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EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DO TRIBUNAL

DO JÚRI DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO

Processo nº 0123456-78.2022.8.19.0001
Recorrente: Caio
Recorrido: Ministério Público

CAIO, brasileiro, solteiro, ajudante de pintor, portador da cédula de identidade de nº


12345678-9, inscrito no CPF sob o nº 012.345.678-90, residente e domiciliado na
Avenida Tenente Rebelo, casa 32, Irajá, Rio de Janeiro-RJ, vem através de seus
advogados ao final subscritos, irresignado com a R. Decisão monocrática
de PRONÚNCIA que lhe sobreveio, com incurso no descrito no art. 121, § 2º,
inciso III e IV, do Código Penal, vem respeitosamente perante à honrada presença de
Vossa Excelência, tempestivamente, no quinquídio legal (CPP, art. 586, caput),
interpor RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com fulcro no
artigo 581, IV e V do Código de Processo Penal.

Presentes todos os pressupostos recursais, requer, outrossim o recebimento e autuação


desta peça processual, com a intimação do acusado na pessoa de seus advogados para o
oferecimento das razões recursais no prazo legal de dois dias, com fulcro no
artigo 588 do Código de Processo Penal.

Após, requer a intimação do Ministério Público para que ofereça suas contrarrazões, em
igual prazo, e se não exercido o juízo de retratação pelo órgão prolator da decisão (CPP,
art. 589), requer finalmente seja encaminhado o processo para o Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de Minas gerais, juízo ad quem (CPP, art. 583, II), com suspensão do
julgamento (CPP, art. 584, § 2º).

Termos em que,
pede deferimento.
Rio de Janeiro, 25/04/2022

MARIA
OAB nº 123456-RJ
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RECORRENTE: Caio
RECORRIDO: Ministério Público
Processo nº 0123456-78.2022.8.19.0001

RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA,


COLENDA CÂMARA,

O recorrente foi indevidamente pronunciado como incurso na conduta do caput do


art. 121, § 2º, inciso III e IV, do Código Penal, pelo juízo a quo da 1ª Vara do Tribunal
do Júri da Comarca do Rio de Janeiro, assim, requer a sua reforma pelas razões a seguir.

DOS FATOS
Narra à acusação que o réu, com intenção de matar, no dia 08/12/2021, no periodo entre
19h e 19h 30min, golpeou João cinco vezes, causando-lhe a lesão descrita no laudo de
exame de corpo de delito, a qual foi a causa eficiente de sua morte.
Conforme alude o parquet, o crime foi praticado mediante meio cruel, causando
sofrimento a vítima. Ainda, o crime praticado impossibilitou a defesa do ofendido.
O órgão do Ministério Público ofertou a denúncia ao Caio por homicídio doloso,
incurso na qualificadora do tipo penal no § 2º do inciso III e IV do art. 121 do Código
Penal.
A denúncia no dia 10 de Março de 2022. Após tal ato, o juiz determinou a citação do
acusado no prazo de 10 dias, de acordo com art. 406, CPP para oferecimento de resposta
à acusação. Na resposta, o acusado alegou legítima defesa e juntou comprovante de
residência e sua folha penal, bem como arrolou testemunha, qualificando-a e requerendo
sua intimidação.
Foi designada audiência de instrução e julgamento onde foram ouvidas duas
testemunhas, uma de acusação e outra de defesa.
A testemunha de acusação Pedro, confessou conhecer o acusado havia 5 anos e que
Caio tinha o hábito de beber, comumente se embriagando e causando confusão nos
bares da cidade.
A testemunha da defesa, Francisco, irmão de Caio e o único a presenciar o fato, o qual
foi ouvido com a concordância da acusação e sem compromisso legal, afirmou que
presenciou o fato ocorrido no dia 08/12/2021, aproximadamente as 19h, no interior da
casa; que avisou o acusado de que havia uma pessoa subtraindo madeira e telhas de sua
residência. Diante do fato, Caio dirigiu-se ao local onde João estava. Chegando no local,
Caio, de posse de um facão, mandou que o ladrão parasse de furtar seus pertences, tendo
João o desafiado e, de posse de um pé-de-cabra, caminhou na direção do acusado.
Imediatamente, Caio desferiu alguns golpes em João, que, ao ser atingido, caiu.
Depois de ouvidas as testemunhas, o Magistrado procedeu o interrogatório do
recorrente, que alegou que para se defender da iminente agressão por parte da vítima,
tentou desferir golpes de facão. Apesar de confessar ter tentado desferir cinco golpes,
somente um atingiu João. Ressalta-se que o laudo cadavérico indica a existência de
apenas uma lesão no corpo da vítima, na altura do peito, e apontou que a causa mortis
foi hemorragia no pulmão, em consequencia de ação perfuro cortante.
Apresentadas as alegações, o Magistrado decidiu pela pronúncia do réu, pelo crime de
homicídio doloso, previsto no art. 121, § 2º do inciso III e IV, a fim de que fosse
submetido a julgamento pelo júri popular. Alegou que o réu era “frio” e calculista,
afirmando que a tese da defesa era absurda, havendo indícios de autoria e configuração
de materialidade do crime, comprovada por meio do laudo de exame de corpo de delito,
bem como pelos depoimentos colhidos no curso da instrução.

