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PSICOLOGIA E SAÚDE MENTAL

ESTUDO DE CASO – PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR

CASO 1

Trata-se de uma paciente adulta, por volta de seus trinta anos, com diagnóstico duvidoso de
hebefrenia (psicose na infância), e com suspeita de retardo mental (diagnóstico muito mais
freqüente do que imaginamos), casada, tutelada pelo marido que a vigiava a cada passo,
alegando sua condição.

No CAPS, seu comportamento era bem “regredido”, como diziam os profissionais da equipe.
Quase não falava, tinha dificuldade de expressar-se, era pouco “cooperativa”, e o que chamava
mais a atenção da equipe era seu comportamento bizarro de andar pelos corredores de olhos
fechados, como se não pudesse enxergar. Era capaz de ficar sentada de olhos fechados por
muito tempo, recusando-se a falar; parecia ser mesmo um desses “casos graves”. De vez em
quando, participava de algumas atividades na oficina de culinária, ou de bordado, aí abria os
olhos muito bem. Alegava-se que era a medicação que estava funcionando (e de fato estava!).

Sabia-se, no entanto, que ela vivia fugindo do marido para ir ao encontro de um “amante”, e
parece que este não era o primeiro. Quase como por acaso, a assistente social da equipe
conhecia a família e sabia das histórias da vizinhança sobre ela (isso se passa numa cidade
pequena, onde todos se conhecem). Quando ela estava aparentemente um pouco melhor, mais
“cooperativa”, saía de casa bem nos horários em que o marido trabalhava e não poderia vigiá-
la, ia até o “amante” e voltava antes da hora dele chegar, enfim tinha um bom cálculo de seu
comportamento para não levantar suspeitas, mas era “observada” pelos vizinhos que falavam
entre si. Em alguns momentos, ela confidencia com um dos técnicos de apoio (é o nome dado
aos profissionais de nível médio) que não aguenta o marido, aquele jeito de tratar dela como se
ela fosse uma boba, que gosta mesmo do outro fulano e quer fugir com ele daquele lugar. Tudo
isso bem falado e dirigido a alguém que não é o doutor, apesar dela também ter falado disso
com o médico, mas de um modo pueril, sem se fazer acreditar.
CASO 2

Trata-se de uma paciente adolescente, de 15 anos, a quem chamaremos de Ana. Ana mora com
seu pai em uma cidade muito pequena. A mãe de Ana faleceu enquanto essa era criança e por
conta disso ela ficou aos cuidados do pai. Nenhum outro membro da família convive com ela.

O pai de Ana é aposentado, faz uso abusivo de álcool e dificilmente fica em casa. Ele é o tutor
de Ana e recebe o benefício BPC.

Ana possui diagnóstico de retardo mental desde a infância e não fala, tem o sistema motor
limitado e frequentou a APAE durante um tempo da vida. No entanto, a equipe da escola a
impediu de frequentar pois ela batia nos colegas e, segundo eles, o diagnóstico envolvia
transtorno mental e por isso “ali não era seu lugar”.

Ana é bastante agressiva e sempre que é abordada por médicos do ESF, enfermeiros ou
psicólogos ela tenta agredi-los, faz necessidades fisiológicas na frente destes, esmurra portas,
grita. A única técnica de referência que conseguia manter um contato próximo com ela era a
enfermeira da ESF pois a conhecia desde a infância. O pai não adere a rotina de medicação e
consultas traçadas para a filha, sendo, portanto, necessárias as visitas domiciliares para
acompanhamento do caso.

Ana fica trancada em casa grande parte do tempo, não circula na cidade e não convive com
outras crianças ou adolescentes. Muitas vezes o pai a amarra na cabeceira da cama para que ela
não o agrida. Segundo ele, Ana é muito agressiva, “parece um bicho”. Algumas vezes o pai
passeia com ela pelas ruas da cidade, mas Ana comumente o “agarra” nos órgãos íntimos, na
frente de todos. Em um momento, Ana foi vista pela rua, amarrada como um animal.

Em uma visita domiciliar, a vizinha da família relata que o pai leva amigos para dentro da casa e
que a circulação de homens é muito frequente na residência. A partir desse relato a equipe da
ESF começa a suspeitar de violência sexual contra Ana.
CASO 3

Você é interpelado pelos pais de um usuário e resolve fazer uma visita domiciliar já que ele se
recusa a comparecer a uma consulta médica. José Mauro é um rapaz de seus 19 anos, estudante
do último ano do nível médio de uma escola pública de sua cidade, reside com os pais, com
quem parece ter um relacionamento satisfatório e mais duas irmãs, de 15 e 06 anos de idade.
Sem histórico de problemas clínicos ou neurológicos significativos no momento ou no passado,
é tabagista e faz uso eventual de bebidas alcoólicas. Não há registro de problemas relacionados
ao uso de drogas. Seus pais começaram a ficar preocupados com ele, especialmente nos últimos
03 meses, quando começou a ter comportamentos estranhos. Às vezes, aparentava estar
zangado, teria comentado com um amigo seu que estava sendo seguido por policiais e agentes
secretos, outras vezes era visto sorrindo sozinho, sem nenhum motivo aparente. Começou a
passar cada vez mais tempo sozinho, chegava a se trancar no quarto, parecia distraído com seus
próprios pensamentos. Passou também a perder noites de sono e seu rendimento escolar, que
sempre havia sido bom, estava se deteriorando. Durante a visita, José Mauro estava um pouco
inquieto, parecia assustado, mas aceitou conversar com o profissional de saúde (você) e o
agente comunitário, que também participou da visita. Perguntado sobre o que lhe estava
ocorrendo, disse que ouvia vozes comentando seus atos ou lhe insultando. Disse também que
seus professores de escola pareciam estar conspirando com os policiais para prejudicar sua vida,
já que no desfile de sete de setembro, os viu conversando na rua. Não tem conseguido ver
televisão ou escutar o rádio porque tem a impressão que seu nome é divulgado por estes meios
de comunicação para toda a população da cidade. Seus pais queriam levá – lo para o psiquiatra,
mas achou a ideia absurda, já que ele não estava doido!
Momentos do Projeto Terapêutico Singular

1. Definição situacional -delineamento da situação problema, identificando os aspectos


sociais, psicológicos e orgânicos que influenciam no caso. É importante, nessa etapa,
identificar os sujeitos envolvidos, as vulnerabilidades e a rede de apoio existente, e
não apenas os aspectos clínicos do caso. A elaboração de um genograma e ecomapa
mostra-se como uma boa ferramenta para registro gráfico da situação problema
quando esta se tratar de um caso individual e não comunitário.
2. Definição das metas - após a descrição do caso e levantamento dos pontos a serem
trabalhados, é importante que a equipe trabalhe com metas a serem alcançadas a
curto, médio e longo prazo. Essas metas devem ser negociadas com o sujeito do PTS e
demais pessoas envolvidas.
3. Divisão de responsabilidades - as tarefas de cada um devem ser claras, incluindo do
sujeito do PTS. Definir também um profissional que será responsável pelo maior
contato entre o caso e a equipe de saúde é uma estratégia que pode facilitar a
continuidade da assistência, além da reavaliação e reformulação de ações do PTS.
4. Reavaliação - momento onde a equipe fará a discussão do caso, verificando o que teve
êxito e o que precisa ser reformulado para ter melhor resposta. A periodicidade da
reavaliação deve ser definida pela equipe interdisciplinar no planejamento das ações.

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