You are on page 1of 4

FICHAMENTO DE LEITURA

DISCENTE
Nereu Antonio de Costa Junior
Mestrado - Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR)
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GOODMAN, D. The quality ‘turn’ and alternative food practices: reflections and agenda.
Journal of Rural Studies, v. 19, p.1-7, 2003. DOI: https://doi.org/10.1016/S0743-
0167(02)00043-8

SÍNTESE

O artigo escrito por Goodman (2003) trata sobre a “virada” da qualidade


associada à proliferação de práticas alternativas de alimentação e redes
agroalimentares alternativas (AAFN, na sigla em inglês), que operam à margem dos
principais circuitos alimentares industriais, principalmente em estudos rurais e bolsas
de estudo de AAFN.
Para entender a “virada” da qualidade nas práticas alimentares é preciso entender
conceitos-chaves, como o de incrustação (embeddedness), confiança, lugar e suas
variantes, que servem como pedras conceituais a serviço de análises empíricas de
práticas alternativas de alimentação, mecanismos institucionais de governança e
política rural e o potencial das AAFN como motores do dinamismo econômico rural.
O autor (2013) atenta para a falta de congruência entre vários pontos entre as
literaturas norte-americanas e europeias. Enquanto a pesquisa norte-americana dialoga
com círculos ativistas, acadêmicos e leigos, preocupada com o status oposicionista,
que contestam os sistemas agroalimentares industriais tradicionais e o complexo
tecnocientífico agrícola hegemônico, e o potencial transformador sociopolítico das
AAFN, cuja questão central é a capacidade de arrancar o controle do agronegócio
corporativo e criar um sistema alimentar doméstico sustentável e igualitário, a
pesquisa europeia concentra-se em mudanças institucionais incrementais, dentro de
um amplo debate público sobre segurança alimentar, reforma da política agrícola e
trajetórias contestadas da economia rural e da sociedade, é dirigida aos formuladores
de políticas, em especial a re-orientação da Política Agrícola Comum (PAC) e fornece
os elementos para a defesa das AAFN como a expressão dinâmica e inovadora do
"novo" desenvolvimento rural.
Embora essa visão geral não faça justiça às análises complexas e matizadas das
AAFN encontradas nas literaturas norte-americanas e europeias, suas diferenças
podem ser representadas, à grosso modo, em termos da ênfase relativa dada a essas
novas formas organizacionais, por um lado como portadoras de mudança política
transformadora e por outro, como exemplares de um modelo institucional alternativo
de desenvolvimento rural.
Na segunda seção do artigo, Goodman (2003) apresenta trabalhos coletados em
um workshop chamado Perspectivas Internacionais sobre Redes Agroalimentares
Alternativas: Qualidade, Incrustação (Embeddedness), Biopolítica, realizado na
Universidade da Califórnia, Santa Cruz, em outubro de 2001, motivada pela crescente
proeminência de alimentos de "qualidade" e inovações institucionais associadas,
incluindo venda direto, cadeias curtas de fornecimento de alimentos, sistemas
alimentares locais e práticas alimentares artesanais e cozinhas regionais. Os
colaboradores foram convidados a interrogar os conceitos operacionais implantados
em estudos locais de casos de práticas alimentares de qualidade, explorar os novos
espaços biopolíticos que estão sendo criados pela “virada” da qualidade, e para situar
esses desenvolvimentos em uma tela internacional mais ampla.
As principais categorias analíticas para explicar a “virada” da qualidade,
embeddedness e local, são construções cujos significados materiais e simbólicos são
vigorosamente contestados. De fato, é precisamente a dificuldade de decifrar esses
significados e sua complexa expressão no comportamento social, formas
organizacionais, discurso e relações de poder que define o desafio teórico e empírico
apresentado pela 'virada' da qualidade nas práticas alimentares. Um dos exemplos
apresentados é o Comércio Justo (Fairtrade), que também é construído sobre um
imperativo transformador, emergindo da política de esquerda e movimentos
internacionais de solidariedade nas décadas de 1960 e 1970 como um projeto para
desafiar e deslocar canais convencionais do comércio internacional.
Os trabalhos reunidos na coleção abordam a configuração de redes alternativas
agroalimentares e convencionais em diferentes escalas geoeconômicas e geopolíticas,
utilizando conceitos operacionais extraídos principalmente da sociologia econômica e,
embora menos proeminentes, de outras teorias de rede. Esses variados locais espaciais
enfatizam que a embeddedness das AAFN, mesmo em suas expressões locais
quintessencial, é emoldurada pela interação dinâmica com processos e atores extra-
locais, sejam múltiplos multinacionais de varejo ou regimes regulatórios
internacionais. Essa consciência convida à análise crítica da economia política dessas
formas econômicas emergentes, sua integração em escalas maiores e papel na
reconfiguração das trajetórias do desenvolvimento rural.
Por fim, na seção 3, Goodman (2003) apresenta temas para novas pesquisas
futuras retiradas a partir da oficina discutida na seção 2. Por sua centralidade
conceitual, a noção de embeddedness requer uma minúcia maior na literatura de
estudos rurais.
Krippner (2001, p. 775) argumenta que esse conceito foi implantado de forma a
privilegiar um único aspecto da vida social — o impulso à conectividade — que para
fins analíticos é examinado isoladamente da ampla constelação das forças sociais. Um
risco é que novas formas econômicas localizadas são vistas acriticamente como
precursoras de uma economia associativa em virtude de sua desincrustabilidade nos
laços interpessoais de reciprocidade e confiança. No entanto, o dualismo implícito
nesta formulação enquadra tais laços em termos unidimensionais, obscurecendo as
desigualdades sociais e as relações de poder em ação nessas atividades.
Sayer (2001) critica a literatura sobre embeddedness, as redes e a confiança como
um brilho cultural que legitima 'um tratamento mais suave do capitalismo. A
incorporação de práticas econômicas nas relações de confiança ''é frequentemente
adaptada às pressões do sistema das forças do mercado,... pode ser instrumentalmente
construído para proteger a busca do interesse próprio... [e] muitas vezes envolve
relações de dominação, algumas delas baseadas em gênero, classe ou raça'' (p. 698).
A crítica de Gregson et al. (2001) de análises instrumentais do meio local, a
incorporação e as redes ressoam fortemente com sua implantação na pesquisa da
AAFN. A valorização espacial é a dinâmica da abordagem ''economia da cultura' de
Ray (1998) para o desenvolvimento rural, infunde análises de cadeias de fornecimento
de alimentos curtos embarcadas e outras AAFN e é a base de alegações de que essas
formas e práticas econômicas inovadoras representam um novo paradigma de
desenvolvimento rural (Ploeg et al., 2000; Marsden et al., 1999).
Finalmente, o foco assimétrico da pesquisa sobre as AAFN e a “virada” da
qualidade na produção nos circuitos agroalimentares levou à grave negligência do
consumo, ''com os consumidores lançados em termos estratificados, de pesquisa de
mercado, sem 'agência' ou práticas cotidianas significativas'' (Goodman e DuPuis,
2002, p. 9). Essa omissão é ainda mais gritante na medida em que a expansão e a
reprodução das AAFN, por definição, dependem de sua capacidade de reconfigurar as
relações produtor-consumidor. Conceitualmente, isso exige que os consumidores
sejam reconhecidos como parceiros ativos e relacionais na transformação das práticas
agroalimentais.
Esses pensamentos sobre temas futuros de pesquisa exigem um escrutínio mais
crítico dos conceitos-chave, maior interação com debates paralelos em sociologia
econômica e geografia econômica e maior atenção analítica ao consumo e aos
consumidores, apresentados como sugestões construtivas na expectativa de que a
literatura vibrante sobre AAFN e “virada” da qualidade continuem a estender seus
compromissos com a teoria social, comunidades ativistas, diferentes circuitos
agroalimentares e círculos de políticas rurais. Os trabalhos que seguem exemplificam a
promessa desse novo terreno para estudos rurais.

