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Cooperacao técnica em biotecnologia* Mareos A. Castethano Bruno Pesquisador do IPT - Instituto de Pesquisas Tecnolégicas do Estado de Sao Paulo S.A. ¢ Doutorando em Administracao pela Faculdade de Economia, Administragio ¢ Contabitidade da Universidade de Si Paulo Roberto Silva Waack Diretor de Gestio Tecnolégica da Vallée Nordeste S.A. Resumo ‘A coopetagio téenica é importante instrumento para 0 desenvolvimento tecnoldgico do setor privado. Ao nivel de uma nagio, é forma de racionalizagao dos recursos i sistema de C&T, em especial em paises onde esses r limitados. No campo da biotecnologia a cooperagio técnica é quase obrigatsria, devido a multidiseiplinariedade e dindmica desta érea de atividade, Este texto enfoea algumas experiéneias de eooperagio ‘enica, as quais objetivam o desenvolvimento de produtos biotcenoldgicos. Trés casos de cooperagio sao analisad empresajempresa — AGROCERES/BIOTICA; empresa/ins pesquisa — BIOTEST/INCOR; empresa/universidade — BIOBRAS/UFMG. Palavras-chave: = cooperagio t + bioteenologia + estudo de casos nica os autores registram agtadecimentos a todos os que dedicaram seu tempo € utengio ao desenvolvimento deste trabalho. Aos cnttevistados: Sr. Urbano Ribeiral - AGROCERES, Sr, Jorge Yenovsky ~ BIOTICA, Sr, Rubens Goncalves do Naseimento ~ BIOTEST, em especial, pelas horas gastas e cordialidade no atendimento;,Pesquisadors Luiza Guilherme = INCOR, Prof. Marcos Mares Guia - BIOBRAS, Prof, Wilson Mayrink - UEMG., Demais envolvidos: Professares Roberto Sbragia ¢ Eduardo Vasconeellos ‘ecolegas da disciplina A Uiinistragio de P&D na Empresa - FEA/USP, que deu origem ao trabalho; ¢ 20 Sr. Pedro Rossi, bututeire ‘convicto, pelo aconselhamenio séria¢ profissional no estude do projeto AGROCERES/BIOTICA.. Revists de Adminisiregio, Sio Paulo v. 27,2, p. 49-64, abriljunho 1992 49 INTRODUGAO A coopetagao técnica ¢ instrumento de clevado poteneial no objetivo de desenvolvimento de teeno- ogia para o sctor produtivo: ao nivel de uma nagio, como forma de racionalizar os recursos disponiveis no seu sistema de C&T (piblico e privado), prinei- palmente naquelas em que esses recursos sa0 bas- tante fimitados; por outro lado, no campo das biotcenologias — com cardter eminentemente mul- obrigatéria pelo ritmo ripido da evolu nologias e pela aproximagdo cada vez maior do es- ges para o desenvolvimento de bioteenologias, vi- sando 4 produgao & comercializagio de produtos. Objetivando atingir diversilicagao de situag os casos estudados contemplam trés tipos de coope- ragio, diferenciados pela natureza das organizagdes obtida por micropropagagio vegetal; + cooperagio empresa-institulo de pesquisa: BIOTEST/ INCOR, referente a reagentes para classificagio sangiiinea obtidos por anticorpos monoclonais; + cooperagio empresa-universidade: BIOBRAS/ UFMG, para vacina contra leishmaniose obtida por cultura de parasit ‘A qualificagio de cadu eooperagio, feita a partir de uma pesquisa de campo, compreende: caracteri- zagio das instituigdes ¢ dos projetos; motivagio para a cooperagio; estratégia de execugio; gestio da cooperagiio; ¢ resultados, Apoiado por referencial biisico da literatura, & ineluido no trabalho, além da deserigio dos casos, ensaio analitico objetivando extrair conclusdes € recomendagdes das cooperugdes pesquisadas. A COOPERACAO: CONCEITOS, INTERESSE PARA AESTRATEGIA EMPRESARIAL © termo cooperagio engloba © sentido amplo das parecrias possiveis para as empresas, entre clas mesmas ca delis com os agentes do sistema de cigneis ¢ tecnologia, que podem estar voltadas para objetivos de diferentes naturezas (téenica, comer- cial, de produgio cte.). Steele (1989) evidenciou em seu trubalho a mo- fivagdo contemporines, pela qual as empresas de- vem (er administragio’ mais aberta & cooperagao com 0 meio externo ¢ a importineia do bom geren- ciamento desta atividade. Conforme as conclusdes do autor, com a tendén- cia mundial de globalizagio dos mereados, a com- pelitividade das empresas é desafiada pela nec xpandir mereados, controlar custos , enfrentar riscos © dar respostas mais ripidas. Para isso, a empresa tem que se valet douso de recursos fora de suas fronteiras através de parcerias, as quais requerem competéneia gerencial adequada. ‘AS empresas de base teenolégica, como aquelas do segmento das bioteenologias, devem de; levancia especifica & eooperagio técnica, po categoria de empresa é mais susectivel 40 uso da tecnologia como fator de diferenciagao competitiva (Pusfeld, 1988), Este quadro termina conferindo cariter estratégi- co 0 proceso de cooperagio ¢ a conceituagao men- cionada no trabalho de Dertouzos et alii (1989) ra tal condigao: "Cooperagio © competigio sstos da mesma mocda. (...) Um equili- polos. Com a 10, por ve7es tal equili- mudanga no ambiente exte brio também seri alterado O texto desses autores aborda estudo recente So- bre o desempenho industrial de empresas norte- americanas pertencentes a varios setores (automo- bilistico, quimico, ago, eletrénica de consumo, avia- géo comercial © outros), que aponta a baixa eupaci- dade de cooperagio como um dos obsticulos a0 processo de inovayio tecnoldgiea ¢ & melhoria do desempenho industrial do pais. Outro trabalho (Informations Chimie, 1990) ddica que cmpresas do setor quimico, as quais t trudigao de atuagio em mercado internacional, estio recorrendo ii cooperagao entre empresas como suice- danco do proceso de aquisigio de uma empresa por outra, Por mecanismos de cooperagio miltiplos pode-se conseguir, custo menor, ganho de eficdcia para as empresas no suprimento de suas necessida- des de accesso mais ripido dis teenologias emergen- les, renovagao de seu port{dlio de produtos, expansio de sua rede comercial © conquista de no- vos mereados. No Brasil, onde o custo de capital é mais cle- (Porque mais raro) € a capacitagdo nacional nologia bastante limitada e disper- Sa, a questiio de cooperagio torna-se ainda mais essencial Apesar disso, segundo Plonski (1990), ragio institucional no pais é ainda redu 9s varios agentes do sistema produtivo ¢ do siste- ma de ciéncia e tecnologia, em todas as combina- gies p cs. O autor indica que u cooperagio entre universidade e indiistria no Brasil, por exemplo, tem clevado potencial, o qual, no entanto, tem sido pouco explorado.” A cooperagio do tipo empresa-empresa é também muito rara, 50 Revista de Administragio, Sio Paulo v.27,. 2, p. 49-64, abrilfjuno 1992 COOPERACAO TECNICA EM. BIOTECNOLOGIA A cooperagio a0 nivel mundial envolvendo a biotecnologia cresecu cm intensidude nos anos 80, quando os novos processos de origem biotcenoldgi ca comegaram a impor mudangas no cendrio eom- petitive de alguns setores industriais. Conforme lo em Zylbersetajn et alii (1989), entre os. primeiros sctores mais afetados por este fendmeno estd © furmacéutico, em conseqiiéncia, principal mente, dos avangos ocorrides na engenharia genéti- ca c no desenvolvimenta dos anticorpos monoclonais. O setor de agroindtistria também co- ypacto dessas transformagoes, cemergentes de natureza bio- Devido a vinculagio dessas mudangas 4s inova- ges tcenolégicas e ii proximidade entre 0 estado da arte (ecnolégico ¢ 0 cicntifieo, caructeristico dos desenvolvimentos recentes em biotcenologia, a aga0 governamental de varias nagdes priorizou, em st Politicas para C&T, o fortalecimento da cooperagio entre o setor industrial ¢ 0 sistema de produgao de conhecimento ¢ tecnologia (universidades e institu- tos de pesquisa) A Europa, alravés de sta comunidade econdmi- ca, fez desde logo esforgo expressivo, constituindo programa especitico para projetos de cooperagio em biotcenologia (Colombo, 1988; Nielsen & Ca- valli, 1988). O Japao e os Estados Unidos também inslalaram agoes programs templando nao s6 cooperagdes internus em seus pré prios dominios, mas também entre os dois paises, sobretudo no sctor farmucé icordos, neste campo, incentivam