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Teoria Causalista
Teoria Causalista
PENAL
TEORIAS DA CONDUTA
Teoria causalista
1. Introdução
É a partir desse momento, que data de meados do século XIX, que o sistema clássico de
fato punível foi estruturado a partir da tentativa de Franz von Liszt, seguindo a
tendência de alguns intelectuais do século XIX de aproximar o pensamento jurídico
das ciências naturais.
Muito Importante!
--
As premissas teóricas da teoria causalista/naturalista da conduta estão
fortemente influenciadas pelo positivismo filosófico, ou seja, uma
matriz de pensamento segundo o qual a realidade se limita aos
fenômenos sensorialmente apreensíveis. Significa dizer, em outras
palavras, que a missão da ciência (incluída aqui a própria ciência do
Direito, nessa tendência de aproximação dos discursos jurídico e
naturalístico que mencionamos) seria a simples captação e explicação
das relações de causalidade entre os fatos físicos que acontecessem no
mundo.
..
É nesse contexto, tributário inclusive das concepções físicas de autores como Darwin e
Newton, que se tem a criação de um sistema positivista, centrado na relação de
causalidade física e regido pela teoria da equivalência dos antecedentes causais.
Esse sistema, cujo mais proeminente expoente foi, como se disse, Franz von Liszt, a
Atenção!
Deve-se, para fins de prova, ter extrema atenção ao nome dos autores
expoentes de cada um dos sistemas/modelos de fato punível, posto que
esse conhecimento é frequentemente objeto de cobrança em avaliações
objetivas e subjetivas – discursivas e orais.
Norteado por essa concepção naturalística de fato punível, Franz von Liszt estatui a
conduta penalmente relevante como uma ação voluntária que causa uma mudança
no mundo exterior, perceptível pelos sentidos. Nessa perspectiva, é necessário
frisar que todas as ações possuiriam necessariamente um resultado, mesmo as
ações omissivas. É interessante perceber que existia consenso doutrinário entre os
próprios causalistas (partidários do sistema clássico de fato punível) no sentido de que
Nas palavras do próprio professor alemão, traduzido para o português no século XIX,
“toda acção, por fora da idéa mesma, se liga a um resultado qualquer
apreciável pelos sentidos, ainda quando o legislador abstraia apparentemente
de um resultado ulterior que na verdade elle tem em vista. Isto é também
verdade dos delictos de inacção propriamente ditos” (LISZT, 1899, p. 195 − grifos
nossos).
A partir dessa perspectiva, a doutrina majoritária estatuirá, então, que, para Von Liszt,
o delito seria composto por dois elementos indispensáveis:
Muito importante será também a relação entre o ato de vontade e o resultado, ou seja,
o nexo de causalidade externo, que, na teoria causalista, estava fundamentado na
teoria da equivalência dos antecedentes causais, uma perspectiva de causalidade
puramente física e posteriormente corrigidas por inúmeras teorias, sendo a imputação
objetiva sua mais recente e mais densa superação. Complementando, então, o quadro
anterior com esse dado, assim teríamos a esquematização:
Muito Importante!
--
Essa relação de causalidade entre o movimento corpóreo e o resultado
..
Imaginemos:
Como já mencionado nas linhas que se passaram, o ponto central do sistema clássico é,
mais do que a teoria causalista da ação, a relação de causalidade, a necessidade de
haver uma causa e um efeito que dela decorra. Essa relação de causalidade, como
também já mencionamos, será chamada de causalidade externa no âmbito da ação
causalista e dirá respeito ao nexo, ao vínculo etiológico entre o ato de vontade pelo
movimento voluntário (por contração ou distensão muscular) e o resultado externo
produzido no mundo e perceptível pelos sentidos.
Ao âmbito dessa causalidade interna pertencerá a análise do dolo e da culpa, que, como
se sabe, nesse sistema de fato punível não é feita na conduta – que exige somente
voluntariedade, liberdade de movimentação, e não uma finalidade.
CAUSALIDADE EXTERNA
É a relação de causalidade física entre o
movimento corporal voluntário e o
resultado efetivamente ocasionado.
Pertence, pois, ao âmbito da conduta.
Atenção!
Tenha atenção à crítica acima, pois não raras vezes é objeto de cobrança
nas provas, tanto em avaliações objetivas quanto em etapas subjetivas –
discursivas e/ou orais.
3. Críticas
Diante dos contornos das ideias de von Liszt é possível perceber que sua
concepção, apresentando-se como natural, trazia consigo diversas
contradições internas. A discreta consideração de que o movimento
voluntário não era determinado apenas pelas inervações musculares, mas
também por representações – abrindo um espaço para a penetração das
relações sociais −, revela seu naturalismo deficiente (ROCHA, 2016, p.
39).
Como se delineou, a teoria causal também se ocupou das ações negativas, das
omissões. Vimos que Beling a trabalhava como uma ação que deveria ser
necessariamente contextualizada, postulando que uma conduta negativa só adquire
sentido no seu contexto. O próprio Franz von Liszt não divergia nesse sentido.
Mais uma enorme contradição interna se deve apontar à teoria causal. Beling, como
visto, foi quem introduziu no sistema clássico a ideia de ação omissiva como distensão
muscular, ou seja, como uma falta de movimento muscular positivo, ativo. Essa
construção, entretanto, é contraditória. Tanto Beling quanto Liszt, como já delineado
até este ponto, trabalhavam com a ideia de que toda omissão era uma omissão de ação
mandada, ou seja, omitir é omitir algo, e não necessariamente não fazer nada. Perceba-
se: omitir, nessa perspectiva, é tão somente não realizar a conduta que é
imperativamente determinada pelo comando legal. Assim, é possível omitir a ação
mandada de inúmeras maneiras, inclusive com movimentos musculares positivos,
ativos.
Imagine, pois, que a norma legal determina a “ação X”. A omissão da “ação X” é
tipificada como crime omissivo. Entender que a omissão deva ser tratada como uma
distensão muscular significa dizer, por exemplo, que somente haveria a tipificação do
crime de “omissão da ação X” se o sujeito destinatário desse dever jurídico não se
movimentasse. Essa postura é incorreta, entretanto, porque o destinatário do dever
pode, mediante comportamento muscular positivo, praticar a “ação Y” e, com isso,
deixar de praticar a “ação X”. Essa é a perspectiva adotada pela literatura – tanto
nacional quanto estrangeira – em substancialmente todos os sistemas de fato punível
posteriores.