e por que a ferrovia € 0 canal fluvial deisaram de funcionar ete. ra, dado que aquele panorama ao tem nada de intense co que grite “Geogr”, “Sociologia, “Hisria” etc, pode mos Ver claramente que, embora 0s historadores ¢ eds 0 ‘ouuos mo Inventem 4 paisiger (todas aquelss coisss pare- ‘eum estar mesmo Ii, eles realmente formula todas as cate ‘poras descrtvas dessa paisagem e quasquersigniicalos que ‘se possa dizer que ela tem, Fles elaboram as ferramentas ana- lease metodologicas pura extrair dessa mtri- prima 2s as maneiras propras de lela e falar a seu respeito discurso. B nesse sentido que lemos 0 mundo como um texto, ¢ tas leit ra so, pela Kégica,infinias. Nio quero dizer com 50 que 1s simplesmente inventamos historias sobre o mundo ou so- Iie © passido (ou seja, que tavamos conhecimento do mu ‘do our do passado € eotdo lnventamos narrativas sobre ele), hug sim quea afimagio é muito mais ferte: qe o mundo ou © passado sempre nas chegim como naratvas © que no ppodemos sai dessas natativas para verifica se cortespondem 0 mundo 00 40 passado reas, pots elus consttuem a "realida- de", No exemplo que estamos vendo, is80 significa que a sagem (a qual ganha significado apenas quando lida) ndo con- 8 segue estalchscr definitivamente tais leineas; assim, os ‘gedgrafos podein ierpretre reinerpretar (er ¢ rele) a paix Sigem sé ndo mais poderem, a0 mesmo tempo que «iscor dam do que est sendo dito “geogralicamente”. Ademais, dado ‘que a geografia nem sempre exist como discurs0, entio no apenas as interpretagoes dos geografos tiveram de comecar tum dia © foram sempre diferindo no tempo espago, mas também os proprio gedgrafos entenden/igem diferentemen {eo que constiti o discurso no Ambito do qual tabalam, Ow cj a propria geografia como maneira de ler o mundo precisa de interpresaglo/bistoriazaco. E 0 mesmo se (lA com a socio gia © a histéria. Sociologos e histriaciores diferentes inte pretam de maneira distinta © mesmo fenémeno, por meio de ‘outros discursos que estdo sempre mudando, sempre sendo Secomposios e recompastos, sempre posicionados e sempre posicionando-se, ¢ que por sso precisim que aqueles que 0s {sam fagam nea autocsitica constant, ‘Nesta altura, vamos entio presumi f tetmos demonstra do 0 argumento de que a historia como discusso se encontra ‘noma citegoria diferente daquela na qual o passado esti. No ccomece do capitulo, porém, eu disse que, no nivel da *teo- fix” com relaglo 4 pergunta “O que €a histéria, eu apresen= taria dois rgumentos. Fis 0 segundo, Dada a distingio entre passado e hstéra, o problema para fo historiador que de algum modo quer captar 0 passado em seu discurso histrico tors este: como se coneiliam aque- las duaé coisas? Obviamente, a maneira com a qual se tenta fest conexdo ~ a maneira com 2 qual 0 historiacdor tent fentender 0 passado ~ € crucial para Jeterminar as possibil- ‘dudes do que a historia é e pode ser, até porque a pretensio ‘da histéria 20 conhecimento (em vez de considerarse simn- ples fé ov alegagio) € 0 que a torna o discurso que & (com isso, quero dizer que os historiadores no costuana consi erase fecionists, embora possam sé-lo sem se dare con- ta) No enianio, se exise diferenca entre passado e historia, 2 © se 0 objeto da investigasio em que os histriadores taba Tham est# ausente an maioria de suas manifestagdes (pois $6 sestam vesigios do passdo), ent2o claramente ha todo tipo de limite controlando as pretonsdes que os historiadores pos- ‘sim ter a0 conhecimento. F, nesse coneiliar 0 passido com 3 historia, surgem para min tr8s eampos teoricos muito probl- rlicos. Sio reas di epistemologia, da metodologa e da ‘deologis, cada uma das quais precisa ser explicada se quete- snes ver 6 que € a histor, ‘A epistemologia (do gtego aptieme, "conhecimento”) se sefere 30 campo filesstico das teorias clo conhecimento. Essa rea diz respeto a como sabemos 0 que quer que seja Nesse sentido, a bistria integra outro discurso, a filosofa, comando parte na questo geral do que & possivel saber com referen- ia A propia ren de conhecnento di historia 0 passado. E aqui Yoc? tlver ja ves © tamanho do problema, pois, se € ‘omplicado ter conhesimento de algo que existe, ento fea ‘specialinente diffi dizer alguna coisa sobre wm tema ef vamente ausente como € “o pasado na histéra", Porant, parece dbio que todo esse conhecimento € provavelmente ieunstancial € elaboraco por historiadores que ttabalham 0b todo tipo de pressuposto e presso, coisas que, ¢ ero, no atuam sobre as pesscas do passado. Nao obstante, ainda vemos historiadores tentarem invocar ante nossos olhos 0 especto do passido real, um passado objetivo sobre 0 qual 1s relatos desses historiadores seriam precisos e até verda eiros, na acepea0 mais ampla da palavra. Pois bem: acho (que tals pretensGes & verdacle alo sio ~ e nunca foram ~ passiveis de realizar-se, e eu ditia que em nossa atual situ {lo isso ji deveria ver Sbvio, conforme argumentei no capi Tule 3. Nao obstante, est claro que aceitar isso — permitir que a divida se instale ~ afeta o que voc® pode pensar que a historia seja, ito €, dé a vocé uma parte da resposta para 0 ue a historia € e pode ser. Porque, 20 reconhecermos que ‘io sabemos realmente, a0 vermos a histéria como sendo x0 peta logica) qualquer coisa que queirames que ela seja (a distingo ente fato e valor, alm da circunstincia de ter have ‘do tantas histrias, possbilia 880), nds vamos colocar a ques- tio de como historias especifcas vieram a ser elaboradas segundo um € no outro mokde, em tern0s nito s6 episte- mol6gicos, mas tamibém metodolbgicos e ideologicos. Nesse ponto, o que & possivel saber e como € possivel saber Fnteragem com 0 poder. Em certo sentido, porém, Isso 56 acontece ~ € wata-se agora