a cooper press de ambos os paises, até com contratagao di- relu de servigos de P&D de u esa por outra, sem que esiejam formalmente ussociudus (Peters, 1988) No Brasil, referentes ao periodo iniciado nos anos 80, sio viirias as agdes governamentais nos niveis federal, estadual ¢ municipal que prevéem incentivo a cooperagio (éenicu em biotecnologia. A partir de um primeiro momento, no qual us agi fomento lideradas pelo CNPq ¢ pela FINEP est volladas para o aumento da capac de C&T piiblico, ha tendéncia mais re contemplar também a interagio desse © sector industrial ligado a biotecnologia. Assim, surgit! tina linha de apoio finaneeiso para a criag: de palos de biotcenologia (Minas Gerais, Rio de Janciro, Santa Catarina, entre outros), com a parti cipagdo conjunta das agéneius estaduais © municipais para constituir esses pélos, que tém como uma de suas missies o estreitamento, da cooperagdo ein bioteenologia entre empresas © instituigdes de pesquisa biisica e aplicada. Com este tipo de mecanismo objetiva-se aumentar a transfe- réneia dos resultados de. pesquisas para aplicagio industrial. Mecanismo com objetivo simi adotado pelo Subprograma de Biotecnologia do PADCT, com chamadas especifieas em editais re- centes, fomentando projetos que privilegicm a coo- peragdo empresa-instituto de pesquisa-univer- sidude. Esse inecntivo tem encontrado dificuldades operacionais para liberagio de recursos para as em: presas, dificuldades essas que deverio ser minimi zadas de modo @ assegurar # manutengio do mecanismo. Outro reeurso de fomento que possibilita o en- volvimento de empresas € 0 CABBIO — Centro Argentino-Brasileiro de Bioteenologia —, voltado a cooperagao bilateral para o desenvolvimento da bio tcenologia nos dois paises. Maiores detalhes sobre cessus ages de fomento no Brasil podem ser encon- trados em Zylbersztajn et alii (1989). Séo eseassas as publicagécs disponiveis no pais deserevendo ex- us envolvendo cooperagao técnica em bio- tecnologia com a participagao de empresas Cita-se uma delas, localizada por oca- a0 destu revisio, Vasconeellos et alii (1988), des- erevendo uma experitneia de empresas na teniativa de formagio de associagio pré-competitiva para P&D. ESCOPO DOS ESTUDOS E METODOLOGIA Verificado 0 cariter estratégico que a cooperagio tGeniea vem assumindo na dindmica dos negécios das empresas, entre clas aquelas com aluagio em biotcenologia, optou-se pelo estudo de trés casos, de mancira a contemplar diversidade de siluagées quanto & natureza das organizagdes envolvidas. Os trés casos estudados relerem-se a projetos com 0 objetivo de descnvolver, produzir ¢ comercializar produtos obtidos por processos bioteenolégicos: + Cooperagio empresa-empresa: AGROCERES/ BIOTICA, para batata-semente de alta qualidade oblida por micropropagagio vegetal + Cooperagio empresa-instituigéo de pesquisa: BIOTEST/INCOR, para reagentes para classifica- go sangilinea por unticorpos monoclonais. + Cooperagio empresu-universidade: BIOBRAS/ UFMG, para vacina contra leishmaniose obtida por culiura do parasita, A metodologia selecionada foi a do método de caso, incluindo pesquisa de campo realizada atra- vés de entrevistas © de coleta de dados em docu- mentos institucionais © matérias veiculadas na grande imprensa e na especializada. 0 contetido das pesquisas foi estabclecido ¢ dele Revista de Administragio, Sio Paulo v. 27, n, 2, p. 49-64, abri¥junho 1992 51 derivou um rotciro especifico com 0 objetivo de qualificar cada cooperagio quanto a viirios eritérios, aqui resumidos: + caracterizagao das organizagdes envolvidas: see- mento (érea) de atuagdo principal, faturamento (orgamento) anual, nimero de funcionarios, oti- gem societiria, envolvimento com atividades de P&D (recursos financcitos alocados, mimero de cos, instalagdes) cte.; caracterizagio dos projetos: proceso ¢ produto a desenvolver, custas, estimativa de mercado, ine- ditismo da tecnologia, origem dos recursos cte.;, + motivagdo para a cooperagdo: autor da iniciativa, identifieagao do motivo (diversificagao, ameaga por tcenologia emergente, expansio de mereado, outto), escolha de parceria et estratégia de execugio: repattigo de responsabi- lidades ¢ encargos finanecitos, envolvimento de instituigdes tereciras, busca de fontes externas de financiamento cte.; + gestio da cooperacio: repartigio de atribuigoes, tipo de estrutura orgunizacional, trunsferéneia de resultados de P&D, fatores intervenientes (téeni- £0, politico, legal) etc resultados: posigio de avango face wo previsto, fatores inibidores ¢ fucilitadores, perspectiva, sigdo face & concorréncia existente ou potencial Para a realizagdo das entrevistas foi cstabele: selegio de entrevistados tomando por base a satis- fagao de pelo menos um dos seguintes critérios: pertencer & alta administragio da organizagio; atuar em coordenagio c/ou como lideranga téenicu; ter envolvimento direto com 0 projeto. DESCRICAO DOS CASOS A apresentagio dos casos ¢ feitsi de forma estru- turada, acompanhando a seqiiéneia do cantetido das pesquisas, acreseida do tépico comentarios e con- elusées, especifico para ead caso. ‘Caso 1 ~ Cooperagao empresa-empresi AGROCERES/BIOTICA, Objetivo Desenvolvimento, produgio © comerciulizagio de batata-semente de alta qualidade por biotcenolo- gia vegetal Caracterizagao das organizagoes AGROCERES — Sementes Agroceres S.A. — empresa privada nacional, com nivel de faturamento em tomo de US$ 90 milhdes (1990), contando com 2.500 funcionérios alocados em diversos estados da Federagio. Atua no setor fornceedor de sementes agricolas (drea de otigem) ¢, mais recentemente, ingressou no mereado de produtos animais nas I nhas de reprodutores suinos ¢ matrizes de aves c, também, na produgao © na comercializagao de de- fensivos agricolus ¢ de ragdes para nutrigao animal ‘A aluagio muis expressiva da empresa é em semen- les agricolas, sua area de origem em 1945, quando desenvolveu e introduziu em carter pionciro no Brasil a linha de sementes de milho hibrido. A em- presa tem posic&o destucada no mercado deste pto- duto no Brasil, concorrendo com empresas de primeira linha a0 nivel mundial ¢ deu inieio a um programa de diversifieagao a partir da segunda me- tade dos anos 60. ‘A primeira ago em diversifieagio ocorreu na linha de sementes de hortaligus (1968), area na qual apareccu # oportunidade de uplicagio da biotceno- logia pura o desenvolvimento da batata-semente de alta qualidade por cultura de tecidos vegetais in vitro, produto-foco de interesse deste estudo, ‘A empresa tem tradigio de pesquisa em gené- tica vegetal, tendo mantido tal atividade desde a sua fundagao € nela esti concentrado seu maior contingente de pesguisadores, tecnicos e especia- listus. O esforgo global de pesquisa ¢ desenvolvi- mento em genética, ¢ nas demais areas, hoje consome cerca de 4% do faturamento da empresa, ocupando 28 téenicos, exclusivamente dedicados 4 tividude de P&D. BIOTICA S.A. — empresa privadu argentina, ocalizada em Buenos Aires, ¢ integrante do Grupo POLICHACO que teve em 1990 um facuramento de USS 1,1 milhao ¢ possui 28 funciondrios. As opera- ges do Grupo sio voltadas para a linha de produtos Biotcenoldgicos nos segmentos de sutide humana (reagentes para imunodiagndstico de docngas trans- missiveis por sungue) ¢ vegetal (micropropagugio). A origem de utuagdo do Grupo é na area de sade humana, com o langamento inédito na América La- tina de reagentes para diagnéstico da docnga de Chagas (produgao atual de 5 milhdes de testes para dag porno), com a posterior diversilicagao para atuagdo no segmento de produtos vegetai ‘A eriagio Jo Grupo POLICHACO a operigio de spin-off promovida por pe universitirios, mantendo, portanto, engajamento ‘com as atividades de P&D que consomem entre 15% 8 20% do seu faturamento. O projeto Objetiva desenvolvimento, produgao¢ eomercia- lizagaio de butata-semente de atta qualidade, oblida a partir da culture de tecidos vegetais