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A presente Histéria de Israel caracteriza-se pela brevidade. ‘gor, so muitos os aspectos que uma Histéria de Israel tem que considerar Os textos do Primeiro Testamento mantém estreitas relagdes com a historiografia, mas sua interpretacao é ‘Oriente e, por igual, muitas sio as infortnagées arqueolégicas de que dispomos. Tornou-se, mais e mais dificil, delinear uma Histéria de Israel, Ainda assim preferimos um esboco breve que ‘venha a facilitar a leitoras ¢ leitores da Biblia uma primeira aproximagio ao assunto ‘Além disso, quis insistir na incluséo.de dimensées socials, para que a Historia de Israel nao se fixasse em demasia nos personagens, mas que refletisse a sociedade, Quis enfocar conflitos sujeitos populares, assim como 0 fazem 0s profetas, Afinal, a profecia é, por assim dizer, quem constitulu a Historia de Israel AW 20IKOS. ‘nan © Milton Schwantes milton.schwantes@metodista.br Revisio: Ey Migge Capa: Matcelo Garcia dos Santos ‘Ate -fnalizagdo: Jair de Otiveira Carlos Impressto: Evangraf Ltda. Ediora thos Lida Rua Paran 240 B, Sehalau 1 contato@oikoweditora.combe $398b Schwantes, Milton Breve histéria de Israel / por Milton Schwantes, - Sao Leopoldo: Oikos, 2008. 9p. ISBN85-978-89732-81-9 DU 956.94 Catalogogio na Publicagéo: Biblioteca Eliete Mari Doncato Brasil CRB 10/1184 IF edigdo — fevereito de 2008 2 edigo ~ abril de 2008 1- A terra de Israel ~ Asorigens ¢ 0 tibalismo igfo da monarquia Os dois reinos: Judé e Israel Reis ¢ império — profetas e pobres .. - Reforma e rufa ..... ene * - Sob dominagao persa — vida em comunidades e tribos, er aun - Ainda sob os persas: Neemias e Esdras - Jerusalém e Juda em nova conjuntura. - Continuando sob os persas: mais aspectos das condigdes devida 10 - Os macabeus — solugées e limitages. ‘Outras obras de Milton Schwantes. 1- A terra de Israel ‘A Terra de Cana ou Terra de Israel ou a Palestina é o lugar uma terra bem delimi- tada pelos desertos e pelo norte, a0 que chamamos de * Na ditegdo norte-sul, a Palestina é caracterisada por vales (arom) e pelo profundo vale do Jordi. Entre os dois, esto as montanhas da Galileia, da Samaria e de Judd. A historia de Israel é a historia do povo dessas montanhas! eo leste-oeste, a terra est marcada por grande quan- les, criados pelas fortes chuvas do inverno. Isso subdi- vide o teritério em muitas unidades pequenas. A terra de Israel € pequena e muito subdividida! Hi periods de chuva e de seca, como em todo o cima do Mediterraneo. Estas chuvas distribuem-se de acordo com as mon- tanhas. As terras mais irrigadas ficam 20 ocidente das montanhas. Aiestéa Sefels (em Juds).. Nestes setores das montanhas bem como nas planicies (em especial na de Jezree!) havia bosques. Estes foram desaparecendo durante a historia de Israel, em especial na 6poca dos romanos. De todo modo, a histéria de Israel, nos tempos tribais, comega nestes bosques, nestas matas. A Palestina se localiza entre 2 Mesopotamia e o Egito. Duas rotas passam pela Palestina, fazendo a conexio entre os rios Bulta- tese Nilo. Uma é0 Caminho Real, na Transjordinia, Esta era muito importante quando o poder no Egi tante quando o poder central egipcio estava perto do delta do rio Nilo. Israel situa-se perto destas to ‘ma passa pelas montanhas. Israel destas rotas. que esquecer que no cimo das mo nhos. Justamente onde as has eram pouco ocupadas, do bronze era difcil limpar uma mata, como era a que havi montanhas. Quando em 1200 a.C. se introduziu o ferro na re a vida tom tempos também se passa a ter as condicdes de construir cisternas. Assim se consegue armazenar Aguas da chuvas para t secas do veri. 2.- As origens eo tribalismo 2.1 - A cigncia historica nfo ris apresenta este periodo de Israel como esté no texto biblico. A reconstrucio fornecida pela certo consenso na pesqui meno da Palestina, Nao vem de fora. Nao, surge ou por imigracdo. Hé que se explicar aor pripria terra de Israel. Aceste Israel, produto da Palest pos, de diversas origens (pastores do Sinai, “escravos” fugidos do Egito, 2.3 - Existem basicamente duas propostas para expli gimento de Israel na e desde a Palestina: 1) Uns dizem a) cdaimigragio de pastores semindmades das cercanias das ter ras cultiviveis. Afirmam que estes pastores, em algum momento, interrompem sua transumancia regular ¢ tornam-se camponeses. Contucio, de onde vera tant 0 de colonizar as monta- 05 pastores Sejam ) Outros afirmam que 8 (Norman K. Gottwald’). Eu sigo esta hipotese. 2.4 A sociedade cananéia anterior a 1200 a.C. se localiza nas planicies (de Sarom e de Jeareel). Nao aleanga as montanhas ue, na época, ainda estfo em mata. Esté sob o controle de grupos “invasores” de séculos anterio- res, que formaram uma casta, uma elite militar (carro de guerra ¢ ccouragas) que controlava oc . Desde a cidade tinha o controle dos camponeses que viviatn 20 redor. A cidade com uma pequena parcela de campos a0 redot acidade-estado. A cidade submetia os camponeses explorando seu produto. Os camponess inham o controle de seu trabalho e das tras. A Explorava por ter ocontzole das armase align da lio de Ele Bala su favor O tune eo ago porque as armas assim o exigiam e porque a religido assim o expli- cava, em especial nas grandes festas da colheita. A exploracio era, portanto, tributarsta, Estas cidades-estado canangias (Gaza, Megido, Bete Se, Hazor) eram dependentes do império egip , bd alguns sé- cculos, dominava a Palestina. Esta era a sua “col6nia”, Exploravam- na através de tributos que arrecadavam de suas cidades e de sa- ques de guerra. O Egito aumentava, na Palestina, 0 tertor ea misé- té as criangas sabiam que o fara6 exa terrivel.) 1.5 - O impétio egiocio e a dominagio dos reis das cidades tiveram um fim repentino, Por dentro e por fora foram desarticula- dos. Por dentro: a cidade do bronze mantinha dentro de si os seto- res camponeses. Iso jf ndo era possivel ao passar para a idade do ferro. As cidades tiveram que ser reduzidas a fortalezas militares. Os camponesestiveram que organizar-se em aldeias, fora das cida- des. Por fora: 0s povos do mar (filisteus e outros) passaram a con- twolar Gaza e as cidades préximas. Com isso 0 farad jé no podia it ¢ vir na Palestina, Mas os fiisteus, por sua vez, nfo criaram um. império em sucessio aos faraés. Com isto, a Palestina ja néo vivia «em dominios impetiais, 0 que durou até os asirios (722/701 a.C.). 2.6 - Nestasituagao, formou-se Israel, resultando dos seguin- tes fatores: 2) A desintegracdo da sociedade, das cidades-estado cananeéias, criou para os camponeses a necessidade e a possbilida- dede buscar novas solug6es para sua vida. Esta solugo foi encon- trada no éxodo para as montanhas. b) Este éxodo para as monta- has tornou-se possvel porque havia sido criada a técnica de fazer cisternas.c) O uso do ferro tornou mais ripida a colonizacéo das rmontanhas, e, de todo modo, a tera nova era atraente ea liberda- de era um sonho. Israel integra, portanto, a montanha a histéria. 2.1 - Diferentes grupos sto atratdos por esta novidade em ue vaise tomando a montanha. Séo muito importantes em quae lidade, mas muito pequenos em quantidade, falando do ponto de vista hist6rico. Na Biblia, os mimeros atributdos a estes grupos so altos, porém eles tém mais um sentido religioso do que hist6- rico. Dizem algo sobre o valor desses grupos, nfo sobre sua quan- tidade, ‘Temos muito poucas informagdes sobre os transmigrantes, que, como o grupo de Abrafo, vieram da Mesopotamia. Parece haver af algo de histérico, porque a vinculago com Hat na Me- sopotimia se repete em Isaque e em Jac6, mas pouco podemos dizer, historicamente, sobre tais imigrantes. ‘Temos boasinformagdes sobre os pastorespalestinenses como Abrafo, Isaque e Jac6. Viviam entre o deserto e as matas em uma area, entretanto, habitavel para seminémades. Abrafo e Isaque pertencem ao sul (a futura Juda), Jac6 20 norte (futuros Israel/ Efraim). Viviam do pastoreio da criagao de ovelhas. A familia era seu horizonte social. Bram grupos muito pequenos; nem forma- vvam tribos. Os problemas internos da familia eo perigo que repre- sentam a$ cidades so os temas principais dos textos que falam. deles (Genesis 12-50). Seu Deus él. Este El atua na fa favor dela e dos mais fégeis (escravos, ciangas). Tem forte ligagéo como pai da casa, sendo inclusive o seu Deus. Vai com o grupo. O ‘grupo nao vai a ele em peregrinacao. Os pastores de Cates, 20 sul de Bersebe, sfo diferentes des anteriores. Cades € um ofsis, bastante forte pelo que se sabe. Nes- te ofsis era decisivo organizaras lutas a0 redor da agua. Deutero- 2 4 B némio 33,8-10 mostra os levitas nesta fungio ¢ eles tém sua ori- gem, provavelmente at Os pastores do: 0 diferentes, porque vivem em rio de migragdes se estende. Iso dificulta saber onde fica o Si histrico. Provavelmente ao sul da Palestina em direco 3 Peninsula da Arabia. O Deus doSinaié Javé, porque assim osabemos por uma crico egipcia e podemosler em Juizes 5. Este Ja rece como Deus de um lugar, uma montanha. cligiio teofinica. Sua caracteristica € no admitir wvé, € 0 nico. Por af passa seu mandamento. rém sua origem € outra. Sa0 fara6, Tiveram que ajudar a construir Rame: Egito, no delta. Dai se liviam sob a orientago de Moist Resistem, a comegar pelas mulheres e os ancios; por fim, conseguem fugir. Junto a0 max, provavelmente bern a0 norte, jun- toao Mediterraneo, escapam de uma guarigio de fronteira, Pelo dores dle um éxcdo, fugindo da opressto. Criam uma sociedade jé sem ‘pressor, rei ou fara6, Formam, nas montanhas, um anti-mod estado, anti-far sem cidades, sem templos, na tantos outros éxodos. om 0 faraé ¢ vencera! ico. Passa a estar em lugar ‘Moisés havia estado “cara a cai famflia camponesa € que controla a ‘vezes, para seus parentes, o produto del oh nem sacerdote propria mas si derivadas da necessidade do ca, Os livros de Josué e its itmeeamocenino.qieaids estabelecer manter o proje- contra os cananeus da planicie e contta os reis a0 redor, Por ser este o enfoque principal, a atengSo dos textos ja ndo esté ja para dentro ¢ nao nos descreve o tribalismo cox ynamento, sua vida disria 2.11 - As tribos tiveram trajet6rias muito proprias e espe cas. Cada uma segue seu prOprio destino. O niimero doze que apa- rece no final & mais simbélico do que real. O ntimero ¢ fixo, mas quem sio estas doze tribos € dificil de dizer. Houve mudangas. Novas egrando as demais, 62 de Judé, No inicio s6 esté a0 redor de Belém, logo se expande para 0 incorporando a Hebrom (que era calebita), e avanga até Ber- seba. Esta grande Jud seré muito importante para a origem do reinado em Judé ¢ Israel. Ao norte de Judé est outra tribo mar- cante, ade Efraim. Junto com Manassés e Gileade forma algo como 4Nbje Neran Ke Gotoald, As ios de aback, que semelhante &tribo de Jud, porém diferente: em Judé tudo foi é a0 norte cada tribo manteve sua autonomia. Isso é ico para o posterior estado de Israel. Entre Jud, 20 sul, ¢ Efraim-Manassés-Gileade, 0 norte, estdo astro de Benjamim e papel importante na “conguista: Josué 1-12 sio tr nim, Também o primeio ri, Stl, ve de Benjamim, Mas, Benj mim softeu derrotas muito duras: vas experincias. Dae Ben- jamin foram *massacrados” entre Jud, de um lado, e Efraim-Ma- nassés-Gileade de outro. Das tribos do norte ndo temos muitas in- formagées. Isacar e Zebulom tém seus nomes derivados do trabalho forcado. De algum modo viveram por muito tempo submetidas pe- los cananeus. Neftali e Aser ocupavam regides da montana. 2.12 - Especialmente importante é Juzes 5.5 Este texto € dos, ‘mais antigos na Biblia. Possivelmente & um canto das mulheres junto 20s pogos de Agua. Sua importéncia: 1) Aqui Javé, um Deus da teofania, ‘se faz” um Deus da historia, sem que seja citada a meméria do éxodo. E pois, um texto decisivo para a histéria religiosa ve que alta € social, no racial nem idole. 