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Medicina Dentária 3º ano

Faculdade de Medicina Dentária


Universidade de Lisboa

PROSTODONTIA FIXA

2022/2023 Mariana Oliveira


Medicina Dentária 3º ano

Índice

Objetivos e conceitos básicos de Prostodontia Fixa........................................................................................... 3


Introdução à Prostodontia Fixa e preparações para coroas de revestimento total........................................19
Cerâmicas puras .................................................................................................................................................33
Preparação de cavidades para restaurações fixas intra-coronárias ................................................................50
Moldeira individual e impressões definitivas em Prostodontia Fixa ...............................................................56
Falso coto em Prostodontia Fixa .......................................................................................................................68
Prótese provisória ..............................................................................................................................................79

Nota: Esta sebenta foi realizada com apontamentos das aulas e resumos feitos por outros alunos de anos passados.

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Objetivos e conceitos básicos em Prostodontia Fixa


 A utilidade da prótese fixa pode ir desde a restauração de apenas um dente até à reabilitação de
toda a oclusão.
 Funções da prótese fixa:
o Substituir dentes ausentes.
o Melhorar a capacidade de mastigação.
o Manter a saúde do paciente.
o Manter a integridade das arcadas dentárias.
o Aumentar a auto-estima do paciente.
o Realizar trabalhos de sustentação e correção de patologias relativas à ATM e componentes
neuromusculares associados (muitas das patologias da ATM são provocadas por má oclusão
ou ausência de dentes).

Conceito de biomimética

 Reprodução dos sistemas sintéticos em fenómenos similares aos que são encontrados nos sistemas
biológicos.
 A caracterização de um dente pretende imitar aquilo que o dente natural nos transmite (tentar
imitar o que é visível na natureza).
 Tem de existir um enquadramento que faça sentido, ou seja, não se vai colocar um dente branco
quando os restantes dentes não têm essa coloração.
 No entanto, este processo é difícil, logo a proximidade do médico dentista e do protésico deve ser
grande, de modo a evitar erros.

Tipos de restauração

 Restauração direta – amálgama ou compósito (para perdas pequenas e simples)


 Restauração indireta – fundição, CAD/CAM, sinterização
 Restauração intracoronária – metálica ou cerâmica A durabilidade de todos estes trabalhos não é
igual: menor – compósito; maior – coroa total
 Restauração extracoronária – metálica ou cerâmica
metálica. Os resultados estéticos também não são
iguais: melhor estética – coroas de cerâmica pura.
Tipos de prótese

 Prótese parcial removível (PPR): para espaços edêntulos cuja extensão é superior à de 2 dentes
posteriores, para espaços anteriores maiores que o ocupado por 4 incisivos, ou para espaços que
incluam um canino e 2 outros dentes contíguos.
 Prótese parcial fixa (PPF):
o Sustentada por dente: utiliza-se um dente que funciona como pilar em cada extremidade do
espaço edêntulo para dar sustentação à prótese.
o Sustentada por implante: ideais quando o número de pilares não é bastante ou quando a
sua força for insuficiente para suportar uma PPF convencional.

Requisitos para a aplicação de prótese fixa

 Dente:
o Depende da vitalidade radicular e morfologia coronária.
o É importante para a capacidade de suporte do dente.

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o Em casos de desvitalizações, o melhor será a restauração fixa.


 Tecidos de suporte:
o Garantem o suporte dentário e, por isso, são influenciados pela proporção coroa/raíz e pelas
forças na morfologia oclusal.
o Não é aconselhável fazer fixa com uma relação coroa/raíz inferior a 1:1.
o Uma raíz com secção transversal também responderá melhor às forças do que uma raíz
elíptica.
 Oclusão: prematuridades e interferências vão afetar a ATM.

Estrutura dentária

Os tecidos de sustentação que circundam os pilares devem estar sadios e sem inflamação, e os pilares não
devem apresentar mobilidade, já que estarão a receber carga extra. As raízes e os seus tecidos de
sustentação devem ser avaliados, levando-se em conta três fatores:

1. Relação coroa/raíz
2. Configuração da raíz
3. Área do ligamento periodontal
Relação coroa/raíz: é uma relação relativa ao comprimento do dente que vai da
Inserção radicular crista alveolar (presente na face oclusal) até ao ápex da raíz com suporte ósseo.

 Consiste na relação entre o comprimento do dente oclusalmente à crista alveolar e o comprimento


da raíz com suporte ósseo.
 Relação coroa/raíz ideal é de 2:3 e a relação mínima aceitável é de 1:1 (isto é, a altura da coroa
clínica ser idêntica à altura da raíz suportada pelo osso).
 Esta relação mínima depende das forças oclusais aplicadas: exercida sobre a prótese parcial
removível (11,8 Kg), sobre a prótese parcial fixa (24,5 Kg) e sobre dentes naturais (75 Kg).
 Portanto, esta relação vai depender do tipo de dentes oponentes que vão estar em contacto com a
possível prótese fixa, já que se os dentes oponentes forem artificiais as forças de oclusão estarão
diminuídas e, consequentemente, os pilares estarão sujeitos a menos tensões.
 Deste modo, podemos concluir que a relação coroa:raíz, isoladamente, NÃO é um critério suficiente
para avaliar um provável pilar.
 Quanto menos área periodontal existir, menores condições para reabilitar existem.
 À medida que o nível do osso alveolar diminui apicalmente, aumenta o braço de alavanca da porção
que fica fora do osso, aumentando a probabilidade de danos por parte das forças laterais.

Configuração da raíz

 Permite avaliar a viabilidade de um pilar do ponto de vista do periodonto.


 A coroa num canino irá ter maior estabilidade que num incisivo, porque o incisivo tem uma
configuração mais redonda:
o Raízes com largura VL > MD são preferíveis às arredondadas em corte transversais.
o Canino  VL > MD
o Incisivo  VL ±= MD

O comprimento vestíbulo-lingual do canino é superior ao mesio-distal, o que faz com que este dente seja
um melhor pilar do que um incisivo, em que temos raízes mais arredondadas em cortes transversais.

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 Nos dentes posteriores, há uma maior ancoragem e estabilidade radicular numa situação em que
as raízes têm alguma distância entre si, do que quando estão quase unidas.
 As raízes divergentes são melhores do que raízes fusionadas, pois constituem uma splitagem
periodontal muito melhor do que raízes convergentes, fundidas ou com forma geral cónica.
 Dentes com uma só raíz e configuração irregular óbvia ou com alguma curvatura no terço apical
são preferíveis a um dente que tenha uma conicidade quase perfeita.

Área do ligamento periodontal

 É essencial avaliar a área radicular ou de inserção da raíz no osso pelo ligamento periodontal.
 Dentes maiores apresentam uma área maior e são mais aptos a suportar tensões (molares > pré-
molares > caninos > incisivos).
 Quando o osso de sustentação tiver sido perdido por doença periodontal, os dentes afetados
estarão menos aptos a funcionar como pilares.
 Por ser gradual, a perda de sustentação periodontal por reabsorção radicular tem 1/3 ou 1/2 da
importância da perda do osso da crista alveolar.

Constituintes de uma ponte

 Retentor: coroa que se coloca no suporte.


 Pilar/suporte: dente com raíz, que vai suportar a ponte.
 Pôntico: coroa sem raíz, elemento suspenso que substitui o dente.
 Conector: ligação entre as coroas da ponte, localizado entre os pônticos e os retentores.
 Espaço protético: por baixo do pôntico.

Temos vários índices de suporte (para os diferentes dentes), que nos


permitem de alguma forma fazer uma avaliação daquilo que esses dentes
podem suportar, quando são usados como pilares. Um incisivo central
tem um índice de suporte muito inferior a um 1º molar ou 2º molar.
Dois dentes como sustentação de uma ponte fixa podem proporcionar
diferentes tipos de ancoragem, que varia consoante a área do dente e a
área do ligamento periodontal.

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Requisitos:

 Idealmente, o pilar é constituído por um dente vital, mas pode usar-se qualquer dente que tenha
sofrido um tratamento endodôntico, desde que esteja assintomático e que radiograficamente exista
evidência de uma completa obturação do canal radicular.
 Deverá ainda ter uma estrutura coronária saudável e sólida para garantir que suporta a prótese.
 O pilar não deve apresentar mobilidade, uma vez que vai receber carga extra.
 Os tecidos de sustentação que circundam os pilares devem estar saudáveis e livres de inflamação.
 As restaurações devem suportar forças oclusais, pois as forças que normalmente seriam absorvidas
pelo dente ausente, serão transmitidas aos pilares através do pôntico, dos retentores e conectores.

Comprimento do pôntico

 O suporte dos dentes vai depender fundamentalmente do comprimento do pôntico.


 Quando é um pôntico de apenas um elemento, a ponte é perfeitamente favorável, porque as
forças exercidas sobre o pôntico, que passam para os dentes pilares, mecanicamente, não vão afetar
aqueles pilares de forma nenhuma. Isto vai estar dependente da Lei de Ante (muito importante).

Lei de Ante:

 A área de inserção periodontal das raízes dos dentes de suporte deve ser maior ou igual à dos
dentes que são repostos pelos pônticos  a soma das áreas das superfícies radiculares dos pilares
(dentes de suporte) deve ser igual ou superior às dos dentes a substituir.
 Deve ser respeitada em qualquer tipo de prótese fixa sobre dentes.
 Próteses com pônticos mais curtos têm melhor prognóstico que as com pônticos demasiado longos:
o Seria simplista atribuir isso apenas à tensão excessiva (sobrecarga) do LPO.
o Também se devem ao braço de alavanca e à força de torção.
 Os fatores biomecânicos e a falha dos materiais desempenham um papel importante no potencial de
destruição das próteses que abrangem espaços extensos.
 Certos dentes com sustentação periodontal deficiente podem funcionar como pilares de PPF em
casos específicos, como em casos de degeneração óssea e grande mobilidade, em que se
estabilizaram os dentes no estado em que estavam, de forma a evitar o aumento de mobilidade.
 Três situações possíveis:
1. Bom prognóstico, já que o índice dos pilares é superior ao do dente que é pôntico e a área
periodontal do pôntico é inferior à área dos dentes pilares.
2. Área a substituir é idêntica à área dos dentes pilares.
3. Situação que não é a favor da Lei de Ante, já que a área periodontal do pôntico é muito
superior à área dos dentes pilares  pressão sobre os pônticos  sobrecarga oclusal que se
traduz nos dentes pilares  efeito de alavanca sobre aquela zona, ou forças de torção.

Deste modo, se 2 dentes estiverem ausentes,


provavelmente, poderão ser substituídos por
uma prótese parcial fixa, no entanto, já está
muito próximo do limite máximo.

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Neste caso, o pôntico é demasiado extenso (é constituído por 3 dentes) para ser
suportado pelos 2 dentes, ou seja, a área radicular dos dentes que serão
substituídos por pônticos é maior que a dos pilares. O excesso de tensão exercida
vai exercer sobre o pôntico uma força e criar um efeito de alavanca com forças de
torção. Isto pode provocar uma periodontite ao dente pilar, devido à sobrecarga
do ligamento periodontal, cuja sua função é amortecer. Deste modo, pode ocorrer
a desinserção da prótese e o ganho de mobilidade dos dentes pilares, que
futuramente podem perder-se, perdendo-se também a prótese parcial fixa.

É possível a substituição de mais de dois dentes por próteses parciais fixas. O exemplo mais comum é o dos 4
incisivos. No entanto, devemos SEMPRE considerar muito arriscada.

Comprimento do pôntico extenso (quando os fulcros – dentes – estão muito longe uns dos outros, portanto
os pônticos são muito extensos):

 Causa sobrecarga do ligamento periodontal:


o Há forças de alavanca, que levam a forças de lateralidade, o que vai causar um desequilíbrio
e, consequentemente, um levantamento da ponte.
o Provoca inflamação, edema, dor e retração gengival e óssea.
o Mobilidade e formação de bolsas periodontais nos dentes pilares.
 A prótese fixa irá ter menor rigidez e ganhará flexibilidade que proporcionará a sua desinserção,
devido ao potencial para produzir mais forças de torção sobre a prótese.
 Flexão em pônticos muito extensos:
o Diretamente proporcional ao cubo do seu comprimento (quanto maior a distância entre os
pilares, maior a flexão) – se o comprimento do pôntico for triplicado, a flexão será 27x maior.
o Inversamente proporcional ao cubo da espessura oclusogengival (quanto menor espessura
na estrutura do pôntico, maior flexão existe) – se a espessura for reduzida a metade, a flexão
será 8x maior.

 As paredes dos sulcos vestibulares e linguais opõe-se às forças de torção mesio-distais do ponto de
vista das forças aplicadas sobre o pôntico:
o Para obter maior resistência e estabilidade de uma ponte, essencialmente, em pontes
menos favoráveis (p.e. mais extensas, pilares mais pequenos, etc.), é necessário construir
grande número de sulcos, na face vestibular e lingual do preparo.
o Podem minimizar um pouco a mobilidade e o efeito de desinserção das pontes e contrariar
o efeito de alavanca, aumentando a resistência e a durabilidade estrutural.

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 Para minimizar a flexão:


o Uma dimensão oclusogengival o maior possível.
o Material resistente.
o As forças de deslocamento que incidem sobre um retentor de PPF tendem a atuar com
direção MD, enquanto as que incidem numa única restauração têm direção VL.
o O preparo deve ser modificado de maneira a obter maior resistência e durabilidade.
o Por vezes, usam-se pilares duplos para superar problemas criados por relações coroa:raíz
desfavoráveis e pelo longo comprimento da PPF. O pilar secundário deve:
 Ter uma área radicular semelhante à do pilar primário.
 Ter uma relação coroa:raíz tão ou mais favorável.
 O retentor colocado sobre o segundo pilar deve ter pelo menos tanta capacidade
de retenção como o do primário, pois quando o pôntico sofrer flexão, as forças de
tração vão incidir nos retentores dos pilares secundários.
 O comprimento das coroas e o espaço entre pilares adjacentes também deve ser
suficiente para que o conector atinja a área da gengiva.

Princípios do preparo dentário

 Preservação de estrutura dentária


 Retenção e resistência
 Durabilidade estrutural
 Integridade marginal – limite ou margem gengival
 Preservação do periodonto

Preservação da estrutura do dente

 É necessário realizar um preparo conservador (desgaste mínimo), tendo em conta o princípio de


retenção e resistência, propriedades físicas da preparação que ajudam a manter a coroa fixa ao pilar.
 Superfícies íntegras do dente não devem ser desnecessariamente sacrificadas sob a ação da broca,
em nome da comodidade ou da rapidez.
 Para se obter essa preservação, pode ser preciso remover pequena quantidade da estrutura sadia
do dente, para evitar a perda descontrolada de uma quantidade maior no futuro (por isto é que se
desgasta 1 a 1,5mm na face oclusal para o preparo de um dente para um onlay; o metal colocado
sobre a face oclusal pode proteger a restauração da fratura do dente, por exemplo).
 O valor do desgaste vai depender do material selecionado: metal (requer menos desgaste),
metalocerâmica ou cerâmica pura (requer mais desgaste).

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 Há zonas essenciais para a resistência mecânica do dente e cuja anatomia deve ser preservada:
o A preparação deve sempre fazer-se segundo a anatomia dentária, excluindo as faces axiais.
o A ponte de esmalte dos molares superiores é uma estrutura importante para a resistência
mecânica do dente, devendo ser preservada.
o A polpa deve ser preservada, sendo que a anatomia da cavidade pulpar sofre alterações ao
longo dos anos e, dessa forma, deve realizar-se a reabilitação após uma avaliação radiológica
do dente a reabilitar.

Retenção e resistência

Retenção

 Fenómeno que impede que a restauração/coroa saia pelo eixo de inserção ou eixo longitudinal do
preparo do dente.
 Força que impede a desinserção no sentido axial (vertical), pois a restauração será submetida a
forças de tração pelos alimentos.
 Ocorre quando há contacto entre as superfícies internas da restauração e as superfícies externas
do dente preparado (retenção friccional), ou seja, quanto mais essas superfícies forem adaptadas,
maior retenção vai existir.
 Condicionada por:
o Convergência das paredes opostas: se forem paralelas, o cimento escoa.
o Área de preparação: quanto > a área, > é a retenção.
o Altura da preparação: a altura mínima de uma preparação depende do tipo de estrutura
protética e da qualidade das forças, sendo que não havendo altura suficiente para combater
a rotação, ocorre perda de estabilidade e deslocação da coroa.

O aumento da área coberta pela prótese, para uma mesma convergência, leva ao aumento da retenção. Dado que as
superfícies paralelas ao plano oclusal pouco afetam a retenção, os conceitos de área coberta e de altura da preparação
tornam-se algo semelhantes. Ambas funcionam através do atrito que a coroa precisa de vencer para se desinserir.

o Inclinação do dente no arco maxilar: inclinação do dente fora do eixo da mastigação, onde
as forças de desinserção são maiores, permitirá uma melhor retenção.
o Textura superficial: textura superficial do preparo deve ser rugosa, de maneira a aumentar a
área de contacto.
o Cimento: tem maior função em movimentos axiais.
o Adaptação da superfície interna da coroa à superfície externa do coto.
 Depende essencialmente da área coberta (as superfícies oclusais quase não afetam).
 Para compensar o fenómeno de alavanca, pode aumentar-se a retenção na direção oposta à do
braço de alavanca, numa distância em relação ao eixo interpilares que seja igual ao comprimento
do braço de alavanca.

Idealmente as paredes opostas das preparações seriam paralelas, no entanto, tal é difícil de conseguir, pois:

 Dificuldades clínicas, como o posicionamento dos dentes.


 Dificuldades físicas, pressão hidrostática.
 Atrito.

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Para que haja estabilidade é necessário que uma zona da preparação se oponha à rotação. Os
Resistência ou estabilidade molares são os dentes com > dificuldades na estabilidade (não podem ficar muito baixos!).

 Fenómeno que impede o deslocamento da restauração pela ação das forças que atuam em direção
apical ou oblíqua, além de impedir qualquer movimento sob ação das forças oclusais.
 Visa prevenir a rotação da restauração perante forças de cisalhamento ou compressão (não axiais).
 As forças laterais fazem com que a restauração gire à volta de um fulcro (apoio, alavanca).
 Há diversos fatores relacionados com a forma de resistência do preparo:
o Magnitude e direção da força (estabilidade em molares é mais crítica).
o Relação entre altura e largura do dente: quanto > a altura do dente, > será a estabilidade.
o Integridade do dente preparado: um dente muito cónico, oferece < resistência, e quanto
mais íntegro e menos desgastado estiver o dente, > a resistência.
 A resistência/estabilidade de uma preparação depende fortemente da sua forma geométrica:
o Dentes com paredes baixas, mesmo com grande diâmetro, têm pouca estabilidade.
o Dentes com convergência excessiva, têm pouca estabilidade.

Meios auxiliares de retenção (e/ou estabilidade)

 Existem meios auxiliares de retenção (pinos, sulcos ou calhas, boxes) que são artifícios utilizados
para melhorar a forma de retenção e/ou estabilidade de uma dada peça protética.
 Todos funcionam da mesma maneira:
o Aumentam a área coberta pela prótese.
o Estreitam o leque de eixos de inserção, impedindo a rotação.

O cimento cria uma união fraca entre a superfície interna da restauração e a parede axial do preparo, ou seja, quanto maior a área do
preparo, maior a retenção – os preparos em dentes grandes são mais retentivos que em dentes pequenos. Isto é um facto que deve ser
tido em conta quando vamos reabilitar um dente de menores dimensões. Nestes dentes, a área pode ser aumentada com o acréscimo
de caixas e sulcos. Uma desvantagem destes meios é o facto de aumentarem a liberdade de movimento da restauração.

Conicidade

 A relação da conicidade com a retenção é inversamente proporcional, ou seja, quanto maior é a


conicidade, menor a retenção.
 Teoricamente, quanto mais paralelas forem as paredes opostas de um preparo, maior deveria ser a
sua retenção:
o Tal é impossível devido à extrema sensibilidade das interferências entre a prótese e a
superfície do dente.
o Para além disto, na cimentação, devido a uma falta de escoamento do cimento, não haveria
uma boa adaptação entre as superfícies do dente e da prótese.
 Inclinação ideal: 6-10° (3-5° em cada face do dente), que permite uma melhor entrada do material
sem interferir na retenção. Nos dentes posteriores, é clinicamente aceitável ir no máximo até 20°
(aceitável e não desejável).
 Menor conicidade  maior escoamento.
 Maior conicidade  menor retenção (num dente mais
cónico pode colocar-se a prótese por vários eixos, logo
também se desloca por vários eixos).

Jørgensen relacionou a retenção e a convergência, obtendo


um gráfico hiperbólico. Segundo a maioria dos autores, a
convergência ideal encontra-se entre os 6 a 10°. 10
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Liberdade de deslocamento

 A retenção melhora quando diminui, geometricamente, o número de


trajetórias ao longo das quais a restauração pode sair do preparo.
 Obtém-se retenção máxima quando há apenas uma trajetória, observável
no preparo de uma coroa total com:
1. Paredes axiais longas.
2. Paredes axiais paralelas.
3. Paredes axiais com sulcos (retenção acessória).
 Preparos curtos e afunilados demais  não teriam retenção alguma, porque a restauração poderia
sair ao longo de um número infinito de trajetórias.
 Diminuição da altura dos dentes preparados  diminuição da estabilidade.
 Diâmetro menor que o comprimento  diminuição da estabilidade.
 O melhor preparo, portanto, é aquele que se aproxima do ideal e que pode ser obtido dentro dos
limites da habilidade do dentista, da acessibilidade e da tecnologia do laboratório.

Paredes muito divergentes provocam deslocação e a utilização de sulcos impede isso. Se um sulco fizer com a parede axial
um ângulo obtuso, não irá oferecer a resistência necessária, uma vez que as forças que produzem movimentos de rotação na
restauração, levam a um deslizamento ao longo das superfícies oblíquas. Por sua vez, se for feito um sulco em V, a resistência
será maior. As paredes do sulco devem ser perpendiculares às forças rotatórias para resistirem ao deslocamento.
As paredes vestibular e lingual de uma caixa não resistirão ao deslocamento rotacional se formarem ângulos obtusos com a
parede pulpar. Esses ângulos devem ser próximos de 90 graus, para que essas paredes sejam perpendiculares a quaisquer
forças que tendam a imprimir movimento de rotação à restauração.

Comprimento oclusogengival

 Para que o trabalho tenha sucesso, o comprimento deve ser suficiente para impedir o arco descrito
pela restauração quando esta gira sobre um ponto situado na sua margem oposta.
 Os preparos com paredes mais longas têm uma superfície maior e, portanto, são mais retentivos.
 Uma parede curta não oferecerá resistência, e quanto mais curta, mais importante a sua inclinação:
o As paredes dos preparos mais curtos devem ter a menor conicidade possível para aumentar
a resistência (mas nem isso ajudará, se as paredes forem curtas demais).
o É possível restaurar um dente com paredes curtas, desde que o seu diâmetro seja pequeno.
o A resistência num preparo de paredes curtas feito num dente grande, ou seja, a resistência
num dente que possui um braço de alavanca desfavorável, pode ser melhorada com sulcos
nas paredes axiais, pois reduz o raio rotacional, impedindo assim o
deslocamento.
A. Coroas mais alta  maior braço de alavanca  maior torque.
B. Coroa mais baixa  linha tangente mais baixa na parede oposta ao eixo
de rotação.
 Coroas baixas de menor comprimento:
A. Menor diâmetro  linha tangente mais baixa na parede oposta ao eixo
de rotação.
B. Maior diâmetro  maior arco de rotação, menor resistência.

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Substituição das características internas

 A unidade básica de retenção para uma restauração cimentada é constituída por duas paredes
axiais opostas com conicidade mínima.
 No entanto, nem sempre é possível usar paredes opostas para retenção:
o Uma delas pode ter sido destruída antes, ou pode ter sido aconselhável deixar alguma
superfície sem preparo para uma restauração parcial.
o Também pode acontecer que as paredes estejam presentes, mas com inclinação maior que a
aconselhável.
 De modo geral, certas características internas, tais como sulcos, forma
da caixa e orifícios para o pino (espigão) são intercambiáveis e podem
substituir-se mutuamente ou ocupar o lugar de uma parede axial.
 A substituição é importante, já que as condições presentes por vezes
não permitem o preparo ideal.