in vitro, atra- 32 Revista de Administragio, Sio Paulo v. 27, n.2, p. 49-64, abrilfjunho 1992 vés da técnica conhecida por micropropagagio ve- get Por este processo o material precursor da batuta- semente denominado semente pré-bisica possui alla qualidade quanto a aus rus ¢ bactérias (verificado através de testes de imunodiagnéstico), futor de influcneia direta na produtividade da cadeia produtiva da semente. Esta clevada qualidade é pos sivel pela limpeza clonal exereida pelo processo biotcenolégico do material genético de origem, as- segurada pelo controle estrito de qualidade na pro- dugio da semente pré-bisica, desde a recepgio ¢ a introdugio do material no laboratério de mieropro- pagagao até a gerugio dos tubérculos em canteiros ‘com condigées fitossunitirius controladas. Este ma- terial pré-bisico & © precursor da baluta-semente, que sera obtida por um ciclo de multiplicagio a campo até atingir as especificagoes de certificada ou registrada, estado no qual é eomereializuda aos Produtores da’ batata para © consumo final (batata- consumo). (© mercado brasileiro para a semente certiticuda, que em 1990 esteve proximo de 2 milhdes de caixas 40 ano (caixas de 30 kg cuda), estava sendo suprido majoritariamente por importagio de empresas ho- landesas ¢ alemas. Esse valor represcnta apenas 25% dla demanda anual brasileira, sendo a diferenga supridy internamente por batutu-semente cuja pro- dutividade 6 mais baixa sc comparada ao produto obtido por via biotecnolégica, O valor de mercado para a semente certificada esta atualmente na faixa de USS 30 w 40 por caixa, O projeto, resultado da cooperagio entre AGRO- CERES ¢ BIOTICA, (em como meta atingir a marca de 1,7 milhdes de caixas de sementes certifies das/ano a0 final do perfodo de 13 anos (1988 a 2001), consumindo recursos estimados em US$ 4 milhdes para investimentos. Nos termos do acordo de cooperagio, a AGRO- CERES ficou operacionalmente com a responsabi- lidade por produgio ¢ forneeimento do material pré-bisico (obtido por biotccnologis) e 2 BIOTICA pele muttiplicagio do material a campo, Cada uma das partes assumiu também a responsabilidade pela viubilizagio do desenvolvimento {ecnolégico usso- ciado a atividade que Ihe eoube. Motivagées ¢ estratégia de execugdo As oportunidades identificadas no meio externo que motivaram 0 projeto so as seguintes: + exigéneia nos mereados dos paises de butata-se- mente de alta qualidade, até entio quase exclusi vamente de origem importada + politica publica de ineentivo a cooperagio bina- ional — Brasil-Argentina —, conforme aconio fir- mado entre os governos em meados dos anos 80; + tendéncia de ereseimento da demanda brasileira de batatu-consumo, ainda bastante baixa (igual a 13 kg/habitante/ano contra valor aproximado de 80 ky/habitante/ano nos paises de maior consumo para uso humano); + presenga consolidada do mercado de batata na Argentina, em fungdo de seu padrdo de consumo (72 kg/habitante/ano); + disponibilidade de conhecimento téenico bisico em micropropagagio vegetal, com o envolvimen- to de instituigdes do sistema puiblico de C&T dos dois paises na produgao experimental de batata oriunda da bioteenologia; competénei cortente da consolidagao obtida pelos sistemas ce C&T na aplicagio de conhecimentos das reas afins, como genética vegetal, fisiologia vegetal ¢ fitopatologi: fidude de usar o dominio de uma tecnologia ia (mieropropagagdo) para ampliar competéncia técnica, objetivando acesso a biotec- nologias mais sofisticadas na area vegetal. Associados a essas oportunidades, alguns fatores ao nivel cmpresarial intervieram de forma favoravel io do projeto: + tradigdo argentina como produtor de batata, favo- ss climaticas regionais; + custos de produgao (de multiplicagao a campo) ixos naquele pais; +sinergia com os negécios de sementes da AGROCERES, area de atuagio consolidada na empresa em Scus varios segmentos como pesqui- sa, produgio © comercializagao; + perspectiva de expansio de atividades para a BIOTICA, jé com atuagio voltada para biotecno- logia vegetal Com este quadro configurado, durante reuniao entre empresiitios dos dois paises para promogio da cooperagio bilateral em 1986, a AGROCERES to- mou a iniciativa de propor & BIOTICA que coope- rassem no desenvolvimento ¢ na implementago do Projeto binacional para produgao c comercializagao do produto. O projeto teve suas atividades iniciadas em 1987, A AGROCERES utilizou uma de suas empresas controladas, a BIOMATRIX S.A. — empresa de pesquisa © produgio em biotcenologia vegetal — para o desenvolvimento ¢ a produgao comercial de balata-semente pré-bdsica. Esta atividade foi efeti- vada pela BIOMATRIX em sua estrutura montada em Teresépolis — RJ, contando com o apoio de setvigos téenicos contratados junto a EMBRAPA — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuiria — através de suas unidades de Genética (CENAR- GEM), Hortaligas (CNPH) € Servigo de Produgao de Semente Basica (SPSB). Revista de Administragio, Si Paulo v.27, n. 2, p. 49-6, abriVjunho 1992 33 Ne Argentina, para # consolidagao da ctapa de multiplicagao a campo das sementes enviadas do Brasil, a BIOTICA envolveu pesquisadores do INTA — Instituto Nacional de Tecnologia Agricola — para apoio ao desenvolvimento da tecnologia agricola aplicada especificamente scmente obtida por via biotecnolégica. © projeto concorreu ¢ obteve apoio do CABBIO — Centro Argentino-Brasileiro de Biotecnologia 6rgio binacional de fomento previsto no acordo fir~ mado entre os dois paises. O uso principal do apoio reecbido foi para o desenvolvimento tecnolégico do projeto; 0 papel do CABBIO foi importante tanto como fornecedor de recursos finaneciros. como fator de integragao efetivo para a cooperagio técnica entre os dois paises. O valor da contratagio, do projeto com o CABBIO é de US$ 364 mil para cobrir atividades previstas tanto no Brasil como na Argentina. E previsto que parte dos recursos seja alocada na forma de fundo perdido e parte como capital de risco. Gestao da cooperagao A gestio deste projeto de cooperagio ¢ de relati- va complexidade, requerendo enfoque sistémico para o cquacionamento adequado das varias intera- Ges intra ¢ intcr-empresas participantes, © delas com o meio externo ao nivel de politicas publicas ¢ legisiagdes de scus paises, sistemas de C&T, finan- ciadores, fomecedores, clientes ete. Dois aspectos merecem ser destacados: a questo da cooperagio téenica bilateral com 0 envolvimento direto de empresas para o desen- volvimento de tcenologias, fato ainda raro na experiéneia dos paises. Cube reiterar 0 papel de relevineia da atuagio do CABBIO como cle- mento reforgador de interasao cfetiva entre as partes. O segundo aspeeto refere-se as Iegisla- ‘es alfandegarias dos dois paises, as quais ex giram esforgo especial de gestio para superagao dos muitos entraves que trazem para projetos desta natureza, Ha muito a ser modernizado para adequarem-se aos propésitos da declara de intengao para a cooperagao binacional firma- da pelos governos da Argentina ¢ do Brasil Cita-se trés das situagdes de grande dificuldade de gestio: + importago de equipamentos de pesquisa © rea- gentes para diagnéstico de docngas (Fundamental para a garantia da alta qualidade fitossanitiria do material); + trnsito dos materiais pela frontei pré-bisica para a Argentina ¢ retomo da semente para o Brasil); + falta de homogencizagdo da legislagio dos dois paises. Resultados 0 projeto permitiu a comercializagio, cm 1991, do primciro lote de batata-semente certificada, com 1a previsio de colocagio de 35.000 caixas no merca- do brasileiro através da AGROCERES. Este montante representa 25% de realizagio da meta do projeto original para o periodo ¢ ja permite levi-lo a condigao de projeto quase autofinancisivel Testes de produgao tealizados no Brasil (Parand, em 1990) sao compativeis com o desempenho supe- rior em produtividade na obtengao de batata-consu- mo a partir