3) Exe lac de Debora nao consegue derrotar os cananeus, mas conquista em re- Iago aeles alguns direitos, em especial o de ire viz, 2.13 - O tribalismo ¢ igualitario, porque tudo é decidido na familia. Af todos tém o que comer, patticipam da sociedade em suas possbilidades, Hé luger para os meninos e as meninas no pas- toreio, para os ancifios na transmissio do saber, para as mulheres nna casa ena produgio, para os estrangeiros integrados as fama, 5 Veja osestuds de Carles Arhur Dobe, © Cio de Deon Ges 5)~ Confit ai Cntico de Débor Jus 5" em Ezuda Tolga, So Lengldo, Facade de Tela de IECLB, vl26, 1986, 168-201 16 para os hor miam e defer icial ainda nfo aparecem muito parecer em algum momento de mudangas s0- ciais de produgo: os ancios decidiam fortemente, os homens do: ear uma sobrecarga ino pode absorver, comunidade, com o povo. E 0 texto 0 que a do pavo. Por isso, temos que colocar toda a forga ni do texto bi : poderfo ajudar a que nfo se calque no fundame; tem que se evitar outro tipo de “fundamentalismo”,o de sim- plesmente crer nas informagées da porque esta € pr tia, seus resultados nunca so definitivos, estando sempre aber pata novos conhecimentos, Por iio, no se t texto por dados da 3 - Constituigdo da monarquia povo havin fugido fim, também aleangou as montanhas, projeto social que excluta o estado. Isto se porém ja debilitada. 3.2- A monarquia se de exist, ali nas montanhas. Foi vencido, mas niio desteuido. O que ocorreu, é que 0 estado se impés sobre as aldeias e as tribos. Em parte afetou-as.e danificow-as, mas nfo as destruiu. Nos profe- tas temos a vor das tribos e das familias do campo. Nos macabeus séo as tribos que tomam as armas. Em Jesus temos mn do projeto tribal. O tsibalismo con realidade da maio nou-se passado em Israel n a 0 presente do povo, fonte de sua sténcia contra tei e impérios. 3.3 -O tribalsmo nio fo jeto intencional, programado, pelo como se lé em Josué e Juizes. Cr fossem atrasadlos, mas por acidente em Israel. Foi um pro porque eram muito avangados, revolucio- seguir 5 m reis, Iso tomnou-se possivel porque, nesse mome rico, os fillsteus estavam fracos e preocupados con- sigo mesmo. Os impérios no Egito e na Mesopotimia nfo tinham como manter suas principais colnias. Neste “vasio" a militéne anti-cidades criou o tribalismo, Este é um projeto que veio para ficar, para fermentar toda a hist6ria de Israel 3.4 - Desde o amago, o tribalismo € acoitado por fortes gol- pes que o debilitam, que ameagam sua coesfo, que rompem seus Jagos de solidatiedade. Antes de tudo, € preciso ver que o tribalis- ‘mo €, em seu contexto, o modelo social mais avangado, mais mo- demo, mais criativo. Comprovaco a arqueologia. Nas mont aparecem milhares de novasaldeias, novas construgGes, Jé na ie dos cananeus e filisteus nada de novo se passa. Pelo contré rio, as cidades so menores. As construgées aparecem mais frigeis. Anovidade eri mem as conquist ferro, a cisterna. A terra ¢ bos nova. Produz bem. Também é diversficada com vales pequenos, com terras altas, féteis, como as da Sefelé. B, no por dltimo, a divisto do trabalho 6 considersvel. Na grande fara todos se com- pletam; tém suas tarefas especificas dentro de um sistema avanca- «lo da divisio do trabalho, sem exploragio. Nesta sociedade tribal a vida deve ter sido de relativa abun- dlincia: “ assentar-se-A cada um debaixo de sua videira,e debaixo da sua figueira” (Miquéias 4,4). E at temos uma das dificuldades desta sociedade: sou excedente. Na medida em que este excedente aumenta, a familia ajuda outros em necessidade. Usa-o nas festas, nfo constituindo as sobras um problema. [so ocorre quando elas permanecem na produgao. Tornam-se determinantes. sso ocor- Teu com a introdugdo sempre mua forte do gado na produgio, 0 «que aumento problema: acumula o excedente. O gado represen- ao actimulo do excedente de muitos anos. Representa 0 apareci- mento do excedente no momento do uso da came. Praticamente provoca algum tipo de comércio. Alora isto, aumenta a de de produgio quando usado na agriculture, com 0 arad também ser defendido. Com cereal e ovelhas a pessoa pode fugit, com o gado nfo. Tem que defendé-lo. O gado necessita de armas de defesa, de exército. A monarquia viré "sobre 0 gado", como se vé em 1Samuel 11, com Saul. O poder da gado se reflete muito bem em Exodo 21-23. Ele € uma ameaga a vida das pessoas € 20 mesmo tempo € protegido de modo especial. E um grande valor social © gado tiza espago do povo. Na outta ponta do processo socioecondmico, em que aparece o gado, esta o pobre, o escravo, a escrava, como também se vé em Exodo 21-23. O gado precisa de comida e de espago. ss0 0 que é tirado da comida e da terra dos ue sio feitos pobres. No final do século 11, havia pobres e no eram poucos, como se vé em Exodo 21-23, e também em Juizes 9,4 e 11,3 que mencionam “homens miseriveis e vagabundos", ¢ em Samuel 22,2 que fala de “endividados e amargurados”. Tambémn a pobreza € uma fonte do estado, como logo veremos. Junta-se a isso o fato de que jd estavam sendo fitas algumas de criagio do estado. £ 0 que se 18 em Jutzes 9. Abi- experiéncis meleque tentou ¢ até conseguiu formar uma monarquia em Si- uém, Foi derrotado, mas a idéia permaneceu. Também em Jufzes 1-12 Jefté exige ser “cabega” (uma espécie de rei) no caso dele conseguir derrotar os amonitas. © proprio Jefeé era umn *marzi- era filho de uma prostituta e marginalizado por sua familia Estes dois, Abimeleque e Jefié, eram senhores das armas. Esta é tuma fonte do poder do estado, 0 exéccto. fzes 10,1-5¢ 12,7-15, sto citados os res de Israel (diferentes dos jutzes/ihertadores como Gitdedo/Abi- |. Alguns destes jutes/pacificadores eram muito “quanta filhos e trina netos, que montavatn setenta cavalos” (jutzes 12,14), um verdadeito exército “particu- lar”, Como se sustenta essa gente? Por tributos? Por presentes-tri- bbutos? Veja: a monarquia surgia por toda parte. 3.5 Por dentro vai aparecendo um rei. Por fora, invasbes de povos vizinhos aceleram o processo. No tempo dos juzes também existiram invas6es. O povoem armas tentava resist & também o aque se passa com a ameaga contra Jabes de Gileade (Samuel 11). © povo se une a Saul e wence 0s invasores. Mas jf existe af grande novidade: Saul de Gibes, em Benjamim, vai em defesa de le Por que nao ofazem os de Gilead? Os de Eira? Por gue Benjamin, vio distance? E que af aparece a questao terti- torial; afinal, o estado € um territério maior que 20 de Gibed para Jabes, Saul e seu exército constituem o estado. Nao 6 pois, por acidente que, a0 regressarem das rei em Gilgal Isso poréin, poderia ser episico assim como foi a monat- quia de Abimeleque ou de Jefté. O grands os filisceus anunciaram interesse em concorrer com Saul no controle da montanha. Os filisteus anunciam seus interesses, € que, no por 2cas0, & de onde vern Saul, a localidade de Gibed 3.6 - Jé dissemos que a montanba ndo é parte das grandes ciais que passam pela Palestina, o Caminho dos Filis- o Caminho Real. Esta entre os dois. Mas ha ligagées entre estas duas rotas. E estas, sim, sfo importantes para a montana, ‘Uma passa perto de Jerusalém, outra na altura de Siquém e Sama- ria, ¢ a tercei na planicie, em Jezzeel. Nos tempos do Tragos dessa rota j4 se percebe na propria distribuigso do er politico na planicie de Sarom. As cinco cidades filistéias (Gaza, Asdode, Eerom, Gate, Ascalom) vlo justamente até a rada rota em diregio a Jerusalém. Daf para o norte temos ci cananéias, comecando pela importante cidade de Gezer. Entfo, a fronteira nicie do litoral diferentes cidadles, na subida da montanha, Afora Jerusalém, en- contramos Gibed de Saul e Betel. Depois no Vale do Jor lio, est Jerieé. E, nas montanhas da Transjordania, temos At Com isso, arora est claramente marcada. E antiga, mas seu ponto alto e dé a partir do period do fereo (a partir de 1300/1200 a.C. [Ferto I], em especial a partir de 1000 ac. {Ferro I Vianos a rota no sentido este-leste. Mas Jerusalém também & importante por estar no sentido norte-sul, onde encontramos: Hebrom, Belém, Betel, Siquém, Samaria, Na altura de Jerusalém a temos, pois, o cruzamento de duas rotas (secunclias, 6 verdade, ‘comparadas as grandes rotas internacionais, como o Camino dos Filisteus ¢ o Caminho Real). is tempo se dig omega a tornar tava o controle desta rota, que na importante. Di quis viver af pratica nesta irea suas proe- forte no controle antes de S Gp0ca do Ferro ce teve que fugir para o norte. Sat ros, Poem guamnig6es na montanha para se tornar dones dos cami nihos, do comércio. Vercem Saul. O segundo grupo ¢ Juda, ou melhor, Davi. Ele vence. Para essa vitor € basico: Davi tem atr 1a grande e forte tribo, a da Grande Judé®, um poder social significativo; esteve na escola dos filisteus e alcangou controlar Jerusalém, a fortaleza militar mais importante da regio. Também Efraim anunciou seu interesse, mas jé depois de Salomio, quando dda divisio do estado de Davi e Salomio. Mas o final Bfaina/lsracl ipetar Judéfferusalém no controle da rota que se numa das fontes de poder do sul. A monarquia na montanha se organiza ao redor desta rota, ce Saul ¢ depois com Davi, um de Gided e outro de Be- Um. Eassim esta rota vem a ser de nha! auicos diferentes! Tr grupos diferentes os apsiam, Ou em outras palavras: Saul, Davi e Salomo sfo representantes de tés grupos ¢ projetos polticos distintos. 3.11 -O estado de Saul é bem mais episédico. Hé textos que dio a entender que durou vince anos. Talvez s6 tenham sido dois! Nao formou um exército profissional. Nao organizou uma capital. Nao deve ter exigido tributo. Sua familia e alguns cram sua corte, que mais se parecia com uma assemble ‘Tentou impor seu sueessor (Jénatas no inicio, dep am). Mas nada disso funcionou. Porque este estado nao progrediu? Em parte porque os filis- teus logo se of De outra parte porque quem sustentava essa corte, de fato, nfo queria o estado. O suporte o (Samuel 11. Esses queriam um rei, quando um. inimigo estava proximo. Quando no havia inimigo, j4 néo esta- vam interessados no estado. E Saul ficou sozinho com o estado que era de fato ele e sua familia, Nao surpreende que tena ficado lou- co! Ocstado de Saul foi destrutdo pelos filisteus. Seus restos foram aniquilados por Davi ou aprisionados em Jerusalém. Gente da casa homem sanguinétio e malvado” porque, a seu entender, derramou sangue da casa de Saul (2Samuel 16,78). 3.7.2 -O projeto de Davi’ ¢ outro. Forma-se no processo de sua vida. A principio esté com Saul. Parece que se apresenta como ‘seu melhor sucesso, porque & bom nas lutas contra os fiisteus, shar" Re reaa/RIBLA, PetpoisSto Lp porque & amigo de Jonatas e porque se casa com Mical, a filha do rei, Candidaca-se 2 sucesso, mas fracassa, Tem que fugir de Saule vai para odeserto.A\,junta-se com outros sem rumo nem dest te. Bste grupo armado se wansforma numa “defesa noite e dia, odo o tempo (Samuel 25,16) do gado dos rcos, como Nabal. Os po- udos em exército tomam-se defensores do gado dos ddas principais fungoes do estado de Davi. El nercenatia dos flsteus, Af aprende o que é o estado e3 isclaborada. Toma Hebrom, o centto da Grande } nte a ocupa militarmente. Os de Judé o tornam sew tei na de ocupada por seu exército, Depois também Israel o aclama seu tei para ver-se live dos flisteus. De Hebrom conquista Jerusa- lem, Esta tem a desvantagem de nao estar no centro da Grande Jud4, o que, contudo, também vem a ser uma vantagem, consi- derando que Jerusalém est voltada para o norte, onde entio se Davi € algo muito novo, o primeiro na montanha. Marcari culos de bistéria poltica e outros tantos de representacio simblica, Este estado foi criadoa partir da Grande Juda, como entidade po aa su base. Mas, no concreto é decidido no “homens’, pelos setores melhor situados economicamente. Estes, como Nabal, nem entendem Davi, chamam-no ¢ aos seus dle “servos que anda fugidos de seus senhores” (Samuel 25,10). Sao 0s pobres em armas 0s que so eixo deste estado. Bles estfo a setvigo dos senhores, 0 feitos mercenstios. 3.7.3 - Bem diferente & 0 grupo que esté representado em Salomo. J4 no final da vida de Davi existiram mutas lutas pela Nestas lutas se opunham grupos mais ligedos ao campo, id, contra outros mais ligados & cidade. No momento da su cessio, estes dois partidos se opGem numa disputa de vi a ou mor te. Salomao vence contra Adonias. Salomao representa a cidade de Jerusalém, Adonias, o campo, Judé. Salomo é o governo das elites de cidade, do comércio.