Eixo de inserção

 Constitui uma linha imaginária ao longo da qual a restauração será colocada no preparo ou dela
retirada, sendo determinada mentalmente pelo dentista antes do início da preparação (cujas
características são todas preparadas de modo a coincidirem com essa linha).
 Este eixo de inserção deve ser considerado em 2 dimensões: vestíbulo-lingual e mesio-distal.
 O eixo de inserção deve ser único.
 É necessário verificar se os dentes adjacentes permitem que a coroa tenha um eixo único.
 A retenção adequada pode ser avaliada de uma forma grosseira segundo uma visão coronal, com
um só olho, sendo visível todos os dentes preparados, ou faces do mesmo dente:
o Quando se olha para a superfície da coroa com um dos olhos fechados, é necessário ver
todos os limites do dente.
o Se isso não for o caso, significa que existem áreas retentivas ou conicidade excessiva.
o A observação com os dois olhos dá algum engano neste tipo de observação das paredes.
o Na boca, o preparo é observado com espelho, fechando-se um dos olhos.
 O plano ideal de inserção para uma coroa:
o Num dente posterior é paralelo ao longo eixo do dente.
o Num dente anterior é paralelo aos 2/3 incisais da superfície
vestibular.
 O plano de inserção para um preparo anterior paralelo ao eixo do dente
proporciona um desgaste mais homogéneo.

Idealmente apenas haverá um


eixo de inserção/desinserção.

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Para mantermos a retenção e a estabilidade, torna-se necessário nalguns


casos talhar uma face em planos distintos. Isto acontece, por exemplo, nos
dentes ântero-superiores, nos quais a face palatina é talhada em 2 planos, de
modo a manter a área retentiva quo o cíngulo oferece.
Dado o posicionamento do 2º molar, a face distal do 46 foi talhada com
excesso de convergência. Para ultrapassar este problema, optou-se pelo talhe
de uma calha axial. Assim, conseguimos melhorar a retenção e a resistência.

Durabilidade estrutural

 O preparo dentário deve permitir espaço suficiente para a quantidade apropriada de material
restaurador, permitindo uma adequada rigidez estrutural, de forma a resistir às forças de oclusão.
 Apenas desse modo poderá haver harmonia oclusal e contornos axiais normais, evitando-se
problemas periodontais em torno da restauração, uma vez que contacto maiores traduzem-se em
mais forças oclusais, provocando dor, inflamação, edema, etc.
 Caso a redução axial seja deficiente, poderá ocorrer um sobrecontorno da prótese (paredes
sobredimensionadas, que levam a problemas periodontais).

A nossa preparação deve permitir longevidade à restauração fixa que vamos cimentar. Para
isso, fazemos um bisel nas cúspides funcionais e mantemos uma espessura mínima de metal.
A ideia é permitir que o desgaste do material da coroa possa acontecer durante muito tempo
e ao mesmo tempo aumentar a rigidez coronária, protegendo o cimento de forças nocivas.

Redução oclusal

 A redução oclusal confere resistência às forças de oclusão e resistência à restauração.


 Deve reproduzir os planos inclinados básicos e não ser cortada como um plano achatado.
 As cúspides funcionais (palatinas nos superiores e vestibulares nos inferiores) devem sofrer um
maior desgaste, comparativamente às cúspides não funcionais.
 Nos dentes mal posicionados, podem haver faces oclusais não paralelas ao plano oclusal, e assim
sendo pode não ser necessário reduzir o mesmo espaço que num dente bem posicionado.
 Uma redução inadequada dos sulcos anatómicos da face oclusal não deixará espaço suficiente para
uma boa morfologia funcional e a restauração também será mais facilmente perfurada por
desgaste natural.

Inadequada: não houve um desgaste das


cúspides de trabalho, existe uma área crítica.
Adequada: espessura idêntica na coroa toda.

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Redução axial

 A redução axial também desempenha um papel importante na obtenção de espaço para uma boa
espessura de material restaurador.
 Se as restaurações forem feitas com contornos normais sobre um preparo com redução axial
insuficiente, poderá criar uma coroa com paredes finas e fracas sujeitas a distorções:
o Nesta situação, o técnico de laboratório pode compensar esse espaço insuficiente
exagerando o contorno das paredes axiais, o que vai causar problemas a longo prazo ao
nível do periodonto por trauma gengival.
o Provoca inflamação gengival e retração gengival devido à anatomia incorreta das margens.

 Existem outros meios (meios auxiliares de retenção) de se obter espaço, capazes de aumentar a
rigidez e a durabilidade da restauração:
o Canaletas
o Ombro oclusal Permitem aumentar a retenção do dente,
o Istmos porque aumentam a área de contacto e
o Sulco proximal tornam o preparo mais retentivo.

o Caixas

Biselamento das cúspides funcionais

 O biselamento leva a um maior escoamento do cimento e um melhor contacto da coroa.


 Cúspides funcionais (dentes de cima ocluem por fora dos dentes de baixo):
o Cúspides palatinas dos molares superiores.
o Cúspides vestibulares dos molares inferiores.
 Um bisel amplo nas vertentes linguais das cúspides palatinas dos dentes superiores e nas vertentes
vestibulares dos dentes inferiores deixará espaço para um volume adequado de metal numa área
de contacto oclusal forte.
 Falta de biselamento:
a) Se a coroa for esculpida e fundida de acordo com o contorno normal, a peça ficará delgada
demais, o que leva a perfuração da coroa fundida.
b) Para evitar o adelgaçamento quando não há biselamento das cúspides funcionais:
o Deve tentar-se aumentar a espessura de cera nessa área, mas com isso é provável
que haja sobrecontorno e sobreoclusão (como se fosse uma prematuridade), a
menos que o dente oposto seja rebaixado.
o Esta sobreoclusão terá como consequência um desgaste oclusal que leva ao
surgimento de problemas periodontais.

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c) Caso se tente obter espaço para uma espessura normal de restauração sem biselamento:
o O resultado será a redução excessiva da superfície axial.
o Dessa forma, estaria a causar-se uma destruição desnecessária do preparo, e a forte
inclinação desta superfície torna-a incapaz de fornecer alguma retenção.

 Rosner (1963):
o Afirmou que o biselamento é um meio de diminuir a discrepância marginal.
o “A distância entre a margem e a estrutura do dente é infinitamente aproximável.” (quando
não há cimento entre a restauração e o preparo, esta afirmação é verdadeira).
 Ostlund (1985):
o Afirmou que a presença de cimento muda completamente a abordagem, a espessura da
película de cimento impede o total ajuste do material (25μm – especificação da ADA para
espessura do cimento).
o “Quanto mais paralelo o biselamento ao eixo de inserção, maior a distância pela qual a
restauração deixa de se ajustar”.

Integridade das margens

 Quando a coroa estiver cimentada, não pode haver nenhuma alteração na margem gengival.
 O objetivo básico é uma boa adaptação e uma linha mínima de cimento.
 Caso fique espaço entre os dentes e a restauração, haverá retenção de biofilme e presença de cárie.

Configuração da linha de terminação

 A configuração da linha de terminação do preparo dentário influencia:


o A forma e a quantidade de material restaurador a ser colocado na margem da restauração.
o A adaptação das margens.
o O grau de ajuste da restauração.
o Escoamento do cimento restaurador (um bom escoamento permite que a distância entre a
margem e a estrutura do dente seja estreitamente aproximada).
 Sem o bisel dos limites do preparo, a película de cimento impediria o total ajuste do material.

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Medicina Dentária 3º ano

 Chanfro: mais utilizado para coroas metálicas (chanfro profundo, chanfro com bisel, bisel longo)
 Ombro: mais utilizado para coroas cerâmicas (em bisel – nunca nas cerâmicas, utilizar no metal – ou
arredondado – utilizado nas cerâmicas)

O chanfro com bisel permite um melhor escoamento do cimento e, desta forma, uma aproximação das paredes da
coroa e do preparo. No entanto, no ombro, se fizéssemos bisel a esse nível, a cerâmica seria muito fina e partiria.
Em coroas em metal ou metalocerâmica, a linha de terminação gengival deverá ser um chanfro com bisel (e não
apenas um chanfro), enquanto que para as coroas em cerâmica, a linha de terminação deverá ser em ombro.

Biselamento

 Tem de existir uma ótima adaptação entre a coroa e o preparo para que não exista uma infiltração
e, consequentemente, desenvolvimento de cárie dentária.
 Os biséis largos e rasos, quase paralelos à superfície externa do dente:
o Têm grande probabilidade de criar sobrecontornos.
o Por outro lado, vai existir uma camada fina da coroa que não
vai ter sustentação, podendo quebrar ou sofrer distorções.
 Quanto mais paralelo for o bisel ao eixo de inserção, maior a distância
pela qual a restauração deixa de se ajustar.
 O ângulo mais adequado é um ângulo que fique entre os 30-45°.

Preservação do periodonto

 A polpa pode ser agredida pelo calor gerado durante o preparo, pela profundidade do preparo
(refrigeração) ou ainda por agressões químicas de acordo com o material utilizado.
 O limite da margem de uma restauração deve situar-se ao nível do esmalte ou supra-gengival ou ao
nível da gengiva e não sob a gengiva.
 Isto deve ser respeitado não só por razões estéticas, mas também porque uma restauração em
permanente contacto com a gengiva leva a uma resposta inflamatória crónica, que evolui para
periodontite.
 O preparo excessivo invade o espaço biológico e o preparo insuficiente leva a um sobrecontorno.
 Quanto mais precisa for a adaptação marginal, menor será a espessura da película de cimento:
o Menor chance de solubilização.
o Maior facilidade de higienização.
o Menor retenção de placa.
o Menor recidiva de cárie e problemas gengivais.
 Melhores resultados:
o Margens regulares.
o Margens mais acessíveis à higienização.

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Medicina Dentária 3º ano

o Margem com localização que possa ser reproduzida por meio de impressão (sem rasgar ou
deformar).
 Localização da linha de terminação subgengival:
o Se a localização da terminação for a menos de 2mm da crista alveolar, poderão existir
consequências tais como inflamação gengival, reabsorção da crista alveolar e formação de
bolsa periodontal – o ideal é 3mm.
o São muitas as situações em que as margens subgengivais são inevitáveis:
 Presença de cáries.
 Prolongamentos de restaurações antigas.
 Traumas.
 Motivos estéticos.
o Alternativa (a fim de garantir dimensões biológicas e evitar doenças periodontais):
 Aumento da coroa clínica para mover a crista alveolar 3mm apicalmente à
localização da linha de terminação prevista.
 Assim, o espaço biológico básico será mantido (inserção epitelial e conjuntiva +
sulco gengival sadio).

Princípios estéticos

 Estão diretamente relacionados aos princípios biológicos, tendo em atenção a forma, cor e contorno
da prótese.

Instrumentos e técnica

 Para determinar a inclinação do preparo:


o CA: ângulo de convergência – é dado pelas paredes opostas.
o AI: inclinação axial – ângulo relativo ao longo eixo do dente.
 Contra-ângulo – ângulo de convergência: o ideal é 6°.
 Inclinação axial: o ideal é 3°.

Conseguimos facilmente chegar à inclinação das paredes do preparo recorrendo


às brocas diamantadas. Estas brocas são tronco-cónicas e a sua inclinação
permite-nos obter uma inclinação de desgaste, se as encostarmos paralelamente
ao longo eixo do dente. Para isso, basta sabermos quantos graus tem a broca.
Deve começar-se sempre com a broca paralela ao eixo do dente, para não obter
preparos muito expulsivos e inclinações grandes. Para calcular qual a inclinação
que devemos dar à broca para obtermos o ângulo que queremos recorremos a
cálculos de trigonometria. Utilizam-se brocas com uma angulação de 3-5°.

Estudos científicos

Altura da parede axial e inclinação do preparo

 A convergência, a altura e redução das cúspides funcionais interagem efetivamente nos preparos.
 Na prática clínica, ângulos que rondem a convergência de 15° têm sido observados com sucesso.
 Shillingburg recomenda as seguintes convergências:
o Dentes anteriores: 10°

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Medicina Dentária 3º ano

o Pré-molares: 14°
o Molares maxilares: 19°
o Molares mandibulares: 22°
 A resistência depende da conicidade das paredes verticais, largura da base e altura, e margens
bem delimitadas favorecem a resistência.
 Resultados mais prejudiciais:
o Alturas: 6-9mm
o Larguras da base: 6-10mm

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Medicina Dentária 3º ano

Introdução à Prostodontia Fixa


 Prótese removível
 Prótese fixa
 Próstese sobre implantes
 Prótese maxilofacial

Preparo dentário

 O objetivo da prótese é restabelecer a função mastigatória, estética e fonética.


 A prótese fixa substitui de forma fixa as estruturas dentárias perdidas, através da realização de um
preparo dentário que dá origem a uma coroa cimentada sobre esse preparo.
 É feito um desgaste nos dentes, posteriormente é feita uma impressão (com um silicone) que é
passada a positivo – modelo de trabalho (ligação do nosso trabalho ao laboratório). O laboratório
utiliza diferentes técnicas para produzir as coroas.
 O preparo necessita de algumas características para reter a estrutura.

Tipos de coroas

 Coroas cerâmicas e metalocerâmicas


 Prótese parcial fixa/ponte:
o Normalmente são pontes metalocerâmicas (estrutura metálica com uma cerâmica estética
por fora que fica unida a este metal).
o Em termos de adaptação e biocompatibilidade, as pontes metalocerâmicas têm um
prognóstico igual ou melhor que algumas cerâmicas.
o Existe uma prova de metal, antes de entregar a ponte, para ver se a estrutura garante que o
ajuste da ponte ao preparo seja perfeito, avaliando múltiplos fatores em que o mais
importante é a adaptação marginal.
 Inlay (ouro metálico; cerâmica – zircónica, feldspática, dissilicato de lítio; compósitos): restauração
intracoronária em que não há recobrimento das cúspides, são incrustações.
 Onlay: restauração extracoronária em que ocorre o recobrimento de cúspides (1-4 cúspides).
 Overlay: onlay que recobre 4 cúspides.
 Facetas: são feitas com cerâmicas vítreas (feldspática, leucite, dissilicato de lítio).
 Falso coto: substitui a estrutura dentária em termos coronários (alternativa a isto são espigões).

Conceitos teóricos - princípios mecânicos, biológicos e estéticos

Relativamente às características de um preparo dentário com uma convergência oclusal ideal para uma
coroa de revestimento total num molar inferior, qual a hipótese correta relativamente a altura mínima do
preparo?

a) A altura ocluso-cervical mínima (OC) para molares é de 2mm


Resposta: b)
b) A altura ocluso-cervical mínima (OC) para molares é de 4mm
c) A altura ocluso-cervical mínima (OC) para molares é de 8mm Referência: Goodacre C. Designing Tooth
d) A altura ocluso-cervical mínima (OC) para molares é de 10mm Preparations for Optimal Success
e) Todas as anteriores

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Medicina Dentária 3º ano

Revolução da Prostodontia Fixa

 Tradicionalmente, a Prótese Fixa dependia muito de dois fatores, a retenção e resistência mecânica:
o Isto porque os adesivos e cimentos à base de água (cimento de fosfato de zinco é o mais
utilizado e recentemente o cimento de ionómero de vidro e cimentos de resina) não nos
permitiam ter peças sem retenção mecânica.
o Retenção mecânica: paredes paralelas opostas que vão providenciar uma fricção entre a
coroa e o preparo do dente, porque o preparo está retentivo.
 Hoje em dia, existem dois parâmetros muito importantes, a retenção macromecânica e cimentação
com técnica adesiva.

Princípios do preparo dentário

 Biológicos (+ importantes): preservação da estrutura do dente, da vitalidade pulpar e do periodonto


 Mecânicos
 Estéticos

Biológicos

Preservação da estrutura do dente

 Coroa metalocerâmica:
o Apresenta uma estrutura metálica e uma cerâmica estética colocada por fora.
o Espessuras mínimas: 0,3mm para o metal, 0,2mm para o opaque (cerâmica que esconde a
cor metálica da infraestrutura, onde por cima é colocada a cerâmica) e 1mm para a restante
estratificação de cerâmica estética.
o A espessura mínima para uma coroa metalocerâmica é de 1,2-1,5mm.
o É uma cerâmica estratificada.
 Coroa cerâmica: é uma cerâmica monolítica, portante é feita num monobloco, numa única
estrutura, não há camadas.

Estudo de Weber

Remoção da estrutura do dente – desenhos de preparação – posterior

 Quando se realiza um preparo para uma restauração tipo overlay (restauração parcial), é removido
cerca de 20% do volume da coroa do dente.
 Num preparo para uma coroa totalmente em cerâmica (monolítica), é removido em média 34% da
estrutura do dente.
 Num preparo para uma coroa metalocerâmica, é removido 45% da estrutura do dente.

Assim:

 Nas coroas cerâmicas, é realizada uma remoção de estrutura, em comparação com coroas
metalocerâmicas, 11% menor.
 Nas coroas totais, em comparação com restaurações do tipo overlay e onlay, a quantidade de
remoção de estrutura é cerca de 2x superior.

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Medicina Dentária 3º ano

 Em termos de preservação da estrutura dentária, as metalocerâmicas são as que preservam menos,


logo em dentes que tiverem condições anatómicas e estruturais mais limitantes, como dentes mais
pequenos, não é indicado realizar estas coroas.

Remoção da estrutura do dente – desenhos de preparação – anterior

 Uma faceta em média requer uma remoção de 10% da estrutura dentária.


 Uma coroa cerâmica requer uma remoção de 33% da estrutura dentária.
 Uma coroa metalocerâmica requer uma remoção de 45% da estrutura dentária.

Assim:

 Nas coroas cerâmicas, é realizada uma remoção de estrutura, em comparação com coroas
metalocerâmicas, 12% menor.
 Comparando as restaurações de recobrimento total com as facetas, a quantidade de remoção de
estrutura é 3,5x superior.

Conclusões:

 As preparações devem ser feitas com o maior detalhe e não se deve remover estrutura dentária de
forma desnecessária.
 As restaurações de recobrimento total só devem ser consideradas após existir a certeza que as
restaurações parciais não são viáveis para o nosso caso.

Hoje em dia, os materiais cerâmicos monolíticos já nos permitem ter espessuras muito menores que os
metalocerâmicos, sendo mais conservadores. Por conseguinte, deixam basicamente de existir indicações
clínicas para utilizar coroas metalocerâmicas comparativamente com o que acontecia há 20 anos atrás.

Nota:

 Em Prostodontia Fixa utilizam-se os metais nobres e seminobres.


 Metais nobres: Ouro (Au), Platina (Pt), Paládio (Pd), Ródio (Rh), Rubídio (Ru), Irídio (Ir), Ósmio (Os)
 Devem ser utilizadas ligas que tenham maioritariamente ouro, mas que tenham outros elementos
metálicos, como o paládio, que conferem maior resistência e que, durante o processo de fundição,
irão permitir que não haja alterações a nível marginal e discrepâncias entre o preparo e o modelo,
pois suportam temperaturas mais elevadas.
 Ligas altamente nobres: pelo menos 40% de ouro na sua composição e pelo menos 60% de
elementos metálicos nobres (pode até ter 70% de elementos nobres, mas se não tiver pelo menos
40% de ouro não é altamente nobre).
 Ligas nobres: pelo menos 25% de elementos metálicos nobres.
 O cromo-cobalto pode ser utilizado, mas não deve.
 O níquel-cromo é completamente contraindicado.

Preservação da vitalidade pulpar

Linha marginal – metalocerâmica vs. totalmente cerâmica

 Espessura mínima para uma coroa metalocerâmica é de 1,2-1,5mm a nível marginal.


 Espessura mínima para coroa totalmente cerâmica é de 0,8-1mm a nível marginal.

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Medicina Dentária 3º ano

Relação da câmara pulpar com a superfície externa do dente

 O autor (Dr. Stanbow?) estudou também qual era a distância para cada dente da cavidade oral entre
a parede da polpa (feixe vásculo-nervoso do dente) e a superfície externa do dente, através de
cortes a diferentes níveis do dente.

Exemplos:

 Chegou à conclusão que num incisivo inferior, a espessura em vestibular é de 2mm:


o A linha de terminação do dente é importante para Prótese Fixa.
o Perante este caso, se fizermos uma coroa metalocerâmica nesse dente, onde o desgaste tem
de ser de 1,2-1,5mm, e tendo em conta a distância estudada, ficamos a 0,5mm do nervo do
dente  sensibilidade, necrose pulpar.
 No IC sup geralmente não há nenhum problema, pois tem espessuras bastante favoráveis.
 Na face mesial, o IL sup tem uma espessura de 1,7mm, logo se desgastarmos os tais 1,2-1,5mm,
restam 0,2mm, logo neste caso, deveria ser utilizado um material em cerâmica monolítica, de modo
a não ser necessário desgastar tanto o dente.

Conclusões:

 Margens de erro mínimas: incisivos central e lateral mandibulares, incisivos laterais maxilares,
primeiros pré-molares maxilares.
 As preparações e seleção de materais ajustam-se aos dentes, não é ao contrário.

Preparação dentária vs. aquecimento

Quando trabalhamos com a broca em cima do dente, sem irrigação/sem água, ocorre (Dr. Stanbow?):

 Aquecimento de 20° quando a 1mm da polpa. A variação de temperatura de cerca de 15° da


 Aquecimento de 30° quando a 0,5mm da polpa. temperatura pulpar normal leva primeiro a necrose parcial
e depois o dente pode vir a sofrer uma necrose completa.
Preservação do periodonto

Espaço biológico

 Sulco gengival – 0,69mm

Espaço biológico (média de 2mm):

 Epitélio juncional – 0,97mm


 Inserção conjuntiva supra-alveolar – 1,07mm

O trabalho de Prostodontia deve estar limitado ao sulco gengival,


evitando a invasão do espaço biológico – epitélio juncional e
inserção conjuntiva supra-alveolar. Quando invadimos o epitélio
juncional, ocorre uma migração apical do epitélio. Se invadirmos a
inserção irá haver remodelação da crista óssea, porque a crista
precisa de descer para repor o espaço que se perdeu.
Nota: chanfro é o limite da preparação. Posteriormente, sobre
essa preparação é cimentada uma coroa e devolve-se ao dente a
estrutura perdida. Se formos descuidados e invadirmos o espaço
biológico irá ocorre a inflamação dos tecidos gengivais, migração
apical do epitélio juncional, recessão gengival. 22
Medicina Dentária 3º ano

Quando ocorre a invasão do espaço biológico, de acordo com a


Biótipo gengival espessura dos tecidos gengivais, sucedem-se danos diferentes.

 Biótipo espesso:
o Inflamação gengival
o Formação de bolsas periodontais
o Remodelação óssea (possivelmente)
 Biótipo fino:
o Recessão gengival
o Exposição das margens da restauração
o Remodelação óssea (possivelmente)

Periodonto – localização da margem

 Existem centenas de autores que são a favor de margens supragengivais (margens que ficam
visíveis), tal como existem outras centenas de autores que são a favor de margens subgengivais
(dentro do sulco).
 Por conseguinte, existem autores que consideram que nas margens intra-sulculares irá ocorrer:
o Afeção dos tecidos periodontais (uma vez que a transição entre a coroa e a restauração vai
estar dentro do sulco, logo não será acessível para a higiene oral).
o Inflamação gengival e hemorragia à sondagem.
o Acumulação de placa bacteriana.
o Formação de bolsas periodontais.
 O erro destes últimos autores é que nalguns estudos incluíram margens a invadir o espaço biológico,
daí terem esse tipo de resultados.