CITAÇÕES Pág
The ‘turn’ to quality associated with the proliferation of alternative agro-food
networks (AAFNs) operating at the margins of mainstream industrial food 1
circuits has stimulated a significant body of research...
Embeddedness, trust, place and their variants continue as the conceptual
touchstones but in the service of empirically grounded analyses of alternative
1
food practices, institutional mechanisms of rural governance and policy, and the
potential of AAFNs as engines of rural economic dynamism.
In a nutshell, North American research typically is in conversation with activist
circles, academic and lay, and is concerned pre-eminently with the oppositional
status and socio-political transformative potential of AAFNs, whereas European 1
research focuses more strongly on incremental institutional change and is
addressed, explicitly or implicitly, to an audience of policymakers.
These policy debates, and the frictions and resistances they engender, provide the 2
mise en scene for the advocacy by some European scholars of AAFNs as the
dynamic, innovative expression of the ‘new’ rural development.
Embora essa visão geral não faça justiça às análises complexas e matizadas das
AAFNs encontradas nas literaturas norte-americanas e europeias, suas
diferenças podem ser representadas, à grosso modo, em termos da ênfase relativa
2
dada a essas novas formas organizacionais como portadoras de mudança política
transformadora, por um lado, e como exemplares de um modelo institucional
alternativo de desenvolvimento rural, por outro.
The principal analytical categories marshalled to explicate the quality ‘turn’-
quality, embeddedness, and the local—are all constructs whose material and 2
symbolic meanings are vigorously contested.
Indeed, it is precisely the difficulty of deciphering these meanings and their
complex expression in social behavior, organizational forms, discourse and
2
power relations that defines the theoretical and empirical challenge presented by
the ‘turn’ to quality in food practices.
Fair Trade also is built on a transformative imperative, emerging from left
politics and international solidarity movements in the 1960s and 1970s as a 4
project to challenge and displace conventional channels of international trade.
The papers assembled in this collection address the configuration of alternative
and conventional agro-food networks at different geo-economic and geo-political
5
scales, utilizing operational concepts drawn mainly from economic sociology
and, though less prominently, other network theories
These reflections on the quality ‘turn’ in food practices and the foci of the Santa
5
Cruz workshop papers suggest several topics for further research.
Finally, the asymmetrical focus of research on AAFNs and the quality ‘turn’ on
the production ‘moment’ in agro-food circuits has led to the serious neglect of
6
consumption, ‘‘with consumers cast in stratified, market research terms, without
‘agency’ or meaningful everyday practices’’
Essa omissão é ainda mais gritante na medida em que a expansão e a reprodução
das AAFNs, por definição, dependem de sua capacidade de reconfigurar as 6
relações produtor-consumidor.
These thoughts on future research themes call for more critical scrutiny of key
concepts, closer interaction with parallel debates in economic sociology and
6
economic geography, and greater analytical attention to consumption and
consumers.
These points are made as constructive suggestions in the expectation that the
vibrant literature on AAFNs and the quality ‘turn’ will continue to extend its
6
engagements with social theory, activist communities, different agro-food
circuits, and rural policy constituencies.

You might also like