® Para o cométcio, as elites precisavam de produtos do campo. Necessitavam organiar a tiburagio! Em parte, Davi ja tibutava, mas de modo mais suave, sem grande vigor. A atca ainda nfo tina templo, Davi j6 comega a centralizaro culto, mas sem dara cle um. sentido muito sacrificial, sem fazé-lo tfo tributério. Isso era possi- vel pata Davi, porque sua corte ainda nfo era muito grande e suas riqueeas costumava ‘buscé-las’ dos povos visinhos. Isso se fez im- posstvel para Salomdio que possufa uma grande corte, que ja nfo tinha todas as riquezas dos vizinhos e que quetia 0 comércio. Salomiio organiza o tibuto interno, em forma de arrecada- fo de alimentos ¢ de trabalho forcado. Para essa tibutaglo era important Primeiro: o exército. O exército de Salomfo quase nfo fez guerra cont os viinhs. Mas era maior e melhor que o de Davi. © igo desse exército cra interno, eram os camponeses Segundo: a administragio. Dividiu seu reino em proving responséveis pela comida na corte, no estado, Estas provincias no exam idénticas 8s tribos, para impeir a rebeliéo. Boa parte dos governadores era gente da propria corte. Para fazer funciona esta administracio era preciso sabedoria, formagio de um grupo de burocratas. Terceiro: otemplo. A consteugao do templo esté em fungio da criburagao em espécies, em alimentos. O templo esté dedicado a Javé, que € o Deus do camponés, como em geral os templos tr raistas esto dedicados ao deus dos tributados, porque de outra forma estes (os tributados, os camponeses) nfo pagariam seus ti- butos. Na sociedade tributéria, a religifo hegemdnica tende a ser a Schwantes, ‘Nath prcsa do Davi Na eperanga do ajo px sudo Togas, So Lepoli, Faculdade de Telia da TECLB, wl «eligifo do campo, mas esta ¢ fal presa no santo dos santos, portanto, desvircuada, © Deus historico é trans formado, pelo templo, em um Deus fora da his 0 € por acago que os profetas nfo aceitam a religio do templo que Jereti cchama de “caverna de salteadores” (7,11). O projeto de Salomao, da cidade, de consti a de luxo em meio a0 empobreci- smpo com a forca das armas (as me 5:0 carro ate!), manteve-se por umn cempo, 1 por terra vai sepultura com seu fundador, por volta de 926 a.C. 3.8 - Durante o reinado de Davi, as onganizagbes ti pulares marcaram sua presenca de m temos aqueles pobres que se untaram a Davi no deserto. uarginalizada em suas familias e trbos. Junto a Davi reconhece- ram outro futuro. Seu futuro eram as armas, a servigo do estado. Fizeram-se mercenérios. E hem possivel que em semelhanca a es- tribos, em especial seus ancifos, viram seu fu dades em Davi, anto os de Jud, como os donnorte, de Israel. Ade- riram a Davi. Comemoram-no como seu lider, como seu futuro, Por ai comega o messianismo. Jé o temos em Génesis 49,8-12. 0 ‘messianismo 6 uma visio da tribo de Juda, da gente do interior, Por outto lado, os textos de 2Samuel 6 até IReis 2 nos ‘muita resistencia contra algumas praticas da corte de Davi em Je- rusalém. Hay ainda mani profeta, que se op6e A construgo do templo (2Samuel 7). Este ‘mesmo profeta enfrenta Davi quando este adultera e causa a mor- (2Samuel 12). Eo caso de Mical que critica a danga de mes da corte, que tém no tribalismo. Também tems resis- téneias jf mais politicas e organizadas que vem das tribos, soja de Judé seja de Israel. Absalio representa, em sua intengio de derru- 6 tribaismo (Samuel mento da sucesso: Salomio se organiza desde cidade, Adoni desde as tribos (IReis 1-2). Outra ver gat dlo campo insite em uma monarquia que se m rei mais voltado para ‘campo, nfo a climinagio da monarquia. As tevoltas de Absaléo do profeta Nati sio bem mais reformis- 28, Por fim, a posigfo de fato revo~ cionsria temos em Seba (2Samuel 20). Ble nao € somente anti- anti-monarquia, Por isso sun proposta politica €: “cada um as 1). T3s0 significa: voltemos & organizagio tribal, ts tendas. No momento esta posicao € derrotada, ma dlesaparece. Serd a posigdo dos profetas, tempos depois. Quase no havia pos ; lar, a menos que aparecesse nos textos. O caso mais marcante € 0 atentado de Jeroboio (1Reis11,26-28), apoiado pelo profeta Atas, da tradicional sede do tribalismo da arca, Silo, Foi dezrotado, mas com ele esto langadas as bases da rebeliso popular logo apés a se €0 a integrat a vida do povo. A meméria de Davi ia formulando uto- pia messifnica. Isso mostra que estas experiéneias com 0 estado m uma forte resisténcia, mas também obrigaram a ct popular a integrar em suas perspectivas os acontecimentos consti- tutdos pel jonarquia Um esd do rade dated pn de > Pal, 1986, 1p 4- Os dois reinos: Judé e Israel 4.1 - Com a morte de lomo, termina o rein unido de T22.aC., quando Samari de provineias asstias. Para Juds, em 701 cercada pelos assfrios e quase conquistada. Como se vé, 0 término desse periodo tem a ver com 0 imperialismo, agora ji nao egipci ‘que dominara a Palestina até 1200 aC. onde virdoos governantes que itéo controlar a regio até ocidental de Alexandre Magno, em 330 a.C. Portanto, o final d histéria dos dois reinos coincide com os primeiros a perialismo mesopotdinico, 0 asstio. 4.2 - O reino unido de Judé e Istael era produto de uma I Sua sucesso fo ahora oportuna, As tribos buscaram a negociagao com Robot para por a integracio sob novas bases. Esta nego Ho resultou em uma catésttofe. A posigio de Roboto foi inflex vel. Os de Israel por fim mataram Adorio, o chefe dos trabalhos fos. Robodo teve que fugir. A unio chegara a seu fim. A 1240 da separacdo era eminentemente social. Israel jé nfo queria ' is” ranto a Jerusalém, isto 6, ja nfio queria pagar tributos tao / altos, nem, o que parece ser © principal, submeter-se a trabalhos forcados. A separa, pois, uma decisio de politic parece ter a ver com quest6es externas. A unifio surgiré por pres- sio externa (dos filisteus), a diviséo pertence ao ambito da auto- 28 ‘nomia do pove da montanha. Ele € 0 sujeito desta decisao. Isto é muito importante porque mostra que as forgas antivestado conti- niuam fortes no interior das tzbos." 4.3 - O Israel de que fala 1Reis 11-12 nao é uma unidade.O cespago é dsputado, por dentro, ports forgas diferentes Primeico: ha os que querem diminuir os tributos e por isso exigem a presenga ce Robofio em Siquiém para negociagoes. O novo rele Jerusalém nao accita suas reivindicagses. Com isso, este gru- po esté derrotado, S40 monarquistas pr6-Jerusalém de uma linha moderada, Segundo: af a situagSo é assumida por outro grupo dos que se opéem tanto ao rei de Jerusalém quanto ao reinado como tal Matam Adordo a pedradas. E lancam sua proposta: “a tuas tendas, Israel!” Ou seja, reorganizemos o tribalismo! Nessa linha jé estive- ra Seba (2Samuel 20) Terceiro: voltam a tomar-se hegem@nicos os setores que jé hhaviam se “acostumado” & monarquia, os ancios das tibos, gente da administragio do antigo estado de Davi/Salomio, setores do exército,e fazem de Jerobodo o rei do norte. Oatual texto de Reis, 12,1-2 diz que Jerobodo desde o inicio estava na assembléia. Po- rém, o mais provavel ¢ que so o chamam depois (12,20!) Jerobodio feito rei, mas Israel esti dividido, Ha setores que sAo anti-mondr- quicos declarados, gente da proposta das tendas, do trbalism Isso vai marcar a historia do norte, de Israel. 44 Nosul, assume um filho de Ssloméo, Continua adinas- tia de Davi. Esta vai determinar a vida no sul até 587a.C., até a destcuigao de Jerusalém pelos babilénios. Mas também depois, em sentido simbélico, Jud sempre se manteve “davidico", viveu das esperanicas em tum novo Davi. Nessa dinastia nem semp: ofiho mais velho do x sucesso, em geral assumia 0 couteo da casa de n seu interior algumas possil ede jogo so ico, justamente p nfo era automaticamente o primogéni fatotes importantes pata que no sul a d séculos. Ela era, simultaneamente, g0es do grupo no poder. lades de luta ie o herdeiro do trono este € um dos ativesse por inua mas permitia varia- +5 .-O sul era dindstico. O norte/lsrael era monérquico, po- nfo aleangou ser, de fato, dindstico. Algumas dinastias co gguiram firmar-se por mais tempo: a dinasta inaugurada por Om em B85 vai até 841 a.C, adi rece no poder até 743 aC. a foi a Vinica realmente de firmar uma tradigto dindstica. Em geral, um rei conseguia pas- sar o poder a seu filho, mas este j cata vitima de alguma conspira- Como aconteceu com Jerohowo I, que foi sucedido por seu ssinado. Israel no con- le um Juda dinéstico ¢ de um Israel mais ou menos golpista, nZo & suficiente recorrer a in- s do tipo, vvocaciodo sul, ser tradiciona- € dindstico, enquanto 0 norte estava destinado a ser carismati- “Esprags moana davies! Yous, val 3, 1988, 918-29 Belém, se expandi at Grande Jud4, provavelmente Porque as pessoas que al viviam percebiam a vantagem de perten- cer juntas, de formar u ato social mais amplo. A razio para este Grande Judé dos tempos tribais era bastante econdmica, E que em Juda havia uma regido semidesértica ou até desértica, 0 que ali se passam. O pastor Amés também € desta 4r (portanto, 2 ocidente) também se pode criar ovelhas, masa terra é usada primeiro para o cereal e para a producfo de frutas. Ora, covelhas, cereais e frutas se complementam. Uns precisam dos ou- ra algo omo o mercado. Davi agrega a este Grande Juda a cidade de Jerue salém, Esti préxima da rota em direcio a0 norte. Em Migueias 1,9, échamadade “a porta de meu povo. Desde af se fazia comér- exportando e importando, Neste sentido Jud necessita desta Jém nfo existe sem Juda. Portanto, Juderusalém é, no sul, uma sociedade de alian- as, de acondos: entre cidade, o deserto ea Sefeld. Esta sociedade dependia do funcionamento deste acordo. Sem ele nenhuma das partes sobreviveria. Houve momentos de ruptura. Por exemplo, no reinado de Atalia, uma rainha nio-davidica, foi rompido 0 acon. O profeta Miqueias (3,12) condena Jerusalém. Mas estes momentos de rup- tur logo foram superados. A Miquéias 3,12 (anti-Jerusalém) se- aque 4,15 (um texto bem favordvel a Jerusalém), B Acalia logo fot dlepesta pelo clero da capital, com a ajuda de “o povo da terra", de quem em seguida ainda falaremos. Esta dualidade de sociedade do sul se expressa também na religiio. A religio tipica de Juda € a 1a”, desta Jerusalém. E, por sua vez, Jerus ico secomplementamn J m (comércio). 4.6.2 -O norte é bas exatar mo é sua estrt rat ie tio que isso durow. A impressio que temos & que Jezreel, no geral, esteve excluitla do poder. Este se decidia na montanha, c ‘mente em Titza, Siquém ou Samaria, cidades proxima 1 (0 deserto rodo lugar se pode pl tea; cada Srea € sufciente por si mesma. Creio que isso que caractetiza 0 norte, em termos de produc terdepende suficiéncia de cada drea, possivelmente de cada regido tribal. As tibos eram suficientes cada un ria, O mesmo vale para a monarquia, Desde 0 comego havia os ‘que eram contra ela (LReis 12,16: “a tuas tendas, Israel!”). E os que puderam formar um estado nfio conseguiram unir-se em torno de um projeto, de um acordo, de uma s6 Os grupos se combatiam. Os golpes se sucediam. Ao final, nao houve nem mes- mo um nome que identifcasse bem o estado do norte. Seria Israel Sim, mas esta palavra também era usada para o sul como designa- 40 teol6gica (Miquéias 3, por exemple). Também se falade Efraim. quando alguém se refere a0 norte. Mas Efraim s6 é uma tribo. Um documento assfro fala do norte através do nome de sua dinastia do momento: “casa de Oma”. Portanto, a diversidade € grande; a economia descentralizada é a origem disso. Mas, a0 final, houve rei, houve estado. Logo havia grupos que o necesstavam para proteger-se e defender-se do préprio povo (os pobres) e de invasores. Af pelo norte inclusive comecam a {ormar-se os primeiros experimentos monarquicos: Abimeleque, Jefté, Saul! No norte @ monarquia € até anterior Ados res que necessitavam do re eram os donos do gado (como em Sau No € por acaso que o sfmboloreligioso do norte eta justamente 0 touro! Também 0 comércio das cidades precisava do estado e de seu exército protetot. Samaria € construida numa das passagens possiveis sabre a montanha no sentido este tota norte-sul. Siquém e Tirea também exercem es via pois, a necessidade do estado de parte de uma tores de gado e do comeércio. A estes 0 que m: certeza era 0 exército, mais que a dinasta, Iso talvez explique, porque o trono do norte, em geral, nfo era outta coisa senéo “a cadeira’ do general comandante. A maioria dos reis do notte fo- ram genera. Est tum estado e outros tratam dk mente estd muito dividida. Por um lado temos profetas, radi tribais. De outro, temos idolatria, mais ou menos “pura’, um be- zerro de ouro. Parece que as elites néo puderam recorrer muito & teligio popular para fazer representar seus interesses, porque esta era muito mil poder