Margens subgengivais:

 A margem subgengival pode invadir:


o Sulco gengival – intra-sulcular.
o Adesão juncional (o que não queremos).
Espaço livre biológico
o Inserção conjuntiva supra-alveolar (o que não queremos).
 Não existem diferenças nenhumas em termos periodontais entre margens supra e subgengivais,
desde que essas margens sejam apenas intra-sulculares e não estejam a invadir o espaço biológico.
 Contudo é necessário garantir:
o Trabalhar com laboratório de alta qualidade.
o Paciente num programa de Higiene Oral controlado.
 Indicações:
o Dentes anteriores e zonas estéticas.
o Aumentar a altura do preparo (para melhorar a retenção e a resistência; p.e. se num dente
fraturado, que tem pouca estrutura de dente acima de gengiva, estendermos o preparo para
dentro da gengiva, ganhamos altura de dente).
o Extensão além das margens restauradoras.
o Cárie dentária (p.e. estamos a fazer um preparo e junto à gengiva há tecido cariado, não
podemos deixar o limite da preparação em tecido cariado).
o Fraturas e abrasão cervical.

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Medicina Dentária 3º ano

 Requisitos:
o Avaliação do biótipo periodontal e profundidade do sulco (com uma sonda periodontal).
o Execução clínica cuidada – preparação atraumática, seleção e impressão do fio retrator,
laboratório de qualidade.
o Ajuste marginal e acabamento das coroas de alta qualidade.
o Remoção cuidadosa de restos de cimento.
o Paciente realizar consultas de Higiene Oral frequentes.

Margens supragengivais:

 Indicações: dentes posteriores (quando as exigências estéticas não são prejudiciais).


 Benefícios:
o Melhoramento da saúde periodontal.
o Observação direta da margem.
o Avaliação de futura deterioração da margem.
o Facilidade de remoção de cimento.

Mecânicos

Forma de retenção e forma de resistência

 Retenção: características do preparo de um dente que resiste à deslocação da coroa numa direção
vertical ou ao longo do caminho de colocação, ou seja, forças que tentam remover a coroa no
sentido vertical.
 Resistência: características do preparo de um dente que permitem uma resistência da coroa a forças
oblíquas ou de lateralidade ou ao longo de um eixo diferente do caminho de colocação.
 A forma de retenção e resistência estão diretamente relacionadas:
o Se eu quiser num preparo inserir uma coroa vou ter vários eixos de inserção, mas se tiver
uma calha vou ter um eixo único de inserção (quando se tem dentes adjacentes, o eixo de
inserção também é único), aumentando a resistência e a retenção do preparo.
o Quando se aumenta a forma de resistência de um preparo com a aplicação de uma calha,
aumenta-se também a forma de retenção (pela aplicação de estruturas retentivas no
interior do preparo).
o São dois fatores que estão interrelacionados, apesar de serem diferentes.
 O elemento essencial de retenção são duas superfícies opostas na mesma preparação, que podem
ser superfícies externas, como as superfícies vestibulo-lingual ou mesio-distal.
 Mas também podemos ter retenção a partir de paredes internas, ou seja, as superfícies opostas
também podem ser internas, como as paredes vestibular e lingual da caixa proximal do Inlay.

Taper e TOC

 Taper: consiste na angulação existente entre uma linha que segue o longo eixo do dente e uma das
paredes do preparo do dente.
 Convergência oclusal total (TOC): consiste na angulação existente entre as duas paredes.

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Medicina Dentária 3º ano

Convergência oclusal (TOC)

 Jorgensen:
o Fez várias preparações com diferentes convergências oclusais e avaliou com uma máquina a
forma de retenção (puxa no sentido vertical), sendo que da sua experiência definiu como
valor de TOC 2-5° (ponteiro dos relógios a 12:01).
o Concluiu portanto que se existir uma convergência de 5°, há valores máximos de retenção,
mas quando se passa para 10°, esse valor baixa quase para metade.
 Mas então qual é o TOC apropriado em termos clínicos?
o Valores de estudantes (Weed):
 Valores de 13,5° no pré-clínico.
 Valores de 25° na primeira examinação clínica.
 Valores de 22° no último ano de examinação clínica.
 Guia de convergência oclusal:
o Realiza-se a sobreposição do preparo dentro da guia até achar o grau de convergência.
o Limite da guia é de 25°.
 As guidelines da TOC devem ser baseadas em:
o Valores da literatura em termos clínicos.
o O que na realidade é possível obter.
o Forma de resistência.
 O TOC aceitável em termos pré-clínicos é de 10°, na clínica é entre 10-20° (Goodacre).
 Que condições clínicas garantem um TOC melhor?
o Dentes anteriores tem melhores resultados.
o Os dentes posteriores apresentam um difícil acesso.

Altura dos preparos

 A altura mínima em dentes anteriores e pré-molares é de 3mm (com convergência perfeita de 10°).
 A altura mínima em dentes posteriores é de 4mm.

Wiskott:

 Este autor realizou um estudo laboratorial em que foi testar a força necessária para remover a coroa
do preparo, mas a forças laterais.
 Conclui que quando temos uma altura de preparo mínima de 4mm, conseguimos valores de
resistência à descimentação favoráveis, e quando temos > de 4mm estamos na zona de segurança.
 Este estudo foi feito com um cimento convencional, o fosfato de zinco.
 Posteriormente, o autor fez outro estudo com cimentos melhores, com cimentos de resina e de
ionómero de vidro, que possuem capacidades retentivas superiores, e chegou à conclusão que a
altura dos preparos não necessita de ser tão grande quando esses cimentos são utilizados.

Teste de retenção à coroa (Woolsey):

 Colocou-se a coroa no preparo e depois inverteu-se o modelo, de modo a ver se a coroa caía.
 Se a coroa caísse, significaria que o preparo tinha uma convergência inadequada ou pouca altura
para oferecer resistência mecânica.

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Medicina Dentária 3º ano

 Conclusões:
o 3mm adequado a um TOC de 10°.
o 3mm inadequado a um TOC de 20°.

Compressão e tensão

 Stress compressivos: quando um corpo é colocado sob uma carga que irá comprimir ou encurtá-lo,
pelo que a resistência interna a tal carga é a tensão de compressão.
 Stress de tensão ou de cisalhamento: uma tensão de tração é causada por uma carga que tende a
esticar ou alongar um corpo e é sempre acompanhada de deformação de tração.
 Os materiais são mais fortes em tensões de compressão, portanto têm boas capacidades de
resistência à compressão.
 A configuração geométrica do preparo do dente deve colocar o agente de cimentação em
compressão para proporcionar a melhor forma de retenção e resistência.

A resistência às forças de lateralidade é mais importante para a manutenção das coroas em boca.
Clinicamente sempre que for possível devemos combinar estas características mecânicas com cimentos de
alta qualidade.
+ Broca mais paralela possível ao dente
Meios auxiliares de retenção e resistência

 Como aumentar a retenção e resistência quando há um TOC excessivo?


o Reduzir o TOC de 20° para 8° nos 1,5mm cervicais das paredes axiais aumentou
significativamente a forma de resistência (Proussaefs).
 Como aumentar a retenção e resistência quando há um TOC excessivo e pouca altura?
o Corrigir a convergência a nível cervical 1,5mm para valores entre 6-8° (Roudsari) ou 8°
(Proussaefs) (1º + eficaz).
o Sulcos/calhas (transforma forças de cisalhamento em forças compressivas) (2º + eficaz).

Nota: rácio entre a altura e a largura dos preparos de 0,4.

Resposta de exame: Segundo Proussaefs, a maneira mais eficiente de aumentar a forma de retenção e resistência é a
correção da convergência no 1,5mm cervical dos preparos, corrigindo de 20 para 8 °. A segunda forma é utilizando calhas.

Redução uniforme multiplanar dos preparos

 O uso de sulcos de profundidade e guias de redução ajudam a garantir uma redução uniforme
multiplanar do dente.
 Existem guias de desgaste de acordo com a espessura da broca, para guiarem o preparo na
quantidade de desgaste, que é válido tanto para o desgaste feito em vestibular (parede externa do
dente), como na parte incisal (desgaste em altura), de modo a não reduzir a menos e a coroa ficar
mais alta (coroa fica sobrecontornada e saída da gengiva) ou fazer dano na polpa.
 A redução por planos pressupõe a preparação dos dentes de forma anatómica, pelo que cada um
dos terços dos dentes (incisal, médio e cervical) tem uma inclinação específica.
 Nas coroas metalocerâmicas é exigido uma redução incisal de 2mm, nas cerâmicas é 1-1,5mm.
 Utilizam-se matrizes de silicone e uma sonda periodontal para saber a dimensão do desgaste.

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Medicina Dentária 3º ano

 Vantagens da realização de desgaste por planos:


o Fornece espaço para materiais cerâmicos.
o Evita sobrecontornos e saliências das coroas, permitindo contornos normais da coroa
(quando se reduz o dente a menos, ele fica sobrecontornado, quando se realizam desgastes
excessivos, ocorre a emergência do limite da coroa a partir do tecido gengival ao nível
marginal e as coroas ficam sem contornos anatómicos apropriados).
o Facilita o desenvolvimento de cor e translucidez natural proximal e facial.

Forma do limite/linha de terminação

 Linhas de terminação verticais:


o Constitui uma linha de assentamento.
o Conhecidas como gume de faca (0-20°).
o A margem da restauração não vai ter uma espessura, vai terminar numa linha, ou seja, a
restauração assenta por fricção até parar (não há um stop, o que causa muitos problemas).
 Linhas de terminação horizontais:
o Constitui uma área de assentamento.
o A margem da restauração tem uma espessura.
o Mais fáceis de fazer e as mais utilizadas.
o As mais conhecidas:
 Ombro clássico (termina a 90° com um ângulo interno e externo, ou seja, o ângulo
interno é a parte do dente preparada no interior da linha de terminação, e a parte
externa, por fora da linha de terminação, continua com a raíz do dente)
 Ombro arredondado (diferença em relação ao interior é que o ângulo interno ao
invés de ser agudo é arredondado)

Quando é cimentada uma restauração sobre uma região angulada, essa zona da restauração fica sobre alta concentração de
stress, que mais tarde pode levar a fratura. Por isso é que hoje em dia é muito raro utilizarem-se linhas retas e ângulos retos.

 Chanfro (linhas de terminação com ângulo obtuso, terminam a 60°, que possuem
um stop vertical, ou seja, se a restauração estiver assente naquela linha, a
adaptação marginal está correta)
 Chanfro modificado (50°)
 Chanfro em bisel (30-45°)
 Ombro em bisel

Ombro clássico Ombro com bisel Chanfro Chanfro com bisel

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Medicina Dentária 3º ano

Forma da linha de terminação – coroas metalocerâmicas

 Ombro arredondado: permite haver muita espessura de material, logo irá garantir espaço para o
metal, para o opaque e para a cerâmica, mas é uma linha que exige do próprio dente uma perda de
estrutura superior.
 Chanfro
 Ombro em bisel: tem um ângulo interno e externo de 90°, mas na terminação do ombro é feito um
vértice, isto porque historicamente considerava-se que a utilização de um bisel, portanto um ângulo
mais agudo, iria permitir um melhor assentamento das restaurações, uma vez que tudo o que são
ângulos agudos têm um selamento mais rápido sobre a margem do que um ângulo reto.

Estudos:

Alguns autores prepararam vários dentes com algumas linhas tradicionais e as mesmas alteradas com bisel
(chanfro, chanfro com bisel, ombro e ombro com bisel), depois aplicaram cerâmica sobre a estrutura
inframetálica, ocorreu a queima da cerâmica e mediram-se novamente as alterações na margem:

 Shilingburg:
o Chegou à conclusão que as melhores margens em termos de adaptação eram margens em
ombro e ombro com bisel, e os piores resultados era com chanfro e chanfro com bisel.
o Isto acontece pelo facto da cerâmica sofrer alterações dimensionais quando queimada,
sendo que se tiver uma menor espessura de metal, ocorre uma deformação ao nível da
margem, se tiver uma espessura maior, apresenta uma resistência mecânica maior.
o Nas margens com ombro, existe uma maior espessura de metal, logo sofrem menor
deformação, enquanto no chanfro ocorre uma desadaptação do metal e a margem abre.
 Faucher: a distorção do metal da fusão da porcelana foi significativamente menor com um ombro e
um bisel de ombro.
 Hamaguchi: sem diferença significativa na distorção marginal da fusão de porcelana entre ombro,
ombro com bisel, chanfro e chanfro com bisel.
 Ritcher-Snapp: a forma da linha de acabamento não afetou o encaixe das coroas metalocerâmicas.
 Belser:
o Estudo em pacientes reais.
o Fabricou as mesmas coroas, mas deixou de fazer o limite em chanfro, realizou apenas um
ombro reto, ombro com bisel e ombro reto com cerâmica (com margem em porcelana).
o Posteriormente, cimentou as coroas na boca dos pacientes, fez uma impressão, tirou um
molde e foi avaliar em vivo a dimensão das margens depois de estarem cimentadas.
o Concluiu que não houve diferenças significativas no ajuste marginal entre margem com
ombro, ombro com bisel e ombro totalmente cerâmico antes ou depois da cimentação.

Ombro cerâmico: numa coroa metalocerâmica, o ombro é o limite que normalmente se usa em
vestibular da coroa, sendo que quando o metal termina ao nível da margem, é considerado um ombro
em metal. A alternativa que existe é o ombro cerâmico, onde se continua a ter a estrutura metálica,
mas esta foi reduzida, ou seja, corta-se a ponta do metal e a cerâmica é aplicada diretamente sobre a
margem da restauração. Portanto podem existir coroas metalocerâmicas com margens em cerâmica.

28
Medicina Dentária 3º ano

Conclusões:

 A forma da linha de terminação não afeta significativamente o encaixe das coroas


metalocerâmicas cimentadas, ou seja, não existe um limite em termos marginais que seja superior.
 Deve ser baseado em referência pessoal.
 Cuidados a ter:
o Necessidades estéticas cervicais (anterior vs posterior): quando trabalhamos na área
estética, em dentes anteriores, se por acaso tivermos de fazer uma restauração
metalocerâmica, esse limite tem de ser obrigatoriamente um limite em ombro, porque é o
único limite que nos vai dar espaço suficiente para a margem não acabar em metal.
o Se as margens de porcelana são desejadas – um ombro é obrigatório.

Com o passar dos anos e com a evolução dos materiais cerâmicos, deixaram de existir razões para se
utilizarem coroas metalocerâmicas, com exceção de em termos práticos se realizarem coroas fresadas.

Forma da linha de terminação – coroas totalmente cerâmicas Clinicamente, quando preparamos estes limites,
não devemos ter a broca a trabalhar sobre o
 Ombro arredondado dente continuamente. Deve ser realizada a
 Chanfro modificado (são os mais indicados para estas coroas) técnica “Brushing stroke”, em que são realizados
 Gume de faca (ainda não está 100% validado) movimentos de pincelamento com a broca, pois
se esta estiver sempre a trabalhar no mesmo
Estudos: sítio, provoca um aquecimento exagerado.

 Contrepois M: não existem diferenças significativas se utilizarmos um chanfro modificado ou um


ombro arredondado.
 Podhorsky A: nenhuma linha de terminação provou ser superior em termos de adaptação marginal.
 Poggio C: limites verticais têm desempenho clínico semelhante ao ombro arredondado e chanfro
modificado.
 Yu H:
o A escolha de uma linha de terminação em chanfro na prática clínica parece ser melhor para
coroas cerâmicas, pois as linhas de terminação em chanfro exibiram melhor adaptação
interna e adaptação marginal comparativamente às linhas de terminação de ombro
arredondadas.
o No entanto, a diferença na adaptação marginal de coroas cerâmicas usando linhas de
terminação em chanfro e ombro arredondado é desprezível.

Técnica de preparação

 Limite em chanfro:
1. Selecionar um instrumento diamantado que seja 2x a profundidade de chanfro desejada de
0,3 a 0,5mm (broca que tem o dobro do tamanho do chanfro que queremos fazer, se
queremos um chanfro de 0,5mm, a ponta da broca terá de ter 1mm).
2. Colocar o instrumento de rotação no dente usando metade do seu diâmetro, o mais
paralelo ao maior eixo do dente (metade da broca tem atividade).
3. Mover o instrumento (a ponta da broca gera automaticamente este limite).

29
Medicina Dentária 3º ano

 Limite em ombro:
1. Selecionar um instrumento diamantado com um diâmetro próximo à profundidade de
ombro desejada de 1mm.
2. Colocar 80% do diâmetro (80% da broca tem atividade, 20% não tem) do instrumento de
rotação no dente.
3. Mover o instrumento.
 Evitar o excesso de conicidade: broca sempre paralela ao longo eixo do dente, se estiver inclinada
as paredes tornam-se convergentes, levando a menor retenção e possivelmente à perda da coroa.
 Evitar margens subgengivais:
o Margem de segurança: acabamento e polimento.
o Extensão excessiva: margem localizada na raíz.
o Antes de talharmos os dentes, marcamos a linha da margem com uma caneta de acetato, de
modo a não fazermos o limite na raíz do dente.
 Evitar rebaixos: se inclinarmos a broca para o lado contrário, teremos uma retenção.

Técnica para coroa metalocerâmica

1. Realização da chave de silicone.


2. Redução oclusal:
o Primeiramente, inicia-se sempre a redução oclusal por planos, pois é de fácil acesso e não é
necessário ter cuidado com os dentes adjacentes.
o Realizado com a broca de ombro arredondado (espessura de 1mm na ponta), com uma
ligeira inclinação.
o É necessário desgastar 2mm, portanto devemos garantir que toda a espessura da broca está
a ser utilizada.
o Plano C: cúspides vestibulares (talhar em 4 faces que seguem a anatomia das cristas)
o Plano B: vertente interna das cúspides palatinas (não se destrói a ponte de esmalte).
o Plano A: vertente externa das cúspides palatinas, criando o bisel das cúspides funcionais
(desgaste que é feito na vertente externa das cúspides palatinas, pois sendo a zona que está
em função dos dentes superiores, é realizado um desgaste maior, já que precisaremos de
maior espessura para o material ter maior resistência nessa zona) e o sulco disto-lingual.
3. Redução axial:
o Talho palatino:
 Realizado num só plano, com uma broca de chanfro.
 Não invadir o espaço das cúspides funcionais.
 Broca paralela ao longo eixo do dente.
o Talho vestibular:
 É um talho em dois planos:
 Plano vertical que abrange o terço gengival e terço médio, com a broca
paralela ao longo eixo do dente.
 Plano do terço oclusal, com a broca ligeiramente inclinada.
o Talho proximal: broca em agulha (com movimentos de pincelamento, colocando a broca
por dentro da espessura do dente).
o Remodelação axial: usar uma broca de grão fino e arredondar tudo o que sejam arestas
mais marcadas.

30
Medicina Dentária 3º ano

4. Fixação de chanfro:
o Realizado com uma broca de chanfro.
o Marcar o limite em chanfro nas faces proximais.
5. Linha de terminação – preparação do ombro (bucal):
o Limite em ombro vestibular, o restante dente é em chanfro.
o Realizado com uma broca de ombro arredondado (80% da espessura da broca), paralela ao
longo eixo do dente.
o Marcam-se os limites com um lápis, sendo que o ombro em mesial estende-se para além do
ponto de contacto, na parte distal marca-se antes do ponto de contacto.
o A espessura dentro da linha externa é removida até 1mm.
o Nesta fase, podemos aproximar o limite do nível queremos, portanto o milímetro que
deixámos a mais vai desaparecer, e depois com uma broca de chanfro alisam-se aquelas
asas laterais, para que não se note a transição do ombro para o chanfro.
6. Acabamento e polimento: brocas de grão fino para aprimorar o trabalho.
7. Medições: chanfro (0,5-0,8mm), ombro (1mm), oclusal (2mm)

Espessura para coroas metalocerâmicas (Kuwata):

 Metal = 0,3mm
 Opaque = 0,2mm
 Cerâmica de recobrimento = 1mm
 O autor viu também que 50° é o ângulo crítico que permite que a porcelana seja estendida até à
terminação da margem (por isso é que não se utilizam limites verticais nas coroas metalocerâmicas,
pois é necessário um ângulo de superior a 50° para existir espaço para estes materiais todos).

Técnica para coroa cerâmica monolítica

 Zircónia é a cerâmica mais resistente, logo terá de se desgastar menos que as metalocerâmicas.
 As coroas cerâmicas por norma têm preparos mais conservadores do que as metalocerâmicas.
 Desgaste oclusal vai ser de 1mm, no máximo 1,5mm (nas coroas metalocerâmicas é de 2mm).
1. Redução oclusal.
2. Na face palatina, fazer o chanfro ou ombro arredondado. Na face vestibular faz-se a mesma coisa.
3. O desgaste é realizado com a broca paralela ao dente, mas no terço incisal a broca deverá ter uma
ligeira inclinação, porque em vestibular é um desgaste em dois planos.
4. Com a broca em agulha abrir o ponto de contacto até ter espessura suficiente para entrar com a
broca de chanfro.
5. Com uma broca de grão fino marcar melhor a anatomia do dente e o bisel das cúspides funcionais.
6. Marcar uma linha ao longo da margem da preparação e olhar para o dente de cima (vista oclusal). Se
não conseguirmos ver alguma zona do dente, significa que a angulação que demos à parede não é
suficiente para ter um preparo convergente.
7. Arredondar os ângulos vivos com brocas de grão fino ou multilaminadas.

Técnica para coroa cerâmica estratificada

 Duas camadas de cerâmica: cerâmica monolítica (núcleo – zircónia) e uma cerâmica feldspática.
 Desgaste de 2mm em incisal e ombro arredondado de 1mm (ângulo interno será redondo).

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Medicina Dentária 3º ano

 A transição de incisal para proximal deve ter sempre ângulos redondos.


 O desgaste nas paredes axiais é de 1mm, portanto nos limites proximais é tudo 1mm. Nos dentes
anteriores, é necessário ter cuidado com o cíngulo.
 Há um desgaste em lingual de 1,5mm, que deve de ser feito na realidade clínica, de modo a existir
espaço entre os dentes que estamos a preparar e os dentes no maxilar oponente (não fazemos isso
aqui, porque não temos dentes antagonistas).

A primeira linha (tracejado) corresponde


à margem. A transição da coroa clínica
para a raíz é segunda linha.

1. Primeiro utiliza-se uma broca de chanfro ou de ombro arredondado.


2. Redução incisal:
o É realizado um desgaste progressivo, portanto primeiro desgasta-se do lado esquerdo
até ao lado direito com a broca (sabemos que a ponta da broca tem 1mm).
o Depois de se desgastar 1mm não se desgasta mais, para ter margem para dar
acabamento ao dente, uma vez que no acabamento é realizado na mesma algum
desgaste com as brocas de grão fino, e nessa fase chegamos aos 2mm.
3. Desgaste da face vestibular: desgaste em 2 planos, portanto no terço incisal segue-se uma
angulação com o desgaste de 1mm, e depois a mesma coisa no terço médio e gengival.
4. Desgaste interproximal: abrir o ponto de contacto. O desgaste com as brocas em agulha deve
ser por dentro da espessura do dente, ou seja, não devemos ter a broca na transição entre um
dente e outro.
5. Redução axial: com uma broca de ombro arredondado marcar o limite a nível gengival (marcar a
linha como referência da linha de gengiva).
6. Desgaste da face palatina: desgaste em 2 planos, primeiro a zona do terço gengival em que o
talho é reto, portanto a broca é colocada paralelamente, e depois a zona do cíngulo, com uma
broca arredondada (rubgy) e outra angulação.
7. Acabamento: broca de chanfro de grão fino para dar acabamento e eliminar arestas vivas.
8. Polimento: com borracha verde.

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Medicina Dentária 3º ano

Cerâmicas puras
 As cerâmicas têm um papel muito importante em PF, nomeadamente pela sua estética.
 Não existem cerâmicas “impuras”, mas a cerâmica pura foi um termo muito utilizado quando estas
se começaram a utilizar, significando apenas que estas cerâmicas não tinham metal, tinham uma
estrutura puramente feita em cerâmica.
 A cerâmica é um material inorgânico, não-metálico, especificamente confecionado para formar em
parte, ou no seu todo, uma restauração dentária ou uma prótese.
 Coroas metalocerâmicas: infraestrutura em metal que é recoberta por cerâmica, com o propósito
de esconder a cor do metal e de se conseguir alguma estética nestas peças.