da semente de origem biotecnoldgica (38 toneladas de batata-consumo por hectare contra 13, toneladas por hectare, correspondente & média na- cional). Do ponto de vista técnico considera-sc ter sido alcangada a consolidagao da etapa de desenvolvi- mento © posto-em-marcha o processo industrial de obtengiio da batata-semente por biotecnologia vege- tal. Ha atualmente pendéncia a scr cquacionada quanto a produgao do material pré-bisico, surgida em 1990 pela desativagao da empresa fornecedora, a BIOMATRIX. A solugdo cm estudo, apontada como mais adequada, & a absorgio dessas atividades por uma das unidades de pesquisa da estrutura da AGROCERES. Ao nivel da multiplicagdo de cam- po, na fase atual do projeto os esforgos esto dirigi- dos para aumento de produtividade e para a redugao de custos; estes ja tiveram sensivel evolugio, de um patamar de US$ 90 mil/ha no primeiro plantio (1988) para US$ 10 mil/ha no tiltimo ciclo de mul- tiplicagdo a eampo na Argentina (@ meta estipulada esti em USS 6 mil/ha). Para reeuperar defasagem de cronograma da meta de produgao do projeto processa-sc ampliagao do niimero de’ campos de multiplicagao, tanto na Argentina como no Brasil Comentarios econclusées A evolugio positiva do projeto de cooperagio estd refletida no proceso de constituigio de uma ‘empresa binacional — a BIOCERES —, na favo- rivel condigdo de quase auto-sustentagio finan- ccira obtida ao final do quarto ano de execugao do projeto. O objetivo imediato é que a empresa pos- sa capitalizar-se para realizar os investimentos previstos nas ctapas seguintes do projeto — a uni- dade de beneficiamento c as cémaras frigorificas — essenciais para complementar as instalagées industriais. projeto trax em si perspectiva de ampliagio da ago empresatial para os parccitos pela atuagao da nova empresa internacional — a BIOCERES — que aumentari o potencial de acesso a mercados de ou- tros paises, além de veiculo ja consolidado para a 34 Revista de Administragio, Sio Paulo v.27, n. 2, p. 49-64, abriijunho 1992 diversificagio de produtos nos mereados da Argen- tina ¢ do Brasil. Caso2~ Cooperagio empressrinstituto de pesquisa BIOTEST/INCOR Objetivo Desenvolvimento, produgio © comercializagio de reagentes para classifieagao sangilinea, obtidos por uso de anticorpos monoelonais. Caracterizagdo das organizagées BIOTEST S.A. — empresa privada nacional, com faturamento anual de US$ 1,8 milhdo, locali- zada em So Paulo, contando com 60 funcion: ‘Atua no Sctor farmacéutico, no segmento de produ- tos para diagndstico, com concentragio de suas ati- vidades na area de imunohematologia. A empresa ccupa posigdo de lideranga no mercado nacional de Teagentes para classificagdo sangiinea. Produz, a partir de componentes do sangue humano, kits para tipagem, especialmente o sistema A, B, Oc Rh. So produtos utilizados em casos nos quais transfusdes de sangue ou transplante de érgios ocorram, evitan- do incompatibilidades causadoras de reagies imu- nolégicas. Adicionalmente a empresa eomercializa outros produtos para baneos de sanguc, cm sua maioria importados, frutos de contratos de tepre- sentugio de empresas estrangeiras. A BIOTEST concorre com empresas nacionais € estrangciras importadoras de produtos. Com a re~ cente abertura do mercado tem observado eresci- mento da quantidade © da forga de concorrentes mantendo porém sua competitividade devido a cus- tos de produgio favoriveis. Tem, no entanto, sua posigdo de lideranga ameagada pela entrada nomer- cado de produtos de nova gerago, motivo pelo qual empreende 0 projeto em questao. ‘A BIOTEST alta na rea biotecnolégica desde 0 inicio da déeada de 80, participando ativamente na criagao da ABRABI — Associagao Brasileira das Empresas de Biotecnologia —, além de ativa parti- cipagao junto a entidades de classe do segmento diagndstico ¢ farmacéutico (ASSIBRAL, ALANAC ete.). Nao possui centro de P&D interno mas, devido origem de scus acionistas (em sua maioria médi cos, alguns atuantes no sctor hospitalar publico), mantém-se em integragio com os prineipais centros de P&D da rca de imunologia no Brasil ¢ no exte- INCOR — Instituto de Assisténcia ¢ Pesquisa ligado ao Hospital das Clinicas ¢ 4 Faculdade de Medicina da Universidade de Sio Paulo. O proj em questo esti sendo conduzido pelo Luboratrio de Imunologia ¢ Transplantes, que conta com dez pesquisadores (cinco seniors) © € especializado na rea de imunologia c imunogenétiea, com énfase na aplicagio da téenica de anticorpos monoclonais no estudo de antigenos de histocompatibilidade (prin- cipais responsaveis pela rejeigao de Srgdos ¢ tecidos transplantados). Mantém forte relacionamento com importantes entidades estrangeiras atuantes na érea, constituindo um dos mais importantes centros de pesquisa do Brasil em anticorpos monoclonais. O projeto Objetiva desenvolvimento de proceso para ob- tengo, em eseala laboratorial ¢ industrial, de rea- gentes para classificagdo sangiiinea do sistema A, B, O, ulilizando a técnica de anticorpos monoclo- nais cm substituigao ao sangue humano como maté- ria-prima. A principal justificativa tecnolégica é justamente 0 desenvolvimento de processo que permita a obten- ao do produto sem a utilizagao do sanguc humano como matéria-prima, O sangue, ao lado de aspectos sanitérios ligados a transmissio de doengas, é ele mento de obtengo complexa sob pontos de vista logistico ¢, em especial, politico. Adicionalmente, a nova tecnologia permitini, uma vez amortizados os custos de desenvolvimento, a obtengio de produto de ‘menor custo € melhor qualidade (mais especifico. Trata-se de produto com mercado nacional esti- mado cm US$ 2 mithdes, em comercializagio no mercado internacional hé cerca de cinco anos. No Brasil é comercializado por importadotas especiali- zadas, com prego de venda nao compeitivo sc com- parado ao produto vendido pcla BIOTEST, principal empresa produtota. O projeto em questo € 0 tinico realizado no pi Motivagées e estratégiade execugao A iniciativa do projeto partiu da BIOTEST, em fungio da ameaga teenoldgica representada pela in- trodugio no mereadode produto de melhor qualida- de, independente de matéria-prima de complexa obiengao (sangue). Por outro lado, a interagiio com cenito altamente capacitado, na tecnologia de base utilizada na obtengdo do novo produto, constituiu oportunidade para o desenvolvimento da tecnologia localmente, com conseqiiente manutengao da posi ‘¢do de lideranga no segmento de mereado ocupado pela empresa, A cstratégia adotada para a realizagio do projeto cenvolveu ambas as partes desde 0 inicio das ativi- dades. Coube i empresa a definigio das especifica- ges téenicas do produto. © INCOR dedicou-se & produgao de clones utilizando anticorpos monoclo- nais, sclecionados pela equipe técnica da BIOTEST Revista de Administragio, So Paulo v. 27,n. 2, p. 49-64, abriljunho 1992 55 em seus laboratétios de produgdo ¢ controle de qua- lidade. A empresa conta com completo painel de células identificadas para os antigenos de grupos sangiiincos, 0 qual permite a selegio dos clones mais adequados & futura produgio industrial. Por- tanto, desde 0 inicio do projeto, a concepgio de produto ¢ processo com aplicagao industrial foi con- templada. ‘Uma vez sclecionados, os clones foram utiliza- dos na produgo em escala laboratorial (no INCOR) € entio transformados em produto comercializsivel pela equipe da BIOTEST, com a inclusio de aditi- vos, estabilizantes e outros reagentes. Testes desses reagentes foram conduzidos pela empress, indican- do boa qualidade do produto. A proxima atividade projetada é a produgio (sis- tema de produgdo de eélulas) em alta concentrag: (hollow fiber), processo inédito no Brasil. O prime’ ro conjunto de equipamentos ja foi adqui vera ser instalado no INCOR para produgio piloto. Uma vez definidos todos os parimettos, a BIOTEST adquiriré outro conjunto, eventualmente com algu- mas modificagdes determinadas a partir da produ- go