acabaram por nismos para representar cordo e da profecia. Assim, os do recorter a baalins ¢ antigos cananei- Foram presa fa- de frente 0 estar combateram, porque, afin tura de Jer terceiro rei do norte/stael, Jerusalém como fortaleza de Israel. Por fi (IReis 15,16-22). Aconteceram outras supremacia de Israel. Em outros momentos houve a as duas casas mondrquicas. Juda sitios (Damasco). Houve até macriménios entre as duas cort da corte do norte, conse nha em Juda. Nao parece que as relagées entre Jude Israel eram 1m o ritmo do interesse que costumam estar monarquias. tno, era bem dificil resistr erebelar-se. Mas 0 povo, como vimos, soube fazerse presente em sua inconformidade diante das ait sua exploragio. No petiodo dos dois r ctesceu a ponto de fazer aparecer lonorte, que con- n. Conseguiram partir © poder nao puderam mas a0 menos os damesticaram’ um do sua gana de tributo. A quantidade de golpes ce estado no norte tem participagio popular, as vezes mais deta, como no caso da rebeliio de Jet (2Reis 9-10) ou no caso da aldeia de Tifse, que nfio se rendeu a Menaém lireta por pressfio contra os reis. sociais nortstas A profecia 6a expresso maior da forga do povo, do 10. Sao tuts 0s profetas do periodo: Aias de Silo, Semafas (de 3s (do norte), ¢ principalmente os dois 23 profetas sfio dedicados vétios c comecam em [Reis 17 ¢ vio até is porque provoca a morte de lavrado- condenam os ris por serem idéla- ‘organizam e apdiam 0 povo a partir de suas necessida véem Elias, i. norte. E parte do grande mo- alo. No sul, nestes tempos, enciona-se Sema, [Reis 12, sul comega a aparecer outro tipo de organizagio politico que, mais tarde, se tomar mais ¢ mais importante Judé: trata-se de “o povo da terra”. £ citado pela primeira vez no 3 Esa: Catos Mester, O prt Has Home é Des, omen derrubamento de Atalia (2Rei O guolpe é efetivado pelos sx- Ene a monarquia de emalianga, mantém a dinastia justamente havia sido interrompi- “a davididas, que interessavam a0 ca 4.6.5 - De fato, a €poca dos dois reinos vai até 722 a.C. (no norte) e701 aC. (no sul). Em meio a esta traetsria, ergue-se no antigo oriente, novo império. Desde 1200 a.C. jé néo havi tio paraamesrontar o povo da ea sio-paesin. A paride 14 a.C., novos senhores anunciam sua presenga desde a Mesopotd- mia. Esta vinda de rio, contudo nfo acontecets pentinamente. }é na primeira metade do 8 século anunciava-se vapor ocorrer Os profets jo pressentiam des de Ams, desce 760 2.C. 5 - Reis e império — profetas e pobres Os dois estados, Judé e Istael, ainda estavam em pleno .C,, mas do norte, a partir da Mesopo- -Pilese Il (745-727 aC.) 60 general que desenvol- ve a ofensiva imperialista assiria em dirego ao ocidente."* A Pa- lestina ingressa na era da dominagéo assiia por volta de 740 a.C., quando j era obrigada a pagar impostos aos novos donos do mun- sma parte de seu sistema provincial (em 732 e smbém ¢ duramente afetado, em especial entre sto assiria dessa época conquista e destréi 722 aC). O sul tais e destruidores, A bota astra, “a que pisa com estrondo” 4), puna medo em todos. 5.2 Algumas ras6es nos ajudam a entender porque os ass sua propria ca ost ilade de produgéo agricola, a Mesopotamia, agora, em condigées, assim como o Egito do segundo milénio, a se forte no mundo, J isso 0 fato de que ingressamos feigoamento da capacidade opressiva, Mas, também tém sua fine 0 funciona muito hems dla administragao (essa ‘armas mais duras e cortantes, as cou- ficazes para sua estas novas pos- ‘mar de sangue’, por Por seus exércitos vencedores, Mz acaba liquidando seu proprio futuro. Pois, povo massacrado jé nfo vel. Foi o caso dos Namedida wos mundos e pavos, ¢ vo ‘ber nizativa pelo por todo o antigo oriente. Os assiros ina «fio de opressio que, 2 partir de 745/40 aC, vai dominar a Pales- tina desde 2 Mesopocimia, Depois da Asscia vém os babildnios e te de seu tempo de dominagio. Por isso, o auge do poder asstio: sta do Egito 6 por sua vez, o comego de seu répido declinio! ar ao fim de sua marcha triunfl,jé no restava quase nada por onde haviam passado! 5.4 - Para as pessoas do povo era duro viver por onde passa- mais ‘moderna’ no conseguita, lé isteagdo cananeus de entao. Tinha que fazer suas perialista como 0 assitio, a forga de resist ttibais do campesinato. A profecia 6 expressio de ponés. zama dominagic © que depois os pet aperfeigoar bastante. E os ima maior capacidade militar, fazenda-se bem mais pre- 5.5 - Este perfodo em que Israel e Juda foram incorporados & dominagio mesopotémico-assiria e momentos mais fortes vai de 740 até 640 a.C. pode ser dividido em trés primeira como que antecede o comego da vinda propri € corresponde 2 primeira mecade do 8° século (800 até 750/740 a.C). A segunda se refere ao estabelecimento a Palestina, , quando entre os esipcios era o carro de combate. Os assirios ja representam, pois, um apet- 38 39 comecando em 740 ¢ indo até 0 cerco a Jerusalém em 701 aC. Ba terceira, da qual sabemos muito pouco, seria a primeira metade do 7 século (700 até 640 a.C.). 5.6 - £ importante dar atengo a0 que antecede & chegada dos assiios, & primeira metade do 8° século. Ajuda a entender uma série de questées. Desde o comego observa-se que, naquelas décadas, hi estabilidade politica em Israel e em Juda. A maior par- tedo perfodo€ ocupada no norte por Jeroboto TI (783-743 aC. no sul por Ozias (781-740 a.C.} junto com Jotdo (740-736 aC), que em alguma época também foi co-regente, jé que Ozias estava doente de lepra. Junto a esta estabilidade havia também um ex- ansionismo bem marcado no norte ¢ no sul. Israel expandiu-se até Damasco, e de ld chegava a0 Mar Morto. O sul recuperou 0 Golfo de Bilate. Juntos, Juds e Israel tinham quase a extensio do reino de DavifSalomio. paises da drea da Stria e até mais ao not pot um processo semelhante de expansio territorial, Por isso, essa primeira metade do 8 século caracterizada por um expansionismo crescente dos estados da te- gifio (o que lemos em Amés 1-2), sem que algum deles chegue a formar um poder muito forte. Estamos, pois, numa época em que 6s exércitos tinham posigo forte. De sua iniciativa vive 0 co Este expans demas ‘ovos instrumentos que a evolugio do ferro propiciava, HA mais excedentes que favorecem o crescimento dos exét uramt’ novas rotas e novos territérios para os produtos E certo que nao sé havia mais excedente por ter raduto, nas também porque se explorava mais. O povo era ainda mais pobre, como mostram os profetas do século, a exemplo de Amés q em 760 a.C., & anterior A expansio assiria. Os asstios, entre- ram pouco ativos, quando Amés falou. A raiz da pobreza do povo nfo estava na Assiria mas no estado nacional expansio- nista, a0 qual os profetas, conseqtientemente, se dirigem. O pro- blema dos empobrecidos io, entéo ainda, as elites nacionais. Ea essa que o profeta denuncia e ameaca. 5.8 - Depois de tomar judé, os asstrios continuaram com suas Seu alvo era o Egito. Alcancaram-no em 671 a.C:3as- império chega, rapidamente, A sua expansio méxima, no caso também a seu limite. Em 640, os assrios jé estavam sem for- as para manter a Palestina sob seu controle. Nessa primeira meta- de do 7° século, houve um rei em Jerusalém completamente sub- ido a0s interesses assrios. No interior, o representante do ima 87-6422.C.). Dele se diz que: derramou muitissimo sangue inocente, até que encheu Jerusalém de um a outro extremo” (2Reis 21,16). Executou contra o povo a politica de opressio em favor dos donos do mundo. Houve resis- deuteros mento da reforma de Josias. Resistencia é 0 ambiente do Deutero- ndmio! 5.9 - A profecia desse século expressa a resisténcia do povo contra 0 mundo monsrquico e imperialista. Antes de tudo, con- ‘vém lerubrar que estamos em tempos de afirmagfio de forcas popu lares tribais no interior de Juda e Israel. O auge imperialsta tem seu contraponto no auge do movimento de afirmacdo tribal proposta de manutengo do popular: Em nivel de politica do do, as forcas do campo conseguiram expresses significativas. Por exemplo, no sul, Jods (835-796 2.C.) jf se tornara rei com o apoio de'“o povo da terra”, do campo. Os de Jerusalém nfo 0 suportaram ¢, por fim, o mataram (2Reis 12,21-22). Mas, o campo pode reafir- mar-se através do filho de Joss, Amasias (796-781 a.C.), que tam- ‘bém foi assassinado por pessoas d (2Reis 14,19-20). No- vamente “o povo de Juda”, ou seja, “o povo da terra’, se impde areas de Ores (181-740 AG) e de Joto (140-736 20) OReis 4 1a politica do sul. ia & parte desse movimento nas lutas pelo poder no estado. Esta profecia vé a realdade a partir das pessoas que softem. Ao denun izonte no impétio. A profecia jase referia a0 impétio, mas ndo 0 privilegia em sua 6tica. E impor diferenca entre profetas e aj 0, Seu contexto va- snsagem é diversificada. Mas todos tém, nos ros. Fala desde a perspectiva destes “po- bres". Ti&stermos hebraicos prineipaisse referem a eles: ni, ebyon, dal. Referem-se as mesmas pessoas, com palavras diferentes. Estes “pobres! ‘Tem suas terras mas, dle to pobrese frigeis que se tornar. quase expulsos delas. Através de Am6s co vor. Desde af, formula sua mensagem que havia recebi- do de Javé justo, do Deus que antes de tudo quer, como nos clas e 3-4, enfrenta Samaria, a cidade-capital que ida e saqueada (3,11). As visGes de Amés 7-9 se voltam il, exército e templo tém seu ponto al a0 rei Jerobodo II que morrers a espada (7,11). Neste mo- ©, 0 profeta 6 expulso do pais, depois de uns dois anos de Miquéias nos mostra em suas palavras a vida explorada do campones da Sefels, desta subida de setra em direcao a a trabalhat para Jerusalét do camponés (3,10). A empobrecido quase ji escravo. 16 ja Milton Schwantes, A oma no fade set sus plas” - Refleo e esa sale ‘Ais, Sto Paul, Polis, 2002, 205p. B Eiineeressante Miquéias recorrer a esta expressfo “meu pov", ‘que mostra que nesta regio da Sefelé os sentimentos ¢ organiza Ges tribais devem ser a experiéncia de ‘vem a expressio “o povo da terra”. “Meu povo” & um setor, si0 0s pobres deste “povo da terra”, Miquéias ameaca antes de tudo Jeru- salém e Sifo, o templo. Serio um “monte de ruinas” (3, seja, Miquéias rompe desde os pobres, desde “meu pov Vida de aliangae pacto tipica de Jud. Isso néo na histbria de Judé cal ¢ revolucioné: 5.10.3 - Voltemos ao norte, préximos a Amés. Poucos anos depois dele comeca Oséias, que atua de 755 até 721 a.C. Entre os “elses”, € 0 dco profea dono, pois Ams, 0 a profecia de Israelinort campo, nele est presente a resisténcia de séculos do campesinato do norte contra os eis. Nele reapatece Sel ce Afas (LReis 11 ¢ 14), nele se completaim undo & gente as tradigdes hist6ricas antigas, ajudando a rezas orientando as pessoas éum'sacerd6- lo’ € a vida do povo. lavras como 0 povo & cexplorado, semelhante a Amés. Com relagio a dentincia social, ele também nai especial, as viokéncias contra o povo: “sangue sucede a sangue” 0 sociorreligiosa da situagao. Use o termo “prosti- " para qualificar a situagio do povo. £ “prostituido” pela ‘20 povo que o produto do campo e até as pessoas de sucesso per- tencem a baal, o deus da da fertilidade. Se pertencem a bal, pertencem aos sacerdotes e ao estado que se especializou em dlarculto a baal (em Samaria havia um templo a baal!) “Prosttui- io” € 0 modo que facilitou a exploracfo do povo camponés, de seus produtos (alimentos e pessoas) através de gestos simbélicos, proclutos Bs festas ea proctiar mais em favor do exércitoe do esta- do. Portanto, Oséias nos apresenta a situagao da mulher campo- ‘nesa, de mulheres como Gomer. A culpa por esta deformacto adcil- do sacerdécio, do templo. Oséias € e proclama que Javé nfo quer sacrificios, temp! porém "solidariedade"shesed (6,6). 