História

 Material mais sofisticado na idade da pedra.


 Alexis Duchâteau (1774): primeira referência a cerâmicas em termos dentários.
 Murphy (1837): cerâmica foi descrita pela primeira vez como uma restauração – 1ª restauração
cerâmica unitária.
 Land (1887): 1ª coroa de porcelana confecionada sobre uma lâmina de platina.
 Nos dias de hoje, as cerâmicas são amplamente utilizadas, ao nível de loiças, motores, microchips,
travões, etc.

Cerâmicas dentárias tradicionais

 São vidros de sílica e feldspato aos quais são adicionados pigmentos, opacificadores e fundentes.
 A sílica é um elemento chave da cerâmica tradicional, enquanto que o feldspato (mais
especificamente as cerâmicas feldspáticas), têm como constituinte principal a sílica. As cerâmicas
feldspáticas são das cerâmicas mais antigas e das mais utilizadas, por serem mais estéticas.
 Também se pode falar em vidro não-cristalino, composto por unidades estruturais de sílica e
oxigénio (SiO₄ tetrahedra).
 Nenhum outro material, senão a cerâmica, consegue imitar a estrutura dentária tanto em termos
de cor como de textura superficial, a longo prazo (a cerâmica mantém a sua estrutura e o seu
aspeto no meio oral, ao contrário dos compósitos que, apesar de imitarem a estrutura dentária com
muita qualidade, apresentam alguma porosidade, levando a alterações da superfície e da cor).

Caso clínico:

 Está apresentado um paciente que, em determinada altura, teve doença periodontal, apresentando
retração gengival e desaparecimento da papila interdentária.
 Nesta situação, poderíamos utilizar cerâmicas, mas também resinas compostas.
 A cerâmica implica quase sempre um desgaste da superfície, porque é necessário
arranjar espaço para colocar a restauração, e implica o laboratório, constituindo
um trabalho mais dispendioso.
 Pode ser também uma opção as facetas, que, nalgumas situações específicas não
requerem desgaste, mas em regra geral é necessário desgastar.
 Nos compósitos, existe uma maior conservação da estrutura dentária, logo há
casos em que a utilização deste material promove resultados satisfatórios.

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Medicina Dentária 3º ano

As cerâmicas apresentam diversas vantagens e desvantagens, de acordo com a sua estrutura molecular:

Vantagens Desvantagens
 Natureza quebradiça (pode levar à necessidade de um
 Translucência (as propriedades fotodinâmicas das
talhe muito excessivo).
cerâmicas permitem-lhe criar efeitos de translucidez e
 Baixa resistência à deformação (ao contrário do metal,
opalescência, tal como o esmalte, enquanto no metal
como o ouro que é um material dúctil, a cerâmica é
existe o problema da opacidade).
um vidro, fraturando quando sujeita a determina
 Reflexão de luz (penetração e reflexão da luz nos
força).
tecidos dentários).
 Técnica sensível.
 Biocompatibilidade muito elevada.
 Desgaste dos antagonistas (quando o material é mais
 Estabilidade (não se altera ao longo do tempo –
rijo que o esmalte, ocorre o desgaste do esmalte
durabilidade e longevidade).
durante a função).
 Bom isolamento térmico (não transmite a
 Custo clínico/laboratório (no início eram mais caras
temperatura como um metal, num dente vivo isto é
que as metalocerâmicas, mas atualmente existem
importante).
técnicas que permitem reduzir significativamente os
 Resistência à compressão e à corrosão.
custos).
 Baixa radiopacidade (a radiopacidade das cerâmicas
 Pontes (não é opção, contudo atualmente já existem
tradicionais permite ver o que está por baixo da coroa
cerâmicas muito resistentes com capacidade de fazer
ou no coto, mas isto não acontece com cerâmicas de
pontes de vários elementos).
alumínio e zircónia).
 Attachement (contraindicada).
 Alergia a ligas metálicas, o que não ocorre com as
 Fresagem (contraindicada).
cerâmicas.

Attachement/fresagem:

 Neste caso, será feita a reabilitação de um desdentado parcial.


 É visível que existe um implante no 2º quadrante, sendo o objetivo fazer
uma prótese combinada, ou seja, uma prótese conjunta entre uma prótese
fixa e uma removível, ligadas através de uma fresagem ou attachement
(não coexistem, estão ligadas).
 Existe ainda uma coroa com uma fresagem (foi criado um espaço e um
apoio metálico para a prótese esquelética assentar), a ainda com um
attachement, que dá retenção à prótese e ajuda a dispersar a pressão
durante a mastigação para evitar fratura, o que faz com que não seja
necessário utilizar ganchos (muito inestéticos).

Cerâmica ideal

 Estética
 Resistência
 Biocompatibilidade
 Ajuste (se não for perfeito, vai haver infiltração)

Nesta imagem, está representada uma coroa com uma


infraestrutura numa cerâmica que substitui o metal
(cerâmica de alta resistência) e depois uma cobertura
com uma cerâmica tradicional translúcida (feldspática).

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Medicina Dentária 3º ano

Classificação das cerâmicas Atualmente a classificação baseia-se mais


frequentemente na composição e fabricação.
1. Temperatura de fusão
2. Composição
3. Método de fabricação

Segundo a temperatura de fusão

 Alta fusão: 1290 a 1370°


 Média fusão: 1090 a 1260°
 Baixa fusão: 870 a 1065°
 Muito baixa fusão: < 850°

Nas metalocerâmicas, a temperatura de fusão da cerâmica tem que ser diferente da do metal, uma vez que
primeiro se realiza o metal e depois a cerâmica é colocada por cima. No forno, o metal não pode sofrer
alteração nenhuma, pelo que o ponto de fusão do metal tem que ser mais alto do que o da cerâmica.

Se o técnico de prótese fraturar a cerâmica, pode usar uma cerâmica de baixa ou muito baixa fusão para
remediar a fratura, sem ter que alterar o resto.

Segundo a composição

 Cerâmicas vítreas
 Cerâmicas vítreas infiltradas (são adicionados outros constituintes)
 Cerâmicas policristalinas ou cristalinas

Dois grandes grupos de cerâmica:


 Cerâmicas vítreas  cerâmicas tradicionais (sílica, feldspato)
 Cerâmicas policristalinas (zircónia)

Cerâmicas vítreas

 Primeira cerâmica a ser utilizada na medicina dentária.


 Basicamente constituída por dois minerais:
1. Feldspato  fase vítrea
2. Quartzo  fase cristalina
 Apresenta-se sob a forma de pó e líquido.
 Material conformado como vidro, e depois sujeito a um tratamento térmico para induzir a sua
devitrificação parcial, isto é a perda de substância vitrosa por cristalização do vidro.
 Cerâmica mais conhecida é a cerâmica feldspática (é a mais estética, porque é a mais transparente,
a que deixa passar mais luz e que tem o efeito natural do esmalte).

Cerâmicas vítreas infiltradas

 Cerâmica que, para além da fase vítrea, contém cristais de reforço na sua estrutura.
 Esses cristais podem ser de óxido de lítio ou leucite, que a tornam mais resistentes.
 Apresenta-se sob a forma de pó e líquido, ou de blocos prensáveis ou fresáveis.

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Medicina Dentária 3º ano

Cerâmicas policristalinas

 Possivelmente as mais utilizadas hoje em dia.


 Podem ser de:
o Alumina (óxido de alumínio): foi a que apareceu primeiro e que massificou a utilização das
cerâmicas não só na zona estética como nos sextantes posteriores, sendo muito resistentes.
o Zircónia (óxido de zircónia): substituiu a alumina, sendo a que se utiliza mais hoje em dia.
 Apresentam-se sob a forma de discos, que entram numa máquina e, por fresagem ou por CAD-CAM,
adquirem a forma final.

Grandes avanços na utilização de cerâmicas puras

1. Técnica adesiva

Quando se pretende restaurar um dente com uma resina é necessário ter retenção, sendo por isso
realizado um ataque ácido à estrutura dentária que cria microretenções dentro do esmalte e na dentina,
de forma a que o material utilizado posteriormente penetre nessas retenções. Para uma coroa ter
retenção existem algumas regras, tais como as paredes opostas terem uma inclinação entre 6-10° (o ideal
era serem paralelas mas é impossível realizar esse preparo na boca), uma certa altura, uma grande área,
pelo que logo aqui se consegue uma certa adaptação e retenção, e depois ainda existe o cimento.

2. Cerâmicas melhoradas
3. Novas cerâmicas (cerâmicas policristalinas)

Técnica adesiva

 Técnica de cimentação de próteses fixas que, recorrendo a resinas compostas e à preparação das
superfícies do dente e da prótese, garante uma união das mesmas que também é química.
 Portanto, é criada uma colagem química da restauração ao dente, em vez de física, constituindo o
fator retentivo principal de muitas restaurações pouco retentivas.
 Para colocar um compósito num dente é necessário preparar a superfície do dente, por isso se for
necessário criar retenção numa cerâmica, também será necessário preparar a sua superfície,
utilizando um ácido, de maneira a aumentar a área.
 A cerâmica não permite que o ácido penetre, portanto nas cerâmicas policristalinas a técnica
adesiva não é possível. Isto serve para as cerâmicas tradicionais.
 Objetivo: a união eficaz e duradoura entre um material restaurador e a superfície dentária.
 Indicações: promover a retenção de peças protéticas, em que a retenção física está, à partida,
diminuída (facetas, inlays/onlays, cotos com área diminuída)
 Sequência clínica:

O ataque ácido é feito em ambas as superfícies,


mas é um ataque diferente, porque o ácido
ortofosfórico apenas funciona no dente, sendo que
na cerâmica utiliza-se o ácido fluorídrico. O primer
também é diferente, e a resina vai funcionar como
agente de união das duas superfícies.

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Medicina Dentária 3º ano

 Adesão às cerâmicas (vítreas): a cerâmica é preparada com ácido hidrofluorídrico (o mesmo que
ácido fluorídrico; este ácido não consegue penetrar nas novas cerâmicas por serem muito densas e
dúcteis) e posteriormente é aplicado silano, que funciona como um primer.

Retenção química

 Silanização:
o As moléculas do silano tornam a cerâmica hidrofóbica.
o Reage com a sílica das cerâmicas.
o Protege a superfície da degradação hidrolítica.
o Facilita o molhamento pela resina.
 Cerâmica de vidro e silicato: primer  aplicar e deixar ficar durante 60 segundos  secar
 Cerâmica zircónia e metal: primer  aplicar e deixar ficar durante 3 minutos  secar
 Cerâmica: adesivo (bond)  união ao primer fazendo corpo com o compósito e resina fluida  não
polimerizar
 Resina:
o A resina é o material que faz a união entre o dente e a restauração na técnica adesiva (é um
cimento).
o Pode ser:
 Autopolimerizável: utilizada em coroas, porque a luz não alcança.
 Fotopolimerizável: é controlável, utilizada nas feldspáticas por serem transparentes.
 Dupla polimerização
o As resinas podem ter várias cores e várias opacidades, o que nos permite manipular a cor de
restaurações efetuadas com cerâmicas muito transparentes (grande vantagem, que não
existe com mais nenhum material).

A técnica adesiva tem muito efeito no esmalte, mas não tanto na dentina.
Para restaurar/ter uma coroa é necessário 3mm (mínimo) de altura e uma
convergência de 6-10° nas paredes.

Cerâmicas melhoradas

 Estas cerâmicas apareceram pela necessidade de realizar cerâmicas também em dentes anteriores.
 Juntaram-se às cerâmicas tradicionais alguns minerais de reforço, para aumentar a sua resistência,
como alumina, leucite, spinel, zircónia, etc.
 Aumentar a resistência, tem a grande vantagem de se poder executar uma restauração mais fina, o
que implica um menor desgaste da superfície dentária.

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Medicina Dentária 3º ano

Novas cerâmicas

 Alumina:
o É a percursora.
o Utilizada nas pontes por ser muito resistente e, consequentemente, fraturar menos.
o Torna possível realizar uma preparação muito semelhante à de uma coroa metalocerâmica,
constituindo um talhe muito menos agressivo.
o As cerâmicas mais resistentes possuem a vantagem de fraturarem menos, permitindo
realizar restaurações que estão sob maior carga, como pontes, e fazer um desgaste muito
mais conservador, semelhante ao de coroas metalocerâmicas.
 Zircónia
 Associadas diretamente à era do CAD/CAM, dependem de um processamento especial do material
para obter a sua resistência, designada de sinterização.

Antes desse processo, as cerâmicas não são muito duras e são, portanto, mais fáceis de cortar. Como
estes processos são feitos em CAD-CAM, que é uma máquina, que vai recortar o bloco de cerâmica e
depois com as indicações do software previamente definidas vai fazer a fresagem, quanto mais mole e
verde for a cerâmica, mais fácil é de cortar, por isso é que só se executa a sinterização depois.

Sinterização

 É o processo de aquecimento da cerâmica a uma determinada temperatura (750-1050 °C), durante


um tempo específico, diminuindo a porosidade da mesma.
 Ocorre a eliminação do espaço entre as partículas da cerâmica, pois as suas moléculas ficam muito
unidas, saída de ar e entrada de líquido, dando à cerâmica a sua dureza e resistência.
 Antes da sinterização, a cerâmica está verde, sendo mais fácil de cortar, depois da sinterização
constitui um material superduro. A cerâmica irá ser menos transparente, portanto à medida que há
densificação, torna-se mais opaca.
 Dois efeitos:
o Densificação da cerâmica
o Aumento da resistência

Óxido de alumínio (alumina) em cerâmicas dentárias

 A infiltração de alumina causa a dispersão das partículas, que não ficam densamente sinterizadas e
apertadas.
 Existindo um interstício de vidro, a luz passa melhor do que
no óxido de alumina densamente sinterizada, em que não
há vidro e só há partículas de alumina (Procera – marca de
cerâmica de alumina).
 As partículas de alumina têm tamanhos muito diferentes,
sendo esta a maior diferença para a zircónia, em que as
partículas são pequenas e redondas uniformemente, sendo
mais fáceis de condensar.

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Medicina Dentária 3º ano

Zircónia Y-TZP

 Policristais de zircónia tetragonais estabilizados com ítrio (ZrO2 + Y2O3).


 Partículas pequenas, com tamanho uniforme, que oferecem mais densidade e mais resistência.
 Partículas com 0,4 micra, densamente sinterizadas, em condições industriais.
 Instável à temperatura ambiente, mas adicionando ítrio (mais utilizado) ou magnésio por exemplo,
estabiliza o material para poder estar estável à temperatura a que é utilizado (da nossa boca).
 Usada como biocerâmica há mais de 20 anos.
 Uso regular como substituição de osso (prótese completa da anca).

Cerâmica de zircónia

 Maior módulo de elasticidade e maior resistência à fratura.


 “Tranformation toughening”: única cerâmica com esta característica.
 Exemplo: Zirkonzahn (marca de materiais e fresagens)
 Vantagens:
o Resistência à fratura (duplicação dos valores de resistência à fratura relativamente a outras
cerâmicas)
o Estabilidade
o Durabilidade

“Transformation toughening”

 Impede que haja a propagação de fendas e fissuras, que é a maior causa de fratura das cerâmicas.
 Endurecimento através da transformação das partículas da zircónia:
1. A cerâmica está num estado tetragonal.
2. Quando sujeita a compressão, há uma transformação das
partículas intrinsecamente, que aumentam de volume,
tornando a estrutura monocíclica.
3. O aperto estrutural faz com que a fissura não se consiga propagar ao longo da cerâmica,
evitando uma fratura futura.

Se tivermos uma fenda, as partículas aumentam de pressão e a fenda não se consegue


propagar. Este aumento de volume densifica o material de tal maneira que impede que a fenda
se propague ainda mais. Só acontece com a zircónia.
Antigamente, os laboratórios tinham uma grande dificuldade em disfarçar o metal e colocavam
muita cerâmica para tapar a cor mais escura. Atualmente, os técnicos utilizam zircónia, e têm a
dificuldade de mascarar algo muito branco e opaco, o que mesmo assim é preferível.

Limitações/problemas atuais

 As primeiras zircónias eram opacas brancas, portanto o laboratório para além de ter de disfarçar o
preto do metal, tinha também de disfarçar aquela cor opaca destas cerâmicas. Hoje em dia já se
conseguem alguns efeitos de transparência, existe uma certa de passagem de luz, o que do ponto
de vista estético melhora.
 Outro problema que surgiu foi a união entre a zircónia e a cerâmica de recobrimento, pois a
adesão entre os dois materiais, normalmente zircónia e feldspato, não é a melhor, sobretudo nas
zonas posteriores, e, com alguma frequência, existem complicações no consultório relativamente à
fratura da cerâmica de recobrimento.
39
Medicina Dentária 3º ano

 Por conseguinte, existe uma taxa significativa de fraturas da cerâmica de recobrimento


(“chipping”), que terá a sua origem na insuficiente força de adesão entre a estrutura base de
zircónia e da cerâmica feldspática de recobrimento.
 Se for algo muito pequeno, pode recorrer-se apenas ao polimento, mas uma grande fratura pode
implicar a destruição da coroa inteira e necessidade de refazer uma nova.

Cerâmica monolítica

 Cerâmicas elaboradas sem cerâmica de cobertura, sendo toda a estrutura feita de um bloco de
cerâmica, portanto é um tipo de coroa que toda ela é fresada em bloco, e não uma infraestrutura
sobre a qual o laboratório coloca uma camada de cerâmica feldspática.
 Vantagem: ausência de “chipping”
 Desvantagem: menor estética (opacidade aumenta, deixa de ter a camada de cerâmica vítrea,
contudo já existem blocos com degradé de cores diferentes a nível cervical e incisal, melhorando a
nível estético).

Campos de aplicação das cerâmicas dentárias

 Coroas (tradicionais/monolíticas)
 Inlays/Onlays/Overlay
 Facetas
 Implantes
 Falsos cotos
 Pilares para Implantes
 Pontes adesivas
 Espigões intra-radiculares

Coroas em cerâmica pura

 Quando existe necessidade de recobrimento total com o máximo de estética.


 Indicação: dentes anteriores e posteriores
 Contra-indicações/limitações: Dependemos a 100% da qualidade do
laboratório de prótese que temos (nós só damos
o Coroas fresadas e “attachements“
condições para ele fazer um bom trabalho).
o Hábitos parafuncionais

Inlays em cerâmica pura

 Indicação: restaurar esteticamente dentes com lesões pequenas a moderadas sem


comprometimento das suas cúspides.

Onlays em cerâmica pura

 Indicação: restaurar esteticamente dentes com lesões pequenas, moderadas ou extensas com
comprometimento de uma ou mais cúspides.

Overlays em cerâmica pura

 Indicação: restaurar esteticamente dentes com lesões extensas com comprometimento de


todas as cúspides.

40
Medicina Dentária 3º ano

Caso clínico:

 Paciente com o dente 27 muito destruído.


 Primeiro deve ser diagnosticado se o dente está ou não vital, sendo que neste caso
específico estava vital e assintomático, com uma mancha superficial em vestibular.
 Não constitui um bom dente para fazer uma coroa, uma vez que não tem retenção
suficiente, mas ainda existe esmalte em todo o contorno. Por ser um 2º molar, é um
dente pouco estético, mas pretende-se desgastar o mínimo de estrutura possível.
 Foi então removido um pouco de tecido das paredes, porque a cerâmica, como todos
os materiais, tem um mínimo de espessura necessária para garantir a resistência, e
no fim, colocou-se um overlay pela técnica adesiva.

Facetas em cerâmica pura Estrutura de cerâmica finas, as mais utilizadas são as cerâmicas feldspáticas
que são as melhores esteticamente, mas as menos resistentes.
 Indicações:
o Dentes com alteração da cor
o Dentes com alteração da forma
o Malformações dentárias
o Ligeiras mal-posições
 Contra-indicações:
o Dentes com restaurações extensas
o Dentes com ausência de > 1/3 da coroa clínica
o Hábitos parafuncionais
o Mal-posições acentuadas

Implantes em cerâmica pura

 Alumina (já não se realizam, porque a osteointegração não era satisfatória)


 Zircónia

Falsos cotos em cerâmica pura

 O melhor espigão é aquele que tem o mesmo módulo de elasticidade que a dentina: os de aço não
apresentam essa característica, então passou-se a utilizar o titânio para realizar espigões. Depois,
passou-se para os espigões de fibra de vidro e de carbono, que têm o comportamento ideal.
 Falso coto cerâmico: contraindicado pelo alto módulo de elasticidade.
 Falso coto metalocerâmico: falso coto metálico, com ótima ductilidade e módulo de elasticidade,
com cerâmica opaca na face vestibular, de modo a melhorar o fator da cor e opacidade.

Quanto maior for o módulo de elasticidade do material utilizado como falso


coto, maior o risco de fratura, pois tem de apresentar alguma flexibilidade.

Pilares para implantes em cerâmica pura

 Podem ser feitos em CAD-CAM, portanto faz-se uma impressão aos


implantes, desenha-se a linha do chanfro e depois é só aparafusar o
coto sobre o implante, de modo a colocar a respetiva coroa (tudo isto
em cerâmica).

41
Medicina Dentária 3º ano

Pontes em cerâmica pura

 Só é possível ser realizado em zircónia.


 As pontes em geral têm uma zona mais frágil, que é a zona
do conector.
 Apresentam a desvantagem de fraturar nos conectores,
pelo que não podem existir conectores com menos de 3
mm de altura ou espessura (4x4mm).

Em CAD-CAM basta desenhar a prótese e enviar para a fábrica. O próprio


programa de desenho não permite que sejam feitos desenhos com
características que comprometam a integridade da restauração.

As forças mastigatórias exercidas nos dentes


posteriores são muito superiores às forças dos
dentes anteriores, pelo que é necessário ter isso em
conta quando se escolhe o material da restauração.

 Podem ser:
o Pontes em cerâmica pura com elementos suspensos
o Pontes em cerâmica pura para a arcada completa
o Pontes adesivas em cerâmica pura

Vantagens Y-TZP (zircónia) em pontes

 Nas pontes, como a zircónia é muito mais resistente, é possível ter um conector mais pequeno.
 No caso de ser alumina ou dissilicato (cerâmica de sílica), não se pode realizar pontes em molares,
porque seriam necessários conectores muito grandes para não fraturar.
 Ainda sobre a zircónia, as suas pontes são mais simples, estéticas e com mais aplicações, como a
execução de uma ponte com elementos suspensos, o que é impossível de se realizar com qualquer
outra cerâmica.

Caso clínico:

 Presente uma ponte anterior numa paciente que tem fenda palatina e lábio leporino.
 Esta paciente já tinha sido operada por causa de um defeito nos tecidos moles, pelo que
o mais intuitivo seria colocar um implante, no entanto esta não queria uma prótese
removível nem ser submetida a mais processos cirúrgicos, por isso neste caso colocou-
se uma ponte.
 Utilizou-se uma sonda para saber se existia espaço para o conector sem que fraturasse.
 O facto de ser uma ponte entre um canino e um incisivo central é péssimo, porque com
a guia canina, o canino faz força para um lado, e com a guia protrusiva, o incisivo
empurra para outro, logo as tensões naquela área são imensas.
 A ponte produzida era muito estética, inclusive com cerâmica rosa na zona da gengiva,
mas, ao fim de uma semana, fraturou no conector por não ter espessura suficiente.

42
Medicina Dentária 3º ano

 Como foi colocada por técnica adesiva, teve que ser talhado e colocou-se uma nova em zircónia,
menos estética, com conectores pequenos, mas mais resistente por ser de zircónia.

Pontes adesivas em cerâmica pura

 Quando há ausência de um dente, pode realizar-se um desgaste e colocar-se uma faceta


por palatino no dente adjacente, para que o dente a substituir fique colado por via
adesiva a esse dente adjacente, permanecendo apenas suportado por um dente.
 Não é uma situação ideal, mas funciona e é muito conservadora.
 Deve existir um eixo de inserção comum na cavidade oclusal e nas boxes.