de algo que precisamos enfaizar = por causa cla fragilidade epistemologica da hiss. Por. ‘que, se fosse postivel saber de wma ver por toes, hoe © sempre, entio no haveris mais necessidade ee escrever his {ra, pois qual seria © proposito de um sem -ndmeso de his- toriadores ficarem repetinds a mesmissima coisa da aneira o tempo tol? 4 historia (os constructos histérics, e ng 0 “pasado e/ou futuro") paraia. Ese voe® ache absurda a idéia de parar a histéria Cou se, prrar os historiadores), iba que no €: 880 € parte mio apenas do ince 1964, por exemplo, mas tanbéim da Buropa des ‘anos 30~ a epoca e o higar mais imesiaios que fiers Geompe ‘Orwell considera aquela idea Portanto, a fragilidade epistemologica permite que as inter- presagoes ds historiadores sam multiplices (um 56 passado, ‘muitos historiadores). Mas 0 que torn a histria tio Ieigil emt termos epistemolbgicos HE quatro respostas hisicas. Em primeiro lugar (e agora eu recowro bastante 20s argu smentos de David Lowenthal em seu limo The past a foreign ‘country, nen bistoriador consegue abarcar ¢ assim recu- perara totalidade dos acontecinentos passados, porque o "con tetido" desses acontecimentos &praticamente iimitado, Nao & possivel relatar mais que uma fagio do que jé ocorreu, € 0 relato cle um historador nunca corresponde exatamente 30 ppussado: o simples volume desse Ghimo inviabiiza a histla {otal A maior parte das informagoes sobre o passado munca foi reistrada, ¢ a maior parte do que permaneceu € fugaz a 2m segundo lugar, nenhum relato consegue fecuperst © pssado al qual ele era, porque © passado slo acontecmen tos stuagbes etc, e no Um relate. Jf que o pasado passou, relites 56 poderdo ser confontados com outs relats, nun «como passado, Juans a "presto" dos relatos de histo- ‘adores isd: as interpretagbes de outros historiadores, € ‘io existe nenhuma narrativa, nenbiuma bist “verdad Fa", que, a0 fim, nas possbiiteeonkrontar todos 08 outros relates com ela — sto €, ado existe nent texto fundamen- Ginente "corto" do qual 39 outta IntezpretagBes seam ‘pends variagdes que existe slo merasvaragdes. O crc clikural Steven Giles resume bem esse aspecto, quando co menia que o passado & sempre percebido por meio das ca- nade secimentares cs interpretagdes anteriores e por meio dos hbitos categoria de “eitura® desenvolvios pelos ds {ais0sinlerpretatives anteriores e/ou tals Ese insighitane ‘bem nos possibita amar que tal maneira de ver as coisas toina o estudo da hii (O passado) necessariamente usm ‘silo da histoograia(s historadores); por consequine, a Nisoviognfia passa x ser considerada no um adeno 20 tudo hiséria, mas a prépeia matéda constuive dessa Shima. & um campo a qual voltre no capitule 2. Por ene ‘quanto, vamos & teceira razdo para que a histria se mostre Irigil em termos epistemologicos Essa ruzio € que, ndo importando 0 quanto a historia se auenticads, amplamente aceita ou venfiavel, ela est fadada a ser un constveto pessoal, uma maniesiagao da perspeniva do histriador ebmo “nator. AO contrtio th mena dives (que em a i € suspeita, a histria de- ppende dos ols edi vee de outres, vemos por ieterméio dle um interprete que se interpoe ent os acontecimentos passados elites que delesfazemos. caso que, cont tne dia Lowenthal, a histraeserta red a ibentade logic do historiador pars escrever tudo que he der na teba, pois fos permite 0 dees as suas Fontes. NOentunto, 0 ponio de vista e as predilesées do historiador ainda moldam a esco: Tha do material, € noss0s proprios constructos pessoais de terminam como 6 iniexpretamos. © passado que “conbece ‘nosso prdprio “presente”. Assim como somos produtos do passado, assim também o passido conhecido (a hisiéria) € lum artefato nosso. Ninguém, nao importando quo imerso cesteja no passado, consegue despojar-se de seu conheci- mento e dle suas pressuposicoes. "Para explicarem o passa- do, 0s historiadoces vao aléma do efetivamente registrado & Formulam hipoteses seguindo os modos de pensar do pre- sente", diz Lowenthal. “Maitland nota que somos modernos «que nossas palavras e pensamentos s6 podem ser moder- nos, Segundo ele, i @ tarde demais para sermes ingleses iedievais."* Postanto, existem poucos limites 2 influéncia de discursas interpictativos que procuram recuperar © pas- sado pela imaginagio. "Vejam’, diz © poeta susso Velemir Khlebnikov em seus Decretos aes planctas, “0 sol obedece a ‘mila sintaxe.”” Veja, diz @ historiador, o passado obede ce 4 minh interpretagho, B possivel que isso pareca um tanto poético. Portanto, talver possamos ilustar com um exemplo mais simples esse argumento de que as fontes impedem a liberdade total do hitoriador e, a0 mesmo tempo, ndo fixam as coisas de cal modo que s# ponha mesmo fim a iafinitas interprecagoes. Eis 0 exemplo: existe muito desacordo sobre as intengoes de Hilerspos ele ter conquistado © poder e sobre as casas dla Segunda Guerra Mundial, Nesse campo, uma discordncia dle longa data e muito faniosa se dew entre A. J. P. Taylor & Hugh Trevor Roper. Ela nto se baseava nos méritos desses dois histoiadores ingleses. Ambos eram muito experientes, ambos tiaham “habilades", ambos sabiam ler documentos (6, no caso em pauts, 05 dois frequentemente liam as mes- mos). Apesar disso, tum nilo concordava com 0 oul. AS sim, embora as fontes/acontecimentos possam simplesmen: a te impedir que se diga tudo que se queita, eles também nio Iimplicam que se deva segule uma Gnica intespretacio. fs trés rides cladas aciona para a faglidade epistemo- logica da historia se baseiam na ideia de que a histéria & menos que 0 passado ou Se, ailéi de que os historiado- fes 36 conseguem recuperar fragmentos. Mas a quarts mzio| vem enfatigar que, gracas 4 possibilidade de ver as coisas