5.10.4 - Isafas 60 primeizo gtande profeta do su, de Jud, de 740 até 701 a.C. Inaugurou toda uma tradigio de profecias que so expressas no livro de Isaias, uma obra de séc is, ptincipalmente, no comego, nos caps.1-39. E bem seguro que Isafas é de Jerusalém. Provavelmente, vem dos 18Naverdale, no h seondo to imerprerago de um term hobain em Osis: enh ores da corte da capital, onde teria sido como que um professor, dent. Sabe 1 dentro das e Davi (a tradigGes. E feito profeta dentro do proprio templo (cap.6). Mas, passo a passo vai se opondo & corte, no sacerdécio. cxés, nfo permaneces" (7,9). E, nesse caso, Javra do profera: os ruptura entre Isaias ¢: O profeta passa a fazer uma ree’ zendo por fim que 0 novo Davi é uma crianga, sem armas, sem cara de rei, porém, com forca de rei! Este novo Davi sairé “do |, ©-que significa que desisirda profeia de Nat (2Sam qual Isafas sdotes do sacrificio e o poder central em ram satisfeitos com essa visto de Isatas. O profe- lizado. ‘Temos entéio em Isafas, uma ressigificagio 5.10.5 - A profecia 6, antes de tudo, aprofecia. Os profetas sempre se entenderam como “men- meneutas da presenga de Deus em seu povo. wvra de Deus tem na pro- es e as ameagas de ic esforcar-se junto a suas comunidades e ao povo dos pobres inder a tealidade, E, de fato, cada profeta a entende de ‘um modo peculiar, um pouco diferente, porque ele € pessoa histé- rica, Nao € marionete de Deus. Desse modo, também a am mente’ do céu. Ir concretizar-se por exemplo, disse que Jeroboto, ‘Bem, uma tal espada as, de rebelides camponesas. Nao digo que mais pelos caminhos ver que de todo ivéssemos que ficar tranqitilos ¢ ocorresse a libertagdo. HA que fazé-la também, porque o facer € ey Naver dos Sans, Pa uaa so olla 5.10.6 - No perfodo da cruel repressio de Manassés “nto houve” profetas ou seja, houve (porque muito sangue inocente foi deszamado), mas suas palavtas no chegaram até nés. Suas mem6- justamente, teve seu mo- ‘mento forte, quando os profetas nfo puderam manifestar-se. Refl- To-me ao movimento deuterond provavel que sua emergéncia esti na Jo, no reinado de Manas Juda ainda estava mais ou menos ocupada pelos a Manassés, em especial no comego de seu governo, tem que res- tringir-se mais ou menos a Jerusalém. Do norte vieram alguns ou at¢ muitos migrantes e fugitivos ao sul, depois da ruina de Israel. ‘Trouxeram junto suas tradicées, 0 xoxo e 0 profeta (Oséias. Passaram a ter mais e sobre o sul. Vieram também os levitas,tipicos do norte, os intérpretes das tradigdes. Viram que, no sul, opressio e idolatria nfo eram muito diferentes do que no norte. A partir de suas experiéncias do norte, passaram a atualizar, agora no sul, suas tradicées, Fizeram de modo ‘catequético’ atualizando as leis do pov ‘mentos ¢ 0 cédigo da alianca (de Exodo 20-23). Isso resultou no Deuteronémio, principalmente nos capftulos mais antigos (caps.12- 26). Este Deuteron6mio-original encontrado em 622 a.C. nas reformas do templo e & 0 ponto de partida da grande e comovente Hé dois acentos prineipais no deuteronomisto. fe para dentro, outro para fora. Para dentro afiema: a unidade do povo, a da priticareligiosae a unicidade de Javé. Ha lugar de pr norte hé de ter sido Siquém), e um so Deus libercador, Javé. Para fora é preciso separar-se dos ‘cananeus’ para sobreviver: Estes dos tempos da ‘conquista’, todo o norte, €em parce 05 (que ocupam a terra: 48 6 - Reforma e rufna 6.1 Ao terminar a dominagao assiria na Palestina, nfo hou- ve de imediato a sucessio de outro poder imperial. Este esteve omega um breve perfodo de ico esta sob a ai 609) de se meses; a crescente dominagao babi 605.587); e 08 anos da desurbanizagao de Judé e do exitio (597) 587-539), 6.2 - Oreinado de Josias (640-609 a.C.) & de grande impor- odo exitiode 597/ inagio an tempos de Manassés, havia se cons- tituido um novo grupo de resisténcia,o do deuteronomismo leviti- ‘no campo. Nas aldeias se mantinha a esperanga por ujeito forjado em. reptessio se langa na hist6ria. E a revolucio de 640 a.C. Manassés passarao poder se anon, que péde man- ter-se por dois anos. Logo, foi assassinado por seus iministros. Neste momento oportuno, “o povo da terra" toma a si 9 {uagZo em suas maos. Impoe Josias com oito anos (2Reis 21,24). A hhegemonia no estado passa para as mos deste “povo da terra”, 0 campesinato de Jud. O pais se torna autdnomo. Reconstitui-se 0 exército popular. Reafitma-seo tral. Passam-se dezoito anos, até 622, quando se dé a reforma de Josias. Este é, a meu ver, um novo pacto entre Jerusalém, que fora duramente derrotada em 640 a.C., € 05 camponeses. E uma espécie de pacto nacional, no qual campo ¢ cidade sio reconhecides em seus novos papéis direitos. Este acontecimento est embasado, de acordo com 2Reis 22-23, num livro, provavelmente Deuteronémio 12-26, encontrado no tem- plo, ldo af, e pelo re moveu todos a form servir de base como ponto de au, em 622, nid retomasniiatva, Nesta reforma, sto af ‘mados pontos, que interessam ao campo, ¢ outros que privilegiam Jerusalém, O campo tinha interesse na afi povo, de que todos sio itmfos (um dos contetidos mais importan- tes do Deuterondmio). Ao campo, ainda interessa a afirmagiio de Javé, De tiplica- do.os cultos de fertilidade. Estes dois conteridos do Deuterontimio so reafirmados pela reforma, ¢ esto no interesse do campo. Mas também é decidido que Jerusalém passa a ser 0 tnico local de culto sacrificial, 0 que ingeressa muito 3 capital, a seus sacerdotes, que, afinal, foram os que encontraram olivro. Mas, também nfo se deve esquecer que, aps as destruigSes promovidas pelos assitios em Juda (destruigao dle 46 cidadest), em 701 a.C., praticamente nem restavam templos da provincia! Assim o confirma a arqueologia. Tudo estava por terra! Desde 701 a.C., Judd estava, por assim dizer, desurbanizad: Logo, por ocasiéo da reforma josifnica de 622 a.C. jé nem havi templos em Juda, templos estes a serem abandonados em prol de Jerusalém. Logo, em termos de centzalizagio do culto sacrificial em Jerusalém tem-se a nitida impressio que a reforma mais bem sanciona o status qu. 50 © que se alcanga sob Josias &, pois, um pacto entre Jeruse- lem e Juda; este foi de grande impacto, também para Josias, que a partir dat se lana & conquista do norte, ao antigo Israel. Juda inte- gra partes do norte a seu dominio. Expande-se. Este projeto novo {oi interrompido repentinamente, pois a Palestina s6 havia sido liberada, provisoriamente, pelas potEncias imperiais para iniciati- vvas nacionais como as de Joss, de “o povo da terra” e de Jerusa- lem. Em 609, Josias foi morto ao confrontat-se com os egipcios, a ccaminho do Eufrates. © “povo da terra” logo colocou no poder um filo de Joss, de nome Jeoncaz. Mas este s6 governou trés meses, até o regresso do faradé do Eufrates. Foi deportado para o Exito, ‘onde morreu. Os tempos de autonomia, breves porém importan- haviam chegado a seu final. 6.2.1 - As manifestagdes proféticas deste perfodo tém opi- nides distintas sobre os acontecimentos. Sofonias deverd ser situa do antes da reform de 622 aC, porém, logo depois da tomada do poder pelo *povo da terra” em 640. E de Jerusalém, quem sabe descendente de escravosexfopes. Este Sofonins nfo vé nenhum ro para Jerusalém, para a cidade e, provavel o para o templo, Para ele a capital é “rebelde”, “manchada” e ‘opressora” (3,1). Sera destruida. Contudo, vé possibilidades para 0s “oprimidos da terra" (2,3), para 0 “povo oprimida e fraco” de Jerusalém. Pode-se, pois, dizer que Sofonias, & semelhanga de fas, tem simpatia pelos setores pobres do campo e da cidade, mas niio vé futuro nem para “o povo da terra’, nem para Jerus seu templo, E mais radical do que a revolucdo de 640, e talvez nfo esteja em nada de acordo com a reforma de 622. Nesta linha tam- bém ests a profetisa Hulda (2Reis 22,11-20). Ela vive nos setores populares dla capital. Seu marido trabalha na corte como "encar- regado do vestusrio®. Hulda também nfo vé futuro para Jerusa- lem, seré “objeto de espanto e execragio”. Tanto Hulda como So- 20 Sob ois ve Shigeyuki Nakanose, Una ist paa coma — Pisco de os: made legac ig Taner « par de 2Rus 2,123.3, Sto Paulo, Eos Palas, 200, “ip. Parlhandoa Bila. macordo entre as pessoas do poder em Jerusalém (reie temple) & em Jus (camponeses mais abastados). Jeremins, talveo, seja mais favorivel 8 reforma. Ele se dizcrtico da idolatria que existia antes dareforma (nos caps.2-6). Logo, quando vem a refor teria apoiado e silenciado em sua profecia por alguns anos. Quem de- fende esta interpretacio d rnuito positiva sobre Jos mias 22,15). Mas, a interpretagio justamente dos primeiros capi- tulos deste profeta, ainda esta em aberto. 6.3-A partir de 609, Judd volta a estar sob o impacto de um império. Joaquim (609-598 a.C.) foi feito rei pelos epipcios. Mas, logo depois, estes perdem o dominio intemacional para nos, em 605. Também Joaquim tem que mudar de lado. Passa a pagar seus tributos ao novo império babilénico. Por fim, jé sob os inceresses clo “povo da terra” suspende o pagamento do tributo. Os babildnios invadem Juda. Joaquim morre. Assume o seu filho Jeo- aquim (597) que se entrega aos babilonios para evitara destruigio da cidade. Ele, a corte © mais dez mil da elite de Jerusalém so deportados. Comega para estes 0 exiio. Os babildnios fazem Zede- as rei sobre o que restara em Jerusalém e Judé (597-587 a.C) Os egfpcios, que & diferenga dos tempos assitios nfo puderam ser submetidos, prometemlhe apoio contra os babilénios. No inter “o povo da terra” pressiona em favor da autonomia, porque ja est cansado de pagar tributos pesados. Por fim, Zedequias também se rebela, nfo paga & Babil6nia. Nova invasio desde a Mesopotimia. Cerca-se a cidade de Jerusalém. Ela & conquistada e queimada, no verio de 587, Juda toda é desurbanizada, & semelhanga de 701 para que nfo sirva de porta de entrada para alguma invasio neste momento a fronteira entre os dois impérios. Por ser limite, é destruido, para marcar a separacio entre dois gigantes: Egito e Babilonia. Hé nova deportacio, porém pe~ quena, A de 587 passa a somar-se & de 597 que jé ests na Mesopo- ‘mia. Na Bubilonia esto umas quinze mil pessoas. A maioria per- maneceu em Judé, em especial no interior, por exemplo, na Sefels, 63.1 A profecia outta ver nos permite verifcar que afora os dois setores sociais mais importantes, dentro da sociedad, ou seja, “o povo da terra” de Jud e a gente de Jerusalém, havia outros os com outras énfases, mais radicais ¢ bem mais comprometidos com 0s setores marginalzados na cidade e no campo. Citemos pri- Ble € bem mais radical nesse perfodo do que nos onde parece ter estado mais perto do grupo que fez areforma, No ano em que Joaquim assume (609), rompe definitiva- ‘mente com os da teforma e com os interesses das elites da capi Prega contra o templo. Esta "cova de ladises” deve ser como Silo, ‘ouseja, deve ser destruida (Jeremias 7c 26), Desde enti Jeremiasé falar, quase assassinado. As pessoas mais humildes & que o apéiam: cscriba Baruque, 0 excravo Ehedmeleque (Jeremias 36 © 38).” At Jeremias tem a posigfo de uma Hulda ou de um Sofonias. Jeremias, mais ou menos por volta de 600.2, atuou possivel que seja um profeta de origem do templo. Ai tinha fungdes proféticas. Mas se afastou deste seu ambiente, radicalizando-se. aque sobre ele vém, }é nfo aceita a resposta (um pouco defent Jeremis; veja caps.27-28+29) de que o império babildnico funcio- nnatia como uma espécie de protego contra a exploracio interna. Habacuque afirma que este império terrvel e explorador A nova resposta est em Habacuque 2,4: “o justo viverd pela ffidelidade”, ‘ou seja 0 “justo”, os pobres (como Habacuque os identifica nos ccaps.1-2) representam o futuro, acerteza de que com o fim de Jeru salém a historia do povo no tem fim. Endo teve.?