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Pedagogia Da Crueldade Racismo e Extermínio Da Juventude Negra
Pedagogia Da Crueldade Racismo e Extermínio Da Juventude Negra
2018; 34:e197406
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-4698197406
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
DOSSIÊ
PEDAGOGIA DA CRUELDADE:
RACISMO E EXTERMÍNIO DA JUVENTUDE NEGRA1
ABSTRACT: Black youth is the central focus of this article. To understand it, we
sought to analyze the relationship between youth, inequality, race and racism
in the conformation of black youth’s extermination. The text presents and
discusses statistical data on homicides of black youth and interprets them
in the light of the discussions on whiteness and racism. Understanding
violence as a multi-causal phenomenon, this paper also discusses racism as
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte, MG, Brasil.
2
Universidade Estadual de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte, MG, Brasil.
*
Pós-Doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra e em Educação pela UFSCAR. Doutora em
Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. Professora Titular da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais. Professora Pesquisadora do Programa Ações Afirmativas na UFMG.
E-mail:<nilmagomes@uol.com.br>.
**
Pós-Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, Professora da Faculdade
de Educação da Universidade Estadual de Minas Gerais. Professora Pesquisadora do Programa Ações
Afirmativas na UFMG. E-mail:<anaplaborne@yahoo.com.br>.
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.34|e197406|2018
2
the macro-cause of this situation, fruit of the idea of race that was built
since colonial times in Brazil. Race and racism became even more complex
ideas and practices after the abolition of slavery making possible the racial
whitening policy. They are part of the structure of inequality experienced by
the Brazilian black population. The analysis also points out the protagonism
of black youth in denouncing the situation of violence they experienced,
going beyond the idea of extermination and politicizing it as genocide.
Keywords: Black youth. Racism. Extermination. Education. Violence.
INTRODUÇÃO
(...) Por outro lado, a truculência é a única garantia do controle sobre
territórios e corpos, e de corpos como territórios, e pelo outro, a pedagogia
da crueldade é a estratégia de reprodução do sistema (SEGATO, 2014).
Em terceiro lugar aparece a Paraíba, onde a chance de uma jovem negra ser
assassinada é 5,65 vezes maior do que a de uma jovem branca. Em quarto lugar
vem o Distrito Federal, com risco relativo de 4,72.
Nos estados de Alagoas e Roraima não foi possível calcular a razão entre as duas
taxas por não ter sido registrado nenhum homicídio de mulher branca nessa
faixa etária (15 a 29 anos) em 2015. As taxas de mortalidade entre jovens negras
nesses estados, no entanto, foram altas: 10,7 e 9,5 mortes por 100 mil habitantes,
respectivamente (BRASIL, 2017, p. 40).
Os dados mais recentes da violência letal apontam para um quadro que não
é novidade, mas que merece ser enfatizado: apesar do avanço em indicadores
socioeconômicos e da melhoria das condições de vida da população entre 2005 e
2015, continuamos uma nação extremamente desigual, que não consegue garantir a
vida para parcelas significativas da população, em especial à população negra (p. 33).
combatendo o tráfico de drogas; nos exterminam por meio da fome e das doenças
e resgatam os cienticifismos lombrosianos de Nina Rodrigues (BENEDITO,
2005), reproduzidos nos programas televisivos que dizem que temos má índole,
difundindo ideologias, afirmando que fazemos parte de um grupo populacional
denominado de “sub-raça”, que não temos História, dentre outras argumentações
usadas para justificar a destruição daqueles que não valem nada para o capital.
Essa é uma das questões que precisamos atentar: o Estado está nos dizimando.
Em nossa atualidade, após as mudanças do mundo do trabalho, isto é, com a
ofensiva do capital: as pessoas do mundo inteiro tornaram-se inúteis. É por isso
que a classe dominante cria essas políticas de genocídio (p.24).
FINALIZANDO
Preto no branco
Procurar a inclusão de outros tons
Diante da hegemonia dos estereótipos
Desafiar o mito da democracia racial
Preto no branco
Ocupar páginas em branco
Com palavras negras
Para refletir a nossa luz.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, C. M. M. de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites –
século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
BRASIL. IBGE. Pesquisa Nacional por amostra de domicílios, 2016. IBGE, 2016
CERQUEIRA, D.; LIMA, R. S. de; BUENO, S. et al. Atlas da violência 2017. Rio de
Janeiro: IPEA-FBSP, 2017.
SEGATO, R. L. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Puebla: Pez
em el Árbol, 2014.
SOBRAL, C. Só por hoje vou deixar o meu cabelo em paz. Cristiane Sobral: Brasília, 2016.
NOTAS
1
O título desse artigo é uma tradução livre do espanhol, inspirada no artigo: SEGATO, Rita
Laura. Las nuevas formas de la guerra y el cuerpo de las mujeres. Puebla: Pez em el Árbol, 2014.
2
O Índice traz dados de 2015 e foi elaborado pela Unesco (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura), pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência
da República e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
3
Uma ação de coparticipação e cooperação na área da segurança pública entre União e
entes federados seria uma saída democrática para essa e outras situações de violência. Essa
proposta é muito diferente de uma intervenção do exército, como aconteceu com o Estado
do Rio de Janeiro. Esta, sim, pode ser considerada como uma medida autoritária, mesmo que
tenha como argumento a sua autorização pela Constituição Federal. O governo Temer junto
com o Congresso Nacional decidiu, no mês de fevereiro de 2018, realizar uma intervenção
na área de segurança pública no Estado do Rio de Janeiro até 31 de dezembro do mesmo
ano. Com isso, a responsabilidade de gerir essa área, que é estadual, passa para as mãos
Submetido: 02/05/2018
Aprovado: 02/07/2018
Contato:
Nilma Lino Gomes
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Educação
Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 - Pampulha
Belo Horizonte|MG|Brasil
CEP 31.270-901
Educação em Revista|Belo Horizonte|v.34|e197406|2018