em Fetrospecto, nos de ceta maneirasabemos mais sobre o pas- sad do que as pessoas que viveram Is, Ao tractzir o passa {do em termos modemos e usir conhecimentos que talvez pido estivessem disponivels antes, 0 historiador descobre nao 6.0 que foi exqtueckdo sobre o passado, nas também "recons- tiuit colts que, antes, nunet estiveram constituidas como {al Assim, as pessons ¢ formagdes soci so captadas em processos que s® podem ser Vistos reuospectivamente, en ‘quanto documentos e outros vestigios do passado sto tirados {de seus propésites ¢ fungdes origina para iustrar, por exem plo, um pacao que nem temotamente tinh significado para seus autores. Conforme diz Lowenihal, do 160 € ine: Vitivel. A historia sempre eld nova FeigRo as coisas. Bla muda fu exagern aspectos do passida, "O tempo & escoread; os detalhes,seleclonados e reakados; a agio, esumida: a5 rea es, simplificadas, mio para slterar [de caso pensado} os acon tecimentos, mas para [1 dares significado." ‘Até 0 cronista mats empirico precisa crar esrururas nara- tivas para dar forma a0 tempo e a0 espaco. "O Ielatol pode st ser apenas uma maldita coisa atras da outea [...] mas no pode parecer ser apenas i80, pois ai todo o significado seria expurgiclo cele B, dado que as narativas enfaizam 08 ne- x08 € minimizam © papel das rupturas, Lowenthal conchui ‘que 08 relatos historicos tal como os conhecemos parecem ‘ais abrangentes © perceptives do que © passado nos di motivos para erer que tenha sido. sees, portanto, Sto 0 limites epistemol6gicos principals Gados bem conhecidos). Eu os tracei de modo sipilo e su perfical, € voce pode ir além e ler Lowenthal ¢ os outros. ‘Mas agora pretendo seguir adiante. Porque, se esses s0 0 limites epistemoldgicos para o que se pode Saber, entio eles ‘obviamente se inter-relacionam com a8 maneiras pelas quais (0s historiadores tentam descbrir © maximo possivel B, tanto ‘nos métodos historiogrficos quanio na epistemologi, ni existe ui procedimento definitvo que se possa usar por ser le 0 correo; 08 metodos dos histortadores sto sempre 20 frigels quanto as sus epistemologias. ‘Avé aqui, sustentel que a hstévia & um discurso em constan- te transformagio constuldo pelas histoiadores e que da exis- {encia do passado nto se dechiz uma interpretaeao dni: ude © olhar, desloque a perspectva, e surgiclo novas interpreta- oes. No entante, embora os istoradores saibam de todas esas cosas, a maoria parece esconsideclas de caso pens dlo ese empenha em alcancar objetiwidade ea verade mes smo assim. E essa busca pels verde tanscenwle posigdes ideo logicas e/ou metodologtcas Assim, naquilo que (de certo modo) poderlameas denom- nar dieita empiricist, Geolfrey Elton (em The practice of Dristor)afigma no inicio do cipitul sobee pesquisa: “O est do da historia equivale a uma busea pela verdade’.” , em- bora aquele mesmo capitulo se conciua com uma série de ressalvas Co historiador sabe que 0 que esti estudando & seal, [mas] sabe que nunca conseguiré ecuperar todo © real LJ ele sabe que o processo dla pesquisa e reconstiigaohis- (ériea nao termina nunca, mas também esta eénscio de que Jss0 ndo tosna sea trabalho ira ow ilegiimo”), € ébvio que tais adverténcias ao afetam scriamente aquela antiga “busca pela verdade" No que (também de certo modo) podertamos ehamar de cesquerda marxista, E. P. Thompson escreve em A mvéria da feoria: “faz algum tempo [.},a concepeao materalsta da hibt6ria 1 vem ganhando autcconfianga’ Na qualidade de pritica madur [..J, ela @ talvez a disciplina mais Forte a ter 35 surgido da tadklo maetista. Mesmo nessas ulimas poucas lécadas |..}08 avangos témm sido considerives, ¢ supde-se ‘que sejam avangos do conbectments." Embors Thompson reconhega que iss0 mio quer dizer que tal conheciment seja passivel de “prova clentifica’, ele mesmo assim © tem por conhiecimento re , maguilo que (ainda de cesto mado) poderiamas consi- denar o centro empiticiss, A. Marwick reconhece em The nature of bistory 0 que ele denomine a “dimensio subjetiva" «los relatos historiogificos." Mas, para Marwick, essa climen- Slo esti nto na postara kleolbgien de historiador (por exen plo), e sim na natuseza das provas apresentadas, pois 0s bis- toviaclores se véem “forgados pela imperfeigao de suas fontes a exiiem um grau maior de interpretagao pessoal". Asin sendo, Marwick arguments que & trabalho dos historiadores esenvolver "severas regis metodologicis’, pelas quais eles possam seduzie sus interveng®es "mois. Marwick estabe- lece ai uma conexao com Elion: este “insist em que, $6 por «que a expiicagio historica nao & determinada por leis univer tis, 90 niu quer dizer yun elt niu seja nepaht por regras Para tolos esses histortdores, powtanto, o conhecimento ea legitimidde advém de regras e procedimentos metodor logicas rigs. B iss0 que limita a liberdade interprestiva dos historacores. ‘Meu argumento & diferente, Pars mio, © que em dima unilise deteroina a interpretagao esti pura alem do metodo ‘dis provas — esti nat Uleologia. Porque, embora a matorla {los histortadores concorde ure um metodo rigoroso & im: potanie, existe o problems le sbera qual metodo sigoroso bles se referem. Ens Tbe naire of bistory, Marwick passa em revisa ans selecao de métcdlos, entre os quis (Supoe-se) poxleios escolhier nosso favorito, Quem voce gostaraa de ‘eguil? Hi Hegel, Mars, Dilhey, Weber, Popper, Hempel, Arcn, Collingwood, Dray, Oskeshou, Danto, Gali, Wash, atkinson, 6 Leff, Hexter.. Ou voc’ prefere os empircisis moxlernes, feminists, # escola dos Annales, os neomarxstas, os neo estilstas, os econometristas, 08 estruturalisias, os pés-esttl- ralistas ou mesmo o proprio Marwick? a citamos 25 possibi- lidades, e trata-se de una lista cuninhal A questio & que, mesmo se conseguirmos fazer uma escolha, quais sesiamt os ‘ritérioe Como poderiamos saber qual metodo nos conduzi- fia a0 passaco mais "veradeiro”? Claro que cada um desses métodos seria rigoros0, ov sej, sistemaico e coerente, mas, cle também remeteria sempre a seu préprio quadro de refe- Fncias. Iso &, ele poderia aos dizer como apresentar aqgi~ fpntos vil segundo sas diretivas, ms, dads tds aque= las opedes para unto, 0 problema de disciiminar de alguma maneira entre 25 escolhas simplesmente teima em 120 ser resolvido. Thompson € rigoroso, wis Fhon também. Com base em que vanins escollier? Em Marwick? Mas por que ele? Aciso nao sexi provavel que, no fim de contss, escolhamas ‘Thompson (por exemplo} porte gostunos do que Thompsor faz com seu métode? Gostames de suis raedes para traballae ‘com a hist ~ pois, se ouros fatores no imtervierer, pelo ‘que mais faremos nossa escolha? Resumindo: € enganoso falar do método como o camino, para a verdad Hal uma ampla gama de metodos, sem que fexista nenhur citéio consensual pura escolhermos dente cles. Com freqiéncia, pessoas comio Marwick arguientam ue, mio obstante todas as dilerengas metodotégicas entre Cempircistas eestrauraistas (por exemplo), eles estao de acor- {lo no fundamental. De novo, porém, 3s coisis nao sao as- sim. O fato de of cstruturalistas chegarem a extemos para fexplicar com muita minicia que nao si0 empircistas ~ mais fo fato de terem formulado suas aborlagens especifiasjusta- ‘mente para dlferenciar-se de todo murilo ~ parece ter sido tum tanto desconsiderado por Marwick etal ‘Agora, quero Wralar rapidamente de apenas mais ua arg mento referente ao método, umn argumento que aparece com a fhegQiéncia em textos introdut6rios sobre a *natureza da his- \6ria", Ele se refete a conceitos © € 0 seguinte: wdo bem, talve2 as eiferengas metadoldgicas niio possam ser elimina: «las, mas ainda assim nao existem conceitos fundamentais ‘que tolos os historladores usame F disso nto se conclui que les tenhan algum terreno metodol6gico em comun? ‘Ora, por certo € verdade «ue, em tades 0s tipos de hist, “deparamios continuamente com 05 suposios "conceites hist. ‘05" (por nao serem dlenominados “conceitas de historiado- res", eles paecem impessoais © objtivos, como se petences- sem 4 uma histéria que, de algm modo, surgi por geragio ‘espontinea.) E alo & s6 isso: com bastante regulaidade, tis ‘conceitos slo chamados os “alicerces” da histia. Trata-se de ‘oss como, por exemplo, tempo, prova/corroboragto, ‘empati, causa @ efeito, continuidace © mudanga ete Tao vou argumentar que nao se devan “wabalhae” concei: tos, mas me preocupo com o fato de que, quando se apre seniam esses conceitas expecificos, Kens a forte impresso de que eles S20 mesmo dbvivs € etesnos e constitiem os componentes bisicos e universais do conhecinento hist 0, No entant, isv0 & ldnico, pois uma das coisas que a bert das perspectvashistoriogeificas para horizostes mais amplos de-ia ter feito era justamente historicizar 2 propria historia — ver que todos os relatos histricos no sao prisio- neitos do tempo e clo espago €, asim, ver que as conceitas historiogrficos nio so alicerces universais, mas expresses localizadas e particulars. € facil demonstra a histoncizagao no caso dos conceitos “em comum’ Num astigo sobre novos desdobramentos no campo da historia, o pedagogo britinico Donald Steel ponderov de que rmaneirs certos conceitos se tornaram “alicerces', mostrando ‘que, na década de 1960, cinco grandes conceit foram kden- tificados como elementos consttutives da histéria: 0 tempo, © espago, a cronologia, o juiz0 moral 0 realismo social ‘Steel assinala que, em 1970, esses elements jf haviam sido 8 refinados (até por ele mesmo) para formecerem 0s “conceitos fundamentas” cla hstérs: tempo, prowa; east e eft, con- tinuidade € muclan¢a; e semelhanca ediferenga. Steel explica «que, na Inglaterra, foram esses conceitos que se tornarim a base do curtculo historico nas escoias e que influenciasam, & «continua influencianeo, tanto os cursos ce graduag0 quanto ‘sistema edhcacional de modo mais geral. Aparentemente, pportinto, aqueles'velhos” alcerces estio hi cerca de 1s ecadas apenas, no sio universais e se originaram no os métodos historiograficos em si, mas do pensamento pedago ico geral, Obvizmente, esses alicerces conceituais também slo ideol6gicos, pois o que poderia scontecer se outs fos sein usados para organizar o campo dominate ~ por exem- plo, conceitos como estrutura/agente, sobredeterminag0, con- juntura lesenvolvimento desig, cenito/perifeia, dominan- fe/mayginal, base/superesinuura, rupnura, genealoga, men- talidade, hegemonin, elite, paradigma cte? € hors de abor dasmos 2 ideologia diretamente Delxe-me comesar com um exemplo. Neste ponto do tem= po e do expago, poderismos muito bem implantar em ual {quer curriculo do ensino médio ow universirio inglés um curso de histéria que seria bastante *hstéxico" (no sentido de “que se pareceria com outras histéras), mas no qual a escolha temuiica € metexlologica sera feta de wma perspectiva ne- ‘2, marxista e feminista. Entetanto, au duvide que haja tal ‘curso em algum lugar da Inglaterra. Por qué? Nao porque ‘no seja historia ~ ele € = mas porque na realidade as fem nists marxistas negras nao tém poder de proporcionar a esse curso © tipo de insergio publica que existe em nostas inst tuigdes de ensino. Condo, s F6ssemos perguntar as pesso- as com poder de decidir 0 que consti um “currieulo ade- quad" ~ as pessoas com poder de efetuar tis inclusdes e/ou exclusdes -, elas provavelmente argumentariam que a jst ‘ativa para tal exclusio esta em que aquele curso seria ideo- logico. Ou seja, que as motivaydes de tal historia viriam de w preocupagdes