piloto, instalando-o em sua fabrica para produgo em escala comercial. Todas as atividades descritas destinam-se & ob- tengio de reagentes para o sistema A, B, O. Além dese, a classificagio sangiiines compreende outros sistemas, dentre 0s quais destaca-sc o Rh. Para este, até 0 momento existem grandes dificuldades a0 vel mundial para a obtengao de produtos a partir da tecnologia de anticorpos monoclonais. A coopers do INCOR-BIOTEST prevé a extensio das ativida- des conjuntas para esse projeto, ja em fase de negociagao com entidades de fomento a pesquis © sinergismo entre as entidades envolvidas evidente. A BIOTEST conhece ¢ atua no mercado, detém especificagées ¢ tecnologia de formulagio do produto final. O INCOR é uma das mais capacitadas instituigdes nacionais na sirea de imunologia ¢ de- senvolvimento de anticorpos monoclonais. No pro- jeto € responsivel pela sclegao de clones ¢ definig: dos parimetros de produgio em grande escala. Em ‘uma primeira etapa produzira os anticorpos mono- clonais ¢ enviar para formulagao, envasc, embala- gem e comercializagio pela BIOTEST. O Instituto Butentan esté atualmente colaborando com a equipe do projeto na produgao dos monoclonais em grande escala (em especial os soros do tipo A). A realizagao conjunta do projeto é a tnica forma viivel para as duas entidades atingirem o objetivo final — obtengao de novo produto —; 0 sucesso do cempreendimento sera de ambas. A BIOTEST poders ter a ameaga de substituigao tecnolégica atenuada, manter posigao de lideranga no mercado, aumentat sua capacidade de produgao (hoje limitada pela dis- onibilidade de matéria-prima) ¢ passar a exporter, O INCOR, que receben recursos financciros, mate- iais ¢ humanos para a realizagio de atividade de pesquisa cm drea de seu maior interesse © capacit ‘go de recursos humanos, passard a reecber royal- fies a partir do momento em que o produto for comercializado. © pais passard a dominar tecnolo- gia estratégica para o sctor de satide c contard com elemento importante para a solugdo politica do uso de derivados do sangue em seu territétio. ‘Quanto aos aspectos financciros, a BIOTEST pa- gou em espécie ao INCOR cerca de 25% do valor do projeto. A verba total foi complementada por financiamentos advindos de FINEP ¢ PADCT. Até © momento ja foram investidos eerea de US$ 300 mil no projeto, com previsio de custo total de USS 500 mil. Gestiio da cooperagao 0 projeto refere-se & cooperagio entre uma em- presu pequena, nacional, capacitada em tecnologia tradicional, sem atividade de P&D formalmente ex- itada c uma instituigao nacional de pesquisa b: sica ¢ aplicada de ponta, altamente relacionada com © ambiente universitério. A empresa, no entanto, conta com equipe de profissionais capacitados ¢ acionistas allamente integrados a0 ambiente acadé mico. A alta administrago da empresa encontre-se motivada pela questdo tecnolégica , em especial, pelo projeto, considerado altamente estratézico, Preferiu-se a realizagio de projeto de desenvol- vimento de produto especifico & opgdo pelo da tec~ nologia de monoclonais, com 2 coordenayao a cargo do pesquisudor-chave do Laboratério de Imunolo- gia de Transplantes do INCOR, um dos maiores ialistas em monoclonais ¢ imunologia do Bra- ides de cunho administrative do projeto tém a participagao da empresa ¢ da Fundagio Zer- bini, encarregados da aquisigio de materiais ¢ equi- pamentos, além do acompanhamento dos marcos de desempenho do projeto e da negociagio com ent dades de fomento. Existe um contrato formal entre as entidades que prevé a propriedade conjunta dos elones obtidos, divulgagao de comum acordo de informagaes técni- cas e segredo industrial. A transferéncia dos conhe- cimentos ¢ tccnologias desenvolvidas se faz de forma automética, gragas & integragao das equipes envolvidas, Observa-se grande cocréncia entre as entidades no que se refere ao porte ¢ a drea de sua atuagio. O mesmo ocorre quanto ao porte ¢ & atuagio da em- presa com relagiio ao mercado de destino do produto obtido. No que se refere ao processo utilizado para obtengio do novo produto © aquele em uso pela empresa, nota-se a necessidade de profundas altera- 56 Revista de Administragdo, Sio Paulo v.27,n. 2, p.49-64, abril/junho 1992 Ses no proceso produtivo atual, o qual deveré passar de tecnologia extrativa (anticorpos a partir de (cule sangue) para obtengio a partir de monoclonais tivo celular) Viiias barreitas deveriio ser transpostas. Tra de tecnologia fracamente dominada no Bra projeto desenvolveu-se em ambiente ¢ periodo pou- co motivadores para a tealizagio de atividades de P&D. A situagio ccondmica do pais tem efeitos negativos na satide finaneeira da empresa. A in \Gncia de recursos finaneeiros de risco ou reais para atividade de pesquisa na empresa ali -co do projeto, trata-se de teeno- logia de dominio recente, com pouea informa disponivel sobre scu uso em escala industrial. As poucas entidades que produzem monoclonais em ‘grandes quantidades, utilizam (odos 0s meios exis- tentes para manter seus scgredos industriais e inte~ lectuais. Quanto as entidades participantes, a BIOTEST teré que superar deficiéneias relacionadas ao fato de no dispor de atividude especifica em P&D © 0 INCOR, de no prodweir em grande escala © néo dominat o conceito de produto acabado destinado a um consumidor leigo. Resultados Hai expectativa de comercializagio do produto desenvolvido por BIOTEST/INCOR em 1993. Os resultados obtidos alé o momento sio altamente {isfatsrios, tendo sido 0 produto obtido em escala laboratoril considerado com alto grau de qualida- de. Atualmente as entidades envolvidas dedicam-se 4 produgao piloto, a qual nao deverd diferir muito da produgio industrial Comentirios e conclusoes 0 projeto & importante para assegurar a compe- \itividade da BIOTEST no mercado nacional de rea- gentes pura bancos de sanguc. A tecnologia desenvolvida permitira « substituigao do sangue como matéria-prima, além de gerar produto de me- thor qualidade. Empresas estrangeiras ji comercia lizam produto semethante ao objeto deste projeto. Trata-se de associagio com boas perspectivas de sucesso em fungao da grande cocréncia apresentada entre as entidades envolvidas no que se refere 40 porte c & area de aluagio, Ambas as entidades estio sltamente motivadas, em especial a empresa, apesar das batteitas increntes a atividade de C&T no Bra- sil A interagio entre as entidades é muito grande, 0 que facilita 0 processo de transferéneia mutua de Ri capacitagées téenicas. Por outro lado, trata-se de ecnologia de ponta, cujus informagses para aplica- gées industrial de dificil disponibilidade. A empresa esti ameagada por processo de substituigao de tecnologia, podendo perder a condigio de lider de mercado, Caso3~ Cooperagao empresa-universidade BIOBRAS/UFMG Objetivo Desenvolvimento, produgio ¢ comereializagio de vacina contra leishinaniose. Caracterizagao das organizagoes BIOBRAS — Bioquimica do Brasil S.A. — em- presa privuda nacional, sediada em Montes Claros (MG), com faturamento anual de US$ 18 milhdes. Conta’ com 510 funcionirios, sendo 120 de nivel superior, dedicados a trés linhas distintas de atua- gio: Farmacéutiea (dedieads prioritariamente a pro- dugio © comercializagio de insulina); Divisio de Produtos Industriais (produgio © comercializagio de horménios, cristais de insulina bovina e sina € enzimas Protomix); ¢ Divisio de Produtos para Diugnéstico (producio ¢ comereializagae de m de cultura ¢ reagentes para diagnéstico, utilizados ‘em luboratdrios de aniilises elinieas). A linha de insufina corresponde 1 55% do fatu- ramento total, sendo 0 governo (CEME) o principal cliente da empresa; as enzimas sio vendidas a pou- cos clientes privados, equivalendo # 25% do fatura- mento; e, finalmente, os produtos para diagnéstico € meios de cultura destinados a luboratérios priva- dos ¢ pliblicos de andlises clinicas, respondem com 20%. Em todos os segmentos de atuagio a BIOBRAS concorre com empresas estrangeiras que, em sua maioria, importa produtos. As restriges a impor- tagdes no passado recente propiciaram a empre lideranga no mercado nacional de insulina, Alé disso, exporta 0 produto para diversos paises da ‘América Latina ¢ da Europa do Leste. © envolvimento da empresa com a irea de P&D remonta as suas origens. A concepgio da BIO- BRAS ocorreu dentro do Departamento de Biogu mica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais no fim da década de 60. A empresa foi criada em 1971, a partir de ativida- des cientificus na drea de enzimas, ¢ iniciou suas operagdes em 1975 com financiamentos de FINEP, BNDES ¢ SUDENE. Em 1977 a empre associou-se com a multinacional farmacéu ly, para a produgdo de insulina, joint venture que durou até 1980, quando os acionistas naciona de Administragio, Sio Paulo v. 27,3. 