Preparação dos dentes

 Respeitar espaços.
 Terminação marginal com ombro arredondado ou chanfro (profundo):
o Na cerâmica antiga, é necessário um ombro, que é muito profundo e desgasta muito, mas
atualmente, com cerâmicas resistentes, é possível realizar um chanfro profundo.
o Nas facetas não há grande preocupação, porque a técnica adesiva basta, apesar das facetas
serem extremamente frágeis, a partir do momento em que estão cimentadas apresentam a
resistência de um dente normal, o que é muito importante.
 Ângulos internos arredondados.
 Ausência de ângulos agudos (acumulação de tensão que é pior na cerâmica do que no metal).

Sistemas de cerâmica pura

 In-Ceram
 Hi-Ceram E
 Empress
 Dicor
 Zirkonzahn
 Cerestore
 Procera
 Cerapearl

Métodos de fabricação

 Tradicional  Fresagem com modelo prévio


 Cera perdida  Fresagem tipo CAD/CAM
 Compressão a quente  Futuro

Tradicional

 É a forma de apresentação tradicional, em que se utiliza pó e líquido, e com


um pincel acrescentam-se várias camadas de cerâmica feldspática, sendo que
no final o conjunto é colocado no forno.
 Realiza cerâmicas vítreas.
 Modelo refratário.

43
Medicina Dentária 3º ano

Cera perdida

 É o método utilizado para produzir as coroas metalocerâmicas.


 Ocorre inicialmente um enceramento, que depois é colocado dentro de um cilindro, refratário, faz-
se um aquecimento que provoca o desaparecimento da cera, permanecendo no interior apenas o
espaço correspondente ao metal da coroa.
 Numa centrífuga, coloca-se o metal líquido, que é empurrado através da centrifugação para o
espaço deixado pela cera, ocupando esse lugar.
 Atualmente, este método também pode ser executado com cerâmica.

Dicor (Dentsply)

 Primeira vitrocerâmica comercialmente disponível para uso dentário.


 Já não está no mercado.
 Reforçada por: flúormica  tetratsílica – flúormica
 Técnicas:
1. Técnica convencional da cera perdida com moldagem por injeção.
2. Tratamento térmico de ceramização (formação de cristais dentro da matriz vitrosa).
 Portanto, pelo mesmo método que no metal, a cerâmica realiza uma réplica exata da cera ao
ocupar o seu lugar, mas é muito importante ter em conta o ponto de fusão da cerâmica
(centrifugação a > 1000 °C).

Compressão a quente

 Uma das marcas que utiliza este método é a Press Ceramics, com cerâmicas comprimidas, que é um
processo iniciado pelo método de cera perdida.
 Serve para realizar estruturas que posteriormente vão ser cobridas com feldspato, ou estruturas
monolíticas, de um único material.
 Técnica de execução:
1. Inicialmente existem cilindros de cerâmica, de várias cores, e realiza-se o enceramento, mas
no processo empress.
2. Aquecimento que provoca a remoção da cera, mas neste caso a cerâmica entra para o
espaço através de pressão ao invés de ser por centrifugação.
3. Um êmbolo empurra a cerâmica liquefeita, para o interior do espaço vazio.
 Uma das cerâmicas que se utiliza neste processo é dissilicato de lítio (Empress 2 Ivoclar):
o O dissilicato de lítio, que pode existir sob a forma de cilindro, pode ser fundido e
comprimido, é uma cerâmica de compromisso.
o No fundo, não é tão transparente como o feldspato nem tão resistente como a zircónia
(apresenta mais resistência que o feldspato e menos resistência que a cerâmica de zircónia),
mas conjuga os dois efeitos:
 Quanto mais densa a cerâmica  mais opaca e mais resistente
 Quanto mais transparente  menos densa e menos resistente
 Estando no meio destas duas cerâmicas, o dissilicato funciona como um meio termo,
com partículas mais densas que o feldspato (maior resistência – como a zircónica),
e como não é um material densamente sinterizado, existindo ar entre as partículas,
tem alguma translucência, com um bom poder estético (como o feldspato).

44
Medicina Dentária 3º ano

o Constitui um material resistente o suficiente para fazer uma ponte (mas não extensa e que
substitua os molares, pode ir apenas até ao 2º pré-molar), apesar de não ser o ideal.
o Não é um material cristalino:
 É um material, tal como o nome indica, à base de sílica, tendo a vantagem de poder
ser cimentado por técnica adesiva.
 As cerâmicas cristalinas (como a zircónia) são tao duras e densas, que o ácido
fluorídrico não penetra na sua superfície, portanto não podem ser cimentadas por
técnica adesiva.

As cerâmicas podem ser divididas em cristalinas e vítreas, portanto, as que


têm sílica e as que não têm. Como curiosidade, podemos tratar as
cerâmicas vítreas com jatos de sílica para aumentar a sua adesão. As vítreas
podem ser infiltradas por outras cerâmicas, de forma a aumentar o reforço.

Fresagem com modelo prévio

 Esta é uma técnica inicialmente utilizada pela Zirkonzahn.


 Na realização de uma chave, utiliza-se uma máquina em que, do lado esquerdo se prende a chave
original, que apresenta um ponteiro que lê a chave, e do lado direito existe uma broca que molda
uma chapa metálica, com o objetivo de fazer da chapa uma cópia da chave.
 Este processo de fresagem é muito idêntico.
 Implica a existência de outro modelo, de resina ou outro material, de forma a ser copiado (portanto
implica mais um passo e mais gasto).
 Inicialmente, era um processo manual, em que ocorriam muitos erros e com uma qualidade muito
dependente do técnico. Atualmente, é tudo mecânico e feito em CAD-CAM.

Fresagem tipo CAD/CAM

 Muitos sistemas CAD/CAM permitem trabalhar não só a zircónia, como também outros materiais
(Titânio, Cr Co, etc.).
 O desenho e fabrico são auxiliados por computador:
o CAD – desenho com auxílio de software
o CAM – manufatura assistida por computador
 O fluxo tecnológico pode, atualmente, iniciar-se dentro do consultório, ou seja, ao invés de se
realizar um molde em silicone ou com materiais de impressão, utiliza-se uma câmara intra-oral e
faz-se uma leitura que capta a imagem do dente, resultando numa imagem virtual do coto.
 Uma grande limitação destas câmaras, que podem funcionar por fotografia ou filme, é fazer a
leitura de um canal, portanto, neste momento, os profissionais que têm um scanner no consultório
necessitam de continuar a ter materiais de impressão para fazer o falso coto.
 Mais uma vez, o maior problema de coroas mal-adaptadas são os problemas de infiltração,
nomeadamente a cárie secundária.
 Principais vantagens da tecnologia CAD/CAM:
o A fresagem à temperatura ambiente de materiais cerâmicos processados em processos de
alta qualidade cria estruturas homogéneas, nas quais bolhas e fissuras são reduzidas ao
mínimo.

45
Medicina Dentária 3º ano

o Constituir um processo digital, ou seja, se alguma parte fraturar, não é necessário fazer uma
nova impressão, porque o ficheiro com a impressão da coroa está guardado.
o Ser possível pedir ao laboratório inúmeras coroas iguais.

Cerec

 Sistema in-office.
 Apresenta uma unidade de fresagem e uma câmara.
 O médico dentista consegue fazer coroas e pequenas pontes sem
intervenção do laboratório.
 É um sistema extremamente revolucionário, porque não necessita
de impressão e permite realizar uma coroa imediatamente e ainda
em consultório:
o Faz-se o scan do dente talhado, a coroa é desenhada, envia-se a informação para uma
unidade de fresagem que, ao fim de 20 minutos, transforma um bloco numa coroa.
o Isto implica que o médico dentista, numa consulta de uma hora e meia, consiga fazer todo o
processo, desde o talhe do dente até à colocação da coroa.
o Atualmente, até possível fazer a leitura dos antagonistas e da oclusão presente.
o Por só utilizar um bloco e não ter uma estética perfeita, normalmente é mais utilizada em
dentes posteriores, mas existe a possibilidade de utilizar esta máquina apenas pelo scanner
e enviar para o laboratório, de forma a ser realizado um trabalho mais minucioso.
 Normalmente não é utilizada zircónia, por ser muito dura, mas sim uma cerâmica tradicional.

Procera

 Este sistema funciona tal como a máquina de cópia de chaves.


 Existe um troquel e uma ponta que anda à volta do troquel a fazer uma leitura, sendo que depois
essa imagem é passada para o computador.
 Técnica de execução:
1. O troquel montado no produto.
2. Através da leitura a forma do dente é transferida para o écran do computador.
3. A peça é desenhada pelo técnico de prótese. O primeiro passo é a linha de acabamento.
4. O contorno do dente é preparado, registado pelo Procera® Scanner.
5. Os dados são transmitidos via modem para a unidade de produção.
6. Fresagem.
7. Sinterização.
8. A expansão controlada pelo computador compensa a
contração provocada pela sinterização.
9. Envio das peças para os laboratórios.

Laboratórios:

 KaVo Everest
 Etkon (Straumann)

46
Medicina Dentária 3º ano

Na imagem, está o exemplo de um troquel e de uma cópia do troquel com um


tamanho muito superior ao tamanho inicial. No modelo de zircónia inicial,
sabendo que vai haver sinterização, e que vai haver contração do material ao ir ao
forno, da qual temos conhecimento, significa que o nosso modelo verde, o nosso
modelo inicial, tem que ser feito já a contar com a posterior contração. A
expansão controlada pelo computador compensa a contração provocada pela
sinterização. Através destes sistemas também podemos mandar fresar coroas
provisorias, através de blocos de acrílico, ou até mesmo restaurações em metais.

Futuro

Existem muitas ideias, relativamente a impressões, por exemplo. Atualmente já conseguimos imprimir
coroas provisórias no laboratório. Uma das maiores vantagens é a diminuição do custo, porque estamos a
eliminar passos. Por outro lado, temos que ter o tempo, espaço e recursos humanos necessários para fazer
este tipo de processos no consultório.

Utilizamos um método de subtração, em que começamos com um bloco e desgastamos o que for
necessário para chegar ao resultado final. Isto cria imenso desperdício. Se pudermos ter um método aditivo,
diminuímos muito o desperdício (como um método de impressão, com impressoras 3D). Contudo, para
podermos imprimir em cerâmica, teríamos que imprimir a uma certa temperatura, o que precisaria de uma
tecnologia muito especial, mas é possível que exista no futuro.

Idealmente, queremos um processo com o menor custo, mas com o melhor resultado, a curto e longo
prazo e que seja biocompatível.

Additive Manufacturing

 SLS – Selective Laser Sintering (impressão a laser)


 FDM – Fused Deposition Modeling
 SLA – 3D printing and stereolithography
 LCM – lithography-based ceramic manufactoring

Caracterização das cerâmicas

 Maquilhagem – externa (uma pintura e um glaze por cima da cerâmica original, mas sai facilmente
com o desgaste)
 Estratificação – interna (camadas de cores diferentes, para obter uma restauração o mais parecido
ao natural possível)

Coloração da cerâmica

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Medicina Dentária 3º ano

Cimentação

Não podendo fazer ataque ácido na zircónia, começou-se a fazer a alteração da superfície por outros
meios, como jatos, de modo a criar irregularidades que melhoram os valores de adesão.

Tratamento de superfície

 União micromecânica:
o Ácido hidrofluorídrico
o Jato de areia
 Com efeito (cerâmicas tradicionais, que são suscetíveis de serem atacadas pelo ácido):
o IPS-Empress
o IPS-Empress 2
o Cergogold
 Sem efeito (cerâmicas aluminas):
o Procera
o In-Ceram

Cimentação com material à escolha

 Numa zircónia não é possível fazer técnica adesiva, então uma solução seria utilizar fosfato de zinco.
 Alguns estudos defendem a eficácia do fosfato de zinco (sendo que aumenta a sua retenção ao
longo do tempo), enquanto que outros indicam que este material tem uma micro-infiltração muito
elevada, cerca de 8 vezes superior à das resinas.
 O fosfato de zinco não deve ser utilizado em cimentações de cerâmicas, pois dissolve-se, mas
funciona muito bem em metais.
 O material mais utilizado hoje em dia é o ionómero de vidro modificado com resina (apresenta as
vantagens da resina, mas não as suas desvantagens, para além de que aumenta a sua retenção ao
longo do tempo), e é utilizado universalmente exceto na técnica adesiva.
 A técnica adesiva é muito cara já que envolve muitas resinas e outros materiais.

Estudo em artigo:

1) A cimentação de restaurações Procera com fosfato de zinco é altamente eficaz (aqui falamos de
alumina que é uma cerâmica policristalina).
2) A força retentiva com o tempo aumentou em vez de diminuir.

Resinas compostas

Vantagens Desvantagens
Menor microinfiltração.
Maior retenção, principalmente pela técnica adesiva. Técnica muito sensível.
Existindo uma colagem química, há uma melhor Custo elevado.
dissipação das forças pela estrutura dentária. Isolamento por vezes não é fácil.
Cor, pois permite que seja controlada.

É essencial ter cuidado com o tipo de cerâmica, pois se for uma cerâmica frágil,
não se devem fazer testes de oclusão antes da cimentação. Se for uma zircónia,
é possível fazer primeiro os testes de oclusão e só depois a cimentação.
Idealmente, na técnica adesiva também colocamos um dique.
48
Medicina Dentária 3º ano

Acabamento

 Idealmente, não se deve mexer na cerâmica, esta já deve vir pronta do laboratório, no entanto, é
raro receber-se uma coroa finalizada, em que a oclusão está perfeita.
 Se for necessário fazer alguma alteração, com o auxílio de brocas, a última coisa que se pretende é
provocar fissuras na cerâmica, portanto é necessário um cuidado acrescido:
1. Ajuste oclusal destrói a camada superficial (“Glaze” – camada de acabamento da cerâmica
para preencher poros e proteger as camadas subjacentes).
2. Facilita a formação de microfissuras.
3. Carga cíclica + saliva.
4. Fadiga mecânica com crescimento das fissuras.
5. Fratura.
 Duas hipóteses:
1. Reenviar a peça para o laboratório e pedir para fazer de novo a última camada, isto se a
correção tiver sido muito grande.
2. O próprio clínico realizar o acabamento com brocas próprias para cerâmica no consultório
(do grão mais grosso ao mais fino).
 Devem ser utilizadas brocas de grão fino, de forma a evitar o aquecimento, e a baixa rotação, para
agredir ao mínimo a cerâmica.
 Polimento das cerâmicas:
o Baixa rotação.
o Refrigeração.
o Borrachas próprias.
o Pasta de diamante (no fim é muito importante a utilização desta pasta).

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Medicina Dentária 3º ano

Preparação de cavidades para restaurações fixas intra-coronárias


 Os inlays, onlays e overlays têm vindo a ser cada vez mais utilizados, não só por serem mais fáceis
de realizar, mas também porque podem ser feitos em cerâmica.
 São restaurações parciais, uma vez que NÃO envolvem todo o perímetro do dente, e intra-
coronárias fixas, realizadas pela técnica indireta através de uma impressão da cavidade.

Os inlays e onlays podem ser realizados com vários materiais:

 Metais: ouro, ligas semipreciosas, semipreciosas “Restaurações de ouro fundido devem ser limitadas a dentes
 Excelente durabilidade. que precisam de cobertura de cúspide para proteção e
 Desgaste mínimo dos oponentes. reforço do dente. A verdadeira incrustação de ouro fundido
 Grande resistência à corrosão. não é mais uma consideração razoável no tratamento
conservador de dentes não restaurados.” (1979)
 Grande resistência à fratura.
 Maleáveis.
 Cimentação simples com fosfato de zinco ou ionómero de vidro.
 Boa opção para zonas de alto “stress”.
 Fácil e variado manuseamento clínico (isto particularmente ao nível do ouro).
 Perda de popularidade.
 Esteticamente desfavoráveis.
 Cimentação não adesiva.
 Condução térmica.
 Cerâmicas:
 Têm uma excelente forma anatómica (hoje em dia são realizadas em CAD/CAM, mas por
vezes podem não estar 100% adaptadas ao dente).
 Altamente estéticas.
 Podem ter uma elevada durabilidade (depende muito do tipo de cerâmica – diferenças ao
nível da cimentação, adesão, dureza e resistência mecânica), mas a cerâmica é sempre mais
frágil que o metal.
 Utilização de técnica adesiva (não há uma cimentação adesiva real nas cerâmicas reforçadas
não cristalinas – zircónia e alumina –, é pseudo-adesiva).
 Condução térmica semelhante à do dente.
 Biocompatibilidade.
 Estabilidade dimensional.
 Técnica de cimentação muito sensível.
 Material muito duro, provocando o desgaste dos antagonistas.
 Compósitos indiretos:
 Permitem ajuste da cor diretamente.
 Menor contração de polimerização (por serem indiretos).
 Melhor polimerização (por ser feita fora da boca em fornos próprios para isso).
 Melhor ajuste marginal.
 Melhor contorno anatómico.
 Melhor ponto de contacto.
 Menor desgaste.

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Medicina Dentária 3º ano

 Eventual menor sensibilidade pós-operatória (como normalmente é necessária mais que


uma consulta, a cimentação adesiva e o ataque ácido não são tão imediatos, o que faz com
que a sensibilidade seja menor).
 Mais barato.
 Menos frágil/friável que a cerâmica.
 Sofrem maior desgaste.
 Menor estabilidade da cor.
 Mais poroso.

Fatores essenciais aquando da realização de uma restauração indireta

 Presença de margens em esmalte, visto que a adesão da cerâmica ao esmalte é melhor do que à
dentina, promovendo um isolamento marginal mais eficaz.
 Pacientes com uma boa higiene oral e bom controlo de placa:
o Ao realizar uma restauração indireta, vai existir uma quantidade de linhas de terminação
superior àquelas que existem aquando da realização de uma coroa (maior número de
margens expostas à cavidade oral).
o Desta forma, em pacientes com deficientes cuidados de higiene oral existe uma grande
probabilidade de infiltração das margens, originando cárie secundária.
o Nesses casos, é preferível escolher uma coroa, porque nos inlays e onlays é maior o número
de interfaces retentivas que vão ficar expostas na cavidade oral.

Inlay Hoje em dia opta-se por realizar restaurações


do tipo inlay em cerâmica, com recurso a
 Definição: restauração na face oclusal sem envolver cúspides. sistemas adesivos, desta forma é ideal que as
margens sejam todas de esmalte, com vista a
Indicações promover uma melhor adesão e adaptação.

 Istmo > que ½ da distância de intercuspidação (cavidades em que a distância intercuspídea é maior
que a metade da distância entre a ponta das cúspides).
 Cavidades com uma ou mais cristas marginais envolvidas (MO, MOD, OD – classe II – pontos de
contato), visto que aquando da perda das cristas marginais, a integridade estrutural do dente fica
comprometida, com diminuição da resistência do complexo pulpo-dentinário.
 Compromisso estrutural moderado a extenso.
 Cavidade muito profunda (associado ao fator C, ao utilizarmos uma restauração indireta eliminamos
a contração de polimerização).

Contraindicação

 Dentes pequenos ou cavidades pouco profundas: perde-se o efeito de cunha, baixa retenção, baixa
resistência.
 Índice de cárie elevado.
 Paciente com maus hábitos de higiene oral e elevada placa bacteriana.
 Inlays MOD aumentam o risco de fratura das cúspides.
 Pouco suporte dentinário (deve-se fazer onlay).

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Medicina Dentária 3º ano

Características (em cerâmica)

 Conicidade com divergência (taper de cada uma das paredes deve ser à volta de 6°, ou seja, a broca
deve estar ligeiramente inclinada para o exterior das paredes vestibular e palatina, no sentido
vestíbulo-palatino): permite o trajeto passivo de inserção da restauração indireta.
 Ângulos internos arredondados: minimiza as áreas de concentração de tensão cerâmica/dente.
 Margens externas bem definidas: cerca de 90°, não devem ser biseladas, de modo a que não se
verifique uma diminuição de espessura e para o técnico de laboratório poder identificar claramente
o selamento marginal pretendido e realizá-lo com precisão, bem como para depois na cimentação
da restauração conseguirmos ter a menor espessura de cimento possível.
 Espessura adequada para o material selecionado: 1,5-2mm (ideal) – resistência intrínseca.
 Ausência de áreas estruturais enfraquecidas: como esmalte não suportado ou uma espessura
reduzida da estrutura dentária (as paredes das cúspides terão que ter pelo menos 1,5mm de
espessura e não se vai conseguir tirar o esmalte não suportado, nesse caso teria de se passar de um
inlay para um onlay, ou seja, seria necessário realizar a redução das cúspides).

Inlay – Metal (gold):

 Margens biseladas.
 Ouro  menor gap marginal (de todos os materiais existentes na área de PF).
 Cada vez se vêm menos, devido principalmente à estética.

Inlay – cerâmica:

 Margens com certa espessura e um acabamento específico (sem biséis e ângulos arredondados).
 Tem como vantagem a utilização dos adesivos.
 Importante ter as margens todas em esmalte para uma ótima adesão.

Vantagens Desvantagens
Requer um grande respeito e conhecimento da técnica no
Mais estéticos.
preparo e cimentação.
Confecionados fora da boca em condições ideais.
Maior desgaste para ter a retenção.
Maior longevidade e durabilidade.
Fragilidade elevada antes da cimentação.
Redução da contração de polimerização.
Necessidade de existir sempre uma restauração
Melhores propriedades físicas e mecânicas.
provisória.
Baixa deformação e corrosão (no cado dos metais).
Pode ficar metal exposto para vestibular.
Baixa deterioração, se a impressão e os acabamentos
Pode ficar muito próximo dos tecidos gengivais (afetando
marginais forem bons.
a saúde periodontal).
Não causam a descoloração dos tecidos dentários.
Pode provocar fratura das cúspides (efeito de cunha).
Tipo de restauração indireta menos complexa.
Elevado custo.

Uma das principais razões para se realizarem restaurações indiretas, é quando o paciente fez várias restaurações diretas em
compósito e uma delas não ficou bem ajustada (ficou com o ponto de contacto aberto).Por exemplo, em restaurações MOD,
quando não se verifica a utilização de sistemas de matrizes e anéis adequados para ter pontos de contacto fortes, estes podem
deixar de existir devido à contração de polimerização do compósito. Desta forma, conseguimos obter bons pontos de contacto,
o que permite estabelecer superfícies de contacto, que impedem a impactação alimentar. Portanto, quando os pontos de
contacto estão abertos e as margens da restauração não estão bem adaptadas, devemos recorrer às restaurações indiretas.

52
Medicina Dentária 3º ano

Onlay

 Definição: restauração numa superfície oclusal com envolvimento de pelo menos uma cúspide.

Indicações

 Istmo > que ½ da distância de intercuspidação (cavidades em que a distância intercuspídea é maior
que a metade da distância entre a ponta das cúspides).
 Cavidades com uma ou mais cristas marginais envolvidas (MO, MOD, OD – classe II – pontos de
contato).
 Compromisso estrutural moderado a extenso.
 Cavidade muito profunda (fator C).
 Substituição de amálgamas MOD (quando necessário).

Desta forma, quando se verifica a remoção de uma cárie ou de uma restauração em amálgama e uma das
cúspides ficou com uma espessura inferior a 1,5 mm é indicado fazer um onlay e não um inlay. Se
realizássemos uma restauração direta (p.e. amálgama) nesta situação, existiria um grande risco de fratura
devido à presença de esmalte não suportado ou devido à presença de uma espessura dentária insuficiente.

Contraindicação

 Alto índice cariogénico.


 Dentes com prognóstico pulpar duvidoso.
 Paciente com maus hábitos de higiene oral.
 Coroas clínicas pequenas/dentes em extrusão.
 Quando a extensão da cárie ultrapassa a linha do ângulo V ou P/L.

Características (em cerâmica)

 Conicidade com divergência (taper de cada uma das paredes deve ser à volta de 6°, ou seja, a broca
deve estar ligeiramente inclinada/angulada para o exterior das paredes vestibular e palatina):
permite o trajeto passivo de inserção da restauração indireta.
 Ângulos internos arredondados: minimiza as áreas de concentração de tensão cerâmica/dente.
 Margens externas bem definidas: cerca de 90°, para o técnico de laboratório poder identificar
claramente o trabalho e realizá-lo com precisão, bem como para depois na cimentação da
restauração conseguirmos ter a menor espessura de cimento possível.
 Espessura adequada para o material selecionado: 2mm – resistência intrínseca (no onlay realiza-se
um recobrimento cuspídeo, logo o material tem de ter pelo menos 2mm de espessura, pelo facto de
constituírem zonas funcionais, que estão sujeitas a um maior stress de mastigação, e assim garantir
que o material não sofra fraturas).
 Ausência de áreas estruturais enfraquecidas: como esmalte não suportado ou uma espessura
reduzida da estrutura dentária.