alheas & historia propriamente dita — que aquela historia seria um veiculo para expressar determinada posiclo com objetivos propagandisices. Ora, essa distingao entre a histria ideol5gica" € a *histéria propriamente dita" € inte- ressante porque implica, © € esta sua intengio, que centas hist6rias (em geral as dominantes) no si0 de modo algum idcokigicas, nem expressam visoes do passado que seam, aleias ao tema. Mas jt vimos que os significadas dados as Instorias de todo tipo sao necessariamente isso mesmo ~ sig nifeados que ven cle fora. Nao sigoificados intinsecos do passado (nao mais do que a paisagem ja inka em si os n05- ‘sos significados antes de os termos colocade li), mas signif ‘cos dados ao passado por agentes externos, A hisria nunca se hia; ela sempre se destina a alguém, Por conseyuinte, parece plausivel que as formagbes so: ciais especiticas querem que seus historiadores expressem ‘coisas especificas, Também parece plausivel que as posigées predominantemente expressas serio do ineresse dos blocos ‘dominanes dentro daquelis formagoes socins (nto que tals posigdes surjum automaticamente € depois sejam assegua ‘dis para sempre, ponto-final, sem sofrerem nenliuina contes {agi0), O Tato de que a histésta propriamente dita seja ura constructo ideolbgico significa que ela estésendo constante- mente retvaballala e reordenala por todos aqueles que, em diferentes graus, slo afetados pelas relagdes de poder ~ pois 6s dominados, nto quanto os dominagtes, em suas propa as versbes do passado para legitimar suas respecivas pratt ‘eas, versoes que precisam ser tichadas ce impropriase asim cexcluidas de qualquer posicio no projew do dliseurso domi huunte, Nesse sentido, eeordenar as mensagens 4 serem trans mitidas com freqidénda, ormndo ncademico chanya de “con. Irovérsias” muitas dessis reordenagoes) & algo que precisa ser continuamente elaborado, pois as necessidades das o> Ininantes e/ou subordinados estao sempre endo retraballhadas ‘no mundo real A medida que eles procuram mobilizar pes a5 para apoiarem seus interesses. A hisiria se Forfa em tl Confit, ¢ esté claro que estas necessidades conftantes incidem sobre os debates (ou sea, a luta pela posse) do que é a historia, “Assim, nest aur, jé fica claro que responder & pergunta| *0 que é & histérk’” de modo que ela sea realista esté em _substituéta por esta outra: "Para quem € a historia” Ao fazer: rs i880, vemos que a histéra est fadaca a ser problemt ‘a, pois Se trata de um termo e um discurso em litigi, com diferentes significados para diferentes grupos. Uns querem vuma hist6riaasséptica, da qual o conflio ea angssta estejam dusentes, outros, que a historia leve A passividade; uns que~ rem que ela expresse um vigoroso indvidualismo; outros, ‘que proporcione estratégias evlicas para. a revolugao; outros dinds, que fornega base para a conta-revolugio... E por at vai. £ Hell ver que, para um revolucionirio, a historia s6 pode ser diferente daquela almejida por um conservador, ‘Também ¢ fiel ver que a lista de usos da histria € infin, tam pela légica quanto pela pritica. Alina, que aspecto te fia una bisxéria com que todos pudesser concorde de uma ver por tras? Permita que eu thst esses comentitios com tum tipido exemple. 'No romance 1984, Orwell escreveu que quem contrcla © presente contol © passado e quem controlao passado con- tuola © futuro, Isso parece ser também provivel fora da fic 80. Assim, as pessoas no presente necesstam de anteceden~ {es para localizarem-se no agora e lepitimarem seu modo de vida atual e futuro. (A bem dizer, dada a listingto Ftc, 16s “Tutos" do pasado, ov tudo mais, nd0 legienam absol ‘mente nada. Mas 0 ponto é que as pessoas agem como se legitimassem.) Portanto, elas sentem a necessidade de enrat zarem o hoje e 0 aman em seu ontem. Recentemente, esse foatem tem sido procurado (¢ achado, jf que o passado se predispoe sustentar incontiveis nareativas) por mulheres, ‘gros, grupos regionais, minorias diversas etal, Esses passa- dos sio usados para explcar existénctas presentes e projetos| Fturos, Remontand um pouco mais ao tempo, veremos que classe raballadora também procurou enraizarse mediante uma tajetria elaborada em termos historicos. Remontando ainda mais, x burguesia descobriu sia genealogia e comegou ‘a elaborar uma historia para si (e para Outros). Nesse sentido, todas 2s classes e/ou grupos escrevem suas respectivas auto Diografias colewvas. A histéria € a maneira pela qual as pes> soas cram, em parte, suas identidades. Bla € muito mais que tim médulo no currculo escolar ou académico, embora pos- simos ver qe © que Ocorre nesses espagos educacionais em imponaneia crucial para todas aquelas partes diverse mente interessadas, ‘Mas seri que nao estamos cientes disso 0 tempo tede? Nio fia dio que um fendsneno “egiimador” to importante como historia tem razes em necessiades € poderes reais? Acho ‘que sim, mas com wna ressalva: quando 0 dscurso deminante se refere 30 constante processo de reescfta da histénis, ele 0 faz de maneiras que sublimam aquelas necessidades. Ai, 0 discurso dominante produz a anddina reflexto de que toda ‘gerago reescreve sua propria historia. A pergunta,entretanto, 6 como e por qué. E uma resposta possivel, 2 qual Orwell ale, & que as rlagbes de poder produzem discursos ideolo- sicas do tipo “a hiséia como conhecimento” (por exemplo) ‘que, em termos de projetos confltantes de legimitimagio, 0 recessiios para todas as pares envolvias. ‘Agora, vamos concluir a exposigao sobre o que a historla é ra tooria, Argumentei que a historia se compoe de episte rmologia, metodologia e keologia. A epistemologia mostra que runes poderemos realmente conhecer 0 passado - que a dis- crepincia entre © passado e