* 21 Veja a rept oe se emis 37-45, ean Ens ibn, Petri, Bore Vase, al 1, 2006, 105p 22 Arexpcto de Hebacugue confi Eueldes Maris Belncin, Cano lea live de Habe — ‘AN tzinasia do azo, S80 Paul, Baiges Palins 1991, 43p. (Como ler Biia); « eo Domine Savio ds Sila, pare emia reerto:nunor dirs Pps profiad abuse, So Bernaado do Canipo, Universidade Metadata de S50 Paul, 1997, 30 6.4 -O tempo do exilio (597/587 at fo, em especial, em dois lugat 39 aC) éexperimen- por dois grupos de modo muito diferente, Ao final, no pis-exiio, se impés, com énfase maior, a opiniao dos que estiveram na Babilénia. Desde af parece que estes dla Babil6nia seriam os tinicos no exo, Mas 0 grupo mais numie- toso vivia ma tetra, em Jud, Estes que permaneceram viviam em uma terra “destrufda”, Mas destruvda de que modo? final, nio se pode destruir a natureza (av menos nfo naqueles tempos!). Ela ntinua a dar seus frutos. Destruidas estavam as cidades. Os assi- Tios j as haviam queimado em 701 a.C. e, agora, os babilénios outra vez as destruiram ou desmantelaram o que delas sobrara, justamente para evitar que nelas houvesse comida que, em caso de invasio, pudesse servir de abastecimento aos egipcios. Entio, Juda estava desurbanizada como Jerusalém. Mas, povo rano, em boa medida, continuava a viver em suas thando seus campos. O em Jud, o pertodo do extio & um tempo de retribalzagéo. Com isso nfo quero dizer que antes as ribos sem, Existiam sim, porque também no tempo dos clas, as familias eram o modo de viver nas ald significa que a vida de aldeia era atin dlava toda a atencio para que funcionasse bem. No pés-extlio, esta vida retribalizada marcou a Palestina até no 4° século a.C.,a partir de quando Neemias havia reurbanicado Jerusalém, Portanto, nos séculos 6, 5 e 4 tivemos, na Palestina, mais de duzentos anos de hhegemonia tribal. E preciso levar em conta que os textos biblicos que tém sido cescritos sobre a época tribal nos séculos 13 até 11 (losué ¢ Jutzes), foram redigidos, concluidos literatiamente, justamente nesta &p0- cade extio e pés-exitio, pela escola deureronomistica. Ja na Babildnia a situagio era outra. Alguns, os da casa do rei, estavam na cidade da Babilénia. No inicio foram prisioneitos, Logo, libertados, atuavam na corte, talvez como uma espécie de funcionatios. O decreto de Ciro, tetminarido com extlio em 538 a.C. ¢ dando ordens para reconstruir o templo, surgiu sob a atua- dleste grupo que vivia junto corte babildnica. Na Babil6nia, a rmaioria dos deportados estava no campo, em lugar entdo desabita- do, chamado Tel Aviv. Af plantavam. Eram escravos, isto 6, tr Inadores forgados pelo império, produzindo para sua prop: brevivéncia e pagando pesados tributos 20s babilonias. No mais, tinham sua liberdade de organizar-se ¢ fazer cultos. Eram, pois, escravos do modo de produgdo triburarsta, mas nfo escravos no sentido do escravismo posterior de gregos e romanos. Talves até se pudesse especificar um detalhe a mais em relacio a estes teassen- tados em Tel Aviv. E que muitos de seus flhos parecem terem atua~ do como soldados babi Isso explicaria certos detalhes de Isaias 40-55 (Déutero-Isaias), como por exemplo seus versic de abestura, quando em 40,1-2 se anuncia o fim do exilio; diz-se af a rigor que ‘0 servico militar’ findou, j6 nfo valendo a lutar pela Babilénia. Ezequiel 37 poderia ser alocado neste contexto. 6.4.1 - Houve uma produgao literéria marcante entre os que restaram, em Judé, Creio que ainda pocemos identificar dois seto- res ou lugares de produce literdria entre os que permaneceram: por ur lado, temos textos dos que estavam junto a Sido; por ou- tro, temos materiais dos que estavam no interior, em Judé. Dos gue estavam ao redor de SiSo vem, por exemplo, as Lamentagses de Jeremias e o livro de Obadias/Abdias. Expressam muito deses- pero. |é, praticamente, nfo ha perspectiva. HA raiva contra os edo rnitas (Abdlias). Ha fome, sede e, principalmente, desespero, falta de perspectivas, como podemos ler em Lamentagoes, que nao tém dinimo para dizer algo sobre o futuro. E gente sem amanhecet! Isto ‘que nos € transmitido em Lamentagbes e por Obadias sio palavras dos que viviam em Jerusalém ou a0 redor do Sifio e que softiam duramente com a destruigao. A perspectiva em Judd, entre os que restaram, é bem outra. Sua obra maior, a grande obra literiria de nossa Biblia, ¢ a Obra Historiografica Deuteronomistica (Deuteronémio, Josué, Jutzes, 1+2Samuel, 1+2Reis). Nela, osde Judé fazem uma anidlise de sua sor arquia que promoveu © contrétio do tribalismo, promoveu idolatra einjustiga. O novo governo no futuro jé nao pode ser nem idélatra nem injusto. Este é © novo Davi que esperam. Essa & a perspectiva de “o povo da ter- ra Nestes mesmos setores foram conclutdas as profecias de Jere- mnecer em Jude no 6.4.2 - Dos exi (bem como releitura do Pentateuco feitas por exilados, veja Géne- sis 1 € 17). Ezequiel era parte do sacerd6cio antes da deportagio de 597 aC. No extlio é feito profeta. Tem trés acento principais. Antes de tudo afirma, desde sia vocacho em Ezequiel 1-3, que dos temos principalmente dias profecias Jave jf nao esté no templo de Jerusalém. Fambém esté no ex Deus mesmo é um exilado, Porcanto, a vida que continua a existir em Judé/Jerusalém até a destruicdo do templo em 587 e até depois, no conta coma presenca de Javé, pois este esté com seu profeta u povo no exilio. Assim, Ezequiel faz duras erticas &s préticas ciilticas em Sido e condena a prépria monarquia, bem como 0 faziam os demais profetas. Um segundo contetido & a esperanga, Hé fuuro para os que agora estio na BabilGnia. Vao tegressat. Deus outra vee faré de ossos secos um povo, como o disse de modo to dramético Ezequiel 37. E no final, Ezequiel ou seus disefpulos até apresentam um projeto para o futuro, Vemos isto et Ezequiel 40-48. Todo ele esta com o templo no centro, E bem teocritico. Estes tréscontetidos de Ezequiel dao o que pensat, em especial sua visto de futuro. Sem devida, sua maneira de falar da presenga de Deus entre os deportaclos & muito inspirada, Mas, por certo & pro- blemética, em termos hist6ricos, pois sua visio de futuro no pre- ‘véa maioria do povo que, neste momento, vive em tribos em Juda. A{j4 se anuncia um conilito duro que vai marcar todo o pés-exi- lio, o conflito entre os que regressam (uma minotia)e os que esto ‘na terra judé ma maioria). O que chamamas Segundo Isaias (Isafas 40-55) 6 algo como uma colegio de cdticos proféticos da comunidade de exilados. Hi bastante diferencos entre a visio ezequeliana ea deste déute- ro-isaianismo. Com este Segundo Isafas estamos mais no final do eextlio, por volta de 550 a.C. Os persas j fazem suas conquistas 20 redor da Babilonia (o cap.45 se refere a Ciro!). © ponto alto do Segundo Isains 60 servo sofredor. Mesmo morto e vencido,o bed “servo” tem futuro e nfo somente o tem para Israel, par sas para toda a humanidade. & luz para os povos (Isai 49,5-6) Esta 6 uma maneira bem inovadora e diferente de falar do futuro ddo que a que conhecemos em Ezequiel. 6.5 - Havia diferentes projetos quanto ao futuro, em Judé e entte 0s exilados. O exilo foi um momento muito sofrido, mas também criativo. Af se reviu o pasado e se elaboraram projetos paarao futuro da povo. Mas, a0 final, os persas venceram, a0 menos na grande politica dos grandes. Seu projeto novo, sua nova manei- ra de dominar prevaleceram. Com estes persas ja ingressamos em novo momento da histéria de Juda e, em especial, do templo de Jerusalém. Ainda nfo temos clara definigfo para a periodizagao hist cado pés-extlio. Afnal, nele mudam parimettos: as pessoas pales tinas€ no geral do antigo ariente tendem a deixar de ser os primei- ros sujeitos de suas trajet6rias. Agora, a hist6ria hes passaa ser, a0 menos em parte, alheia, porque Israel ¢ Judé se tomaram col6nia. Por isso, penso que temos que dar um destaque peculiar aos se- cahotes imperias, persas e gregos e romanos, que, uns apés os ou tros, se adonam da vida judaitae israelita, nestesséculos pos-exii- cos. Contudo, isso no significa que Jud tivesse perdido, por com- pleto, sua autonomia, Manteve-a e lutou por ela. Recriou suas marcas e fez-se diferente para sobreviver. Quando, pois, damos um 23 Veja Milton Schram, Sfinawae espera exo — Hise ea dopo de De ra ado VIaC., S80 Lspold, Oko, 2007, Hp. Cals Mester, A mis do ow ‘afield Seo de Des ivo do pete, Peril, Ezra Vans, 1985. 7 - Sob dominacao persa - vida em comunidades e tribos Hi que comecar com a dominagio. Melhor sempre ¢ iniciar cl os séculos para os quais colonizagiio de terras e pessoas é 0 que prevalece. Ad ‘nago persa ~ um povo indo-europeu € no ia. Povos escravizados, como os judaitas, ¢ seto- res dos proprios babilénios aderiram a Ciro (vejaTsafas 44,24-45, dos ptolomeus. As condicGes de vida sob os pes esterderam por um século a mais, Por isso, recomendo que ainda se considere 0 38 século a.C. co -a Jerusalém para conseguir prata ¢ ouro. Es- tendo, pois, a presenga do jeito persa de governar povos subalter- ros até mais ou menos 0 ano 200 2.C. dquistadas so inseridas num s6 sistema de don tracdo. Neles nao sobrevivem reislocais, como em tempos assis ‘ou recordemos de Sedecias sn pelos babildnios. Agora, quem governa sio to-somente os pr6prios persas, através de suas provineias ou sat Jud acaso que a primeira visio de Zacarias enfoca agi los como marca deste novo senhorio (1,8-13) algum impulso em favor da escravidio de parte do regime persa, ainda que, em seus dias, a pressio escravocrata, mas de origem arega, ocidental, se foi fazendo cada vez mais presente (veja Isa 151-2). Por isso, teve-se aimpressio de um novo e livre ambiente de vida sob 05 persas, pois estes ‘alargaram’ o mundo, deram-lhe nnovas feigdes. De vert modo! Adicione-se a isso que aos jerusale- mmitas e judaitas foi no primero ano de governo de Ciro a partir da BabilOnia, a reconstrucéo do templo, com promes- sa de verbas do proprio império (Esdras 6,3-6)! vida io grega ja cava presenca. Neste ambiente, os persas representavam certa calmaria: se bem que sua calmatia era também a da opressio. Ju ficava em ruina e ‘sossegada’ sem chances. A governanga persa info era nem de longe libertéria (como anunciara Déuteto-Isaias 44,24-45,2). Também eram vorazes gafanhotos (Joel 3,1-5)! Os apocliptcos os enquatam denere os opresores (Daniel 7-12). Vora: era 0 impeto conquistador persa. Nao lhe bastouta tomada do antigo oriente, incluindo o Egito, Scus avancos se dii- giram & Europa, a Gré 10 pode impor (em 480 aC. se ddeu um importante conftonto seu poslerio bélico tivesse sido inusitado, Este confronto com a Grécia,afinal, no 6 afastou a estes, mas os trouxe para perto, par exemplo na especial relagio que os gregos passaram a ter com 0 Egito ¢ os muitos con- tatos comerciais que os fenicios vieram 2 consolidar com a Grécia ‘Afinal, os gregos ilesos da ocupagao persa, puderam fazer ii em pleno 5° século, suas relagdes comerciais com os identais das possessdes persas, entre elas 0 terit6rio jue daita. Neste sentido, os gregos chegaram A Palestina bem antes de Alexandre Magno, com suas conquistas 20 redor de 330 a.C. Sua chegada tem a ver, em parte, com a de suas mercadotias, por exem- plo sua multicolorida cerdmica, e, principalmente, com a pressio escravocrata sobre os jovens palestinos (veja Neemias 5,1-5; Joel 3,1-2; Isafas 24,1-2). Eis, um dos temas centrais ja de tempos pis- persas: a escravizaglo, 7.2 - Identifico trés momentos diferentes da atuaglo da cul- tura e da sociedade judaitas em tempos pers. ‘J nos referiamos ao entusiasmo com que se peroebe a pre- senga persa em Déutero-Isaias(Isaias 40-55). As esperancas era intensas para os exilados sob a Babilénia. Poucos decenios depois temos outras expectativas na terra, cm Jerusalém ¢ Judé, expressas por Ageu, Zacarias ¢ Trito-safas (saias 56-66). Elas sfio muito mais criticas e contestatérias a0s persas. Podemos dizer que esta visio prevalece a partir de 538 até tempos de Neemias e Esdras, aproximadamente em 420 aC, prin- cipalmente entre judaitas remanescentes. Nio parece que a re- construcéo do templo, reinaugurado em 515, tenha alterado pro- fundamente as condigdes na Palestina, porque os muros de Jerusa- Jém ainda continuavam demolidos. $6 no perfodo final do 5®século, duas medidas vieram a im- pactara vida na Palestina: o reenguimento dos muros de Jerusalém (quer dizer, a reurbanizacfoda vida jerusalemita) e, passo a passo, da vida judatta interiorana. A vida volta a se estruturar poltica- mente, agora sob a hegemonia do templo e de seus senhores. Esta serd a realidade nova que se implanta sob 0 4° século, af ainda no ol hhegemonia sobre 0 Nilo, o descontentamento gank restante do império. Eclodiu por ocasifo da substituigo de Cam- es, que morre em 522, sem deixar filhos. Seguiram-se alguns anos (522-520) de lutas internas pela sucessio. Digladiaram-se 522-486 a.C.), que desde em diego 13.1-A «fo babildnica ido em redagbes mais recentes ‘que a volta era rte intetessantes. Penso que se pds o decreto de 539 nada aconteceu quanto 20 cios disso. ‘mente, em 527/6 a.C. Mas, eram poucos os que empreenderam a Certamente, as expect superiores & lidade que aguardava quem che; vinda de Neemias e Esdras (mais ou meno foram as mudangas havidas na ex-cidade ca 73.2 -Na verdade, € a sucesso de Cambises 0 novo despertar em Jude Jerusalém, e,nfo,odecretode Cir. s apressado do Egito, Cambises more a Neste ambiente situa-se a agitacko de Jerusalém e o anseio de Zorobaby tias e Terceiro- Algo novo esté acontecendo, nescentes, a grande almente entre os rema- ‘Alguns haviam Mas decisivo bai profundas transformagées, em novas realidades, que vao além do que experimentaram até ai. Para Ageu, a natureza se transformard € mais anos (v € antes apocaliptica. Trata-se de transmutaco da hist6ria, Por isso, as pessoas se langam a um novo projeto. Nele, é iva a esperanga por um novo bem-estar, uma natureza farta e abengoada. E, junto a este encanto pela abastanga que tomara con- 6 En Ageu 30 ¢ lancar-se a um novo futuro pés-exiico, dentro de ios de nova cultura e inovagdes socias. Bisa transformacao para um novo tempo. judaita, com a adesio de alguns que re- em tomo de 515 a.C,, mpo, porque 0 pés-exilio odo templo de 515 a.C, Entendo Age € penso que as memoris a repe de fat 4a de520-515, qual or motivos de evitar o colaboracionismo com os per a presenga dos samaritanos. © segundo templo, por mais que inclua os leigos, separa-se, ao menos em certos setores socais, los samaritanos, porque st tica anti-persa, a verba posta 2 Asposicfo pelos persasparaa estauracéo do templo, A luzde Ages € Zacatias iso € pouco provavel. 