2, p. 49-64, abriljunho 1992 37 adquiriram as quotas da empresa estrangcira. A BIOBRAS tem investido sistematicamente 6% @ 7% de seu faturamento anual em P&D, contando com departamento especificamente dedicado a firea, liderado por um dos acionistas oriundos do grupo inicial da UPMG. UFMG — Universidade Federal de Minas Gerais — Instituto de Cigneias Biofégicas - Departamento de Parusitologia, que dedica-se prioritariament estudo da Icishmaniose. No projeto houve ainda 0 envolvimento dos departamentos de Bioguimica © de Enzimologia da UFMG, da Fundagio Ataulpho Paiva (RI), da Universidade Federal de Ouro Preto € da SUCAM-Caratingu (MG). Atualmente conta com a parti buidos entre as instituigdes citadas (sendo 50% de- les do Departamento de Purasitologia do ICB-UFMG). O projeto Trata-se do desenvolvimento de vacina contra a lcishmaniose tegumentar americana, docnga causa- da por parasita protozoxirio, transmitida por mosqui~ to, endémica no Brasil, especialmente nas regiGes Norte e Nordeste As atividades téenicas envolvem a cultura do parasita em massa, sua inativagio seguida de sepa rugdo © purifiesgio de partes supastamente anti nicas, testes de imunogenicidude em animais de luboratério, formulagiio (adigao de udjuvantes, con servantes ete.), definigao de parimetros para produ- ‘io. em maior escala, testes em humanos (imuno- kenicidade, inocuidade ete.), produgdes piloto e in- dustrial, registro do produto no Ministério da Suide © comercializugio. Ao projeto inicial foram agregadas posterior- mente, em fungio dus perspectivas de sucesso, ou- tras atividades téenicas relacionadas 4 methor caracterizagao dos untigenos (utilizando biot gias de ponta) ¢ altemnativa de produgio dos por engenharia genética. © desenvolvimento desta vaeina fax parte de um conjunto de esforgos visando a controle ¢ tra- tamento de doenga. Nao existe qualquer produto comercialmente disponivel no mundo para a pro- filaxia da leishmaniose e este projeto esta incluido entre os que apresentaram resultados mais promis- A enermidade atinge cerca de 27 mil pessoas por ano em nosso pais, causando tileeras ou Feridas nos locais das picadas dos mosquitos trasmissores, além de provocar enfraquceimento das pessoas atingidas, E curivel mediante # aplicagdo de antiménio, mas pode até mesmo © rrurgia plistica para remo- G0 de cicatrizes. Motivagoes ¢ estratégia de execugao A partir de idéia de pesquisadores pautistas du- rante a década de 40 (Salles Gomes ¢ Samuel Pes- soa), em 1971 0 pesquisador Wilson Mayrink da UFMG passou a aplicar novas metodologias de pes- quisa comprovando em 1983, em conjunto com seus colaboradores, gue uma vacina experimental imuni- zava humanos. A iniciativa do projeto partiu, portanto, da ativi- dade académiea desenvolvida pelo Prof. Mayrink ¢ seus colaborudores, do Departamento de Parasitolo~ ja do ICB-UFMG, em fungao de suas atividades em pesquisa bisica com o parasita causador da docnga. Em 1986 cooperagio com a BIOBRAS foi definida ¢ no final de 1989 iniciada « produgao a0 cl industrial. A cstratégia utilizada para a realizagio do proje- to no obcdeecu, em prineipio, a qualquer sistema formal, sendo conduzidas virius atividades de pes- quisa bisica © aplicada no estudo do protozosrio causador da doenga, até que se delineow « possibili- dude de desenvolvimento de um produto. A partir desse momento, esforgos foram direcionados na me~ Ihoria da eapacidade de protegio do imundgeno pro- duzido em eseula laboratorial e, apds comprovagao de resultados satisfatérios em seres hi duto foi registrado na DIMED (Divisio de Medica~ mentos do Ministério da Satide), quando fot iniciada 4 participagdo da empresa BIOBRAS no processo de produgio em escula comercial ‘A UFMG, através dos scus Departamentos de Parusitologia, Bioguimica e Envimologia, mobiliza pesquisadores e bolsistas de pés-graduagio no pro- Jeto. A BIOBRAS tem trés pesquisadores trabathan- do no projeto. De forma simplificada, 2 UFMG dedicu-se priotitariamente & realizagao de ativida- des laboratoriais e a BIOBRAS ao scale-up do pro- realizados O sinergismo entre as entidades envolvidas refe- re-se especialmente & eapacidade industrial © co- mercial da BIOBRAS, colocada a disposigio do nupo de pesquisadorcs da UFMG. Embora a BIO- BRAS nao ate no segmento de mereado de imuno- biolSgicos, a produgdo de insulina requer ctapas de purificagao adaptiveis & produgio de vacinas. Por outro lado, us atividades de formulagio final, enva- se Sob condigGes assépticas e controle de qualidade de produtos Farma io amplumente domina- das pels empress. Parece cvidente que a atividade de pesquisa rea- lizada pelo Departamento de Parasitologia do ICB- UFMG ¢ imprescindivel para altemativa de abter-se © produto. A experiéncia do grupo no estudo do protozodrio causadar da Ieishmaniose é amplamente reconhecida 2o nivel mundial. Trata-se, portanto, de 58 Revista de Administragio, Si0 Paulo v, 27, n. 2, p.49-64, abriljunho 1992 sinergismo neeessirio para o sucesso da vacina em se tratando de aplicugio em ampla escala do produ- . A grande vantagem da cooperagio estd centrali- jada na chegada uo mereado de produto, fruto de intensa atividade em pesquisu bisica, desenvolvido por grupo de uma universidade hi muito engajado em eigneia médica, sem nec sdes comerciais quanto aos restiltados de scu traba- Iho. Essa vantagem é foriemente potencializada pela importncia social e sanitiria da doenga ¢ pel ditismo do produto ao nivel internacional. © papel da empresa ¢ sua visio industrial e mereadolégica parecem ser fundamentais para a disponibilidade da roduto as populagSes expostas ao risco da docnga, Gestio da cooperagao © projeto em questo tornou-se possivel gragus 4 atividade de uma empresa fortemente envolvida com a comunidade cientificu, Por razdes hist6ricas € estratégicas a BIOBRAS sempre conviveu muito bem com universidades € institulos de pesquisas, usufruindo de oportunidades geradas nesse ambien te, como 0 caso em estudo, Existe cocréncia enire a atividade da empresa © © projcto, embora 0 segmento de mercado do. pro- ulo nio seju o de maior atuagio da BIOBRAS; 0 porte c estruturas industrial ¢ comerciul da empresa Jo totalmente coerentes com o projeto. (0 6 subdividido em dez subprojetos, sob a coordenagio geral do Prof. Mairink do Departa- mento de Parasitologia do ICB-UFMG. Por parte da BIOBRAS, um pesquisador senior, Dr. Luciano, as segura @ coordcnagio interna enquanto Dr-Marcos Mares Guia, acionista e Diretor Téenico du BIO- BRAS professor do Departamento de Bioquimiea do ICB-UFMG, ocupa-sc da administragdo da inter- face entre as partes © projeto esti formalizado cm documento indicando a divisio em subprojetos, respectivos coordenadores © unidades executorus, assim como orgamentos, ctupus étilieas © mareos de avaliagio de desempenho. No que s recursos 0 projeto, durante sua longa cxistén cia, teve apoio de varias entidades como FINEP, CNPq, FAPEMIG, FUNDEP, Ministé- rio do Exéreito, SUCAM, Fundagao Banco do Brasil, Organizagdo Mundial da Saude, além de recursos da propria BIOBRAS. ‘As