Posto isso, a respeitável decisão não merece prosperar, conforme a fundamentações


expostas.

DO DIREITO
Primeiramente, o Meritíssimo juízo deixou de observar fatos relevantes constantes dos
autos, conforme veremos a seguir.
Num primeiro momento, sobre o depoimento da testemunha de acusação, deve-se notar
que a testemunha arrolada pela acusação confirma, tão somente, conhecer o recorrente e
que ao se embriagar causa confusão nos bares da cidade.
Quanto ao depoimento da testemunha de defesa, o Sr. Francisco, confirmou que no dia
dos fatos, o denunciado foi informado que sua residência estava sendo furtada.
O próprio recorrente afirma que desferiu golpe de facão na vítima, porém para se
defender da iminente agressão por parte de João, já que este estava de posse de um pé-
de-cabra.
A denúncia atribuiu ao recorrente o cometimento do crime caracterizado pelo descrito
no art. 121, § 2º, III e IV, do Código Penal.
Prevê o art. 121, § 2º, III, do Código Penal, in verbis:
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
(...)
§ 2º Se o homicídio é cometido:
(...)
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte
ou torne impossível a defesa do ofendido;
(...)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Todavia, a alegação de que o cometimento do crime foi por motivo cruel e meio que
impossibilitou a defesa da vítima, não merece prosperar, pois, quando do cometimento
do ato, o recorrente estava se defendendo da iminente agressão cometida por João, uma
vez que a vítima estava de posse de um pé-de-cabra, porém, o recorrente não tinha a
intenção de matar a vítima.
No caso em tela, não se caracterizou o cometimento de homicídio por meio cruel, pois,
para que se caracterize a qualificadora, o motivo deve infligir a vítima a um intenso e
desnecessário sofrimento para alcançar o resultado desejado, revelando a insensibilidade
do agente.
Ficou demonstrado na instrução, que o recorrente agiu em razão da legitima defesa,
repelindo injusta e iminente agressão, tendo usado moderadamente os meios próprios
em reação imediata, buscando defender e proteger seu patrimônio e sua própria vida.
A testemunha de defesa corrobora e não deixa dúvidas sobre a veracidade da alegação
de que o recorrente agiu em legítima defesa.

A narrativa dos fatos, também comprova a existência de animosidade entre o recorrente


e a vítima, a qual tinha destruído seu lar, o que descaracteriza a qualificadora de motivo
fútil.
Dispõem os artigos 23 e 25, ambos do CP, respectivamente:
"Não há crime quando o agente pratica o fato:
(...)
II - em legítima defesa;".
"Entende-se legítima defesa, quem, usando moderadamente dos meios necessários,
repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem".

Portanto, presentes os requisitos que autorizam a aplicação da exclusão da ilicitude pela


legítima defesa.
.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, impronunciando-se
o recorrente, como medida de Justiça.

Termos em que,
pede deferimento.
Rio de Janeiro, 25 de Abril de 2022.

Maria
OAB-RJ nº 123456

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