1.34 Pouca relev As guermas entre persas e gregos, na p ‘Sabemos de sua decisiva importane 06 , inclusive, podemos aquilatar 0 6 por mar. As estratégias gregas ‘Tam seus exércitos, numet presa ficou documentada passa a ser de grande impacto para escravidao, Este assunto se encontr ‘mento pés-exflico como signo antay nascedouro de Israel, no Egito, de onde lente para que deixasse de ser escrai a de angariar escravos entre os hétharas, entre os es- hos aos quais pretensamente faltava cultura e soc e labutavam meio ao Antigo Oriente Préximo, este jeito de vida ndo era oalvo. 66 contempordnea. Hi qu a guerra dos macabe clade. E assim que ha que comemorar Massa bbéma cruz de Jesus. As cruzes sfo embates pode estranhar porque, afinal, bem que gostariamos de ver a dade vencer & moda grega. Mas, na cultura biblica ela vence de pés-exilio, Citem: £ muito surpreendente que Agar ocupe um lugar ia de Génesis 12-25. Os caps.16 ¢ 21, dedicados a Jo como empenho daque- to digno para a mie Ambos sem divide, Go recentes, pés-exillcos ¢ tardios. Ambas as est6rias sfo refinadas quando se trata de percebé-los dentro de um senso de liberdade e dignidade. Pensemos no livro do Cantico dos Canticos. Afinal, seu te- 25 ja ans Wales Wo, Ample do Ang Teton, wat de Ain Si, Deus Des ue, So Pol, Eigies 67 fem educa para as 60 que oC: 1a de cumprir a k ra era justamente um dos der O resgate desta lei € 0 tema em q ximidade! A proximidade das tradigées j daa perceber a insanidade da escravidao. 8 - Ainda sob os persas: Neemias e Esdras — Jerusalém e Judé em nova conjuntura foram apocopadas pelos persas de Davo. Ao invés de um novo (Ageu 2,23 e Zacarias 4,1-5, vejaIsaias 61 referéncia aos persas na seus cavalos (para manter li 'sfuncionsrios comecaram ase implantar na Palestina, para exit palécios da administragao pe tal palicio persa para desprotegido de is o indica. E, no mais, o povo camponés tratava de viver ando de cair na matha da ‘ano judatta (veja o livro de Rut As condigSes mudam sob Neemias ¢ Esdras, no final do 5® séculoa.C. J sob os macabeus, no 1° século aC,, consderando que boa parte da populagao da regio cor a. tinhos mais seguras que os do deserto de Beerseba no sul portanto, nas terras ic s, eam os caminhos por terri- novamente apto para o com: Moabitas ¢ amonitas, a leste, se opdem a ed de Petra, Néo lhes incressay vilegiado e seguro como o de Jer: de Jafo, e a meio caminho para a Samaria. Esta opo de Neemias nio s6 veio de fora, das aut rnhos, mas também de dentro, em espe tas sem vinculos maiores com caminhos comerciai Para confirmar esta explicaco para as novas cite! em que Juda e, em especial, Jerusalém foram colocados pelo mércio das espe lade Estamos, pois, no ambi redacio deste cap.25! Neemias ¢ Esdras tém sua origem nas populagdes deporta- das, que permaneceram nas terras para onde foram levados e af assumiram suas tareias. Sim, como jé dizfamos, poucos terdo sido Jerusalém. Pois, se tivessem voltado, a néo teria permanecido por tanto tempo em rut nas! A maioria deve ter permanecido na Babildnia, porque en- quanto haviam vivido no exo, durante 06 século, tando e apés a vit6ria persa aquelas terras babildnicas, que origi nnte Ihes pareciam completamente indspitas, foram tomnan- po Ivez até prefertvel quando comparada a vida difcil pré-urbana nas teras judaftes. A didspora babilénica inclu- pode ocupar postos importantes da administracao persa, como se vé em Neemias. Nao era, pois, to ruim estar na didspora, ape- sat de tudo. Contingentes sempre maiores de judaftas foram op- tando por esta alternativa, no pés-exilio, seja na Pérsia, ou no Egi- to ouna Asia Menor. Ainda que esta dispersio enfraquecia an nutencio das condiges palestinas, a alianca entre uns e outros, a ajudar @ 0s uma tal entreajud nescentes na terra mal")r‘ah gedolah. Neemias obtém do prépri imperador a licenca para se afastar de seus afazeres de copeiro na corte para interferir nas teras de seus antepassads ivro de Neemias € aut relato. Ele nos conta em primeica pessoa as medidas que Neemias tomou para sua obra em Jerusalém, Basicamente havemos de reconhecer a antigtidade deste lato de Neemias, referente a suas agées em Jerusalém em tomo de 420 aC. Ha que recordar aqui que o império persa esta organizado de modo complexo, em provincias. Nelas vale a autoridade provincial persa. Ora, Jerusalém e Judé sfo parte da Transeufraténia (da Siro- B Jerusalém reedi- a Juda formalizada com entidade politica. Pois, com a ncorporar mais dos estes ram da oposig&o a Neer Neemias se restringiu a uma tarefa concreta: a restauragio alos mutos de Jerusalém. Os vizinhos e concorrentes em te maritanas ¢ amonitas € 0 porque, ainal, nao lhes inte- ressava concorréncia. E nem a todos os vinda, porque interpunha, novamente, um centeo urbano em meio Aauto-organizagio, em meio a cujos pardmetros se vivia a decénios, sim, séculos. Por exemplo, a populagio de Técoa (terra de Amés), aquela aldcia judaita a sudoeste de Jerusalém, 4 beira do Deserto cde Juda, se opds as tarefas de restauragao dos muros. Tais muros no lhe interessavam! Anda assim os trabalhos organizados por Neemias progredi- ram rapidamente. As brechas nas muralhas f © 0s portdes que haviam sido queimados® foram recolocados. En- inte dos iminentes assaltos dos vizinhos: direita" (Ne 4,17b). A obra em nada inte- woAnenzenalRIBLA. Pe LeopldeSto Paulo, Ere Verne Sidaingrensa Metis, ve 316,199, past favorecido este processo es colocou 0 dedo na feria. Os filhos eas un comprometidas a pa- com sua venda como escravas e escravos, para saldar as divi- contraidas: “somos obrigados a entregar nossos d0” (¥.5). Os judattas mais ricas (veja Ageu a quem interessavam escravas ¢ escravos. Sob Neemias, houve um perdao geral das dividas. Mas, en al perddo ajuda a quem est, no momento, em circunstancias diffces, nfo alter que vinha do ocidente, sobre a qual o Cantico dos Canticos sua imprecacao: “se alguém desse toda a posse de sua casa pel amor, certamente seri desprezivel” (8,5). De todo modo, a0 met cado da escravido, interessam os ovens e, em particular, as meni- nas-mulheres. O muro que Neemias consti traz & tona também as dores, o “grande mal” que a sociedade ja est vivendo, neste final do 5® século, Em Neemias 9,34, afirma-se, no final de uma longa reflexio-oracao: “hoje, ‘somos escravos”, A restauragio dos mutos, na rapidez de algumas semanas, teve fundamentais repercussses na vida na regido e para Judai/je- rusalém, Volta a haver mais identidade. A integeagho de Juda nas populagées sob dominio persa na regio era mais ou menos acami- rho 6bvio para as populagbes dominadas. Passo a passo seriam as- similadas, pelos senbores da dea, por exemplo, pela escravizagio. O simbolo externo de uma cidade, com sua identidade propria, da qual logo falaremos (lei de Esdzas), passa a ser um diferenciador. Os adversérios da restauragio do muro sabiam disso. Ressurgem, as sementes de um camino proprio para jeru daitas, E iso aconteceu. Mas, af esto os limites para estas medi- das que, afinal, foram pensadas no Ambito cortesio e receberam 0 apoio do senhor imperador; as medidas se situam dentro de pari- imettos usuais. Continua a pensar-se a vida do jeito senhorial. Neemias realza a tarefa para a qual se viu compungido e volta as suas tarefas junto ao imperador. Ble nfo passa a viver na cidade, ccujos muros poe em pé. Portanto, a obra de Neemias (e a de Es- ddras) nfo podem ser absolutizadas, mas requerem uma interpreta- co na tenstio com as mies que reivindicam a liberdade de suas filhas ¢ de seus filhos a caminho da escravido, ou de uma Rute na {uta em prol de leis que interessam a0 povo. 83.2 - Algo similar hé que dizer de Esdras. Entendo que sua obra de releitura da lei, de ressignificago da Biblia emexgente seja imediatamente postetiot, em parte talvez concomitante as ages de Neemias. A tradicZo posterior antecipou Esdras a Neemias por razbes de valor: a lei de Esdras parecia mais central aos editores da Biblia que a agio do leigo Neemias. Historicamente hi de ter sido o inverso. atwal livro de Esdras se refere em seus caps.1-6 ainda 20s tempos de 520-515 a.C. Poderia parecer que o conjunto dolivzo se estivesse referindo zos mesmos epis6cios ce aproximadamente 420 4.C., quando da atuagio de Neemias. Mas este no € o caso; deve- mos distinguir claramente entte os dois momentos: nos caps.1-6 a inauguragio do templo (515) e a acdo de Neemias e, em seguida, de Esdras (caps.7-10). Historicamente, haveria que matizar me- thor a autonomia entre as agoes de um, Neemizs, e de outro, Es- dras. Trata-se de fendmenos similares, mas nfo necessariamente interlgados. Afinal, Neemias é uma aco da corte real oestabele- cimento de mais um ponto comercial da regifo siro-palestinense. Esdras € de outra ‘mais distante do imperador ¢ mais vinculado ds questdes comunitarias proprias da gente jerusalemi- tana e ju A origem de Esdras ¢ sacerdotal, como o realga 7,1-6. Mas, sta agio em Jerusalém nfo é de cunho sacerdotal. Sua énfase’ € aquela que os exilados ea prdpria digsporajudaita havia elaborado naqueles séculos de vida longe de Jerusalém, quando inc sactificio tampouco ia bem, como lemos em Mi 16 tes um certo desinteresse pelo sacrificialismo. Acontece que o jue daitismo tornava-se pelos decénios, mais ¢ mais, uma religiéo da lei, dos problemas sociais como os vinculados a escravidao dos jo- vens (Neemias 5). Numa linha claramente profética, a religito de Esdras fica préxima da énfase ética que os profetas the haviam Imposto, criticando arduamente os sacrificis e os templos que os praticavam. Nao que Esdras fosse marcante ¢, digamos, unilateral, como profetas que frontalmente condenaram o templo (veja Jere- rias 7), mas, em tendéncia, ea o ético que lhe importava Parece-me que a agio se foi decidindo em meio & propria didspora, Nio 6 ago do estado; isso antes é um reflexo dos textos de Neemias sobre os de Esdras. Uma frase como a de 7,26 (de Esdras exigir ocumprimento da lei de D drei”) muito bem pode fazer parte das releituras sobre Esdras. Este vem da comu- nidade dos da didspora que celebram a lei eos salmos, aos sAbadbos. Tras presentes ¢ donativos destas comunidades na disperséo, comu- nidades bem estabelecidas, em centros comerciais do préspero im- pério persa. Desrecomendo que, historicamente, aproximemos Es- chras demais da corte do governo. Légico, também nfo se trata de negar a sacrifcialidade, mas de conté-la em seus devidos contornos. final, quem fosse a Jerusalém Li também sactificava, se bem que {sso nfo sucedia no cotidiano da vida na dispersio. Eo que se perce- bbe fortemente nos Salmos de subida a Jerusalém em 120-134. Basico em Esdras €, pois, ali, aefetivagdio da torah, em Jeru- salém e em Judi, Esta sociedade passa estar inserida, através da cidade reedificada por Neemias, no mbito das atividades comer- ciais das cidades da regido, isto &, das cidades filistéias, de Samaria eda Tiansjordénia. Mas, esta cidade de Jerusalém ¢ a sociedade de Judé s6 se podem inserir neste convivio social, caso mantenham 0 cumprimento da lei estabelegam sua propria identidade. Por exem- plo, a insergio ndo pode acontecer as custas da escravizagio dos jovens (Neemias 5!). Entio, nfo basta uma lei genética, um dife- renciador nfo efetivado. Precisa-se do cumprimento da lei para poder ter presenga social. ‘Um papel importance desempenha, por exemplo, o jejum (Esdras 8,21) e a peniténcia (Esdras 9,3). Mas a lei mais decisiva nados) com o de Neemias (10,31-32). E 0 assunto que marca 0 debate com setores judaftas que estavam se vinculando ao comér- sj estavam em conexdo com setores amonitas © moabitas, in- ive por vinculos de casamento. Ba estes aspectos que Esdras (e de uma desaut trangeizos! Ma do livro de Rute e as alegres incerconexdes com estrangeitos, por exemplo, em Genesis 25. Ai ainda temos questdes a debater, para poder aquilatar melhor em que medida as determinagdes de Es- das so compativeis com as profundas amizades que 0 pés-exilio ;ona com estrangeitos (veja Jonas)! 