a historia (historiografia) & ‘ontolégica ou seja, est de tal maneira presente na natureza fas coisas que neniium esforgo epistemologico, nao importan- do quo grande, conseguir elimini-la, Os hisioradores et Doram modos de tabalhar para reduzi a influéncia do histor « dor interpretivo, dlesenvolvendo métods rigorosos que eles {entam viniversalizar das mais variads maneiras, mas sempre pretendendo que, se todos seguissemos esses métodos, wn alicerce de habilidades, concetos, rotinas € procedimentos poderia permit chegar & objetividade. No entanto, existe Imitas metodologias; os suposios “alcerces concetiais” sto ‘de consinugdo recente e parcial, © ev argumentei que a5 die- rengas que veinos esto a porqie a his6ra € basicamente um ‘dscUrso em litgio, um campo de batalla onde pessoas, clas se8 € gnipos elavoram autobiograficamente suas interpreta ges do passido para agradarem a si mesmos. Fora dessas pressbes, nto existe hist6xtadefintva, Todo eonsenso (lem: poriro) 36 € aleangado quando as voues dominintes conse- _guem silenciar outs, seja pelo exercicio explicito de poder, seja pelo ato velado ‘de inclusio e/ou anexagao. Ao fim, 2 historia & teora ea teoria & ideologia, e a ideologia € pura &| simplesmente interesse material. A eologia penetra tocos 08 Aaspectos dk histéra, af includes as priieas eocdianas para prod histras naquelas instiuigdes que, em nossa soci de, sto destinadas principalmente a tal proposio ~ en expec alas universidades. Agora, vamos olbat a histéxia como parte esse tipa de praca, DA PRATICA Acima, eu acabei de concluir que a histéria fo, € € seré produzida em muitos lugares e por muitasraz0es diferentes ‘e que um desses tipos de histéria & 4 profssional, ov $e, 9 produzida por hstoriadores que (em geral) sto assalariados € (no mais das vezes)trabalham no ensine superior, especial ‘mente nas universidades Em The death of the pas 0 historiador J. H, Plumb des- creveu tal historia profisional (2 Elon’) como © processo de tentarestabelecer a verdade do que acontecew no passa 6 do.e que poderia ser conteaposto 20s “passados" da memérla popular, do "senso comum” e dos esterestipos, para nes de sembaragarmos desses constructos mal acabados, mal diger- dos € (para Plumb) mal concebidos. Em On ling in an old ‘county. Patrick Wright argumentou que a meta de Plumb & ro apenas impassvel, pois (como jf imos) inexisiem ver dade historicas n2o-problematicas, mas também provavel- mente indesejivel, pois pode muito bem ser que na histria popular (por exemiplo) haja virudes e leiuras alternativas ‘que, de quando ein quando, talvez seja necessério opor As Iistoras “oficiais"” Aqui, ele sugere que tenhamos em mente © processo de meméra des proles de 1984, ‘Wright igualmente assioala que o tinico tipo de instinio 1a qual o desarralgamento proposto por Plumb poderia efets- arse €0 educacional (e este, por sua vez, est intimamente ‘envolvido nos processos de Socilizagio do género “memdria popular). Porque, embora a esmagadora maiora dos historia. Sores de careira se declare imparial,e embora cle cea peiea eles realmente consigan: um ~distanciamento”, & ainda assim esclarecedor ver que esses prolisionais nem de longe esto fora do confi ideoldgico € que ees até ocupam pos ‘bes bem dominantes dentro de tal conilto ~ em outras pala- vas, € esclaecedor ver que as historias “profissionais" so ‘expressdes de como as ideologias dominantes formula. his {ia em terms “aeadémicos" Parece bastante ébvio que, vis- ts sob uma perspectiva cultural e *histxica" mais anph, in vesimentos Institicionais multimiliondrios como aqueles fe 105 em nossas universidades (por exemplo) sto essencals para reproduzir a presente fonmagio social e, portant, estio na ‘anguarca das forgas da ttelacuttral (padres academics) ¢ {do conitole ideologico. Seri certo descuido do campo domi ante se a5 coisas n20 fossem assim Dado que aé agora tentei situar a histéria entre os intessticios de interesses © presstes reais, também precio levar em conta as pressdes "academicas", no s6 porque 6, sobretdo, 0 seu tipo de Histri2 que define 0 campo do que ‘3 Historia realmente é°, mas ainda porque € esse o tipo de bistéria estudado no ensino médio € nos cursos de gradua- to, Nestes cursos, com efeto, vocé€, na pritica,iniciado na historia aeadémica, voce deve ficur como 08 profissionas. Mas como si os profssionais e como & que eles produzem bistorias ‘Vamos comegar assim: a histéra é produzida por um grur po de operirias chanados historiclores quando eles vio t2- balhar. Bo servo deles. E, quando vlo trabalha, eles levam consigo centas coisas idenificves Em primeiro lug, levan a si mesmos: seus valores, post bes, perspectivas Weologicis, Em segundo lugar, levam seus pressupostos epistemo- logicos, Estes nem sempre sio conscientes, mas os historia doves terio "em mente” maneiras de adquisie “conhecimen- to" Aqui, entra em agio uma gam de categorias (econdmi- cas, sociais, poficas, cukurais, Aeol6gicas etc), uma gama de conceitos que integram essas categorias (lentio da eate- fgoria politica, por exemplo, pode liver muito uso de classe, der, Estado, soberani lade et.) e amplas press ppasigdes sobre a constinci, ou no, dos seres humanos (algo que, com muita feqincia, &irdnica e a historicamente de- ‘hominado “aatureza humana”), Mediante 0 uso dessus cate- gorias, conceitos e pressuposigbes, 0 histoviador vai gerar hipéseses, formular absirages € organizar e reorganizar seu smaterialde forma a incluit © exes ‘0s historiadores também empregam vocabulirios propri- 08 de seu ofcio,e estes (come se ndo bastasse sezem inevita velmente anacrbaicos) afetam no apenas © que os historia dores véem, mas @ maneira pela qual eles véem. Tas catego ria, eoncetos vocabulirios