Onlay – cerâmica:

 Praticamente impercetível.
 Também pode ser feito recobrindo todas as cúspides – overlay.

53
Medicina Dentária 3º ano

Vantagens Desvantagens
Preparo mais conservador.
Estética (em metal).
Mais estéticos (em cerâmica).
Menos área preparada o que reduz a retenção, em
Compatibilidade periodontal porque não atinge a região
situações em que o clinico não esteja familiarizado com a
cervical.
técnica do preparo.
Fácil de higienizar.
Menos conservadora que a amálgama.
Reduz a pressão hidráulica* durante a cimentação.
Possível exposição de metal.
Aumenta a resistência das cúspides.
Pode ficar muito próximo dos tecidos gengivais (afetando
Reduz o risco de fratura das cúspides e do dente.
a saúde periodontal).
Aumenta a longevidade da reabilitação.

*Pressão Hidráulica: quando se tem um preparo numa coroa total ou que é preenchida por cimento, quando se
pressiona a coroa contra o preparo, ocorre um extravasamento de cimento, o que gera uma pressão hidráulica. No caso
do onlay, já que a área será restaurada, o cimento terá por onde escoar e, consequentemente, a pressão vai reduzir.

Prática – onlay com recobrimento total das cúspides dente 36 em cerâmica (vídeo)

 Istmo da restauração:
o 2mm de largura
o 0,5-1mm de altura
 Duas boxes, uma mesial e outra distal: 1,2-1,5mm
de profundidade
 Ombro em vestibular: 1mm
 Desgaste a nível oclusal em três planos:
2mm de clearance
o Cúspides funcionais – plano A e B
o Cúspides linguais – plano C
 Espaço interproximal, entre o outro dente
adjacente: 0,5-1mm

Etapa 1: preparação da cavidade para amálgama

1. Com uma broca de tungsténio, abrir o sistema fissurário dos dentes (seguir os sulcos primários). As
paredes vestibular e lingual devem ter uma altura de 0,5-1mm e a parede pulpar deve ter uma
largura de 2mm.
2. Aproximar a broca aos dentes adjacentes de modo a abrir a parede mesial e distal, deixando uma
pequena casca para proteger o dente adjacente.
3. Com o cinzel abrir a parede da box, mantendo o bisel longe da parede, ou colocar uma cunha e com
uma broca de agulha abrir o ponto de contacto. Mínimo de espaço interproximal entre 0,5-1mm.

Etapa 2: conversão da amálgama para inlay

1. Com uma broca de ombro arredondado tronco-cónica (largura da ponta = 1,2mm), encostar às
paredes internas da restauração para torna-las divergentes (pode ser necessário inclinar um pouco
para ter a divergência que se pretende – 6 graus por lado).

54
Medicina Dentária 3º ano

2. Com a mesma broca, alargar o istmo das boxes quer para lingual quer para vestibular, dando sempre
a inclinação divergente. As paredes gengival e axial devem ter uma largura e profundidade,
respetivamente, de 1,2mm.

Etapa 3: criar onlay

1. Com a mesma broca, desgastar os planos das cúspides, usando a espessura da broca (mais ou menos
1,6mm de diâmetro), alinhando as pontas das cúspides com as pontas das cúspides dos dentes
adjacentes:
 Plano B: vertente interna das cúspides funcionais (vest.) – 2 planos – desgaste de 2mm.
 Plano A: bisel das cúspides funcionais (vest.) – mesma inclinação que o plano C e dentes
adjacentes – desgaste de 2mm.
 Plano C: vertente interna das cúspides não funcionais (ling.) – 2 planos – desgaste de 1,5-
2mm.
2. Marcar o ombro a vestibular, com a mesma broca, devendo existir uma transição suave entre a box
e o ombro preparado, e não um ângulo reto. O ombro deve ter 1mm de largura.

Etapa 4: acabamento

1. Arredondar ângulos internos, com broca de ombro arredondado de grão fino/vermelho tronco-
cónica (não devem existir vértices visíveis na componente interna da restauração).
2. Ao nível das boxes, são utilizadas brocas multilaminadas (bicudas) ou de chama (grão vermelho)
para arredondar a transição entre as boxes e o istmo central. As margens internas das boxes, quer
na parede vestibular quer na lingual, não podem ficar retentivas.

Etapa 4: análise do preparo final

55
Medicina Dentária 3º ano

Moldeira individual e impressões definitivas em Prostodontia Fixa


Moldeira individual

Moldeira standard vs individual

Moldeira standard:

 Superior vs inferior
 Perfuradas vs não perfuradas
 Hemi-arcada vs arcada completa
 Plástico vs metal (as de plástico são utilizadas em prótese sobre implantes)

Em PF utilizamos elastómeros e a moldeira perfurada, num paciente dentado. Em desdentados totais, são
utilizadas as moldeiras não perfuradas.

Moldeira individual:

 Controlo do volume final de material de impressão.


 Melhor reprodutibilidade da impressão (fazemos a impressão várias vezes e ela fica sempre igual).
 Diminuição dos custos e do material usado.
 Conforto do paciente (está completamente adaptada à cavidade oral do paciente).

Vantagens Desvantagens
Menor quantidade de material de impressão. Tempo de confeção.
Distribuição mais uniforme de material (permitindo que Custo laboratorial (pois as moldeiras standard são
as características do material de impressão sejam mais reutilizáveis após irem ao autoclave).
estáveis e melhores). Sensibilidade ao monómero em alguns pacientes.
Minimização da distorção resultante da contração de Tempo de espera até que o laboratório nos envie as
presa. moldeiras individuais ou até ao final da polimerização do
Não é necessário esterilizar. material.

Características

 Rígida.
 Forma de ferradura: em prótese fixa não nos interessa imprimir o palato ou o fundo do vestíbulo,
pois as nossas peças são colocadas em cima do dente, mas é muito importante imprimir os limites e
as relações com o sulco gengival.
 O material de impressão deve conseguir aderir firmemente, pelo que se deve usar um adesivo
(colocado uniformemente), ou a moldeira deve ser perfurada.
 “Stop-points” ou limitadores de penetração (2 posteriores e 1 anterior mediano):
o Funcionam como batentes que não deixam a moldeira afundar mais, de modo a ter alguma
espessura de material nas zonas importantes, uma vez que se realiza alguma pressão para
ajustar a moldeira aos preparos realizados, mas não pretendemos que a moldeira toque no
dente preparado.
o Facilita a dispersão do material e estabiliza a moldeira (“tripé”).

56
Medicina Dentária 3º ano

 Pegas para facilitar a desinserção (central e laterais): as pegas na moldeira inferior apresentam uma
posição mais verticalizada, enquanto na superior é mais horizontalizada.
 Feita pelo menos 24 horas antes da impressão, caso seja utilizada uma resina autopolimerizável, de
modo a que a polimerização esteja completa e a moldeira ser estável.
 Perfurada na zona dos dentes preparados.
 A cerda deve acabar 1mm antes para criar um rebordo.

Sequência de procedimentos

1. Delinear uma linha preta no modelo, estender 3-5mm para apical da margem gengival, de forma a
desenhar uma ferradura que abranja as peças dentárias e os limites do sulco gengival. Não interessa
incluir o palato nem os fundos do vestíbulo.

2. Providenciar 2-3mm de espaço para o material de impressão (2 camadas de folhas de cera): a cera
vai funcionar como um espaçador, de maneira a definir a espessura do material de impressão que
permanece na moldeira.
3. Adaptar cera ao modelo.
4. Mergulhar o modelo em solução evitando que a cera fique colada ao gesso.
5. Mergulhar o molde húmido no pote de cera repetidamente até obter a espessura adequada de 2-
3mm.
6. Aparar a cera para 3-5mm apical às margens gengivais (seguindo a linha predeterminada).
7. Criar stops em dentes não preparados (tripé): 1 à frente e 2 atrás, sendo que nunca devem ficar em
cima do dente preparado. Servem para estabilizar e orientar a moldeira.

8. Adaptar o papel de alumínio ao espaçador de cera, que serve para:


 Remoção fácil e limpa da cera da moldeira.
 Evitar que a cera residual interfira na adesão do material de impressão à moldeira.
9. Adaptar o material fotopolimerizável sobre o papel de alumínio.
10. Cortar excesso de material antes da fotopolimerização.
11. Colocar dentro da unidade de polimerização e fotopolimerizar.
12. Remover do modelo os excessos, o espaçador e a folha de alumínio. Fotopolimerizar + 1 minuto.
13. Aparar e alisar as margens da moldeira.

57
Medicina Dentária 3º ano

Critérios de avaliação:

1. Rigidez.
2. Espessura uniforme.
3. Espaçamento MI-dentes 2-3mm.
4. Extensão gengival 3-5mm além das margens gengivais.
5. Extensão gengival 3-5mm além de distal do último.
6. Stops/Tripoidismo.
7. Acabamento externo: suaves sem ângulos agudos.

Impressão definitiva

Objetivo

 Antes da execução da impressão definitiva, é realizada uma impressão preliminar, que constitui a
primeira impressão feita, ainda antes da preparação dos dentes, sendo utilizado, regra geral, o
alginato (não tem muita definição, mas é suficiente para os modelos de estudo).
 A impressão definitiva é um conjunto de procedimentos clínicos com o objetivo de se conseguir a
reprodução das preparações dos dentes e regiões adjacentes (tecidos moles e duros), utilizando
materiais e técnicas adequadas.

Requisitos

 Duplicação exata e isenta de distorção.


 Boa reprodução de detalhes.
 Abranger todo o preparo assim como os dentes vizinhos (para garantir um bom ponto de contacto) e
tecidos adjacentes (sulco gengival).
 Isento de bolhas de ar.
 Correto armazenamento até ser corrido em gesso.

Pré-requisitos e cuidados a ter previamente e durante a realização da impressão

1. Verificar ausência de inflamação gengival:


 Antes de realizar uma impressão definitiva é muito importante que o tecido gengival esteja
livre de inflamação, porque o pormenor mais importante dos trabalhos de prótese fixa é o
limite cervical das preparações (supragengival, infragengival, etc.).
 Um tecido inflamado está aumentado de volume, provocando alterações no trabalho final.
 Pode ser realizado um controlo gengival prévio com um anti-inflamatório ou clorohexidina.
2. Anestesia dos dentes/tecidos caso seja necessário:
 Nem sempre os dentes que foram preparados estão endodonciados.
 Para além disso, pode ser preciso anestesiar a gengiva em redor do dente para a colocação
do fio de retração, em casos em que o sulco gengival é curto.
3. Remoção de coroas provisórias.
4. Limpeza dos dentes preparados: as coroas provisórias são cimentadas ao coto com cimentos
provisórios, por isso na desinserção dessas coroas, permanecem restos de cimento sobre as
preparações, sendo importante a sua limpeza para não ocorrerem alterações à forma do preparo.
5. Isolamento do campo com rolos de algodão.

58
Medicina Dentária 3º ano

6. Experimentar a moldeira individual (ou standard).


7. Aplicar adesivo estendendo milímetros para a face externa da moldeira.
8. Afastamento/retração gengival com fio de retração (ou expasyl):
 A retração gengival permite que seja exposto o limite da preparação.
 Existe uma limitação de tempo.
 Muitas vezes os fios de retração apresentam hemostático incorporado ou então o próprio
clínico procede à sua aplicação.
 Essa utilização de vasoconstritor é em função do estado de saúde periodontal e
contraindicação do paciente, pois em pacientes com problemas circulatórios não se deve
utilizar o fio durante muito tempo, de forma a evitar que haja falta de irrigação no sulco,
provocando necrose ou retrações gengivais.
 O fio de retração deve ser selecionado com um diâmetro compatível com as características
do sulco gengival (um fio muito grosso num sulco curto pode provocar bolsas ou retrações
indesejadas).
 O fio é colocado aos poucos, numa colocação sequencial, uniformemente no sulco gengival,
com espátulas próprias para a sua inserção, separando a gengiva do limite do dente.
 Técnica 1 fio vs duplo fio:
o A técnica do duplo fio consiste na colocação de 2 fios: o primeiro fio permanece
colocado durante a impressão e o outro é removido quando se começa a aplicar o
material de impressão mais fluido (2º fio mais largo do que o 1º).
o Esta técnica aplica-se em preparações mais infra-gengivais ou quando existe muita
gengiva a tapar o limite.
o Avaliação da necessidade de maior exposição do limite da preparação.
o Afastamento horizontal e vertical ao nível gengival.

9. Preparar o material de impressão (assistente dentária), respeitando os tempos de trabalho e de


presa indicados pelo fabricante.

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Medicina Dentária 3º ano

10. Garantir a abertura da via aérea:


 O excesso de material escorre para garganta, por isso deve existir um cuidado acrescido pela
assistente de ver se não há material a escorrer.
 Daí a importância da utilização de uma moldeira individual, porque na standard o material é
aplicado em excesso e há uma maior probabilidade de existir fluxo para a via aérea.
11. Remoção do fio à medida que o material (light) vai sendo injetado no sulco gengival.
12. Remoção da moldeira após a presa dos dois materiais (light e putty).
13. Avaliar a qualidade da impressão, repetindo se necessário.
14. Correto armazenamento do molde até ser corrido a gesso.
15. Enviar o molde para o laboratório e obtenção do modelo de gesso com torquel sobre o qual o
técnico de prótese vai trabalhar.

Materiais

 Hidrocolóide reversível (ágar-ágar)


 Resina acrílica (duralay)
 Godiva
 Elastómeros:
o Polissulfeto
o Poliéter
o Silicone de condensação
o Silicone de adição

Propriedades dos materiais

 Atóxico.
 Após polimerização deve ter uma cor que facilite a identificação dos detalhes do molde com
exatidão.
 Tempo de trabalho satisfatório (depende do clínico).
 Consistência adequada para reproduzir todos os detalhes desejados (mais importante).
 Não se deformar ao ser removido da boca.
 Estabilidade dimensional mediante variações de humidade e temperatura (mais importante).
 Ser compatível com os materiais para modelos, como o gesso.
 Não sofrer distorção durante o vazamento.
 Ser passível de desinfeção sem alterar as propriedades.

Fatores de escolha do material

 Facilidade de manipulação: é uma questão de preferência pessoal por manipulação manual, em


pistola ou em máquina.
 Exatidão dos detalhes: consoante o tipo de trabalho, em impressões preliminares, que requerem
pouco detalhe, é utilizado alginato, ao contrário de impressões de faceta, onlay ou coroa, que
requerem maior detalhe.
 Tempo de armazenamento: clínicas com laboratórios distantes ou situações em que só é possível
enviar o trabalho após feriados/fins-de-semana, são necessários tempos mais prolongados.
 Custo: deve ser sempre avaliado o custo-benefício.

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Medicina Dentária 3º ano

Características dos materiais

Hidrocolóides (materiais aquosos) reversíveis (ágar-ágar)

 Utilizado antigamente, caindo em desuso por risco de infeções cruzadas, por ser reutilizado.
 Não requer moldeira individual.
 Não hidrófobos, toleram certa humidade.
 Se vazado imediatamente tem boa estabilidade dimensional e reprodução de detalhes de
superfície aceitáveis.
 Baixo custo, pode ser reutilizado.
 Eram usadas moldeiras rim-lock (moldeira com sistema de aquecimento) com este material.

Resina acrílica

 Utilizada para impressões de falsos cotos pela técnica direta e adaptação de coifas.
 A impressão de falsos cotos permite realizar uma peça em metal sem moldar toda a boca.
 Exemplo: duralay, GC

Godiva e anel de cobre

 O anel de cobre funcionava como moldeira individual especificamente para um dente e potenciava
o afastamento gengival.
 Era preciso colocar godiva à volta do limite do anel para depois o colocar no dente preparado,
contudo a godiva fraturava com facilidade na desinserção do anel, apesar da sua excelente
estabilidade dimensional.
 Esta técnica entrou em desuso.

Polissulfetos

 Mais antigos.
 Apresentação: 2 pastas (base e catalisador) com três consistências (light, regular e heavy)

Vantagens Desvantagens
Bom tempo de trabalho (mais ou menos 9 minutos).
Boa reprodução de detalhes.
Tem que ser vazado na primeira hora.
Melhor estabilidade dimensional que H.R.
Mau odor e mancha a roupa.
Alta resistência ao rasgamento.
Baixo custo.

Silicone de condensação

 Apresentação: 2 pastas (base e catalisador) com três consistências (light, média e putty)

Vantagens Desvantagens
Baixa resistência ao rasgamento.
Fácil manipulação.
Vazamento imediato (alta de deformação após presa).
Tempo de trabalho (6-8 minutos).
Hidrófobo.
Boa reprodução de detalhes.
Baixa estabilidade dimensional.

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Medicina Dentária 3º ano

Poliéter

 Apresentação: 2 pastas (base e catalisador) com três consistências (light, média e putty)

Vantagens Desvantagens
Excelente estabilidade dimensional.
Extensa variabilidade de viscosidades.
Tempo de trabalho reduzido (mais ou menos 5 minutos).
Excelente reprodução de detalhes.
Alto custo.
Pode ser vazado até 7 dias em ambiente seco.
Hidrofílico.

Silicone de adição = Polivinilsiloxano (PVS)

 Os mais utilizados atualmente, juntamente como o poliéter, nas impressões definitivas.


 Apresentação: 2 pastas (base e catalisador) com três consistências (light, regular e heavy)

Vantagens Desvantagens
Excelente estabilidade dimensional.
Vazamentos após 1h e até 7 dias.
Excelente resistência ao rasgamento.
Presa inibida pelo látex (deve ser utilizado com luvas de
Excelente reprodução de detalhes.
nitrilo).
Bom tempo de presa (mais ou menos 7 minutos).
Hidrofóbico/hidrofílico (caso sejam adicionados
surfactantes).

O silicone de adição apresenta monómeros que suportam a água e que não se deformam quando em contacto com a saliva,
mas também tem monómero que em contacto com a água consegue afastar. É sempre necessário secar muito bem os
dentes, para ter uma impressão com alto detalhe e alta qualidade, isto existe apenas pelo facto de que para além de existir
saliva também existe fluido crevicular no espaço livre biológico, ou seja, nunca conseguimos ter 0 humidade na boca.

Os poliéteres e os silicones de adição são os


mais utilizados nas impressões definitivas,
porque são os materiais com as melhores
características para PF, que são a
estabilidade dimensional, baixa deformação
depois da presa, tempo de vazamento
razoável, excelente reprodução de detalhe e
resistência ao rasgamento.

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Medicina Dentária 3º ano

Modo de apresentação

Viscosidade

 Light body – seringa


 Medium body – seringa ou moldeira
 Heavy body/very heavy body/putty

Modo de mistura

 Base e catalisador
 Mistura manual, auto-mistura ou mistura mecânica
 Ratio/proporções

Vantagens da auto-mistura

 Redução do desperdício com pontas de seringa de 1-2mL.


 Redução da presença de bolhas no material.
 Manutenção/controlo do ratio base-catalisador.
 Mistura mais consistente.
 Melhoria do tempo de trabalho.

Métodos de impressão

Método direto

 Técnica de impressão executada diretamente na boca do paciente, utilizando o próprio molde para
obtenção laboratorial da restauração metálica fundida, sem recorrer ao modelo de gesso.
 Indicação: impressão do falso coto
 O material de impressão mais utilizado é a resina acrílica autopolimerizável (p.e. duralay).

Portanto, a peça encarnada de duralay (molde) é enviada para o laboratório,


de forma a realizar um falso coto sem recorrer a um modelo de gesso.

Método indireto

 Técnica de impressão executada em negativo, recorrendo ao modelo de gesso, para a execução


laboratorial da estrutura metálica fundida ou da estrutura cerâmica.
 Indicação: impressão para coroas, pontes
 Os materiais de impressão mais utilizados são os elastómeros.
 Pode ser realizado num só tempo ou em dois tempos.

Um tempo

 Os materiais putty e light são utilizados simultaneamente:


o Light (leve – elevada capacidade de reprodução de detalhes): dente preparado
o Putty (massa – baixa capacidade de reprodução de detalhes): moldeira
 Técnica de dupla viscosidade ou técnica monofásica (p.e. aquasil).
 O poliéter tem a desvantagem de apenas ter uma consistência e, por isso, apenas uma cor, dificultando
a visualização dos limites.
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Medicina Dentária 3º ano

Dois tempos

 Os materiais putty e light são utilizados separadamente (presa em tempos diferentes):


1. Impressão com putty
2. Impressão com light aproveitando o primeiro molde
 É uma técnica menos utilizada.
 Não necessita de moldeira individual, este método permite substituir a moldeira individual, através
da 1ª impressão com putty.
 Após a impressão com putty, é feito o alívio da zona onde é colocado o light para maior definição.
 Muito usada quando são utilizadas coifas para impressão ao nível de vários cotos em simultâneo:
o Não necessitam de fio de retração, porque o ajuste ao limite é feito com resina acrílica, já
que este material é utilizado na impressão de falsos cotos pela técnica direta ou na utilização
das coifas para a adaptação cervical e preenchimento das coifas.
o As coifas devem ter uma retenção exterior (forma de 1 prego) para permitir que sejam
colocadas num molde e que venham todas juntas para o laboratório, e um furo de escape,
possibilitando fazer um modelo com todos os dentes.
Procedimento:
1. Preparação de dentes com falsos cotos.
2. Colocação de resina acrílica para marcar o limite em margens infra-gengivais.

3. Seleção das coifas a utilizar (escolher a numeração indicada, pois são todas visualmente
semelhantes).
4. Adaptação da coifa ao limite com uma espátula/sonda.

Na primeira imagem já se colocou a


resina acrílica no dente da direita, e
na segunda imagem esse dente já
levou uma coifa (parte branca).

5. Remoção da coifa.
6. Remoção de excessos do acrílico com broca/peça de mão.
7. Colocação do light na coifa.

As coifas encontram-se bem adaptadas ao limite, mas a parte interna ainda não
tem a reprodução do coto. Para isso, preenchem-se as coifas com material light
(na imagem as coifas ficaram castanhas porque se colocou adesivo).

8. Colocação da coifa na preparação dentária (o excesso de light extravasa pelo furo de escape
presente na coifa).

64
Medicina Dentária 3º ano

9. Levar uma moldeira com material de impressão à boca do paciente que contém as coifas.

10. Obter o modelo a gesso.


11. Fazer as coroas totais.

Cuidados a ter após a realização da impressão

 Verificação da remoção de todos os fios de retração em redor dos dentes.


 Readaptação da provisória se necessário.
 Cimentação da coroa/ponte provisória.
 Remoção dos excessos de cimento provisório.
 Desinfeção e conservação do molde.
 Programação da sequência clínica.
 Instrução do paciente para cuidados durante período de efeito anestésico.

Impressão sobre implantes

1. Aparafusar um pilar de impressão ao implante.


2. Colocação do light.
3. Colocação da moldeira fechada ou aberta:
 Em moldeiras fechadas (“normais”):
1. Aparafusar o pilar de impressão ao implante.
2. Colocar putty na moldeira fechada.
3. Aplicar o light na boca do paciente com o pilar de impressão no preparo.
4. Levar a moldeira à boca.
5. Remover a moldeira, obtendo o molde.
6. Remover o pilar de impressão da boca do paciente e inseri-lo no molde.
7. Aparafusar a réplica do implante ao pilar de impressão contido no molde.
8. Inserção de gengiva artificial (gengiva de silicone) à volta da réplica do implante.
9. A gengiva artificial permite o laboratório saber qual o perfil de emergência (relação
do implante com a gengiva) de uma forma mais flexível do que o gesso.
8. Vazar o molde a gesso, obtendo o modelo.
9. Remoção do pilar de impressão do modelo.
 Em moldeiras abertas:
o A diferença resume-se apenas ao facto de não ser necessário transferir o pilar de
impressão da boca do paciente para o molde, uma vez que o pilar sai da boca
juntamente com o molde.
o Devido à janela na moldeira, existe acesso ao pilar quando a moldeira está na boca
do paciente, tornando possível desaparafusar o pilar do implante ao mesmo tempo
que é realizada a impressão, o que leva a que o molde contenha o pilar de
impressão quando é removido da boca do paciente.
o Tal como nas moldeiras fechadas, aplica-se gengiva de silicone.