83.3 - Asagbes de Neemias ¢ de Esdras introduzem impor- widades na sociedade judaita. Restabelecem a segunda le que terd, até sua destruigio em 70 d.C., na guerra dos ma- Kdeportagio passa a ter relevancia Judé/ferusalém jé no s6 depen- cabeus. A didspora ou a nos acontecimentos n dem de si, m diss preparar-se, de modo mais adequado, para os dias vindouros: oassaltoescravagista eonivela- mento comercial, a0 qual os gregos querem submeter a todos. A guerra dos macabeus esti comegando... 9 - Continuando sob os persas: mais aspectos das condigdes de vida A comunidade judattae jerusalemitana se organiza de modo cada ver mais formal. Ainda prevalecem neste 4° século (aproxi- lamente 420 até 330 a.C., incluindo af ainda 0 3° século) con- ies wibais de vida. E verdade, o sacerdécio jerusalemitano am- sua influénciae tende a ser orepresentante judatta em negocia- ges com os persas e depois, no 4° século, os prolomeus do Egito. Mas as condigées familiares e tribais de vida ainda so hegemdni- cas e nfo esto substituidas nem por inst’incias mondrquicas e nem por condig6es colonia. Afinal, desde 587 a.C. pouco se havia al terado em termos de condigées sociais na Palestina.” Mas, no contexto deste 4° ¢ 3? séculos tema ragdes que sio de releviincia. te. 9.1 - Uma deste ss marca os Salmos: a pobreza ex- tremada em que importantes segmentos da populagiio so lanca- dos. O mesmo assunto temos na continuagio dos Salmos, em Jo! Afin nenhum livrona Escritura que de tal forma se con- some em solidariedade com as pessoas empobrecidas, particular. ‘mente com gente sem alimento e contorcida em doengas. Profetas do8? século jé enunciavam a espoliagfo social de modo insistente. Assim o fizeram Ams, Isaias e Migutias. Mas, verdad, so 05 Salmos o livro dos sofredores, este memorial maior das dores. Os profetas do 8° século tendem a situar-se a0 nivel do escdndalo que estas realidades dos empobrecidos constituem em meio a Israel » lane Kippenbrg Religie forma elses na eg ua, S80 Paul as, 1068 Edger (Amés 2, verdade, mas so os Salmos que mais massiva- mente, de salmo em saln 0s pobres, tendem a vi proprio corpo como a propria Escritura proced tragéis, de miséia de pobreza Esta 'profeca!pos-exfica nos agente na Jerusalém e na idemtficar estas condigées de vida extremamente extos dos Salmos. A titulo de exemplo 1¢30 em Salmos 120 até 134.” plo para Ié participarem das festvidades desta segunda- Jerusalém est esmagadorumente em desespero. Fica sabendo desde logo no Salmo 120 que de imediato se propée a flechar os adversétios. A dor leva ao sonho da flecha certeira! Con ‘0s demais salmos destes peregrinos, pois d Bes como de escravos foragidos de seus Perigos sociais, fame e desmanche de fa ‘vio 0s peregrinos em busca de se em busca de ajuda para ver como sobreviver. storia dos empobrecidos, mulheres e homens, os profetas sio 'S6’ 0 comego. Os Salmos e J6 superam-nos em dorese ‘na percepgfo da miséria humana. Hoje, jf so pra li de um bilho de pessoas! 9.2 - Fste contexto, a meu ver, também pode ser percebido através do estudo do livro de Levitico, especialmente nos caps-1- in odoquese Mas, é, no pés-exfio, que a enfermidade contagiasa se (veja.o evangetho de Marcos). Por u da miserabilidade em que se encontram a que consta, a lepra é, em boa medi tic Nios pois, acaso que justamente textos atengt immpério persa gers da vida. ldo €, pois, acaso que a didspora crescia. Mt m especial para o Del xandria, E outros tants se espalhavam por muitas terra, porque 0 dominio sobre a Palestina crescia no final dos tempos persas ¢ no advento dos gregos. Na Palestina, a marginalidade dos pobres era a marca registrada da cultura, da vida cotidiana. proporgiio que os compos adoeciam, 2s pessoas se punham a ser criativas para sobreviver. © livro de Rue tempos apés seas ¢ Neemias, no final do 5® séeuo, Pos nel se propaga a propos de que anda i chances de sobnevivncia na medida em que se volta 2s les, lei do dieto 2 tert, direito da vitiva (de Noemi). A lei é espaco de vida sobrevivente, apes de todas as rufnas socias, de doengas que artastain 3 morte le esquecimentos que se dio entre a gente que esc gente que parece estar esque AAtubalidade ainda anda funcionando,sebem que precatia- mente. O livreto de Rute propie sua retomada. Os Tacos familiares precisa ser mantidos par a Jufzes. ois, ¢ isso que importa: ativar | a vida de empobrecidos e arruinados pe dos tempos persas e do comeco da presenga grega, 9.4 - Mas, a maior inovaco pés-exilica, aquela que, a meu ver, se tora sua grande surpresa e que, até hoje, nado ramos: decisivamente na visio do Primeiro e nem do Segundo Testamen- to, €a literatura sapiencial que jorra, com entusiasmo incomum: € sem precedentes, nestes tempos do 4° e 3° séculos a.C. Estes ‘materais literéios inovadores nos do um acesso surpreendente a grupos sociais eintelectuais da sociedade judatta, dominada pelos persas e ameacada pela escravizagio e homogeneizacdo grega. Tais srupos de sdbios jé estavam af, pelo Primeizo Testamento afora, 23 Via Cech! von Rad Ta do Ang Tsonero ~ Teli ds tra sal So Paulo, ASTE, vol, 1914, vf en cpeilp. 394-424, feuktchener Vag 1970, 306 ia Unestudo dos ellie, Sto Lecpldo, arlade de Tolga 200 ainda ing. 2 mas 6, no pés-exilio, que seu encanto se impoe. A Hist6ria da Su- cessio de Davi, em 2Samuel 6 até 1Reis 2, profetas como Amés ¢ pés-exilio tardio, que estes sibios con série de livros que estabelece sua autonomia. Pelo primeira literatura neotestamentiria sobre Jesus de Nazaré igual- ‘mente privilegiou a sabedoria, na assim chamada Fonte Q™ teratura a vida cotidiana é 0 assunto decisivo, nfo a 40. A sabedoria nfo € historico-salvitica. E cria- ir constituindo uma vida stbia, através de provérbios, exemplos e reflexdes. A preocupagiio deixa de ser 0 monojavismo como paré- retro para solugées. Os brotos sapienciais brotam da reflex, da bservagio e da cotidiana intervengao na vida. Estes encaminhamentos sapienciais sto antigos ¢ Primeiro “Testamento comparte af uma visio mesopotimica da vida. Em parte também egipcia. Mas, 6 no pés-exilio que eftculosjudattas elabo- am os encaminhamentos de modo muito féxtil e dentro de visio ‘muito peculiar A coleco dos Provérbios em parte nos coloca em 0s antigos, em especial alguns capitulos (caps.16-2: uttos estio nitidamente nestes tempos pés-exlico tardias, como 108 caps.1-9 ou 10-15, ow os finais, que provém de povos vizinhos (caps.30 e 31). Os ensinamentos de vida formulados, nestes Pro- vérbios, tém 0 valor neles mesmos, muito mais do que em Javé. brilho que merecem é aquele que emana de suas sabidas formula gOes que captam a vida e a poe a caminho. Em J6, €verdade, temos teologia no comego (caps.1-2) eno final (caps.40-42), se bem que nao diria tratar-se ai do melhor da teologia. No mais o livro de J6, além de provir de fora de Israel ¢ Judé, como parte que é da literacura internacional da época, per- rite-nos perceber que Judé arrisca em sua teologia. Na sabedoria, Raia Tnerpesto Biles Lato. ArercanaRIBLA, Perel, il 22 (Ceitansma origin 30-704C), 1995, 18tp. 34 Areseiy tora Vos, 8 FF. ro se repete, mas abrem-se brechas para encontrar noves saidas para a teologia. A gente até se sabe lembrado de Socrates e de sua defesa no pracesso de condenacio 8 © Cintico dos Canticos (= Cantar dos Cantares) é um livro muito surpreendente, e precisa ser mencionado neste contexto de persa e grego. Nele se nos prol do amor e da paixao como serilo 0 melhor da vida, de longe superior a0 controle e a opresséo da mulher Eclesiastese Jesus Siraque (= Eck pleno 3° século a combinam quanto & sua perspectiva. A\ busca uma safda para a vida Siraque, muito mais conservador em seus pr ‘modo, a sabedoria em sua cifncia da vida se va dente com suas propostas de q saber basta para entender a estupides da mira ¢ da escravidéo. Af temos 0 que o pés-e ra de ver a vida celebrada altares relgiosos e das tadig6es btblicas O mais importante certamente sio as sinagogas, Dura-Europos, as margens do rio Eufre ais terfo comegado a existir por mu 1s partes. Como no geral 35 Vj Pla, Apia de Series, auto de Es Paul, Nova Cura, 199 0 Cover ede Mires Coens, $0 84 , esta historia das sinagogas, nestes séculos finais do snto. Mas clas 36 Va Mercles Lpes A stds sche mer celebrado com énfases diferentes em diferentes lugares. Os textos p6s-exilicos, de modo algum, so tio uniformes que nao percebés- semos estas tonicas distintas em relagao as mesmas tradicdes. O. javismo de modo algum era uma religio mondtona, toda ela, diga- ‘mos, perflada em torno de Esdras e Neemias. Era araplaectiativa. ‘Nao € acaso que a criativa religiao neotestamentiria surja em seu {mago! Nem tampouco que o faisafsmo inovador se tena trans- Entendo que, nestes tempos persas e gregos, criativo em seus diversos segmentos. Néo fosse assim, niio teria suportado 0 avassalador avanco seléucida, dos gregos da Sitia, 10 - Os macabeus — solugées e limitagdes Os macabeus se constituem nestes dois tiltimos séculos do como o acontecimento fundamental, tanto as solugSes que apresenta quanto em relagio aos gran- Seu evento decisivo, porque soluciona e, emre des problemas que ‘como que, aumenta o proprio problema, cuja solugéo constitu. inal, a revolugao é desenvolvida por sacerdotes. Alcanca, pois, a sociedade de modo representativo, mas traz embutido os dilemas de uma sociedade reagrupada sacerdotalmente. 10.1 - Os seléucidas da Sfria eram um dos grupos herdeiros idado por Alexandre Magno, quando partir de sxando as terra feniciasefistias, depos os eg- cios e, por fim, os pers, chegando em suas concquistas até a Em sua morte, lo entre seus gene rais, cabendo a Sfria a Seleuco € © Egito, incluindo a Palestina, a Prolomeu. Como os prolomeus tendiam a se concentrar no Egito, que lhes ficava um tanto distante, no lhes interessava tanto, De outro modo se comportaram os seléucidas. Para tal hd que entender que o contexto hist6rico, em que estes seléucidas desdobravam seu dominio, era peculia.E isso tema ‘a ver com 0s romanos. Em 200 a.C., os romanos ‘solucionaram’ uma questdo que os estava mantendo conectados a0 ocidente mediterrineo. Tratava-se das disputas com Cartago (do norte da Africa) pelo controle do Mar Mediterraneo ocidental. Em. 200a.C., Roma destroi Cartago. Seu interesse, agora, ruma ao oriente. A Grécia rapidamente € conquistada. E, com isso, os romanos tém. cline de sios seléucidas como préxima meta no norte do oriente. es estes mesmos sl@ucidas se endividam em guerras, na Mesopotamia e na Asia Menor (na atual Turquia). Buscam, pois, 7 fontes, a partir das quais pudessem financiar sew estado e sua es ide, Atacaram os ptolome’ quem aderisse as p sucedeu no interior. Em uma pequena ¥ subida das montanhas judaitas, agentes 0s decretos de Antioco. E fo ta passa a ser designada a (ou dos macabeus). A lideranga estava com Matatias, o sacerdote de idade avangada. Jéem 166, € sucedido por Judas ‘vam envolvidos em seus assaltos de saque, agora e fi thos da f¢ javista. Nem todos foram to radicais; grupos 1ente vo resultar nos fariseus mantinham o direito ntfinea e nem tio inocente ‘no comego, quando de Matatias ¢ Judas. Emergia uma monarquia. E sob mais outro filho de Matatias no poder, de nome Simfo, celebradissimo em Jesus Siraque 50, cresce a zacdo, A partir deste Simo, os macabeus/asmoneus V0 a cada vez mais, categorias da opresséio, O movimento da libertagio ¢ liberdade vai enveredando pelo seu contrério. Este ambiente vai destas condigdes hi que matizar os detalhes no contexto neotesta- mentétio, Por isso, conclufmos aqui.”

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