partes assinaram contrato para u realizagio do projeto, o qual contém cliusulas de sigilo (diseussio préviac comum acordo para publicagées), prevendo patenteamento de tecnologias desenvolvidas com relorno via royalties, de acordo com o total de in- vestimentos realizados no projeto ou tecnologia por cada uma das partes Revista de Administragéo, Sio Paulo v.27, sande barreira para 0 sucesso integral do pro- . Nenhuma vaeina contra um parasi € disponivel em eseala industrial no mundo, apesar dos imensos esforgos neste sentido realizados por viirias entidades em puises desenvolvidos. Cabe aqui uma ressalva relacionads a0 eoneeito generica- mente disseminado de que os paises desenvolvidos = € scus centros mais avangados de P&D — tém pouco interesse relativamente a problemas sani tios de paises do tereciro mundo; isso nao é correto. que ocorre nu realidude & ser muito menor o peso relativo dos esforgos de P&D nessas dreas, em com- paragio com doengus que afctam também os paises mais desenvolvidos (AIDS ¢ edncer, por exemplo). Nao se pode esperar grandes lueros com produtos destinados prioritariamente a dreas pobres do pla- neta, © que reduz substancialmente o interesse de ‘empresas multinacionais por esse tipo de produto. Como resultado hi gerayio de grande oportunidade para uma empresa nacional com as caructeristicas da BIOBRAS c, extensivamente, uo grupo de pes- quisa envolvido no projeto. Outro obsticulo wo bom desenvolvimento do projeto foi o peso de decisdes com fundamento ex- tes nas ages do Siste em especial na area da do Ministéric da Satie, praticamente o tinieo elien- te do produto no Brasil, o que tornou vulnerivel a situagdo do novo negéeio. se pode menosprezar a grave situag’ ndmiea do pais, com graves conseqiténeias & empre- sa privada (em especial a nacional), aém de ambiente pouco propicio a reulizagio de atividades de P&D no Brasil, assunto amplamente diseutido pela comunidade envolvida em C&T. Resultados Em 1989 0 projeto gerou uma vacina denon da Leishvacin — registrada na DIMED-MS, demanda ¢ estimada pela empress em 1 milhio de doses por ano — primeira vacina contra a leishma- niose produzida no mundo. O produto no causa cleitos coluterais significativos ¢ testes de eampo indicam indice de imunizagio da ordem de 50%. Esti sendo adquirida pelo Ministério da Saiide atra- vés la SUCAM (gragas a licenga especial de comer- cilizagio), que aplica o imundgeno em deter- minadus dreas da Amazénia ¢ de Minas Gerais, O produto, no entanto, tem sido considerado como muito caro (US$ 22’ por dose), enfrentando sérias restrigdes quanto ao seu uso por alguns sctores do Ministério da Suiide Apesar de ter sido recomendado pela Organiza- do Mundial da Satide para uso cm determinadas direas, a protegio de 50% nao é considerada satisfa- 2, p. 49-64, abriyjunho 1992 59 t6ria_para_um bom imundgeno. Virias entidades mundiais dedicam-se 2 tentativas de obtengio de vacinas contra leishmaniose tegumentar, nenhuma delas com resultados considerados satisfatérios. O grande problema enfrentado ao nivel mundial & 0 mesmo da Leishvaein, ov sejs, o nivel de prote no é considerado suficiente para o controle da doenga. O desenvolvimento de Vacinas eontra para- sitas continua sendo um dos maiores desafios da cigncia médica englobando, neste campo, as pesqu sas para obtengio de imunégenas contra a maliria, mal de Chagas, esquistossomose ¢ outras enfermi dade As pesquisas conjuntus continuum sendo desen- vofvidus, com especial énfase no aumento do poder de protegao (ja foram atingidos resultados de 75% em modelos animais), melhor purificagdo da vacina © oblengio de untigenos a partir de (éenicas de en- gehharia genética. O resultado do projeto, até 0 momento, pode ser considerado como muito bom. A BIOBRAS produ- viu cerca de 400 mil doses da Leishvacin. A Orga- nizagio Mundial da Saide reeonheee a importaneia do projetoc recentemente encomendou a BIOBRAS 10mil doses para testes (dosagem ideal, faixa ctiria ete.), fomecendo ainda & empresa recursas para con- tinuidade das pesquisas. A OMS tem seguido estra- tégia de apoiar empresas que desenvolyem imundgenos de grande importincia social, inserindo 4 Leishvacin nesse contexto Por outro lado, existem evidéncias coneretas de que a Leishvacin ‘pode ser usada como terapéutico (associado a antimonial) contra a doenga, observan- do-se cura em 100% dos casos testadas. 'O registro Quadro Sintese Resumo dus Principais Caract mereado (1990) Grau de Dificuldade dos Fatores’ Técnico média Gestio da cooperagio aca Politico alta Legais alta Envolvimento do Sistema C&T médio Topico Caso Caso2 Caso 3 Organizagdes AGROCERES BIOTEST BIOBRAS BIOTICA, INCOR UFMG Tipo de empresa empresa empresa Cooperagio empresa Instituto de pesquisa universidade Objetivo batata-semente reagentes vacina de alta qualidade ipagem sangiiinea Icishmaniose Motivagio oportunidade de ameaga oportunidade diversificagio tcenolégicw diversificada Origem da Iniciativa AGROCERES BIOTEST UFMG Projeto: Valor (USS) 4 mithdes 500 mil 2 mithdes Fonte $ 90% empresa 25% empresa 15% empresa Mercado-alve América Latina Brasil Mundial Valor mereado até USS 50 M até US$ 2M até USS 10 M Grau de avango produto no produgéo pi 1" lote no (1993) mereado (1990) alta alta baixa média baixa alta baixa baixa alto allo 60 Revista de Acministragio, Sao Paulo V.27,n. 2, p. 49-64, abriljunho 1992 dessa indieago est sendo providenciado junto ao Ministério da Satide. Comentarios e conclusées A Leishvacin ¢ fruto de atividade de pesquisa d longo percurso, desenvolvida por um dos principa niicleos de estudos em leishmaniose do mundo e de uma empresa altamente engajada na atividade de P&D. E projeto de grande vulto ¢ importineia ao nivel mundial, eom forte impacto tecnoldgico ¢ so- cial Para chegar a bom termo deverd, no entanto, superar ainda severas barreitas tccnolégicus nio re solvidas ao nivel mundial, © que predispoe grande esforgo das entidades envolvidas. O papel do gover no € de erucial importineia como fomentador && atividade de P&D, evitando comprometer 0 sucesso do projeto com problemas de ordem polit Os resultados obtidos até © momento justificam plenamente a continuidade do projeto, na busca de alternativas tecnolégicus que propiciem a obtengao de vacina com maior poder imunogénico, assim como suas potencialidades de uso terapéutico contra a leishmaniose tegumentar, CONCLUSOES E RECOMENDAGOES Visundo a propiciar visio de conjunto dos easos pesquisados, as suas principais caracteristieas si0 relacionadas No quadro-sintese, upresentado antc- riormente. Na cooperagio AGROCERES/BIOTICA, pode- se atribuir o interesse principal & dive ingresso em um segmento do mercado no qual Pre dominava (¢ ainda predomina) a batata-semente in portada c aproveitamento de meeanismo de acesso 4 mereado internacional, através da cooperagio bi- lateral. Registrou-se também interesse subjacente pelo aumenta de capacitagio té lizar acesso a biotcenologius mais sol tre 0s fatores intervenientesna cxecugio do projeto, aqueles de maior complexidade relativa sio os de ordem politica ¢ legal. O projeto reeebeu apoio efe- livo de agéneia de fomento especitico — o CABBIO —, sendo 0 pionciro a ser contratado eo primeiro a ler recursos liberados. Os principais resultados da cooperagio AGRO- CERES/BIOTICA que podem ser upresentados até © momento sio u consolidagio da teenologia © 0 dominio efetivo do processo industrial de produgio de batata-semente por biotcenologia vegetal. O equavionamento da seqiicneia de produgio domate- rial pré-basico, devido a desativagio da empresa fornecedora (BIOMATRIX), exige o melhor cuida- do para prevenir-se qualquct risco de retroeesso no grau de dominio do processo indusivial, E conhecida Revista de Admministragio, Sio Paulo v. 27, a importineia que a qualidade deste material precur- sorexerce sobre 0 desempenho téenico © econémico de (oda a cadeia produtiva, Observa-se, no estudo