so continuamente setrabalhados, mas sem eles 0s historiadores no conseguiriam nem entender 19s relatos uns dos oatias, nem elaborar 0s seus proprio, m0 importance quanto possim discordara respeita das costs Em terceto lugar, 05 historiaclores tm rotinas e procedi- rmentos (métodos, na estrita acepea0 da palaves) para lidar ‘com o material: modos de verifcarlhe a origem, a posiclo, 4 auteniciade, a fidedignidade... Essas rotinas se aplicario a todo material wabalhado, mesmo que com jas variados de concentragio € rigor (ocorrem muitos lapsos e des-acetos). Hg ai uma gama de téenieas que vio do extavagaatemente complexa ao prosaicameate diet; ratam-se do ipo de pri ‘icas que muitas vezes s20 denominadas as “habilidades do Distoriador, t€cnicas que, de passagem, podemos ver como ‘momentos também passageios naquela combinaglo de fato res que produzem bistrias (Em outras palavias, a histria no E questio de “habilidades") Assim, munides desses tipos de pdtica, os historadores conseguem pdr-se mas dretamente a Sinveetar um pouco de historia ~ “prosuzirhiséxas” Em quarto lugar, a0 tocarem seu servigo de encontrar ma- teraisdiversos para trabalhar e “clesenvolver", os hstoriado- es vao e vem entre as obras publicadas de outos historado- res (0 tempo de trabalho acuimulado em lies, aigos et.) € ‘es materiais nio-publicados. Estes, “quase novos", podem ‘er denominados 0s vestgios do passado (as marcas que so- braram do passado: documentos, regisuos, atefatos etc). ‘io uma mistara de vestigios conlbecidos mas pouco ust dos; vestigios novas, no-utilizados € possivelmente desco- mhecidos; ¢ vestgios vehi, ou seja, materials que jé foram tusidos, mas que, em vista dos vestigios novos e/ou quase novos descobertos, sto agora passiveis de insergio em con- {estos diferentes daqueles que ocupavam antes. © histori dor pode, entto, comegar a organizar todos esses elementos de manelias novas (e virias), sempre procurando a tio slme- jada “tese original” Ele comega assim a transformae 08 vest bios do que outora foi conereto em “pensimento concrew, u seja, em relatos dos historiadores. Niss0, 0 historiador lite. ralmente ¢-produz os vestigios do passado numa nova cate- «6 sgoria. E este ato de trans formagio ~ do passado em historia Ae 0 trabalho basico do historador Em quinto lugar, os historadores, tend feito sua pesqui 1, precisam entio coloci-la por escrito, & ai qe os fatores epistemologicas, metodolégicos e ieokigicos vokam a en- tine em acho, inter-relacionando-se com as priticas cotdia ras, tal qual aconteceu durante todas as fases da pesquisa TEssis pressoes do cotidiano vacans, € cli, mas algumas ste dada a seguir 1A pressio da f \rabalhar de nove no ‘pra voe® tar uma Folgninha disso?" 20s pressoes do local de trabalho, no qual se lazen sen lirndo s6 as diversas influéncias de dretores cle faculda dle, chetes de departamento, colegas e polticas insite: ‘lonais de pesquisa, nas também (Cenhamos a corgem de dizé-o) a obrigacao de lecionae. 53. pressoes chs ecltonis no que se refere a vitios fatores: Euionsaa. As restigdes de amanho sto considerivels € tm sous efeitos. Pense quanto 0 conhecimento his t6rico poderis ser diferente se txlos os livros fossem, uum tergo mais curtos ou quatro vezes mas fongos do ‘que 0 “normal! Formato. 4 dimnensto da pigina, a impressio e o projeto tgrifco, a presenga ov do de iustgoes, exesicios, bibliog, indice et, fo de © texto estar ov no ‘em folhassoltase sero nao complementado por vileo ‘ur som gravadd ~ edo sso também tem eles. Mercado. © «ie 0 historiador considerar seu mercado vai influenciar o que ele diz © a maneira pela qual le diz, Pense no quanto 4 Revohigio Francesa ria de ser “ditrente™ para criangas do primirio ou do secundivio, ndo-europeus, “especialistas em cevolu: {0" ou leigos curiasos, para ctarmos s6 alguns pxi- blicos diferentes entre s iia fou dos amigos: “Al, voc no vai mde semana, val "Ser que c8 Prazos. © wempo total de que 0 autor dispbe para fazer. pesquisa escrevé-la, mais a alocaclo desse temp. (oma vez por semana, um seinestre de licen es fi: de sennana),afeta, por exemplo, a disponibildade da Fontes, a concenttagio do historiador etc, Frequente ‘mente, 0 tipo de condigio que a editors impde com referéncia 8 conclusio do trabalho € também crucial, Estilo luerdrio, O estilo (polemico, discursive, exube- ‘ante, pedante, mais as combinagdes de tudo isso) € (0 uso gramatical, sintético e semAntico do historia dor influenciam 0 relato © podem ser modificados ‘para ajusar se As normas da editora, x0 formato de Juma série ete ewuras ericas, As editoras eaviam os originals para ‘uma leitura critica, e quem a faz pode talvez pedir roudangas deisticas na organizagao do material este texto, por exemplo, era de inicio duas veves mais longs). Fambem ha casos em que os chamados “Ie ores eriicos" tn imweresses pessouis em jogo, exserita Teta de algo que aconiece em todos 03 6 ‘ios, t€ 0 livro ir para a impressio, As vezes,algumas partes requerem ts redagSes; outss vezes, sho reze déias brlhantes que no comego pareciam dizer tudo Ficam enfadonhas apagadas quando jf se tentou ‘escreve las una dizia de vezes. Alem dso, coisas que ‘seria includ acabam nao o sendo, e, com freqoe cia, as que o sto parecem ter sido deixadas 3 propria sorte, Que tipo de eiéio ve faz presente enti, quan- do oexeror “trabalba" materia tos © anotades (mu tas vezes imperfetamenta) tao tempo ante? E por-ai vai. Pois bem: esses sto aspectos dbvios (pense ‘quantos fatozes externas, ou seja,fatores alles 20 "passa cdo", agem sobre voce e lafluenciam 0 que voce escreve nos trabalhos de faculdade, por exemplo), mas aqui o que se deve enfatizar € que nenhuma de tais presides, als, ne 6 ‘nhum dos