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Medicina Dentária 3º ano

Impressões digitais

Impressões intraorais

Cada vez há mais clínicas que utilizam scanners, evitando problemas como a distorção do material ou do
vazamento em gesso. A partir de ficheiros STL, o laboratório imprime modelos de esteriolitografia ou
resinas, de forma a trabalhar sobre eles, ou desenha a coroa em CAD-CAM, sem ser necessário realizar
modelos.

Convencional

 Gold standard.
 Evidência científica.
 Menor investimento económico.
 Indicada em todo o tipo de reabilitações (veracidade).
 Permite posterior inclusão no workflow digital.

Digital

 Conforto do paciente.
 Ferramenta de marketing.
 Permite correções.
 Diminuição de erros ao longo do fluxo clínico.
 Facilita impressão de zonas retentivas.
 Celeridade na comunicação com o laboratório.
 Manipulação e armazenamento.
 Fluxo digital.

Digitalização intra-oral

 Conforto do paciente.
 Modelos virtuais.

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Medicina Dentária 3º ano

 Armazenamento ilimitado de informação acessibilidade aos dados.


 Acessibilidade aos dados.
 Integração com equipamentos in-house.
 Validação científica.
 Capacidade de verificação imediata pelo médico.
 Diminuição de passos laboratoriais.
 Marketing.

67
Medicina Dentária 3º ano

Falso coto em Prostodontia Fixa


Definição e história

 Infraestrutura, geralmente metálica, cimentada a uma raíz que usa como retenção o canal radicular
de dentes com tratamento endodôntico, e proporciona um pilar de suporte para uma coroa
(sempre que se realiza o falso coto o dente tem de estar obrigatoriamente desvitalizado).

 No início do século XIX descreveram-se as primeiras utilizações de cerâmica em prótese fixa – Dubois
de Chemant – sendo já consideradas suprassumo da prostodontia.
 Na introdução à restauração do dente desvitalizado (Dahl e Nichols), pensou-se que a utilização de
espigões intra-radiculares reforçaria a peça dentária. No entanto os vários trabalhos científicos da
área não só não comprovaram como desmentiram este mito:
o Lovdahl e Nicholls: incisivos centrais intactos, à exceção do AC, mais resistentes do que
quando restaurados com recurso a falsos cotos.
o Lu: espigões não reforçam.
o Pontius e Hutter: inc max sem espigão resistiram + do que outros grupos com espigão.
o Gluskin e colaboradores (…)

Maiores perdas de estrutura:

 A terapêutica endodôntica reduz a rigidez dentária em pelo menos 5% (apenas o AC).


 Grimaldi e Tidmarsh: descreveram uma relação direta entre a perda de substância dentária e
deformação, no entanto, o alargamento mínimo de um canal não produz enfraquecimento notável
e, em dentes excessivamente alargados, um espigão pode mesmo reforçar uma peça dentária.
 Goodacre et al: 3% dentes restaurados com espigões apresentam fraturas dentárias.
 Eckerbom e colegas: avaliaram radiograficamente, entre 5 e 7 anos, 200 doentes e 636 dentes,
verificando que os dentes com espigões, em ambas as avaliações, tinham significativamente mais
problemas de periodontite apical crónica do que os dentes sem espigão.

O recurso a um espigão está associado à necessidade de obter estabilidade, ou seja, é necessário quando
estrutura dentária se encontra fragilizada, mas, na maioria dos casos, não há melhora da resistência
dentária. Idealmente um espigão deveria:

 Minimizar o stress que o dente sofre, distribuindo as cargas oclusais de modo uniforme.
 Ser fácil de remover em caso de necessidade de retratamento endodôntico.
 Ter um módulo de Young semelhante ao da dentina para evitar fraturas dentárias.
 Preservar a estrutura dentária para aumentar a resistência à fratura, independentemente do
material utilizado no espigão (Pagani).
NÃO EXISTE NENHUM ESPIGÃO ASSIM!

68
Medicina Dentária 3º ano

Falso coto/espigão intra-radicular

 Necessidade de providenciar retenção e estabilidade à estrutura dentária remanescente.


 Destruição coronária é um dos indicadores da necessidade do espigão.
 Necessário reforçar que a colocação de um espigão, por si só, não melhora a resistência mecânica
da peça dentária em que é colocado, por isso se não for necessário não se coloca.

Quando colocar espigão?

 Necessário avaliar a vitalidade pulpar e a condição periodontal.


 Em caso de dúvida, o tratamento endodôntico deve ser executado a priori.
 Avaliar presença de fraturas com extensão infra-gengival, que possam comprometer o espaço livre
biológico.
 Remoção de restaurações defeituosas/infiltradas/cariadas (hipóteses de E.P).
 Superfícies não suportadas deverão ser removidas, evitadas ou controladas/bloqueadas.

Regra básica – analisar o tecido dentária restante:

 Aproximadamente metade da altura coronária: core build up com ou sem mecanismos de retenção
acessória.
 Menos de metade: colocação de espigão intra-radicular, pré-fabricado ou laboratorial (Pagani).

Efeito férula

 1-2mm de altura cervical, em todo o perímetro do dente, são aconselhadas, para produzir um efeito
de férula e proteger o dente de fraturas longitudinais (Rosen, Sorensen e Engelman).
 Importância das margens da coroa ultrapassarem (e protegerem) o coto (Hoag and Dwyer).
 Os dentes desvitalizados são mais suscetíveis à fratura do que os dentes vivos (Shilingburg).
 Já não se considera obrigatória a utilização de espigões em dentes desvitalizados, podendo até
levar ao enfraquecimento da peça dentária devido a um efeito de cunha, mas, paradoxalmente, se
as paredes radiculares forem finas, o espigão poderá reforçar a peça dentária (Baba).

Indicações *Tratamento endodôntico prévio obrigatório!

1. Dentes com grande destruição coronária, que impeça a reconstrução direta.*


2. Dentes com vitalidade, mas com retenção insuficiente para uma coroa.*
3. Necessidade de alteração da posição axial (p.e. ao invés de se realizar tratamento ortodôntico
devido ao mau posicionamento de um único dente, executar uma coroa utilizando esta técnica).*
4. Dente com tratamento endodôntico muito destruído para ser usado como retentor de Prótese Fixa
ou Prótese Parcial Removível.

Contraindicações

1. Patologia periapical persistente após tratamento endodôntico (pois torna a remoção do falso coto
muito difícil).
2. Obturação radicular precária.
3. Fragilidade radicular – ausência de efeito férula.
4. Fraturas radiculares, rachaduras e/ou falsos trajetos.

69
Medicina Dentária 3º ano

Constituição

O falso coto é uma peça única. A constituição é feita por 2 partes:

A. Espigão de retenção radicular (espigão que entra dentro do canal radicular)


B. Porção coronária ou núcleo (parte de cima que corresponde à coroa destruída do dente)

Tipos

 Simples:
o Executados numa peça única.
o Em dentes unirradiculares (+ usados) ou multirradiculares nos
quais se utiliza apenas uma das raízes ou em caso de raízes
paralelas (PM superiores e M inferiores).
 Múltiplos:
o Bipartidos/tripartidos:
 Executados em 2/3 peças.
 Em dentes com 2/3 raízes divergentes.

Bipartido – 2 partes – utiliza-se a parte principal na raíz reta (nos molares é normalmente a raíz palatina, num molar inferior é a raíz
distal, são ambas mais retas, amplas e resistentes; nos PM sup há uns autores que dizem que é a raíz palatina que sofre a carga mais
axialmente e outros dizem que a vestibular é a mais resistente). Posteriormente, ao realizar a impressão da preparação executada
nos canais, no laboratório, são eles que maquinam o falso coto. Os médicos dentistas cimentam a primeira parte no eixo principal e
depois a outra parte é colocada na raíz mais divergente pelo laboratório, através de uma abertura e cimentação com um espigão.

Características

 Comprimento radicular do falso coto (comprimento do espigão) deve ser 2/3 do total da estrutura
restante (não do tratamento endodôntico que termina 1-1,5mm do ápex).
 Comprimento radicular do falso coto deve ser > ou = ao da coroa (ideal relação raíz/coroa 2:1,
podendo ir até 1 para 1 em situações limite – a relação expressa o comprimento da coroa e não do
núcleo do falso coto).
 Suporte ósseo em pelo menos metade do espigão ou 4mm para apical do osso alveolar.
 Manutenção mínima de 4mm de gutta no ápex (de forma a evitar que o tratamento endodôntico
deixe de ser eficaz, mantendo a estanquicidade apical do canal e impedindo a movimentação de
fluídos do ápex para dentro do canal).
 Recomendado não exceder 1/3 de qualquer diâmetro radicular (Pagani, Shilingburg, Baba).

Retenção

Depende de:
 Comprimento do espigão: quanto > o espigão, > a retenção.

70
Medicina Dentária 3º ano

o Espigões curtos oferecem pouca resistência ao deslocamento por forças dirigidas oblíqua
ou axialmente, levando a fraturas radiculares ou desselagem do espigão.
o Espigões demasiado compridos podem provocar fraturas da raíz, através do stress gerado
por forças oclusais na coroa, ou levar a perfurações radiculares.

 Conicidade do espigão: espigões cónicos são menos retentivos do que com paredes mais paralelas
(mas em PF não há possibilidade de utilizar um espigão paralelo). Aqui queremos a divergência das
paredes opostas.
 Diâmetro do espigão: quanto > é o diâmetro, > é a retenção.
o Espigões de diâmetro excessivo aumentam a possibilidade de fratura da raíz por
enfraquecimento das paredes da raíz.
o Espigões de diâmetro pequeno são mais sujeitos a deformação por forças oclusais e difícil
impressão.
 Configuração da superfície: a configuração do espigão do falso coto está dependente da forma do
canal radicular, contudo deve aproximar-se de uma forma oval para contrariar forças de rotação
exercidas na sua porção coronal.

Preparação

A preparação de um dente para falso coto engloba duas fases distintas:

1. Preparação do dente propriamente dita


2. Impressão (método direto/indireto)

Preparação do dente propriamente dita

1. Corte horizontal perpendicular (90°) ao longo eixo do dente a 2mm da JAC, com broca de ombro
arredondado – manutenção máxima de estrutura dentária sã (o que é necessário remover são as
cáries e retenções e promover paredes finas, tudo o resto mantém-se, é estrutura dentária a manter
porque já há pouca, portanto é crucial existir).

Não esquecer de
marcar as faces
do dente!

2. Raio-X pelo método paralelométrico para determinar a quantidade de guta-percha a remover


(medir a raíz e retirar 2/3):

71
Medicina Dentária 3º ano

 As medições são efetuadas com a régua graduada em mm do software Kodak disponível no


pré-clínico.
 O ponto de referência usado deverá ser o mesmo até ao final dos procedimentos, quer
durante a remoção da gutta quer na quer na preparação do canal propriamente dito.
 Provavelmente não será necessário recorrer à ferramenta de calibração, no entanto, se se
preferir utilizar será necessário colocar uma broca de Gates ou Peezo, com um stop no
canal, para tirar a Rx e apontar o valor medido:
o Clicar em calibrar, marcar os pontos de início (stop) e término da broca, indicar no
quadro da direita o valor medido na broca e carregar no "V".
o Então mede-se o valor, já calibrado entre o fim da broca e o fim da raíz, para
confirmar o comprimento real.
o Enquanto não se fechar a janela, a radiografia mantém a calibração.
3. O comprimento de guta a remover é marcado na broca de Gates com um stop (p.e. pretende-se
tirar 15mm de gutta, mas marca-se na broca de Gates 14mm, de modo a ter uma margem de
segurança de 1mm):
 Adequar o tamanho da broca ao do canal ou utilizar o sistema unimetric de brocas e
espigões que é utilizado para construção de dentes.
 Este sistema apresenta três cores, que dependem do comprimento do canal (a cor azul
corresponde a um tamanho mais pequeno, a cor verde ao tamanho médio e a cor preta ao
tamanho maior), compartimentos pequenos com brocas de dois tamanhos (broca 1 e broca
2, de forma a fazer um canal divergente, limpar o canal e remover guta das paredes) e
compartimentos maiores com espigões de dois tamanhos (a primeira marca corresponde ao
espigão mais curto e a segunda ao espigão mais comprido).
 O diâmetro do canal não deve ultrapassar 1/3 do diâmetro radicular.
4. O uso da broca de Gates é feito a baixa rotação, sem refrigeração (no paciente utiliza-se água, para
não queimar), para provocar aquecimento da guta, com movimento de entrada e saída do canal
gradual (entrar no canal já a rodar) e movimentos cónicos contra a parede, não é de forma paralela.

Enquanto sentirmos que


está a progredir está tudo
bem, mas nunca
ultrapassar o stop.

5. Raio-X para controlo da quantidade de guta removida.


6. Caso seja necessário repetição do procedimento até se atingir o comprimento determinado. A
forma a dar ao canal varia consoante o dente que estamos a preparar.
7. Uso de brocas de Peeso a baixa rotação e com movimentos no sentido coronal, contra as paredes
do canal:
 O comprimento a utilizar na broca de Peeso é o mesmo utilizado com
brocas de Gates.
 O objetivo da utilização das brocas de Peeso é dar a forma ao canal
(oval), remover dentina amolecida, alisar retenções e alisamento
intra-radicular.

72
Medicina Dentária 3º ano

8. Verificar retenções ou reentrâncias no canal:


 Com sonda reta, ao longo das paredes radiculares (pesquisar com a sonda se a parede está
lisa, se existe divergência e se não prende).
 Com retenção haverá bloqueio do acrílico com dificuldade ou impossibilidade de remoção
da impressão direta.
9. Arredondamento da entrada do canal (infundíbulo) com broca esférica,
broca em chama com bico arredondado ou pedra verde de contra-ângulo,
para evitar que a entrada do infundíbulo seja reta, ou seja, para que o ângulo
cavosuperficial não seja agudo (andar em torno do mesmo para no futuro
não criar grandes tensões com ângulos vivos).
10. Bisel de contorno do prato com pedra verde:
 Isto para o limite da coroa metálica, porque se a coroa for de
cerâmica não se realiza bisel, de modo a não fraturar.
 NÃO está relacionado com o falso coto, mas sim com a futura coroa
colocada em cima da raíz com o falso coto já cimentado.
11. Polimento do prato e arredondamento de ângulos vivos com pedra verde.

Impressão

Método direto

1. Seleção de um espigão calcinável ou pau de vassoura que se adapte ao canal quer em diâmetro
quer em comprimento:
 Deve ficar solto no interior do canal, não pode prender, de forma a deixar espaço para o
material a colocar.
 Caso não esteja, pegar numa pedra verde até ficar solto.
 O espigão vai servir de base de retenção à resina (reforço para segurar a resina).

2. Verificar o comprimento do espigão com uma pinça e régua (depois corta-se o excesso por cima).

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Medicina Dentária 3º ano

3. Isolar/vaselinar o canal e o prato do dente, de modo a evitar a adesão da


resina e devido à contração de polimerização (ter cuidado para não vaselinar
o espigão, é apenas para vaselinar as paredes do canal).

Só se coloca a resina quando se tem a certeza absoluta


da divergência do canal e ausência de retenções.

4. Preparação da resina num godé (pó + líquido), colocando primeiro o líquido (não esquecer de fechar
o frasco) e posteriormente, com uma espátula de inserção, misturar o pó, de forma a ficar uma
mistura um pouco pastosa.
5. Colocar a resina já preparada no prato e na entrada do canal.

6. Introduzir a resina no canal com a ajuda do espigão, sonda ou lêntulo (broca em rotação).

7. Acrescentar resina na porção coronal em volta do espigão.


8. Aguardar o início da reação de polimerização da resina.
9. Remover o espigão com a resina do canal 2/3x antes
que a reação de polimerização se complete – reação
exotérmica e com contração dimensional –, de forma a
ter a certeza que se consegue remover (para ter noção
do estado de polimerização, pode-se fazer uma bolinha
com a resina que sobra).

Se existir uma bolha, um defeito pequeno, podemos


acrescentar com um pincel aos poucos pó e líquido. Se for
um defeito maior, devemos fazer tudo de novo. Para ter
noção que a duralay intracanalar está bem, é necessário
observar se apresenta resistência à extrusão e se apresenta
estabilidade ao tentar realizar algum movimento.

74
Medicina Dentária 3º ano

10. Com broca de acrílico na peça de mão ou broca de ombro arredondado, talhar a resina acrílica da
porção coronal usando as mesmas regras que a da preparação de uma coroa total:
 NÃO mexer no prato e no canal, apenas na porção coronal da
impressão e desgastar, de forma a criar espaço para a coroa.
 6 a 10° e chanfro ou ombro arredondado, mas neste caso queremos
obter o efeito férula, a coroa deve abraçar a margem da raíz e não
apenas o coto, por isso aqui realiza-se o chanfro na raíz (quanto > a
férula, > a proteção).
 Nos caninos, a parte da fossa canina, pode ser realizada com uma
broca em chama.

A margem deve estar abaixo da duralay e devemos


conseguir ver a férula, tem que existir um chanfro.
Quanto menor for a parte coronária, melhor o prognóstico.

Por vezes não é possível realizar a preparação infra-gengivalmente, de forma a conseguir o efeito férula, principalmente em dentes
muito destruídos, que apresentam margens justa-gengivais. No Rx devemos sempre ver onde está o osso e a margem do dente, de
maneira a avaliar a possibilidade de talhar. Se o nível da destruição estiver a 1,5mm do osso, já estamos a invadir o espaço
biológico básico, logo não irá existir férula. Aí temos de pôr em hipótese se realizamos um alongamento coronário ou uma
extrusão ortodôntica, por exemplo, para poder reabilitar. Mas não nos podemos esquecer que o tamanho do espigão tem de ser
maior que a parte coronária (em situações limite pode ser uma proporção de 1:1), logo em alguns casos simplesmente não é
possível realizar o falso coto. Se formos para o limite, temos sempre de avisar o paciente (p.e. “Não temos condições ideais,
estamos no limite, posso realizar o procedimento, mas será uma peça frágil. Quer continuar?”), pois todos os procedimentos
realizados até ao resultado final (falso coto, coroa provisória e coroa definitiva) apresentam um custo e o paciente não pode
aparecer no consultório ao fim de 6 meses com uma fratura vertical da raíz. Quando a situação é mais complicada, o mais correto é
comunicar com o paciente e apresentar outro plano de tratamento, como por exemplo extrair o dente e investir num implante.

Imaginando que após a remoção da cárie dentária e das retenções existentes, apenas sobrou a estrutura dentária representada
na 1ª imagem. Se só sobrou isso, o resto será reposto pelo falso coto, pode perfeitamente ter aquela forma na reabilitação. Se
se remover aquela porção (a tracejado), a estrutura ficará fragilizada, pois estamos a remover estrutura dentária que é crucial
para a resistência do dente. Quando existe mais estrutura dentária, secalhar consegue-se isolar bem e fazer uma reconstrução
com compósito, ao invés de realizar um falso coto. O falso coto realiza-se apenas em situações extremas em que não existe
estrutura coronária e existe alguma dificuldade em fazer uma reconstrução segundo as regras habituais.

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Medicina Dentária 3º ano

11. As paredes proximais devem apresentar um espaço de cerca de 1-1,5mm


até ao limite da preparação (espaço que fica entre limite da preparação
do dente e a impressão do falso coto para ter espaço para a coroa).

12. Arredondamento dos ângulos, polimento e acabamento do acrílico com


borrachas e escovas montadas em peça de mão ou pedra verde.

13. Envio para laboratório – método da cera perdida versão acrílico.

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Medicina Dentária 3º ano

Sequência clínica:

1. Seleção do espigão e material de impressão a utilizar.


2. Verificação da adaptação dos espigões.
3. Impressão do canal propriamente dita.
4. Colocação de material na porção coronal da impressão.

5. Talhe da porção coronal da impressão.

Aspeto clínico após fundição Aspeto radiográfico dos falsos cotos já cimentados

Método indireto

1. Seleção do material de impressão (elastómeros).


2. Seleção da moldeira (universal/individual – para falso coto não se justifica uma moldeira individual).
3. Seleção de um espigão que sirva de base ao material de impressão.
4. Fio de retração, se necessário (falsos cotos NÃO costumam ser a nível gengival, não sendo utilizado).
5. Isolamento e secagem da zona a impressionar.
6. Introduzir o material de impressão com a ajuda de seringa, lêntulo e/ou espigão.

77
Medicina Dentária 3º ano

7. Colocação da moldeira preenchida com o material de impressão.


8. Aguardar a conclusão da reação de polimerização.
9. Remover a moldeira.
10. Correr a gesso (no laboratório).

No modelo, no sítio onde estavam os


espigões, permanece um canal.

Posteriormente, em laboratório, fazem o que se faria


no método direto, mas no modelo de gesso.

Falso coto em cerâmica pura

História

 1989: surgiram pela primeira vez em cerâmica vítrea (Kwiatrowski e Geller).


 1991: surgiram em cerâmica infiltrada por óxido de alumínio (Kern e Knode).
 1994/95: surgiram em cerâmica de Zircónia (Pissis).

Aplicação

 Praticamente não se usam, em caso de coroa cerâmica (translúcida) será preferível ceramizar o
núcleo para disfarçar o tom do metal.
 Utilizados quando a estética exigida é máxima em restaurações de cerâmica pura.
 Principalmente em dentes anteriores.

Aspetos positivos Não se realiza, pois é difícil de executar (cerâmica dentro do canal) e de
cimentar. Para além disso, exerceria bastantes pressões. Não acresce nada de
 Ótima translucidez e brilho. novo à execução de falsos cotos, uma vez que existe uma técnica chamada de
 Bons resultados estéticos. ceramização, em metal, onde a estrutura toda em metal é posteriormente
 Boa biocompatibilidade. coberta por cerâmica (zircónia permite o encobrimento total do metal).

 Não corrosíveis.
78
Medicina Dentária 3º ano

Prótese provisória
Introdução

 Uma restauração provisória consiste numa prótese realizada para servir apenas por um curto
período de tempo.
 Por diversas razões, uma restauração provisória pode ter de funcionar por um longo período e
satisfazer tanto a componente biológica como a mecânica e a estética.

Diagnóstico

 Mimetismo: o que se assemelha, é o que se pretende obter como resultado em qualquer prótese
provisória.
 Enceramento de diagnóstico:
o Dado importante na elaboração de um plano de tratamento, porque permite obter uma pré-
visualização da restauração definitiva.
o A estrutura de uma elaboração e planeamento de uma prótese provisória ou de um plano de
tratamento que passa inicialmente por uma prótese provisória, é meio caminho andado
para conseguir um trabalho final bem-sucedido.
o Neste caso, é feito o aumento da dimensão vertical, sendo que a
estabilização e recuperação desta situação é realizada através da
prótese provisória. Por vezes, nestas situações, é necessário manter
a prótese provisória durante mais tempo.
 O sucesso da prótese definitiva está diretamente relacionado com a
qualidade da prótese provisória.
 O diagnóstico permite:
o Avaliar a adaptação, os desajustes ou fraturas marginais que provocam muitas vezes
sensibilidade, inflamação gengival, contactos proximais insuficientes ou que não estejam
adequados, subcontorno, cor e compatibilidade desta com os dentes adjacentes.
o Aperfeiçoar os limites/a imperfeição dos limites preparados nos dentes e a relação da
prótese com os outros dentes em termos de grandeza/proporção.