deste caso, a existéncia de ilitudores da cooperagio © absoryiio da desenvolvida: grande impacto ceondmi: co, tecnologia adequada ao ususrio, grande partici pagéo do usudrio final na eoeepgio, desenvol- vimento ¢ scale-up do projeto, convergéneia de ob- jetivos enire as partes, existéncia de recursos (hu- manos, finaneciros © materiais) para o bom andamento do projeto, jo das empresas envol- vidas no ambiente dé C&T e experiéneias prévias com P&D na iirea de atuagio. A cooperagio BIOTEST/INCOR (em como prin- cipal clemento a necessidade da primeira em manter sua lideranga no mercado brasileiro «lo produto-ob- jelo do projeto (reagentes para tipagem sungiinea), ‘A ameaga a essa lideranga advém da presenga de produto importado, obtido pot bioteenologia, o qual substitui com vantagens 0 produto atual. A’ maior dificuldade relativa por fatores de ordem téenie deve-se mais & nio-fumiliarizagio da empresa com a nova tecnologia, do que propriamente & dificulda- de intrinseea a teenologia, O INCOR demonstrou & empresa (er competéneia adequada para bem domi- nar os eonheeimentos necessirios e contribuir pura em conjunto com a ido expressivo apoio dos drgdos de fomento piblicos FINEP ¢ PADCT, € scus resultados até o presente asseguram boa sus: seqiicueia. As primeiras partidas- do comercializadas © 0 projeto tentago para su piloto estio s ingressa na etapa de ampliay até atingir © padrio come! Os principuis fatores [acititadores da cooperagao € do sucesso do projeto observados neste caso sio: urgéneia na obtengio do produto, grande impacto na sobrevivéncia teenolégica da empresa, existéneia de recursos (humunos, financeiros © materiais), purtici- pagio de ambus as partes nu concepgio, desenvol- vimento e scale-up do projeto, eoeréneia de porte & segmento de atuagio das entidades envoll (BIOTEST é € INCOR ¢ lider no domi noclonais), conexio da empre: 10 de escala (scale-up) ial a0 ambiente de C&T, boa comunicagio entre as partes ¢ preocupa- 40 com a propriedade intelectual (distribuigao dos cios econdmieos resultantes do projeto). desalio tGenieo, eujo enfrentamento tem s Jado pela qualificagio © pelo empenho dos pesqui sudores da UFMG, Trata-se de tecnologia inédita ara produto inédito (vacina contra leishmaniose) 10 nivel mundial. Deste fato decorre a maior difi euldade relativa do projeto, a qual ¢ atribuida a questio de ordem técnica. A principal barreira a ser 2, p-49-64, absi¥junho 1992 6 posta ainda esta relacionada a indice de imuni io da vacina, tema controverso entre os respon- siveis pelos Grgios de controle sanitirio Propricdudes como a terapéutiea podem vir a favo- reeer a consolidagio do produto. Q projeto tem tide apoio finaneciro de 6, jeramentais outros, ‘além das agéncias de financiamento de atividades de P&D (CNPg, FINEP, FAPEMIG ete.). Tomam parte entre 0s apoiudores os Ministérios da Satide ¢ do Exéreito, este ditimo como adquirente da vacina para uso por scu pessoal atuante em dreas de risco da doenga. A possibilidade de avuagio em mereado mundial através do produto desenvalvido faz com que 0 projeto tenha alta relevancia para a BIOBRAS. ‘Observa-se, como falores facilitadores do suce Jo, grande impacto social ¢ politico da vacina, existéneia de recursos (humanos, finan- cciros © materiais), participagio dos pareeiras 10 desenvolvimento ¢ scale-up do projeto, coerénci de porte ¢ dre io das partes envolv (BIOBRAS atuando na ditea de biolégicos para de humana ¢ Departamento de Parasitologia do ICB-UFMG, lider mundial na pesquisa de leishma- niose), total ¢ histériea conexio da empresa no am- te de C&T por experiéncias prévias em cooperagio com entidades de P&D, em especial UFMG, box comunicagio entre as partes © preocu- pagio com propriedade intelectual. Em termos gerais pode-se confirmar, nos trés casos, a presenga do uspecto estratégico da coope- rigio institucional para a manutengdo (BIOTEST) ou expansio dos neyécios dus empresas (AGRO- CERES, BIOTICA ¢ BIOBRAS). De forma ampla, foi possivel atestar a contribui- Gio efetiva d -ientifica das organizagix volvidas (publieas ¢ privadas), como também da competéncia gerencial pura bem administrar as pro- cessos de cooperagio institeefonal. Os casos anali- sados cvidenciam fortes contribuigées para 0 desenvolvimento de tecnologias importantes para © pais (imicropropagagio vegetal, anticorpos mono- a clonais ¢ cultivo © manipulagdo de parasites em grande eseala para obiengao de vacinas). Inde- pendentemente do efetivo uso das tecnologias de- senvolvidas pelas empresas para obtengao dos produtos mencionados, a cooperagio possibilitou avangos signifieativos no dominio de tccnologias estratégicas para as instituigdes envolvidas. O fator multiplicative do envolvimento de equipes mufti- disciplinares ¢ multi-institucionais por si s6 permi- e-nos atribuir alto grau de relevancia para os empreendimentos esttidados face ao desenvolvi- mento da bioteenologia no Bra: Constatou-se nos casos anulisados, em especial BIOTEST/INCOR ¢ BIOBRAS/UFMG, que © su- cesso, © consegtiente absoryao das teenologias, esti profundamente ligado reatizagao da atividade téc- nica cooperativa. A capacitagao de produgdo em grande escala, assim como o conheeimento dos mer- cados aos quais os produtos se destinam, so ele- mentos-chave pura definigdes de caracteristicas hisicas dos produtos. As empresas tiveram papel fundamental neste aspecto, adicionando informa- gGes imprescindiveis para o bom andamento dos projetas, ‘Apesar de 0 estudo ndo permitir a elaboragao de modelo ideal para realizagio de atividades téenicas cooperativas pela diversidade © complexid: processos biotcenoldgicos, assim como as situagdes possiveis relacionadas a interagdes empre- sa-empresi ou empresi-instituigées de P&D que tomam extremamente complexas as tentativas de generalizagSes, a riqueza ¢ a importincia dos casos analisados levam os autores a sugerir continuidade no acompanhamento dos projetos sob seus aspectos estruturais € metodolégicos. O mais relevante a ser recomendado € a necessidade de fortalecimento do sistema de fomento pubblico nas suas agées, tanto de gerador de mecanismos de incemivos as coopera- ges téenicas, et todas as formas possiveis de par- Cerias, desde que potencialmente vidveis, visando a0 desenvolvimento do sistema produtive, como também de apoiador material para os recursos re~ queridos pelas eooperagdes. traglo, Sio Paulo v,27,n. 2, p.49-64, abriljunho 1992 Abstract Technical cooperation is an important tool in the technological development of the private sector, At a nation level it is a way to rationalize the resources available in its Science and Technology System, mainly in countries where these resources are limited. in the field of biotechnology the technical cooperation is almost # necessity duc to the multidisciplinarity and dinamies of this arca of tivity. This text focuses some experiences of technical cooperation aiming the development of biotechnological products. Three cases of cooperation ate analysed: private eompany/private institute — BIOTEST/INCOR; and private company/university — BIOBRAS/UFMG. terms: + technical cooperation + biotechnology + case studies Referencias Bibliograficas BOER, F, Peter. R&D plan- lear Polyteenie Institute, PLONSKI, Guilherme Ary. No- ning environment for the Aps. 1988, iangas © parcerias em “90s - America and Japan. INFORMATIONS CHIMIE, In- igneia, lecnologia c engenha Research Technology Ma- dsitic chimique: apr’ ls uc- Fia: a cooperagio universida- agement, v.34, 9.2, p.12- quisitions, les alliances. de-empresa. In: Simpésio 15, MarApr. 1991 Eddtorialn®322,p-15-16,1990. Nacional de Pesquisa de Ad= COLOMBO, Umberto, Status NIELSEN, Hilmar & CAVAL- ago cm C&T. Sio and future trends. In: FUS- 11, Gravictla. himpact of col Paulo, 2b a 24 out. 1990. FELD, H. I. & NELSON, Ieetive in biotechnology, Anuis, —Sio "Paulo R.R. (eds.) 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