processos comentados neste capitulo, age sobre © {que esté sendo relatado (por exemplo, o planejamento para ‘uso de recursos huumanos na Primeisa Guerra Munda). Mais uma vez, 25 discrepancias eotse passado e presente se ala ‘gem imensamente Em sexto lugar, 0 que se escreveu até agora foi a produ so de hisiéras. Mas os textos também precisam ser lidos Consumidos, Assim como se pode consumir bolo das mais diferentes maneias (devagar, depressa etc) € numa série de situagGes (no wabalho, a0 volante, em dieta, num casamento etc. ¢ cscunstincias (voce jd come o bastante? a digestao & diffel?), nenhuma das quais se repete de maneica idéntica, assim também 0 consumo dem texto se «ki em contextos que igualmente nto vao se reper. De maneira muito literal, iio existem duas leiturasidénticas. (Por vezes, fazemos 2no- tagdes 4 margem de um texto e, volando a elas tempos de- pois, nao conseguimos lembrar do que se tratava. No entan- fo, sio exatamente as mesinas palavees na mesma pagina Asim, como € que significados conserva significado?) Por tanto, nenhuma leitua, ainda que efetuada pela mesma pes 0a, 6 passivel de produzir os mesimos efeitos repetidamente Isso quer dizer qe 0s autores nao tém como impingir suas Intengdes/interpretagbes a0 ltor. inversamente, 0 leitores rio tém como discernir por completo tudo que os autores pretendiam, Ademais, o mesmo texto pode inserese prime ro num discurso amplo e depois em outro, no exister lim tes logicos, e cada leitura é& um escrito diferente. Esse & 0 rnxindo do texto desconsirucionsta, um mando no qual cual ‘quer texto, em autios contextos, pode signlicar muitas co ss, Esta af “um mando dle diferenga CConuclo, essas Gikimas observagdes parecem suscitar wm problema. (Mas seri que na leitura surgiy mesmo algum problema para voce? E sera que esse seu problema & ciferen- {edo mew) Para mim, ele est nist: embora 0 que se disse cima pareca implicar que tudo € um Muxo interpretativo, 0 realidad 6 que “lemos" dle manera bastante previsivel. Nes se sentido, portant, 0 que vem a defini as leas? Born, mo @ um consenso detilhado sabre tudo e todos, pois 08 deiles sempre lutuam lites por ai (pode-se sempre fazer {que coiss especies tenham maior ot! menor signfesdo). ‘Mas realmente ocorrem consensos de carder gral. Issoacon- tece por causa do poder Aqui, vollamas 2 eolog, pots pole’ muito bem argumentar que o que impede os lvos de sorem usados de mania wotalmentesnbivla€ 0 fro le Aue centos textos extho mais préximos de outros; 80 menos fu mais castiisvels dono de certs ganeros ou rétlos, ‘30 menos ou mais simpaticos As necesidades que a8 pesso- as tem ¢ que se expressam em textos. E assim, apres Onell, 2s pessoas encontam afinidades ¢vefertndias (bibliogaias, Teiurasrecomendads, a classficagto decimal Dewey) que, ean thiona andi, ste tamlsém arbitra, mas que atendem a necessidales mais permanentes de grupos e classes vive- thos num sistema sock, « nto a eso. Tatas de un campo complicado mas esencial pra a compreensto, e aqui pode- ‘amos mencionar textos de teéricos como Scholes, Eagleton, Fishe Bennet deriamos também efletir sobre como €88 stag20 ten tanto desconcentante (0 texto volivel qUe na teria nao pre: cdsa acomodarse, mas que na pritica0 fa) atende a va afligio inerpreutiva que se manifesta com freqiéncia em fstudentes. A afiga € esta: se entendemos que ahistéia € 0 aque fazem os histoviadores; que eles a fazem com base em rages comprovagdes; que a histria € inevitavelmente Interpetatva; ie hi pelo menos mein dizi de lados en cada digeussto € que, por iso, a hstbria& relat... Seen teodemos tudo iss, entao podemos muito bem pensar Bom, se 2 histria parece ser 36 interpresagto e ningun sabe nada realmente, endo para que estudik? Se tudo € relaivo, para que fazer histéra” Trata-se de um estado de Spiro que poderamos chamar"desventura do relativism Em certo sentido, esst maneira de ver as cosas ¢ postiva, uma libersgio, pols joga velhas certezas no lixo e possibi Jia desmascarar quem se beneficia dela, também em cer- te sentido, tudo ¢ relativo (ou sea, historicsta. Mas, libera- (0 04 no, trata-se aincla de algo que faz as pessoas sent Tem-se num beco sem Sida, NAO hd necessidade disso, en- tretanto, Desconstruirmos as histrias de ouuas pessoas & pre-requisio para construirmos a nossa propria, de maneira que dé a entender que sabemos 0 que estamos fazendo ~ ov seja, de maneira que nos faga lembrar que a histéra € sem- pre’ historia destinada a alguém, Porque, embora a légica tiga que todos os relatos s30 problemas ¢ relatives, a ‘questio € que alguns sto dominantes e outros ficam 4 m ‘gem, Ein termos légicos, todos s20 a mesma cvisa; mas, na fealidade, eles sao cferentes;estio em hierarquias valorativas Ginda que, em Gina andlis, infundadas) Por qué? Pérque 0 conhecimento est relacionado 20 poder «porque, para alenclerem a inieresses dentro das formagbes soCias, 03 que tém mals poder distibyem e legiimar tat0 ‘quanto podem 0 “conhecimento”. A forma de escapar a0 relativsmo na teorin & analisae assim © poder na pritica. Por Cconseguinte, uma perspectiva relatvst no precisa levar 2 desesperanca. Ela €0 comeco de um reconhecimento geral de ‘como as cols parecem funcionar. Tratase de uma emancipa ‘slo: de modo rellexivo, voc® também pode produaithistra, DA DEFINIGAO DE HISTORIA Acabo de argumentar que, no geral, a historia € 0 que os bisworiadores fazem. Mas entdo por que tanto rebuligo? A his teria nao € isso mesmo? De cesta maneita, 6, sim. Mas no exatamente. No sentido estrtamente profissional, é bastante ficil descrever 0 oficio dos historiadores. O problema, entre tanto, surge quando esse ofico se insere (pois precisa inserir-

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