Prótese provisória

Função principais

 Biológica:
o Proteção pulpar:
 Selar e isolar a preparação (após o desgaste) dos agentes irritantes (na preparação
da prótese existem agentes irritantes, tanto mecânicos, térmicos, químicos e
microbiológicos que podem afetar a integridade da polpa).
 Ação conjunta com o cimento (os componentes químicos do cimento podem ser
agressivos, para além de que o aquecimento com a broca, a trabalhar com rotações
elevadas, na ausência de uma refrigeração suficiente, pode acabar em necrose).
o Proteção periodontal:
 Promover adaptação marginal (uma prótese provisória mal-adaptada provoca a
inflamação dos tecidos e, por vezes, pode dar origem a uma lesão periodontal).

79
Medicina Dentária 3º ano

 Proteção contra:
 Sobrecontorno: provoca sensibilidade e trauma mecânica nas zonas do
dente exposto.
 Subcontorno: promove a acumulação de placa bacteriana e inflamação.
 Ameias interproximais: evitam que a gengiva ou as papilas dentárias possam ficar
comprometidas, evitando traumatismo gengival durante a mastigação.
o Oclusão fisiológica: determinação ou manutenção da relação maxilo-mandibular e
dimensão vertical.

Manter a intercuspidação máxima, preservar elementos protéticos onde não


há patologia nem instabilidade oclusal. O tratamento com uma relação cêntrica
são para doentes com patologia oclusal e instabilidade oclusal. Respeitar a
oclusão e evitar que seja nefasta para o resto dos órgãos (p.e. ATM).

o Fonética: resultado da adaptação da prótese aos tecidos, é uma consequência/ função


paralela.

 Mecânica:
o Função: manutenção ou restabelecimento da função mastigatória.
o Prevenção do deslocamento:
 Manutenção ou alteração da relação com outros dentes (num desdentado, os
dentes adjacentes tendem a sofrer mesialização e extrusão).
 Evitar extrusão e desvios.
o Rentilização: capacidade de resistência e retenção para resistir às forças oclusais e evitar a
fratura durante o período de utilização (portanto a prótese vai resistir às forças oclusais e
mastigatórias, e vai manter-se durante o tempo que está na boca, nas melhores condições).
 Estética:
o Enquadramento oral:
 Tamanho, forma, contorno e cor.
 Eixo de inserção na arcada.
 Linha média e simetria.

A proporcionalidade do dente ausente na boca dentro da arcada, muitas vezes, depende


da forma como se obtém os dados universais: linha do sorriso e linha gengival permitem
obter a altura do dente na zona incisal. A partir daqui, pode seguir-se para o resto da boca
determinando a proporcionalidade que existe a partir desses dados universais.

Condicionamento gengival

Modelação do rebordo através da prótese provisória

 Sempre que a espessura do sulco gengival for insuficiente, ou seja, o biótipo gengival seja
favorável, uma das funções da prótese provisória é a modelação dos tecidos.
 Através de uma superfície do pôntico convexa, polida, onde haja uma correta higienização desta
área, sem que isso promova uma ulceração dos tecidos através de uma porção entreretida, é
possível modelar o tecido gengival e provocar zonas de papilas gengivais com ameias.
 Isso é feito para que, quando se coloca a prótese definitiva, se tenha uma emergência da coroa do
dente que é semelhante ao resto das zonas onde existem dentes.

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Medicina Dentária 3º ano

Requisitos

 Proteção pulpar.
 Proteção periodontal.
 Estabilidade da posição.
 Função oclusal.
 Permitir a higienização intermaxilar.
 Manter o espaço para a gengiva em interproximal, de modo a não haver trauma gengival.
 Resistência e retenção.
 Forma estética.
 Eixo de inserção.

Características

A prótese provisória, para respeitar/exercer essas funções, deverá ter certas características.

 Anatomia oclusal apropriada.


 O limite cervical deve ser correto.
 Boa adaptação aos tecidos moles e ao próprio dente.
 Pônticos e superfícies de contacto adequadas.
 Guias de função mandibular em cêntrica ou intercuspidação máxima.

 O eixo de inserção das arcadas correto, ocluso-cervical e mesio-distal (permitindo


assim uma estabilização dos movimentos dentários, a estética, a forma e a cor
adequadas).

Materiais para confenção

Características ideais

 Biocompatibilidade oral e química com os cimentos provisórios.


 Estabilidade dimensional.
 Técnica simples e rápida.
 Fácil de retocar, acabar e polir (fácil manipulação).
 Dureza e resistência mecânica (forças de mastigação e forças de tração).
 Custo reduzido.
 Boa estética. As próteses podem ser feitas tanto por nós como no laboratório. O material
 Boa aceitação pelo doente. deve ser resistente, de forma que não frature, durante as forças de mastigação
e de tração (por vezes, as próteses desinserem-se por outros motivos para
Tipos além da mastigação, como retenção dos pilares ou má adaptação).

Coroas individuais:

 Resinas de metacrilato – resina acrílica: Resinas de metacrilato: polietil-metacrilato


o Autopolimerizável (+ usada na clínica) (PEMA) e polimetilmetacrilato (PMMA)
o Termopolimerizável (+ usada no laboratório)
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Medicina Dentária 3º ano

Vantagens Desvantagens
Boa harmonia estética (tempo limitado).
Técnica de utilização rápida e simples.
Facilmente porosa se não for bem manipulada (+ poroso
Baixo custo.
se for autopolimerizável).
Biocompatível com o meio oral.
Deformação a uma pressão contínua ou intermitente
Durável (para as necessidades de tempo).
(perda dos limites, pontos de contacto, relação com
Grande resistência ao choque.
antagonistas).
Leve.
Descoloração no meio oral.
Fácil de polir e acabar.
Desgaste fácil.
Permite rebasamento.
Utilização de pigmentos para obtenção da cor desejada.

Resinas compostas de
Bis-acril e Bis-GMA
 Resina compostas – compósito: autopolimerizável/fotopolimerizável

Vantagens Desvantagens
Boa estética (vasta gama de cores).
Técnica simples e rápida (< tempo de trabalho – Alto custo.
fotopolimerizável). Camada inibida por ar presente à superfície após a
Contração baixa. polimerização.
Calor mínimo gerado durante o ajuste. Perde o brilho da superfície com o tempo.
Odor mínimo. Mais frágil do que a resina acrílica.
Fácil de aparar. Difícil de realinhar/reparar.
Radiopaco.

Coroas pré-fabricadas/comerciais:

 Policarbonato
 Acetato de celulose
 Metálicas (alumina e prata-estanho, níquel-crómio)

Resinas acrílicas (metacrilato) Resinas compostas (Bis-acril)


Odor  
Reparação  
Propriedades físicas  
Facilidade de manipulação  
Contração de polimerização  
Reação exotérmica (mais
 
seguras para a polpa)
Polimento superficial  
Preço  
Estética  
Estabilidade de cor  
Adaptação marginal  

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Medicina Dentária 3º ano

Os autores na comparação destes materiais por vezes têm opiniões controversas. De um modo geral, a
estética é melhor nas resinas compostas, bem como o odor, as propriedades físicas e manipulação,
enquanto o custo, o polimento e a reparação são características mais favoráveis das resinas acrílicas.

Relativamente às propriedades mecânicas, as opiniões são controvérsias quanto às resinas compostas:

 Young et al (2001) e Strassier (2009).


 Gordon (2004), Strassier (2007) e Snyder (2008): defendem que devem ser apenas usadas na
confeção de coroas unitárias ou prótese provisórias de curta duração.
 Mizrah (2007) e Strassier (2009): referem ainda que em casos mais complexos, nomeadamente
quando se trata de restaurações provisórias múltiplas, ou de longa duração, as resinas PMMA
continuam a ser os materiais de eleição.

Polimerização

Estado fluído (monómeros)  estado sólido (polímero)

 Os polímeros são macromoléculas, em que se repete uma unidade chamada de monómeros, que
em situações adequadas de pressão, temperatura e catalisador se criam condições para esse
monómero se ligar e originar um polímero.
 Portanto, a polimerização define-se como uma série de reações sucessivas entre moléculas de
monómeros que resultam em macromoléculas (polímero).
 Condensação: polímero é constituído pela combinação de 2 ou mais monómeros distintos entre si,
ocorrendo a eliminação de moléculas mais simples, como água, nitrito ou ácido clorídrico.
 Adição: a macromolécula final é formada pela junção de monómeros todos idênticos entre si.
o Compósitos, resinas acrílicas e adesivos (adição): reações em cadeia; não tem formação de
subprodutos; reação entre monómeros é exotérmica; reação mais rápida.

Fases na polimerização de adição:

 Iniciação/ativação: formação de um radical livre. Ativação térmica, química ou através de luz.


 Propagação: formação de cadeias.
 Terminação: transferência de cadeias.

Inibidores da polimerização
Nunca inibem totalmente, mas
 Oxigénio. diminuem o grau de conversão.

 Impurezas (sangue, saliva).


 Hidroquinona.

Resinas acrílicas fotopolimerizáveis/termopolimerizáveis vs autopolimerizáveis

Fotopolimerizáveis/termopolimerizáveis Autopolimerizáveis

Confere mais dureza, resistência e estética. Maior porosidade.


Necessita de câmaras de pressão para polimerização Menor densidade.
adequada. Manuseamento simples.
Técnica indireta. Técnica direta.

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Medicina Dentária 3º ano

Técnicas

 Direta:
o A restauração é feita na boca pelo médico dentista, sobre o dente preparado.
o A coroa é retirada do dente antes de terminar a polimerização para que não fique presa em
áreas retentivas, por causa da contração de polimerização.
 Indireta:
o A restauração é feita no laboratório, pelo técnico de prótese, sobre o modelo de estudo.
o É a técnica de eleição, principalmente quando se prevê uma utilização por um maior
período de tempo, mas também quando há presença de disfunções da ATM e nos casos de
extensa terapia periodontal.

Sempre que possível, a técnica indireta é mais previsível. Portanto sempre que o doente pode esperar ou sempre que as coisas estão
programadas, é preferível realizar uma prótese provisória a partir da técnica indireta. Se bem que há situações de urgência em que não é
possível planear as coisas, pelo que é necessário realizar na altura e fazer de várias formas em condições estéticas e de resistência aceitáveis.

Contração de polimerização:

 Técnica direta: contração de polimerização do polimetilmetacrilato fora da boca é 8%.


 Técnica indireta: Crispin et al. demonstraram que o ajuste marginal pela técnica indireta melhora
esta contração em 70%.

A técnica indireta tem a vantagem de diminuição da contração de polimerização, porque há menos manipulação da resina, pois,
nesse caso, recebe-se a prótese do laboratório e só se tem de a rebasar para ajustar ao talhe/desgaste do dente efetuado.

Irritação pulpar:

 Técnica direta: colocado sobre a dentina recém exposta provoca irritação térmica, devido à reação
ser exotérmica e pela irritação química por causa da libertação do monómero.
 Técnica indireta: apresenta maior proteção pulpar.

Vantagens da técnica indireta:

 Durabilidade significativamente maior e integridade marginal excelente.


 Maior resistência à fratura da margem cervical aquando da inserção e desinserção, durante as
provas da prótese definitiva.
 Melhor estética e apresenta excelentes características para a manutenção da saúde periodontal,
devia a melhor adaptação marginal.
 Maior biocompatibilidade, em consequência de um melhor polimento superficial.
 Menor reação exotérmica, aquando da polimerização das resinas.

Guia de técnicas

Prótese provisória em resina acrílica

 Técnica direta:
o Com impressão prévia

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Medicina Dentária 3º ano

o Técnica de faceta comercial


o Técnica de faceta em compósito
o Técnica “chairside” ou do bloco de acrílico
o Com coroa pré-fabricada:
 Acetato de celulose
 Com espigão
 Policarbonato
 Metálica
 Técnica indireta:
o Coroas pré-fabricadas (policarbonato) + talhe no modelo de estudo
o Modelo invertido

Técnica direta

Com impressão prévia

 Pode ser realizado em:


o Alginato:
 Realiza-se um molde em alginato, preparam-se os dentes pilares, coloca-se resina
dentro do molde, que vai servir de matriz, leva-se à boca e a polimerização é
efetuada em minutos.
 Há que remover a moldeira antes que haja contração/polimerização completa para
que não seja difícil removê-la.
 Deve haver sempre um pouco de excesso de material colocado na moldeira, de
modo a haver um controlo mínimo do grau de polimerização destes materiais.
 Depois da prótese terminada, é possível reajustá-la, rebasando-a (acrescentar mais
acrílico) e colocando novamente na boca, de maneira a que o limite cervical possa
ficar mais consistente, o máximo adaptado possível.
o Silicone: funciona como matriz, portanto a técnica é semelhante, só que neste caso a matriz
pode ser guardada e utilizada para novas próteses.
o Matriz de plástico:
 É obtido um modelo em gesso através de um molde de alginato, onde é realizado o
enceramento da zona onde não existe dente no modelo.
 Faz-se uma confeção de uma matriz de plástico sobre o modelo duplicado, onde foi
confecionado o enceramento.
 Esta confeção de plástico permite obter a matriz, que é preenchida com resina e
colocada na boca, obtendo-se assim uma prótese.

Técnica de faceta comercial

 Indicado para dentes anteriores e pré-molares.


 Requisitos da estética assegurados:
o Estabilidade de cor.
o Polimento superior ao do consultório – superfícies lisa e brilhante.

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Medicina Dentária 3º ano

1. Recorrer a dentes que são utilizados em prótese removível, cortando-os e aproveitando a face
vestibular, de maneira a que se possa depois rebasar ou repreencher o resto do dente e obter,
assim, a coroa provisória:
a) Selecionar uma coroa com uma cor, tamanho e forma aproximada.
b) Medir através do dente adjacente ou de outra referência e cortar a coroa escolhida (nunca
ao nível do bordo incisal, mas sim na zona cervical, de forma que se ajuste o mais possível a
à gengiva).
c) Fazer o desgaste por trás, de forma a que a coroa possa ser preenchida com uma resina e
ficar bem-adaptada ao preparo do dente realizado, mantendo assim uma face vestibular
perfeitamente lisa e, portanto, mais estética.

2. Também se pode escolher uma resina para adaptar a parte posterior desta faceta.

3. Realizar o rebasamento cervical e o acabamento da margem:


a) Depois de se colocar um bocadinho da resina, colocar novamente
a coroa, comprimindo e obtendo-se um excesso.
b) Marcar o limite na coroa.
c) Remover os excessos, olhando para o limite cervical, só posteriormente a esta remoção, é
que se observa a face vestibular, para que fique tudo bem preparado e haja continuidade
entre o limite e o resto da face vestibular.
d) Acabamento e polimento.
e) Cimentação provisória.

Técnica de faceta em compósito

1. Realizar um chanfro à volta da face vestibular toda.


2. Preparar e verificar o dente.
3. Preparar a faceta em cima deste dente.
4. Fotopolimerizar.
5. Remover a faceta do dente.
6. Para cimentação, colocar 1-3 pontos de ataque ácido, de forma a que a coroa/faceta possa depois
ser removida facilmente. Portanto, ela só fica cimentada com a técnica adesiva nesses 3 pontos.

Técnica “chairside” ou do bloco de acrílico É a forma mais primitiva de elaborar uma coroa provisória.

1. Depois de preparado o dente, vaseliná-lo e colocar um bloco de acrílico em cima.


2. Modelar e começar a elaborar.

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Medicina Dentária 3º ano

2. Preparar o dente, de acordo com a anatomia e a forma, obtendo um contorno


anatomicamente semelhante e esteticamente bonito através do bloco acrílico.
3. Remover os excessos (identificar primeiro onde é que ficaram os limites).
4. Chegar a um dos pontos de contacto com o papel de articulação.
5. Polimento, acabamento e rebasamento se necessário.

Com coroa pré-fabricada

 Acetato de celulose (coroas de acetato de celulose):


o Material fino, macio e transparente.
o Existe para todos os dentes.
1. Colocar pilar metálico em cima do implante, portanto um pilar de coroa provisória, onde vai
ser colocada a coroa de acetato.
2. Seleção de tamanho e forma. Há kits de coroas transparentes para cada tipo de
dentes que depois são cortadas na região cervical para
3. Ajustar para adaptação do dente preparado.
melhor adaptação. Isto é um material maleável,
4. Encher acetato com polímero autopolimerizável. portanto pode ser perfeitamente adaptado aos dentes.
5. Vaselinar o coto.
6. Remover a coroa de acetato após polimerização.

 Com espigão:
o Técnica utilizada para situações em que há ausência/destruição da coroa e, portanto, só
existe a retenção radicular.
o Esta técnica segue o princípio de todas as outras, só que a retenção é radicular.
1. Realizar a preparação da raíz, sendo feita a remoção da guta e alisamento das paredes do
interior da raíz até 2/3 ou 3/4 do comprimento, com brocas de Peeso e/ou Gates.
2. Selecionar uma coroa preformada.
3. Lubrificar o canal com vaselina e colocar a coroa em cima do espigão.
4. Desgastar a coroa preformada no seu interior, de maneira a poder ser rebasada com resina.
 Policarbonato:
o Excelente para dentes anteriores (superfície e estabilidade de
cor), mas disponível para todos os dentes.
o A coroa de policarbonato permanece no dente preparado.
o É uma boa opção, porque, tal como as facetas que se cortavam
dos dentes, permite que a superfície exterior fique mais densa,
menos sujeita a descoloração, mais resistente e com um aspeto
estético superior.
 Metálica.
Estas coroas de policarbonato também podem ser utilizadas em situações rápidas de coroas provisórias com
implante. Nas imagens, é visível o parafuso de cicatrização, que está ligado ao implante, colocado para que a
gengiva possa cicatrizar bem à volta e ter um grau de emergência, e que a coroa mais tarde fique bem
inserida dentro do alvéolo. Também é observável o que permanece depois de se remover o parafuso, que
consiste no pilar que se coloca em cima do implante aparafusado para a colocação da coroa provisória. 87
Medicina Dentária 3º ano

Técnica indireta

Coroas pré-fabricadas (policarbonato) + talhe no modelo de estudo

 Realizadas no laboratório.
 É feito um desgaste no modelo, portanto as coroas são realizadas em cima de um preparo que não
constitui o preparo da cavidade oral, daí a necessidade de ajuste destas coroas.
1. Realizar o molde e, posteriormente, o modelo.
2. Realizar um desgaste nos dentes em gesso do modelo.
3. Colocar e adaptar as coroas de policarbonato.
4. Realizar o acabamento das coroas.
5. Colocar na boca e realizar o desgaste interno das coroas por dentro (porque o desgaste do modelo
não é igual ao desgaste da boca).
6. Rebasar as coroas com resina e ajustar no novo preparo.

Modelo invertido

1. Encerar um pilar, no modelo de gesso.


2. Realizar uma matriz em silicone.
3. Preencher a matriz por resina, sendo novamente colocada sobre o modelo onde foi encerado o
pôntico (elemento que falta).

Prótese provisória em resina acrílica com resina composta

1. Falso coto recuperado através de uma técnica de resina com espigão.


2. É feito um molde através de um modelo pré-fabricado, obtendo-se o resto da coroa
total.

3. Faz-se uma matriz em elastómero, a matriz é colocada no lugar e é feito o recobrimento


do dente com resina composta (compósito).
4. Deposição de nova camada sobre o compósito para obter uma estética melhor.
5. É feito o acabamento e desgaste e obtida uma coroa em resina
composta (limite supra-gengival na face palatina, de forma que
não é visível).
6. Polimento: primeiro discos, depois borrachas e, por fim, feltro.

Acabamento e polimento

Adaptação marginal

 No acabamento de qualquer prótese provisória, é necessário ter em atenção a adaptação perfeita


da margem da coroa à margem da preparação, avaliando ainda:
o Pontos de contacto (ausência de ponto de contacto  impactação alimentar  cárie
secundária, trauma gengival, recessão gengival).
o Ameias.
o Pônticos.

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Medicina Dentária 3º ano

 Importante observar os limites cervicais das margens (primeiro devem cortar-se os excessos
cervicais e só depois olhar para a face vestibular e realizar o acabamento do resto).

Rebasamento

 Desgaste interno do “dente” para rebasamento.

Polimento

 Realizado com discos, borrachas e pedra verde.


 As borrachas apenas são utilizadas depois da superfície estar lisa, só se utilizam depois de todas as
brocas mais abrasivas terem sido utilizadas, de forma a dar brilho.
 Falta de polimento  fratura.

Cimentação

 Hidróxido de cálcio (quando há necessidade de ação medicamentosa sobre a polpa).


 Óxido de zinco e eugenol (IRM) (quando os pilares são pouco retentivos ou a prótese vai estar mais
tempo na boca, pois este cimento é mais resistente).
 Óxido de zinco sem eugenol (mais frequente).

Muitas vezes, o eugenol interfere com a polimerização das resinas acrílicas. Se há necessidade de
fazer rebasamento após a cimentação, muitas vezes essa técnica nem sempre corre bem.
O eugenol causa uma redução de adaptação marginal nas restaurações provisórias e, no rebasamento,
leva a uma consistência borrachóide do material, o que diminui a sua capacidade de endurecer.

Técnica:

1. Isolamento do campo operatório (evitar que haja saliva).


2. Secagem do campo operatório e da coroa provisória.
3. Manipulação do cimento e colocação do mesmo na coroa:
 A coroa não deve ficar cheia de cimento, basta uma pequena porção no limite cervical.
 Se houver muito material, ele vai escoar e diminuir a adaptação da coroa, sendo que ao ser
colocado no limite cervical, o cimento é arrastado para o seu interior, o que é suficiente para
a tornar retentiva.
 Deve fazer-se uma pressão forte, contínua e grande, até a coroa ser colocada no sítio certo.
4. Inserção da coroa provisória no dente a reabilitar e aplicação de pressão.
5. Aguardar que o cimento faça presa (não é aguardar que seque).
6. Verificação da oclusão.
7. Remoção dos excessos com auxílio de uma sonda e fio dentário (espaços interproximais):
 Ter cuidado na colocação do fio dentário, uma vez que se houver bolsa nos pontos de
contacto, o fio faz alguma pressão, podendo interferir com a cimentação e arrancar a coroa.
 Uma má remoção do excesso de cimento causa trauma gengival, inflamação das gengivas e
possível retração gengival, comprometendo o trabalho (pode ter que ser feito um novo
talhe, mais abaixo, de modo a que acompanhe o nível gengival.

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Medicina Dentária 3º ano

Controlo oclusal

 Consiste na verificação oclusal com a remoção dos contactos prematuros e polimento com uma
borracha.
 Realiza-se o controlo oclusal antes da cimentação (cimentação é a ultima coisa a fazer!).
 Pôntico ideal:
o O pôntico é o elemento suspenso, que vai substituir um dente ausente.
o Deve acabar ao nível da gengiva, de acordo com a anatomia do rebordo gengival.
o Na face vestibular deve ficar adaptado à gengiva para que não se veja uma zona vazia, ou
seja, para que fique estético, mas na face palatina deve consistir numa zona aberta, de
maneira a que os resíduos que se acumulem possam ser higienizados.
o O mais utilizado é o estético sobreposto modificado (estético, porque do lado vestibular fica
encostado à gengiva, e modificado, porque é aliviado a nível palatino de forma a que possa
ser higienizado).

Higiene oral

 Ao nível da higiene oral, é importante motivar os pacientes, porque o sucesso da prótese vai
depender muito do acompanhamento e higienização da prótese:
o Recomendar a utilização de fio dentário e escovilhão (para espaços maiores).
o Existe ainda o superfloss, que é um fio dentário mais grosso, com uma extremidade mais
rígida, que permite que seja inserido pelas ameias.

Execução de prótese provisória no fantoma

1. Utilizamos três dentes sucessivos.


2. Preparação e colocação do putty na moldeira comercial.
3. Colocação da moldeira com putty na boca do fantoma, ainda com os dentes todos.
4. Remoção do dente 45, talhar os dentes adjacentes e utilizar uma resina autopolimerizável.
5. Colocação de vaselina nos dentes do fantoma.
6. Colocação de resina acrílica na moldeira com putty.
7. Introdução na boca.
8. Enquanto ainda estiver mole, remover a matriz do dente para que não fique presa nas zonas
retentivas.
9. Remover os excessos.
10. Acabamento.
11. Rebasamento.
12. Colocação da prótese provisória na boca.

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